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Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

Processos de construção
de edificações

Trabalho 2 – Paredes de alvenaria

ELABORADO POR:
Fábio Gonçalves n.º 31134
Carlos Ferreira n.º 31253
Índice
Introdução pág. 2

1- Materiais utilizados pág. 5

2- Exigências funcionais pág. 7

3- Paredes de alvenaria de tijolo pág. 6


3.1- Tijolo cerâmico
3.2- Tipos de tijolo cerâmico
3.3- Matérias-primas e processo de fabrico
3.4- Características do tijolo e do material cerâmico
3.5- Classificação das paredes de alvenaria de tijolo
3.6- Tipos correntes de paredes de alvenaria de tijolo
3.7- Execução das paredes de alvenaria

4- Argamassa de assentamento
pág.22

5- Assentamento do tijolo
pág.23

6- Paredes duplas pág.25

7- Pontos singulares
pág.30

8- Isolamento térmico pág.34

9- Alvenarias especiais
pág.36

Conclusão
pág.37

PCED – Paredes de alvenaria 3


Bibliografia
pág.38

TIPOS DE PAREDES

INTRODUÇÃO

As paredes de alvenaria têm um papel decisivo no comportamento das


construções. Se falarmos das alvenarias que realizam a envolvente exterior
dos edifícios estamos a falar de elementos que representam a fronteira entre o
interior e o exterior das habitações, por outro lado se falarmos de paredes
divisórias estamos também a falar de elementos importantes pois são elas que
fazem a “gestão” do espaço interior. Infelizmente, ainda hoje em dia é
normalmente descorada a sua importância, e pura e simplesmente as paredes
são ignoradas em fase de projecto. Normalmente, nesta fase, apenas é referida
a sua geometria e o material a utilizar. Este facto leva, muitas vezes, a um mau
desempenho das paredes de alvenaria.

Alvenaria – associação de elementos naturais ou artificiais, constituindo


uma construção. Correntemente a ligação entre os elementos é assegurada
por argamassa. Os elementos aglutinados naturais são pedras irregulares ou
regulares, os artificiais podem ser cerâmicos, de betão ou outros. A alvenaria
pode ser reforçada com armaduras. [2]

Tradicionalmente as alvenarias em Portugal apresentavam um certo


carácter regional. Predominava a utilização de pedra em paredes espessas e
muito pesadas. Na maior parte das situações estas paredes de pedra eram
revestidas por rebocos espessos, porosos, de baixa rigidez e executados em
várias camadas. Nas zonas mais expostas (costa marítima) era usual reforçar-
se o revestimento para melhorar o comportamento face à chuva, com uma
camada impermeável (á base de argamassa asfáltica ou, mais recentemente,
uma argamassa rica em cimento). Noutras zonas melhorava-se este
comportamento com a introdução de revestimentos impermeáveis, como os
revestimentos decorativos cerâmicos e os revestimentos descontínuos de
estanquidade (ardósia ou chapas de fibrocimento).

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As paredes de alvenaria de tijolo, em Portugal, sucederam-se às
paredes de alvenaria de pedra. Embora não se conheça nenhum estudo muito
rigoroso sobre esta evolução pensa-se que terá sido a seguinte sequência
(figura 1):

• Paredes simples de tijolo maciço ou perfurado, espessas;

• Paredes de pedra com pano interior de tijolo furado e eventual caixa-


de-ar;

• Paredes duplas de tijolo com um pano espesso;

• Paredes duplas de tijolo com panos de espessura média ou reduzida;

• Paredes duplas de tijolo furado com isolamento térmico, preenchendo


total ou parcialmente a caixa-de-ar.

Figura 1 – Síntese aproximada da evolução das paredes em Portugal [3]

As paredes simples caíram em desuso, embora actualmente estejam a


ressurgir ligadas a novas técnicas de execução de paredes como é o caso das
soluções de paredes simples espessas com isolamento térmico pelo exterior
acabadas com revestimento delgado ou com “placagens” de protecção [4].

Existem ainda outras soluções mais recentes e ainda pouco utilizadas no


nosso país como por exemplo alvenarias resistentes de tijolo de furação
vertical, alvenarias de tijolo armadas, alvenarias de tijolo com montagem

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simplificada (com encaixes optimizados, rectificações dos blocos e redução das
juntas de argamassa), etc.

1 – MATERIAIS UTILIZADOS

Como já foi referido anteriormente, podemos dizer que alvenaria é uma


“associação de elementos naturais ou artificiais constituindo uma construção”.
Estes elementos podem ser de origem natural ou artificial e têm constituído, ao
longo do tempo, um dos principais materiais de construção.

Os primeiros materiais a serem utilizados como elementos de


enchimento das alvenarias foram elementos naturais, que existem
abundantemente na crosta terrestre: as pedras naturais. Estes elementos eram
retirados da própria natureza e devidamente preparados de forma a adequar a
sua forma e as suas dimensões ao fim a que se destinavam. Ainda hoje em dia
podem ser utilizados. Para garantirmos a qualidade de uma alvenaria de pedra
natural devemos garantir certos requisitos mínimos aos elementos de pedra:

• Resistência mecânica adequada aos esforços a que irá ser submetida


(as construções antigas não possuíam estrutura de betão armado, o papel
resistente das construções cabia às paredes exteriores e algumas das
interiores);

• Resistência ás condições atmosféricas a que irá estar sujeita (no caso


das paredes exteriores tinham de proteger o interior da construção das
condições atmosféricas adversas);

• Trabalhabilidade compatível com as técnicas de laboração disponíveis


(as técnicas disponíveis eram, principalmente, manuais);

• Porosidade adequada para que garanta uma boa aderência à


argamassa de assentamento mas que não permita a absorção exagerada de
água.

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A pedra utilizada nas alvenarias podia apresentar-se:

• Em fragmentos de várias formas com dimensões dependentes da


espessura da parede e da importância da construção;

• Em blocos desbastados grosseiramente, com formas mais ou menos


regulares;

• Totalmente aparelhada, formada por sólidos geométricos com todas as


faces desempanadas.

Procurando novas soluções alternativas para os elementos de pedra


natural surgem, os blocos artificiais numa primeira tentativa de imitação da
pedra. Os blocos tinham a sua composição um pouco dependente da
localização geográfica e dos materiais localmente disponíveis. Apareceram os
blocos de argila cozidos ao sol, vulgarmente designados de adobe,
característicos particularmente de zonas ricas em barros. Destinavam-se
essencialmente a construções de pequeno porte pois a resistência mecânica
destes blocos é incomparavelmente inferior aos blocos de pedra natural.

Após o terramoto de 1755 apareceu uma construção muito típica que se


designou de “construção pombalina” caracterizada pela existência de paredes
resistentes espessas reforçadas por um esqueleto de madeira constituído por
um conjunto de peças verticais, horizontais e inclinadas, devidamente
interligadas, formando as designadas “cruzes de Sto André”. Entre estas peças
de madeira era colocada alvenaria de pedra ou de tijolo maciço argamassada.
Para a execução das paredes interiores, sem funções resistente existiam os
tabiques de madeira.

Com a revolução industrial o desenvolvimento do processo foi


vertiginoso conseguindo-se formas, dimensões, leveza e resistência dos
elementos espectaculares. Com o aparecimento do betão, surgiram os blocos
de betão fabricados com inertes correntes. Inicialmente o seu fabrico não era
de qualidade garantida, mas mais recentemente com a introdução de
maquinaria de fabrico mais sofisticada a qualidade é já controlada e garantida.
Os blocos de cimento têm a desvantagem de, por serem fabricados com a

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adição de água, possuírem um longo tempo de espera até estabilizarem as
suas dimensões. Por esta razão, em caso algum, estes blocos devem ser
utilizados imediatamente após o seu fabrico. Têm a grande vantagem de serem
executados com relativamente grandes dimensões, consumirem menos
argamassa e ficarem economicamente mais acessíveis.

Para colmatar uma grande desvantagem dos blocos de betão que é a


fraca resistência térmica e também para os tornar mais leves, surgiram os
blocos de inertes leves. Estes inertes podem ser naturais (resultantes de
rochas vulcânicas leves) ou artificiais (argila expandida ou cortiça
mineralizada), sendo os segundos os mais utilizados.

Temos também os blocos de grés que possuem uma elevada resistência


mecânica e a produtos químicos e são menos porosos, mas por outro lado são
mais quebradiços e economicamente desvantajosos. São muito pouco usados.

Outro tipo de blocos que foi utilizado para a execução de alvenarias foi o
designado “ytong”. Eram blocos em betão autoclavado (material de construção,
inteiramente natural e não poluente, composto por areia, cal, cimento e água.
Na fase final do fabrico é adicionado pó de alumínio que actua como gerador
de bolhas de hidrogénio no seio da mistura dos restantes constituintes, e que
são responsáveis pela formação da estrutura celular deste material). A cura
deste betão é feita em autoclave sob a acção de vapor de água em condições
de pressão e temperatura controladas. Os blocos possuem muito boas
características, nomeadamente: isolamento térmico excelente, elevada
resistência à compressão, incombustibilidade e resistência ao fogo, bom
isolamento acústico e facilidade de manuseamento. A experiência de utilização
deste material no nosso país foi desastrosa, nomeadamente por ter sido
aplicado pouco curado e com argamassas normais que retraíam e provocavam
a quebra dos blocos de ytong. Está praticamente em desuso.

Temos, finalmente, o tijolo que é, hoje em dia, o material de eleição para


as paredes de alvenaria executadas em Portugal. A este material que iremos
dedicar um subcapítulo.

2 – EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS

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O desempenho global de uma parede pode não depender apenas de um
dos seus componentes, mas sim da globalidade do conjunto tosco -
revestimento. As exigências funcionais dependem de agentes mecânicos,
electromagnéticos, térmicos, químicos ou biológicos. Alguns destes agentes
actuam mais sobre o revestimento, outros mais sobre o tosco e outros ainda
sobre o conjunto todo.

As principais exigências funcionais que devem ser satisfeitas pelas


paredes são:

• Estabilidade: a parede deverá ser capaz de assegurar um perfeito


comportamento durante a construção e durante todo o seu período de vida. Os
esforços a que as paredes vão estar sujeitas durante a construção serão
idênticos quer estejamos a falar de paredes de enchimento (sem função
estrutural) quer estejamos a falar de paredes resistentes (com função
resistente vertical e horizontal). Já no que toca aos esforços a que irão estar
sujeitas durante toda a sua vida útil, eles poderão ser bem diferentes.

Durante a construção a parede deve ter capacidade para resistir a


acções devidas ao equipamento de construção e ser estável em situações
transitórias de execução. Durante a sua vida útil as alvenarias de enchimento
deverão ser auto-portantes tanto para cargas verticais como para cargas
normais ao seu plano, em particular as forças do vento. Quanto às acções de
acidente como choques violentos ou explosões deverá haver uma ponderação
prévia para analisar se será economicamente viável dimensionar uma parede
de enchimento para este tipo de esforços. Quanto às paredes resistentes as
exigências de estabilidade durante a sua vida útil deverão ser maiores. As
paredes deverão ser estáveis sob as acções verticais e horizontais a que irão
estar submetidas e contribuir para o contraventamento da construção. Quanto
às acções de acidente estas também deverão ser consideradas sob o risco de
um desmoronamento progressivo.

• Segurança contra riscos de incêndio: as paredes devem ser


concebidas, dimensionadas e construídas de forma a limitar os riscos de
incêndio e do seu desenvolvimento. Os materiais e elementos de construção
devem apresentar respectivamente uma reacção (contributo dos materiais
constituintes para a origem e desenvolvimento do incêndio) e uma resistência
ao fogo (impedimento da propagação do incêndio de um local para outro) de
acordo com as disposições regulamentares. Para as paredes estruturais

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interessa a estabilidade ao fogo (tempo entre o início do fogo e o momento que
se esgota a capacidade resistente), Para as de compartimentação interessa o
momento que se atingem determinados limiares de temperatura na face não-
exposta. Para elementos que desempenham as duas funções temos que
analisar os dois critérios.

• Segurança na utilização: traduz-se pela segurança no contacto


(segurança dos utilizadores em evitar lesões por contacto) e pela segurança às
intrusões humanas ou de animais.

• Estanquidade à água: as paredes devem ser estanques à água quer


ela seja proveniente do exterior quer do interior. A satisfação dos requisitos de
estanquidade consegue-se por interposições de barreiras estanques e
disposições drenantes. De acordo com a D.T.U. 20.1. a resistência à
penetração da chuva depende de: materiais constituintes da parede, existência
de corte hídrico, existência de parede dupla correctamente executada e
existência de revestimento exterior estanque.

• Estanquidade ao ar: na estanquidade ao ar e aos gases deve-se ter


em atenção a ventilação mínima imprescindível e os limites máximos de forma
a evitar desconforto.

• Conforto térmico: no interior do edifício devemos ter condições


ambientais satisfatórias em termos de temperatura, humidade, velocidade e
qualidade do ar. O conforto higrotérmico traduz-se pelo isolamento térmico
(resistência da parede à passagem de calor), pela secura dos paramentos
interiores (inexistências de condensações superficiais) e pela secura interna
(inexistência de condensações internas).

• Conforto acústico: a concepção das paredes em termos acústicos


deverá assegurar: isolamento sonoro aos sons aéreos (abaixamento de nível
dos ruídos aéreos), tempos de reverberação adequados à utilização dos
espaços, minimização dos ruídos de percussão e dos ruídos emitidos pelas
paredes.

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• Conforto visual: o aspecto das paredes deve caracterizar-se pela
rectilinearidade das arestas, planeza das superfícies, e homogeneidade de cor
e brilho.

• Conforto táctil: limitação das superfícies rugosas, pegajosas ou


viscosas.

• Higiene: traduz-se pela emissão ou desenvolvimento de substâncias


nocivas ou insalubres.

• Durabilidade: resistência aos agentes climáticos, aos movimentos da


fachada, à erosão das partículas em suspensão mo ar, à corrosão
electroquímica e aos agentes biológicos.

3 – PAREDES DE ALVENARIA DE TIJOLO

Como foi referido anteriormente a grande maioria das paredes de


alvenaria executadas hoje em dia em Portugal tem como elemento de
preenchimento o tijolo cerâmico. Justifica-se então dedicar grande parte do
nosso estudo ao tijolo cerâmico em si e depois à execução de paredes de
alvenaria de tijolo cerâmico. Como iremos ver algumas das indicações de boas
regras de execução/pormenores de execução que irão ser mencionadas são
também extensivas a outros tipos de alvenaria e outros serão exclusivos às
paredes de alvenaria de tijolo.

3.1 – O tijolo cerâmico

O tijolo cerâmico de furação horizontal surgiu no séc. XIX, com a


revolução industrial. As grandes vantagens que foram sendo descobertas na
aplicação deste material fizeram com que tivesse uma expansão notável. Este
grande desenvolvimento e grande utilização inicial do tijolo cerâmico podem ter
estado na origem de uma actual estagnação (em Portugal) na evolução e
desenvolvimento de novas formas e novos sistemas construtivos que se
verificam actualmente noutros países.

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3.2 – Tipos de tijolo cerâmico

Os tijolos cerâmicos podem ser classificados consoante as suas


características e quanto ao fim em vista [4]:

A NP 80 apresenta a seguinte classificação:

• Maciço: tijolo cujo volume de argila cozida não é inferior a 85% do seu
volume total aparente;

• Furado: tijolo com furos ou canais de qualquer forma e dimensões,


paralelos às suas maiores arestas e tais que a sua área não é inferior a 30% da
área da face correspondente nem superior a 75% da mesma área;

• Perfurado: tijolo com furos perpendiculares ao seu leito e tais que a sua
área não é inferior a 15% da área da face correspondente nem superior a 50%
da mesma área. Quanto à aplicação os tijolos cerâmicos podem ser
classificados em [4]:

• Face à vista: tijolos cujo destino é ficarem aparentes, no interior ou no


exterior da construção;

• Enchimento: tijolos sem função resistente, para além do seu próprio


pesam;

• Resistentes: tijolos com função estrutural na construção.

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Figura 2 – Tipos de tijolos cerâmicos [4]

3.3 – Matérias – primas e processo de fabrico

Para se obter um tijolo de qualidade temos que partir de matérias-primas


de boa qualidade, com características adequadas e que se mantenham
constantes ao longo de todo o fabrico. No fabrico dos tijolos são, normalmente,
utilizados dois tipos de argilas, com características diferentes, uma mais
plástica e outra menos plástica, que são doseadas de forma a conseguir-se
sempre uma mistura com características idênticas e constantes ao longo do
tempo. A argila é um material natural e portanto se fosse usado directamente
conforme é extraído as suas características seriam diferentes ao longo do
tempo. Esta argila extraída da natureza vai passar por dois cilindros metálicos
em rotação, formando pequenas lâminas de pasta. Esta pasta é armazenada
no interior, protegida das condições atmosféricas. Segue-se outra laminagem e
uma amassadura com água, após o que a pasta vai entrar na fase de
conformação em fieiras que são máquinas que forçam a passagem da pasta
através de moldes com a forma negativa do tijolo [4]. Após a extrusão o
material é cortado de acordo com as dimensões pretendidas. Seguidamente o
tijolo é seco em estufas a temperaturas entre os 30 e os 70ºC. Finalmente o
tijolo é cozido em fornos contínuos a temperaturas entre os 800 e os 1000ºC.

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Figura 3 – Fluxograma do processo de fabrico [4]

3.4 – Características do tijolo e do material cerâmico

Seguidamente apresentam-se as principais propriedades do tijolo e do


material cerâmico e ainda os formatos mais correntes do tijolo

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Figura 4 – Características do material cerâmico e do tijolo [4]

Figura 5 – Formatos correntes do tijolo furado [4]

3.5 – Classificação das paredes de alvenaria de tijolo

A classificação das paredes de alvenaria de tijolo é frequentemente feita


apenas em função do tipo de elemento utilizado na sua constituição, o que se
revela pouco correcto pois o comportamento da alvenaria é também
influenciado por outros factores como [1]:

• Tipo de argamassa de assentamento;

• Aparelho de assentamento da parede (geometria e desfasamento das


juntas, posição de assentamento dos blocos);

• Nº de panos de parede e suas ligações entre si e à eventual estrutura


de apoio;

• Tipo de revestimento da parede;

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• Existência de elementos complementares de isolamento térmico,
estanquidade e controlo da difusão de vapor;

• Localização da parede;

• Posição da parede em relação ao solo;

• Função estrutural a que se destina.

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Figura 6 – Tipos de paredes de alvenaria previstos no EC6 [5]

O EC6 [5] dedicado às paredes de alvenaria com função estrutural


classifica-as em função dos materiais constituintes, e também de acordo com o
tipo de panos e suas ligações:

• Paredes simples com ou sem junta longitudinal;

• Paredes duplas;

• Paredes com dois panos (parede dupla sem caixa de ar);

• Paredes de face aparente;

• Paredes de juntas descontinuas;

• Paredes-cortina.

O mesmo EC6 possui outra classificação em função das acções a que


podem estar sujeitas:

• Paredes resistentes (sujeitas a grandes cargas verticais além do peso


próprio);

• Paredes de travamento ou contraventamento;

• Paredes sujeitas a acções de corte;

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• Paredes divisórias;

• Paredes sujeitas a cargas laterais.

3.6 – Tipos correntes de paredes de alvenaria de tijolo

A maioria das paredes interiores, em Portugal, é executada em paredes


simples de tijolo furado, normalmente com uma espessura, no tosco, inferior a
15cm. Para as fachadas a maior parte as situações são executadas com
parede dupla de tijolo furado, com espessuras dos panos que vão desde
11+7cm (pouco recomendável) até ao 22+15cm. Hoje em dia nas paredes
duplas verifica-se sempre a utilização de isolamento térmico na caixa-de-ar e
normalmente podemos observar que é executada a correcção das pontes
térmicas. Quanto aos pontos singulares como cunhais, padieiras, roços,
remates, ombreiras, etc. continuamos a ter um grande problema com a sua
execução, pois infelizmente, as cerâmicas portuguesas não produzem peças
especiais para estas situações (ao contrário do que já acontece noutros
países). A solução é cada um resolver da melhor forma possível, recorrendo,
por vezes a outros materiais.

Na figura 6 apresentam-se o peso médio e os consumos de tijolo e


argamassa para panos correntes não rebocados de tijolo furado com
dimensões normalizadas.

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Figura 7 – Peso médio e consumos correntes de paredes de tijolo furado

3.7 – Execução das paredes de alvenaria

Infelizmente, em Portugal, como já foi referido, nunca existe um projecto


de alvenarias, em particular se elas forem não estruturais. Como este projecto
não existe, muitas vezes, é também muito descorada a preparação e
planeamento da execução das alvenarias propriamente dita. Todas as obras
são diferentes, quer devido ao facto do projecto de arquitectura, em si, ser
diferente, quer devido ao faço de poderem ser diferentes as condicionantes do
estaleiro, a composição das equipas de trabalho, as condições climáticas, as
condições de acesso, etc. Torna-se portanto imprescindível uma análise prévia
e detalhada de todas as condições existentes para a execução das alvenarias.
Embora cada obra seja uma obra existem alguns princípios comuns a todas
elas, como sejam os aspectos a ter em conta no planeamento da execução das
alvenarias [4]:

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• Quantificação global dos trabalhos;

• Programação da sequência e duração das diversas tarefas;

• Avaliação dos meios necessários;

• Avaliação das exigências logísticas;

• Definição das equipas de trabalhos e sua qualificação;

• Definição dos instrumentos de previsão e controlo da produtividade e


custos;

• Definição de procedimentos de controlo de qualidade.

Normalmente a tarefa “execução das alvenarias” está no “caminho


crítico” do programa de trabalhos de execução de uma obra. Para esta tarefa
se iniciar é necessário estar concluída a estrutura e por outro lado existem
várias tarefas dependentes de execução das alvenarias, como sejam a
execução dos revestimentos, a colocação das caixilharias, a execução das
redes de águas e electricidade, etc. Devido a este facto muitas vezes, para se
encurtar o prazo de execução da obra ou simplesmente para recuperar de
atrasos já existentes, iniciam-se algumas tarefas sem as precedentes estarem
concluídas. O que observamos é que frequentemente se inicia a execução das
alvenarias sem estar concluída a estrutura e se iniciam as actividades
sequentes em estarem concluídas as alvenarias. Existem motivos técnicos
para que esta “atropelo” não deva ser feito:

• As estruturas de betão armado sofrem dois tipos de deformações, uma


imediata sob a acção do seu próprio peso e dos elementos construtivos que
suportam e outra a médio/longo prazo devido às sobrecargas e ao fenómeno
de fluência. Assim ao iniciar-se a execução das alvenarias, que estão

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intercaladas entre a estrutura, sem estar completamente executada a estrutura,
vai acontecer que estas poderão ser excessivamente comprimidas pela
deformação dos pórticos que ainda possa não ter ocorrido. Esta compressão
pode levar ao aparecimento de fissuração na parede. O ideal seria então que
só se iniciasse a execução das alvenarias após a conclusão de toda a estrutura
e por ordem inversa, ou seja de cima para baixo, para que quando se
executassem as alvenarias dos primeiros pisos já toda a estrutura estivesse
carregada e portanto já grande parte da deformação tivesse ocorrido. Como
esta prática é, muitas vezes incompatível com os prazos de execução,
recomenda-se, em alternativa, a construção das alvenarias em pisos
alternados, ou ainda começando do 3º para o 1º, depois do 6º para o 4º e
assim sucessivamente (figura 7). Em qualquer das situações recomenda-se
também que a colocação da última fiada de tijolo seja sempre executada
depois de toda a estrutura e paredes de alvenaria estarem executadas.

Figura 8 – Exemplos de alternativas à execução das alvenarias a partir do último para o 1º piso [4]

• A execução dos revestimentos apenas se deve iniciar depois de


totalmente terminada a execução das alvenarias, pois o fecho superior desta
(remate à viga ou pavimento superior) apenas deve ser executado quando
todas as alvenarias estiverem executadas (ou pelo menos 50%) e deve ser
executado de cima para baixo. Há quem recomende que o fecho das
alvenarias só deve ser executado 14 dias após a execução da última fiada.

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4-Argamassa de assentamento

As principais funções das argamassas de assentamento são a


distribuição uniforme das cargas verticais, a absorção de deformações, a
resistência a esforços laterais e a selagem das juntas contra a entrada de
água. Contribuem também para um melhor comportamento térmico e acústico
da parede. São portanto de importância fundamental e devem ser sempre
executadas (quer as juntas horizontais quer as juntas verticais). Para que se
possam garantir as funções descritas temos que estudar/avaliar algumas das
características das argamassas:

• Resistência à flexão e à compressão;

• Módulo de elasticidade;

• Retracção;

• Aderência;

• Retenção de água;

• Trabalhabilidade.

Os principais componentes das argamassas são: areia, ligante e água.


Podem também conter adjuvantes e adições. A areia é o constituinte mais
importante e que mais influencia o seu comportamento. Na escolha da areia a
utilizar devemos confirmar a existência em proporções não prejudiciais de
matéria orgânica ou argilosa e conhecer a sua massa volúmica absoluta e
aparente e a sua granulometria. A função do ligante é, como o próprio nome
indica ligar os grãos de areia entre si e com os tijolos. Podemos utilizar como
ligantes produtos como o cimento, cimento branco, cimento refractário, cal
aérea hidratada, cal hidráulica, tendo todos eles em comum o facto de
produzirem, com a água, uma pasta que endurece progressivamente. Adições
são produtos que se poderão adicionar à argamassa (em percentagens
superiores a 5% da dosagem do ligante) com o fim de melhorar o seu
desempenho. Adjuvantes são também produtos que se podem adicionar às
argamassas (em percentagens inferiores a 5% da dosagem do ligante), que
servem também para melhorar o seu desempenho, corrigindo algumas
características.

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5-Assentamento do tijolo

A execução de uma boa parede de alvenaria de tijolo está muito


dependente das tarefas que lhe antecederam. Não conseguiremos bons
resultados se, por exemplo, a estrutura onde a nossa parede vai assentar
não estiver devidamente executada/nivelada ou não estiver totalmente
terminada. Assim sendo antes do início propriamente dito da execução das
alvenarias devemos ter a preocupação de fazer alguma verificações, como
por exemplo [4]:

• Estado da estrutura (geometria, desempeno e alinhamentos);

• Se há necessidade de alguma reparação pontual;

• Limpeza e nivelamento dos pavimentos;

• Se as peças de betão foram chapiscadas;

• Se existem ferros de espera na estrutura para melhorar a ligação


das paredes à estrutura;

• Se estão implementadas medidas de segurança;

• Se estão executadas todas as tarefas antecedentes.

Depois das verificações prévias há que proceder à marcação para a


execução da 1ª fiada. A marcação é feita com uma camada de argamassa
fina e com a largura aproximada do tijolo a aplicar. Devemos iniciar o
trabalho pela marcação dos ângulos, seguidamente os alinhamentos e
finalmente as aberturas. É usual marcarem-se os ângulos com a colocação de
dois tijolos, a partir dos quais se marcam os alinhamentos com a ajuda de um

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fio pigmentado. Para as fiadas seguintes é necessário garantir a
horizontalidade das fiadas e verticalidade dos paramentos. Para tal usam-se
as “fasquias” nas quais se marcam as fiadas a realizar. O “cordel” esticado
entre fasquias vai permitir uma verificação constante da horizontalidade
das juntas. Para a verificação da verticalidade da parede socorremo-nos do
fio-de-prumo. Estes procedimentos juntamente com o constante uso do
nível vão permitir a execução de uma parede vertical com juntas horizontais
bem executadas e vão facilitar a correcta interligação das fiadas na
interligação das paredes.

Figura 9 – Marcação e 1ª fiada de paredes simples Figura 10 – Verificação de aprumo e


uma parede [4] alinhamento de uma parede [4]

Num dia de trabalho não deverão ser executadas mais do que 8 fiadas
de tijolo (4 em cada período de trabalho), pois devido ao peso do tijolo e ao
ritmo de presa da argamassa corremos o risco de as juntas inferiores
ficarem danificadas antes de ganharem presa suficiente.
Os tijolos são elementos com grande capacidade de absorção de água
e quando colocados lado a lado com a argamassa fresca terão grande
tendência para absorver a água de amassadura da própria argamassa. Para
evitar este fenómeno, que iria fazer com que a argamassa em vez de
adquirir a dureza necessária se tornasse desagregável, devemos molhar o
tijolo antes da aplicação.

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Como já foi referido anteriormente as juntas verticais e horizontais
devem ser preenchidas. Embora haja alguns autores que defendam o não
preenchimento das juntas verticais alegando questões de economia e de
dificuldade de execução, somos de opinião que estas devem sempre
preenchidas. Em particular em paredes sujeitas a cargas horizontais e em
paredes não confinadas não há qualquer discussão sobre o preenchimento
das juntas, terão que ser sempre e obrigatoriamente preenchidas. Estas
deverão ter uma espessura constante de cerca de 1 cm e as verticais devem
ficar desalinhadas em pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo.

A colocação de cada tijolo deve ser feita sobre uma camada de


argamassa aplicada sobre a fiada inferior e cada tijolo deve ser colocado
com argamassa no seu topo vertical para ajudar a execução da junta
vertical. O tijolo deve ser poisado sobre a argamassa, depois deve ser
ligeiramente pressionado e percutido com o maço para que a argamassa
excedente reflua e se consiga uma junta uniforme com cerca de espessura.
(se se verificar que o tijolo não ficou correctamente colocado e que a
correcção do posicionamento não pode ser executada com uma ligeira
percussão o tijolo deve ser retirado bem como a argamassa das respectivas
juntas. É um erro pensar-se que podemos corrigir essa posição basculando o
tijolo, pois o que vamos conseguir
é um abaulamento da junta). A argamassa excedente deve ser
imediatamente retirada (de ambas as faces do paramento) de forma a
garantir o desempeno do paramento e pode ser reutilizada. Em tempo muito
seco a espalhamento da argamassa na junta horizontal deve ser feito tijolo
a tijolo para evitar a dissecação precoce e a diminuição da trabalhabilidade
(fig. 11 e 12).

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Figura 11 – Aspectos diversos do assentamento de tijolo em obra

6-Paredes duplas

Como já foi referido anteriormente uma parede dupla é uma parede


constituída por dois panos de parede intercalados por uma caixa-de-ar. A
espessura das paredes é variável. As principais vantagens das paredes
duplas são as seguintes:

• Em alvenaria à vista permitem utilizar no pano exterior elementos


de qualidade melhorada enquanto no pano interior podemos recorrer a
elementos mais económicos;

• As duas paredes colaboram para a resistência a acções horizontais


(desde que devidamente agrafadas);

• Em alvenaria resistente, se o pano resistente for o interior este


fica protegido termicamente;

• Minimizam-se as pontes térmicas;

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• Colocando isolamento na caixa-de-ar este fica protegido da
humidade;

• Melhor resistência à penetração da água das chuvas (desde que


bem executadas, pois a parede dupla só por si não evita a penetração da
água das chuvas).

Na execução de paredes duplas, além dos cuidados de execução


referidos anteriormente existem alguns outros cuidados adicionais que
devem ser tidos em conta. Uma parede dupla, quer possua isolamento
térmico na caixa-de-ar quer não, deve ter sempre uma lâmina de ar
totalmente livre de obstáculos e impurezas. Se não existir uma caixa-de-ar,
a parede, em termos de comportamento face à entrada da água da chuva,
funciona como uma parede simples, por outro lado se houver uma caixa-de-
ar totalmente preenchida com isolamento térmico, quando existem
infiltrações de água quer provenientes do exterior quer provenientes de
condensações o seu comportamento fica comprometido. Essa caixa-de-ar
deve localizar-se imediatamente a seguir ao pano exterior para permitir que
alguma humidade vinda do exterior e que atravesse o pano exterior possa
escorrer ao longo do paramento interior do pano exterior e ser recolhida na
caleira que deve existir sempre na base da caixa-de-ar. Esta caleira deve
ter a configuração de uma meia cana com escoamento para o pano exterior,
pode ser executada com a ajuda de uma garrafa, e deve ser devidamente
impermeabilizada. Esta caleira que irá recolher todas as águas que atinjam a
caixa-de-ar deve possuir saídas para o exterior que permitam a evacuação
da referida água. Estas saídas devem ser materializadas com pequenos
tubos de drenagem em plástico (material não corrosível), colocados com
ligeira inclinação para o exterior (para facilitar o escoamento da água),
salientes para o exterior em cerca de 15mm e afastados entre si cerca da 2
m. Um ponto fundamental na execução das paredes duplas é garantir que a
caixa-de-ar fique totalmente desobstruída e a caleira inferior totalmente
limpa. Para termos essa garantia vários processos podem ser utilizados:

• Proteger a caleira com papel e no final retira-lo por aberturas


provisórias que deverão ser deixadas nas primeiras fiadas;

• Colocação de uma régua com a largura da caixa-de-ar, que ficará


suspensa durante a execução dos panos e que irá impedir que os detritos
atinjam a caleira;

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• Execução do pano interior apenas após a execução do pano exterior
e da colocação do isolamento térmico (tem que ser colocado com
espaçadores para garantir a caixa de ar entre o isolamento térmico e o pano
exterior), de encontro ao isolamento térmico que irá assim proteger a
caleira e a caixa-de-ar.

Figura 12 – Consequências de uma parede dupla mal executada

Caixas-de-ar com isolamentos


obstruídos e com isolamento mal
posicionado

Parede dupla com o isolamento encostado Caleira do fundo da


ao pano interior caixa-de-ar

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Tubos de drenagem da caixa-de-ar

Figura 13 – Aspectos diversos da construção de paredes duplas [4]

Correcto Incorrecto

Figura 14 – Drenagem da caixa-de-ar [4]

Com a introdução do Regulamento de Térmica, em 1990, maior parte


das construções passaram a ter uma obrigatoriedade de utilização de
isolamento térmico e da correcção das pontes térmicas. Muitas das vezes
esta correcção das pontes térmicas é conseguida à custa do pano exterior
da parede dupla “passando” total ou parcialmente por fora do topo da laje.
Ou seja as nossas alvenarias que até aí eram, na maior parte das vezes
alvenarias confinadas deixaram de o ser. Para garantir a estabilidade de
uma alvenaria não confinada temos obrigatoriamente que promover a ligação
dos dois panos de parede através de elementos metálicos ou de plástico, os
grampos ou ligadores.

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Figura 15 – Correcção das pontes térmicas.

Com esta ligação entre os dois panos de parede pretende-se que a


resistência do conjunto venha melhorada. Estes grampos ou ligadores devem
localizar-se nas juntas, com uma pequena inclinação para o exterior para
evitar escorrências para o pano interior (se foram instalados na horizontal
devem dispor de pingadeira que evite qualquer escorrimento para o pano
interior), o que complica a sua colocação pois os dois panos de parede são,
normalmente, executados, temporalmente desfasados, o que torna difícil
acertar altimetricamente as juntas. Outra questão que complica a sua
colocação é a introdução de isolamento térmico na caixa-de-ar. No entanto,
em certas condições, é indispensável a sua colocação, como são os casos de
termos o pano exterior com pouca espessura, o apoio na laje de pequenas
dimensões ou grande desenvolvimento das paredes quer em altura ou
comprimento. O nº de ligadores a colocar deve andar entre os 2 e os 4 por
m2. Como já foi referido os grampos podem ser metálicos ou de plástico. Os
primeiros têm o problema de poderem sofrer corrosão. Os segundos não
garantem a transmissão dos esforços de compressão e são susceptíveis ao
fogo. Os grampos metálicos, quando executados com metais ferrosos devem
então ser galvanizados ou protegidos com revestimento epoxi que resista ao
ataque das argamassas e da humidade.

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Figura 16 – Exemplo de ligação entre dois panos de alvenaria [4]

Figura 17 – Exemplo de grampos metálicos de ligação entre paredes.

7-Pontos singulares

Vamos analisar, de seguida, um conjunto de pontos singulares


existentes nas paredes de alvenaria, que são muitas vezes esquecidos por
serem apenas pontuais, mas cujo comportamento é decisivo para um bom
desempenho global da parede.

a) Cunhais

Os cunhais estão muito expostos a acções exteriores actuantes, como


o vento, a radiação solar, o choque, etc., por outro lado o comportamento da
alvenaria em conjunto com o suporte potencia concentração de esforços e
deformações nestas zonas. Assim é de todo conveniente tomar alguns
cuidados especiais que permitam minimizar estes problemas, quer actuando
sobre as causas tentando minimizá-las, quer conferindo uma maior
capacidade resistente a essas zonas.
Deve haver um cuidado especial de modo a que os tijolos fiquem bem
travados entre si, usando-se meio tijolo ou um quarto de tijolo para que as
juntas verticais fiquem desencontradas e é também bastante aconselhável
que as juntas horizontais fiquem niveladas. Quando se pretende maior
rigidez podemos aplicar grampos metálicos na junta horizontal, ligando os

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dois paramentos ou mesmo a executar montantes em alvenaria ou betão
(figura 17). Em cunhais exteriores é fundamental, para prevenir a entrada
de água, que o tijolo não fique com os furos voltados para o exterior. Como
não possuímos tijolos especiais que nos possam garantir esta situação o que
se deve fazer é colocar, no cunhal, um tijolo furado ao alto devidamente
cortado com as dimensões necessárias. (figura 18).

Figura 18 – Exemplo de reforço com cunhais de betão Figura 19- Exemplo de um cunhal
armado [4] bem executado [4]

Figura 19 – Exemplo de cunhal mal executado.

b)Vãos

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Para a execução dos vãos, e para evitar demolições por falta de
correcção das medidas, o ideal é utilizar um molde com as dimensões
exactas dos mesmos. Os vãos são pontos singulares das alvenarias e têm
exigências especiais. Como correspondem a uma interrupção da parede são
uma zona de concentração de tensões com grandes probabilidades de
ocorrência de fissuração, vão ainda estar sujeitas a acções induzidas pela
posterior fixação da caixilharia. Em paredes exteriores acresce a incidência
directa da chuva. Devemos então exigir às ombreiras, peitoris e padieiras
que sejam mecanicamente robustas e pouco deformáveis, que tenham
capacidade para suportar a fixação da caixilharia e o seu manuseamento, e
no caso das paredes exteriores, que sejam estanques à água. Também na
envolvente dos vãos os furos dos tijolos não devem ficar voltados para o
exterior (figura 20). As padieiras, em particular, têm exigências acrescidas
que devem ser acauteladas. A padieira é como se fosse uma viga que, em
função da dimensão do vão, pode ter grande importância, desta forma deve
ser um elemento pouco deformável e que tenha entregas suficientes para
que não se desenvolvam tensões muito elevadas na parede. Quando temos
caixas de estore além das exigências de resistência e suficiente entrega já
mencionadas, temos que ter em atenção a minimização das pontes térmicas
e acústicas, a garantia da estanquidade ao ar e à água e não esquecer de
prever um fácil acesso para manutenção. Para compatibilizar estes aspectos
é necessário um estudo cuidadoso caso a caos.

c) Ligação da alvenaria à estrutura de betão


armado

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A ligação à estrutura normalmente usada em Portugal consiste na
colocação de ligadores metálicos (embebidos nas juntas de argamassa da
parede) entre a estrutura e a alvenaria.

Figura 22 – Exemplo de ligações estrutura/alvenaria [4]

d)Correcção das pontes térmicas

Ponte térmica é qualquer zona da envolvente dum edifício em que a


resistência térmica é significativamente mais reduzida em relação à zona
corrente. Uma vez que há uma redução da resistência térmica, haverá,
nessa zona, um abaixamento da temperatura superficial o que poderá fazer
com que se verifique o aparecimento de manchas resultantes de
condensação do vapor de água, entre outras anomalias. Hoje em dia, com as
exigências regulamentares em vigor, é praticamente obrigatório proceder à
correcção das pontes térmicas. Esta correcção consiste, normalmente, na
protecção da estrutura de betão armado (zona com resistência térmica
muito inferior à zona corrente) e de outros eventuais elementos da
envolvente que tenham igualmente baixa resistência térmica, com uma forra
de tijolo furado com um ou dois furos ou com material com características

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de isolamento térmico. Esta forra pode ser colocada interior ou
exteriormente.

No tratamento das pontes térmicas devem ser observadas algumas


regras, nomeadamente:

• a correcção deve estar prevista e detalhada no projecto com soluções


tecnologicamente exequíveis;

• a resistência da parede não deve ser afectada;

• devem ser bem estudados os processos de fixação das forras;

• nas zonas das pontes térmicas os revestimentos devem ser


reforçados.

Quanto à execução da correcção propriamente dita podemos dizer


que a correcção interior é mais fácil, mas tem a desvantagem de limitar a
largura das vigas e pilares e de, por vezes, imporem caixas-de-ar de grandes
dimensões. No caso de correcções pelo exterior a laje de piso pode ter uma
saliência em relação ao alinhamento dos pilares e vigas para permitir o apoio
da forra. Um ponto muito importante a salientar é o facto da parede de
alvenaria ter que estar apoiada pelo menos em 2/3 da sua largura. (figura
23)

A regulamentação francesa, por exemplo, obriga a que esta forra seja


inserida na cofragem de execução da laje ou da viga, mas esta técnica
levanta várias questões: dificuldade de garantir que o tijolo não saia do
lugar durante a betonagem e vibração das vigas, exigência de molhagem
prévia do tijolo, segregação do betão no contacto com o tijolo.

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Figura 23 – Exemplos de correcção de pontes térmicas [4]

e) Abertura de roços

Um dos grandes dramas das paredes de alvenaria é o facto de


poderem existir eventuais danos provocados pela abertura de roços. De
facto, mal acabamos de executar uma parede de alvenaria de tijolo, vamos
danificá-la totalmente com a abertura de roços para passagem das diversas
instalações. Estas aberturas, que muitas vezes não podemos evitar, vão
enfraquecer a parede do ponto de vista mecânico, térmico, acústico, acção
de humidade. Para tentarmos minimizar este enfraquecimento existem
algumas medidas que devem ser tomadas em projecto e em obra. Redes que
não estejam bem definidas em projecto podem levar à abertura de roços em
locais desnecessários. Por outro lado, em obra, a marcação prévia do
traçado das redes deve ser executado com todo o rigor para evitar, de
novo, a abertura e tapamento de roços nos locais errados. Em paredes de
espessura reduzida devemos evitar a execução de roços, principalmente os
verticais. Preferencialmente os roços devem ser executados com meios
mecânicos. Os roços nunca devem afectar mais do que um alvéolo do tijolo.

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Figura 23 – Abertura de roços

8-Isolamento térmico

O isolamento térmico de uma parede de alvenaria de tijolo pode ser


feito na caixa-de-ar, pelo exterior da parede ou pelo interior. Começando
pelo isolamento na caixa-de-ar das paredes duplas, que é o que ainda hoje
em dia mais se utiliza, ele pode ser feito com materiais rígidos, materiais
flexíveis, materiais projectados, materiais a granel e ainda materiais
injectados.

a) Materiais rígidos: podem ter espessuras entre os 3 e os 5 cm,


devem ser material imputrescível e indeformável e com reduzida capacidade
de absorção de água. Devem ser colocadas encostadas ao paramento
exterior da parede interior (que deve estar totalmente desempenado para
permitir uma boa fixação), não preencher totalmente a caixa-de-ar e devem
ser contínuas sem juntas abertas e cobrindo totalmente a parede. Para
garantir as características apontadas devemos fazer a devida correcção
das pontes térmicas, já apontada, e em continuidade com o isolamento da
zona corrente, devemos fixar as placas ao pano interior para garantir a sua
posição e o afastamento do paramento exterior, o que se consegue
atravessando o isolamento com grampos de ligação das duas paredes, com
espaçadores metálicos ou de plástico ou ainda com calços fabricados no
local. (figura 24).

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Figura 24 – Diferentes métodos de fixação das placas rígidas de isolamento térmico [4]

b) Materiais flexíveis: são normalmente em forma de manta com


cerca de 60cm de largura. Adaptam-se melhor aos pontos singulares e
irregularidades da construção mas tem muitos inconvenientes. Para se
conseguir uma boa e continua fixação devem ser colocados depois da
execução da parede interior, o que pode não ser viável. A alternativa seria
executar o paramento exterior e fixar-lhe o isolamento, mas não é uma boa
solução pois, além da fragilizarem muito o paramento exterior nos pontos de
fixação, os isolamentos flexíveis têm, normalmente grande capacidade de
absorção de água.

c) Materiais projectados: são compostos sintéticos com grande


capacidade de aderência, poros fechados e insensíveis à água. Têm como
grande vantagem o facto de mais facilmente se garantir a continuidade do
isolamento, mesmo quando existem irregularidades, mas tem duas grandes
desvantagens. A primeira e provavelmente a mais importante é a dificuldade
de se garantir constância na espessura e a segunda é a necessidade, já
referida para ao materiais flexíveis, da execução do paramento interior
primeiro que o exterior. Esta segunda dificuldade pode ser ultrapassada
projectando o isolamento no paramento interior da parede exterior.

d) Materiais a granel: sistema pouco corrente com o


inconveniente de preencher totalmente a caixa-de-ar. Tem também algumas
condicionantes: necessário garantir o total preenchimento da caixa-de-ar,
garantir que o material não sofra uma posterior compactação, o material
deve ser imputrescível, a face exterior do pano exterior deve ser
impermeável à água mas permeável ao vapor, deve ser garantida a drenagem
da caixa-de-ar.

e) Materiais injectados: são espumas industriais misturadas no


local. Usa-se mais em reabilitações, mas atenção em situações em que não
havia correcção das pontes térmicas, elas sairão agravadas com esta
solução.

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Quanto ao isolamento pelo exterior, podemos dizer, que do ponto de
vista do comportamento térmico do edifício esta é a solução ideal, pois
aumentamos a inércia térmica da construção, diminuímos as pontes térmicas
e o risco de aparecimento de condensações. As técnicas existentes para
este tipo de isolamento são geralmente duas: revestimento delgado armado
sobre isolamento térmico e isolamento térmico pelo exterior sob placas
rígidas de revestimento independente, com caixa-de-ar, como se verá em
detalhe no capitulo dos revestimentos.

9-Alvenarias especiais

Temos estado a falar do tijolo corrente furado, fabricado em


Portugal, e que representa apenas uma das vertentes possíveis para o
fabrico e aplicação do tijolo, e que em Portugal representa quase a
totalidade da produção. Mas, outros países hão, em que o fabrico de outro
tipo de sistemas está muito desenvolvido, nomeadamente as paredes com
função estrutural e a alvenaria armada.

a) Paredes com função especial: embora esteja demonstrado


que esta solução para edifícios de pequeno porte é vantajosa
economicamente, não é muito utilizada. Já é possível projectar este tipo de
alvenaria, com a ajuda dos Eurocódigos 6 e 8. A resistência e o controlo de
qualidade do tijolo possam a ter um papel fundamental. As juntas assumem
também um papel importante no que toca à resistência ao corte e à flexão.
Normalmente usam-se tijolos de furação vertical e recorre-se a armaduras
de aço colocadas nas juntas horizontais e montantes verticais de
confinamento.

b) Alvenaria armada: é uma alvenaria em que foram introduzidas


armaduras de aço nas juntas horizontais de assentamento e, no caso do
tijolo de furação vertical, nalguns alinhamentos verticais. Deste modo
conseguimos um aumento significativo da resistência mecânica das paredes.
A utilização pontual deste sistema em alvenarias não-estruturais tem
também a vantagem aumentar localizadamente a resistência e poder evitar
o aparecimento de fissuração. Com esta “alvenaria não estrutural pouco
armada podemos seleccionar pontos mais esforçados e reforça-los.

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Conclusão

Antigamente as construções e a sua concepção estrutural eram


puramente intuitivas, contrastando com as técnicas actuais de construção
caracterizadas e reguladas por normas. Esta situação encontra-se agora
profundamente alterada com a entrada de normas que regulamentam o
projecto e a execução de edifícios em alvenaria resistente. Duas das normas
criadas e com maior relevância para o dimensionamento das estruturas de
alvenaria são a EC6 e a EC8.

Assim, as exigências dos utilizadores para as construções são variáveis


com enumeras características, no entanto, as realizações construtivas
humanas são a síntese de três critérios (engenharia, economia e estética), com
importância relativa variável em diferentes obras, sendo no entanto a estética o
elemento distintivo dos abrigos humanos do dos animais.

Desta forma, a filosofia preconizada no Euro código 6 (EC6) e 8 (EC8)


estabelecem um quadro avançado e completo para o projecto das estruturas
de alvenaria dos diversos tipos. Estas visam o dimensionamento de estruturas
de alvenaria e de acessórios de ligação consiste na garantia de condições de
durabilidade e na verificação de condições de resistência dos estados limites
durante a sua execução e utilização pelo período de vida útil do edifício.

PCED – Paredes de alvenaria 3


Bibliografia

[1] – Silva, J. A. Raimundo Mendes da, “Fissuração das alvenarias - Estudo


do comportamento das alvenarias sob acções térmicas”, Tese de
Doutoramento, FCTUC, Coimbra,
1998

[2] – Sousa, Hipólito, “Materiais para alvenaria. Apreciação de algumas


produções e sugestões visando a melhoria da sua qualidade”, Tese de
Mestrado em Construção de Edifícios.
Porto, FEUP, 1988

[3] – Sousa, Hipólito, “Melhoria do comportamento térmico e mecânico das


alvenarias por actuação na geometria dos elementos. Aplicação a blocos de
betão de argila expandida”, Tese de Doutoramento. Porto, FEUP, 1996

[4] –APICER, CTCV e DEC-FCTUC - “Manual de Alvenaria de Tijolo”.


Associação Portuguesa de Industriais de Cerâmica de Construção, Coimbra,
2000

[5] – CEN – “Eurocode 6 – Design of masonry structures – Part 1-1: General


Rules for Buildings – Rules for reinforced and unreinforced masonry”. CEN,
prENV 1996-1-1, 1995

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