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“O Solo”
Indicadores de Preservação e
Conservação
(Algarve)
Zona de Intervenção:
Cumeadas (Algarve)
ABREVIATURAS
ha – Hectares
MO – Matéria Orgânica
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Gestão de Unidades Produtivas
OBJECTIVOS
Tendo em conta que o território das Cumeadas representa cerca de 16% da Região do Algarve e
que o mesmo debate-se com graves problemas associados á ruralidade típica da região,
nomeadamente degradação dos solos e conseguinte desertificação. Pretendeu-se com este
trabalho contribuir para um conhecimento mais aprofundado dos problemas que afectam o
território das Cumeadas e apresentar soluções que os possam minimizar. Deste modo os
objectivos deste trabalho foram os seguintes:
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Gestão de Unidades Produtivas
INTRODUÇÃO
De facto, só assim os indicadores podem ser factor de motivação para a actuação dos poderes
públicos locais e dos agentes privados, influenciar a definição e execução das políticas locais,
sustentar a obtenção de financiamentos e estimular a constituição de parcerias público-privadas.
O solo é um recurso finito, pelo que importa acautelar a sua utilização, através de um correcto
ordenamento e utilização, de forma a garantir o equilíbrio das necessidades humanas
“consumidoras” de espaço e a manutenção dos ecossistemas e da sua biodiversidade. A análise dos
padrões de uso do solo permite avaliar as pressões a que o mesmo está sujeito, bem como
acompanhar as medidas propostas nos diversos instrumentos de gestão territorial (CCDR Algarve,
2009).
A zona designada por Cumeadas é uma área rural de baixa densidade, situada no interior do
sotavento da região do Algarve (Baixo Guadiana), alvo de vários estudos devido ao fenómeno da
desertificação a que se encontra sujeita. Para tal contribuem vários factores de diversa natureza:
períodos de seca severa, alternados com precipitações intensas concentradas no tempo e no espaço,
a natureza do solo e o seu uso, incêndios frequentes e devastadores, despovoamento e
envelhecimento da população local, entre outros.
Com o objectivo de inverter esta tendência, várias medidas têm sido tomadas, para proporcionar
um desenvolvimento equilibrado e articulado do território regional, com o objectivo de promover e
dinamizar o interior do Algarve, potenciando os seus valores naturais como mais valias,
melhorando as acessibilidades, assegurando um ordenamento e gestão florestal adequadas e
implementando uma política de prevenção de riscos (CCDR, 2007).
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Gestão de Unidades Produtivas
Geograficamente o território das Cumeadas situa-se numa zona montanhosa de baixa altitude e de
clima adverso com fraca precipitação anual, é limitada a norte pela Ribeira do Vascão e a Nascente
pelo Rio Guadiana (CCDR, 2007-a). É composta pelas freguesias de Alcoutim, Pereiro, Giões,
Martim Longo e Vaqueiros do conselho de Alcoutim e pelas freguesias de Odeleite e Azinhal do
conselho de Castro Marim (Fig. 1), com uma área de 800 km2, representa 16% da superfície total
da região algarvia (Mário de Carvalho, 2007). Os recursos naturais existentes (água, solo e
biodiversidade) encontram-se demasiado frágeis ou mesmo degradados, contribuindo para a
desertificação desta região, o que provoca um contínuo declínio na estrutura sócio- económica local
(Mário de Carvalho, 2007).
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Gestão de Unidades Produtivas
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 1991 o conjunto das freguesias integradas na
classificação de baixas densidades pouco superava os 30 hab/km², enquanto que na restante região
do Algarve, esse indicador aproximava-se dos 70 hab/km². Dez anos depois (2001), o Algarve
contava com 79 hab/km² e o conjunto das baixas densidades, não obstante a ligeira aproximação
ocorrida entre os dois territórios, quedava-se pelos 35 hab/km² (INE, 2004).
Com efeito a área em estudo (Cumeadas) é uma zona onde predomina a ruralidade caracterizada
por densidades populacionais inferiores às médias da região e do país, índices de envelhecimento
crescentes (Fig. 2), com a população a sofrer um acentuado decréscimo nas últimas décadas
(Fig. 3), e o emprego agrícola muito superior às médias nacional e comunitária (INE, 2004).
Algarve 124,1
Alcoutim 537,2
Figura 3. Evolução da população residente na região das Cumeadas nas últimas décadas. Adaptado: CCDR,
2007.
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Gestão de Unidades Produtivas
No que se refere à distribuição concelhia do índice de poder de compra, per capita, os concelhos de
Alcoutim e Castro Marim, embora apresentem uma tendência crescente, são os concelhos que
denotam o menor poder de compra na região do Algarve (Fig. 4) (CCDR, 2007).
Figura 4. Poder de compra dos concelhos de Alcoutim e Castro Marim. Fonte: CCDR, 2007.
De acordo com a caracterização descrita, a zona das Cumeadas, actualmente depara-se com a
degradação dos seus recursos naturais e patrimoniais, com um índice de desemprego demasiado
elevado e com o envelhecimento e perda da população acentuados, contribuindo dessa forma, para
a desertificação da referida área.
O solo é um recurso natural finito, limitado e não renovável, pelo que deverá ser preservado.
Desempenha uma grande variedade de funções vitais, de carácter ambiental, ecológico, social e
económico, constituindo um importante elemento paisagístico, patrimonial e físico para o
desenvolvimento de infra-estruturas e de actividades humanas (UE, 2005).
Nos últimos 40 anos, cerca de um terço dos solos agrícolas mundiais deixaram de ser produtivos do
ponto de vista agrícola, devido à erosão. Actualmente, cerca de 77% dos terrenos da União
Europeia (UE) correspondem a áreas agrícolas e silvícolas, evidenciando a importância da política
agrícola no território Europeu (Confagri, 2009).
Os solos da região das Cumeadas são solos incipientes (litossolos ou solos esqueléticos) derivados
de rochas consolidadas (xistos), de espessura efectiva normalmente inferior a 10 cm; são solos não
evoluídos, sem horizontes genéticos claramente diferenciados e, praticamente reduzidos ao
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material originário (Confagri, 2009). São solos declivosos, devido à natureza geográfica (Fig. 5) e
muito susceptíveis de sofrer erosão hídrica e eólica. São solos com pouco coberto vegetal,
reduzido teor em matéria orgânica e ligeiramente ácidos com um pH que se situa entre 5,6 e 6,5
(APA, 2009). De acordo com a sua natureza, são solos pouco produtivos do ponto de vista agrícola
contribuindo para a redução da biodiversidade e para o empobrecimento das comunidades
humanas dependentes destes ecossistemas.
Os sistemas agrícolas nesta região são de subsistência e baseiam-se numa cultura marginal de
cereais e pousios, com um aproveitamento silvo pastoril (i.e. ovelhas e cabras) em maneio
extensivo. O coberto vegetal é dominado por elementos arbóreos tais como o Sobreiro (Quercus
suber), a Azinheira (Quercus ilex) e o Pinheiro manso (Pinus pinea L) (Fig. 6).
Figura 5. Aspecto e natureza física dos solos na região das Cumeadas. Foto: Mário de Carvalho, 2007.
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Como referido anteriormente, o solo é um recurso natural que desempenha uma grande variedade
de funções vitais, no entanto este é um recurso finito que necessita ser preservado. Várias são as
políticas adoptadas nesse sentido, quer a nível regional, nacional e internacional.
Desde 1992 com a Conferência do Rio de Janeiro que são adoptadas estratégias com o objectivo
de se utilizar os recursos naturais de forma sustentável. Nesta conferência ficou acordado e
aprovado pelos diferentes líderes mundiais que o fenómeno da desertificação verificado em
algumas regiões é causado pela “degradação dos solos nas zonas áridas, semi-áridas e sub-
húmidas, degradação essa resultante de factores tais como, as variações climáticas e a actividade
humana”.
A nível regional essas estratégias foram transpostas para o Programa Operacional Regional do
Algarve PO-Algarve 21. “O sector da agricultura tem primado pela quase inexistência de
processos e/ou produtos inovadores. Para tal contribui a conjugação de diversos factores, tais
como a limitação de terra arável (apenas cerca de um quarto dos solos tem capacidade
essencialmente agrícola, (…). A Direcção Regional de Agricultura do Algarve tem assumido um
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Gestão de Unidades Produtivas
papel central na implementação de processos inovadores e de boas práticas junto dos agricultores
(…) com consequentes benefícios para a conservação do solo e da água e para a qualidade e
segurança alimentar, em simultâneo com uma importante actuação no domínio da preservação da
biodiversidade genética (…)” (CCDR, 2007-b).
De acordo com um workshop intitulado “A Desertificação na Serra: Que Sinais? Que Soluções?”
promovido pela CCDR e realizado em Abril de 2002 na zona das Cumeadas e direccionado para
toda a comunidade local, foi possível identificar os principais sinais de desertificação,
nomeadamente:
O conjunto ou sistema de indicadores que serão apresentados, têm por objectivo avaliar o estado
dos solos e sua utilização na região e fundamentar as tomadas de decisão dos agentes locais no
combate às situações indesejadas que foram identificadas, assim como auxiliar na preservação das
situações particularmente desejáveis.
Os indicadores de estado são ferramentas utilizadas que permitem avaliar o progresso e estado das
situações a estudar e deverão ser sempre que possível de carácter quantitativo, de forma a auxiliar
as entidades competentes nas tomadas de decisão.
Neste estudo o critério escolhido foi o ambiental, o sector foi o solo que desempenha uma função
protectora da biodiversidade (vegetal e animal) e das comunidades rurais e o código do indicador
está de acordo com o tipo do mesmo (E- estado, P-pressão e R-resposta).
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Indicador E1
Fonte (s)
INE; MADRP; AFN
Indicador E2
Nome do Indicador: USO DO SOLO Indicador do Tipo: ESTADO
Descrição METODOLOGIA
Tipos de utilização dos solos Quantificação dos tipos de utilização dos solos, obedecendo a
diversas classes de classificação, que variam consoante a
Unidade de medida fonte de referência. Assim, de acordo com as definições das
Percentagem; área de solo arável por habitante estatísticas agrícolas do INE, o solo abrangido pela actividade
agrícola pode ter uma utilização florestal ou ser classificado de
Periodicidade acordo com 5 categorias:
Anual (i) Culturas hortícolas (extensivas ou intensivas, consoante
entram ou não em rotação com outras culturas não
Relação com outros indicadores hortícolas);
Fertilidade do solo; Área de solo afectado pela (ii) Culturas permanentes - ocupam a terra durante um longo
desertificação. período e fornecem repetidas colheitas;
(iii) Culturas temporárias - o seu ciclo vegetativo não excede
Metas e objectivos um ano (as anuais) e também as que são ressemeadas com
intervalos que não ultrapassam 5 anos;
- Garantir a manutenção da área da SAU, quer
(iv) Prados temporários - plantas herbáceas semeadas,
em explorações agrícolas efectivas quer como integradas numa rotação, ocupando o solo por um período
potencial agrícola estratégico. não superior a 5 anos
- Aumentar em 10% a área dedicada à (v) Terras aráveis – superfícies destinadas a culturas de
agricultura biológica. sementeira anual ou ressemeadas com intervalos inferiores a
5 anos e terras de pousio.
Análise sumária
Um dos maiores riscos para os solos agrícolas Apresentação dos resultados
reside no facto de uma grande parte das áreas Relatório quantitativo (tabela e gráfico) apresentando os
de maior produtividade, se encontrarem em valores encontrados, acompanhado de uma análise qualitativa.
zonas de forte pressão para a mudança no uso
do solo, nomeadamente para a expansão Fonte (s)
urbana, construção de empreendimentos INE; MADRP; AFN
turísticos, procura de segunda habitação, etc.
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Indicador E3
Periodicidade METODOLOGIA
Anual para cada unidade de produção igual ou Análise química de solo (N, P, K, Ca, Mg) efectuada sobre
superior a 2 ha. amostras médias recolhidas a 0-10cm e 10-20cm, em
parcelas permanentes iguais ou superiores a 2 ha.
Relação com outros indicadores
Uso do solo; Produção agrícola, área de solo Densidade das Avaliações: 1 ponto de amostragem por
afectado pela desertificação cada talhão de 2 a 20ha.
Fonte (s)
SIDS; ENDS; AFN.
Indicador E4
Nome do Indicador: PRODUÇÃO
Indicador do Tipo: ESTADO
AGRÍCOLA
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Gestão de Unidades Produtivas
Indicador E5
Nome do Indicador: QUANTIFICAÇÃO DA EROSÃO
Fonte (s)
INE; MADRP; AFN; ENDS.
Indicador E6
Nome do Indicador: ÁREA DE SOLO AFECTADO PELA DESERTIFICAÇÃO
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Gestão de Unidades Produtivas
Indicador P1
Nome do Indicador: COBERTO VEGETAL Indicador do Tipo: PRESSÃO
Descrição METODOLOGIA
Variação dos diferentes tipos de coberto vegetal ao De acordo com a definição do Compêndio Estatístico do
longo do tempo. Eurostat, a designação de floresta é a seguinte:
Solos cobertos de árvores plantadas ou de crescimento
Unidade de medida espontâneo, produtivos ou não; inclui solos de florestas
Área de floresta e número de espécies vegetais cujas árvores tenham sido cortadas mas que se supõe
serem objecto de reflorestação num futuro previsível.
Periodicidade
Em cada 5 anos Amostragem em parcelas com 400 a 2.000m2.
Inventariação das áreas ocupadas pelos diferentes tipos
Relação com outros indicadores de espécies florestais para permitir o cálculo de índices de
Área florestal; Qualidade do solo; Área de solo diversidade (diversidade de comunidades).
afectado pela desertificação
Densidade das Avaliações
Metas e objectivos 1 Ponto de amostragem por cada talhão de
- Aumentar em 10% a área de coberto vegetal com 5 a 50ha.
folhosas autóctones em detrimento de resinosas e
eucalipto, com maior vulnerabilidade a incêndios Apresentação dos resultados
florestais e fraco contributo para a diversidade. Relatório quantitativo (tabela e gráfico) apresentando os
- Suster até 2010 o declínio da biodiversidade: reduzir valores encontrados, acompanhado de uma análise
o número de espécies protegidas ameaçadas. qualitativa.
Indicador P2
Nome do Indicador: ÁREA DE SOLO IRRIGADO Indicador do Tipo: PRESSÃO
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Indicador P3
Nome do Indicador: COMPACTÇÂO DO SOLO Indicador do Tipo: PRESSÃO
Indicador P4
Nome do Indicador: CONSUMO/UTILIZAÇÃO DE FERTILIZANTES AGRICOLAS
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Indicador P5
Nome do Indicador: CONSUMO/UTILIZAÇÃO DE PESTICIDAS AGRÍCOLAS
Fonte (s)
INE; MADRP; FAO; OCDE; UE-CE.
Indicador P6
Nome do Indicador: DESAFECTAÇÃO DE ÁREAS CLASSIFICADAS DE RAN
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Indicador R1
Nome do Indicador: PRODUÇÃO AGRÍCOLA CERTIFICADA
Fonte (s)
DGADR; INE, AEA.
Indicador R2
Nome do Indicador: INVESTIMENTO E DESPESA NA CONSERVAÇÃO DO SOLO
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Gestão de Unidades Produtivas
IV-CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas sugestões
Fomentar práticas agrícolas com mobilização mínima do solo efectuando lavouras muito pouco
profundas. Não danificar o enraizamento das plantas e não destruir a matéria orgânica no solo.
Sempre que seja necessário a mobilização do solo, esta deverá ser realizada de acordo com as
curvas de nível e sempre que possível, utilizar novas técnicas produtivas não mobilizadoras de solo.
Introduzir rotações culturais com pousios e apostar nas pastagens naturais. Promover a actividade
silvopastoril. Aplicar excedentes agro-industriais devidamente tratados (compostagem),
contribuindo para a redução na aplicação de agro-químicos. Recuperar a flora local em viveiros e
arborizar os terrenos com espécies adaptadas à região. Reflorestar o território utilizando espécies
pioneiras e intercalar espécies arbóreas com espécies arbustivas. Efectuar uma correcta gestão e
manutenção dos matos efectuando cortes, desbastes e triturações. Promover um regulamento em
que se privilegia as espécies endógenas. Aplicar sempre que possível, matéria orgânica ao solo
porque esta para alem das vantagens anteriormente referidas, promove e aumenta a capacidade de
infiltração de água no solo.
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Gestão de Unidades Produtivas
Referências Bibliográficas
-DGF- Direcção Geral das Florestas (1999). Critérios e Indicadores de gestão florestal sustentável
ao nível da unidade de gestão. Versão #2. Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e
das Pescas. Portugal.
-INE, Instituto Nacional de Estatística (2004). Sócio-demografia das áreas de baixa densidade do
Algarve (2004). Instituto Nacional de Estatistica, Direcção Regional do Algarve, Depósito legal nº
201267/03, Faro.
- INE, Instituto Nacional de Estatística (2007). Anuário Estatístico da Região Algarve 2007.
Instituto Nacional de Estatistica, I.P. ISBN 978-972-673-954-8, Portugal.
- MOTA, I., PINTO M., VASCONCELLOS E SÁ, J., MARQUES, V. S., RIBEIRO, J. F., (2005).
Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável ENDS (2005-2015) Vol I e II. Portugal.
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Gestão de Unidades Produtivas
- RAMOS, T.B., (2004). Avaliação de desempenho ambiental no sector público: estudo do sector
da defesa. Universidade Nova de Lisboa, Dissertação de Doutoramento. ISBN: 972-99803-0-6.
Lisboa, Portugal.
- UE, Comissão das Comunidades Europeias (2005). Estratégia Temática sobre a Utilização
Sustentável dos Recursos Naturais. Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento
Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões. COM(2005) 670.
Bruxelas.
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