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RESUMO
Euclides da Cunha desempenhou um importante papel na construção do pensamento social
brasileiro, especialmente por trabalhar em prol de um projeto de desenvolvimento nacional
unindo compreensões teóricas e pragmáticas. Seu livro, “Os Sertões”, é referência sobre as
lutas do nordestino e seu abandono pela República. O conjunto de sua obra revela um
intelectual engajado nas transformações sociais e na busca por uma identidade nacional.
1 INTRODUÇÃO
1
Discente do 5º período do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-
mail: paulinhasilvalima@ig.com.br.
2
Discente do 5º período do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-
mail: evaristofilho@gmail.com.
recebidas do evolucionismo social, do qual ele se aproximava em diversos pontos, embora se
distanciasse em muitos outros.
Sua vida foi marcada por dificuldades – na maioria das vezes – financeiras, razão
pela qual desistiu de continuar seus estudos na Escola Politécnica do Rio de Janeiro após um
ano de estudos. Assim, entrou para a Escola Militar, onde foi contagiado pelo fervor
republicano do então professor Benjamin Constant.
Seus livros, expressões de seu pensamento aguçado sobre a realidade do seu país, são
o seu legado para a história e a cultura brasileira.
3 OS SERTÕES
Adepto do evolucionismo social, pelo menos em parte, Euclides da Cunha usa uma
metodologia que aproveita as ideias da biologia e da geologia para explicar os fenômenos
humanos.
O livro apresenta o sertão como uma terra esquecida, primeiramente, pela monarquia
e, depois, pela república. No olhar de Euclides da Cuinha, o sertão, que estava
geograficamente isolado, teria produzido um povo mestiço de caráter e aspectos físicos mais
fortes do que os mestiços do litoral. O lugar é severo com seus habitantes, não somente com
os homens, mas também com a natureza. Assim, homem e natureza se adaptam para
sobreviver ali.
Euclides da Cunha, assim como a maioria dos intelectuais de sua época, considerava
a mestiçagem um problema para o processo civilizatório defendido pelo evolucionismo social.
Portanto, diante da clara percepção de um forte entrelaçamento de raças no Brasil, o sociólogo
procurou conciliar a questão da raça superior com a mestiçagem. Suas pesquisas o levaram ao
estudo do mestiço do sertão. Mostrando uma clara simpatia pelo sertanejo, porém, sem perder
de vista sua posição científica, Euclides da Cunha percebeu no mestiço sertanejo o seu
potencial à Civilização. Assim, ele acaba “reconhecendo que a mestiçagem – considerada por
muitos intelectuais da época, mesmo pelo próprio autor, um estorvo ao processo civilizatório
– como um processo fundamental e positivo para a formação da sociedade sertaneja e
nordestina” (NASCIMENTO, 2002, p. 69).
De fato, ele “tomou a natureza dos sertões como cenário trágico, cuja vegetação, com
galhos secos e contorcidos, permitia antever as cabeças degoladas dos sertanejos”
(VENTURA, 2003, p. 201), e fez dessa terra abandonada por todos, na qual reinava a
pobreza, a fome, a falta de educação formal e a exploração, o meio ideal no qual se formara o
tipo ideal do brasileiro. Nela o mestiço teve que se adaptar para sobreviver. Assim, diante de
privações, na escassez de alimentos e de água, o mestiço sertanejo havia evoluído e se tornado
mais forte do que o mestiço do literal e, seria, portanto, o genuíno tipo brasileiro.
Essa questão da raça têm gerado diversas críticas à obra de Euclides da Cunha,
algumas vezes acusando-a de racista. Porém, ela deve ser considerada dentro do contexto das
ideias de seu tempo. O que o sociólogo pretendia era responder à questão que ainda não havia
sido respondida com a devida clareza: “quem é o brasileiro?”.