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JANUS

A EDUCAÇÃO

DOS

SENTIDOS

2010
É permitida a reprodução da presente obra, sem alterações, em qualquer meio, impresso ou
eletrônico, sem fins comerciais.

Qualquer outro uso, solicite autorização pelo e-mail sw.janus@gmail.com


Prefácio de Janus

Educação dos Sentidos é o resultado de observações que fiz no meio BDSM para compor os
personagens que muito têm do que penso e como acredito que deve ser a ação de alguém que
vive nesse meio de expressão sexual.
Não é doutrinário, não pretende ser a “tradução” na ficção de práticas longamente
aprendidas mas, na verdade, apenas pretende entreter e, se possível fazer pensar.

Gostaria de agradecer à minha menina astharoth, companheira não apenas de BDSM mas
de vida.

A todos os amigos e amigas do meio que acompanharam e opinaram na primeira publicação


desses textos no Mundo de Janus (http://janussw.blogspot.com)

À você que está lendo, agradeço esses momentos no mundo de aleph


Parte 1
A casa: mencionada assim, sem qualquer pretensão, pode parecer um local comum, uma
residência como qualquer outra e seria se não lhe atribuíssem valor diverso. Erauma casa
afastada, em um bairro que parecia saído de um cartão postal qualquer.
Ali seria levado para a sua "educação" como costumava ser chamado o processo que sua
Dona desenvolvia desde que o encoleirara. Sensibilização? Quando insinuavam ser isso que
fazia com sua peça, Ela ria abertamente, um olhar que denunciava um, porque não dizer,
desprezo por aquela opinião sem sentido.
Olhos quase orientais emoldurados por uma pele clara, cabelos pretos que desciam em
ondas até o meio das costas e invariavelmente saltos altos que castigavam as carnes da Sua
propriedade. A primeira tarefa já fora cumprida ao longo de diversas semanas nas quais
progressivamente quebrou o orgulho, os resquícios de arrogância e uma superioridade que
ainda carregava da sua ilusão de poder.
Mais do que convencê-lo da supremacia de sua pessoa e de seu gênero, fez com que essa
certeza lhe penetrasse o coração de forma indiscutível. Agora sim, o macho estéril liberar sua
essência de servidor, daquele que faria de tudo não apenas para satisfazer os desejos mas
tam bém para protegê-la,honrá-la ritualisticamente e também, sim, oferecer seu corpo para
que nele se realizasse o prazer Dela, exclusivamente.
Para isso, indispensável era que soubesse sentir, não apenas o resultado das provas e das
tarefas mas cada elemento que compunha a rica cena que construiam, sob o comando da
Senhora mas com a participação indispensável dele.
Assim ela exercitava a plena convicção que se houvesse domínio e só ali ele tinha a condição
de existência, isso ocorria porque submetera aquele que se prostrava ante si. Redundante
dizer que sentia-se como uma Deusa em um altar porque assim era e assim já foi dito mas
reafirmar essa verdade era quase que um gesto de esclarecimento.
No entanto, convém perguntar: o que deliciava aquela Deusa que fazia do que se chama
profano, uma verdadeira religião? O que podem pensar é um lugar comum que Ela sabia e
praticava mas algo mais a seduzia de forma indiscutível, o sentimento de que além de Deusa,
poderia ser o único instrumento pelo qual sua peça conheceria o mundo e o interpretaria.
aleph (assim chamava sua peça) era um homem inteligente e era por isso que o tomara para
si. Não suportaria alguém que demonstrasse um falta completa de aptidão para pensar por
si, para não precisar ser mandado em cem por cento das coisas mas que pudesse, à partir do
conhecimento da Dona, saber o que fazer, como se portar, como dirigir-se aos outros, como
fazer-se compreender em suas demandas eventuais, como honrar a sua Dona...
Tarefas simples? Talvez para os mais experientes e para as mais versadas peças mas esta,
sim, aleph, demandaria a educação dos sentidos para autonomizá-lo no serviço.
Contraditório? Autonomia na submissão? Não! - respondia a Dona - Melhor serve quem
sabe como servir e bem servir .
Aqueles 7 dias em um mês de verão não pertenceriam á ele, aliás, nenhum dia mais
pertenceria. Todos eram dedicados e seriam de serviço à sua Senhora. Começava, pois, a
despojar-se da velha "vestimenta" de sua vida para trajar outra, a da sua condição submissa.
Fora-lhe ordenado apresentar-se com o indispensável ao mundo para passar sete dias fora
de sua habitação. Quantos não admiravam aquela figura de formas belas e atraentes que
apresentava-se ao lado dele invejando , talvez, os momentos imaginados de luxúria e de
posse que havia sempre dele sobre ela? Quantos desses, na verdade, imaginavam que a
equação era a inversa e que Dominação Feminina não era apenas um texto perdido nos
arquivos da internet mas era algo que acontecia cotidianamente na vida de ambos? Poucos
poderiam sequer imaginar, poucos poderiam prever que essa era a forma superior de
relacionamento à que se dedicavam.
Naquela manhã, apresentara-se rigorosamente na hora acordada e bom que assim fosse já
que a Dona não admitia atrasos de qualquer ordem. No entanto, o que lhe esperava, não
podia prever.
- Desça! - ordenou secamente quando chegou ao local onde ela o esperava.
Não vacilou e imediatamente desceu da posição de motorista e cumpriu imediatamente a
ordem de passar ao banco do passageiro.
- Feche os olhos! - ordem seca que demandava imediato comprimento e assim foi. Aplicou-
lhe dois tampões nos olhos de forma a não permitir que nenhuma luz lhes chegasse e vestiu-
o de óculos escuros, como a um cego.
Pensara em vendar-lhe mas isso , nos dias atuais, poderia lhe causar problemas, tomado que
fosse seu gesto por um ato de violência como um sequestro.
- Senhora, para onde vamos? - ousou dirigir-lhe a palavra.
Um tapa vindo do nada, ao menos para ele, marcou-lhe a face esquerda. Sabia que havia
transgredido, sabia que não haveria perdão e sabia que isso não seria esquecido mas não
percebera que a sua reeducação começara.
Os seus sentidos eram continuamente impressionados pelos barulhos da rua, pelo cheiro da
fumaça dos carros, pelo perfume da Dona, por seu silêncio, pelo ruído do motor e assim foi
por longos cinquenta minutos nos quais rodaram pelos caminhos que os ligavam até a
"Casa".
Muitos minutos depois, quantos não sabia, chegaram:
- aleph, chegamos.
Chegaram onde? Não tardaria para que tivesse suas respostas.
Parte 2
A "Casa" era, na verdade, uma habitação antiga de pé direito alto e um número considerável
de quartos e outras instalações. Fora mobiliado por Ela de maneira a fornecer conforto
quando necessário e um lugar onde sua peça pudesse ser testada convenientemente.
A "Masmorra" localizava-se em um lugar onde, por um capricho construtivo, as paredes
eram mais espessas do que no restante da casa. Quando visitou o local, esse detalhe não
escapou ao olhar atento da Senhora, ao contrário, logo planejou tudo para espanto dos
pedreiros que não entenderam o porquê de se instalar um gancho em um lugar tão alto
como aquele. Estranharam mais não questionaram já que estavam acostumados com o olhar
tão rigoroso e atento que era capaz de localizar pequenos defeitos em quaisquer das coisas
que faziam e demandava pronto reparo.
Era naquele lugar que aleph passaria durante o tempo de treinamento. Todo o aparato
necessário fora trazido com antecedência e rigorosamente disposto na ordem necessária
para prover pleno acesso no menor tempo possível.
O carro foi estacionado em uma garagem especialmente construída para não alterar as
características básicas do imóvel mas também de forma a prover uma adequada privacidade
a ambos.
Abriu a porta do passageiro e mandou com que aleph decesse da mesma forma que estivera
durante toda a viagem, com os tampões e os óculos escuros. Não o ajudou a descer e ordenou
que trouxesse todos as malas e demais apetrechos para dentro.
Isso demandava duas coisas: primeiro, mais de uma viagem entre o carro e o primeiro
cômodo e também um conhecimento do local a percorrer que esperava que aleph houvesse
adquirido das vezes que vieram verificar o andamento das obras de adaptação.
No entanto, isso seria esperado se também fosse esperado as provas pelas quais passaria.
Inconsciente de seu futuro, aleph não tivera o cuidado de perceber cada detalhe, a escada
que se projetava de onde estava construída a caragem até o imóvel propriamente dito,
quantos degraus tinha e outros detalhes que teriam lhe facilitado as tarefas.
A primeira coisa que não notara, especificamente no momento, era onde localizava-se a
porta do passageiro que fora batida com a clara intenção de lhe fornecer uma pista de onde
se dirigir para tomar as bagagens.
Simulando entrar na casa, observava o tatear de aleph em busca do porta-malas. Perceberia
que as chaves estavam na fechadura ou esperaria encontrar a porta aberta? Logo percebeu
que sua peça compreendera que pouco facilitaria a vida dele e foi à busca da chave que
estava pendurada no local devido.
Cuidadosamente abriu a porta e retirou, por mais tolo que possa eventualmente parecer, um
sorriso do rosto da Senhora. Agora o segundo desafio: arrumara as malas de uma forma que
se não fosse corretamente explorado o arranjo, uma tentativa de retirada seria um
verdadeiro desastre, fazendo que parte das malas ao menos balançasse em direção à aleph.
- Rápido, aleph! Quer que sua Senhora espere o dia todo?
- Não , Senhora. Já estou indo!
Chave para o desastre: na ânsia de atender a reclamação e aplacar a ira da Senhora, puxa a
primeira mala ao alcance fazendo com que o equilíbrio precário se desfizesse e as malas
caíssem em direção a aleph que precariamente as aparou.
- aleph! Não consegue fazer nem uma tarefa simples dessa? Como acha que pode servir-me
seu inútil???Trate logo de trazer as malas sem deixar cair. Se derrubar um dos meus
perfumes você verá o que é apanhar da Dona!
- Desculpe, Senhora, não.... - a frase foi interrompida com um sonoro tapa no rosto.
- Cale-se! Não peça desculpas! Ao invés disso, evite erros. Não tenho escravos para ser mal
servida. Você não vê, como pode tentar tirar coisas sem explorar o que está tirando. Vamos!
Leve tudo para cima!
Dessa vez, com mais cuidado, retirou valise por valise, mala por mala até que tudo tivesse
sido feito. Colocadas as malas no vestíbulo, não lhe foi permitido ir além. De cabeça baixa,
conforme convém à um submisso, aleph ouviu a doutrinação de sua Senhora.
- Usar os sentidos em plenitude significa nunca se acostumar com as coisas como elas
podem ser ou foram mas sempre encarar cada momento como novo. No que se está
acostumado, assegure-se que nada tenha mudado e no novo, explore por mais que haja
pouco tempo para isso.
- Sim, Senhora. Obrigado pela lição, minha Dona.
- É apenas a primeira, aleph. Agora dispa-se.
Parte 3

Fora deixado sozinho na ante-sala para que ficasse nu, tendo um desafio básico: a Senhora
não admitia em espaços como aquele, dedicado ao seu culto enquanto Dominadora,
qualquer desordem era considerado não apenas uma afronta mas um desrespeito com sua
figura enquanto tal.
Não tivera tempo e nem coragem de perguntar onde deveria deixar suas roupas mas logo
percebera, aliás tocando com a panturrilha, umm biombo no canto direito de onde estava.
Alguma coisa dizia que era ali onde deveria deixar suas coisas, rigorosamente dobradas de
forma a não poder suscitar qualquer reparo da Senhora.
Sem poder ver, teve de usar as sensações que lhe provocavam o toque em cada elemento de
sua roupa, casas dos botões, as dobras possíveis, o senso de colocar as coisas em seus lugares
de forma ordenada e que não comprometesse o significado de tudo aquilo, de fazer as coisas
da forma que a Senhora quisesse.
Terminando sua tarefa, alinhou-se no local onde havia sido colocado , com os braços ao
longo do corpo, a palma das mãos colocadas nas coxas, a cabeça ainda alta porque a Dona
não havia adentrado a sala. Como saberia que isso estava para acontecer? Bastava apurar os
ouvidos mas o tempo que passa poderia dar-lhe a sensação de acalmar o seu mundo interior
para ouvir os sons e demais elementos do entorno.
No entanto, há de se perguntar se isso era possível e a resposta claramente era não. A
ansiedade de reabilitar-se enquanto submisso era absolutamente necessário já que por
muitas vezes transgredira as regras básicas do que se propunha a fazer, ou seja, bem servir a
Senhora.
Não que o fizesse por algum defeito ou por fraqueza moral mas por não entender que havia
regras estritas a serem cumpridas, uma liturgia que não apenas deveria ser uma obrigação
mas a essência de tudo o que se chamava não apenas BDSM mas serviço.
Passos ao longo do corredor de madeira, botas que faziam que o som reverberasse ao longo
da habitação. Jã sabia como estava sua Senhora: botas até a altura das coxas, uma
vestimenta que cobria-lhe de forma a ressaltar os seios e uma capa ao estilo de um manto de
realeza, tudo branco, imaculado.
O som estava mais próximo, mais próximo, sabia que ela chegava e sem que fosse necessária
qualquer ordem, colocou-se de joelhos, cabeça baixa, em reverente postura.
A Senhora nada disse, apenas verificou se tudo estava da forma que imaginara que aleph
fosse capaz de fazer e ficou satisfeita em ver que tudo estava conforme o melhor que pudesse
esperar.
- Muito bem, aleph... Sua Senhora ficou satisfeita com sua iniciativa e com os resultados.
Como sentiu a solidão? Como sabia que eu chegava?
Relatou todo o ocorrido, suas sensações, a necessidade do silêncio, as suas percepções.
Pudesse ver o rosto dde sua Senhora veria que ele se iluminava com um sorrisso terno e
acolhedor.
Sabia que não era vã a percepção que aleph poderia dar-lhe muito e , superado esse ponto,
seguiriam nas novas lições que os aguardavam, uma como Mestra, outro não apenas com
servo mas como discípulo.
Parte 4
- Quantas horas faz que chegamos, aleph?
Ainda com os tampões e a venda, aleph experimentava a desorientação e a experiência da
privação dos seus sentidos à ponto de fazer perder o referencial do tempo, esse bem tido
como um bem absoluto, como um indicativo de produtividade ou de criação de um valor
próprio do serviço que fora prestado.
Essa privação, portanto, impedia que respondesse a pergunta feita pela Senhora. Poderia
arriscar-se a expor sua ignorância?
- Senhora, não posso dizer a quanto tempo chegamos. A cegueira me deixa incapaz de
perceber o tempo...
A Senhora nada comentou, apenas fez com que aleph ficasse ajoelhado frente a Ela e retirou-
lhe primeiramente os óculos e depois, com bastante cuidado, os tampões dos olhos.
- Não abra seus olhos ainda, a luz não lhe fará bem. Lembre-se, aleph: assim como a luz que
lhe permite ver, em excesso o cega e assim é com muita coisa na vida. Discipline suas
emoções, a coloque a Meu serviço e a seu próprio, experimente, sinta com intensidade, viva
com dedicação. É isso para que a Sua vida vale, para o serviço e para o aprendizado. Agora
abra seus olhos, devagar.
aleph foi acostumando-se com a luminosidade e ajustou o seu olhar até distinguir a face
serena de sua Senhora. Colocou-se com a cabeça na posição correta, baixa, devotada e
esperou a próxima ordem.
- Banhe-se e vista a roupa que está em suas acomodações, no final do corredor à esquerda.
- Sim, Senhora. Com sua permissão.
- Pode ir, aleph.
Enquanto ele dedicava-se à higiêne e aos cuidados indispensáveis, a Senhora fazia uma
ligação:
- Sim, caríssima, está correndo tudo bem, ele está se portando completamente de acordo.
Agora, você bem sabe que a grande prova ainda está por vir.
- Olha... - disse a interlocutora, rindo - Você chega a ser cruel nessa sua forma de agir. Tem
certeza que é isso mesmo que você quer?
- A quantos anos você me conhece, querida? Alguma vez tomei alguma decisão de
afogadilho, sem pensar?
- Raramente, isso é verdade. Ok, está bem. Quando devo estar aí?
- Chegue às nove e meia e não se esqueça como deve proceder.
- Sim, claro. Obrigada pelo convite. Nove e meia da noite estarei aí.
- Ok, obrigada. Beijos!
Terminada a ligação, tomou em Suas mãos um estojo de madeira onde guardava pequenos
frascos contendo amostras de perfume, inclusive aquele que usava, um amadeirado de fundo
cítrico cuja apreciação requeria um cuidadoso processo de sensibilização e outro, de mesma
base mas com notas diferenciadas que requeriam sofisticada apreciação para se distinguir
do primeiro.
Deixou os pequenos frascos ao alcance e, pouco depois, aleph reaparecia na sala vestido com
uma camisa e uma calça feitas de algodão, cor creme e descalço como convinha à um escravo.
Ao contemplar sua Senhora, colocou-se de joelhos e fora orientado a ficar de costas para Ela
que abriu o frasco do perfume que usava e disse a aleph que o apreciasse e disesse a
constituição e o que sentia.
A resposta não A satisfez e fez saber isso com uma forte chicotada nas costas ainda cobertas.
Advertiu-o mais uma vez:
- aleph, aleph... Não retroceda em seu trabalho e em suas conquistas. As provas que você
enfrentará são as piores de sua vida de submisso e esteja pronto. A dignidade da coleira que
portará será posta a público em breve e você não deverá me decepcionar, de forma alguma.
Aprecie esse perfume, agora e descreva-me.
- É um amadeirado, Senhora.
- Apenas isso? Quais são as notas?
A Senhora sabia que aleph não desconhecia esse linguajar. Apreciador apurado de vinhos,
aleph sabia o que eram as notas e que apenas são percebidas pela continuidade da
apreciação. Afastou ligeiramente o frasco do nariz do submisso e recebeu a resposta que
desejava:
- Notas cítricas, Senhora, provavelmente laranja e mais uma que não reconheço.
- Muito bem, aleph, muito bem...
Por algumas horas aleph dedicou-se a preparar a refeição de sua Senhora da maneira que
mais a agradava, ou seja, com poucas carnes, uma profussão colorida de vegetais e legumes,
frutas, sucos e alguns doces selecionados especialmente para a ocasião e preparados
antecipadamente.
A guarnição deveria ser atrativa e todos os pratos seriam preparados de forma a agradar aos
olhos, ao paladar e principalmente, gerasse a sensação de satisfação sem que muito se
consumisse para que não ocorressem problemas digestivos de qualquer ordem.
Essa preparação consumiu praticamente 2 horas e aleph banhou-se novamente antes de
servir sua Senhora que sentou-se à mesa da cabeceira e ordenou que todos os pratos fossem
simultaneamente trazidos para sua apreciação e degustação.
Como bebida, um vinho que a Senhora deixara a escolha por conta de aleph que mais uma
vez distiguira-se na tarefa. Tudo foi apreciado com especial carinho e só depois aleph teve
permissão para alimentar-se e retiraram-se, cada um para seus aposentos para o descanso.
No meio da tarde, aleph começou a preparar a casa sendo finalmente informado que
receberiam visitas durante a noite. O trabalho foi por várias vezes interrompido para que a
Senhora submetesse o perfume ao olfato de aleph que não consegueria perceber o que estava
para acontecer.
Finalmente, no final do dia, mais um banho, perfumes e o recebimento da nova coleira
social, em aço polido e com um "S" gótico o qual considerou de rara beleza. Porém, não veria
a Domme que chegaria dali alguns minutos.
A Senhora apanha um tecido negro e envolve seus olhos e devolve-lhe antecipadamente as
trevas da noite que chegaria. aleph agora sofria de uma ansiedade indizível. O que viria a
seguir?
Parte 5

Segundos, minutos, horas... Quantos e quantos livros foram escritos para tentar estatuir o
que seja o passar do tempo na mente humana e quais seus efeitos. No caso de aleph, essa
soma, tão pensada e tão discursada, representou apenas um tipo de tortura a que sua
Senhora o submetia para que, entre outros motivos, domasse a impaciência que o dominava.
Foram exatas duas horas, onde fora ordenado que permanecesse em suas acomodações até
que o momento chegasse, não apenas de poder estar na presença de sua Senhora como
também na de outra Domme a quem sua Dona mentorava.
Houve um tempo em que lhe repugnava pensar que pudesse ser "emprestado" por sua Dona
para quem quer que fosse mas logo percebera que , ao acolher a coleira da Senhora, abdicara
de sua vontade e que depositava imensa crença que Ela pudesse fazer tudo aquilo que não o
ferisse mais do que o necessário para promover o prazer daquela que o tinha.
Podia sentir pela temperatura que a noite caia, saindo do calor que sentia até à pouco para
um frio que começava a dominar. Sutilmente a porta abriu e pressentiu a figura de sua
Senhora:
- Não deixe que o frio o atinja que temos uma longa noite pela frente. Banhe-se
adequadamente e vista a roupa que eu lhe indiquei para dias frios. Será chamado quando
for conveniente.
- Sim, Senhora...
Ela retirou a venda e , por um breve segundo, os olhares se chocaram e causaram um
sentimento que dava conta da real posição de ambos no mundo e do laço que os unia. O que
é um segundo senão todo o tempo, aquele mesmo no qual ansiara tanto? Exatamente, a sua
conjunção e também tempo suficiente para tornar real um sentimento tão intenso.
Banhou-se com os sabonetes adequados, com os perfumes prescritos e vestiu as roupas
cerimoniais que guardavam do frio e apenas aguardava apresentar-se para portar sua
coleira, colocada pela própria Dona.
Cai a noite, avança, a campanhia, a Mentorada de sua Senhora chegara. De onde estava não
conseguia ouvir o diálogo que se seguiu.
- Fico honrada que tenha decidido me instruir dessa forma, cara amiga. Fico sinceramente
lisongeada!
- Não há de que, caríssima. Você bem sabe que tenho apenas uma a quem mentoro e não é
por motivo outro senão reconhecer nela as qualidades e a intenção para bem seguir nessa
senda.
- E quais são essas qualidades?
- Comportamento, carisma e aforça que legitiimam a dominação e trazem para a luz a
submissão.
- Assim como aconteceu com vc e aleph?
- aleph está sendo educado, caríssima... Não é um sub acabado e espero que sempre tenha a
aprender mas agora percebe que o mundo que rege todo nosso modo de vida não são apenas
chicotadas e palavras duras mas é a submissão que se concede e domínio que se legitima.
Tudo espero, tudo posso, tudo quero mas sei que um homem , assim como um submisso e
uma mulher, assim como uma Domme , não se constróem senão na vida. aleph vive, eu vivo
com sua Senhora e vc viverá com sua peça. Nada mais, nada menos, nem ansiedade e muito
menos dor. Viver, cada dia e apenas isso.
Os olhos da Senhora brilharam e sua orientanda logo percebeu a intensidade do vínculo que
A unia à aleph. Almejava também conquistar tal nível de intensidade de sentimentos e de
possibilidades de domínio que sua grande amiga encontrava com aquele que tanto a fazia
sentir-se bem, em plenitude e ter realmente prazer.
Sentia que a Senhora era feliz com aleph e seria mais ainda, tendo em vista a profunda
reeducação , incialmente de seus sentidos, depois de todo o mais.
- Por falar em aleph, é hora dele apresentar-se á nós!
A Senhora tocou uma sineta que aleph, atento, ouviu imediatamente. Colocou-se em pé,
ajustou a túnica que era a última peça a vestir e que jamais deveria parecer amassada ou
rota, e dirigiu-se à sala. Ao chegar quase á soleira da porta da sala, postou-se de cabeça baixa
e aguardando:
- Peço-lhe permissão, Senhora minha, para adentar ao recinto dedicado ao Seu culto.
- Tem permissão , aleph!
Entrou na sala e encontrou tanto a Senhora como Sua amiga, sentadas em uma cadeira de
espaldar alto com as armas de sua Senhora entalhadas nele. Colocou-se de joelhos frente a
sua Dona e beijou-lhe os pés envoltos pelas botas altas.
- aleph, saúde aquela que conhecerá como Domme e que deverá merecer de você o mesmo
respeito e consideração que dedica a mim.
- Sim, minha Senhora. Saúdo a Senhora Domme e espero que possa proporcionar , dentro do
que me cabe, tudo o que a Senhora queira e que lhe dê satisfação sendo que , assim, também
concederei honra e glória à Dona minha, Senhora do meu destino.
- Grata, aleph.
- Agora, aleph, nos prepare o que havíamos combinado, exatamente da mesma forma que
lhe recomendei. Quando tudo estiver pronto, basta anunciar da forma que você sabe que
deve fazer.
- Sim, Senhora. Com sua permissão....
- Vá!
Retirou-se sem jamais dar as costas para as Tops presentes. Se isso não foi nada excepcional
para a Senhora, fora para a Domme.
- Esse é o submisso que a Senhora diz ter de ser treinado?
A Senhora riu e respondeu afirmativamente com a cabeça. Domme aidn
a também deveria saber mais sobre o que significava dominar. No fundo, saberia que aquela
noite, ao menos no básico, poderia aprender muito.
Parte 6

O recinto para o qual entraram ao anúncio de aleph que tudo estava pronto, era uma sala
muito grande, destinada originalmente como o lugar da reunião da família de seu primeiro
habitante. História registra que todas as noites, a família fazia suas refeições, discutiam os
problemas familiares e registraram uma imagem que , estranhamente, foi resgatada de um
nicho na parede quando da reforma da habitação.
Nessa foto havia uma grande mesa de madeira maciça a qual foi reconstruída, na medida do
possível, infelizmente, não respeitando o material original, indisponível. No entanto, naquela
bela disposição que conservou a originalidade da habitação, faziam as refeições, recebiam os
amigos, estavam na casa que envolvia o templo da Senhora.
- Querida Domme, o que aleph nos servirá será um exemplo de refeição em tempos de
sessão, principalmente para o sub. Muitas frutas frescas e secas, nada que pese no estômago
ou possa causar mal estar.
Nesse extamo momento, aleph adentra à sala em posição respeitosa para servir às Nobres
Senhoras.
- Sente-se conosco, aleph. A Domme tem algumas perguntas a fazer à vc.
- Apenas um minuto, Sra. , para que eu leve essas garrafas à cozinha.
- Vá, aleph.
Quando aleph saiu, a Domme perguntou sobre o que poderia ou não perguntar. Para a
Senhora, nada era um limite ou uma interdição, podendo estar a colega livre para quaisquer
curiosidades que eventualmente pudesse ter.
Voltando, aleph sentou-se em uma cadeira reservada à ele, fora da mesa mas o suficiente
próximo para ouvir e ser ouvido.
- aleph, gostaria de saber sobre o que te limita? O que você não faria?
- Sra., não há nada absolutamente fora da vontade de minha Dona que eu fizesse e nada que
fosse da vontade Dela que pudesse deixar de fazer. Minha vontade, prazer e saúde, tudo
depositei aos pés de minha Senhora, a ponto de não haver mais dois mas apenas um sob o
mando Dela.
- Isso todos dizem, aleph.
- Bem sei, Domme. Eu mesmo transgredi mas entendo hoje que a verdadeira felicidade se faz
com verdadeira entrega, nada mais, nada menos do que isso.
- Então você faria qualquer coisa para a sua Senhora?
- Qualquer coisa.
- Mesmo? - perguntou a Domm eincrédula.
- Sim.. Basta a Ela mandar e eu farei.
Doomme olhou para a Senhora como que propusesse testar as palavras de duvidosa
obediência de aleph. Sorriram uma para outra, de forma discreta, como a dissimular o que
os olhos atentos de aleph jamais desconheceriam. Tramavam, as trilhas imensas de prazer
qye se sucederiam.
- aleph!
- Ao seu dispor, Senhora.
- Deverá obedecer à Domme como obdece à mim, compreende? Não admitirei falhas no
serviço de minha irmã de dominação. Está claro?
- Sim, Senhora. Servirei a Domme com sirvo à Sra.
Na verdade, aleph pensava que alguns de seus temores estavam se justificando, sendo que
sua Dona e Senhora, o emprestaria a Domme. Seus olhos traduziram , com a clareza que lhe
era peculiar, toda dor que sentia ao se sentir apenas alguém a mais, um detalhe na biografia
de sua Senhora.
Como poderia passar despercebida à Senhora tal sentimento já que Ela o conhecia melhor do
que a ele a si mesmo? Aproximou-se de sua peça.
- Decepciona-me, aleph, que sinta alguma dúvida sobre que o possui de verdade. Não tente
negar, sei de seus medos e está apavorado. Disse agora mesmo á Domme que acredita em
mim irrestritamente e que faria tudo o que eu comandasse e agora é chegada a hora de
provar que é nisso mesmo que acredita. Será o veículo que eu escolhi para ensinar a fina arte
que praticamos e esse é meu comando para você, entendeu? Não me faça sentir
decepcionada novamente, aleph...
Sentiu-se consumado em chamas da profunda penetração que sua Senhora fazia na alma
dele, desnudando-o por completo. Quando a ordem de despir o corpo foi dita era a última
instância de si que ainda precisava ser desnudada. Novamente as roupas foram deixadas
dobradas em lugar apropriado e aleph, comandado pela Dona, adiantou-se à masmorra
para incensá-la e torná-la imaculada para uso Dela.
Nesse tempo necessário para a preparação, orientou a Domme na postura que deveria
adotar e, conforme havia pedido, uma roupa negra cobriu o corpo da jovem dominadora
para que fizesse um contraste absoluto com a alvura doa roupa da Senhora.
aleph que de início ficara em pé em lugar designado para tal, ajoelhou-se ao ver a
aproximação das duas dominadoras que tomaram seus lugares mais elevados.
A um simples gesto de sua Senhora que portava, agora, seu chicote, levantou-se com a cabeça
baixa e imediatamente recebeu sua coleira, negra, adornada com a letra "S" em gótico além
do receptáculo para a guia.
Outro comando e aleph posicionou-se para a inspeção de costume. Orientando a Domme a
Senhora esclareceu ser importante inspecionar se todas as determinações eventualmente
dadas em relação ao submisso e a seu corpo, foram atendidas. No caso de aleph, apenas a
inspeção costumeira se fazia necessária.
Meticulosamente inspecionado, servindo de um "quadro negro vivo" para a nova Domme,
sentia-se com emoções contraditórias, as de servir a Dona de si e não intimidar-se com a
presença da convidada de sua Senhora.
Também sabia o que havia de acontecer depois: normalmente colocaria-se de joelho frente ao
local onde sua Senhora permanecia e reverencialmente beijava-lhe as botas, lambia-as, em
um tributo de reconhecimento à superioridade inquestionável da Top que lhe dirigia.
Hoje, no entanto, esperou o comando que não demorou a vir:
- Prossigamos, segundo o costume. Como sabe, aleph, esse momento servirá para culto de
sua Senhora e para reverência à Domme que nos visita e está sedenta em aprender a arte do
BDSM. Portanto, deverá reverenciá-La da forma que Ela comandar, logo após me honrar
conforme fazemos sempre.
- Sim, minha Senhora. Não há outra razão para qual eu viva senão para serví-La e propiciar
o que a Senhora precisa, mais ainda, serviço, lealdade, serviço e devoção! Por isso, digna Sra.
esse humilde escravo beija-lhe as botas, única coisa digna que pode fazer por tão grande
Mulher.
A Senhora coloca os pés sobre um apoio localizado no degrau mais baixo próximo a aleph.
Ele, por sua vez, prostra-se reverencialmente e beija o bico da bota de sua Senhora
lambendo-a em seguida, prosseguindo assim pelo cano sendo que a cada necessidade de
recolocar-se, não lhe é permitido usar o corpo, tendo de rastejar para alcançar o cano longo
que alteia-se até os joelhos.
O esforço para subir como se os braços lhe tivesse sido cortados é indiscritível dado o grau de
força mental que exige. No entanto, segue, não pode falhar, jamais o faria e sabia que sua
Senhora olhava seus esforços de uma forma que não lhe restava dúvidas que apreciava o
serviço.
A Domme observava admirada a cena com aquele homem totalmente à serviço daquela
Mulher que retia todo o poder e toda a graça, ao menos nos olhos servis dele. Admirava-lhe
os olhos, a boca ao tocar o couro branco da bota da Senhora e depois, os mesmos lábios ,
praticamente irem repousar no chão e para que a cabeça de aleph servisse de repouso para
os pés da alva Senhora.
Desejava intensamente compartilhar a mesma sensação e, como advinhando o que sentia, a
Senhora deu a ordem para que ele iniciasse a honraria dedicada à sua discípula e com muito
cuidado e afeição, assim foi feito. Apenas não lhe fora concedido colocar seus pés sobre a
cabeça de aleph, símbolo maior do domínio, reservado apenas à Senhora.
- Levante-se , aleph! - ordenou a Dona do escravo que postou-se humildemente em pé, a
cabeça baixa e as mãos coladas ao longo do corpo.
- Cara, Domme, devolvamos ao aleph as sombras.
Isso foi a senha para que a Domme colocasse a venda nos olhos de aleph e , de fato,
restituindo-lhe a noite definitiva, tão escura como lá fora, o que nada lhe permitia ver,
apenas ouvir os movimentos à sua volta. A grande possibilidade de advinhar o que havia por
vir, fora-lhe tirada à medida que os sons dos saltos das botas de ambas as dominadoras
eram exatamente os mesmos e, com certeza, esmeravam em dar a mesma cadência no andar
pois já não os distinguia.
- Nos retiraremos aleph e , ao voltarmos , deverá dizer quem aproxima-se de você baseado
apenas naquilo que puder perceber, sem utilizar suas mãos que jamais devem tocar o corpo
de qualquer de nós por não ter a dignidade para tal.
- Sim, Senhora.
Retiraram-se e aleph tentava distinguir o ritmo que sua Senhora aplicava ao andar mas não
foi possível. Os momentos se sucederam e apenas aumentava a angústia do submisso.
Parecia-lhe voltar o tempo que, criança, era deixado só no quarto escuro e chorava, sentia-se
abandonado para sempre. Como precisar , naquele estado, o tempo que levou para que
ouvisse, novamente, os passos das duas? Impossível dizer.
Sabia que alguém aproximava-se pelo seu lado direito e tentou perceber quem era mas não
foi o suficientemente perspicaz para entender que isso demandava tempo, uma observação
que deveria ser feita com calma, tentando sentir o que lhe cercava.
Sentia um perfume, sim, o perfume! No entanto, não lembrava-se por mais que tentasse,
qual era a nota daquele que lhe fora apresentado tempos atrás.
- Senhora? - arriscou-se.
Do lado esquerdo, sem qualquer som que o antecipasse, um tapa vibrou-lhe no rosto,
arrancando-lhe um gemido sufocado. Errara! Quem estava ao seu lado era a Domme. Sim,
havia uma nota diferente no perfume mas não notara.
- Como ousa confundir-me, inútil? - agora sim, a voz de sua Senhora fazia ouvir-se do lado
esquerdo e era secundado por um riso abafado da Domme que deliciava-se ao ver aquele
incompetente sendo punido.
Os tapas se sucediam até que o rosto de aleph apresentasse um rubror típico de tanto
espancamento. A Senhora e Domme se entreolharam e disse-lhe a Dona de aleph:
- Nenhuma ofensa deve ser perdoada, jamais! Ensinei a esse inútil qual era o meu perfume e
esse estúpido não espera, arrisca, tenta como um imbecil. Como posso aguentar isso, essa
peça inútil, totalmente sem capacidade de sentir. Não sei porque mantenho essa coleira nesse
pescoço imundo.
aleph sentia-se mal, sendo que o seu mundo de serviço encontrava-se prestes a desmoronar,
ao menos era o que sentia. Desagradara a sua Senhora e ainda na frente de outra
dominadora.
- Não perde por esperar, aleph! Decepcionou-me em meu lugar de culto e reverência. Será
castigado. Agora de quatro no chão, cão imundo.
Colocou-se como lhe fora ordenado e não tardou para que a guia fosse colocada em sua
coleira. Estava sendo arrastado como um cão, sem saber para onde ia e sua Senhora,
enfurecida, pouco esforço fazia para que não permitir que ele esbarrasse em algum lugar.
- Cuidado para não me provocar mais danos, inútil - repetia.
A Domme aprendera a mais preciosa lição, a de jamais perdoar. Todo erro, correspondia um
arrependimento e uma penitência sendo que o primeiro era dispensável de ser enunciado já
que ele deveria mover o coração rumo à nenhum erro mas a penitência, essa sim, era
indispensável.
aleph percorreu todo o corredor tangido como um cão rumo à masmorra da casa da Senhora
onde chegou com os joelhos em chamas e as mãos fustigadas pela "caminhada".
- Levante-se, inútil. - comandou a Dona de si.
O submisso levantou-se e foi dada à Domme a honra de psicioná-lo para o castigo. As máos
foram atadas em lugar específico, acima da cabeça, deixando os braços esticados e, as pernas
separadas, foram atadas em semelhante dispositivo.
- Hora do castigo, ser inferior! - falou a Senhora.
O castigo iria começar.
Parte 7
Talvez existam castigos que firam a carne e deixem marcas indeléveis no corpo. Quem se
submete sabe, no entanto, que as verdadeiras marcas são aquelas que ficam por dentro,
exatamente como agora que aleph experimenta duas sensações distintas e de dimensões
diferentes.
A primeira , conhecida, a de ser castigado em si. Não podia esquecer a frase falada por sua
Senhor antes de retirar-se , juntamente com a Domme, da masmorra onde encontrava-se
atado:
- Quando aprenderá, aleph, que eu odeio ter de castigá-lo??
Vergonha, a maior das punições, principalmente frente à outra Dominadora a quem, com
certeza, a Senhora desejava demonstrar a qualidade do treinamento que aplicava à si. Como
pudera colocar tudo isso em dúvida por uma simples precipitação?
A segunda era ser abandonado daquela forma por ambas deixando-o na consciência de sua
falta e da impossibilidade de perdão ou de reparar a ofensa. Tudo isso somava-se a ponto de
fazê-lo desejar que sua carne fosse marcada mil vezes, com todas as suas consequências mas
também com suas lições mais rápidas e marcantes.
Sentia o cheiro do cigarro que sua Senhora consumia e ansiava por Ela. Gostaria de gritar
por sua presença mas cabia-lhe, dentro do que era, apenas esperar a vontade de sua Senhora
e os minutos se sucederam até que ambas voltassem.
Coube a Domme (e reconhecera pela forma de venda-lo) retirar-lhe a luz do dia. Sons quase
inexistentes senão o calma bater dos saltos das botas no piso da masmorra.
- Nunca bata sem antes aquecer, Domme. Faça conforme eu lhe disse.
- Sim....
O açoite de cordas veio de encontro à nádega de aleph em ritmo descompassado mas que
logo foi sendo regular e preciso.
- Jogue com o pulso, isso... Muito bem, menina, muito bem!
Crescentemente o açoite provocava uma sensação de aquecimento, com o sangue fluindo
para a superfície de suas nádegas, fazendo que, lenta e constantemente, a sensibilidde no
lugar preferido para aplicação de castigos não fosse diminuída mas propiciasse um castigo
mais intenso para o Dominante e mais proveitoso para o bottom.
- Olhe... Quando tiver experiência poderá fazer isso...
aleph sabia o que significava isso já que normalmente , a Senhora usava dois açoites no início
de suas sessões de spanking. Habilmente, apenas com o concurso dos pulsos, girava-os em
evoluções esteticamente belas, admirada com encanto pela Domme.
Nesse caso, não apenas suas nádegas eram atingidas mas as costas que também receberiam
chicotadas pelo que percebia.
- Sinta, como está quente...
Sentiu a mão pequena e macia da Domme a verificar a temperatura de sua pele que já era
ideal para o começo da sessão.
- aleph! Diga-me qual é a sensação. Descreva os cheiros e notas.
Colocava ao alcance do olfato de aleph a mesma fragrância que mostrara a ele quando da
educação do seu sentido mas que ele esquecera ou que não tomara cuidado de sentir quando
fora testado o que lhe causara essa punição.
- Amadeirado... com notas cítricas.
Mal acabara de falar o chicote estalou em suas nádegas de forma intensa a ponto de fazê-lo
contorcer-se de dor e do inesperado já que estava vendado.
- Doce ilusão sua que compensará sua falta! Sabe disso, não é?
Acenou afirmativamente com a cabeça. Mais uma vez foi esbofeteado e logo a Senhora
explicou que quando perguntava, a resposta deveria soar clara, ser pronunciada.
- Sim, Senhora! Sei disso...
Ela caminhou em direção a Domme e entregou o chicote de montaria. Aquele chicote lhe
agradava porque uma dose adequada de dor e era fácil de manejar. Indicou-lhe as áreas
mais adequadas para serem chicoteadas e tornou claro que não apenas o bater era o ideal
mas sim provocar sensações adequadas, ou seja, lentas ao sentir, intensa ao produzir
resultados, inesquecíveis.
Domme logo mostrou entender perfeitamente a lição que tivera: mesmo percebendo o
perfeito aquecimentos das nádegas de aleph, dedicou largos minutos a percorrer as costas,
dar-lhe a lingueta do chicote para lamber, uma brevíssima batida nas bochecas e a volta
para o pescoço.

Ao atingir o flanco do lado direito, apercebida que encontrava um lugar adequado, vibrou-
lhe a primeira chicotada de fato.Mesmo sentindo que a lingueta deslizava naquela direção e ,
recordando das lições da Senhora, surpreendeu-se com a batida inesperada e quase gritou o
que teria sido desastroso para ele mesmo.

Chegando às nádegas, aí sim dedicou sua primeira e mais doída chicotada. Pudesse ver,
notaria que aplicara uma força um tanto mais acentuada e nisso difereia-se um tanto de sua
Senhora que adorava provacar dores de menor intensidade mas repetidamente e em diversos
lugares do corpo o que, ao final da sessáo, parecia a aleph ter sido chicoteado mais do que
efetivamente fora.
O chicote vibrava em suas carnes cuja coloração já aproximava-se de um arroxeado em
algumas áreas. Deleitavam-se tanto a Domme como aleph que, desde a consciência da
possibilidade de ter sua submissão acolhida, não dispensava o estalar do chicote mas , do
fundo do coração, jamais daquela forma.
- aleph!
- Sim, minha Senhora.
- Eu quero ouvir a sua contagem e um agradecimento à Domme. Ela está colaborando
comigo para sua reeducação e merece o reconhecimento por isso com o direito de castigá-lo e
usá-lo sempre com minha autorização.
aleph concentrou-se e conseguiu, claramente, ouvir os movimentos do chcote, o seu sibilar no
ar e o encontro com suas carnes. Refreou o grito, suspirou alto e disse conforme lhe fora
ordenado:
- Um! Obrigado Sra. Domme
Se pudesse olhar para os olhos de Domme, veria uma mulher que finalmente dera vazão
para seus mais íntimos desejos, sentia-se plena, renovada, com um mundo cheio de
diiculdades, sim mas com grandes fatos e feitos.
- Dois! Obrigado Sra. Domme.
A Senhora apontava para Domme que subisse um pouco com o chicote e batesse na região
dos omoplatas, em ambos os lados.
- Três! Obrigado, Sra. Domme.
Assim foi a Domme contornando o corpo de aleph, batida após batida, deixando marcado
seu corpo, vermelhor em algumas partes, roxa em outras, em especial as nádegas. A
contagem subia, dezoito, dezenove e finalmente vinte, isso quando a Senhora deu o sinal
para que parasse o espancamento.
Sucedeu-se uma pequena masagem com óleo aromãtico para que fossem aliviadas as dores à
partir de uma mistura de óleo mineral e cânfora. Nas áreas que assim requeriam, um pouco
de gelo foi aplicado para aliviar as dores maiores.
No entanto, ainda não estava acabada a sessão. As mãos de aleph foram atatadas de forma a
ficarem no meio das costas com as cordas passando por um elo na coleira e virando-o de
frente para si, passou um cordão de maneira que tanto o escroto quanto o pênis fosse
firmemente atados juntos. Sem excessos, isso provocava uma situação onde qualquer
acréscimo de excitação provocava um misto de prazer e de dor que são incomparáveis.
- Sabe, cara Domme, esse menino safado jamais sofreu algo que tenho certeza que gostará de
proporcionar à ele.
- Poderia saber o que é, Senhora?
- Claro que sim e ele também saberá. Melhor tirar a venda dos olhos dele.
- Permite, Senhora?
- Fique à vontade, cara Domme...
aleph sabia como deveria proceder nesses casos, abrindo os olhos progressivamente para que
os olhos não doessem.
- Vire-se de costas, aleph.
O escravo pode ouvir que ao passar algo para Domme,a Senhora provocara algumas
expressões de surpresa e de descrença se era aquela mesma a sua vontade. Reafirmada,
ouviu a preparação da Domme, instruída pela sua Senhora.
- Vire-se, aleph!
Quando olhou para Domme, tremeu de sensações mistas de medo, vontade de afastar-se e
desaparecer dos olhos de ambas mas a certeza que não tinha alternativa senão obedecer as
vontades de sua Senhora. Temia pelo que iria acontecer e sentiu, pela primeira vez, uma
vontade imensa de chorar mas conteve-se, afinal,a entrega absoluta tem esse nome
exatamente por não ter limites.
Parte 8

Os olhares de aleph e sua Senhora comunicaram-se quase que imediatamente e o que ele
pode sentir foi uma mensagem que era conflitante com castigo, com a dor que
inevitavelmente sentiria. Ela apenas aproximou-se e começou a acariciá-lo sutilmente, com
uma mensagem subliminar de que confiasse.
- Não encare isso como punição, aleph. A punição já se foi com o spanking já que a punição
deve ser proporcional à ofensa. Agora permita-se ser dominado de uma forma a qual jamais
foi submetico.
No entanto, a Senhora percebeu que a dúvida e a angústia não desaparecera dos olhos de
aleph e logo entendeu o porquê.
- Pensava que você não estivesse submetido à esse pensamento linear, aleph. Será que me
enganei quando pensei que um espírito livre estava portando minha coleira?
- Não, Senhora. A Senhora não se enganou. Apenas temo pela imagem que ficará de mim
para a Senhora.
- aleph, aleph.... - disse a Senhora com doçura – O que é ilícito acontecer entre um homem e
uma mulher livres? O que é ilícito à um servidor fazer para atender os desejos de sua
Senhora? Aleph... quando decidiu servir-me nasceu um novo homem, obediente mas liberto
e liberto exatamente por ter disciplina e por ter espírito de servir. E também sabe que está
livre para ir quando quiser, bastando devolver a coleira que lhe foi confiada para honrar. ?
isso o que quer aleph?
- Não, Senhora. Serví-la da forma que a Senhora desejar é a única coisa que desejo para
minha vida, agora, amanhã e enquanto a Senhora desejar ter-me sobre Seu domínio. Não
poderia aprender mais senão em Sua presença e eu agradeço as lições que tem dado a mim,
Senhora.
Domme assistia aquela cena com atenção e aprendendo a lição mais importante de alguém
que pretendia dominar: o respeito,a responsabilidade e consideração com o servidor que
colocava sob seu domínio.
Desde que a Senhora lhe propusera, para sua educação e a de aleph, que fizessem o forte ato
da inversão, questionara-se qual seria o impacto para si mesma e para aleph. Duas questões
se colocavam ali: primeiramente que sendo a experiência inicial, todo o valor que se daria a
tal prática dependia da qualidade de primeira vez. Aprendera isso consigo mesma e da
primeira vez que um homem tocara-lhe o corpo com vistas ao sexo: a experiência com um
homem valoroso a libertou de todos seus medos e tornou-a livre para abraçar , no futuro, sua
condição de dominadora.
Depois, pensara em como aleph encararia a própria questão da prática confrontada com o
conceito de sua masculinidade que era muito comumente colocada em questão em práticas
como essa. Ecantara-se com a breve lição que a Senhora dera, afinal, sempre crera que tudo o
que era feito entre um homem e uma mulher era desprovido de tais preocupações e mesmo
porque masculinidade é um conceito que deveria extrapolar a esfera sexual e instilar-se pela
vida de um homem como um todo.
Conseguia visualizar a tensão no corpo de aleph e como essa tensão aliviara-se quando das
palavras da Senhora. Agora , relaxado, estava ajoelhado ante a Domme que não ousava
movimentar um músculo dada a intensidade da cena e do momento que se desenrolava.

- aleph, entenda isso – disse-lhe a Senhora. - Domme porta dois símbolos de poder que
sempre foram associados a vocês homens, o falo e as botas, a materialização do poder e da
força. Nesse momento, ela é dominante de fato e simbolicamente. Tribute-lhe suas
reverências.
Bem sabendo o que isso significava, abaixou-se e beijou as botas da Domme e sob o comando
de sua Senhora, lambeu-as assim como as solas que foram oferecidas, subindo pelo cano até
uma determinada altura onde foi comandado a parar.
Logo que terminou com o ritual na bota esquerda (começara pela direita) foi tomado pelos
cabelos pela Senhora e teve sua boca dirigida para aquele falo que esperava rígido, em
permanente estado de prontidão.
Abra a boca, aleph!
Imediatamente atendeu à ordem, abrindo a boca o máximo que podia sendo dirigido para o
consolo que foi enfiado em sua boca lenta mas incessantemente até que batesse no fundo de
sua garganta e provocasse um espasmo que molhou de saliva o instrumento.
Chupe! - comandou a Senhora.
Dedicou-se lentamente á sucção do falo o que provocou um suspiro de satisfação na Domme
ao ver aquele homem, másculo e belo, subjugado e tributando reverência ao seu símbolo de
poder. Era sutilmente amparado pela sua Senhora que o afagava e reduzia com esse simples
gesto toda a tensão que tomava o corpo e a mente de aleph.
- Deite-se, aleph! - ordenou Domme para a surpresa da Senhora que não esperava que sua
pupila estivesse tão excitada com a situação a ponto de perder o ritmo respiratório que
mantinha mesmo nos momentos mais tensos ou mais excitantes das etapas que
atravessaram.
Aleph dirigiu um olhar inquiridor à sua Senhora como que confirmando a ordem recebida.
Ante o olhar de aprovação de sua Senhora, deitou-se, barriga para baixo e Domme colocou
suas botas pretas sobre a cabeça de aleph.
- Senhora, permita-me dizer que pela concessão do domínio de aleph me ensinou muito mais
do que aprendi com muitos que tentaram me ensinar a arte do BDSM. Em respeito á isso,
Senhora, pergunto-lhe se convém ir além nesse momento e consumar a posse de aleph. Sou
grata a ambos pelo que fizeram e não desejo que nada abale o casal que formam.
A Senhora emocionou-se com a atitude respeitosa e que demonstrava tanto cuidado com
uma peça que lhe era cedida para o prazer mútuo e , principalmente, para a educação dos
sentidos de aleph e sua qualificação como o sub que a Senhora desejava.
- Cara Dome, amiga de tanto tempo, sinceramente, apesar de eu esperar grandes gestos de
sua parte, esse mostrou-me que com o tempo terá totais condições de ser uma excelente
dominadora. Se lhe falta técnica, não lhe falta o sentido de cuidado que todos os Tops
deveriam ter. Não se trata de bom senso, essa coisa que não tem rosto mas sim uma
indiscutível preocupação com a concretude do bem estar e da segurança de quem a serve
mesmo que temporariamente. Não se preocupe, caríssima, prossiga. Aleph aprenderá o que
precisa aprender.
Domme, com a cabeça, reverenciou a Senhora em gratidão. Ato contínuo, sem tirar o pé da
cabeça de aleph, disse em voz baixa e tranquila:
- Não tenha preocupação com nada, aleph. Estarei cuidando de você como cuido das pessoas
que mais amo. Tranquilize-se e tudo ficará muito mais fácil.
Dito isso, liberou-o de sua bota e puxando pela coleira o colocou de quatro na cama. Um
tubo de óleo estava estrategicamente guardado sobre o criado mudo de forma que tomando-
o, começou a praticamente regar as nádegas, o ânus e também o saco escrotal de aleph o
qual massageou levemente como que para provocar um certo relaxamento.
Colocou uma luva de procedimento na mão direita e começou a massagear o ânus e
lubrificá-lo mais profundamente com óleo. Aleph gemia baixinho, proporcionalmente á dor
que lhe infligia a Domme ao disvirginar , inicialmente com o dedo, aquele ânus intocado até
então. Sentia a pressão em seus dedos que deslizavam lentamente e assim deslizou o
segundo, provocando uma tensão que apenas fazia aumentar a dor.
- Relaxe, aleph... - pediu mais do que comandou a Senhora – Com isso reduzirá e muito a
dor. Confie em sua Dona.
- Sim, Senhora.
Domme lubrificou o consolo que trazia na cintura e muito sutilmente empurrou o quadril de
forma a provocar o início da penetração. Imediatamente aleph contraiu-se, fechou o rosto e
foi acariciado pela Senhora para que readquirisse a confiança e novamente destensionasse
sua musculatura.
Orientada pela Senhora que estava ajoelhada na frente de aleph com a cabeça dele em seu
colo, orientou progressivamente a penetração e também, sempre que possível intensificava a
lubrificação para que doesse o menos possível.
Seguiram-se mais alguns centímetros e aleph sentia suas carnes abrindo-se ao contato
daquele material úmido de óleo e rígido o suficiente para provocar-lhe sensações tão intensas
de invasão, de violação na verdade, como se tudo o que era enquanto homem fosse oferecido
naquele momento.
Tentava em vão conter ao dor, fazer-se forte mas não era possível e não foi até que sentisse
que aquele instrumento havia invadido até ser contido por um gesto de sua Senhora e que
disse para Domme movimentar os quadris de forma que provocasse o mesmo movimento de
uma penetração feita por um homem.
- Meu belo escravo, meu grande homem... - repetia a Senhora no ouvido de aleph que foi
deixando-se levar por todas as sensações que consistiam dar aquilo que era tido como a
essência da masculinidade nas mãos daquela que, ao menos naquele instante, tornava-se
posse de Domme por concessão de sua Senhora.
De onde estava, por sua vez, a Dona de aleph observava o instrumento a entrar e sair
lentamente do ânus de seu menino e foi com o incentivo constante que observava não apenas
o relaxamento mas um certo grau de prazer de seu submisso.. Segurou-lhe pelos cabelos ,
dirigiu o olhar de aleph ao seu e conseguia notar que, envolto em névoa de sentimentos e
sensações, delirava. O que mais lhe despertava o desejo? Aquele instrumento? A respiração
da Senhora? O tesão que Domme mal conseguia esconder em ser uma mulher poderosa na
essência do simbolismo? Não ousava querer saber, não lhe interessava e na verdade, tudo o
que queria era ter seu submisso e sua pupila educados em suas respectivas esferas e papéis.
Os minutos seguiam-se e Domme já alternava penetrações e retiradas mais rápidas e mais
lentas do consolo o que fez aleph delirar em prazer indescritível.
- Isso, aleph! Mostre para Domme quanto prazer eu sinto que tem. Vamos, mostre!
Aleph liberou os gemidos retidos em sua garganta e em seu espírito e perdia o controle de
todas as sensações que exprimentava, afinal, era um novo homem submetido às duas
mulheres poderosas e dominantes que o cercavam.
Jã não deseja mais o fim, ao contrário, deseja ser verdadeiramente estuprado com uma certa
violência mas com cuidado por aquela mulher. Não, não lhe cabia exigir nada, não cabia
pedir nada, apenas receber o que lhe quisessem dar e na medida que fosse.
Com esses pensamentos na cabeça, o desejo que fluía em suas veias, não pode evitar uma
ereção que não passara desapercebida à Senhora que ordenou praticamente que a Domme o
penetrasse ainda mais, devolvendo-lhe a dor da nova porção explorada juntamente com o
desejo que não lhe abandonava mais.
Domme estava suada e cada vez mais envolvida com aqueles movimentos de quadril e com a
tensão e tesão daquilo que fazia. Como a Senhora pode pensar em algum momento
abandonar aquele homem que se submetia de forma tão esplêndida? Arrependeu-se de seus
pensamentos indevidos e fazia movimentos alternados de penetração e de retirada do falo de
vigor inesgotável.
Tendo o ânus massageado assim como seu escroto que a Senhora voltara a lubrificar e
acariciar, anunciou aos gritos o seu gozo que foi recolhido pela Senhora em suas mãos.
Sentia os jatos de esperma que não paravam e , confessaria mais tarde, sentia um ciúme por
seu menino ter um prazer tão grande com outra mulher.
Não deixou escapar quase nada do esperma que mal cabia em suas mãos.
- Pode tirar o cacete de dentro dele, Domme, lentamente.
Reparou a saída lenta do consolo e o alargamento do ânus de aleph depois dessa saída. Se
tivesse feito um enema, mandaria aleph chupar aquele consolo mas fez com que Domme o
amarrasse novamente, sem oportunidade de dar-lhe descanso.
- Puxe a cabeça dele para trás, Domme! - pediu.
Sem pronunciar uma palavra Domme fez exatamente o que lhe era pedido, puxando a
cabeça de aleph para trás.
- Abra a boca, cachorro!
Aleph surpreendeu-se pelo tom de voz da Senhora e a acreditou enraivecida consigo, sem
qualquer coisa que aparentemente pudesse motivar tal reprimenda. De fato, não era
responsável pelas sensações de ciúme que a sua Dona sentia.
Ela , por sua vez, derramou todo o esperma que guardava na mão na boca de aleph e
recomendou que não engolisse antes de limpar o restante que ficara em suas mãos. Depois
disso, sorveu todo o líquido alcalino que lhe desceu pela garganta.
Foi desamarrado pela Senhora, amparado, antes que a Domme, já sem o acessório
reaparecesse na masmorra.
- Agradeça à Domme por tudo o que aconteceu na noite de hoje. Beije-lhe os pés.
Aleph ajoelhou-se frente à Domme e beijou-lhe as botas negras. Agradeceu pelas lições, pelo
cuidado e pelo prazer que provocara em si e em sua Dona.
- Muito bem , aleph, você sempre honra a coleira que porta. Domme ficará conosco hoje e
tomaremos um vinho e conversaremos. Tome banho, apronte-se e providencie tudo o que
combinamos para nos satisfazermos. Nesta noite será concedido juntar-se á nós.
- Grato e com a licença das Senhoras.
- Vá , aleph.
Saiu movimentando-se lentamente, talvez tentando recuperar o corpo e a mente da
experiência vivida e deixou para trás uma Senhora que não imaginava ficar tão movida com
uma cena. Isso não passou desapercebido da Domme que pensava no que haveria à seguir.
Se até aquele momento, em apenas uma noite, experimentara coisas tão diversas em
intensidade, o que haveria depois? Isso nem podia imaginar.
Parte 9

A sessão terminara e convinha a todos discutirem o que havia acontecido e, ao menos na


cabeça de alguns, não era pouco: a nova experiência de aleph, o prazer do seu submisso em
outras mãos para a Senhora e, em contraparte, a sensação de proporcionar prazer pela
primeira vez durante seu treinamento que tão gentilmente a Senhora lhe permitira fazer
com aleph.
Enunciado assim, tudo poderia parecer fácil mas não era, ao contrário, fazia daquelas três
mentes e emoções um desvairado conjunto de sensações, variando entre o prazer, a
meditação e até certo ponto um arrependimento, cada um em seu papel e realidade.
Enquanto banhava-se, Domme experimentava a sensação de poder ser uma poderosa
Dominadora como a Senhora era e essa sensação provocava arrepios na pele, uma diferença
perceptível na respiração e um sentimento que a fazia respirar fundo e apreciar o ar.
Por sua vez, a Senhora experimentara um sentimento que desconhecia em sua história
dentro do BDSM e isso chamava-se sentimento de posse que não imaginaria ser ferido pela
experiência do empréstimo de aleph. Sentia que o gozo de seu submisso não lhe parecesse
possível mas a sua concretude lhe alertou de aspectos que todos rejeitam mas que é
realidade: o sentimento de posse dirige, inevitavelmente ao aprofundamento dos laços, mais
do que o "amor" que se enunciava no mundo baunilha mas continha, inquestionavelmente,
todos os elementos daquele.
Aqueles pensamentos fervilhavam na cabeça da Senhora quando ela se dirigia à sala imensa
onde faziam suas refeições e as celebrações e que estava impecavelmente preparada por Sua
peça que A aguardava ali, sentado e que se pusera em pé quando entrara.
No cruzar dos olhos, alepnh arrepiou-se: sentiu que dali algo do brilho que sempre
experimentara nos olhos de sua Senhora mudara de intensidade e o levara a temer tal fato.
Perguntava-se qual motivo para aquela perda de brilho e antevia um momento de tensão
enunciado de antemão.
Domme por sua vez chega com a feição daquela que estava fascinada pelo mundo que se
estendia à sua volta. Começava a perceber com clareza que se não havia o "mar de rosas"
havia um universo a explorar que lhe parecia promissor.
Tomaram parte da refeição em relativo silêncio sem, todavia, tocar no assunto da sessão
acontecida. A Senhora e Domme retomaram um diálogo sobre generalidades e fizeram com
que aleph se sentisse à vontade para intervir quando solicitado.
- A refeição está ótima, aleph, parabéns.
- Obrigado minha Senhora. Fico feliz que tenha agradado.
A Senhora sorriu para seu submisso e aleph permitiu-se sentir menos tenso e mais à vontade
do que antes. Domme, por sua vez, percebera que os olhos da amiga perderam um tanto do
brilho.
- Senhora... Parece querer dizer-nos algo - disse Domme - O que seria?
A Senhora respirou profundamente, pensou nas palavras, tentou selecionar, ainda que
rapidamente, aquelas que parecia querer falar e as quais não desejava sequer pronunciar.
- Querida Domme e meu aleph... Bem sabem vocês que sou uma pessoa que raramente
recusa-se a algo que seja novo, ofereça algum risco e mesmo alguma prova para mim mesma
mas hoje, sinceramente, acredito ter atingido um limite o qual não deveria ser ultrapassado
por ninguém, nem ao menos os Dominadores.
- Qual seria minha Senhora? - perguntou aleph.
- Aquele no qual parece que se perde o controle , aquele no qual tudo o que se sente de mais
inquestionável e mais necesário possível seja apenas uma figura de ficção , que o que parece
raro é comum e todas essas enormidades às quais não damos o devido valor e acabam por
ser imensas.
- Poderia nos dizer o que é, amiga?
A Senhora olhou nos olhos de Domme como se preferisse que a pergunta não tivesse sido
feita ou que a resposta não fosse assemelhada a alguém que, enciumado, expõe os demais a
uma verdadeira cena de novela.
- Não vou negar, caríssima, que o prazer de aleph quando da inversão torturou-me e me fez
sentir, de alguma forma, mais uma no mundo, sem nada que me conectasse de modo
especial à aleph. Parece-me insuportável a idéia do prazer que não é exclusivamente consigo,
apesar de ter sido uma livre escolha de minha parte.
aleph não esboçou uma palavra que seja apesar de sentir-se de alguma forma atingido com o
mal estar de sua Dona. No entanto, saiba-se bem (e a Senhora não constituia exceção) que
algo na expressão de aleph denotava um certo sentimento de abandono e , porque não dizer,
traição.
- A dimensão do prazer é uma dimensão poderosa, revolucionária, capaz de movimentar
todo o mundo e a do prazer no sexo uma das que é capaz de destruir ou construir afetos,
desejos e realizações as mais diferentes. Hoje senti-me apenas mais uma com minha peça, tão
barro ainda não cozido que ocorreu-me o risco de perdê-la.
aleph, humildemente, pediu a palavra e ela lhe foi concedida.
- Minha Senhora, já que assim me permite chamá-La. Digo-Lhe apenas que dentro de meu
coração e de minha devoção, não há lugar para ninguém senão a Senhora e por uma razão
que pode parecer simplória mas não é, a de ter-me feito, moldado, soprado em minhas
narinas. Sem a Senhora, não sou e jamais serei e não me sujeitaria o que quisesse e a quem
quer que fosse, senão pela vontade da Senhora.
A Dona de aleph sorriu com gratidão mas com uma ponta de melancolia e antes de falar,
deixou suas mãos ao alcance dos lábios de aleph cujo gesto era assemelhado aos dos gentis
homens e cavalheiros que saudavam suas Damas sem beijar-lhes a mão propriamente.
- Não diga isso, caro aleph. Bem sabe que por muitas vezes, você perdeu sua coleira por
gestos e atitudes impensadas. No entanto, bem reconhecia em você a nobreza de caráter
demandada por qualquer um que queria dominar por isso insisti em você. No entanto, meu
querido, nada é para sempre por mais que nos iludamos com o futuro. Cumpre-nos fazer
cada dia de nossa convivência, um dia particularmente favorável e cheio de cores para que
não nos arrependamos do que pudemos ter feito e não fizemos assim como tirar as lições que
nos são dadas aprender.
- Como a de não se emprestar escravos, cara Senhora?
A Senhora riu com um pouco mais de desenvoltura e explicou à Domme que absolutamente
tinha alguma restrição incial ao empréstimo. No entanto, o que a surpreendeu foi o fato de
que não imaginava estar tão pouco preparada para sentir os jatos de esperma em suas mãos
e o prazer estampado no rosto do seu submisso.
- E também pouco imaginaria que aleph sentiria tanto prazer assim! - disse com um sorriso
nos lábios, ainda que discreto.
aleph sorriu mais timidamente ainda e disse que nem ela ao menos pensava que pudesse ser
assim mas todo o clima que se instalara fizera inevitável o prazer ao ter as entranhas
percorridas pelo instrumento, tocando partes as quais quase (ou efetivamente) feriam e
outras que provocaram o êxtase como a massagem que a Senhora aplicava em seus testículos
e pênis.
Sentia (e isso era fundamental) um prazer moleuqe na cara de sua Dona, na provocação
explícita de sentimentos de prazer os quais ele considerava maior do que os próprios.
Evocava o serviço em sua mente e o prazer único a quem unicamente estava reservado e a
quem servia de corpo e alma , para todo o tempo que fosse permitido.
- Jamais transgridirei uma vontade sua Senhora e sei que , se o fizer involuntariamente, a
Senhora conseguirá me guiar para o caminho certo porque não tenho opção senão serví-La.
Mais uma vez a Senhora emocionara-se e concluia , finalmente, que a vida de aleph de fato
Lhe pertencia. Relativizando os dramaticos momentos de prazer em outras mãos, tomou a
firme decisão de que, apesar de ter amplo mando, restringiria algumas práticas mais
sensíveis de aleph com outras Domiandores e outros Tops até o momento que estivesse
rigorosamente pronta para tal.
Sabia que , quando determinava-se a criar essa "tolerância", atingir esse patamar elevado,
não hesitava em fazê-lo e assim o faria, constituindo aqueles dias aprendizado para todos,
inclusive a dupla Senhora e aleph que perceberam a intensidade do que sentiam um pelo
outro.
Seguiram o resto da noite tomando vinhos, petiscando, conversando e deixaram as supostas
nuvens de tempestade para trás. Ao despedirem-se, disse a Senhora à aleph.
- Descansa, aleph, não é necessário acordar tão cedo amanhã. Apenas lembre-se que deverá
estar pronto porque nosso segundo dia exigirá muito mais do seu corpo e da sua alma do
que hoje foi exigido.
- Perfeito, Senhora, descansarei. Uma boa noite às Senhoras. Com sua permissão.
- Tem permissão! Boa noite.
Enquanto aleph se afastou, observado por ambas as Dominadoras, a Senhora disse a
Domme:
- Caríssima, apronte-se também. Amanhã terá a sua maior prova como Dominadora.
Domme olhou para os olhos da amiga mas dali não conseguiu tirar sequer uma indicação do
que a aguardava. Segura, no entanto, de que a Senhora era consciente de suas limitações,
ansiava para que a noite pasasse e a tarde viesse para que pudessem exercitar mais uma vez
as nuances novas desse mundo.
- Tenha uma boa noite , Senhora.
- Boa noite, cara Domme.
Fecharam-se em seus quartos e as luzes apagaram, causando a plena harmonia com os
momentos finais do dia.
Parte 10
Noite quente na cidade e em cada quarto uma história diferente: Domme não teve o menor
trabalho em adormecer, parte pelo vinho que ingerira e também pela placidez que
experimentara depois da experiência única que tivera em companhia da Senhora e de aleph.

Essa, por sua vez, com alguma dificuldade conciliava o sono, imersa nas sensações que não
conseguira ainda dissipar as sensações que experimentara e que a conversa que tiveram não
conseguiram dissipar.
A insônia, inicialmente atribuída ao calor, foi entendida nos termos que realmente era e
pelos motivos corretos. Vestindo um roupão já que costumava dormir nua, a Senhora
escreveu um bilhete e colocou-o por baixo da porta de aleph. Não temia que a nota fosse
achada antes do tempo devido já que conseguia sentir o ressonar da respiração do submisso
e quando isso acontecia, o sono estendia-se até a manhã seguinte.
Dormiam na ala nova que a Senhora construira no terreno que comprara anexa ao Templo.
Todos os quartos eram suítes permitindo aos seus "habitantes" manterem a privacidade
necessária com autonomia para acordarem a hora que desejassem com exceção de aleph que
deveria acordar na hora estabelecida pela Senhora e como sabemos , ele fora liberado
daquela obrigação naquele dia.
Horas depois, o sol rompia a janela da Senhora ainda insone. Aproveitou do momento para
banhar-se e vestir-se de forma descontraída sem dispensar, todavia, as botas que faziam
parte quase cotidiana de sua indumentária , com exceção dos dias de trabalho onde usava
saltos altos mas evitava as botas como que para consagrá-las à função que tinham de marcar
a sua posição de dominadora.
Domme acordara logo depois e também banhara-se e vestiu-se de uma forma que traduzia
bem a imagem que se fazia dela, alguém jovem, sem formalidades e que aos poucos ia
adotando as formalidades de sua nova posição mas apenas no contexto das sessões.
Cumprimentaram-se com beijos no rosto e a Senhora disse-lhe ter sido conveniente que
tenha acordado cedo.
- Temos alguma coisas para fazer na cidade, minha amiga. Venha comigo.
- E aleph? - perguntou sentindo a falta dele.
A Senhora não respondeu e disse apenas um "vamos" margeando as mensagens cifradas
quando se diz muito sem nada se falar. Pegou as chaves do carro, desceu pela escada e
dirigiu-se ao carro, abrindo a porta para sua amiga.
Ligou o automóvel e acelerou profundamente como que para mandar uma mensagem a
aleph que ainda dormia e sim, foi nesse momento que aleph levantou-se e, demorando para
acordar de fato, percebeu que o carro que partia era de sua Senhora, conseguia reconhecê-lo
pelo som do motor.
Porque fora deixado ali? Não entendia o porquê e também não ousaria perguntar mesmo
que tivesse alguém para fazê-lo. Ao levantar, achou a nota da Senhora que estava afastada
da porta mas só poderia ter sido colocada pelo vão:

"aleph.
Deverá ficar em seu lugar até que seja ordenado a sair. Tome seu banho, vista-se conforme o
costume e aguarde sentado em sua escrivaninha. Você está proibido de fazer uso de qualquer
aparelho sonoro ou livro permanecendo sentado até que sua Senhora determine
diferentemente".
O primeiro pensamento que atravessou a cabeça de aleph foi o de não estarem bem
resolvidas as questões do dia anterior e aquela ordem parecia, de fato, uma punição. Seria a
emoção que vira no rosto da Senhora um engodo para fazê-lo falar mais e cair em uma
armadilha de falsos sinais? Por um momento sentiu um profundo sentimento de raiva de si
mesmo por permitir-se cair em tal armadilha mas também a tristeza de ver que para um
erro aparentemente desculpável jamais haveria perdão, apenas penitência e arrependimento.
Como submisso pouco haveria a fazer senão cumprir todas as ordens que ainda restavam
serem cumpridas e esperar o tempo que fosse.
Temia abrir as janelas mesmo para que entrasse ar e luz de um dia quente que estava lá fora.
Após tomar banho, a única fonte de iluminação e de ar fora a basculante que estava aberta e
deixava entrar quantidades limitadas de tão necessários elementos da natureza.
No mais, o quarto estava em uma penumbra e assim foi deixado. A cama fora arrumada, os
lençóis trocados conforme o costume e deixados dobrados em um canto do quarto até que
pudessem ser colocados na lavanderia.
Enquanto isso, Domme e a Senhora tomavam seu café da manhã em uma padaria não muito
distante do local de onde iriam fazer algumas compras necessárias para as atividades do dia.
Havia uma pergunta que de certa forma angustiava Domme mas também não ousava
pronunciá-la até porque percebera que não havia como discutir as decisões de sua amiga.
- Eu sei o que está pensando, Domme... - disse a Senhora em voz baixa - Quer saber o porquê
de aleph ter sido deixado para trás.
Domme riu da perspicácia de sua amiga, da capacidade que tinha de praticamente advinhar
seus pensamentos.
- Como você consegue advinhar o que eu estou pensando?
- Meu pai era leitor de ficção científica e me dizia uma frase de Isaac Asimov que eu
simplesmente gravei para sempre: "Quem vê o óbvio, prediz o inevitável". E quer saber o que
aleph está pensando nesse exato momento?
aleph pensava que fora abandonado e essa quase certeza o angustiava de forma absoluta
como seria facilmente perceptível. Esse era o tipo de punição que começava a detestar, a de
sentir-se sozinho na certeza da culpa que tinha em algo que não via culpa alguma, não era
claro que pudesse controlar ou negar que fora estimulado.
Qual é o limite do auto-controle? Haveria de negar o prazer que sabia que sua Dona sentiria
com sua entrega? Como advinhar que aquela experiência seria tão chocante para Ela a
ponto de provocar uma reação como aquela que não conseguira antecipar?
Das muitas vezes que cometera erros evidentes, a punição fora clara e direta, inclusive com a
retirada da coleira que seria devolvida depois sob a condição de um período probatório,
exatamente esse pelo qual passava e não desejava falhar.
- ... e aleph pensará que é uma punição pelo prazer que teve contigo o que não é sequer o
caso. Terá que testar algumas de suas qualidades, aquelas que eu sei que ele tem mas que
não parecem evidentes nem à ele mesmo.
- Quais seriam essas qualidades?
- Lealdade, temor, obediência, vontade de aprender, aplicação... Ele já cometeu muitos
enganos mas hoje caminha na direção certa.
- E para que prová-lo dessa forma tão forte, Senhora?
- Porque não, Domme? Será que nossas peças não precisam da perpétua educação do
sentido da submissão e que a propriedade é um estágio que pode ser tomado ou dado
conforme aquilo que se possa oferecer ao seu ou sua Dominante?
- Não há o limite o do bom senso, Senhora?
- O que é bom senso, Domme? Como medí-lo? Não se iluda com essa história da carochinha.
Existem percepções absolutamente objetivas de bem ou mal estar e decidir até onde ir ou
além de onde ir é uma questão que apenas a nós diz respeito. Já disse que isso é nossa
responsabilidade e cada vez mais sei o que aleph pode e não poderá fazer ou suportar.
- Não tenho dúvidas disso, Senhora... Nenhuma aliás e bem sei o valor do que deseja fazer
aleph experimentar e aprendo cada vez mais com isso.
- Que bom que é útil para você Domme, como está sendo útil para aleph. Espero que ambos
aproveitem e bem o que está sendo ensinado. A quanto tempo estamos fora de casa?
Domme consultou o seu relógio e informou que já fazia uma hora e quinze minutos que
estavam ausentes e a Senhora disse ser momento de fazerem o que mais era necessário e
retornar para retirar aleph de seu isolamento.
Ele, por sua vez, adormecera sentado na cadeira e tivera um sonho intrigante com sua Dona.
Senhora e Domme apreciam com vestes trocadas, ou seja, a primeira de negro e a segunda de
branco.
- E agora, aleph... Consegue resolver a confusão em sua mente? Diga: com quem quer e gosta
de ter prazer?
- Com.... - hesitou como tomado de paralisia - A....
Olhou novamente nas duas e agora cada uma vestia a roupa costumeira, invertendo os
papéis.
- Com quem aleph?
- Com...
- Com quem aleph???
- Com a ... Senhora....
aleph teve vontade de gritar mas controlou-se, acordando assustado e ainda sentado na
cadeira onde estava.
- Bem , cara Domme, é hora de voltar. Temos tudo o que precisamos e não precisaremos mais
sair do Templo.
- Vamos, então.
O caminho não era longo mas algo parecia estar despertando na cabeça da Senhora. Qual é
o limite? Para onde direcionar o aprendizado de aleph de forma que não ficasse de alguma
forma um resquício de sentimento de inadequação que sempre ocorre nos momentos de
punição? Principalmente, já antevendo o que poderia estar acontecendo, como fazer que um
sentimento de vingança não se generalizasse quando o que de fato ocorria era apenas mais
uma etapa no ensino e no aprendizado?
aleph ouviu o carro parar na garagem e tentou, o máximo que pode, ocultar o sentimento
imenso de inadequação que tinha em seu coração. Queria , e muito, ouvir a voz de sua
Senhora mas tudo que conseguiu ouvir foram os passos, a caminhada em silêncio, primeiro
na parte externa, após dentro do Templo e agora no hall.
A chave girou na porta que se abriu e aleph não pode resistir ao fato de se dirigir correndo à
sua Dona e jogando-se no chão, beijar Seus pés implorando o perdão pela sua grande falha.
- Levante-se aleph! - ordenou docemente.
Pela primeira vez em muito tempo, viu lágrimas de dor nos olhos de seu servidor e apressou-
se em esclarecer que não se tratara de uma punição mas apenas de mais uma etapa do
aprendizado mas pareceu que isso não acalmava aleph que continuava a suplicar-Lhe o
perdão do qual se achava merecedor.
A Senhora acolheu-o em seus braços, enxugou suas lágrimas e confortou-o com a aprovação
que era a base de todo relacionamento e sentiu ternura, muita ternura por sua peça. O
conforto que poderia dar era escasso mas importante para aleph que, trazido para a sala,
teve licença para tomar seu café de manhã com as dominantes.
Como prosseguir agora nesse aprendizado? - pergunto a si mesmo a Senhora - Como será
daqui para a frente?
As respostas viriam, inevitavelmente, assim como as lições que não podiam deixar de ser
aprendidas.
Parte 11

aleph ficou estranhamente calado como se tudo o que vivera lhe transpasasse o espírito com
a capacidade que desconhecia em devastar com a ilusão que pudesse ter quanto à submissão.
Por mais que entendesse que negar seu pólo submisso seria trair a própria essência que
tinha, acostumara-se a pensar no poder da culpa enquanto um ente de maior impacto em
seu ser do que poderia inicialmente imaginar.Não se tratava de uma afirmação padrão de
todo e qualquer de todo e qualquer "bottom" mas uma experiência real, vivida, fora de
qualquer hipótese, repleta de concretude.
Queria poder comparar a dor sofrida em sua dimensão meramente carnal com essa dor
provocada pela solidão revestida de culpa para chegar à conclusão que coubesse na sua visão
individual, no seu sentimento particular. Sabia muito bem que, colocada e manifestada
nessas bases, a Senhora provavelmente não consentiria em aplicar-lhe o castigo demandado
pela sua necessidade de experiência, ao contrário, a rejeitaria como excessiva e danosa à ele.
Portanto, para experimentar graus maiores de sofrimento deveria demonstrar que o
"montante" anterior não fora excessivo e isso apenas estaria evidenciado por uma contínua
percepção do seu próprio bem estar por parte da Senhora cujos olhos sempre estavam
pousados nele, demonstração da preocupação que Ela tinha.
- Mortifique minha carne, Senhora! Faça-me provar do seu chicote, eu suplico, no limite do
que se possa aguentar e além! Eu Lhe suplico! - pensava aleph como querendo transmitir
pelos misteriosos mecanismos de uma percepção que ultrapassava os sentidos, era evidente
pelo olhar.
Depois da refeição e da lavagem dos pratos, aleph fora convidado ao quarto de sua Dona,
perfumado com madeiras queimadas e incenso.
- Deite-se aqui, aleph, ao lado da cama - falou a Senhora apontando a área contígua à
cabeceira da cama. Antes que deitasse, substituiu a coleira de passeio pela de sessão o que
aguçava o prazer de aleph ao perceber uma convergência entre os seus desejos e de sua
Dona.
Adormeceu e talvez em seus pensamentos não lhe ocorrera um fato que já lhe fora narrado
mas do qual se esquecera por completo e que revelaria à Dona a extensão do seu
inconsciente.
- Dor... Preciso de dor... - murmurou à princípio em tom muito baixo mas não a ponto de
passar despercebido à sua Senhora que não tinha sono pesado.
- Senhora!.... Eu peço.... Torture-me... - balbuciava aleph - Mate-me se quiser... Torture-me!
A Senhora ouvia e custava a acreditar no que ouvia. Mesmo quando aleph silenciara e
dormia placidamente, a mulher que não mais conseguia dormir, temeu pelas consequências
do abandono sofrido horas antes. Seria esse grau de masoquismo intenso, essa atração pela
dor, uma fonte de prazer ou apenas uma forma de "auto-punição" se assim pudesse dizer?
Esperou que aleph acordar por si e ordenou-lhe banhar-se novamente e apresentar-se,
despido, na sala dos suplícios, uma instalação no que poderia ser chamado de "lado sul" do
Templo que fora escolhida como tal por um acidental e providencial isolamento acústico
tornando qualquer som ali produzido praticamente inaudível ao público externo.
Preparado, aleph dirigia-se à sala quando foi mandado parar e esperar.
- Domme colocará a sua guia e trará até aqui. Não se aproxime antes disso!!!
Domme dirigiu-se a um sinal da Senhora em direção à aleph e colocou-lhe a quia.
Mencionou trazê-lo andando.
-Oras, aleph, para quem pretende sofrer os rigores de uma Dona, não seria suficiente vir
andando... Venha como um cão! - disse com um sorriso sarcástico nos lábios, do tipo
"cuidado com o que deseja" já que não há um plano "B" para os desejos que uma Dona
resolve satisfazer.
A confissão sussurrada durante o sono e da qual o submisso não tinha conhecimento,
munira a Dominante de todos os recursos e estratégias para "satisfazer" aleph de uma forma
planejada.
Foi exatamente onde a Senhora estava e onde aleph foi conduzido pela Domme que o
"séquito" fez uma pausa e onde pode-se ver as mãos e os joelhos rubros com o esforço.
- Em pé, cão! Meu querido e amado cãozinho que vai finalmente sentir a dor que deseja
tanto a ponto de falar durante o sono! Que bonitinho esse cãozinho! - disse, desferindo um
bofetada na cara de aleph. - Vamos ver se suporta a primeira estação da realização dos seus
desejos. Calce imediatamente essas sandálias.
aleph não entendeu de imediato a ordem mas nem precisaria. Mesmo sem saber literalmente
o que havia dito, com certeza toda a sua energia contida desde a experiência da solidão no
quarto deveria ter transbordado durante os momentos onde sua vigilância desaparecera.
Calçar aquelas sandálias seria a primeira etapa? Um riso interiorizado achava que sua
Senhora havia se enganado mas , acreditem-me, era aleph deveria ter observado melhor
onde colocaria os pés. Aguentaria o que mais estivesse por vir?
Parte 12

"- Estás contente - pergunta Eduardo - por ele querer escrever, trabalhar, por ele estar
exaltado em vez de destruído?
- Estou.
- O verdadeiro teste virá quando começares a querer usar o teu poder sobre os homens
destrutivamente e com crueldade.
Chegará esse dia?"
(Anaïs Nin, Henry & June, Editorial Presença, página 71)

O contato se fez da ponta dos pés, logo abaixo os dedos, até o calcanhar. Metal, chapas de
refrigerante, bordas dentadas, marcas de intensidade variável dependentemente da pele em
cada região. Suspiros e um pequeno gemido que deveria se fazer imperceptível para quem
não deixa passar detalhe.
- Caminhe , querido aleph... - Caminhe para sua Senhora! Caminhe... Venha para mim,
aleph...
Cada passo representava uma dor que apenas era amplificada pela aceleração do passo
exigido pela Dominadora. Nesse contexto, tornava-se inacreditável saber que a Senhora não
pretendia utilizar aquele instrumento que considerava excessivo, principalmente no caso de
aleph. Vira esse apetrecho em um documentário sobre BDSM e decidira construir um apenas
para ver como ficaria e logo aprendeu que nada é ao acaso e , uma vez disponível, fatalmente
seria utilizado.
- aleph, aleph... Acha que sua dor permanece desapercebida de sua Senhora? Que
pretensão... Gema, aleph, gema...
- Não , Senhora, desculpe-me! Eu suporto essa dor que Me impõe e eu a mereço, cada porção
dela, ilimitadamente.
- Porque merece, aleph?
- Porque essa é Sua vontade e sempre será a Sua vontade que prevalecerá.
- Minha vontade, aleph? O que sabe você sobre minha vontade? Eu o contemplo com seus
desejos e você me diz que isso é da minha vontade? Aprenda, Domme, todos os submissos
tentarão iludi-La que estão cumprindo a Sua vontade mas na verdade impõe as suas.
Pretensão, a maior de todas!
O último passo o colocou de frente à Senhora.Foi mandado descer das sandálias e mostrar as
solas dos pés. As marcas nas solas dos pés são visíveis e sangrantes e para "aliviar" foi
mandado colocar os pés em uma solução de água com sal bastante carregado e pela primeira
vez expressou profunda dor.
- Era isso que queria sentir, aleph? - falou com mais ênfase a Senhora.
aleph por sua vez, calava. Se de fato houvera dito o que a Senhora alegava que ele dissera,
sim, era exatamente aquilo que queria mas se não, qual seria a próxima armadilha na qual
ele inevitavelmente cairia?
- Responda aleph, eu lhe fiz uma pergunta!
- Sim... Senhora... - era exatamente isso o que eu disse.
Ela simplesmente caminhou para o fundo da sala , fora do alcance do olhar do submisso.
Ordenou-lhe ficar de joelhos, cabeça baixa, à mercê dela. Tomou o açoite e marcou-lhe as
costas, mandou que ficasse em pé e seguiu açoitando-o até que uma vermelhidão que
aquecia a pele ao contato se fizesse presente.
Domme acompanhava tudo com os olhos sem entender tão bem o quanto seria possível tudo
o que estava acontecendo. Não sabia pensar se aquilo era enfim a punição que aleph merecia,
se é que o merecia, ou apenas mais uma sessão que começara a pouco.
- Gostaria de amarrá-lo, querida Domme? No pelourinho, com as costas voltadas para mim.
- Como quiser, Senhora. Grata pela oportunidade.
Havia um pelourinho na Sala de Suplícios, copiado de uma gravura do tempo da escravidão,
uma peça construída sobre medida e com destreza Domme prendeu aleph e o colocou a
disposição da Senhora.
Um chicote de três línguas, um metro e meio de extensão, com golpes planejados nas áreas
aquecidas. O deslizar das línguas deveriam ser sentidas não apenas com uma extensão
aleatória mas com a destreza inigualável da Senhora.
- Esse é o segredo, Domme querida... Deixe com que as linguetas deslizem sobre as costas
como se cada uma tivesse uma vida única, jogue os pulsos, amplifique a força aos poucos
mas não seguidamente.
- Como assim, Senhora?
- A dor espalha-se como uma onda gerada pela pedra no lago, caríssima. Se você bater
seguidamente, a dor não se irradia e sua peça não sente como deve, não tem ciência de toda
extensão de seu poder. Esse cãozinho, não satisfeito, ainda quer mais dor, cara Domme e eu
juro que ele terá!
Notava-se que por traz daquele discurso havia algo oculto , ao menos para a Domme mas
claro no sentido de que não cabia a aleph desejar. E o que é dor? Uma sensação física que
desaparece em poucos dias e carece de ser renovada constantemente? Ou a dor de um olhar
e de palavras que reverberam eternamente pela mente do infrator como aleph teve a
oportunidade de experimentar na prisão de sua própria mente? Ou ambos?
A Senhora agora toma um açoite cujo uso era restritíssimo, feito de fios de aço finos e em
quantidade. Apenas áreas muito específicas deveriam ser batidas com esse acessório tão
digno dos grandes espancadores como era a Senhora.
- Poderia vendá-lo, Domme?
Domme vendou-o e a Senhora começou o ritual de passar os fios de aço sobre as costas, peito,
pescoço de aleph, obviamente não para açoitá-lo ali o que poderia causar dano irreversível
mas para fazê-lo sentir a textura e a temperatura do material.
Acostumado com os couros, aleph sentiu-se arrepiar quando a temperatura e a textura não
correspondiam ao que conhecia. Sutilmente moveu-se como a testar a forma que estava preso
mas não havia como escapar.
A primeira e única batida do açoite provocou um grito que ainda não era conhecido de
Domme, assim como um sangramento onde os fios atingiram a pele bela e acetinada de
aleph. O submisso começou a chorar de dor e foi imediatamente acomodado pela sua
Senhora que o acariciou, confortando-o.
- Ainda deseja dor, aleph? Ou deixará que sua Senhora escreva no seu corpo as marcas que
julga necessárias e adequadas para você?
aleph soluçava ante a dor sofrida e entendia, ainda sobre o efeito da dor lascinante, que a si
não cabia qualquer direito em querer nada mas depositar, fielmente, sua vida nas mãos da
Senhora, essa mesma que tratava de suas feridas, aplicava unguento para aliviá-las e
considerava sua peça parte de si mesma, integralidade no domínio e na necessária
subordinação.
- aleph...
- Sim, minha Senhora.
- Entenda que primeiramente puniu a si mesmo de forma desnecessária já que não foi
deixado só por conta do que aconteceu mas para aprender a entender o vazio. Em seguida,
desejou a dor e agora a tem em sua dimensão mais completa e ficará atado ao pelourinho até
que eu decida tirá-lo, novamente em solidão para que pense bem em seu pouco ou nenhum
direito em desejar. Será cuidado desse ferimento mas será açoitado a cada meia hora
durante o tempo que estiver aqui, seja por mim, seja por Domme. Entendido?
- Sim, minha Senhora.
- E pense, reflita porque dessa reflexão poderá decorrer muitas coisas, algumas que se não
são desejadas, serão inevitáveis frente aos fatos.
aleph não respondeu e a Senhora sabia que ele havia entendido. Tanto ela como a Domme
saem dos aposentos e deixam o submisso sozinho, atado entregue aos seus próprios
pensamentos. O que decorreria daqueles momentos? Para sabermos, devemos deixá-los
passar.
Parte 13

Uma hora amarrado no pelourinho fizeram aleph sentir-se agustiado depois de ter sido
açoitado por duas vezes como a Senhora havia dito que faria. Tanto ela quanto Domme
revezaram-se em manter viva na cabeça do submisso a intensidade da busca que ainda
estava por ser feita e que deveria produzir algum fruto de imediato.
Sentia que a dor do corpo, aquela que inconscientemente enunciara equanto dormia aos pés
de sua Dona, tornava-se progressivamente inferior àquela gerada pela reprovação de sua
conduta por uma lição que ainda tentava extrair de tudo o que acontecer naquela e nas
outras noites e que lhe era constantemente cobrada pela Senhora.
Pouco antes, na primeira sessão de açoitamento, vinte e cinco vezes as tiras de couro
cuidadosamente finalizadas em um pequeno nó e queimadas lhe vibraram pela carne,
manejada com destreza pela Senhora que lhe poupara de maiores flagelos depois dos fios de
aço que lhe lasceraram a carne anteriormente.
- Tem algo a me dizer, aleph?
Mesmo voltado de costas à Senhora e ainda trazendo nas costas o calor do açoite, podia ver,
de forma claríssima, a expressão de sua Dona. A Senhora não perguntava sem doçura mas
não sem uma agudeza que pressionava, deixava sem alternativa, impunha.
- Senhora... - murmurou
- Diga aleph...
- Temo falar o que não devo e não posso.
A Senhora sorriu contidamente mas sem deixar de ser percebida. Deslizou o açoite pelas
costas de aleph e disse que esperava que em breve estivesse pronto para dizer aquilo que
estava pronto para dizer e não o que esperava que Ela quisesse ouvir.
Cuidadosamente, a Top deu de beber à aleph sem mudar sua posição no pelourinho.
- Daqui meia hora, aleph... Daqui meia hora. - marcou o próximo momento, retirando-se.
A meia hora de silêncio e pouca luz serviram de uma tortura inimaginável. Onde residia , de
verdade, a capacidade de sentir dor e fazê-la instrumento de gozo? Na tortura imposta pelo
dominante ou na disponibilidade do dominado em fazer acontecer o verdadeiro prazer
comum, orgiástico, incrivelmente libertador? Quem libertava-se e porque o fazia?
Como em um caldeirão lhe sucediam as questões que desdobravam-se em várias e dirigiam-
se a um ponto comum, a vitória da vontade superior, de quem se colocava por direito no
papel de exigir e na pouca atribuição que a vontade do submisso poderia ao menos ser
pensada pelo dominante.
A Senhora o domina, sem dúvida e aí extrai seu prazer cujo efetivo gozo extrapola a
imaginação dos pobres mortais que a vivenciam como a iniciante Domme. O poder não está
apenas em mandar, o que qualquer um ligeiramente preparado conseguiria dar conta mas
está no fato de subjugar o corpo e a mente de quem se coloca de joelhos.
De nada valerá palavras gritadas e posturas excessivamente ríspidas já que a doçura que
reprime é maior do que o grito que comanda. Esse último estimula a rebeldia , mesmo a que
se esconde e se deixa velada sob palavras e gestos vazios de uma vazia submissão.
Ao vassalo não resta nada senão prestar homenagens ao que é maior do que ele por ser
efetivamente maior em tudo , necessidade que se impõe por não restar quaisquer outras
possibilidades viáveis e tal é o tomar para si.
Essa elaboração custou-lhe mais meia hora e , ao fim dessa, entraram na câmara e pode
sentir, observador que era que Domme tomara o lugar da Senhora na sessão de açoitamento,
essa vezes 30 vezes e aleph conseguia perceber um incremento de habilidade na manipulação
desse valoroso instrumento, o açoite.
- A Senhora pergunta se há algo a falar...
- Não digna Domme, ainda não - disse, expressão de dor presa entre os dentes.
Domme afastou-se e aleph voltou aos seus pensamentos e , finalmente, chega a conclusão de
que sua vontade de pouco lhe valia em qualquer aspecto da "relação" com a Senhora.
A vida o fizera sub e deveria servir e para tal, confiante que a Senhora sabia de seus limites
físicos, morais e psicológicos, deveria entregar absoluta posse de sua vida, cumprindo
fielmente aquilo disposto pela sua Senhora.
Vontade? O que siginficava vontade se alguém maior em vontade e em poder não apenas
exigia mas como tinha totais condições de dirigir aquilo que era depositado em suas mãos,
ou seja, sua própria vida?
Seria isso tão contrário ao que sempre vivera que, por alguns momentos, temeu a amplitude
de tudo o que isso pudesse significar para si, em sua vida, mesmo tendo a certeza já
pronunciada por sua Dona da preservação de diversos setores de sua vida, entendidas como
fundamentais e frequentadas por pessoas cujo entendimento da profundidade do
sentimento e da entrega do BDSM não eram sequer entendidas quanto mais aceitas.
Viver o todo envolto em pessoas pela metade, ver a luz entre a escuridão coletiva dos prazeres
que corriam a mente e eram meticulosamente reprimidos. Não havia alternativa senão viver
desse modo, totalidade por dentro, parcialidade para o mundo.
Afinal, o que importava? Decidir-se pelo viver ou não viver seria tão estúpido como ter
consciência de matar parte de si e não fazer coisa alguma para evitar. Portanto, nessa hora e
meia que permanecera atado no pelourinho entendera, finalmente, que a vontade era algo
que não lhe pertencia exceto pela razão que a voluntariedade era condição fundamental
para que houvesse a entrega.
Esperou que a Senhora voltasse e lhe aplicasse a pena, na verdade a forma pela qual lhe fora
estimulada não pela dor mas pelo exercício do poder.
- Tem alguma coisa a me dizer, aleph?
- Sim, Dona, tenho.
A Senhora impressionou-se com a resposta. Chamou a Domme e desataram aleph do
pelourinho.
- Então chegou a hora do passo seguinte, aleph. Venha comigo.
Parte 14
Descendo do pelourinho e acompanhado da Senhora, aleph foi cuidado de seus pequenos e
grandes ferimentos originados do que sofrera à partir da "confissão" involuntária durante o
torpor do sono que, na visão de sua Dona, evidenciava a realidade profunda da mente de
aleph. - Você foi retirado do pelourinho por ter algo a dizer, não é verdade?
- Sim, Senhora.
- Então me dirá o que desejo ouvir, de forma clara e sem volteios. Vontade, aleph. qual é a
sua vontade?
- Nenhuma, Senhora. Ela andou para trás de aleph, ordenando-lhe que não se voltasse para
tentar vê-la. - De joelhos, aleph! Prontamente aleph coloca-se na posição exigida pela sua
Dona e manteve-se pelo tempo que sua Senhora desejou, chicote nas mãos, levemente
tocando os flancos de aleph, fazendo um leve spanking enquanto ele ficava de joelhos
conforme ordenado. Durou alguns minutos em perfeita imobilidade, joelhos começando a
doer em contato com o chão frio.
- Levante-se aleph! - disse, severamente. aleph levantou-se e colocou em posição de inspeção
conforme as novas ordens que lhe foram dadas. Observou-os, novamente tocou novamente
os flancos com o chicote, sem contudo aplicar força. - De quem é sua vontade, aleph? - Da
Senhora, minha Dona. Ela olhava com atenção a cada expressão do submisso e já
desenvolvera com aleph o conhecimento suficiente para diferenciar uma expressão autêntica
de uma que pudesse ser usada para um comportamento que poderíamos dizer "padrão" , o
que não lhe convinha de forma alguma, nem naquela semana, nem em dia algum.
Conseguia perceber que aleph entendera perfeitamente a mensagem que desejava passar.
- Muito bem aleph, estamos prontos para o momento que esperei desde que começamos esse
treinamento que acabou sendo uma lição para você e para mim. Sente-se e espere por um
minuto.
- Sim , Senhora.
Sentou-se e esperou pacientemente o retorno de sua Dona com um rolo em suas mãos que foi
aberto sobre a mesa e no topo estava escrito:
"Eu, aleph, desejando submeter-me integralmente à Senhora, formalmente concordo com as
seguintes disposições tomadas de comum acordo:"
- Muito bem, aleph, está pronto para tomar esse passo?
- Sim, Senhora...
- Pois então escreverá de seu próprio punho todas as disposições e assinaremos no próximo
dia 25, aniversário de Domme. Será a oportunidade onde ela homenageada e onde
assinaremos o contrato que finalmente temos condições de assinar. Espero que esse período
tenha mostrado à você no que consiste submissão apesar de ser tão pouco e a submissão ser
tão grande. Não iluda-se aleph, que submeter-se seja apenas um jogo mas seja uma forma de
mostrar-se um laço, uma união que se pretende indissolúvel e que será baseado no que você
aprendeu, respeito mas autoridade forte e que será aplicado sem hesitação.
- Entendo perfeitamente, Senhora.
- Pois então, sigamos em nossa tarefa.
Escreveram durante muito tempo e em cada artigo , aleph fora instruído de quais eram os
limites que estavam sendo assumidos, em qual direção caminhariam, qual seriam as
consequências de tudo.
Os termos? Seriam revelados em momento oportuno, ous eja, no aniversário da Domme,
uma situação festiva na qual cabia a celebração de um compromisso, o fim de uma trajetória
de aprendizado e o começo de outra que não conhecia fronteiras.
Parte 15
Pouco ali fazia lembrar que muitos dias antes, por obra da Senhora, iniciara-se ali um
processo que alguns poderiam inclusive conotarem de cruel de educação de alguém que
pretendia-se submisso mesmo com suas falhas anteriores e seus enganos posteriores ao
início da empreitada.
Olhando em retrospecto, não seria possível dizer que aleph estava suficientemente "treinado"
enquanto submisso e a obra estivesse acabada, principalmente pelo fato de que nunca, agora
a Senhora sabia, estaria pronto para uma vida linear e sem reparos.
Erros e acertos sempre fariam parte da equação e seria suficiente a um aprender como
conduzir-se e ao outro como fazer sua vontade, a única que valia em todo o processo,
prevalecer. Isso não seria conseguido pela razão mas por uma conjunção dessa com o
sentimento, com aquilo que percorria o mais profundo da alma de cada um.
Ter chegado até esse momento, elaborado o contrato e poder comemorar o aniversário de
Domme enquanto já em uma relação verdadeiramente D/s, era uma conquista de uma
importância e intensidade inquestionáveis, sob a qual abrigavam-se tanto a Senhora como
aleph.
Nesse momento de despedida provisória do Templo e de Domme, o início de um novo
momento, cabia festejar e muito tal conquista de todos e para isso a Senhora empenhou-se
pessoalmente em prover as melhores coisas para todos: comidas, bebidas, locais para as
cenas da play que estava prevista e cujo isolamento do Templo contribuia sobremaneira,
enfim, nada absolutamente foi deixado para trás.
Sob o comando da Senhora, aleph preparara alguns dos pratos baseado em sua habilidade e
bom gosto na cozinha, assim como estando sob sua responsabilidade coordenar todos os
preparativos da casa para que tudo estivesse em conformidade com os padrões de sua Dona.
Cada vez era mais perceptível que a Senhora fazia bem em confiar ao submisso aquela tarefa
dado o esmero com que tudo fora feito e , inclusive, com a preparação do principal aposento
daquela sala destinados aos rituais íntimos da Senhora e que seria o local onde aconteceria o
encoleiramento de aleph, um dos pontos mais altos da celebração.
Já era o cair do dia quando os preparativos acabaram e foram examinados com cuidado
sendo que não cabia qualquer reparo ao que houvera sido feito.
- Parabéns, aleph! Tudo está perfeito, como me agrada. Agora terá um tempo para descanso
e para recompor-se. As ervas para seu banho estão no lugar de costume e a vestimenta sobre
sua cama. Descanse pois a noite será longa.
- Sim, Senhora. Com sua permissão.
- Pode ir, aleph.
Mais uma vez a Senhora observava aquele homem que se afastava e passava a sentir um
prazer imenso em tê-lo treinado e comandá-lo. Sentou-se na bela varanda que dava para um
agradável bosque de árvores e acendeu um cigarro para tentar relaxar o máximo que fosse
possível.
- Posso compartilhar esse momento contigo? - disse Domme que aproximara-se quase sem
ser notada.
- Claro minha cara! Por favor, sente-se aqui. - disse, indicando uma confortável cadeira ao
lado.
- Nossa! Nem acredito que estão fazendo tudo isso por mim e é claro, por vocês mas é tudo
tão maravilhoso!
- É por você, especialmente, Domme. Espero que tenha podido aprender ao menos um pouco
do que significa ser Dominadora nesse mundo onde vivemos. Tudo torna-se confuso para os
menos preparados: poder, excessos, faltas, silêncios e falares demasiados, todos em
desiquilíbrio. BDSM é algo que nos absorve além do que podemos imaginar, ao menos
àqueles que não se divertem com eles mas o levam a sério.
- Bem vi, Senhora. No entanto, não me parece que aleph seja um mal submisso ou relapso.
-De forma alguma, tanto que o encolerarei. Sabe, Domme, é bobagem acharmos que todos os
subs estão prontos para as tarefas que se propõe. Via de regra, substimam o que venha a ser
submissão até que estejam forjados e sejam firmes o suficiente para entender que ajoelhar-se
è a coisa mais fácil de tudo mas que prenuncia coisas muito mais exigentes deles mesmos do
que ousam imaginar.
- Sem dúvida, Senhora, bem entendo agora. Foi muito útil esses dias que passei com vocês.
Sei que há muito mais do que foi dito e feito mas já considero-me ciente do tamanho de
minha tarefa.
- Quem bom, cara amiga! Fico feliz que assim seja e creia-me, você tem todas as condições
para ser uma excelente dominadora. Apenas abstenha-se de ansiar e tenha muita confiança
em você mesma. Confie antes em si do que na opinião dos outros e nem veja aquilo que a faz
fora do padrão mas veja o que a faz melhor do que todos. Você tem estima pelas pessoas, as
respeita e as considera, mesmo aqueles que a servem, pude observar no seu comportamento
com aleph, e isso o que importa, o seu valor pessoal, dado por você mesma, isso é o que
importa.
- Mas aprendi muito contigo e se adotasse a postura que me oferece, talvez eu tenha perdido
a oportunidade que me foi dada.
- Talvez você me superestime, Domme. O que desejo falar, no entanto, é que tudo deve ser
filtrado por seu coração e por sua razão, antes de virar lei ou verdade para você .Ouça quem
deve ser ouvido, ignore quem te faz mal e viva com confiança e alegria. Só assim há a
possibilidade de sermos felizes.
Domme emocionou-se: por quantas vezes ouvira mais as vozes exteriores do que as
interiores, sem se aperceber que na interioridade é que se constróem as verdades supremas,
os grandes diferenciais. Ouvir a si antes de qualquer um , eis a chave da felicidade.
Abraçou a amiga com carinho e deu-lhe um sutil selinho nos lábios. Ambas voltaram aos
seus cigarros, olhos à frente, ansiosas, cada uma a seu modo, pelas atividades da noite. Para
Domme, com certeza , aquela celebração de seu aniversário haveria de abrir novas e
importantes portas para o futuro.
Parte 16
Archotes direcionavam os convidados à festa de aniversário de Domme e ao encoleiramento
de aleph no Templo. Aquele clima era mais adequado ao cerimonialismo que se esperava e
que com certeza seria aplicado pelo rigor que a Senhora sempre aplicava e pelo qual era
conhecida. Poderia se dizer que, sem sombra alguma de dúvida, que as pessoas mais
conhecidas e as melhor reputadas encontravam-se naquela localidade.
Desde o circunspecto Senhor C. e sua serva até a irriquieta e sempre animada Senhora M.
com seus dois escravos. Ao dirigir-se à Domme e presenteá-la com invejável chicote de sua
própria confecção, disse-lhe , sorrindo mas sem qualquer sombra de dúvida que não mentia:
- Jamais permitirei que você passe seu aniversário sem usar esse chicote que fiz especialmente
para você sem usá-lo. Meu escravo j. se submeterá ao seu spanking tão logo queira.
Domme não sabia se agradecia ou se apenas calaria com um pequeno movimento de cabeça
e foi isso que acabou acontecendo. Cuidou em recepcionar cada um dos convidados seus e da
Senhora que tinha consciência que aquela noite pertencia à sua amiga apesar de que fosse
especial também para ela.
aleph estava recolhido ao seu quarto esperando que um acólito de sua Dona viesse lhe
chamar para a cerimônia. Por sua vez, vestindo uma roupa negra que compunha-se de uma
capa em modelo medieval com uma roupa que cobria uma bota até a altura de seus joelhos.
Na mão, uma jóia feita por um joalheiro que também era do meio que era um "S" montado
sobre uma plataforma e contendo cinco rubis pequenos. Era um anel ritualístico que apenas
usava quando em sessão, um sinete de seu poder.
Os convidados chegavam sucessivamente até que a Senhora considerara a hora adequada
para a cerimônia que antecederia a uma "play" previamente programada e que obedeceria
uma rígida proibição de bebidas àqueles que pretendiam fazer cenas e essa vedação estava
prevista até que as cenas acabassem podendo , em seguida, serem consumidas à
vontade,entre as mais finas disponíveis.
- Atenção todos , Senhores, Senhoras e submissos.
A voz da Senhora, distinta entre os ruídos de conversa e celebrações, fez com que essas
últimas cessassem e a atenção fosse toda destinada à ela.
- Fico muito feliz em tê-los aqui nesse nosso Templo, em uma noite tão especial por
celebrarmos a vida de Domme e o encoleiramento de aleph. Fico feliz não apenas pela
ocasião mas por seu significado, o de estarmos todos celebrando o nosso modo de vida,
aquilo que nos faz mais pessoas dados os princípios que norteiam a nossa prática.
Passaremos agora ao encoleiramento de aleph.
Cerimoniosamente, os acólitos derigiram-se à habitação de aleph de lá o trouxeram ,
precendo-no na entrada. Podia se ver que o futuro escravo de Senhora estava vetido em uma
túnica púrpura com o símbolo de sua Senhora distintamente visível em dourado.
Caminhava lentamente em direção à sua Senhora que assentou-se no trono que lhe era de
direito. C., que registrara o contrato, leu-o para testemunho de todos os presentes que
atestavam o acontecido.
Lido o contrato, aleph colocou-se de joelhos frente à sua Senhora e beijou-lhe o anel
cerimonial. Feito isso, foi trazido primeiramente à Senhora o contrato, o qual assinou e em
seguida a aleph que também colocou sua assinatura.
A coleira de sessão feita em couro especialmente trazido para tal, foi entregue à Senhora por
M. , o artesão de todos os apetrechos que pertencial à Dominadora. aleph colocou-se em
posição para recebê-la e foi saudado por todos em volta.
Ao mesmo tempo, recebeu a sua coleira de passeio, aquela que portaria em todo e qualquer
momento, uma peça marcante porém discreta , em prata, como o pingente da letra S, de sua
Dona.
Não foi necessário muito mais para que lágrimas discretas lhe tomassem os olhos em
símbolo de gratidão por aquele favor que alcançara, superando todos os problemas que
enfrentara e com os quais soubera aprender que a dominação exercida pela Senhora não
baseava-se no jogo bruto de bater e apanhar mas, de forma evidente, perceber que aquela
mulher que se alteava à ele não apenas tinha o direito de impor-lhe castigos mas também de
fazer-se maior pela simples existência.
À seguir ocorreu uma cerimônia da mais bela submissão: aleph , descalçando a bota de sua
Senhora, lavou-a em água de rosas, cuidadosamente, como gesto de serviço e de submissão.
Derramou levemente a água de rosas e fazer pequenas massagens nos pés da Senhora de
forma a não apenas perfumá-lo mas de prover um relaxamento bem vindo ante a cerimônia
formal e que imprimia a todos um sentimento de sobriedade beirando a tensão.
Depois de bem perfumado e relaxado, os pés da Senhora foram enxutos em uma toalha de
linho egípcio alvíssimo e foram calçados novamente por aleph, secundado pelos acólitos que
assistiram ao submisso em sua tarefa.
Senhora também encontrava-se emocionada por ter talhado o seu submisso através das
provas e por ter chegado á conclusão que não errara ao escolhê-lo entre vários que foram
submetidos à sua apreciação.
Entendia também que as missões e os ensinamentos que já dera à aleph não eram nada
mais, nada menos, do que o início do processo que se estenderia por toda a vida já que, como
nada é estático na existência, também não era o aprendizado.
aleph tinha consciência, por sua vez , que inciava-se uma nova fase em sua vida, a de servir,
um adicionamento à vida que levava e que dava um sentido e uma cor especiais à sua
existência.
- Quero tornar público que aleph hoje tem, além da minha coleira, mais uma tarefa, a de
fazer crônica detalhada de todos os acontecidos em sua vida de submisso e assim criar a
crônica de meu reino. Que sua narrativa seja forjada com competência de escritor
competente que é e com mais esse gesto, me honre hoje e sempre.
aleph apenas inclinou sua cabeça em assentimento e compromisso e foi convidado à sentar-
se um degrau abaixo de sua Dona.
Domme, por sua vez, no transcorrer da noite, teve a experiência e o entendimento em saber
que colocar alguém sob seus domínios era cuidar e respeitar aquela vida que se colocava aos
seus pés.
Tendo participado de uma sessão de spanking com sua amiga que lhe emprestara o escravo,
sabia, no íntimo que aquele gesto apenas era um prenúncio de uma necessidade de
aprendizado, também dela, que parecia não ter fim.
A noite foi bela, as cenas arrebatadoras e todos, recolhidos aos seus leitos, refletiam cada um
sobre as lições que todos aprenderam.
Uns, como a Senhora, reavivaram as lembranças de ensinamentos que receberam dos mais
experientes e que agora tornavam-se evidentes por si. Outros, como aleph, tinham seus
sentidos educados para ouvir, para ver, sentir e saborear cada um das elevadas práticas que
lhe eram ensinadas e a Domme, por sua vez, aprendeu o valor da perseverança, do não
acomodar-se e sequer desistir de quaisquer de suas intenções.
Cada um, por seu turno, buscando a realização do que lhes parecia e no que consistia ser o
BDSM. Muito mais do que apenas um jogo erótico-afetivo, um meio de construção dos mais
perfeitos caminhos da vida. Que assim fosse.
(Fim)

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