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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

LAILA SABER FRANCO

A ATUAÇÃO DO IPC - INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS - NA


INCLUSÃO SOCIAL DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA VISUAL

CURITIBA
2007
2

LAILA SABER FRANCO

A ATUAÇÃO DO IPC – INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS - NA


INCLUSÃO SOCIAL DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA VISUAL

Monografia apresentada à disciplina de


Pesquisa em Comunicação - Produção de
Monografia como requisito parcial à
conclusão do curso de Comunicação
Social – Habilitação em Publicidade e
Propaganda, setor de Ciências Jurídicas e
Sociais da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná.
Orientador: Luiz Afonso Caprilhone
Erbano

CURITIBA
2007
3

Aos meus pais cuja vida de trabalho


permitiu a realização deste trabalho.
4

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho principalmente aos meus pais cuja dedicação e trabalho
me proporcionaram uma vida fantástica. Que seus anos de trabalho e dores de
cabeça não tenham sido em vão. Chegará o dia em que hei de retribuir cada esforço
e cada noite mal dormida. Muito obrigada, simplesmente por serem vocês e
permitirem que eu seja eu. Dedico também aos meus amigos afinal a estrada ainda
não chegou ao fim. São nos caminhos mais difíceis que reconhecemos a verdadeira
amizade e esta persiste através dos anos, só depende de nós.
E por último, mas não menos importante aos meus professores que dedicam
suas vidas a transmitir conhecimento e ajudar esses jovens no auge de suas crises
existenciais. E apesar de serem pouco reconhecidos por eles e pela instituição,
ainda assim dedicam seu tempo e sua paciência para transformar esses jovens em
adultos realizados profissionalmente. Queila, Luiz Afonso e Cristina muito obrigada.
5

“A verdadeira sabedoria consiste em saber


como aumentar o bem-estar do mundo”.
(Benjamim Franklin)
RESUMO
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O objetivo deste trabalho foi caracterizar o Terceiro Setor e analisar suas estratégias
no processo de inclusão social do portador de deficiência visual. O objetivo geral foi
verificar se os programas realizados pelas organizações do Terceiro Setor voltado a
esse público apresentam resultados efetivos em sua inserção socioeconômica.
Parte-se do princípio de que o deficiente visual constitui em força de trabalho apesar
de ser não ser plenamente reconhecido pela sociedade. Na fundamentação teórica
foi caracterizado o Terceiro Setor e seu contexto atual, os aspectos da deficiência
visual e suas causas, e as resoluções do Estado no sentido de promover a inclusão
do deficiente visual. Além disso, foi realizada uma pesquisa de campo junto ao
Instituto Paranaense de Cegos com o intuito de avaliar sua atuação no
desenvolvimento do portador de deficiência visual, suas condições atuais e os
serviços oferecidos.

Palavras-chave: Terceiro Setor, deficiência visual, inclusão social, Instituto


Paranaense de Cegos.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................08
1. TERCEIRO SETOR............................................................................................10
1.1 O primeiro setor .............................................................................................10
1.2 O segundo setor.............................................................................................11
1.3 O terceiro setor...............................................................................................13
1.4 Origem do Terceiro Setor...............................................................................14
1.5 Contexto Atual.................................................................................................17
1.6 Formatos legais de ONG´s no Brasil............................................................19
2. O DEFICIENTE VISUAL NO BRASIL................................................................21
2.1 Aspectos da deficiência visual......................................................................21
2.1.1 Possíveis causas da deficiência visual..................................................22
2.2 A deficiência no Brasil....................................................................................24
2.3 Outros fatores de inclusão social do deficiente visual..............................27
3. O INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS.......................................................30
3.1 Delineamento de pesquisa............................................................................30
3.2 Histórico do Instituto......................................................................................31
3.3 Análise SWOT..................................................................................................33
3.4 Análise documental........................................................................................35
3.5 Entrevista com o presidente..........................................................................38
3.6 Considerações finais......................................................................................39
CONCLUSÃO.........................................................................................................41
REFERÊNCIAS......................................................................................................43
APÊNDICE..............................................................................................................45
ANEXO A................................................................................................................48
ANEXO B................................................................................................................60
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INTRODUÇÃO

O Brasil, segundo o Censo realizado em 2000 pelo IBGE - Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística, possui uma população estimada em 180 milhões de
habitantes. Desses, 24,5 milhões de brasileiros são portadores de algum tipo de
deficiência. Do universo de deficientes no Brasil 48,1% apresentam deficiência
visual. E entre 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual, 159.824 são
incapazes de enxergar. Constata-se que do universo de deficientes no Brasil, quase
a metade é representada por deficientes visuais. E calcula-se que se fossem
tomadas medidas preventivas esses dados poderiam ser reduzidos pela metade.
Com base nesses dados comprova-se a urgência na criação de projetos que
possibilitem a inclusão sócio-econômica do portador de deficiência visual.
A falta de informações sobre essa deficiência e a fraca participação desse
grupo junto à sociedade são fatores que colaboram para a exclusão. Por outro lado,
existem várias organizações que oferecem serviços de apoio às pessoas cegas ou
com baixa visão. Na cidade de Curitiba a principal instituição é o IPC – Instituto
Paranaense de Cegos criado em 1939. O IPC realiza inúmeros trabalhos de
reabilitação e ensino servindo de referência em todo o país e até internacionalmente.
Oferece serviços que vão desde o ensino fundamental até aulas de informática,
além de programas de asilamento.
Entretanto é necessário avaliar se esses projetos geram mudanças em longo
prazo e se suas ações têm impacto na sociedade com um todo. A pergunta que
norteia este trabalho de pesquisa consiste, portanto, em analisar como as
organizações do Terceiro Setor auxiliam no processo de inclusão social do portador
de deficiência visual. Para tanto foi preciso caracterizar o Terceiro Setor, descrever
os aspectos gerais ligados à deficiência visual e realizar um estudo de caso de uma
organização não-governamental voltada ao portador de deficiência visual.
O trabalho se insere na linha de pesquisa Comunicação, Educação e Cultura,
utilizando material bibliográfico descritivo para referencial teórico com abordagem
qualitativa de caráter exploratório.
Espera-se que com este trabalho a sociedade perceba que os portadores de
deficiência são pessoas ativas que devem ser inseridas no mercado de trabalho e na
9

sociedade. Além disso, espera-se fornecer maior esclarecimento e contribuir para


a maior participação da população no convívio com essas pessoas. De modo que os
portadores de deficiência visual sejam valorizados e reconhecidos como parte do
desenvolvimento de uma sociedade capitalista aonde o mérito consiste no trabalho.
10

1 O TERCEIRO SETOR

Segundo Borba (2001, p.45), o Terceiro Setor surgiu com o intuito de


preencher as lacunas deixadas pelo Estado na prestação de serviços à
comunidade e no atendimento às necessidades da população. E para poder
compreender o que é o Terceiro Setor e suas aplicações é necessário entender os
outros setores da economia.
O Primeiro Setor é o governo, responsável pelas questões públicas e sociais.
Por meio da arrecadação de dinheiro, o governo procura investir em serviços à
sociedade como saúde, educação, segurança, entre outros.
O Segundo Setor é constituído pelas empresas privadas como indústrias,
comércio e empresas. É o setor no qual estão inseridas as instituições de
interesse privado, mantidas pela iniciativa privada.
Portanto o Terceiro Setor, como já explicita o termo, se diferencia do setor
privado e do setor público. É composto por organizações sem fins lucrativos com
interesse nas questões sociais, de natureza privada e sem interferência direta do
Estado. Procuram dar continuidade às práticas da filantropia com o intuito de
proporcionar melhor qualidade de vida às camadas carentes. São formadas pela
sociedade civil visando gerar serviços de caráter público causados pela
incapacidade do Estado.

1.1 O Primeiro Setor

O primeiro setor corresponde à vontade popular que, através do voto, confere


poder ao governo. No Brasil a divisão dos poderes é feita de tal forma que as leis
não entrem em desacordo entre si. De acordo com o Governo Federal:

Na estrutura do Estado brasileiro, o exercício do Poder é atribuído a órgãos


distintos e independentes, cada qual com uma função, prevendo-se ainda
um sistema de controle entre eles, de modo que nenhum possa agir em
desacordo com as leis e a Constituição.
Como atribuição típica, o Poder Legislativo elabora leis; o Poder Executivo
administra, ou seja, realiza os fins do Estado, adotando concretamente as
políticas para este fim; e o Poder Judiciário soluciona conflitos entre
cidadãos, entidades e o Estado.
11

Porém a divisão dos poderes em diversas esferas gera problemas de


burocratização excessiva que acabam por dificultar o desenvolvimento de várias
áreas no país.
Na última década, a produção nacional aumentou em 32,3% e a
agropecuária foi o setor de maior crescimento, apresentando uma taxa de 3,6% ao
ano ou 47% desde então. No ano de 2005 o PIB - Produto Interno Bruto - do país
era de R$ 1,9 trilhão e sua taxa de crescimento desde então é de 2,3%.
O Brasil possui, de acordo com o último senso realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2000, uma população
estimada em 180 milhões, e 80% da população está concentrada em áreas
urbanas. Porém, com os sucessivos recordes de exportações alcançadas pelas
empresas nacionais, é no campo e no interior que o número de empregos está
aumentando consideravelmente.
Apesar de o país apresentar avanços econômicos, os índices sociais ainda
deixam a desejar. O Brasil possui uma taxa de analfabetismo de 11,4% entre
pessoas com 15 anos de idade ou mais, de acordo com o último censo realizado
pelo IBGE em 2004. E dados do IBGE de 2005 revelam que a taxa de mortalidade
infantil de é de 25,8, ou seja, de cada mil crianças nascidas vivas mais de 25
morrem antes de completarem um ano. Os números são inaceitáveis se
comparados com países de primeiro mundo, os Estados Unidos, por exemplo,
apresenta uma taxa de mortalidade infantil em torno de 6,3.

1.2 O Segundo Setor

De acordo com Borba (2001, p.45), o Segundo Setor é o mercado com seu
comércio, indústrias e empresas, que cuidam dos interesses individuais. Porém,
com a ineficiência do estado a questão social acabou se tornando preocupação do
setor privado, surgindo então inúmeras instituições sem fins lucrativos e sem
ligações diretas com o governo, com o objetivo de prestar serviços à sociedade.
O Segundo Setor então deu origem ao Terceiro Setor, mas ainda assim
grandes corporações atuam na área social por meio da chamada
Responsabilidade Social. A idéia de responsabilidade social é recente pois, com o
surgimento de uma nova consciência por parte do consumidor moderno, se faz
necessária uma nova postura do mercado. As empresas se vêem forçadas a
12

adotar uma atitude mais responsável em suas ações. Segundo Duarte (1985),
isso se deve ao fato de a empresa ser uma das organizações com maior destaque
da sociedade contemporânea. E este conceito não interessa somente ao bem
estar social, mas também envolve melhor desempenho nos negócios, gerando
maiores lucros.
O conceito de responsabilidade social passa pela compreensão de que a
empresa não possui apenas comprometimentos econômicos e legais, mas
também apresenta certas preocupações para com a sociedade, um tipo de
comprometimento moral. Antigamente esse tipo de atuação não tinha muita
importância, pois não alcançava participação na mídia, mas atualmente é
diferente. Empresas que atuam na área social são vistas como cidadãs,
aumentando o número de corporações que realizam ações sociais.
Realizando essas ações sociais a empresa também pode apresentar melhoria
no seu desenvolvimento interno. O envolvimento de seus funcionários junto à
empresa também pode aumentar, assim como suas motivações e produtividade,
além de incentivar à prática do voluntariado empresarial, que é uma força que
move grande parte do Terceiro Setor. Junto à sociedade, portanto, a organização
melhora sua imagem, transmitindo um bem estar aos consumidores e uma
preocupação genuína para com eles.
Segundo Souza (1996, p. 31) a ação social está ligada às formas de assistência
que muitas instituições assumem em função daqueles indivíduos que não
conseguem usufruir dos bens necessários à existência. Nesse contexto as
instituições do Terceiro Setor despertam nas corporações a consciência de que elas
têm uma função social e devem voltar-se para sua integração na comunidade, de
modo a contribuir financeiramente para causas de interesses gerais.

1.3 O Terceiro Setor

Conforme explica Teodósio (2001, p.2), o Terceiro Setor é semelhante ao


Estado, pois possui objetivo e participação em espaços públicos, mas se diferencia
do governo por ser uma iniciativa da própria sociedade civil. E não equivale à
iniciativa privada, pois mesmo não sendo governamental não beneficia um
determinado grupo de pessoas, mas sim toda a sociedade em última estância.
13

Na realidade não existe um consenso por parte dos estudiosos quando se


trata de propor uma definição para o que é o Terceiro Setor. Conforme Souza
(2007) nos Estados Unidos uma organização do Terceiro Setor tem como critérios:
uma estrutura (formalização); auto-gestão; participação voluntária (mesmo que
parcial); natureza privada e não distribuição de lucros.
Portanto, é importante ressaltar que a diferença entre as organizações do Terceiro
Setor e outros movimentos sociais é a existência de uma estrutura formal
permanente. Ou seja, uma estrutura física ou social, persistente no tempo e que
apóie os objetivos da organização.
O Terceiro Setor é formado, portanto, por instituições sem fins lucrativos com
preocupações e interesses sociais, que procuram oferecer bens de serviços de
caráter público. Entre essas instituições se incluem: ONG`s, entidades
beneficentes, fundos comunitários, centros sociais, entre outros.
Em sua maior parte estas organizações são voltadas para o atendimento das
necessidades da população, atuando como apoio à ação do primeiro setor, com a
ajuda de trabalho voluntário. Apesar de existirem diversas organizações que são
de fato dirigidas e operadas por profissionais.
Quando se fala de Terceiro Setor, segundo Teodósio (2001, p.3) é incorreto
assumir que se trata somente de organizações carentes de recursos financeiros e
que só trabalham com voluntários. Existem organizações inseridas no Terceiro
Setor que possuem alcance mundial, grande penetração na mídia e forte poder de
influência nas decisões governamentais.
Ainda de acordo com Teodósio (2001), acredita-se que as organizações que
compõem o Terceiro Setor têm maior capacidade de solucionar os problemas
sociais do que o Estado, agindo com mais eficiência. Na verdade são velhas
idéias que retornam com mais força para criar novas soluções para os problemas
sociais, afinal associações e empresas sempre atuaram em projetos sociais, só
que nunca tiveram tanto destaque e visibilidade perante a sociedade.

1.4 Origem do Terceiro Setor


14

De acordo com Borba (2001, p.45), este setor surgiu da ineficiência e


omissão do Estado, e é formado por entidades da sociedade civil, igrejas,
associações e fundações que atuam em diversas áreas no combate à pobreza e à
exclusão social.
Teve origem principalmente na atuação da Igreja Católica que, com o apoio e
suporte do Estado, era responsável pela maioria das entidades que prestavam
assistência às comunidades carentes que eram excluídas das necessidades
básicas. As Santas Casas, que datam da segunda metade do século dezesseis,
são exemplos clássicos desta tradição. Até o início do século dezenove a
associação entre Estado e Igreja Católica mostrou-se predominante no objetivo de
prestar atendimento e assistência.
Porém, frente a crescentes problemas sociais, a sociedade civil sentiu-se
motivada a intervir, criando entidades organizadas para propor mudanças nos
aspectos sociais. No Brasil esse movimento da sociedade se fortaleceu durante a
ditadura militar, já que a participação civil era reprimida na esfera pública.
Pequenas iniciativas por parte de um determinado grupo de cidadãos foram
encontrando espaços no sistema para promover liberdade e democracia.
Com a intenção de combater inúmeros problemas, as ONG´s, que antes
tinham um caráter assistencialista, porque eram relacionadas com instituições
religiosas, passaram a concentrar esforços determinadas ações para obter
resultados sustentáveis em longo prazo.
Já o termo Terceiro Setor “começou a ser usado nos anos setenta nos EUA
para identificar um setor da sociedade no qual atuam organizações sem fins
lucrativos, voltadas para a produção ou a distribuição de bens de serviços
públicos”. (SMITH, 1991 apud ALVES, 2001).
Entretanto este termo não obteve uma aceitação imediata, e ainda hoje não
existe um consenso em relação a uma única denominação para essa nova
realidade social.
Para Landim (apud ALVES, 2001) considerada uma das pioneiras no uso da
expressão Terceiro Setor no Brasil, este termo critica a funcionalidade que
pretendem atribuir ao setor:

De fato, frequentemente a categoria Terceiro setor é utilizada, implícita ou


explicitamente, para produzir a idéia equivocada de que o universo das
organizações sem fins lucrativos é espécie de panacéia que substitui o
15

Estado no enfrentamento de questões sociais-como a resolução do


problema do emprego, por exemplo. (LANDIM apud ALVES 2001).

São encontradas também nomenclaturas como “setor de caridade”, ”setor


voluntário”, “organizações não governamentais”, “filantropia”, entre inúmeros
outros que acabam dificultando pesquisas que procuram definir relações entre os
setores em diversos países. Entretanto, cada denominação enfatiza somente um
dos aspectos da realidade representada pelo “Terceiro Setor”.
Segundo Alves (2001) o termo ONG merece destaque entre todos os outros
que se utilizam como equivalentes, ou quase-sinônimos, de Terceiro Setor.
A palavra ONG - que significa organização não-governamental - acabou se
tornando a denominação mais utilizada no Brasil. Apesar de não ser a única
denominação, é a mais conhecida por razões práticas e sociais. Esta terminologia
teve seu início na década de oitenta, identificando organizações que já tinham sido
formadas nos anos anteriores. De acordo com Borba (2001, p.46):

O Terceiro Setor é composto por Organizações Não Governamentais


(ONG´s).São organizações de iniciativa privada, sem fins lucrativos, que
atuam no interesse público, extremamente diversificadas, que vão desde
às entidades filantrópicas tradicionais, assistências, como o caso das
religiosas, chegando às modernas fundações empresariais, todas elas,
porém, comprometidas com melhores condições de vida da população e
democracia do país.

Já Montenegro (1994, p.10) define as ONG´s como “tipo particular de


organizações que não dependem nem economicamente, nem institucionalmente do
Estado, que se dedicam a tarefas de promoção social”.
Ainda de acordo com Montenegro (1994) todas as organizações sem fins
lucrativos trabalham com o objetivo de promover a melhoria na qualidade de vida
dos setores mais oprimidos. Estas organizações têm sido com o decorrer dos anos,
as principais responsáveis pela luta dos interesses públicos, principalmente dos
setores sociais que não têm seus direitos respeitados. Lutam pela consolidação de
uma sociedade justa e democrática, que respeita as diferenças, valoriza a
participação e a solidariedade, sempre se adaptando ao que acontece no mundo e
acompanhando as necessidades que vêm surgindo conforme as mudanças no
comportamento da sociedade.
Para David Korten (apud ALVES, 2001) o termo ONG:
16

...reúne quatro diferentes tipos de organizações: voluntárias, que têm uma


missão social orientada por um comprometimento; contratadas de serviço
público, que funcionam como empreendimentos sem fins lucrativos, mas de
orientação mercantil, com propósitos públicos; organizações populares,
que representam os interesses dos membros, têm líder, e no geral, são
auto-sustentáveis; e as “gongos” (do inglês, “governmental NGOs), ou
“ONGs governamentais”, que são criadas por governos e servem para
vários objetivos de política pública.( KORTEN, 1990 apud ALVES 2001)

A palavra ONG se tornou um termo “guarda-chuva”, sendo usado, portanto


como expressão na qual se reúnem vários termos correlatos. A definição dada por
Korten não é muito utilizada pelos estudiosos do Terceiro Setor.
Segundo Borba (2001, p.47) as ONG´s brasileiras são o resultado de mais
de vinte anos de trabalho na luta pela construção dos direitos humanos junto aos
movimentos populares e demais setores da sociedade civil. A sociedade brasileira
se uniu para prestar assistência às camadas necessitadas e aos setores com
deficiência.
As transformações ocorridas na sociedade desde então são visíveis.
Antigamente esperava-se tudo do governo. Agora, as pessoas valorizam e
incentivam a ação coletiva. Dessa forma, as ONG´s vêm despertando na
sociedade a consciência de cidadania e fomentando o Terceiro Setor.
Segundo Teodósio (2001), as ONG´s criaram novas formas de enfrentar as
questões sociais, além de maneiras de gerar recursos. Já existem algumas
organizações que são auto-sustentáveis capazes de manter-se com pouca ou nula
dependência de doações e ajuda do governo.

1.5 Contexto Atual

O Terceiro Setor está atualmente em grande crescimento em todo o mundo e


no Brasil. Segundo o website Terceiro Setor (2007), tem movimentado em torno
de um trilhão de dólares ao ano, o que o coloca na posição de oitava economia
mundial, se comparado ao PIB das nações mais ricas.
Atualmente, muitas das organizações do setor público são vistas como
ineficientes na forma de lidar decisivamente com os problemas sociais. O Terceiro
Setor acha-se, então, hábil para desempenhar um papel amplo, pois é capaz de
unir administração com consciência social.
17

Além disso, de acordo com Teodósio (2001, p.5), possui maior contato com
o cidadão, sendo capaz de fornecer os serviços e benefícios em lugar daqueles
que o Estado pretende proporcionar e consegue trabalhar com mais agilidade
porque é um setor que não está ligado à burocratização a que estão submetidas
às organizações governamentais. Além disso, desenvolve-se um sentido mais
profundo de cidadania, já que envolve pessoas da comunidade, principalmente na
condição de trabalhadores voluntários, na solução de problemas sociais.
Segundo o relatório da Área de Desenvolvimento Social e Gerência de
Estudos Setoriais (2001) em pesquisa realizada em 1995, o número de pessoas
trabalhando no Terceiro Setor no Brasil se situava abaixo da média, com apenas
2,2% da população em relação ao número total da mão-de-obra empregada no
país. Países como Bélgica, Holanda e Irlanda possuíam mais de 10% do total de
sua população trabalhando nesse setor. Porém, desde o ano em que foi realizada
a pesquisa até hoje este número cresceu. Somente entre 1991 e 1995 foram
criados cerca de 340.000 novos postos de trabalho nesta área.
Especialmente relevante é o fato de que nos países desenvolvidos a principal
fonte de recursos das instituições sem fins lucrativos é a venda de produtos ou
serviços. Em média, 49% dos recursos originam-se de receitas próprias. O suporte
estatal vem em segundo lugar, contribuindo em média com 40% do orçamento de
organizações do Terceiro Setor e, por último, estão as doações voluntárias com
10%.
No Brasil esta mesma pesquisa não revelou números tão diversos daqueles
encontrados internacionalmente. Quase dois terços dos recursos provêm de
receitas próprias (68,3%), ficando as doações privadas com 17,5% e as fontes
governamentais com 14,5%. Com relação às diferenças de participação de
governo e iniciativa privada, é importante destacar os poucos incentivos
governamentais voltados ao setor e a baixa participação das empresas sobre o
total de doações privadas, que representam somente 3,2% do total de recursos.
Observa-se então que o Terceiro Setor cresce em números e em qualidade,
recebendo atenção da mídia e mobilizando mais recursos, abrindo várias
oportunidades de trabalho.
Entretanto a cultura da solidariedade e cidadania ainda é recente. Há setores
do Estado que temem a participação da sociedade como forma de intervenção em
suas áreas de administração. Mas essa resistência e desconfiança de ambas as
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partes estão sendo superadas conforme as parcerias se realizam e solidificam.


Este novo padrão de relacionamento entre sociedade civil, Estado e mercado está
sendo testado em novas experiências de mobilização de voluntários para o
enfrentamento de questões definidas como de interesse público. Porém, é
necessário que as organizações divulguem seus projetos, disponibilizando
informações para atrair os voluntários.
A ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
(apud AS/GESET, BNDES, 2001) realizou uma extensa pesquisa junto aos seus
associados para compor um panorama geral da situação das ONG´s no país. A
pesquisa abordou diversos temas como a natureza das ações efetuadas, suas
atividades, situação institucional, orçamento e fontes de recursos, profissão e
funções exercidas pelos seus quadros, assim com histórico e ideários. A pesquisa
foi realizada com 145 entidades em um universo de 164 que era a quantidade de
associados da ABONG na época. Atualmente a associação possui 250 associados
e anunciou que realizará nova pesquisa.
Em relação ao formato jurídico a pesquisa revelou que 95% das ONG´s estão
registradas como associações sem fins lucrativos, que era a opção com menor
exigência burocrática para sua criação, com inexistência de patrimônio prévio e de
um instituidor, mas proíbe a distribuição de excedentes financeiros aos seus
dirigentes.
O setor de educação correspondia à maior concentração das organizações
com 29%. Há que se destacar o crescimento de um ramo de atuação dentro da
própria área de educação, a educação pela cidadania.
Em relação ao público-alvo pretendido pelas ONG´s, observa-se que o
principal destino das atividades realizadas são as crianças e os adolescentes, o
que demonstra a sintonia dessas organizações com questões de desenvolvimento
social.
A abrangência da maioria das instituições é de âmbito nacional buscando
assim maior legitimidade junto ao Estado e à população em geral, de modo a
gerar mais visibilidade e projeção.
Esta pesquisa demonstrou também que existe um grande número de
entidades de pequeno porte, cujo orçamento não ultrapassa de 500 mil dólares
por ano. Segundo os dados da ABONG, mais de 86% das organizações
possuíam, em 1993, orçamento inferior ao valor citado acima. Comparando-se
19

com dados de 1990, a conclusão é de que em três anos o número de entidades


com orçamento inferior a trinta mil dólares diminuiu fato também verificado em
relação às instituições que possuíam orçamento superior a um milhão de dólares.
É importante ressaltar que a amostra da pesquisa foi muita pequena em
relação ao total, já que no Brasil existem mais de 250.000 organizações inseridas
no Terceiro Setor.

1.6 Formatos legais de ONG´s no Brasil

Na legislação brasileira a pessoa jurídica “ONG” não existe, de acordo com


Souza (2007, p.3) elas estão registradas geralmente nas seguintes formas:
associações ou fundações.
As fundações são pessoas jurídicas de direito privado, mas não são
sociedades. As fundações são fruto de uma doação, de um instituidor que doa um
patrimônio para execução de um determinado objetivo. Uma vez constituída a
fundação, é necessário que o instituidor crie um estatuto, normas de
funcionamento e determine um grupo de pessoas com a função de gerenciar seu
patrimônio de acordo com seus objetivos. A partir do momento em que é instituída
a fundação se torna patrimônio da sociedade civil e seu doador não mais tem
controle sobre ele.
Na legislação brasileira existem fundações públicas e privadas. As privadas
constituem no exemplo acima e as fundações públicas são instituídas por lei.
A lei do Termo de Parceria, ou seja, a Lei Federal n° 9790, que entrou em
vigor em março de 1999 regulamentou os termos de criação das OSCIPs
(Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), incluindo na classificação
as pessoas jurídicas de direito privado e organizações sem fins lucrativos. As
OSCIPs são criadas pela iniciativa privada e obtêm um certificado emitido pelo
Governo Federal, que comprovam o cumprimento de determinados requisitos ao
analisar o estatuto da instituição e a transparência administrativa. Algumas
vantagens desse título é que não exigem tanta burocracia quanto os outros títulos e
podem receber recursos provenientes do incentivo fiscal. As OSCIPs podem ter
como finalidade: assistência social, cultura e conservação de patrimônio histórico
ou artístico, educação, saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, entre
outras.
20

O título de utilidade pública é concedido as associações civis sem fins


lucrativos e a fundações. Para se candidatar a obter o título a organização tem
que ser constituída no país, estar em funcionamento há mais de três anos e não
remunerar dirigentes, além de promover atividades compatíveis com o título.
As ONG´s e os institutos não possuem definições legais. Instituto não é uma
designação jurídica. Pode-se fazer uma fundação com nome de instituto, uma
cooperativa, uma ONG, uma OSCIP, enfim, qualquer coisa. Já as ONG´s de
acordo com Souza (2007, p.5) apesar de não serem reconhecidas legalmente na
legislação brasileira possuem um reconhecimento cultural, político e sociológico
internacionalmente.

2 O DEFICIENTE VISUAL NO BRASIL

2.1 Aspectos da Deficiência Visual

Nas últimas décadas é crescente na sociedade o movimento pela defesa dos


direitos das pessoas portadoras de deficiência. De acordo com a legislação
brasileira, deficiência é definida como “uma restrição física, mental ou sensorial, de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico
e social”.
21

Durante muitos anos as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência


eram tratadas às margens da sociedade, sendo segregadas em hospitais e
instituições. Mas devido à iniciativa de alguns cidadãos, em sua maioria os próprios
deficientes ou seus familiares, que visavam à conscientização da sociedade, essa
discriminação conseguiu ser amenizada. Porém, apesar da discriminação não ter
sido eliminada por completo, a sociedade despertou para as necessidades daquelas
pessoas que de alguma forma possuem limitações, sejam elas físicas, biológicas ou
mentais, buscando cada vez mais a sua inclusão social. Segundo Gil (1989, p. 2) “a
cooperação constitui premissa essencial para a integração do deficiente visual no
mundo do trabalho, aproveitando à sociedade o seu potencial criativo, reabilitando-o
enquanto cidadão participante e produtivo e afastando-o de estigmas e preconceitos
geradores de graves problemas sociais”.
Atualmente, devido à evolução cultural e social, é transmitido o pensamento
de que a sociedade e os portadores de deficiência devem buscar juntos a integração
social. Perdeu-se aquele pensamento antigo de que apenas os portadores de
deficiência deveriam lutar por sua inclusão.
Segundo Amiralian (1997, p.21) para a compreensão das pessoas cegas é
importante o entendimento de sua deficiência básica: uma limitação perceptiva. “As
pessoas cegas são portadoras de uma deficiência sensorial - a ausência de visão -,
que as limita em suas possibilidades de apreensão do mundo externo, interferindo
em seu desenvolvimento e ajustamento às situações comuns da vida”.
No Brasil, a definição legal de deficiência visual consta no decreto n° 3298, de
20 de dezembro de 1999, como “acuidade visual igual ou menor que 20/200 no
melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de
Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações”.
À clareza da visão denomina-se acuidade visual, que oscila entre a visão
completa e a falta de visão. Segundo Rocha e Ribeiro-Gonçalves (1987, p.31) a
acuidade visual é “o grau de aptidão do olho para discriminar os detalhes espaciais”.
À medida que a acuidade diminui, a visão torna-se cada vez mais imprecisa. A
diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa e profunda, sendo
estes o grupo de visão subnormal ou de baixa visão. E a cegueira constitui na
ausência total da resposta visual.
De acordo com o website do Instituto Benjamin Constant é considerado
portador de baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber
22

luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu


desempenho. Uma pessoa com acuidade visual em torno de 10% consegue se
orientar ao ar livre, mas não é capaz de ver imagens de uma televisão com nitidez.
Uma acuidade visual em torno de 40% e 50% normalmente é o suficiente para
reconhecer o texto de um jornal. No entanto, estes valores mudam de acordo com
outros fatores como a percepção da luz. Conforme Amiralian (1997, p.29) “cego não
é aquele que nada enxerga, pois é muito rara a ausência total da percepção visual. A
grande maioria daqueles a quem denominamos cegos frequentemente distingue o
claro do escuro, percebe vultos e conta dedos a uma determinada distância”.
A cegueira é classificada pela ausência total de visão até a perda da
percepção luminosa. Ainda conforme Amiralian o conceito médico de cegueira é a
medida da capacidade visual das pessoas portadoras de deficiência no órgão da
visão. A cegueira total pressupõe completa perda da visão. A visão é nula, isto é,
nem a percepção luminosa está presente. Apesar disso constatou-se que pessoas
com a mesma acuidade visual apresentavam eficiência visual diferentes.

2.1.1 Possíveis causas da deficiência visual

Existem inúmeras doenças que podem afetar a visão, podendo diminuir a


capacidade visual e até levar a perda total dela. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (apud ROCHA e RIBEIRO-GONÇALVES, 1987, p.61) as mais
comuns e informadas por serem os maiores agentes causadores de deficiências
visuais em países em desenvolvimento como o Brasil são: catarata, hipovitaminose
A, tracoma e oncocercose.
A catarata é uma doença em que o cristalino, que é a lente natural do olho,
situada atrás da pupila, torna-se opaco, impedindo a passagem de luz até a retina,
onde as imagens são formadas e transmitidas ao cérebro. A pupila torna-se
esbranquiçada e o cristalino fica com uma coloração leitosa. A formação da imagem
fica parcial ou totalmente prejudicada. A forma mais comum de catarata é a que
acontece depois dos 60 anos de idade, como resultado do envelhecimento. No
entanto, a catarata pode acontecer antes dessa idade por vários outros fatores como
traumatismos, inflamações oculares, predisposições genéticas ou defeitos
congênitos, diabetes, exposição à luz ultravioleta, desnutrição, tabagismo e o uso de
determinados medicamentos. Há uma forma de catarata que atinge crianças recém-
23

nascidas, a catarata congênita. Ela é principal causa de cegueira na infância


sendo responsável em média por 10% a 38,9% dos casos.
A hipovitaminose A se manifesta inicialmente com a baixa acuidade visual
crepuscular e noturna. Logo depois vem a perda do brilho dos olhos causado por
dessecação, que leva a sensação de “olho seco”. Já então pode ser observado uma
mancha branca e espumosa nos cantos do olho, que se estende até a córnea
causando a perda de sensibilidade. Em um estágio mais grave a córnea se
apresenta mole e embaciada predispondo a perfuração e a perda do olho. Essa
doença pode ser prevenida com o consumo de alimentos ricos em vitamina A, como
cenoura, fígado e ovo.
O tracoma é uma doença presente nas regiões carentes de higiene e nutrição
onde há altos índices de pobreza e promiscuidade. È uma doença crônica e
contagiosa causada pelo vírus Chlamydia trachomatis que tem o homem com
hospedeiro. As secreções oculares e nasais de indivíduos infectados constituem na
fonte de transmissão da doença. Não existe uma vacina que garanta por completo a
imunização. Então os agentes preventivos seriam melhoria das condições de vida,
combate ao agente causal através de antibióticos.
A oncocercose é uma doença crônica causada pela filária Onchocerca
volvulus que nas pessoas causa nódulos fibrosos na pele e tecidos subcutâneos,
quando na cabeça atingem frequentemente os olhos causando lesões como:
conjuntivite, catarata, ceratite entre outros. A transmissão da oncocercose é feita
pela picada da mosca negra infestada, da espécie Simulium damnosum que se
prolifera apenas em rios de rápida movimentação. Os principais focos no país estão
concentrados na região norte entre os índios Yanomana, na parte ocidental de
Roraima e norte do Amazonas.

2.2 A Deficiência no Brasil

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (apud Manual do Instituto


Ethos, 2002) calcula-se que exista cerca de 610 milhões de pessoas com deficiência
no mundo, das quais 386 milhões fazem parte da população economicamente ativa.
Avalia-se que 80% do total vivam nos países em desenvolvimento. Isso acontece
porque os chamados países de terceiro mundo apresentam maiores índices de
24

acidentes de trabalhos e de violência urbana, o que contribui para o aumento do


número de jovens com deficiência.
No Brasil, segundo o Censo realizado em 2000 pelo IBGE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística e divulgado em 2002, existem 24,5 milhões de brasileiros
portadores de algum tipo de deficiência. O critério, utilizado pela primeira vez nesse
levantamento, foi o da CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde, recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Conforme esse conceito, 14,5% da população brasileira apresenta alguma
deficiência física, mental, ou dificuldade para enxergar, ouvir ou locomover-se. Os
dados do Censo mostram também que, no total de casos declarados de portadores
das deficiências, 8,3% possuem deficiência mental, 4,1% deficiência física, 22,9%
deficiência motora, 48,1% visual e 16,7% auditiva. Entre 16,5 milhões de pessoas
com deficiência visual, 159.824 são incapazes de enxergar, e, entre os 5,7 milhões
de brasileiros com deficiência auditiva, 176.067 não ouvem. Constata-se que do
universo de deficientes no Brasil, quase a metade é representada por deficientes
visuais. E calcula-se que se fossem tomadas medidas preventivas esses dados
poderiam ser reduzidos pela metade.
De acordo com o Manual O que as Empresas podem fazer pela Inclusão das
pessoas com Deficiência (2002), publicado pelo Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade social, existem hoje mais de 280 mil alunos com deficiência
matriculados em escolas especiais de 1° a 8° séries, outros 300 mil em classes
regulares nessas mesmas séries e apenas nove mil deles conseguem chegar ao
ensino médio. E dos mais de 24 milhões de deficientes, nove estão em idade de
trabalhar, mas apenas 11% exercem alguma atividade remunerada e somente 2,2%
trabalham com carteira assinada.
Apesar do desenvolvimento tecnológico que permitiu que os portadores de
deficiência tivessem autonomia, ainda existe muito a ser feito para a inclusão do
portador de deficiência no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Os
avanços em termos de acesso à educação e progressos nas comunicações, na
tecnologia e na informática, têm ampliado as condições de participação das pessoas
com deficiência. Afinal, grande parte dessas pessoas tem limitações que podem ser
superadas num ambiente adequado. Neri (s/d) afirma que:
25

... a integração das pessoas portadoras de deficiência no processo


produtivo é um dos maiores obstáculos para a sua inclusão social. Há
ainda preconceitos em relação à sua capacidade contributiva em um
conceito competitivo que hoje orienta o mundo empresarial, este
preconceito está relacionado ao desconhecimento acerca das reais
possibilidades do portador de deficiência de se inserir como agente ativo do
processo de produção, desde que lhe sejam dadas as oportunidades de
desenvolvimento de todo o seu potencial. (NERI, s/d, p. 13)

Ainda conforme o autor a inclusão no mercado de trabalho é um requisito


básico para o objetivo maior que é a integração dos portadores de deficiência na
sociedade. A integração social, por sua vez, é o processo de favorecimento da
convivência de alguém tido como diferente, com os demais membros da sociedade,
tidos como supostamente iguais. Neste processo a pessoa portadora de deficiência,
por seus próprios meios e esforços, busca integrar-se à sociedade, que,
simplesmente a recebe, sem ter se preparado para tanto, com a busca de
informações sobre as deficiências, suas limitações e as capacidades do portador.
Temos também o conceito de inclusão social, onde a sociedade se prepara e se
modifica para receber a pessoa portadora de deficiência, em todas as áreas do
processo social.
A atuação do Ministério Público do Trabalho, de acordo com o Instituto Ethos,
vem sendo de grande importância no processo de inclusão dos portadores de
deficiência no mercado de trabalho. As políticas públicas vêm incorporando novos
conceitos relacionados à inclusão e à capacitação para o trabalho das pessoas com
deficiência. A demanda criada pela regulamentação da chamada Lei das Cotas, que
reserva vagas para deficientes tanto na esfera pública quanto na esfera privada, tem
estimulado a realização de projetos em parceria com entidades especializadas e as
empresas para a formação e encaminhamento dos portadores de deficiência.
O Decreto de número 3298, de 20 de dezembro de 1999, dispôs sobre a
Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Visando à
integração do deficiente na sociedade, este documento regulamenta questões de
saúde, educação, habilitação e reabilitação profissional, acesso ao trabalho, cultura,
desporto, turismo e lazer, representando o movimento da sociedade em direção à
integração e aceitação das diferenças físicas.
A garantia de acesso ao trabalho para as pessoas com deficiência, como já foi
citado, é prevista na lei brasileira.
26

De acordo com o Fonseca (s/d) ela determina que as empresas com mais
de cem empregados contratem pessoas com deficiência, segundo as seguintes
cotas:
• de 100 a 200 empregados, 2%;
• de 201 a 500 empregados, 3%;
• de 501 a 1.000, 4%;
• e acima de 1.000 funcionários, 5%.
Outra lei, de número 8.112 impõe que a União reserve, em seus concursos,
até 20% das vagas a portadores de deficiências, havendo iniciativas semelhantes
nos Estatutos Estaduais e Municipais, para o regime dos servidores públicos.
Mesmo não existindo algum tipo de punição para instituições que não
cumprirem essas cotas, o crescimento da consciência social e a ação fiscalizadora
do Ministério Público têm ampliado o número de empresas que estão de acordo com
a legislação, estimulando-as a manter, e até superar em alguns casos, o número de
vagas destinadas a pessoas com deficiência prevista na lei.
Segundo Neri (s/d) a inclusão de deficientes em uma empresa acaba gerando
uma imagem positiva, acima de tudo, preenche uma necessidade da sociedade.
Uma justificativa econômica para empregar pessoas portadoras de deficiência é que
eles podem ser caracterizados como um recurso produtivo inexplorado, que se
instrumentado tecnologicamente e de forma adequada, pode alcançar um ótimo
desempenho. Algumas pesquisas demonstram que trabalhadores portadores de
deficiência geralmente atingem altos níveis de desempenho no trabalho e possuem
maiores índices de freqüência e devoção. Além disso, empregar portadores de
deficiência promove um processo de humanização que se reflete diretamente nos
empregados e clientes da empresa. Por outro lado, empresas tidas como
discriminadoras apresentam uma imagem negativa junto aos clientes, além de
serem consideradas alheias às suas responsabilidades e participações sociais.

2.3 Outros fatores de inclusão social do deficiente visual

Na humanidade, a história da deficiência visual foi escrita como outros tipos


de deficiência, seus conceitos acompanharam a evolução das crenças, valores
culturais e sociais e a própria concepção do homem. Segundo Shakespeare (1977,
p. 18) “a sociedade não é apenas um pano de fundo para a pessoa deficiente, é uma
27

força que imprime determinada forma à sua própria vida”. A maneira como o
deficiente visual é inserido determina sua vida e isso se dá a partir dos valores e da
cultura da sociedade em que vive e das condições que se oferecem. Em uma
sociedade completamente centrada no visual, a cegueira acaba tornando-se muito
mais importante.
Conforme afirma Neri (s/d) a inclusão é um processo recíproco, em que a
sociedade se adapta à recepção das pessoas com necessidades especiais e estas
pessoas, em contrapartida, se preparam para assumir seus papéis nesta sociedade.
Ainda não há, entretanto, a inclusão da maneira como seria ideal. No Brasil, a
legislação já é um grande apoio, mas ainda persistem valores que dificultam a
integração do deficiente na sociedade. Conforme Fonseca (s/d) “a condição de
exclusão das pessoas com deficiência do convívio social é milenar e reveladora do
quão distante estão estas pessoas de condições mínimas de cidadania erigidas
desde o princípio da cultura ocidental”. As estruturas físicas da cidade e empresas
não permitem total autonomia de movimento aos portadores de deficiência, isso
acontece pela falta de informação e interesse da sociedade.
A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou no dia 9 de dezembro de
1975 a Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, que
defende os direitos da pessoa deficiente no que diz respeito a sua dignidade e de ter
suas necessidades levadas em consideração sobre todos os aspectos do
planejamento socioeconômico. Nos anos seguintes foram tomadas inúmeras ações
com o intuito de garantir que os portadores de deficiência tivessem o mesmo
tratamento que qualquer outro cidadão.
Nas últimas décadas foram ações isoladas de familiares e do próprio portador
de deficiência que trouxeram à tona a preocupação de promover e implementar a
participação de pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidades especial na
sociedade. O objetivo é resgatar o respeito humano e a dignidade, no sentido de
possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade. É
necessário esclarecer que os familiares dos portadores de deficiência acabam
tornando-se pessoas com necessidades especiais também, pois precisam de
orientação e acesso a grupos de apoio para aprender a lidar com a deficiência assim
como o portador dela. A esses familiares pede-se que aceitem uma realidade que
não foi prevista e que não desejam, afinal é uma realidade pouco explorada e
informada a eles.
28

Os meios de comunicação e os meios sociais pouco abordam o tema e


quando o fazem é de maneira superficial. Cada deficiência gera um tipo de reação,
preconceito e inquietação da comunidade. As deficiências físicas mais visíveis como
ausência de visão, membros ou paralisia causam apreensão imediata. As outras
deficiências menos percebidas como a mental e auditiva causam mais estresse à
medida que se toma conhecimento dela. A falta de conhecimento da população a
respeito do assunto faz com que a deficiência seja vista como um peso, um
problema. Segundo Maciel (2000, p.53) esse estigma da deficiência precisa acabar,
pois transforma os deficientes em seres incapazes e indefesos, sem direitos e quase
sempre deixados de lado. É necessário trabalho árduo para superar este estigma.
Essa situação é ainda mais marcante com as camadas mais carentes, aonde a falta
de recursos diminui a chances de um atendimento de qualidade, com chances de
habilitação e prevenção. O potencial dessas pessoas é pouco valorizado em suas
comunidades de origem, agravados pela situação social, pouca escolaridade e falta
de esclarecimento sobre as deficiências.
Ainda conforme Maciel (2000, p.54) o primeiro passo na inserção do
deficiente na sociedade pode se dar pela sua inserção na escola regular, uma
vivência sem diferenças, como fazem as demais crianças e jovens. Até pouco tempo
atrás a educação dos deficientes, de qualquer tipo, acontecia em escolas especiais
que criavam uma barreira, separando cegos dos videntes, uma indicação transmitida
já para as crianças de que a diferença é razão de segregação. De acordo com Maria
Regina Maciel, presidente da Associação Terceiro Milênio-Centro de Democratização
das Ciências da Informação;

Ao entrarem para a escola, as crianças que possuem alguma necessidade


educativa especial terão que se integrar e participar obrigatoriamente de
três estruturas distintas da dinâmica escolar: o ambiente de aprendizagem;
a integração professor-aluno; e a interação aluno-aluno. A partir da análise e
adequação destas estruturas e do levantamento de alternativas que
favoreçam o desenvolvimento dos alunos, em geral, e dos portadores de
necessidades educativas especiais, em particular, é que a inclusão escolar
deve ter início. (MACIEL, 2000, p.54)

Deste modo é preciso analisar toda a estrutura escolar, e ter certeza de que
todas as barreiras foram superadas: é preciso verificar se a escola oferece materiais
adequados, se o aluno está sendo auxiliado e estimulado por professores. Para que
haja uma verdadeira integração entre alunos deficientes e professores, é importante
29

também que os educadores estejam informados sobre os vários tipos de


deficiência e seus agravantes. O professor precisa antes de tudo ter um amplo
conhecimento e visão desta área, que deve ter origem em sua formação acadêmica.
Atualmente são poucas as escolas e universidades que formam professores
capacitados para atender todas as necessidades dos portadores de deficiência, pois
eles não abordam a questão da deficiência em seus currículos. Existe uma urgência
em mudar esta realidade, pois é perceptível o número de pessoas deficientes que
reconhecem seus direitos e buscam sua inserção na sociedade. É indispensável a
atualização dos profissionais através de cursos. É importante para a integração total
entre alunos e professores que estes procurem o máximo de informações possíveis
a respeito do aluno, que procurem os familiares para ter conhecimento do histórico
de vida e ser capaz de traçar estratégias que estimulem a relação família e escola.
Devem conversar com especialistas da área como: psicólogos, fisioterapeutas, entre
outros, de modo a pesquisar técnicas de ensino e métodos experimentais que
possam favorecer o desenvolvimento da linguagem, o desenvolvimento físico e
principalmente promover a integração social. Essa integração só ocorre quando o
professor possui uma visão sem preconceito, favorecendo continuamente o
desenvolvimento dos alunos com necessidades educativas especiais.

3 O INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS

3.1 Delineamento de pesquisa

Este trabalho visa analisar a atuação do Instituto Paranaense de Cegos no


processo de inserção socioeconômica do portador de deficiência visual. Dessa
forma, pretende-se responder às hipóteses de que o IPC proporciona programas de
reabilitação que permitem a inserção do deficiente visual na sociedade e de que a
organização realiza trabalhos junto à comunidade que ajudam no esclarecimento da
população em relação às deficiências visuais. Para atingir os objetivos propostos,
será utilizado o método de estudo de caso junto à organização.
O tipo de pesquisa utilizada será aplicada de caráter qualitativo, na qual serão
estudados documentos referentes ao histórico organizacional, estatuto, estudos
realizados sobre o instituto e entrevista com o presidente do IPC. Assim o método de
coleta de dados será estudo de caso, pois busca analisar profundamente o assunto
30

em vigor, compreendendo todas as etapas do processo desde a sua concepção,


passando pelo planejamento até sua aplicação.
Conforme Merrian (apud WIMMER, 1996, p.161) “o resultado final do estudo
de caso é a descrição detalhada do assunto submetido à indagação” por isso a
pesquisa realizará uma análise geral dos aspectos estratégicos e mercadológicos do
Instituto Paranaense de Cegos e por fim a estratégia de comunicação feita pela
instituição.
Ainda de acordo com o autor, o estudo de caso ajuda a compreender melhor
o objeto analisado, obtendo novas interpretações e perspectivas que antes
passaram despercebidas. O estudo analisará de forma integral o Instituto
Paranaense de Cegos e suas ações no processo de inserção do deficiente visual:
quais os serviços oferecidos, os apoios prestados e como isso modifica o
comportamento do portador de deficiência visual, suas relações familiares e seu
universo social. Segundo Duarte (2005, p.216) “o estudo de caso deve ter
preferência quando se pretende examinar eventos contemporâneos, em situações
onde não se podem manipular comportamentos relevantes”.
Algumas desvantagens desse método é que muitas vezes são considerados
como um tipo de “abordagem intuitiva, derivada de observação de documentos
pessoais, sem um plano de amostragem adequado ou verificação de vícios e
distorções resultantes de pontos de vistas pessoais sobre a realidade social”.
(GOODE; HATT apud DUARTE, 2005, p. 215). O projeto de estudo será feito em
três etapas de forma a elaborar um planejamento sistemático na coleta de
informações. O primeiro passo é estabelecer fontes de dados para o estudo que
será feito em sua maioria junto à instituição. Depois é necessário realizar uma coleta
de dados com base nas características do objeto estudado e por último interpretar
os dados.
O tema dessa pesquisa foi escolhido para avaliar a real participação de uma
ONG e seus esforços na inserção do deficiente visual na sociedade e no mercado
de trabalho, visando à melhoria de vida para essas pessoas e maior esclarecimento
e participação da sociedade durante esse processo. Depois de realizar o estudo os
dados serão analisados para verificar como uma organização não governamental
atua de forma a gerar ações práticas para inclusão social dos portadores de
deficiência visual.
31

3.2 Histórico do Instituto

De acordo com o Instituto Paranaense de Cegos, a instituição mantém um


histórico desde seu surgimento em 1939. Os dados são mantidos pela entidade e
atualizados constantemente com a intenção de manter um acompanhamento do seu
desenvolvimento. De acordo com o histórico a entidade surgiu com o intuito de
proporcionar as pessoas portadoras de deficiência visual uma oportunidade de
aprender novos ofícios e inserir-se na sociedade, atuando na habilitação ou
reabilitação de pessoas cegas ou com visão sub-normal.
No dia primeiro de fevereiro de 1939 o Doutor Salvador de Maio fundou o IPC
e tornou-se seu primeiro presidente. Em 30 de janeiro de 1948, foi criada a Escola
de Educação Especial Professor Osny Macedo Saldanha, a única do gênero no
Estado, pois é especializada no Método Braille. É uma escola de ensino fundamental
e está localizada em anexo ao instituto. A escola atualmente conta com noventa e
sete alunos que recebem atendimento em diversos serviços como: Braille, sorobã,
orientação e mobilidade, apoio e escolaridade (ensino fundamental e médio) e
estimulação visual. São quatro professores do quadro do próprio magistério e mais
dois contratados pelo repasse de verbas da Secretária de Educação.
Desde o primeiro momento o instituto teve sua sede instalada na Avenida
Visconde de Guarapuava nº. 4186, na cidade de Curitiba. O prédio no qual está
instalado o instituto foi cedido em comodato pelo então interventor federal Manoel
Ribas. O comodato teve fim no dia 31 de dezembro de 2006 e atualmente a entidade
está solicitando judicialmente a doação do local.
A organização, que surgiu como uma iniciativa solidária da comunidade,
tornou-se referência nacional e internacional em sua área de atuação, realizando
diversas ações de incentivo a educação e ao desenvolvimento social do portador de
deficiência visual. Para Passos (2007), o IPC realmente promove a inserção do
portador de deficiência visual na sociedade: “quantas crianças do interior do Paraná
que se criaram aqui dentro hoje são professores, advogados, assistentes sociais. Se
não fosse o instituto o cego estaria pedindo esmola até hoje”.
Conforme o presidente Manuel Passos, o IPC está planejando atualmente
ações de longo prazo de modo a criar uma estabilidade financeira que permita ao
instituto tornar-se independente. O instituto nasceu com a missão de proporcionar
serviços de qualidade aos portadores de deficiência visual auxiliando no seu preparo
32

para o convívio com a sociedade. Entretanto existem muitas barreiras a serem


enfrentadas quando se trata da inserção social do deficiente, grande parte devido ao
preconceito existente na sociedade, agravado pela falta de esclarecimento e
convivência com os mesmos. Além disso, existe um despreparo da própria entidade
que guarda vícios e valores de décadas passadas.
A Instituição oferece diversos serviços voltados ao deficiente visual, entre eles
atividades com o intuito de promover integração e desenvolvimento. Além disso,
procura albergar e asilar deficientes visuais que não apresentam condições de
sobrevivência junto à sociedade, pois muitos dos deficientes visuais apresentam
doenças associadas como: deficiência mental, motora, etc.
Os objetivos do Instituto Paranaense de Cegos encontram-se descritos no
capítulo dois do seu Estatuto: (ANEXO A)

Art. 2º - O IPC tem por objetivos:

I - proporcionar aos cegos ou portadores de visão subnormal reabilitação


através da instrução e aprendizagem adequadas, de modo a adquirirem
condições que lhes permitem viver com os seus próprios recursos;
II - manter e criar programas especiais para cegos e portadores de visão
subnormal;
III - receber, por tempo limitado, pessoas cegas ou portadoras de visão
subnormal, cadastradas, procurando, por meio de convênios e outras
formas, a sua colocação no mercado de trabalho;
IV - diligenciar a internação ou tratamento em estabelecimentos
especializados, capaz de atender à necessidade do interno;
V - atuar junto aos pais e responsáveis em favor de crianças cegas e
portadoras de visão subnormal para encaminhá-las ao IPC, onde serão
orientadas na escolha do estabelecimento de ensino ou aprendizagem
compatível com a índole e condições especiais da criança;
VI - estimular ações e participar de campanhas de prevenção contra a
cegueira e outros males de visão, envolvendo órgãos de saúde pública no
combate às suas causas;
VII - manter intercâmbio com outras instituições afins, religiosas ou não,
visando ao aprimoramento de suas atividades;
VIII - estender o atendimento aos cegos e portadores de visão subnormal,
externo do IPC, quando a capacidade física e financeira o permitir.

Segundo Passos (2007) para que os objetivos da entidade sejam


transformados em ações válidas é necessário um apoio financeiro. O Instituto
atualmente tem sua renda concentrada em pequenas doações dos associados e em
aluguéis de imóveis e outdoors localizados em sua propriedade. De acordo com o
33

presidente do IPC, o instituto convive hoje com uma alta dívida, e para atingir um
plano financeiro ideal seria necessária uma alta participação da sociedade. Segundo
Passos (2007) para instituir uma mudança na sociedade é preciso que as pessoas
mudem a concepção que possuem dos deficientes visuais: “a sociedade tem que
acreditar que os deficientes visuais só não têm a visão, que a mente funciona
normal, os braços, o corpo, enfim tudo é normal”.

3.3 Análise SWOT

De acordo com o website Design Brasil a análise swot é uma


ferramenta de gestão utilizada no planejamento estratégico de uma
empresa com o objetivo de verificar a posição estratégica do
empreendimento. Segundo o site “as forças e fraquezas são determinadas
pela posição atual da empresa e se relacionam, quase sempre, a fatores
internos. Já as oportunidades e ameaças são antecipações do futuro e
estão relacionadas a fatores externos”. Os fatores internos podem ser
controlados pelos dirigentes da organização, já que são resultados da
atuação estratégica definida pelos mesmos. O ambiente externo está fora
do controle da organização, mas deve ser monitorado continuamente de
forma a prevenir as ameaças e aproveitar as oportunidades.

Quadro 1: Matriz Swot

FORÇAS FRAQUEZAS OPORTUNIDADES AMEAÇAS


Credibilidade em Não é auto- O aumento da Permanente
sua área de sustentável preocupação com a possibilidade de o
atuação prática do governo solicitar o
desenvolvimento imóvel
sustentável
Tradição, pois Vive de pequenas A conscientização Desistência dos
existe há quase doações e da sociedade para doadores de
setenta anos. parcerias os problemas continuar ajudando
sociais que resulta
no apoio de
empresas e da
comunidade
Referência em Falta de estrutura Desistência dos
34

ensino para própria anunciantes de


reabilitação de outdoor
cegos
Boa localização Dívidas altas Desistência das
parcerias estatais
Estrutura adequada Débitos mensais no Possibilidade de
para os serviços valor de 19 mil corte de luz e água
que presta reais
Cursos e oficinas Altos custos dos
aos internos equipamentos e a
velocidade de
renovação
tecnológica

Fonte: Elaboração própria

Através de observação informal não-estruturada e entrevistas com Manuel


Cardoso - Presidente do IPC - e Fernando Elias - Tesoureiro do instituto - foi possível
coletar diversas informações que resultaram em uma análise da situação atual da
organização. O Instituto Paranaense de Cegos se mantém há quase setenta anos,
em uma trajetória que já faz parte da história da cidade de Curitiba. Essa tradição e
credibilidade são grandes pontos fortes da instituição que se tornou referência
nacional e internacional na área de ensino e reabilitação para cegos. A entidade
apresenta diversos programas de apoio e suporte para deficientes visuais com
acompanhamento médico e alimentício durante todo o processo. Possui cursos e
oficinas para os deficientes visuais e utiliza o trabalho gerado por eles como fonte de
renda para o IPC.
A maior fraqueza do instituto é a dificuldade de auto-sustentabilidade e
dependência de pequenas doações para se manter. Essa dependência financeira
com o decorrer dos anos gerou inúmeras dívidas que acabaram por acumular-se e
hoje atingiram um valor de quase trezentos mil reais. Com a venda de alguns
terrenos antes doados já foi quitada metade da dívida mas ainda persiste um valor
de mais de cem mil reais. A falta de uma estrutura própria da instituição persiste em
uma fraqueza podendo até tornar-se ameaça se o governo, proprietário do prédio na
qual se situa a instituição, decidir solicitar o espaço. Outra ameaça é a desistência
dos doadores de continuar ajudando e dos anunciantes dos outdoors que ficam
dentro da propriedade do IPC, pois estes constituem praticamente toda a renda da
organização. Como a organização não paga conta de luz e água corre o risco de ter
ambos cortados pelos órgãos responsáveis. O instituto perdeu em abril de 2007 o
pedido de isenção do pagamento de água junto à Sanepar e se mantém abastecido
35

atualmente através de uma ordem judicial. Os altos custos dos equipamentos


especializados para deficientes visuais e a velocidade de renovação tecnológica
também consistem em dificuldades para a entidade. As maiores oportunidades
apresentadas às organizações não governamentais é o contínuo crescimento da
preocupação social por parte da sociedade em geral e da prática do
desenvolvimento sustentável que leva as empresas em investirem nas organizações
sem fins lucrativos.

3.4 Análise documental

No ano de 2006 o Instituto Paranaense de Cegos solicitou uma parceria com


a Sanepar para a implementação de ações de responsabilidade social. Com este
pedido a Sanepar realizou uma análise da situação do instituto e sua atuação na
comunidade. O trabalho foi realizado por funcionários voluntários de diversas áreas
da empresa e gerou um relatório, conforme Anexo B.
A pesquisa visou levantar informações sobre a situação financeira da
entidade, conhecer os programas desenvolvidos, o desenvolvimento de sua gestão,
o diagnóstico social e uma análise do contexto atual. O trabalho não procurou
analisar questões legais ou fiscalizar atos administrativos e financeiros. As técnicas
utilizadas pelos funcionários da Sanepar foram: visita as unidades do instituto,
entrevista com funcionários e internos, pesquisa fotográfica, vistoria das instalações
e registro de dados.
A pesquisa levantou dados históricos, informações relativas ao estatuto como:
objetivos da instituição e origem do patrimônio. Foi realizada uma vistoria profunda
de toda a instalação e as condições que se encontram. Comprovou-se que as
instalações estão em boas condições e que os serviços básicos funcionam com
eficiência. A lavanderia é muito bem equipada, com estrutura profissional e atende a
todos os internos. A dispensa é bem organizada e farta, apesar de ser mantida em
sua maior parte por doações. A cozinha possui uma ótima estrutura, muito bem
equipada atendendo todas as necessidades dos internos. O refeitório tem boa
estrutura, mas as refeições são servidas separadas para homens e mulheres,
dificultando a integração entre os internos. Os quartos estão em boas condições,
36

são arejados e possuem banheiros anexos, mas os colchões, cobertas e lençóis


estão em condições ruins. Além disso, não existe uma separação dos quartos por
idade ou capacidade produtiva. Os banheiros são amplos e adaptados aos
cadeirantes e pessoas com dificuldades de locomoção.
Existe um quadro de funcionários fixos composto por: um advogado, que é
deficiente visual e também atua como coordenador pedagógico da escola; dois
auxiliares gerais responsáveis pela alimentação, limpeza, e conservação das
instalações; uma assistente social, responsável pelos programas de atendimento
aos internos e à comunidade deficiente visual; um enfermeiro padrão, pois há
sempre um enfermeiro de plantão; cinco auxiliares de enfermagem, que exercem a
higienização dos leitos, alimentação, medicação, pequenos curativos,
acompanhamento das consultas médicas e banho aos enfermos; um técnico de
contabilidade; quatro auxiliares de cozinha; cinco auxiliares de limpeza; um
motorista; um porteiro, deficiente visual; uma telefonista e duas secretárias.
A pesquisa estabeleceu também as parcerias e convênios com instituição. A
MIli oferece papéis e guardanapos, a Piguel oferece pães, diariamente, a Celepar
disponibiliza os computadores, apóio técnico e instrutores. A UNICENP e a
Academia Gustavo Borges disponibilizam o espaço para aulas de natação, a TUIUTI
oferece o espaço e equipamentos para a realização de fisioterapia, a Ceasa oferece
frutas e verduras, a Risotolândia doa pratos de comidas preparados e a UTFPR
(Universidade Tecnológica Federal do Paraná) confecciona e doa as bengalas
especiais, bem como conserta as máquinas de Braille gratuitamente.
Foi realizada uma análise das condições do conjunto habitacional localizado
no bairro Santa Quitéria que era pertencente ao instituto. É um conjunto com dez
terrenos, que inicialmente continha dez residências. As casas eram cedidas ao cego
e seus familiares, em uma tentativa de proporcionar boas condições de vida e
integração com demais famílias de deficientes visuais. Porém os terrenos foram
divididos e mais casas foram construídas para moradia dos filhos dos deficientes ou
familiares deste. A situação das casas é extremamente precária, as relações sociais
são frágeis e os conflitos familiares grandes. Diante dos diversos problemas o
instituto, em assembléia geral, optou pela doação dos terrenos aos moradores.
O Instituto possui ainda uma chácara no bairro Campo Comprido, que é
composto pro um barracão com 915 metros aonde funcionava a fábrica de
vassouras, desativada há sete anos, mas com o maquinário em boas condições. O
37

presidente do instituto reside em uma casa anexa ao barracão. Na chácara


existe também uma sede esportiva em boas condições, com dois campos de futebol.
Porém a chácara necessita com urgência ser murada, pois foi invadida e casas
foram construídas no terreno do IPC.
A análise realizada pela Sanepar conclui que o IPC possui sérios problemas
organizacionais. A estrutura física precisa de adequação. Os espaços são mal
divididos de modo a causar desconforto e a dificultar a administração. Os aposentos
embora amplos não oferecem privacidade e a entidade necessita com urgência de
novos colchões e materiais de higiene básica como toalhas e roupas de cama.
Conclui-se também a falta de atividades diárias pré-estabelecidas,
proporcionando organização, desenvolvimento e autonomia dos internos. A falta de
atividades predispõe à dependência, dificultando a inserção dos mesmos na
sociedade e no mercado de trabalho. Os internos poderiam exercer atividades
simples, dentro do próprio instituto como auxiliar na cozinha, lavanderia. A falta de
um programa que estabeleça atividades físicas diárias também se mostrou como um
agravante na situação dos internos do instituto. A alimentação farta associada à falta
de exercícios físicos gera um visível excesso de peso nos internos dependentes,
situação que, aliada ao ócio, causa problemas de depressão.
Apesar do IPC oferecer diversas oficinas de aprendizagem, lazer e esportes,
não possuem continuidade em suas atividades por estas serem desenvolvidas por
voluntários. Aponta-se a necessidade de parcerias e convênios que possibilitem a
continuidade permanente destas oficinas.
O serviço de saúde e enfermagem é voltado inteiramente a cuidados de
higiene pessoal, sem programas específicos de saúde ou prevenção. O serviço
social não apresenta nenhum programa que estimule a integração entre comunidade
e internos como: festas de natal, festas juninas, eventos.
A unidade do Campo Comprido é pouco aproveitada, pois possui potencial
para desenvolvimento de várias atividades de desenvolvimento e geração de renda.
Além de possuir um espaço de lazer pouco aproveitado.
Percebe-se que o IPC é uma entidade importante no amparo ao deficiente
visual, mas necessita aumentar seu foco para o desenvolvimento pessoal e
intelectual do mesmo de modo a promover a integração e inserção social.

3.5 Entrevista com o presidente


38

No dia 29 de maio de 2007 foi realizada uma entrevista com Manuel Cardoso
dos Passos atual presidente do IPC vide em apêndice. Nesta entrevista foi possível
identificar as maiores dificuldades do instituto e as possíveis soluções que devem
ser tomadas para obter resultados efetivos.
Segundo o entrevistado uma das maiores dificuldades do IPC é a criação de
uma receita, pois como o Instituto depende doações a receita mensal é incerta. Um
mês eles recebem uma determinada quantia, outro mês outra quantia. Essa
incerteza financeira não permite a criação de planos em longo prazo, dificultando no
planejamento de campanhas e eventos. De acordo com Passos (2007) seu objetivo
para o futuro é “que o instituto ande com as próprias pernas, totalmente
independente. É difícil estar sempre pedindo e pedindo, tem que brigar, tem que
criar uma receita”. Ainda não existem projetos concretos que viabilizem essa idéia,
mas o presidente garante que está iniciando um planejamento para transformar isso
em realidade, ele afirma “nós estamos tentando, estamos tentando parcerias com as
empresas e com as fundações”, mas também se defende ao dizer que faz pouco
tempo que assumiu o cargo, apenas um ano, e que tudo está ainda no começo.
O IPC trabalha atualmente com uma despesa mensal em torno de trinta três
mil reais e consegue arrecadar somente quinze mil reais por mês (ANEXO B, p.19).
Com um débito mensal de 19 mil reais por mês, o instituto mantém como prioridade
o pagamento de seus funcionários. A falta do pagamento de tributos trabalhistas,
água, luz entre outros se acumulam em dívidas e para o pagamento dessas dívidas
o Instituto se desfaz de alguns patrimônios.
Segundo Passos (2007) o objetivo a ser atingido com um plano de
comunicação deve ser voltado para a resolução da maior dificuldade da entidade, a
financeira. Na década de oitenta o instituto contava com cerca de quinze mil
associados. Os associados são pessoas que se tornam sócias da instituição
contribuindo mensalmente com um valor mínimo de cinco reais. De acordo com
Passos (2007) o associado é o “dono” do instituto, são eles, em eleição direta, que
escolhem o presidente. Todas as decisões são tomadas em conjunto com os
associados, eles participam de todo o processo. Se hoje a entidade conseguisse
uma média de cinco mil associados, os problemas financeiros do IPC acabariam.
Em uma cidade que possui quase dois milhões de habitantes, de acordo com o
último censo, uma parcela de cinco mil não é inviável. Passos ainda afirma sobre a
39

importância de conscientizar a população da importância da organização: “é


preciso trazer a sociedade para dentro do instituto, mostrar o papel que a gente faz.
Estamos em funcionamento há 68 anos. A entidade só faz o bem para a sociedade.
Nós fazemos o papel do governo”. (Apêndice, p.49)
Para instituir essa mudança, é necessário além de mostrar à comunidade o
trabalho do IPC também demonstrar a sociedade o deficiente visual. De modo que
as pessoas entendam que apesar de ter uma limitação física o deficiente visual é
capaz de realizar diversas tarefas e ter uma vida normal. Passos afirma ”as pessoas
não acreditam que o deficiente visual é capaz de administrar sua própria casa”.
Ainda existe um preconceito muito grande em relação aos deficientes visuais. Tanto
é que o IPC foi administrado durante sessenta anos por pessoas videntes e há
apenas oito anos que começou a ser administrado por deficientes visuais.

3.6 Considerações finais

Com este trabalho foi possível desenvolver uma análise da situação geral do
Instituto Paranaense de Cegos, uma entidade que atualmente procura estabelecer
um novo posicionamento de auto-sustentação e liberdade, buscando mudar o
caráter assistencialista que nasceu com a sua criação. Verificou-se que a instituição
possui grandes dificuldades, mas também possui uma vontade genuína de gerar
mudanças e promover a integração do deficiente visual. A organização está no
mercado há sessenta e oito anos e precisa acompanhar as mudanças que ocorrem
cada vez mais rápidas. O Terceiro Setor está crescendo velozmente e o IPC
demorou em perceber o quanto é importante acompanhar este crescimento.
O Instituto percebe hoje suas necessidades, ações e reais oportunidades.
Com a nova presidência esperam-se agora resultados e planejamentos de longo
prazo que proporcionem frutos futuros, possibilitando que o instituto funcione por
outros setenta anos e até mais. Ao mesmo tempo, o IPC é reconhecido como uma
entidade responsável por diversos projetos de inclusão social do deficiente visual,
mas a carência do instituto e sua dependência financeira o impossibilitam de ir mais
longe. Além da situação financeira a entidade deveria investir também na sociedade,
para promover mudanças no comportamento das pessoas frente aos deficientes
visuais, incentivando a compreensão do mundo sob a perspectiva do deficiente
visual.
40

Comprovou-se ainda que o IPC realmente promove atividades que geram


a inclusão socioeconômica do portador de deficiência visual, mas as dificuldades do
instituto impedem que os trabalhos sejam mais pontuais e efetivos.
O IPC passou por diversas fases até chegar ao cenário atual, e atualmente
passa por um processo de reconceituação, sendo uma instituição que procurar
modernizar-se e vive a reconstrução de uma sociedade inclusiva.

CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível demonstrar de que forma as organizações do


Terceiro Setor promovem a inclusão social do portador de deficiência visual. O
Terceiro Setor se tornou atualmente um mecanismo social que movimenta em torno
de um trilhão de dólares ao ano no mundo. Com isto comprova-se a necessidade de
analisar se todos esses recursos trazem resultados eficazes de modo a gerar
retornos futuros.
Para analisar o processo de desenvolvimento das organizações não-
governamentais na integração do deficiente visual na sociedade foi necessária uma
análise do Terceiro Setor, demonstrando sua origem, suas necessidades e seu
contexto atual. E para analisar o Terceiro Setor foi preciso explicitar os outros
setores da economia, o primeiro setor e o segundo setor. A caracterização do
Terceiro Setor permite entender seu funcionamento e as dificuldades associadas à
criação de entidades sem fins econômicos.
O Terceiro Setor é uma realidade ainda nova, que nasceu da necessidade de
realizar mudanças no cenário mundial. Este setor cresce rapidamente, tentando
acompanhar as mudanças mundiais que conseqüentemente geram novas
necessidades humanas. O capitalismo trouxe grandes mudanças nas áreas
tecnológica e econômica, porém por outro lado gerou abismos sociais. Enquanto uns
possuem demais outros vivem na extrema miséria. A mudança no comportamento
da sociedade e a preocupação social são fatores que também vieram com o
capitalismo, pois a necessidade de criar uma sociedade mais igualitária e de
promover o bem estar social foi tão iminente que as pessoas perceberam a
importância de realizar ações ao invés de esperar do Estado.
41

Como forma de melhorar a situação atual das organizações voltadas aos


trabalhos sociais é preciso maior envolvimento da comunidade, pois apenas possuir
a informação, e não utilizá-la para instituir mudanças é inútil. É necessário
participação, interesse e vontade daqueles que são capazes de promover melhoria
na qualidade de vida das pessoas que não possuem meios para fazê-los.
Para ampliar os conhecimentos abordados nesse trabalho, recomendam-se
mais pesquisas que proponham novas maneiras de incluir o portador de deficiência
visual na sociedade, de modo que as pessoas valorizem o trabalho do deficiente
visual e o procurem por sua capacidade produtiva e não somente por obrigação
imposta pela lei. O maior fator de exclusão dos deficientes visuais consiste na falta
de esclarecimento da sociedade sobre a deficiência e suas limitações e na fraca
participação dos deficientes junto à sociedade. Como a sociedade convive pouco
com os deficientes visuais, pouco sabem sobre suas capacidades e limitações. A
convivência diminui e por conseqüência elimina a discriminação.
Este trabalho surgiu com o objetivo de informar as pessoas sobre as
entidades sem fins lucrativos que atuam com os portadores de deficiência visual, em
particular o Instituto Paranaense de Cegos localizado na cidade de Curitiba,
demonstrando também as capacidades produtivas dessas pessoas que apesar de
possuírem uma limitação física são capazes de fazer quase tudo que os videntes
fazem. Essa limitação não é motivo para que tais pessoas sejam excluídas da
sociedade sem poder participar de todo o processo social. Com este trabalho ,
portanto, comprova-se a importância da sociedade de procurar informações a
respeito das deficiências e de transpor as barreiras das diferenças em prol de um
bem maior: o bem estar de todos.
42

REFERÊNCIAS

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AMIRALIAN, Maria Lúcia T. M. Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da


cegueira por meio de desenhos-estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 321 p

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Terceiro setor: responsabilidade social e voluntariado. Curitiba: Champagnat, 2001.
78 p

BRUNO, Marilda Moraes Garcia. O desenvolvimento integral do portador de


deficiência visual: da intervenção precoce a integração escolar. 2. ed. São Paulo:
LAMARA, s/d. 144 p.

DESIGN BRASIL. O que é análise swot. Disponível no site


<http://www.designbrasil.org.br > Acesso em: 25 de junho de 2007.

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deficiência no mercado de trabalho. Disponível no site
<http://eureka.pucpr.br/entrada/index > Acesso em: 27 de abril de 2007.

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deficiência visual: uma abordagem sociológica. São Paulo: Faculdade da Cidade
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MACIEL, Maria Regina Cazzaniga. Portadores de Deficiência: a questão da


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MENEGASSO, Profª. Maria Ester. Terceiro Setor e responsabilidade social das


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MONTENEGRO, Thereza. O que é ONG. São Paulo: Brasiliense, 1994. 87 p

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de Cotas e Inclusão Trabalhista das Pessoas com Deficiências. Disponível no
site <http://eureka.pucpr.br/entrada/index > Acesso em: 27 de abril de 2007.
43

RELATO SETORIAL DA ÁREA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E GERÊNCIA


DE ESTUDOS SETORIAIS DO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL (AS/GESET/BNDES). Terceiro Setor e Desenvolvimento
Social. n.3, 2001. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br> Acesso em: 10 de abril
de 2007.

ROCHA, Hílton; GONÇALVES, Elisabeto Ribeiro. Ensaio sobre a problemática da


cegueira: prevenção, recuperação, reabilitação. Belo Horizonte, 1987. 354 p.

SHAKESPEARE, Rosemary. Psicologia do deficiente. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.


165 p.

SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de Comunidade e Participação. 5 ed.


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SOUZA, Queila Regina. Módulo comunicação aplicada ao Terceiro Setor. 2007, 7


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TEODÓSIO, Armindo dos Santos de Sousa. Pensar pelo avesso o Terceiro Setor:
mitos, dilemas e perspectivas da ação social organizada no Brasil. In: STENGEL, M.
et al (orgs.) Políticas públicas de apoio sociofamiliar-curso de capacitação de
conselheiros municipais e tutelares. Belo Horizonte: PUC Minas, 2001, pp.85-124.

APÊNDICE
44

ENTREVISTA COM MANOEL CARDOSO DOS PASSOS - PRESIDENTE DO IPC

Desde o primeiro momento o IPC sempre teve sua sede instalada aqui?

Sempre foi aqui na avenida visconde Guarapuava, 4186.

Este prédio pertence ao IPC?

Não parte dele pertence ao Estado outra parte pertence é do instituto. A parte do
colégio é nossa, essa parte onde estamos aqui é do Estado.

Essa estrutura aqui é do Estado. Eles forneceram o espaço pra vocês?

Forneceram pelo comodato que já terminou. Venceu em 2006 dia 31 de dezembro.


Vamos lutar para pedir a doação para eles agora.

Vocês estão pedindo a doação do prédio?

A doação porque faz muitos anos que estamos aqui.

Qual a situação jurídica do IPC?Como está registrado?

Entidade particular. O instituto paranaense de cegos é particular, é mantido pela


sociedade e pela comunidade. Não tem ajuda do governo.

Além da escola o governo contribui com algo mais?

Não. O governo contribui, mas só repassa o salário dos quatro professores. A


manutenção das quatro refeições, que é feita pelo instituto para a escola, é tudo por
conta do instituto.

Como é escolhido o cargo de presidente?

Eleição direta. O associado, aquele que contribui na mensalidade do instituto, que


participa das eleições.

Em sua opinião como os portadores de deficiência são vistos pela sociedade?

Veja bem, já tá melhorando. Já tá aparecendo emprego. Apesar de que o


preconceito ainda tem. Eles não acreditam que o deficiente visual é capaz de
administrar a sua própria casa. Tanto é que o instituto não faz nem oito anos que
está na mão do deficiente visual. Eu sou um deficiente visual não enxergo nada.
Todos esses anos foi administrado por pessoas que enxergam, faz oito anos que
esta na mão dos deficientes visuais. E pegou ele acabado com quinhentos mil reais
de divida. Faz oito anos que não paga nem água nem luz e os encargos social
também faz muitos anos que não recolhe.
45

E vocês estão conseguindo junto a Sanepar e a Copel?

Não foi negado. Nós estamos com mandando judicial para não ter corte nem de luz
nem de água.

E até quando vai durar o mandado?

Aí eu não sei por que a Sanepar recorreu e perdeu no tribunal de justiça. Ele pediu
corte da água pra caçar a liminar aí o tribunal julgou e nos ganhamos de três a zero
o desembargador votou a favor pra fazer a manutenção da liminar.

O que deve ser feito para instituir uma mudança no comportamento da


sociedade em relação aos deficientes visuais?

A sociedade tem que acreditar que o deficiente visual só não tem a vista, a mente
funciona normal, os braços, rosto enfim tudo normal. A gente pensa com o cérebro
não é com a vista.

Você está satisfeito com a atuação do IPC?

Estou. Com muita dificuldade estou. Mas tenho que agradecer a Deus que ele que
me ilumina, que toca no coração das pessoas. Há muito o que fazer mas eu creio
em Jesus que nos vamos conseguir.

Você acha que o IPC realmente insere o portador de deficiência visual na


sociedade? E de que forma?

Sim. Com certeza. Quantas crianças do interior do Paraná que se criaram aqui
dentro e hoje são professores, outros são advogados, outros assistente social. Se
não fosse o instituto, o cego estaria pedindo esmola até hoje. O instituto tem 54
moradores que moram aqui dentro e atendendo aí tem mais de duzentos e
cinqüenta que estudam o dia inteiro aqui e noite vai pra suas casas. Aqui temos
telecentro, aqui nós temos academia, aqui nós temos a natação, temos golbol,
artesanato, temos dança, temos educação visual, temos orientação e mobilidade
que ensina o deficiente a andar na rua a ter sua bengala.

Quais as maiores dificuldades do IPC?

As maiores dificuldades do IPC é que não tem uma receita, vamos dizer que a
receita seja de dez mil reais por mês, não tem, não existe uma certeza. Um dia entra
um tanto outro mês entra outro. Nós temos dificuldades pra manter quadro de
funcionários, para pagar a folha de pagamento. Alimentação. Já pensou se não
conseguisse dar alimentação, fechava. Alimentação, roupa, tudo enfim. Nós vivemos
de doação. A minha vontade era conseguir uma receita mensal para o instituto.

Existe um planejamento futuro pra isso?


46

Estamos tentando. Estamos unindo, estamos elaborando projeto. Estamos


lançando mais uma campanha aí pra se criar uma receita.

E qual termo seria ideal de arrecadação?

Hoje as despesas do instituto é trinta três mil reais por mês. Folha de pagamento,
encargo social, manutenção, enfim. Hoje não arrecadamos mais de quinze mil real
por mês, nós estamos trabalhando com um débito de 19 mil reais por mês.

Como vocês conseguem se manter com um débito desse?

È não está pagando fundo de garantia, água. O que a gente está tentando pagar mal
e mal são só os funcionários e a alimentação que estamos pedindo pra sociedade.

Quais as metas futuras do IPC?

Eu tenho um pensamento muito forte, em dez anos eu quero que o instituto ande
com as próprias pernas, totalmente independente. È difícil estar sempre pedindo e
pedindo, tem que brigar, tem que criar uma receita.

Tem projetos concretos que viabilize tudo isso? Tipo vendas de produtos
internos?

Nós estamos tentando, estamos tentando parcerias com as empresas e com as


fundações. Estamos tentando, e também tem pouco tempo que tô aqui tem um ano,
está começando.

Que resultados você acha importante atingir com um plano de comunicação?

Os objetivos que eu queria, veja bem. O associado. Antes o instituto tinha uma base
de quinze mil associados em oitenta. Hoje se ele conseguisse cinco mil associados
dava. Tem que conscientizar a sociedade que tem que ser sócio. Ele contribui, ele é
dono do instituto. Então o dono do instituto é o associado. Com cinco mil associados
que doam cinco reais por mês, é viável. È só conscientizar a sociedade que o
instituto é importante. Têm que chamar a sociedade dentro do instituto, mostrar o
papel que a gente faz. Estamos aí há 68 anos. Só faz o bem da sociedade. A gente
faz o papel do governo. O que o governo não faz ,a gente faz.

ANEXO A
47

ESTATUTO DO INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS - IPC.

CAPÍTULO I DA DENOMINAÇÃO, SEDE, FORO E DURAÇÃO

Art. 1º - O INSTITUTO PARANAENSE DE CEGOS, reconhecido de Utilidade Publica


Federal pelo Decreto nº 42.746/57, registrado no Conselho Nacional de Serviço
Social sob o número 265.564/74 e no Cartório competente, sob o número 185, do
livro "2", da 1º Circunscrição de Curitiba, em 17/006/40, fundado em 1º de fevereiro
de 1.939, é pessoa jurídica de direito privado - associação, com sede na Avenida
Visconde de Guarapuava, nº 4186, foro de Curitiba, com duração indeterminada, de
caráter filantrópico, sem fins lucrativos, regendo -se pelo presente Estatuto e pela
legislação que for aplicável, podendo estender suas atividades por todo o Território
Nacional.

Parágrafo único - O Instituto Paranaense de Cegos adotará a sigla IPC.

CAPÍTULO II DOS OBJETIVOS

Art. 2º - O IPC tem por objetivos:

I- proporcionar aos cegos ou portadores de visão subnormal reabilitação através da


instrução e aprendizagem adequadas, de modo a adquirirem condições que lhes
permitem viver com os seus próprios recursos;

II- manter e criar programas especiais para cegos e portadores de visão subnormal;

III- receber, por tempo limitado, pessoas cegas ou portadoras de visão subnormal,
cadastradas, procurando, por meio de convênios e outras formas, a sua colocação
no mercado de trabalho;

IV- diligenciar a internação ou tratamento em estabelecimentos especializados,


capaz de atender à necessidade do interno;

V- atuar junto aos pais e responsáveis em favor de crianças cegas e portadoras de


visão subnormal para encaminhá-las ao IPC, onde serão orientadas na escolha do
estabelecimento de ensino ou aprendizagem compatível com a índole e condições
especiais da criança;

VI- estimular ações e participar de campanhas de prevenção contra a cegueira e


outros males de visão, envolvendo órgãos de saúde pública no combate às suas
causas;

VII- manter intercâmbio com outras instituições afins, religiosas ou não, visando ao
aprimoramento de suas atividades;

VIII- estender o atendimento aos cegos e portadores de visão subnormal, externo do


IPC, quando a capacidade física e financeira o permitir.

CAPÍTULO III DOS ASSOCIADOS


48

Art. 3º - O IPC compõe-se de número ilimitado de associados, sem distinção de


cor, sexo, nacionalidade, crença religiosa ou ideológica e preconceitos sociais,
bastando que se inscrevam espontaneamente.

§ 1º - o IPC estimulará, através de campanhas publicitárias e com apoio financeiro


ou não da sociedade, a expansão do seu quadro associativo.

§ 2º - o IPC terá as seguintes categorias de associados.

a) mantenedores;

b) honorários;

c) beneméritos.

§ 3º - o representante legal de pessoa incapaz poderá inscrevê-la como associada,


representando-a em todos os atos, exceto ser votado.

§ 4º - a admissão dos associados da categoria "A" será feita mediante requerimento


da pessoa e aprovação da Diretoria Executiva, preenchidos os requisitos exigidos
pelo Estatuto.

Art. 4º - os associados não respondem, nem mesmo subsidiariamente pelas dívidas


ou obrigações do IPC.

Art. 5º - os associados ficam assim classificados:

a) mantenedores: são aqueles que contribuem mensalmente;

b) honorários: são aqueles que tenham prestado significativa contribuição para a


consecução dos objetivos do IPC e que poderão ser, também, mantenedores;

c) beneméritos: são aqueles que fizerem valiosos donativos.

§ 1º - a condição de associado honorário ou benemérito será conferida por decisão


do Conselho Deliberativo.

§ 2º - os associados honorário e benemérito poderão também ser mantenedores.

Art. 6º- São direitos e deveres dos associados, além de outros previstos neste
estatuto:

a) votar e serem votados, nos termos do estatuto;

b) Participar das assembléias gerais;

c) Contribuir com a instituição e defendê-la moral e materialmente;

d) Fiscalizar os atos praticados por seus administradores.


49

Art. 7º - Será criada a Comenda "ORDEM DO MÉRITO DO INSTITUTO


PARANANENSE DE CEGOS" a ser conferida, anualmente, por propostas da
Diretoria e aprovação do Conselho Deliberativo, às pessoas físicas ou jurídicas que
tenham se destacado no apoio e ajuda ao IPC.

Parágrafo único - A entrega da Comenda será realizada em cerimônia pública da


Assembléia, com ampla divulgação.

Art. 8º - Deixarão de ser associados:

I- aqueles que os solicitarem;

II- os que, por ação ou omissão, prejudicarem o IPC ou comprometerem a reputação


deste.

§ 1º - Da exclusão do associado caberá recurso, dentro do prazo de 30 (trinta) dias,


junto ao Conselho Deliberativo e em última instância, no prazo de 30 (trinta) dias, à
Assembléia Geral, facultado o amplo direito de defesa.

§ 2º - No caso do item II supra, o associado poderá ao invés de ser excluído, ser


demitido, suspendido por 30 (trinta) dias, ou sofrer advertência verbal ou escrita,
levando - se em conta a gravidade do ato, cabendo em todos os casos recurso para
o conselho deliberativo e em última instância à assembléia geral, no prazo de 30
(trinta) dias.

CAPITULO IV DO PATRIMÔNIO

Art. 9º - Constituem patrimônio do IPC:

I- os bens imóveis;

II- os bens móveis de todas as espécies.

CAPÍTULO V DA RECEITA

Art. 10º - Constituem receita do IPC, além de rendas e recursos provenientes de seu
patrimônio:

I- ORDINÁRIAS:

a) as doações mensais feitas pelos associados, subvenções e contribuições fixas;

b) os rendimentos dos bens imóveis e móveis;

c) as atividades comerciais.

II- EXTRAORDINÁRIAS:
50

a) de doações, legados, auxílio e subvenções especiais, feitas por pessoas


físicas ou jurídicas, inclusive de direito público;

b) de convênios, acordos e contratos;

c) resultantes de ações financeiras;

d) da prestação de serviços operacionais;

e) de saldos orçamentários e extra - orçamentários de entidades ou programas que


venham integrá-los;

f) de recursos de outras origens e rendas eventuais.

Art. 11º - Todos os recursos, rendas e receitas do IPC serão aplicados nas
finalidades da Instituição e dentro do país.

Art.12º - O IPC não distribuirá dividendos, participação ou parcela de seu patrimônio


a qualquer título ou pretexto a quem quer que seja.

Art. 13º - O término do exercício financeiro do IPC coincidirá com o término do ano
civil.

CAPÍTULO VI DOS ÓRGÃOS DE DIREÇÃO

Art.14º - Compõem a Direção do IPC, os seguintes órgãos:

I- Assembléia Geral;

II- Diretoria Executiva;

III- Conselho Deliberativo;

IV- Conselho Fiscal.

CAPÍTULO VII DA ASSEMBLÉIA GERAL

Art. 15º - A Assembléia Geral será constituída pelos associados maiores de 18 anos
(dezoito) anos de idade e mantenedores.

§ 1º - A Assembléia Geral será convocada pelo Presidente da Diretoria Executiva


para a reunião ordinária, anualmente. Extraordinária, a qualquer tempo pela Diretoria
executiva, maioria do Conselho Deliberativo, ou por 1/5 (um quinto) dos associados.

§ 2º - Podem concorrer como candidatos, os associados quites com as obrigações


estatutárias, permitida a reeleição.

§ 3º - A apresentação da chapa eletiva deverá ser completa para a composição da


Diretoria Executiva, Conselho Fiscal e Conselho Deliberativo.
51

§ 4º - No prazo máximo de 90 (noventa) dias, antes do término do mandato, será


convocada Assembléia Geral, para eleição da diretoria executiva e respectivos
conselhos.

§ 5º - A convocação da Assembléia Geral será feita através de edital, publicado em


jornal de circulação estadual, edital afixado no quadro mural da entidade e outro
meio de difusão.

§ 6º - A Assembléia só poderá ser realizada, e ter validade, com a participação de


2/3 (dois terços) dos associados em condições de votar em primeira convocação;
1/3 (um terço) em segunda convocação, com intervalo de 30 (trinta) minutos; em
caso de não serem atingidos estes índices nova assembléia será marcada no prazo
de 15 (quinze) dias.

§ 7º - Será proclamada eleita à chapa que tiver maioria simples de votos válidos.

§ 8º - A Assembléia Geral é soberana e a decisão por ela aprovada deverá ser


acatada pelos demais órgãos diretivos.

Art. 16º - Compete privativamente a Assembléia Geral:

a) eleger a diretoria executiva;

b) autorizar aquisição de bens imóveis, bem como, a venda ou permuta dos


mesmos, desde que atendidos os altos interesses do IPC;

c) destituir a diretoria executiva;

d) aprovar, em última instância, as contas, após analisadas pelo conselho


deliberativo;

e) alterar o Estatuto.

Parágrafo Único - Para as deliberações a que se referem os incisos "c" e "e" é


exigido o voto concorde de dois terços dos presentes à assembléia especialmente
convocada para esse fim, não podendo ela deliberar, em primeira convocação, sem
a maioria absoluta dos associados, ou com menos de um terço nas convocações
seguintes.

CAPÍTULO VIII DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 17º - O IPC será administrado por uma Diretoria Executiva, com mandato de
quatro anos, composta de:

- Presidente;

- Vice - Presidente;

- 1º Secretário;
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- 2º Secretário;

- 1º Tesoureiro;

- 2º Tesoureiro.

§ 1º - O Presidente poderá criar departamentos.

§ 2º - Os cargos da diretoria executiva são privativos de cegos ou portadores de


visão subnormal.

§ 3º - Em caso de vacância absoluta de um dos três cargos da Diretoria, os demais


Diretores Executivos indicarão os substitutos que serão aprovados pelo Conselho
Deliberativo.

Art. 18º - A Diretoria Executiva deliberará sobre assuntos de interesse do IPC, por
maioria de votos, reunindo-se ordinariamente uma vez por mês e, extraordinária, a
qualquer tempo, por convocação do Presidente, ou 1/3 (um terço) de seus membros.

§ 1 - Compete à Diretoria Executiva:

a) cumprir e fazer cumprir o presente estatuto, o regulamento e demais atos


normativos adotados pelo IPC;

b) resolver sobre a forma, espécie, quantidade e aplicação de recursos financeiros


do orçamento, ouvindo o Conselho Deliberativo.

c) elaborar programa anual de trabalho, submetendo - o à apreciação e aprovação


do Conselho Deliberativo, revisando as metas trimestralmente;

d) organizar a equipe técnica (Social, Psicológica, Serviço Médico Enfermagem,


Jurídico) e outros que venham a ser instituídos, de acordo com as necessidades do
IPC e com a viabilidade financeira;

e) determinar pesquisas sócio-econômicas, quando necessárias, para concessão de


benefícios;

f) submeter à aprovação do Conselho Deliberativo, pedidos de empréstimos e outras


operações que comprometem a receita do IPC, devidamente justificados;

g) supervisionar todas as atividades do IPC;

h) designar comissões permanentes ou não, que fizerem necessárias ao


desenvolvimento de atividades do IPC;

i) convocar Assembléias Extraordinárias e os Conselhos Deliberativos e Fiscal, na


forma estabelecida nesse Estatuto;

j) executar as deliberações da Assembléia Geral;


53

k) conceder licença a seus membros;

l) zelar pela disciplina, pela ordem e pelo bom desempenho de todas as atividades
do IPC;

m) elaborar o regulamento previsto no Art. 23º;

n) submeter ao conselho fiscal os balancetes mensais e balanço anual;

o) ao final de cada exercício financeiro, submeter à aprovação do conselho


deliberativo, prestação de contas, acompanhadas de relatórios de atividades;

p) estar, permanentemente, em contato com as autoridades constituídas, públicas ou


não, pessoas físicas e jurídicas, buscando apoio e entrosamento nas ações do IPC.

CAPÍTULO IX DO CONSELHO DELIBERATIVO

Art. 19º - O Conselho Deliberativo será composto por 07 (sete) membros eleitos por
04 (quatro) anos juntamente com a Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal e com 3
(três) suplentes, que substituirão as vagas abertas.

§ 1º - O Conselho Deliberativo reunir-se-á ordinariamente a cada 90 (noventa) dias


e, extraordinariamente, sempre que for convocado pelo Presidente, pela maioria do
próprio Conselho, Diretores, Diretoria Executiva, ou por 1/5 (um quinto) dos
associados capacitados.

§ 2º - As convocações serão feitas com antecedência mínima de 08 (oito) dias,


mediante convite formal.

§ 3º - O Conselho Deliberativo deliberar, em primeira convocação, com 2/3 (dois


terços) de seus membros e, em segunda convocação, com 1/3 (um terço) de seus
membros.

§ 4º - O Presidente do Conselho Deliberativo terá o voto de qualidade.

§ 5º - Não tomará parte na votação o Conselheiro cujo ato ou interesse esteja em


causa, podendo, porém, defender ou argumentar sobre o assunto em discussão.

§ 6º - Vinte quatro horas após a eleição o Conselho se reunirá e escolherá:

a) Presidente;

b) Vice-Presidente;

c) Secretário.

§ 7º - Seis (06) vagas de conselheiro são privativas de cegos ou portadores de visão


subnormal, sendo 04 (quatro) vagas de titulares e 02 (duas) de suplentes.

Art. 20º - Cessará o mandato e será substituído pelo suplente o Conselheiro que:
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a) Renunciar ao mandato ou for excluído do quadro ativo;

b) Tiver suspensos os seus direitos por qualquer motivo;

c) Sem licença ou causa justificada deixar de comparecer a 03 (três) reuniões


seguidas do Conselho ou 06 (seis) intercaladas.

Parágrafo único - Será substituído, temporariamente, o Conselheiro que, por


doença, permanecer afastado por mais de 30 (trinta) dias.

Art. 21º - Ao Conselheiro Deliberativo compete:

a) preencher as vagas que se verificam no próprio Conselho;

b) apoiar os diversos setores diretivos do IPC;

c) criar condições sócio - políticas e econômicas de desenvolvimento e estimular o


cumprimento dos objetivos programáticos;

d) pronunciar-se em assuntos que envolvam a filosofia de trabalho e metas do IPC;

e) apreciar e aprovar a revisão, amplificação ou modificação do Regulamento, por


proposta da Diretoria Executiva;

f) aprovar as contas em primeira instância submetendo-as a Assembléia Geral para


aprovação final.

CAPÍTULO X DO CONSELHO FISCAL

Art. 22º - O Conselho Fiscal compõe-se de três membros e dois suplentes para
substituí-los nos seus impedimentos, a qualquer título, eleitos por quatro anos
juntamente com a Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo, sendo 03 (três) vagas
privativas de cegos ou portadores de visão subnormal, das quais duas para titulares
e uma para suplente.

Parágrafo único - O Conselho Fiscal elegerá um Presidente, a quem compete dirigir


e convocar os suplentes.

Art. 23º - Ao Conselho Fiscal compete:

I- Fiscalizar os atos referentes à contabilidade e às finanças do IPC, devendo


examinar todos os livros e documentos;

II- Examinar as contas, dar parecer final sobre os balancetes e o balanço anual;

III- Comunicar ao Conselho Deliberativo qualquer irregularidade que tenha ciência


ou notícia comprovada;

IV- Prestar informações solicitadas pelo Conselho Deliberativo e pela Diretoria


Executiva;
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V- O Conselho Fiscal reunir-se-á ordinariamente de dois em dois meses e,


extraordinariamente, sempre que for convocado pelo Conselho Deliberativo, pela
Diretoria Executiva ou por 1/5 (um quinto) dos associados no gozo de seus direitos
estatutários;

VI- O Conselho Fiscal deliberará por maioria de votos;

VII- Perderá o mandato o membro do Conselho que faltar, sem causa justificada, as
três reuniões consecutivas, ou seja, intercaladas;

VIII- O Conselho Fiscal prestará contas a Assembléia Geral.

CAPÍTULO XI DA REPRESENTAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

Art. 24º - O IPC será representado judicialmente ou extrajudicialmente, pelo


Presidente em Exercício, em toda e qualquer ação em que figurar como autor, réu,
anuente, interveniente e outros atos que tenha que se fazer representar.

§ 1º - O Presidente poderá outorgar mandato para representação do IPC, quando as


circunstâncias assim o exigirem.

§ 2º - O Vice - Presidente substituirá o Presidente em seus impedimentos.

CAPÍTULO XII DA ESTRUTURA E COMPETÊNCIA DOS VÁRIOS ÓRGÃOS

Art. 25º - A estrutura organizacional do IPC e a competência de seus órgãos para o


desenvolvimento das várias atividades será estabelecida em regulamento que
deverá ser apresentado pela Diretoria Executiva e aprovado pelo Conselho
Deliberativo.

§ 1º - O Regulamento de que trata este artigo deverá ser elaborado pela Diretoria
Executiva no prazo de 60 (sessenta) dias e aprovado pelo Conselho Deliberativo,
ressalvado o disposto no Parágrafo 5º.

§ 2º - O Regulamento do IPC definirá o quadro de pessoal, criando funções e


serviços a fins, subordinados aos respectivos diretores.

§ 3º - O Regulamento poderá ser atualizado e adaptado às condições que vierem a


surgir no futuro, por proposta da Diretoria Executiva, aprovada pelo Conselho
Deliberativo.

§ 4º - O Regulamento poderá disciplinar todas as atividades, criar áreas de


atuação, regimento e normas a serem observadas.

§ 5º - A definição do quadro de pessoal, a criação de funções e serviços afins de


que trata o § 2º do presente artigo, subordinar-se-ão à comprovada capacidade
financeira do IPC de forma a preservá-lo de possíveis ações trabalhistas.
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CAPÍTULO XIII DOS CEGOS, DOS PORTADORES DE VISÃO SUBNORMAL E


SUAS FAMÍLIAS

Art. 26º - Aos cegos e portadores de visão subnormal é assegurado o internamento


no IPC, desde que, em exame clínico, fique comprovada não serem portadores de
moléstia infecto-contagiosa, ou outros problemas incompatíveis com a estrutura da
instituição, resguardadas as condições físicas e financeiras do IPC.

§ 1º - os internos que recebem aposentadorias, salários, pensões ou qualquer outro


auxílio ou rendimento, poderão, em caso de necessidade, contribuir com uma
pensão mensal estipulada em Assembléia Geral, para fazer frente às despesas de
manutenção.

§ 2º - em principio, todos os cegos ou portadores de visão subnormal internados no


IPC, deverão ser matriculados em Escola, salvo aqueles que forem julgados
absolutamente incapazes.

§ 3º - qualquer pessoa cega ou portadora de visão subnormal poderá freqüentar a


Escola, práticas educativas e esportivas e recuperadoras, desde que pague as
mensalidades ou taxas que forem estipuladas, desde que tenham condições
financeiras para tanto.

§ 4º - Os serviços do IPC de práticas educativas e recuperadoras poderão ser


estendidos aos familiares dos internos e a comunidade, mediante contribuição a ser
estipulada pela Assembléia.

§ 5º - Os internos deverão prestar colaboração, de no mínimo 8 horas semanais ao


IPC, gratuitamente, como parte da reabilitação.

§ 6º - O IPC poderá contratar internos.

CAPÍTULO XVI DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 27º - Os membros da Diretoria Executiva, do Conselho Deliberativo e do


Conselho Fiscal, terão mandato eletivo de 04 (quatro) anos, podendo ser reeleitos.

Art. 28º - Quando houver empate em qualquer eleição, considerar-se-á eleito o


associado mais antigo do IPC e, perdurando o empate, o mais idoso.

Art. 29º - É vedada aos membros da Diretoria executiva, Conselho Deliberativo e


Conselho Fiscal, a percepção de qualquer remuneração, seja qual for à forma ou
pretexto, exceto o ressarcimento de despesas de viagens ou deslocamentos fora de
Curitiba, mediante a comprovação da despesa, desde que autorizada pelo
Presidente.

§ 1º - O IPC se obriga:
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a) manter escrituração da receita e despesa de conformidade com a legislação


que regulamenta a contabilidade escritural, sendo os saldos aplicados
exclusivamente nas finalidades patrimoniais.

§ 2º - Não poderão ser contratados como funcionários, parentes dos membros da


Diretoria Executiva e Conselhos, até o quarto grau.

Art. 30º - O uso ou utilização de imóveis pertencentes ao IPC será decidido pela
Diretoria executiva com consulta ao Conselho Deliberativo.

Art. 31º - É proibido a candidatura ou exercício de qualquer cargo diretivo as


pessoas que não estiverem inscritas no quadro de associados.

Art. 32º - É vedada a candidatura ou exercício de cargo diretivo as pessoas que


ocupem cargo diretivo em outra entidade.

Art. 33º - É vedada a candidatura ou exercício de cargo diretivo às pessoas que


estejam cumprindo penas disciplinares impostas pela Direção.

Art. 34º - É proibido aos funcionários do IPC votarem e serem votados para
cargos eletivos.

Art. 35º - Só podem votar e serem votados os associados pelo menos há 01 (um)
mês.

Art. 36º - Os cegos ou portadores de visão subnormal, titulares de cadernetas de


poupança, e/ou proprietários de imóveis ou detentores de direitos a eles inerentes
que usufruírem ou hajam usufruído benefícios concedidos por esta Instituição, com
vistas a evitar que em caso de falecimento, e não havendo herdeiros necessários
conhecidos que os sucedem nos bens, poderão, após decorridos 30 (trinta) dias da
data do registro do presente Estatuto, manifestar seu desejo de, através de
testamento, legarem, total ou parcialmente, a herança de ditos bens ao IPC.

Art. 37º - Este Estatuto poderá ser reformado ou alterado no todo ou em parte, pela
Assembléia Geral, em sessão especialmente convocada para tal fim, com a
presença mínima de 2/3 (dois terços) de seus associados, em primeira convocação,
ou com 1/3 (um terço) dos associados em segunda convocação.

Art. 38º - O IPC somente poderá ser dissolvido por deliberação de 2/3 (dois

terços) dos associados quites com as obrigações estatutárias, em Assembléia Geral


especialmente convocada para este fim.

Parágrafo único - No caso de extinção do IPC, o seu patrimônio reverterá em


benefício de instituição de caridade, preferencialmente que tenha fins idênticos no
Estado do Paraná, desde que registrada no Conselho Nacional de Assistência
Social.

Art. 39º - Os casos omissos serão resolvidos pela Assembléia Geral.


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Art. 40º - O presente Estatuto entrará em vigor na data de sua aprovação na


Assembléia Geral.

Parágrafo único - Após sua aprovação, este Estatuto deverá ser registrado no
competente Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas desta Capital.

Curitiba, 17 de dezembro de 2003.

Sra. Maria Regina de Melo Boscardin Interventora do IPC

ANEXO B

Documento realizado pela Sanepar.

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