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SAMUEL SILVEIRA
ENTREVISTADORA: ADENILDE
13 DE NOVEMBRO DE 1986
DEGRAVAÇÃO: SERGIO
COMPLETA
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Maringá, 13 de novembro de 1986 – Projeto Memória, nos encontramos no Prédio da
Rádio Cultura de Maringá, para entrevistar o seu fundador, o Sr. Samuel Silveira.
Vamos ouvir o seu relato.
PM-O Sr. veio de onde para Maringá? De São Paulo pra cá?
SS-De São Paulo, onde eu já trabalhava em rádio.
PM- Quando o Sr. Chegou com esse projeto, a Companhia auxiliou? Mostrou boa
vontade?
SS-Ah! Mas eu tive o maior auxílio possível da Companhia Melhoramentos, todos os
diretores foram formidáveis, principalmente o Dr. Cássio Vidigal, que foi o meu grande
amigo, nós vivíamos juntos, ele chegava em Maringá me procurava, nós ficávamos juntos.
O prédio aqui da rádio foi feito pela Companhia Melhoramentos. O prédio inicial, não essse
que nós estamos hoje, o inicial foi feito pela Melhoramentos. A Companhia nos deu todo
apoio, tudo o que nós queríamos, principalmente o Dr. Cassio e o Seu Alfredo, nem é bom
falar, é meu amigo particular também, me apoiou 100%.
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PM-E o que significava para própria Companhia ter uma rádio em Maringá?
SS-Porque veja bem, Maringá era as menina dos olhos da Companhia, sempre foi, o Dr.
Hermmam vinha pra Maringá, o Dr. Cássio, prá Maringá, todos eles e sempre pra Maringá.
Então todo o que se fizesse era Maringá, era, pra eles, um grande acontecimento, e foi a
rádio, e o prédio que eles fizeram. Foi justamente como o Grande Hotel, foi feito na mesma
época. O prédio daqui e o Grande Hotel prá mostrar pra todo mundo que existia Maringá.
Essa é a razão, é a paixão deles por Maringá.
PM- 16 de junho!
SS- 16 de junho, é isso ai. A Rádio foi pela primeira vez ao ar e nós inauguramos aqui na
Herval, ali adinate é hoje o prédio da Copel, ali que nós começamos a rádio. Mas como eu
te falei, tive que demorar porque eu tive que construir um prédio ali porque não tinha,
Maringá não tinha nada. Eu também só me mudei pra cá em 51, porque teve que fazer uma
casa pra eu vim morar, porque não tinha, tudo aqui era nessa base.
PM- O que significava a rádio apara a comunidade, para essas pessoas que moravam
nos sítios, nas propriedade ao redor de Maringá?
SS-Olha, foi a maior felicidade, apesar do rádio ser com pilha, e aquele sistema antigo com
aquela pilhas grandes como nós já dissemos pra você, foi a maior felicidade. A Rádio
Cultura apesar de ser um lugar pequenininho, nós tínhamos muitos programas sertanejos.
Então enchia, mas enchia que enchia a rua inteira de gente pra vim ver os programas
sertanejos.
PM- E o alcance?
SS- Bom, você sabe, que antigamente existiam poucas rádios, então o alcance apesar da
potência ser pequena, o alcance era muito grande. Hoje é o contrário, hoje prá você ter uma
idéia, nós começamos com 100 watts, era a potência da rádio, e isso era de todas as rádios,
era essa a potência.
Hoje a Rádio Cultura tem 10.000 watts, veja a diferença de potência, mas o alcance naquela
época era muito grande porque tinham poucas rádios. Aqui no Norte do Paraná não tinha
nenhuma, era só a Rádio Cultura e a de Londrina.
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nome dele, mas esse trabalhava no Cartório do Esmeraldo Leandro, esse morreu até já, foi o
segundo locutor, esse foi a fundação da rádio, foi com esses locutores, esses dois que
começamos a Rádio Cultura. Quer dizer, os profissionais apareceram, eu tive bons
profissionais inicialmente, como eu tive um que se chamava Olindor Camargo, ele hoje é
praticamente o prefeito de Camboriú. Ele é uma pessoa muito influente em Santa Catarina,
também toda festa que ele vem... ele tem uma paixão por Maringa.
PM-E qual o nível social dos ouvintes da rádio, como é que era, que classe social ela
atingia?
SS- Eu acho muito bom, porque Maringá ... não sei se você tá comigo, Maringá foi a que
teve melhor fundação de todas as cidades do Norte do Paraná. Foi o pessoal mais
qualificado que vei para Maringá, nós aqui tivemos gente formidável, gente de gabarito
como Sergio Cardoso de Almeida, enfim, gente boa foi que fundou Maringá, Maringá foi
fundada por uma... não foi como certas cidades aí que você sabe, não preciso dizer que
você... Então o nível de audiência aqui era ótimo e a Rádio Cultura fazia parte de tudo, de
tudo que existia em Maringá, a rádio Cultura fazia parte, inclusive esse prédio que depois
foi feito, foi com a finalidade de ajudar Maringá. Por exemplo, o auditório da Rádio Cultura
foi cedido prá fundação de tudo em Maringá, eu cedi prá tudo, a Associação Comercial foi
fundada aqui, o Rotary Clube começou, olha, tudo o que você possa imaginar começou na
Rádio Cultura (Riso) é verdade.
PM-Exatamente, isso que nós queremos, depoimento fiel a tudo aquilo que aconteceu
aqui em Maringá. Quais assim, os programas de maior audiência, o que mais tocava
nas pessoas?
SS-Olha, o que mais tocava é um programa que nós tivemos, que até hoje várias senhoras já
da sociedade cantaram aqui, começaram aqui, chamava o Clube do Caçula (Riso).
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PM-Além de programa sertanejo, além de música, quais os tipos, que tipo de
programa a rádio tinha? Era diversificado os programas e quais os programas que
existiam?
SS-Por exemplo, nós tínhamos aqui um programa de grande sucesso que era o Ary de
Lima. Ary era um poeta Maringaense que fazia um programa na Rádio Cultura. Como o
Nhô Juca, começou na Rádio Cultura, enfim, tudo que houve em Maringá do passado
começou na Rádio cultura, pode escrever isso.... (Riso). Quem fazia por exemplo aqui a
parte de noticiário inicialmente era o Cal Garcia, o primeiro advogado que começou aqui,
era o que fazia o programa de noticiário e de opinião da Rádio. Enfim, você veja, qualquer
um aí de passado começou na Rádio Cultura. Muito bem, o que mais você deseja saber?
PM- Além da Rádio ser um meio de comunicação, ela auxiliou assim prá fundação de
algum outro órgão de comunicação da cidade?
SS-Ah! Sim, daí nós mais tarde tivemos a Rádio Jornal que também nasceu da Rádio
Cultura e “O Jornal” que também em 1953 nós fundamos na Rádio Cultura, o “O Jornal”
quando trouxemos o Ivens Lagoano Pacheco pra dirigir o “O Jornal” e a Rádio Jornal, por
causa do mesmo nome, tá vendo? “O Jornal” e a Rádio Jornal daí, que era pra ser um órgão
só, mas depois o governo fez uma lei proibindo que se fosse dono de duas rádios na mesma
cidade, foi quando nós vendemos a Rádio Jornal. Mas daí fundamos aqui em Maringá a
Rede Paranaense de Rádio. Esta Rede Paranaense comandava 13 emissoras, inclusive duas
de Curitiba.
PM-E as campanhas políticas como é que eram? Utilizava-se a Rádio pra fazer
campanha política?
SS- Mas não tenha dúvida, a Rádio comandou a política nessa cidade, de início. A primeira
campanha que nós fizemos foi a campanha que ganhou o Villanova, os candidatos eram o
Planas, Angelo Planas, o Villanova, o Waldemar Gomes da Cunha e ganhou o Villanova,
fizemos a campanha e fizemos a primeira irradiação de resultado, irradiamos em Madaguari
a apuraçãod a eleição, porque a Companhia Melhoramentos tinha uma linha telefônica de
Londrina até Maringá. Então ela nos emprestou de Mandaguari e nós irradiamos.
PM-52
SS-52, é isso ai, 52!
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PM- A primeira eleição. E o que significou isso para o eleitorado maringaense?
SS- Foi um sucesso! Você imagina, quem é que podia imaginar que todo mundo aqui
ficasse sabendo o resultado, é ou não é! Então começou a apuração e o Planas começou a
ganhar, então o Planas começou a soltar foguetes e já foi prá Mandaguari prá comemorar,
quando chegou lá, ele tinha perdido a eleição, quem ganhou foi o Villanova (Riso), essa é a
verdade.
PM-E o nível da campanha política feita no rádio, como é que era, havia muitos
ataques, contra-ataques, como é que era?
SS-Não, não, muito pouco, porque havia aquela amizade, o pessoal ainda era um número
pequeno, não era asssim como hoje que se “lava a roupa”, não nada disso, era uma
campanha honesta, eu acho pelo menos, isso é modo de pensar.
PM- E hoje?
SS- Hoje não é bem a censura, o que existe são normas e como a rádio é uma concessão,
nós obedecemos, porque senão há uma cassação. Nunca sofremos cassação nenhuma nem
nada, porque obedecem os a lei, sempre foi essa realidade.
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PM- E hoje, o que é o rádio com tanta mudança, com tantos meios de comunicação, o
que significa o rádio hoje?
SS-Olha, você veja, eu sou apaixonado pelo rádio, apesar de ter fundado a televisão,
mexido muito com televisão, mas eu sou apaixonado pelo rádio, porque o rádio é a
expressão verdadeira, pode notar, todas as eleições normalmente são eleitos pessoal de
rádio e não de televisão.
PM – É verdade.
SS-Você pode olhar, é o pessoal de rádio, porque o rádio penetra lá no pobre, o rádio não
precisa, você tá trabalhando e ouve o rádio, coisa que você não pode fazer com a televisão.
Televisão é só aquela hora, você tem que prestar a atenção, senão... Então o rádio penetra
subjetivamente na casa de todo mundo e esssa é a grande força do rádio, principalmente
que não tem distância, e outra coisa, o rádio é imediato, nós estamos conversando aqui
nesse momento, se quiser levar no rádio é só levar ali, já tá no ar, é um minuto, entendeu,
não é o caso da televisão e de outros veículos. Por exemplo, jornal,; jornal é uma opinião já
escrita, é mais demorada pra ser feita; o rádio não, o rádio é imediato, o rádio é violento, é
imediato por isso... eu sou apaixonado pelo rádio, eu nasci em rádio. Você veja, eu comecei
a trabalhar em rádio em 1940 (Riso), então rádio pra mim é...
PM-E os programas, como eles eram elaborados, eles eram programados, havia
screept ou era improvisado, como é que era?
SS-Não, naquele tempo a programação toda era feita base local. Tudo aqui nós, por
exemplo, programa sertanejo que sempre foi a base principal no início, eram sertanejos que
moravam aqui na redondeza mesmo e tudo... Olha, como eu te falei, tudo surgia assim,
futebol por exemplo, não existia em Maringá, entendeu? E nós queríamos irradiar futebol,
Cultura é Maringá, então primeiro nós começamos irradiar no Maringá Velho do Serm.
PM- Iniciou.
SS-Iniciou, e depois nós ajudamos a fundar e eu fui um dos fundadores do Maringá, até
hoje é o que existe é o Maringá, O Gremio Maringá e irradiamos as partidas do Maringá.
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veio para cá também trabalhar conosco. É como eu te contei, todos esses “velhos”
começaram na Rádio Cultura, a Rádio Cultura foi o pai de todo mundo, depois foram prá
outros caminhos e tudo bem.
PM-E a comunidade, ela participava, ela requisitava algum tipo de programa, ou ela
aceitava o que ofereciam?
SS-Olha, o início aqui era, você sabe, aquele... você sabe, aquele programa de oferecer
música, esse foi o início da rádio aqui, aliás eu já trouxe isso lá da Bahia, mesma coisa, o
rádio é igual em todo lugar, e na Bahia era a mesma coisa, pedir música, oferecer pro
namorado, essa coisa assim, que esse era o rádio que se fazia antigamente. Claro, o rádio
evoluiu, hoje é diferente, mas, assim mesmo os programas antigos ainda são de sucesso, só
qeu não tem mais como nós tínhamos novelas, só que as novelas nós trazíamos gravadas de
São Paulo, trazíamos novela gravada e passava. Por exemplo, nós ainda temos, posso até
mostrar o primeiro gravador que existiu, esse gravador é de fio de arame, de fio, foi o
primeiro gravador que existiu, nós compramos e esse gravador nós gravávamos as
campanhas políticas, então. Por exemplo, eu queria saber se o Villanova era bom prefeito,
nós saíamos na rua entrevistando o pessoal, perguntando, o que achava do Villanova?
(Risos) e gravava tudo e chegava aqui botava no ar. O gravador taí, depois você pode ver o
primeiro gravador.
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pessoal todo que hoje tá lá em Curitiba, eles, cada um quer ser mais maringaense do que o
outro, inclusive o Zeferino, por exemplo. O Zeferino é um homem que ele é mais marin
ganense que qualquer pessoa. Isso é Maringá, é a Rádio Cultura fazendo parte disso tudo,
por isso me honra muito ter a Rádio cultura e nunca hei de mudar o que até hoje não
mudou, vai ficar sempre assim.
PM-Seu Samuel, o que significa o Sr. estar falando hoje da história da Rádio, depois
de tanto tempo?
SS-É uma alegria, viu, porque sempre que eu falo na Rádio, falo com prazer e alegria e
além da Rádio, que a rádio faz parte de Maringá, porque sem Maringá não existia a Rádio
Cultura. E a Rádio Cultura faz uma parte assim... sem dúvida, de Maringá. Você veja, tudo
o que houve aqui a Cultura tomou parte, sempre com a maior boa vontade, você veja nós...
prá lembrar uma coisa que tem assim por exemplo, nós instalamos junto com a turma de
Maringá, ajudamos a instalação do próprio bispado, o Dom Jaime, era um mocinho, nós
fomos a Ribeirão Preto quando ele se transformou bispo, e veja bem, Maringá desde aquela
época, daí o Dom Jaime teve a hora dele na Rádio Cultura, e desde o início, até hoje
continua. Então você veja, tudo o que houve em Maringá qualquer coisa do passado você
pode ver que a Cultura tava no meio. Então isso foi uma felicidade prá mim, porque...
como eu te falei, eu “nasci” em Maringá, apesar de já ter feito parte de outras emissoras na
Bahia, em Franca no Estado de São Paulo, mas Maringá para mim é a primeira, e eu só
desejo que nunca mude, e eu sou de passagem, todos nós somos, mas que a Rádio Cultura
continue prestigiando tudo que acontece nessa cidade, que é a cidade do coração.
FIM