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Roteiro para o estudo de

Química Geral

Átomos
Moléculas
Reações químicas

Prof. Marcos Aires de Brito


Departamento de Química - UFSC
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Apresentação

Considerando que átomos, moléculas e reações químicas são tópicos que constam
normalmente dos programas de disciplinas de Química Geral, para alunos de fases iniciais
dos cursos de graduação, apresentamos uma discussão sobre estes tópicos. Mesmo
considerando que o átomo seja do domínio da Física é necessário se conhecer alguns
detalhes sobre a sua estrutura para se entender de maneira mais convincente as moléculas e
as reações, que são do domínio da Química. Destacamos durante a apresentação e a
discussão do conteúdo a contribuição de cientistas que participaram da história da Química
para que o estudante possa se envolver com os desafios e os conflitos de idéias enfrentados
por esses profissionais ao longo da evolução da ciência. Nessa discussão procuramos inter-
relacionar teorias e experimentos em uma abordagem multidisciplinar. O material tem
complemento em sites da internet e em animações em flash desenvolvidas no NADEC
(Núcleo de Apoio à Divulgação e Educação em Ciências) da UFSC. Seja bem vindo ao
mundo da Química.

Marcos Aires de Brito


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Sumário

ÁTOMOS .............................................................................................................................. 5
Evidências para o átomo: as contribuições da Química................................................... 6
A lei periódica e a tabela periódica moderna dos elementos químicos .................. 13
O átomo: uma partícula complicada ............................................................................ 16
Estrutura do átomo: As contribuições da Física ............................................................ 19
Experiências com o átomo de hidrogênio ................................................................. 19
A determinação da relação carga/massa para o elétron ......................................... 21
A experiência de Millikan e a carga do elétron........................................................ 22
A contribuição de Rutherford para o entendimento do átomo .............................. 24
O átomo de hidrogênio e a teoria de Bohr................................................................ 28
O átomo: uma onda complexa ....................................................................................... 30
A teoria quântica ............................................................................................................... 31
A hipótese de Louis de Broglie: dualidade partícula-onda para o elétron ............ 31
Spin do elétron ............................................................................................................ 32
O princípio de exclusão de Pauli ............................................................................... 33
Configuração eletrônica e o princípio aufbau .......................................................... 33
O núcleo atômico ............................................................................................................ 36
A Transmutação Nuclear: Átomos Não são Eternos ................................................... 37
Decaimento  .............................................................................................................. 37
Decaimento  ............................................................................................................... 37
Emissão  ...................................................................................................................... 38
A Descoberta do Nêutron ................................................................................................. 39
Antipartículas e a Fissão Nuclear ..................................................................................... 42
A Estrutura em Camadas para o Núcleo Atômico ............................................................ 44
Considerações Finais sobre Átomos .......................................................................... 45
MOLÉCULAS .................................................................................................................... 46
Teorias em conflito ......................................................................................................... 47
Ligações químicas ........................................................................................................... 54
Propriedades Periódicas e a Ligação Química ................................................................. 54
Energia de Ionização .................................................................................................. 54
Afinidade Eletrônica................................................................................................... 55
Eletronegatividade ...................................................................................................... 56
Ligações iônicas........................................................................................................... 57
Ligações covalentes ..................................................................................................... 59
Ligações em metais ..................................................................................................... 63
Ligações de hidrogênio ............................................................................................... 64
Teoria da Ligação de Valência ...................................................................................... 67
Compostos de não metais ........................................................................................... 68
Compostos de coordenação ........................................................................................ 74
Modelo da Repulsão dos Pares Eletrônicos da Camada de Valência ............................... 82
4

Teoria do orbital molecular .............................................................................................. 99


REAÇÕES QUÍMICAS ................................................................................................... 105
Unidades de Concentração de Soluções ......................................................................... 106
Diluição de Soluções ...................................................................................................... 109
Definições de Ácidos e Bases ......................................................................................... 109
Produto Iônico da Água e pH ......................................................................................... 112
Cálculo do pH de Soluções de Ácidos e Bases Fortes ................................................... 115
Cálculo do pH de Soluções de Ácidos e Bases Fracos ................................................... 116
Reações entre Ácidos e Bases em Solução Aquosa ....................................................... 117
Indicadores de Ácidos e de Bases................................................................................... 117
Reações com transferência de elétrons ........................................................................... 122
Regras para a Determinação do nox ............................................................................... 122
Estequiometria de Equações Químicas Redox ........................................................... 123
Potenciais de Eletrodo .................................................................................................... 127
Diferença de Potencial e Energia Livre .......................................................................... 128
Diferença de Potencial e Fluxo de Elétrons .................................................................... 130
A Equação de Nernst ...................................................................................................... 131
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 134
5

Átomos
6

Evidências para o átomo: as contribuições da Química


Os alquimistas, que atuaram entre 300 anos aC e 1500 anos dC, misturando religião
e magia, símbolos e receituários secretos, manipulavam as substâncias para obter o “elixir
da longa vida” e a transmutação de metais “inferiores e pouco desenvolvidos” como
chumbo e ferro em metais “superiores e desenvolvidos” como prata e ouro. Eles
acreditavam que a “evolução dos metais”, até se transformarem em ouro, poderia ser
acelerada através da “pedra filosofal” desde que manipulados por um alquimista
“espiritualmente evoluído”.

Em 1662, Robert Boyle, químico irlandês, publicou o livro Sceptical Chymist, cujo
título indica que Boyle aboliu o prefixo na palavra Alchemy e introduziu a palavra
Química. Durante o século XVII dC os químicos estavam interessados no estudo dos gases
e Boyle descobriu uma lei que estabelece uma relação inversa entre o volume e a pressão de
um gás quando a massa e a temperatura se mantêm constantes, conforme a seguinte
representação gráfica.

 Gráfico da lei de Boyle V  1/P  PV = constante ou P1V1=P2V2

Com o desenvolvimento da Química os fatos experimentais foram se acumulando


havendo assim a necessidade de uma teoria científica sobre a constituição da matéria.
Embora as evidências experimentais da existência do átomo, do final do século XIX e
início do século XX, sejam do domínio da Física, as evidências anteriores eram do domínio
da Química. Por exemplo, em 1776 o químico inglês Cavendish, demonstrou que a massa
de ácido sulfúrico (H2SO4), que neutraliza a massa de carbonato de potássio (K2CO3),
também reage completamente com igual massa de carbonato de cálcio (CaCO3). Essa
correlação foi reconhecida como lei das proporções múltiplas.

Exemplos de aplicação da lei das proporções múltiplas

H2SO4(aq) + K2CO3(aq)  H2CO3(aq) + K2SO4(aq)

H2SO4(aq) + CaCO3(aq)  H2CO3(aq) + CaSO4(aq)


7

Em 1785 o químico francês Antoine Laurent de Lavoisier demonstrou a lei da


conservação da massa para as reações químicas, em um sistema isolado, ou seja, a massa
dos produtos é igual à soma das massas dos regentes.

H2(gás) + ½ O2(gás)  H2O(L)


2,0g 16,0g 18,0g

Nessa época, Lavoisier sugeriu a idéia de substância elementar como “o último


ponto que a análise química atinge”. Ele desenvolveu a idéia de elemento químico e
concebeu uma tabela com 33 “substâncias”. Lavoisier publicou, em 1789, o livro Tratado
Elementar de Química, considerado um marco para o desenvolvimento da Química
moderna. Lavoisier foi o primeiro químico a fazer determinações quantitativas sobre a
composição do ar, água, substâncias orgânicas e inorgânicas.

O cientista francês Jacques Charles, em 1787, estabeleceu uma lei para os gases em
que considerando a pressão constante, o volume ocupado por uma massa de gás é
diretamente proporcional à temperatura. Charles estudou as variações nos volumes de
oxigênio, hidrogênio, dióxido de carbono e ar causados por variações de temperatura,
conforme a seguinte representação gráfica.

-273 , 15 0C 00
C

 Gráfico da lei de Charles: V P (destacar o zero absoluto = - 273,150C)

Joseph Gay-Lussac, um cientista francês, demonstrou entre 1802 a 1808, que outros
gases poderiam ser adicionados à lista de Charles. Gay-Lussac ressaltou que para cada
incremento de grau Celsius implica em uma variação de volume que corresponde a 1 / 273
do volume do gás a 00C, contanto que a pressão se mantenha constante. Gay-Lussac
demonstrou que, em uma determinada temperatura e pressão, os volumes de gases que
reagem guardam entre si uma relação simples e que os volumes dos produtos gasosos na
reação também guarda uma relação de números inteiros com o volume dos reagentes. Por
exemplo, na reação de hidrogênio com cloro, ativada por radiação ultravioleta, para formar
dois litros de cloreto de hidrogênio gasoso é necessário 1 litro de hidrogênio, para cada litro
de cloro; Na reação entre hidrogênio e oxigênio, ativados por uma faísca elétrica, para
formar vapor de água, são necessários 2 litros de hidrogênio para cada litro de oxigênio,
formando dois litros de vapor de água.
8

H(gás) + Cl2(gás)  2HCl(gás)

2H2(gás) + O2(gás)  2H2O(L)

Veja um link sobre lei dos gases ideais.

Em 1799 o químico francês J. L. Proust estabeleceu a lei das proporções definidas,


pois os compostos químicos, independentemente de como são preparados, apresentam uma
composição característica. Segundo Proust “diferentes amostras de uma substância contem
idênticas proporções dos elementos que a constituem”. Sabemos hoje que a constância na
composição de um composto evidencia a sua pureza, tendo reflexos em suas propriedades
físicas como ponto de fusão, ponto de ebulição e densidade. Além do mais, podemos ter
isômeros, que são compostos com a mesma fórmula química, mas que apresentam
diferentes propriedades físicas e químicas. William Nicholson e Anthony Carlisli, químicos
ingleses, demonstraram por eletrólise em 1800, que na decomposição da água eram
liberados oxigênio e hidrogênio.

 Exemplos de aplicação da lei de Proust

a) Obtenção de água a partir de hidrogênio e oxigênio

2H2(gás) + O2(gás)  2H2O(L) + calor

b) Obtenção de água a partir do aquecimento, a 130 0C por uma hora, de sulfato de


magnésio heptahidratado

MgSO4 . 7H2O(sólido)  MgSO4(sólido) + 7H2O(gás)

c) Eletrólise da água: Uma corrente elétrica decompõe a água em hidrogênio e


oxigênio conforme a seguinte equação: 2H2O(L)  2H2(gás) + O2(gás). Utiliza-se,
normalmente o equipamento de Hoffman, conforme a seguinte representação.
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H 2O
O2
H2 o
o o

o o
o o
o oo o
o o o oo
oo o o
o oo o o
o o oo Bateria
o
o o
o o + _
oo o

Observe na representação a indicação do dobro do volume de hidrogênio em


relação ao volume de oxigênio o que comprova a formula química H 2O para o
composto água. Note que do terminal do tubo ligado ao pólo positivo da bateria se
desprende oxigênio e do terminal do tubo ligado ao pólo negativo se desprende
hidrogênio.

Veja uma animação sobre a eletrólise da água.


Em 1801 surgiu a lei das pressões parciais de John Dalton, um cientista inglês,
em que a pressão total exercida pela mistura de gases é igual à soma das pressões parciais
desses gases, mas alguns gases reagem o que cria problemas para a lei de Dalton!

O volume de um litro do gás hélio (a 100 mmHg) é transferido para um balão


de um litro e que já contem um litro do gás hidrogênio (a 300 mmHg). Se as
temperaturas de cada gás e da mistura de gases são iguais, a pressão da mistura será
igual a 400 mmHg, ou seja, PHe + PH2 = Ptotal, desde que a temperatura se mantenha
constante.
100 mm Hg 300 mm Hg 400 mm Hg

He H2 He + H2

1 litro 1 litro 1 litro

Em 1808, John Dalton, resgatando a idéia dos filósofos gregos (Leucipo e


Demócrito), apresentou argumentos em favor da hipótese atômica da matéria. Dalton
aceitava a idéia que átomos seriam partículas fundamentais e indivisíveis. Dalton se negou
a aceitar os estudos de J. Gay–Lussac sobre as regularidades entre os volumes de reagentes
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e produtos nas reações em estado gasoso, pois não via como conciliar os dados
experimentais com os princípios de sua teoria atômica. O cientista italiano, Amadeu
Avogadro, em 1811, apresentou um principio, conhecido atualmente como princípio de
Avogadro, em que volumes iguais de qualquer gás, à mesma temperatura e pressão,
contem o mesmo número de moléculas. De fato, quando se mantém no experimento a
pressão e a temperatura constantes, o volume de uma amostra de gás é proporcional ao
número de moléculas na amostra. Como moléculas podem ser contadas por mol (1 mol de
moléculas corresponde ao número de Avogadro (N) de moléculas  6,023 x 1023), portanto,
o volume de uma amostra de gás é proporcional ao número de moles (n) de moléculas
presentes na amostra de gás, sendo esse volume (V)  n, quando T e P = constantes.
Observe a dimensão do número de Avogadro, N  602 000 000 000 000 000 000 000.
Como conseqüência das leis de Boyle, Charles e do princípio de Avogadro, foi possível
deduzir a lei dos gases ideais ou gases perfeitos, PV = nRT. Considera-se um gás perfeito
se desprezando a existência de forças de atração entre as moléculas desses gases. R =
constante universal dos gases perfeitos: 8,31 J.mol -1.K-1 ou R= 0,082 L.atm.K-1.mol-1.

Resumo das leis dos gases ideais:

Lei de Boyle: V  1/P


Lei de Charles: V  T
Princípio de Avogadro: V  n
Lei dos gases ideais: PV = nRT

Em 1873 Diderick van der Waals reconheceu a existência de forças fracas, de


atração e repulsão, entre moléculas de um gás o que resulta em desvios observados na lei
dos gases ideais. A equação de estado de van der Waals, para gases reais, se encontra a
seguir. As constantes a (L2 atm mol-2) e b (L mol-1) são específicas para cada gás, por
exemplo: H2 (a = 0,224; b = 0,0266), He (a = 0,034; b = 0,0237), N2 (a = 1,39; b = 0,0391),
O2 (a = 1.36; b = 0,0318).

n2a
P + V _ nb = nRT
V2
O princípio de Avogadro explica as observações de Gay-Lussac, pois volumes
iguais de hidrogênio e cloro (1 litro de cada gás) se combinam para formar 2 litros de
cloreto de hidrogênio. Na experiência de Gay-Lussac, dois volumes de hidrogênio reagem
com um volume de oxigênio, para formar dois volumes de água. Essas observações
levaram Avogadro a propor a fórmula da água como sendo H2O e não OH como acreditava
Dalton. Como um volume de oxigênio produz dois volumes de água, a molécula (um termo
introduzido por Avogadro) de oxigênio deveria conter um número par de átomos de
oxigênio. O fato de serem necessários dois volumes de hidrogênio por volume de oxigênio
sugeria que as moléculas de água contem duas vezes mais átomos de hidrogênio do que de
oxigênio. Avogadro faleceu em 1856, e se passaram cerca de 50 anos, sem que as suas
idéias, que contrariavam a teoria de Dalton fossem aceitas. Em 1860 o químico Stanislaw
Cannizaro demonstrou que Dalton estava errado, ou seja, o princípio de Avogadro poderia
ser empregado para a determinação de pesos moleculares. Atualmente, átomos não são
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mais imaginários, nem indivisíveis e nos século dezenove e vinte vários cientistas
contribuíram para o conhecimento sobre a estrutura da matéria.

Breve cronologia para o átomo:

1874 – Stoney: sugestão para o elétron como uma partícula do átomo


1897– Thomson: determinação da relação carga/massa para o elétron
(-1,76 x 1011C/Kg)
1909 – Millikan: determinação da carga do elétron
(e = -1,6 x 10-19C  m = 9,1 x 10-31Kg)
1911 – Rutherford: proposta de modelo para o átomo com núcleo e eletrosfera
1913 – Bohr: proposta de estrutura para o átomo com níveis de energia
1924 – de Broglie: hipótese para a dualidade partícula-onda para o elétron
1925 – Goudsmit e Unlenbeck: proposta de spin para o elétron
1926 – Schrödinger: modelo quântico para o átomo

No estágio inicial da evolução da Química moderna as substâncias originadas de


animais e de vegetais eram consideradas “orgânicas”, enquanto que aquelas de origem
mineral e da atmosfera eram consideradas “inorgânicas”. Algumas leis válidas para as
substâncias inorgânicas não se aplicaram às substâncias orgânicas, que eram consideradas
complicadas, pois seriam produzidas nos organismos sob a ação da “força vital”. A idéia do
vitalismo prevaleceu até 1828, quando Frederick Wöhler, um químico alemão, sintetizou a
uréia (NH2CONH2), através do aquecimento de cianato de amônio (NH4OCN), de acordo
com a seguinte reação: NH4OCN(sólido)  NH2CONH2(gás).

Uréia era considerada um composto orgânico, pois havia sido isolado da urina
humana, por Roule em 1780. Por outro lado, o reagente era considerado inorgânico e assim,
as substâncias orgânicas passaram a ser consideradas com derivadas do carbono.

Em 1832, o químico inglês Humphey Davy e seu assistente Michael Faraday


estudaram intensamente as relações quantitativas da eletrolise. No mesmo ano, Faraday
expressou a visão de que a condução elétrica de soluções estaria relacionada ao movimento
de partículas carregadas, que denominou íons, distinguindo entre cátions (íons positivos) e
ânions (íons negativos). Considerando que cátions e ânions são importantes para o estudo
da Química, apresentamos a seguir exemplos dessas espécies, com a respectiva
nomenclatura.
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Exemplos de cátions e ânions:

cátions
H+ = próton (o átomo de hidrogênio que perdeu 1 elétron)
Fe2+ = ferro (II)
Fe3+ = ferro (III)
NH4+ = amônio
Ag+ = prata(I)

ânions
H- = hidreto (o átomo de hidrogênio que ganhou 1 elétron)
NO2- = nitrito
NO3- = nitrato
N3- = azoteto
N3- = nitreto
OH- = hidróxido
O2- = óxido
CO32- = carbonato
HCO3- = hidrogenocarbonato
S2- = sulfeto
SO42- = sulfato
SO32- = sulfito
S2O42- = ditionito
S2O82- = peroxodissulfato
O22- = peróxido
SiO32- = silicato
ClO- = hipoclorito
ClO2- = clorito
ClO3- = clorato
ClO4- = perclorato
CNO- = cianato (a ligação com um cátion ocorre através do átomo de oxigênio)
OCN- = isocianato (a ligação com um cátion ocorre através do átomo de nitrogênio)
CNS- = tiocianato (a ligação com um cátion ocorre através do átomo de enxofre)
SCN- = isotiocianato (a ligação com um cátion ocorre através do átomo de nitrogênio)
CN- = cianeto (a ligação com um cátion pode ocorrer através do átomo de carbono ou
através do átomo de nitrogênio)
CH3COO- = acetato
C2O42- = oxalato
CrO42- = cromato
Cr2O72- = dicromato
PO43- = fosfato
MnO42- = manganato
MnO4- = permanganato

As leis de Faraday para a eletrólise proporcionaram à história da ciência uma


primeira e excelente demonstração experimental da existência de uma carga elétrica
elementar. Faraday demonstrou, com células eletrolíticas, que a quantidade de substância
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liberada em um eletrodo era proporcional à quantidade de eletricidade que passava pela


célula. Além do mais, quando várias células eram interligadas em série, uma dada
quantidade de eletricidade liberava quantidades equivalentes de produtos da eletrólise. Para
interpretar esses resultados Faraday relacionou os pesos equivalentes de substâncias, por
exemplo, 1,0g de hidrogênio, 108,0g de parta, etc., com igual quantidade de eletricidade. A
partir de experimentos Faraday demonstrou que 100 x 10 3C/eqg (Coulomb/equivalente
grama) de eletricidade ao passar por uma solução de nitrato de prata provoca um depósito
de 1,11797g de prata.

A técnica da eletrolise está relacionada ao uso de uma corrente elétrica para


produzir uma reação química. A passagem da corrente elétrica através da solução de
eletrólitos provoca o deslocamento dos íons positivos para o pólo negativo da célula
eletrolítica, denominado catodo. Do mesmo modo os íons negativos são deslocados
para o pólo positivo, denominado anodo. Os cátions recebem elétrons do catodo,
sofrendo redução, enquanto que os ânions perdem elétrons para o anodo, sofrendo
oxidação. Por exemplo, o processo de eletrólise do ácido clorídrico pode ser
representado pelas seguintes reações parciais e a correspondente reação final:

Redução: 2H+ + 2e  H2(gás) (no catodo)


Oxidação: 2Cl-  Cl2(gás) + 2e (no anodo)
Eletrólise: 2HCl  H2(gás) + Cl2(gás)

_
_+
2H+ 2 Cl

_
2 HCl 2H+ + 2 Cl

Em 1874 Stoney sugeriu o termo elétron para essa unidade de eletricidade e previu a
quantidade aproximada de 10-19C de eletricidade para o elétron. Atualmente o valor para 1
Faraday = 96,4870 x 103C/eqg. Como prata é univalente, o elétron de Stoney equivale à
quantidade de eletricidade necessária para liberar um átomo de prata, ou seja, e = (100 x
103 / 1,11797Cg-1) x (107,870 gmol-1) x (1 / NA) mol, onde NA= número de Avogadro =
6,02252 x 1023 átomos por mol, que é o valor atualmente utilizado. Assim, o valor para um
mol de elétrons, NAe = 9,64870 x 104Cmol-1. Utilizando o valor para NA = 1023, Stoney
pode prever o valor da carga do elétron  10-19C ou em unidades eletrostáticas = (10-19C) x
(3,0 x 109esuC-1) = 3,0 x 10-10esu. Atualmente, o valor aceito para a carga do elétron =
4,80298 x 10-10esu. Na época de Stoney o número de Avogadro era estimado da ordem de
1024.

A lei periódica e a tabela periódica moderna dos elementos químicos

A periodicidade química foi reconhecida pela primeira vez em 1864, pelo químico
inglês John Newlands, que dispôs os elementos em ordem crescente de seus pesos
atômicos. Uma periodicidade semelhante, mas em termos de propriedades físicas, foi
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proposta em 1872, por Julius Lothar Meyer. Entretanto, a maior contribuição à Química
veio do químico russo Dimitri Mendeleyev (1869) que classificou os elementos químicos
em uma tabela periódica, dispondo os elementos com propriedades semelhantes em
colunas, denominadas grupos, e fileiras horizontais (períodos), por ordem crescente de seus
pesos atômicos.

Embora Mendeleyev tenha publicado a sua tabela periódica em 1869, em 1871


ele publicou uma nova versão, apresentada a seguir, com 63 elementos químicos
ordenados de acordo com seus pesos atômicos.

I II III IV V VI VII VIII


1 H
1
2 Li Be B C N O F
7 9,4 11 12 14 16 19
3 Na Mg Al Si P S Cl
23 24 27,3 28 31 32 35,5
4 K Ca _ Ti V Cr Mn Fe Co Ni
39 40 44 48 51 52 55 56 59 59
5 Cu Zn _ _ As Se Br
63 65 68 72 75 78 80
6 Rb Sr Yt Zr Nb Mo ? Ru Rh Pd
85 87 88 90 94 96 100 104 104 106
7 Ag Cd In Sn Sb Te I
108 112 113 118 122 125 127
8 Cs Ba Di Ce
133 137 138? 140?
9
10 Er La Ta W Os Ir Pt
178 180 182 184 195 197 198
11 Au Hg Tl Pb Bi
199 200 204 207 208
12 Th U
231 240

Outras tabelas surgiram, mas o gênio de Mendeleyev brilhou quando ele


deixava um espaço vazio, indicando que faltava um novo elemento, sempre que um
elemento caísse no grupo errado. Isso demonstrou sua confiança na lei periódica.
Cerca de 7 novos elementos foram sendo descobertos, conforme a previsão de
Mendeleyev, que passou a ser considerado como um profeta! Observe, em uma tabela
periódica moderna, que se baseia no número atômico (Z, ver página 26) crescente, que
iodo (Z= 53), cuja massa atômica = 126,9045 g/mol, aparece logo após o telúrio (Z =
52), que tem massa atômica maior (127,60 g/mol). Isso acontece, pois os elementos
ocorrem naturalmente na terra, como uma mistura de isótopos e os isótopos pesados
do telúrio são mais abundantes que os seus isótopos leves. A intuição de Mendeleyev,
muito antes de conhecer isótopos (ver página 27 e 36), fez com que ele posicionasse
corretamente o iodo no mesmo grupo dos outros halogênios, pois apresentavam
reatividades semelhantes.
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Os elementos químicos são representados por símbolos que contem uma ou duas
letras dos nomes desses elementos, sendo que a primeira letra é sempre maiúscula e a
segunda letra minúscula. Em uma tabela periódica moderna os elementos químicos são
ordenados de acordo com o critério do número atômico crescente até se completar com
elétrons um nível de energia, ou seja, a posição do elemento químico na tabela periódica
depende da sua configuração eletrônica, o que resulta em propriedades periódicas. A
notação IA, IIA, IIIA,..., VIII, na tabela a seguir, corresponde ao sistema IUPAC
(International Union of Pure and Applied Chemistry) antigo sendo hoje substituída pela
numeração 1, 2, 3,... , 18. Observe na tabela a seguir (nossa tabela periódica interativa está
disponível neste site) como os grupos de elementos químicos estão correlacionados aos
orbitais atômicos dos subníveis s, p, d e f. O elemento de número atômico 111, Ds
(Darmstádio), ou Uun de acordo com a IUPAC, foi descoberto em 1994, por um grupo de
pesquisadores alemães. A partir deste elemento químico a IUPAC decidiu utilizar uma
sistemática com um conjunto de três letras, para o símbolo do elemento, que representam
palavras de origem no Latin. Através dessa sistemática os elementos químicos de números
atômicos 111 a 118, por exemplo, tem a seguinte simbologia: 111 (Uun), 112 (Uub), 113
(Uut), 114 (Uuq), 115 (Uup), 116 (Uuh), 117 (Uus) e 118 (Uuo).

Para outras informações sobre os elementos químicos e seus principais compostos,


consulte também o seguinte endereço na internet:
http://www.lenntech.com/espanol/tabla-periodica.htm
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O átomo: uma partícula complicada


A partir do desenvolvimento, durante o século XIX, de técnicas de análises do
espectro luminoso emitido por gases aquecidos, surgiram algumas evidenciais
experimentais para o átomo. Em 1859 o químico R. W. Bunsen e o físico G. R. Kirchoff
desenvolveram o espectroscópio, e baseados na constatação de que um gás incandescente
emite luz de uma cor característica, vários e novos elementos químicos foram descobertos.
O próprio Bunsen descobriu o rubídio e o césio.

Veja um link sobre espectroscopia


http://astro.if.ufrgs.br/rad/espec/espec.htm
Bunsen desenvolveu um queimador especial de gás, o Bico de Bunsen, cuja chama
com suas regiões oxidantes e redutoras, se encontram representadas a seguir.
chama oxidante superior

chama redutora superior

zona de maior temperatura


chama oxidante inferior
chama redutora inferior
zona de menor temperatura
(aproximadamente 400 0C)

Utilizando um Bico de Bunsen, com chama incolor, podemos observar o surgimento


de cores durante o ensaio de chama, para alguns elementos químicos, por exemplo: tálio
(chama verde), sódio (chama amarela), potássio (chama roxa–violeta), conforme as
seguintes representações.

tálio sódio potássio


Ensaios de chama no Bico de Bunsen

Quando se introduz um composto de sódio na chama do Bico de Bunsen a cor


observada é amarela, mas quando essa radiação liberada do sódio é examinada através de
um espectroscópio se observam duas linhas amarelas, que são denominadas as “linhas D”
do sódio. Do mesmo modo, potássio apresenta duas cores, (roxa, com duas linhas = 7665 Å
17

e 7669 Å e violeta, com duas linhas = 4044 Å e 4047 Å), perfazendo 4 linhas no espectro
de emissão desse elemento químico. Portanto, a análise espectroscópica apresenta detalhes
que não são revelados pelo ensaio de chama no Bico de Bunsen. Apresentamos na seguinte
tabela os valores para os comprimentos de onda (), relacionados com as linhas no espectro
de emissão de alguns elementos químicos. Note que 1Å= 10-8cm, sendo Ångstron uma
unidade de comprimento de onda () em homenagem ao físico sueco A. J. Ångstron (1814-
1874).

Ondas eletromagnéticas são caracterizadas pelos parâmetros, a = amplitude da onda


e = comprimento de onda, conforme a representação a seguir de uma onda monocromática
se propagando na direção x. Ondas podem ser monocromáticas (de mesmo  e mesma
energia) ou policromáticas (com diferentes  e diferentes energias), dependendo da fontes
que as emitem.
y

a
x

Veja um link sobre a propagação da radiação


eletromagnética
http://mutuslab.cs.uwindsor.ca/schurko/animations/emwave/em
wave.htm
Elemento químico Cor da chama Linhas no espectro, Å
Sódio Amarela 5890, 5896
Potássio Roxa 7665, 7669
violeta 4044, 4047
Lítio Roxa 6708
Alaranjada 6103
Tálio Verde 5351
Cálcio Roxa 6162
Verde 5559
Violeta 4227
Estrôncio Roxa 6870
Alaranjada 6060
Azul 4607
Violeta 4078
Bário Verde 5778,5536,5519, 5425, 5137
Azul 4874

Um espectroscópio ótico consiste basicamente de 4 componentes: uma fonte de


radiação, uma fenda para colimar a radiação, um prisma ou grade de difração, que separa a
radiação conforme os comprimentos de onda, e um detector onde é registrado o espectro,
18

conforme a seguinte representação. A luz branca do sol, por exemplo, é policromática e


seria decomposta por um prisma nas várias cores que compõem o espectro visível. Nesse
caso o espectro seria contínuo, pois os comprimentos de onda () da radiação emitida estão
variando continuamente.

Um gás aquecido emite luz que ao passar pela grade de difração é separada em seus
componentes, conforme os exemplos apresentados na tabela anterior. O espectro nesse caso
é considerado discreto. O espectro discreto de uma mistura de elementos consiste de linhas
características, como se fossem a impressão digital para cada elemento químico. Uma
lâmpada de vapor de neônio puro emite luz vermelha, conforme a representação a seguir.

espectro de emissão
do neônio

neônio
aquecido

Veja um link sobre ensaios de chama no bico de Bunsen.


19

Estrutura do átomo: As contribuições da Física


Experiências com o átomo de hidrogênio

O espectro de emissão do átomo de hidrogênio foi obtido por vários cientistas entre
eles H. W. Vogel, E. Hagenbach e A. J. Ångstron, através de descargas de potencial elétrico
sobre H2(gás), sendo analisado (quanto ao espaçamento entre as raias coloridas) em 1885 por
Johann Jakob Balmer (Annalen der Physik und Chemie, v. 25, p. 80-85). Segundo Balmer,
um matemático suíço, os dados de Ångstron foram os mais exatos para a região do visível.
Ångstron registrou uma série de 4 linhas, em comprimentos de onda expressos em Å:
vermelho (6.562,10), verde (4.860,74), azul (4.340,1) e violeta (4.101,2), conforme a
seguinte representação.

Veja um link (line Spectra) sobre o espectro do hidrogênio.

Nas condições experimentais dessa experiência, 1H2(gás)  2 átomos de hidrogênio.


Balmer notou que o espaçamento dessa série de linhas (posteriormente denominada série de
Balmer) pode ser expresso em uma forma algébrica simples, ou seja, se cada linha do
espectro for relacionada a um número inteiro (n), então a freqüência () seria dada pela
seguinte fórmula:  = constante (1 / 22 – 1 / n2).

Balmer utilizou a sua fórmula para simular o espectro do hidrogênio na região do


visível e comparando com os dados experimentais obtidos por Ångstron, conforme os
seguintes valores, Balmer pode ter confiança em sua análise.

Valores obtidos por Ångstron (em Å) Valores simulados por Balmer (em Å)
H : 6562,10 (vermelho) 6562,08
H : 4860,74 (verde) 4860,80
H : 4340,1 (azul) 4340,00
H : 4101,2 (violeta) 41101,30

Freqüência () de uma onda é dada pelo número de cristas que passa por um
ponto, por segundo e velocidade da onda (c), é dada pelo produto entre a freqüência e
seu comprimento de onda: c =  ou  = c/. A região visível do espectro
eletromagnético inclui as cores desde o vermelho (  700 nm) até o violeta (  400
nm), conforme a seguinte representação. 1nm = 10 -9m. Sendo E = h  = hc/, uma
relação estabelecida por Planck em 1900, portanto a energia de uma onda varia
20

inversamente proporcional com o seu comprimento de onda, ou seja, a energia, cresce


do infravermelho para o ultravioleta.

E= hc

infravermelho ultravioleta

visivel
vermelho violeta

700 nm 400 nm

A constante estimada por Balmer = 1,09 x 105 e n = 3, 4, 5, ... ,. Qualitativamente,


de acordo com a fórmula de Balmer, pode-se prever que o espaçamento entre as linhas deve
diminuir em função do aumento de n, entretanto, na prática as medidas são realizadas em
comprimento de onda ( = c / ), sendo  / c = 1 /  = número de onda por unidade de
comprimento, que normalmente é expresso em cm -1.

1 /  = 1,09 x 105 (1 / 22 – 1 / n2) cm-1

Veja, a seguir, uma representação dessa experiência em que a luz liberada pelo
hidrogênio tem origem em transições do elétron nesse átomo. A interpretação para as
transições eletrônicas e o surgimento das cores no espectro de emissão de átomos, somente
foi possível, inicialmente em 1913, através da teoria de Niels Bohr e posteriormente, em
1926, através da teoria quântica de Shrödinger, Dirack, Heisenberg e outros cientistas, para
a estrutura do átomo de hidrogênio.

O espectro do átomo de hidrogênio apresenta outras linhas, além das 4 linhas


analisadas por Balmer. Em 1889, Rydberg obteve uma formula geral para a descrição
do espectro do hidrogênio, onde R = constante estimada por Rydberg = 1.09678 x 10 5
cm-1.

1 /  = R ( 1 / n12 – 1 / n22 ) cm-1 (n1 = 1, 2, 3, ...;n2 = n1 + 1, n1 + 2 ,...,.).


Atualmente a constante de Rydberg = 1.0967758 x 10 5 cm-1.

Cada valor para n1 corresponde a uma série de linhas, enquanto que os valores
para n2 estão associados com as linhas individuais em cada série.

Exemplos: n1 = 1  n2 = 2, 3, 4, .... (Série de Lynman que ocorre no ultravioleta)


n1 = 2  n2 = 3, 4, 5, .... (Série de Balmer que ocorre no visível)
n1 = 3  n2 = 4, 5, 6, .... (Série de Paschen que ocorre no infravermelho).
21

No início do século XX o átomo deixou de ser indivisível e a partir das experiências


de Thomson, Nagaoka, Millikan e Rutherford, iniciou-se a investigação da estrutura
atômica. A partir do conhecimento da estrutura eletrônica de átomos os fenômenos
químicos passaram a ser relacionados com as ligações químicas entre átomos e assim, a
Química passou a ser uma ciência mais previsível.

A determinação da relação carga/massa para o elétron

O primeiro experimento que resultou em informações diretas sobre a natureza do


elétron foi realizado em 1897 pelo físico inglês J. J. Thomson. Thomson demonstrou que a
eletricidade também é conduzida em gases através de íons, ou seja, basicamente através do
mesmo mecanismo utilizado nas soluções eletrolíticas de Faraday. De acordo com Faraday
para o desprendimento, por eletrólise, de um equivalente-grama de substância é necessário
deixar passar 96.491 C de eletricidade através da solução. Por exemplo, é necessário 1
Faraday de eletricidade para desprender 1,008 g de hidrogênio e 35,453 g de cloro de uma
solução de HCl. Utilizando um tubo catódico, para produzir um feixe de íons negativos e
defletindo esse feixe iônico em campos elétrico e magnético, Thomson demonstrou a
relação e/m para o elétron como  3 x 1017esug-1. Isto sugere que a magnitude da relação
entre carga e massa, dos íons negativos gerados pelo tubo catódico de Thomson, é cerca de
1840 vezes maior que o valor determinado por eletrólise (1,0g de hidrogênio) para o átomo
de hidrogênio, que é o mais leve entre os elementos químicos. A seguir se encontra
representado o equipamento desenvolvido e utilizado por Thomson para a medida da
relação carga/massa para o elétron.

bonba de
vácuo
N _
S
_

+ +

alta tensão

Os dados dos experimentos de Thomson indicavam o mesmo valor para a


relação carga/massa para o elétron, ou seja, os dados eram independentes do metal
utilizado (platina, alumínio ou ferro) para o catodo e do tipo de gás (vapor de água,
dióxido de carbono ou ar) utilizado nos experimentos. Portanto, o elétron poderia ser
imaginado como sendo uma partícula subatômica e assim Thomson propôs o primeiro
modelo moderno para o átomo, que seria compacto e com uma dispersão de partículas
positivas e negativas, pois o átomo é eletricamente neutro, conforme a seguinte
representação.
22

+ + +
+ + + + +
+ +
+ + ++ ++ + + +
+ + ++++
+ +
+ + + + +
++ ++
+ + + +
+ +++ + +
+
+ + + + ++ + + +
+ + + + +
+ + +

Após o sucesso do experimento de Thomson, que demonstrou uma relação e/m


menor que essa relação para o íon H+, o próprio Thomson tentou determinar, sem sucesso, a
carga especifica do elétron. A experiência de Thomson, além de valor histórico e científico,
teve aplicações tecnológicas e posteriormente, no século vinte, foram utilizados raios
catódicos em tubos de imagem do televisor. Joseph John Thomson recebeu o Prêmio Nobel
de Física em 1906, em reconhecimento ao mérito do seu trabalho teórico e experimental
sobre a condução da eletricidade por gases.

No mesmo ano que J. J. Thomson divulgava o seu modelo para o átomo, o


físico japonês H. Nagaoka (Phil. Mag. v. 7, p. 445, 1904), baseado em dados do
espectro atômico, propôs um modelo planetário para o átomo. O átomo de Nagaoka
seria compacto, com uma massa central de partículas positivas, rodeada de anéis de
elétrons girando em órbitas concêntricas. Em 1907 Svante A. Arrhenius (Theories of
Chemistry, London: Longmans and Co) discutiu o modelo de J. J. Thomson, em
comparação ao modelo de H. Nagaoka, quanto às valências dos elementos químicos e
considerando a lei periódica de Mendeleyev testou esses modelos. Valência era um
termo utilizado para representar a capacidade do átomo em se combinar com outro(s)
átomo(s), através de ligações químicas. Svante August Arrhenius recebeu o Prêmio
Nobel de Química em 1903, em reconhecimento pela sua extraordinária contribuição
para a teoria da dissociação eletrolítica.

A experiência de Millikan e a carga do elétron

Foram realizadas várias experiências para determinar a carga do elétron, com


valores aproximados, mas somente em 1909, Robert A. Millikan, trabalhando na
universidade de Chicago e realizando com seus estudantes um experimento com gotas de
óleo, determinou o valor para a carga do elétron, e = 4,77 x 10-10esu. Robert Andrews
Millikan recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1923 pelo seu trabalho sobre a carga
elementar e sobre o efeito fotoelétrico. A seguir se encontra representado, de maneira muito
simplificada, o equipamento desenvolvido por Millikan para a medida da carga do elétron.
Gotículas de óleo, ou de outro líquido, eram espalhadas sobre a placa superior do
equipamento. Ao serem produzidas no borrifador, algumas gotas ficam carregadas, por
fricção. Algumas delas caem, dentro da câmara inferior, através de um pequeno orifício.
Quando isso acontece, aplica-se uma tensão entre as placas metálicas. Se a gota apresentar
carga, pode-se parar a sua queda ajustando-se a tensão de modo que a força elétrica na
partícula com carga seja exatamente igual e oposta, à força da gravidade. Com os dados
23

coletados a partir de muitos experimentos e utilizando-se de vários tipos de óleos ou


utilizando mercúrio, Millikan e seus estudantes calcularem o valor para a carga do elétron.

+
alta tensão
ajustável
_
luneta

Veja um link, com animação, sobre a experiência de Millikan.


http://www.youtube.com/watch?v=XMfYHag7Liw

O valor aceito atualmente para a carga do elétron = 4,80298 x 10-10esu.


Considerando esse valor, e o valor para a relação e/m, determinada por J. J.
Thomson, pode-se calcular o valor para a massa do elétron = 9,1091 x 10-28g,
indicando que o elétron é uma partícula subatômica. A partir da determinação
experimental da carga do elétron, Millikan pode calcular de maneira mais precisa o
valor para o número de Avogadro. Durante a eletrólise de uma solução de HCl, por
exemplo, ocorre a descarga de íons H + e Cl-, ou seja, cada íon tem carga unitária,
portanto, dividindo-se o valor de um Faraday de corrente pela carga do elétron indica
quantos átomos existem em 35,453 g da cloro ou em 1,008g de hidrogênio, podendo-se
calcular o número de Avogadro (N). N = 96491 C  1,602 x 10-19 C = 6,023 x 1023. O
valor atualmente utilizado para N = 6,02296 x 1023.

O número de Avogadro, que é uma constante física universal, é imenso. Para se


ter uma idéia mais realística do valor dessa constante, considere, por exemplo, um
grão de areia de volume = 0,3 cm3, portanto trata-se de uma partícula macroscópica.
O número de Avogadro de grãos de areia com essa dimensão seria 0,3 x = 1,8 x 10 23
cm3 = 1,8 x 108 Km3, ou seja, imagine uma caixa cúbica de dimensão = 565 km de lado,
contendo o número de Avogadro de grãos de areia, com 0,3 cm3 por grão, no interior
dessa caixa. Mesmo considerando o valor para o número de Avogadro, também
denominado um mol de espécies químicas, ( 6,02 x 1023 átomos, ou íons, ou
moléculas), a matéria nos parece contínua, pois não podemos enxergar elétrons, nem
átomos, nem moléculas. Como conseqüência da grandeza física do número de
Avogadro, é previsível a impossibilidade experimental de se obter um composto 100%
puro, pois mesmo em um mol de moléculas, podemos admitir muitas moléculas
diferentes daquelas que compõem o produto do nosso interesse. Assim, para o
trabalho experimental em Química, em síntese e em análises, mesmo utilizando
reagentes com o mais elevado grau de pureza deveremos considerar a impossibilidade
de se obter um produto 100% puro.
24

A contribuição de Rutherford para o entendimento do átomo

Ernerst Rutherford, cientista neozelandês, naturalizado inglês, recebeu o Prêmio


Nobel de Química em 1908 pelos trabalhos desenvolvidos no âmbito da desintegração dos
átomos, pela radiação  e pelas investigações no domínio das substâncias radiativas.
Rutherford, trabalhando na Universidade de McGill, em Montreal, demonstrou em 1900
que a radiação do urânio é composta de partículas  e , por ele assim denominadas.
Depois um investigador francês, P. Villard, demonstrou um terceiro tipo de radiação (),
juntamente com  e , emitida por materiais radioativos. A seguir se encontra a
representação da decomposição da radiação de Becquerel, a partir da desintegração do
núcleo de urânio, em partículas ,  e radiação .

bloco de
chumbo
com material
radioativo

S

N

 Raios ou partículas alfa (), apresentam carga positiva. Rutherford demonstrou que são
núcleos de hélio, de carga 2+, se movendo em alta velocidade, pouco penetrantes podendo
ser absorvidas por uma lâmina de alumio ou ouro ou mesmo por uma folha de papel;

 Raios () ou partículas beta, são de carga negativa (elétrons), semelhantes a raios
catódicos;

 Raios gama () são semelhantes aos raios X, mas de maior energia.

Veja uma animação sobre radioatividade natural.


A radioatividade foi descoberta em 1896 por Antoine Henri Becquerel, físico
francês, a partir de sais de urânio que emitem raios de grande poder de penetração,
sendo capazes de impressionar uma chapa fotográfica. No mesmo ano Maria
Sklodwska Curie estudando, para o seu trabalho de doutorado, a radiação emitida
pelo urânio, isolou uma fração de sulfeto de bismuto a partir da picheblenda
(uraninita, UO2 – U3O8), que é um mineral natural do urânio. Essa fração de sulfeto de
bismuto demonstrou ser 400 vezes mais ativa do que o urânio. Uma vez que sulfeto de
bismuto não é radioativo, ela imaginou que um novo elemento, fortemente radioativo
e com propriedades químicas semelhantes às do bismuto, deveria está presente como
impureza no mineral de urânio. Assim foi descoberto o polônio e no mesmo ano, os
Curie (Maria e Pierre Curie, professor e marido de Maria Sklodwska), isolaram uma
fração ativa de cloreto de bário contendo um novo elemento que chamaram de rádio.
Marie Curie (França) recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1911, pela descoberta
dos elementos rádio e polônio bem como pelo isolamento do rádio. Henri Becquerel,
25

Pierre Curie e Marie Curie dividiram o Prêmio Nobel de Física em 1903, em


reconhecimento ao trabalho sobre radioatividade espontânea.

Partículas  sendo iguais a núcleos de He2+, em contato com a matéria captam 2


elétrons, e assim são transformadas em átomos de hélio. Monitorando a quantidade de hélio
formado, Rutherford calculou o valor para o número de Avogadro. A partir de um grama de
rádio, que libera partículas , eram formados 159 mm3 de hélio por ano, ou 5,03 x 10-9 cm3
/ segundo. Rutherford e Geiger puderam detectar e contar as partículas , através de um
contador de partículas  desenvolvido por Geiger. Como cada partícula  se transforma em
um átomo de hélio, portanto, contando o número dessas partículas e medindo o volume do
gás hélio formado a partir de 1g do material radioativo, eles puderam calcular quantos
átomos de hélio foram formados na experiência. Considerando o volume de Avogadro
(22,4 litros, nas condições normais de temperatura e pressão) e sendo hélio um gás
monoatômico, a quantidade de átomos em 22,4 litros se iguala ao número de Avogadro.
Essas medidas foram inicialmente realizadas por Rutherford e Geiger, em 1911, que
calcularam o valor para N = 6,1 x 1023.

Os raios X foram descobertos pelo físico Wilhelm Conrad Röentgen, na


Universidade de Würzburg, em 1896. 17 anos após a descoberta dos raios X, Max von
Lue, demonstrou na Universidade de Monique que esses raios sofrem difração em
cristais e são semelhantes à luz comum, porém de alta energia. Röentgen estava
investigando os raios catódicos em tubos de descarga elétrica em gases, quando
observou que durante a descarga ocorria fluorescência em uma substância
(platinocianeto de bário) que guardava no laboratório. Somente ocorria a
fluorescência, e era visível, quando o tubo de descarga estava ligado, mesmo quando o
composto era coberto com um papel preto, ou até quando o composto era colocado a
metros de distância da fonte de raios catódicos. Em poucas semanas os raios X já
tinham aplicações inclusive para o diagnóstico médico. Röentgen ganhou o primeiro
Prêmio Nobel de Física, em 1901, pela descoberta dos raios X. Max von Laue recebeu
o Prêmio Nobel de Física de 1914, pela descoberta da difração de raios X em cristais.
A seguir se encontra uma representação para o padrão de difração de raios X em um
cristal, pelo método de Max von Laue. Observe a seguir a representação das
regularidades no filme fotográfico, indicando que os átomos em um cristal estão
espaçados a uma distância apropriada, permitindo assim servir como grade de
difração para essa radiação.
26

raios
difratados

mono cristal

colimadores de chumbo
com furos
_ filme fotográfico

tubo de
raios X

A técnica da difração de raios X em monocristais tem sido muito utilizada para


a determinação da estrutura cristalina e molecular dos compostos químicos. Raio X
são emitidos quando falta um elétron interno em um átomo e nesse caso um elétron
externo descerá para ocupar esse buraco havendo grande liberação de energia, da
ordem de centenas ou de milhares de elétron-volt. Bombardeando um metal com um
feixe de elétrons, acelerados por alguns milhares de volts, são produzidos buracos,
pela retirada de elétrons, no interior do átomo, o que provoca a descida de elétrons da
camada externa e a correspondente liberação de raios X. Por exemplo, caso um
elétron seja arrancado, devido ao impacto do feixe de elétrons, na camada K
(terminologia da espectroscopia de raios X), que corresponde a N = 1, irá descer um
elétron externo, com grande liberação de energia. A radiação K  liberada pelo cobre
(número atômico, Z = 29) e urânio (Z = 92) apresenta  = 1,12 Å e  = 0,11 Å,
respectivamente.

A partir de dados experimentais Ernest Rutherford pode concluir, em 1911, sobre a


existência do núcleo do átomo, com prótons e estimou os números atômicos dos elementos
químicos, como sendo inteiros (Z= 1,2,3 ...). Em 1913 H. Mosely descobriu uma relação
entre o espectro de raios X de um elemento químico e o seu número atômico, que indica o
número de prótons no núcleo do átomo.

O modelo de Thomson para o átomo foi testado experimentalmente em 1911


por Rutherford e seus estudantes H. Geiger e E. Masden, através do bombardeamento
de finas lâminas (0,01 mm) de metais pesados como ouro ou platina, com partículas
, obtidas da desintegração do rádio ou polônio. Essas partículas já eram conhecidas
como portadoras de carga 2+. A partir dos dados experimentais e de considerações
teóricas, Rutherford e Geiger invalidaram o modelo atômico de Thomson, pois
concluíram que o átomo seria essencialmente vazio, com um núcleo pesado e positivo,
tipo um ponto cujo raio seria = 10-12 cm no centro do átomo. Os elétrons, com carga
negativa, estariam se movendo em volta do núcleo e completando um espaço de raio 
10-8cm.
27

O equipamento desenvolvido e utilizado por Rutherford para testar o modelo


proposto por Thomson para a estrutura do átomo era simples e se encontra
representado a seguir.

partículas 

anteparo móvel
caixa de Pb lâmina de Au com ZnS
com Po lâmina de Pb
com orifício

Rutherford sugeriu que o átomo seria essencialmente a miniatura do sistema


solar. Os elétrons estariam se movendo em um plano, com órbitas circulares em volta
do núcleo, do mesmo modo que os planetas giram em volta do sol. O átomo de
Rutherford se encontra representado a seguir.
_ _
_ _
_
__ n _
_ + _
_ _
_ _

Veja um link com animação sobre o experimento de


Rutherford:
http://www.learnerstv.com/animation/animation.php?ani=121&
cat=chemistry.
A teoria inicial de Rutherford sobre a estrutura do átomo considerava apenas a
existência de elétrons e de prótons. Em 1920 Rutherford sugeriu o termo próton para a
espécie H+, ou seja, o átomo de hidrogênio sem o seu elétron e massa cerca de 1840 vezes
maior que a massa do elétron, a partir da determinação de raios positivos produzidos em
tubos de descarga. Até 1932 admitia-se que o núcleo era constituído de prótons, que
revelava a massa do átomo e de elétrons nucleares, para neutralizar a carga do núcleo. Em
1932 o modelo nuclear próton-elétron foi substituído pelo modelo próton-nêutron. Surgiu o
conceito de número de massa, pois átomos poderiam apresentar o mesmo número atômico,
mas com diferentes números de nêutrons, o que levou ao reconhecimento de isótopos. O
nêutron, partícula sem carga e com massa aproximadamente igual à massa do próton, foi
evidenciada experimentalmente por James Chadwick, na Inglaterra, em 1932, a partir do
estudo da interação de partículas  com átomos leves. Esta foi uma marca para o
desenvolvimento da Física nuclear. J. Chadwick recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1935
pela descoberta do nêutron. Em 1961, físicos e químicos adotaram um acordo internacional
para definir uma (unidade de massa atômica), baseada no isótopo 12 do átomo de carbono
(J. Chem. Ed., v. 39, p. 282, 1962). Antes de 1961, físicos e químicos utilizavam diferentes
escalas para expressar massa atômica. Físicos utilizavam uma escala de massas atômicas
28

com base no isótopo 16O, enquanto que os químicos utilizavam uma escala de massas
atômicas como sendo a média dos três isótopos do oxigênio ( 16O = 99,76%; 17O = 0,04%;
18
O = 0,20%) de acordo com as porcentagens naturais desse elemento.

Embora o modelo atômico de Rutherford possa parecer razoável, devemos


reconhecer que aceitamos uma analogia entre o átomo e um sistema macroscópico, o que
não parece adequado! Ao nível teórico o modelo planetário para o átomo é inconsistente,
pois sendo o elétron uma partícula que se move em órbita circular deveria experimentar
uma aceleração constante, devido a uma contínua mudança na direção de sua velocidade.
Para partículas carregadas e aceleradas pode-se prever, através da eletrodinâmica clássica, a
emissão de radiação eletromagnética, ou seja, o átomo estaria continuamente perdendo
energia, o raio de órbita estaria diminuindo, até finalmente o elétron, caindo em espiral,
deveria se chocar com o núcleo. Com um raio inicial de 10 -8cm, seria suficiente 10-10
segundos para o elétron colapsar no núcleo. Portanto, considerando a validade dos
experimentos de Rutherford e Geiger, seria necessário um outro enfoque teórico para se
tentar um modelo consistente com as propriedades do átomo.

O átomo de hidrogênio e a teoria de Bohr

Para tentar resolver as inconsistências do modelo de Rutherford (1911) e levando


em consideração o espectro de emissão do hidrogênio, Niels Henrik David Bohr (1913),
físico dinamarquês, propôs um novo modelo para a estrutura atômica. Bohr levantou a
hipótese de que as linhas no espectro do átomo de hidrogênio seriam originadas a partir de
transições do elétron entre níveis discretos de energia no átomo. De acordo com Niels Niels
o átomo teria uma estrutura com órbitas circulares e estacionárias, com elétrons girando em
volta do núcleo, conforme a seguinte representação. Bohr ganhou o Prêmio Nobel de Física
em 1922 pela sua contribuição sobre a estrutura atômica. Na seguinte figura se encontram
representadas as transições eletrônicas relacionadas com as cores observadas por Balmer
para o espectro de emissão do átomo de hidrogênio.

contínuo
n =6
n=5
n=4
n=3
n =2

n =1
*

Veja um link e uma animação sobre o modelo de Bohr para


o átomo de hidrogênio.
De acordo com a teoria de Bohr, a energia no átomo cresce desde n=1
(primeira órbita), em valores negativos, se aproximando de zero para órbitas muito
29

distantes do núcleo (n), de acordo com a seguinte equação:

z2 e 4 m
En = _ 1
n2 8h 0
2 2

_ 1 constante
=
n2
En = energia no átomo, em função de n (n = 1,2,3,...)
Z = número atômico (número de prótons no núcleo do átomo)
e = carga do elétron = 1,6 x 10-19C
m = massa do elétron = 9,11 x 10-31Kg
h = constante de Planck = 6,63 x 10-34J.s
E0 = permissividade elétrica no vácuo = 8,85 x 10-12 C2N-1m-2

Utilizando a fórmula de Bohr podemos calcular os diferentes valores para En,


por exemplo:

E1 = -2,167 x 10-18J
E2 = -0,542 x 10-18J
E3 = -0,241 x 10-18J
...

Desse modo, Bohr concluiu que os níveis de energia no átomo de hidrogênio são
discretos, ou seja, não são contínuos o que faz com que o elétron só possa absorver ou
emitir um valor definido de energia, mas a expressão de Bohr para En funciona
apenas para este átomo.

Entre 1913 e 1924 Niels Bohr fez parceria com o físico alemão, Arnold
Sommerfeld quando admitiram a idéia de órbitas elípticas para átomos
multieletrônicos, conforme a seguinte representação, mas surgiram muitas
dificuldades e a teoria se tornou sem utilidade.
30

O átomo: uma onda complexa


A teoria simples de Bohr, mesmo explicando o surgimento das cores no espectro do
hidrogênio, através de transições do elétron nesse átomo, não teve sucesso em explicar
outros experimentos com o hidrogênio, nem explicou o espectro de átomos
multieletrônicos, como hélio. Em 1926 surgiu a teoria quântica ondulatória de Schödinger,
um físico alemão, e de ouros cientistas que contribuíram com uma descrição ondulatória
para a matéria.

Neste ponto, torna-se conveniente utilizar diagramas de Grotrian (modelo


quântico) para a representação gráfica das linhas espectrais observadas no espectro
de emissão de átomos. Observe a seguir a região denominada série de Balmer. São
transições em que o elétron absorvendo energia em n = 1 (estado de menor energia,
denominado estado fundamental), torna-se excitado e ao retornar ao nível n = 2, emite
radiação, podendo-se observar 4 raias (vermelho, verde, azul e violeta) na região do
visível.

Energia (eV)
n= 4
12,40
n= 3 Pashen
infravermelho
(não visível)
n= 2 Balmer
visivel

0,0 n= 1 Lyman
ultravioela
(não visível)

Veja uma animação sobre transições do elétron no átomo


de hidrogênio.

Quando o retorno do elétron excitado ocorre para n = 1 (série de Lyman) a


radiação liberada se encontra na região do ultravioleta e quando o nível final é n =3
(série de Paschen), a radiação emitida pelo átomo de hidrogênio se encontra na região
do infravermelho do espectro eletromagnético. As transições que ocorrem nas séries
de Lyman e de Paschen são invisíveis para o olho humano, podendo ser detectadas
apenas por espectrofotômetros específicos.
31

A teoria quântica
Para ilustrar o progresso da ciência no início do século XX, através de uma
seqüência de hipóteses e confirmações experimentais, apresentamos a seguir alguns
princípios de Física moderna que reforçaram o modelo quântico para o átomo. Entre os
fundamentos da teoria quântica destacamos a hipótese de Louis de Broglie, o spin do
elétron, o princípio de exclusão de Pauli e a configuração eletrônica dos elementos
químicos, como fundamentais para o desenvolvimento da Química moderna.

A hipótese de Louis de Broglie: dualidade partícula-onda para o elétron

Assim como a luz apresenta uma característica dual partícula-onda, o físico francês
Prince Louis-Victor Pierre Raymond de Broglie propôs em 1924 que o elétron também
teria comportamento de partícula-onda. Louis de Broglie unindo as idéias de Planck em
1900 (E= h) e de Einstein em 1905 (E= mc2) propôs que um elétron com momento
(quantidade de movimento) p deveria apresentar um comprimento de onda = h/p. Para um
fóton de radiação, E = mc2 e E = h  mc2 = h, ou seja, mc = h/c = h/   = h/p, onde
h = constante de Planck (6.63 x 10-34 Js). Louis de Broglie recebeu o Prêmio Nobel de
Física de 1929 pela descoberta da natureza ondulatória dos elétrons.

Sendo válida a hipótese de Louis de Broglie, podemos aplicá-la com relação à


estrutura do átomo de hidrogênio. Para que uma órbita circular se torne estacionária,
o comprimento de onda do elétron deve se ajustar ao comprimento da órbita.
Portanto,  deve ser um múltiplo da circunferência, ou seja, n = n(h / 2) = 2 R ou
nh /p = 2R 2R = n(h / 2) = pR. Portanto, n(h / 2) = Mvr = p (momento angular
orbital), onde n = inteiro, diferente de zero, = 1, 2, 3,...), conforme a seguinte
representação para o átomo de Louis de Broglie. O comprimento de onda, calculado
pela relação de Louis de Broglie (1,67Å), quando comparado ao valor experimental
determinado em 1927 por Davisson e Germer (1,65Å), que utilizaram a técnica de
difração de elétrons em um cristal de níquel, demonstra que a hipótese foi válida.
32

Spin do elétron

Antes do desenvolvimento da teoria quântica, S. Goldsmit e G. Uhlenbeck (1925)


ao analisarem o espectro do átomo de sódio, que apresenta duas linhas (as linhas D do
sódio), quando se esperava apenas uma linha, postularam que o elétron deveria apresentar
um momento angular intrínseco, que denominaram Momento Angular Spin, com valor
1/2(h/2). Portanto, independente do movimento orbital e mesmo em um estado s (orbital
esférico), onde l=0 existe um momento magnético. Esse efeito já havia sido observado por
Stern e Gerlach em 1922 para os átomos de prata e de sódio. Goldsmit e Uhlenbeck
tentaram relacionar, sem sucesso, essa propriedade com uma possível rotação da partícula
(o elétron) em torno do seu eixo. O spin eletrônico foi aceito na teoria quântica, após
Schrödinger, a partir do tratamento ondulatório relativístico, realizado por Dirac em 1928.

Algumas evidências experimentais suportam a hipótese para o spin do elétron, como


por exemplo, a experiência de Stern e Gerlach.

 A experiência de Stern e Gerlach e o spin do elétron

A primeira medida direta do spin do elétron, idealizada em 1921, foi realizada


em 1922 por Otto Stern e Walter Gerlach, utilizando um feixe de átomos de prata ou
de sódio, conforme esquematizada na próxima figura.

Veja uma animação sobre a experiência de Stern e Gerlach.


Os átomos eram produzidos por evaporação de prata, em elevada temperatura,
em um forno e dirigidos para um alvo (uma placa de vidro para o depósito de prata)
através de um orifício no forno. Era feito vácuo no sistema de modo a gerar um feixe
de átomos. Antes de atingir o alvo, o feixe de átomos passa por um campo magnético
não homogêneo. A previsão seria observar, no alvo de vidro, um depósito de prata na
forma de uma linha vertical contínua e a partir do comprimento dessa mancha seria
calculado o momento magnético do átomo. O insucesso da previsão clássica para o
momento angular do átomo se revelou quando os pesquisadores verificaram que na
placa existiam apenas duas manchas pontuais. A experiência de Stern e Gerlach foi
33

plenamente explicada a partir de 1927 com o princípio de exclusão de Pauli e em 1928


quando Dirac exprimiu a equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio, em sua
forma relativística, incluindo o número quântico spin com possíveis valores de +½
(spin ) e -½ (spin ).

Na representação, a bifurcação de um feixe de átomos, registrada no alvo, é


provocada pela interação do spin de um dos elétrons do elemento químico com o
campo magnético não homogêneo aplicado aos átomos. Por exemplo, os 11 elétrons do
átomo de sódio podem ser agrupados em cinco pares mais um elétron desemparelhado
(3s1). Este último elétron possui 50% de possibilidade de apresentar spin  e 50% de
possibilidade de apresentar spin  o que provoca a bifurcação do feixe de átomos ao
interagir com o campo magnético aplicado aos átomos. O elétron desemparelhado
potencializa o momento angular de spin, contribuindo de maneira dominante para o
momento magnético do átomo.

Os pares de elétrons internos ocupam orbitais de modo que as componentes do


momento orbital e de spin são canceladas. A contribuição nuclear é desprezada na
interpretação da experiência de Stern e Gerlach, pois o momento magnético nuclear é
desprezível quando comparado com o momento intrínseco do elétron. Estas
observações estão de acordo com a teoria quântica que admite s= ½ ou ms=±½.
Escolhendo-se, de maneira arbitrária, a direção z como sendo paralela ao campo,
resulta em ms = + ½ na direção +z e ms = - ½., na direção antiparalela ao campo (–z).
Outros experimentos com feixes de átomos de hidrogênio, potássio e cobre,
demonstraram o mesmo efeito, mas com átomos diamagnéticos como zinco, cádmio,
mercúrio e hélio, não há desdobramento, pois ocorre o cancelamento do spin.

O princípio de exclusão de Pauli

Independente da mecânica quântica, o físico austríaco Wolfgang Pauli postulou, em


1925, que “dois elétrons não podem ter o mesmo conjunto de números quânticos”. Quando
a análise de um sistema com mais de um elétron é comparada com resultados experimentais
este postulado é necessário como um complemento à equação de Schrödinger, que prever 3
números quânticos: n = número quântico principal; l = número quântico azimutal; m =
número quântico magnético, para a descrição do átomo de hidrogênio. Portanto, de acordo
com o princípio de exclusão, um orbital comporta no máximo 2 elétrons com spins
contrários. Após o tratamento ondulatório relativístico, realizado por Dirac em 1928, o
átomo passou a ser descrito por quatro números quânticos, com a inclusão de ms = número
quântico spin. W. Pauli recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1945 pela descoberta do
princípio de exclusão.

Configuração eletrônica e o princípio aufbau

A teoria ondulatória de Schödinger não será discutida, pois apresenta grande


sofisticação matemática. Essa teoria substituiu a teoria de Bohr, mas também apresenta
aproximações para a descrição de átomos multieletrônicos. A teoria ondulatória
disponibilizou a projeção espacial dos orbitais no átomo de hidrogênio (s, p, d e f...), se
34

constituindo em uma importante ferramenta para o estudo da Química. Consulte as tabelas


1 e 2 (disponíveis neste site em tabela periódica interativa), para uma visualização da
distribuição espacial dos orbitais atômicos e também para informações sobre os elementos e
alguns compostos químicos.

Considerando os orbitais do átomo de hidrogênio como uma aproximação para os


orbitais de outros átomos e de íons, de acordo com a teoria quântica a energia para o estado
fundamental de um átomo ou de íons apresenta-se na seguinte ordem: s  p  d  f.
Considerando esta seqüência de energia, optamos por colorir os elementos químicos e seus
orbitais de valência, nas tabelas 1 e 2, em tons de vermelho, verde, azul e violeta, pois de
acordo com Planck E = hc/. Para alguns estados excitados de energias são encontradas
inversões tais como 6s  5d  4f  6p, etc.. Em geral, a energia de um dado orbital depende
da carga nuclear efetiva (ver o átomo e a mecânica quântica, neste site, em downloads)
sobre esse orbital e assim os diferentes tipos de orbitais são afetados de maneira diferente.
Portanto, não existe um ordenamento simples das energias dos orbitais, que seja uma
maneira correta para todos os elementos químicos. O seguinte ordenamento pode ser
utilizado, pois é útil em primeira aproximação, para a configuração eletrônica do estado
fundamental dos elementos químicos. 1s  2s  2p  3s  3p  4s  3d  4p  5s  4d  5p
 6s  5d  4f  6p  7s... Veja um link sobre orbitais atômicos
http://winter.group.shef.ac.uk/orbitron/AOs/3p/index.html

Considerando que as energias no átomo de hidrogênio podem ser calculadas


pela seguinte expressão, em que n é a única variável (n = 1, 2, 3,...), existem (n – 1)
valores para l.
2
En= _ Z me4
1
n2 2
2h

Para cada valor de l existem 2l + 1 valores para ml, portanto, consideramos 2n 2


elétrons, no máximo por nível de energia. Conforme os seguintes exemplos, o valor de
l está relacionado com os orbitais no átomo de hidrogênio. Apenas como uma
informação deve-se registrar que a representação espacial dos orbitais atômicos (s =
esférica, etc.), é resultante da solução da equação de Schödinger para a parte angular
da função de onda que representa o átomo de hidrogênio. Trata-se de um protocolo
matemático sofisticado e foge ao escopo desta apresentação. A seguinte tabela
apresenta as relações entre os números quânticos para o átomo de hidrogênio.

n (relacionado l=n-1 (relacionado notação ml=2l+1 n0 máximo de


com a energia no com os orbitais) (componente elétrons por nível
átomo de H) magnética) de energia = 2n2
1 0 s 0 2
2 1 p 1,0,-1 8
3 2 d 2,1,0,-1,-2 18
... ... ... ... ...
35

Como o princípio de exclusão de Pauli limita dois elétrons por orbital, temos o
seguinte ordenamento geral, com o número máximo de elétrons por nível de energia, para
orbitais do tipo hidrogênio: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p63d10... .

Um procedimento aproximado foi sugerido por Moeller (T. Moeller, Inorganic


Chemistry–Wiley, New York, 1952) para se estabelecer o preenchimento dos níveis de
energia crescente, de acordo com o “princípio aufbau”, conforme apresentado a
seguir. Entretanto, sugerimos para uma correta configuração eletrônica a consulta a
uma tabela periódica moderna dos elementos químicos como o procedimento mais
adequado, principalmente para os elementos de transição (bloco d).

energia 1s 2

2 s2 2 p 6
3 s 2 3 p 6 3 d 10
10
4 s2 4 p 6 4 d 4 f 14
10 14
5 s 2 5 p 65 d 5 f
10
6 s 2 6p 6 6 d

7 s2

Os elementos de transição são caracterizados pelo subnível d incompleto, mas a


separação entre os orbitais 3d e 4s sendo muito pequena para os metais da primeira série de
transição, ocorrem casos onde o estado fundamental do elemento não apresenta o orbital 4s
completo, por exemplo, Cr = [Ar] 4s13d5 e Cu = [Ar] 4s13d10. De fato, os subníveis nd têm
a tendência, por razões de simetria orbital, de apresentarem-se completamente preenchidos
(d10) ou preenchidos pela metade (d5). Os elementos denominados terras raras ou
lantanídeos, são caracterizados pelo subnível 4f incompleto e apresentam um
comportamento químico semelhante.

O orbital 6s, de maior raio que 4f, protege 4f em seu interior, fazendo com que
o comportamento químico dos lantanídeos seja semelhante. À medida que Z aumenta
de uma unidade, ou seja, o próximo elemento ganha um elétron que entra no átomo
em orbital 4f, a camada de valência contínua semelhante o que resulta em
propriedades químicas semelhantes para os 15 elementos no grupo das terras raras.

Com o subnível 5f surgem os actinídeos, com propriedades semelhantes entre si e o


mesmo mecanismo se repete. Após Urânio ( 92U), todos os elementos são de vida curta,
sendo obtidos de maneira artificial. Consulte, neste site, em tabela periódica interativa, a
tabela periódica dos elementos químicos, para a visualização da distribuição espacial dos
orbitais atômicos e também para informações sobre os elementos químicos e seus principais
compostos.
36

O núcleo atômico
Considerando a importância deste tópico para a formação de estudantes de Física e
de Química, apresentamos alguns aspectos sobre o núcleo atômico.

A descoberta da radioatividade natural, por Becquerel em 1896, indicou que o


núcleo atômico tem uma estrutura complexa. A tendência para uma desintegração
espontânea, principalmente em elementos pesados, aponta para a instabilidade do núcleo.

Considerando a natureza ondulatória da matéria, um núcleo como U 238 decai de


acordo com as leis da probabilidade. De acordo com essas leis, se um núcleo sobreviver a
muitas meias-vidas sem desintegrar, a história anterior não influenciará em sua futura
probabilidade de decair. É como um jogo de cara e coroa, ou seja, após se obter,
seguidamente, cara ou coroa a próxima tentativa não dependerá das anteriores, sendo de
50% a chance de se obter novamente cara ou coroa. Do mesmo modo, não podemos prever
quando um determinado núcleo irá se desintegrar e por isso devemos considerar a sua meia-
vida (t½).

Considere que a metade dos núcleos de um isótopo radioativo, cujo t½ seja um ano,
terão decaído no primeiro ano. Para um núcleo individual, que não tenha sofrido
desintegração no primeiro ano, ainda existem 50% de probabilidade de decair no segundo
ano. Se esse núcleo sobreviver no segundo ano, sua probabilidade de decair no terceiro ano,
ainda será de 50%. Desse modo, a curva de decaimento radioativo será exponencial,
conforme representada a seguir, onde N0 = número de átomos restantes ao longo de 3
meias-vidas.

N0

N0
2
N0
N0 4

8
t1/2 2 t 1/ 2 3 t 1/ 2 tempo

Exemplos de tempo de meia-vida: U238 = 4,47 x 109 de anos; U235 = 7,04 x 108 anos;
C = 5730 anos; Po214 = 1,5 x 10-4 segundos. Portanto, cada isótopo sofre desintegração, à
14

velocidade constante, sendo caracterizado por sua meia-vida. A concentração de C14 na


matéria viva, por exemplo, é constante e decai em velocidade conhecida após a morte de
um ser vivo. Podemos, assim, determinar a idade de um fóssil, até cerca de 5.000 anos,
medindo-se a radioatividade do C14 remanescente na amostra.

Isótopos representam o mesmo elemento químico com diferentes números de


massa, pois apresentam o mesmo número de prótons e diferentes números de nêutrons em
37

seus núcleos, por exemplo, 82Pb206 e 82Pb207, 92U235 e 92U238. A semelhança química entre
isótopos reforça a conclusão de que as propriedades químicas dependem do número
atômico (Z) e não do número de massa. Assim, a tabela periódica moderna dos elementos
químicos se baseia no número atômico crescente.

A observação de processos de desintegração nuclear, natural ou induzida


artificialmente em reatores, evidencia uma estrutura interna no núcleo do átomo. Núcleos
instáveis tendem a adquirir, por decaimento radioativo, uma estrutura mais estável por
emissão de partículas  e/ou . Núcleos de estabilidade intermediária, chamados
metaestáveis, se encontram em um estado excitado e na transição para o estado
fundamental emitem radiação .

 A Transmutação Nuclear: Átomos Não são Eternos

Em 1896 Marie Curie isolou o rádio, através da desintegração natural do urânio,


sendo mais de um milhão de vezes mais radioativo que urânio. Tais átomos pesados foram
denominados radioativos, pois emitem partículas  (núcleos de hélio, com dois prótons e
dois nêutrons) e/ou  e/ou raios  (radiação eletromagnética).

Decaimento 

Quando um átomo emite uma partícula  seu número atômico fica reduzido de duas
unidades e sua massa atômica diminui de 4 unidades. Ocorre a transmutação nuclear, pois
o átomo resultante é um novo elemento químico, por exemplo:
92
U238  90Th234 + 

Chumbo está presente como o produto final da desintegração radioativa do urânio e


do tório. São encontrados dois isótopos estáveis para chumbo: 82Pb206 que resulta da
desintegração do 92U238 (meia-vida = 4,47 x 109 anos) e 82Pb207 que resulta da desintegração
do 92U235 (meia-vida = 7,04 x 108 anos). Ambos, U235 e U238 sofrem decaimentos ,
conforme os seguintes processos:
92
U238  82Pb206 + 
92
U235  82Pb207 + 

Decaimento 

As partículas  são subdivididas em dois tipos:  -, que são elétrons e +,


denominadas pósitrons ou elétrons de carga positiva. Quando um núcleo emite uma
partícula - o número atômico aumenta de uma unidade, mas o número de massa não muda,
por exemplo, 90Th234 -  -  91Pa234. Alguns núcleos emitem +. Seu número atômico
diminui de uma unidade, mas seu número de massa não muda, por exemplo, 7N13 -  + 
C . A emissão de partículas   é acompanhada de neutrino (quando emitem +) ou de
6 13
38

antineutrino (quando emitem  -), mais radiação  (gama) conforme a seguinte


representação para uma transformação de um elemento X em outro elemento Y: X  Y +
 +  . Neutrinos são partículas de carga zero e de massas menores que a massa do elétron.

Quando um núcleo libera partículas , forma-se um novo elemento químico e


novamente ocorre a transmutação nuclear, mas seu número de massa não muda, por
exemplo, por decaimento  -, 55Cs137 se transforma em 56Ba137, com meia-vida = 30,17 anos.
Por outro mecanismo, através de decaimentos simultâneos - e , 55Cs137 também se
transforma em 56Ba137. Raios  são de natureza eletromagnética, sendo emitidos em
transições nucleares por núcleos metaestáveis o que origina a liberação do excesso de
energia e assim, não promovem a transmutação nuclear.

O seguinte diagrama, incluindo os dois mecanismos para o decaimento radioativo,


representa a formação de 56Ba137, a partir de 55Cs137. O Cs137, com meia vida de 30,17 anos
sofre decaimento -, para dois estados do Ba137: um decaimento direto ao estado
fundamental, com probabilidade de 6,5% e um decaimento, com 93,5%, a um estado
excitado que decai ao estado fundamental, por emissão .

Energia
55
Cs137
93,5 %
_ Estado excitado
 56
Ba137 661,6 KeV
(t1/2) = 2,55 minutos
6,5 % _
 

56
0,0 KeV Ba137 Estado fundamental

Acompanhe neste site (em animações) uma animação em flash sobre este processo.

Emissão 

Esta radiação é emitida na radioatividade natural ou artificial (através de reações


nucleares), para liberar o excesso de energia de alguns núcleos, geralmente após algum tipo
de decaimento  ou . 27Co57 é um elemento que emite raios . Não é possível se distinguir
raios  de raios X com energia semelhante. Entretanto, em termos conceituais, raios X e
raios  tem origens diferentes, pois raios X são emitidos por decaimentos de elétrons na
eletrosfera do átomo, enquanto que raios  são emitidos através de transições entre níveis
de energia no núcleo. A possibilidade de emissão  por um núcleo depende da diferença de
energia entre os níveis no núcleo, do número de massa e do estado de spin (I) dos níveis
nucleares envolvidos na transição.
39

O seguinte diagrama representa uma transição  (I3/2  I1/2) originada de uma fonte
radioativa de Co57, com energia de 14,41 KeV que é utilizada na espectroscopia Mosbauer.
Esta espectroscopia é importante para a caracterização de compostos de ferro (número de
oxidação dos sítios de ferro, estados de spin dos íons Fe2+/Fe3+ ou spin intermediário,
geometria, etc.).

Energia
Co57(t1/2) = 270 dias

captura de
elétrons I
*Fe57 5/2

9% 91 %
*Fe57 (t1/2) = 99,3 ns 3/2
57
0,0 KeV Fe 1/2

Acompanhe neste site (em animações) uma animação em flash sobre este processo
de emissão .

O processo de captura de elétrons (captura K), na representação, foi descoberto por


Luis Walter Alvarez em 1938. A captura de elétrons consiste de uma transição espontânea
de um dos elétrons da camada K do átomo para dentro do núcleo (Co 57  *Fe57), que
depois decai, por dois mecanismos indicados na representação, eliminando o excesso de
energia de 14,41 KeV, com a formação do raio . Na representação * indica estados
excitados (1 ns = nanosegundos = 10-9s). Luis Walter Alvarez ganhou o Prêmio Nobel de
Física de 1968 pela sua contribuição na área da Física de partículas elementares.

 A Descoberta do Nêutron

A partir do estudo da interação de partículas  com átomos leves, James Chadwich


descobriu o nêutron em 1932, como uma partícula com massa um pouco superior à massa
do próton e de carga zero. Esta foi uma marca para o desenvolvimento da Física nuclear.
Chadwich ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1935 pela descoberta do nêutron. Átomos
de Li, Be, B, F e Ne, por exemplo, liberam nêutrons quando bombardeados por partículas
. Uma fonte comum e natural de nêutrons é um composto de rádio - berílio, que irradiado
com partículas  libera nêutrons. Utilizou-se a seguinte reação em que uma mistura de um
sal de rádio (RaBr2) e berílio metálico, selada em uma ampola de cobre ou de vidro, libera
átomos de carbono e nêutrons: 24 + 4Be9  6C12 + 0n1

A partir de um grama de rádio, que é o gerador de partículas  na reação anterior,


são produzidos 107 nêutrons (0n1) por segundo e este é praticamente o limite de produção
natural de nêutrons. Considerando essa limitação e também o elevado custo de elementos
radioativos, John Douglas Cockroft e Ernest Thomas Sinton Wolton investigaram, em
1932, a obtenção artificial de partículas , como por exemplo, a partir da seguinte reação
40

em que os núcleos de 3Li7 são acelerados com uma energia de 10 KeV: 1H1 + 3Li7  2
2
He4. As mesmas partículas  também podem ser obtidas a partir da reação entre deutério
com 3Li6: 1D2 + 3Li6  2 2He4. Cockroft e Wolton dividiram o Prêmio Nobel de Física de
1951 por seus trabalhos pioneiros sobre a transmutação nuclear por partículas atômicas
aceleradas artificialmente.

Muitas outras reações foram realizadas para gerar partículas  de alta energia,
inclusive utilizando radiação  : 4Be9 +   4Be8 + 0n1. Este tipo de reação é denominado
fotonuclear. Determinou-se que a energia mínima da radiação , para ocorrer a reação com
4
Be9, é igual a 1.662  0,003 MeV, portanto essa energia foi relacionada com a energia de
ligação de um nêutron no núcleo de Be9. Para a reação fotonuclear do deutério, 1D2 +  
H + 0n1, a energia de ligação = 2.227  0,003 MeV.
1 1

Em janeiro de 1934 o físico italiano Enrico Fermi e seu grupo de pesquisas em


Roma, iniciaram uma série de experiências para produzir radioatividade artificial
bombardeando núcleos com nêutrons. Eles bombardearam todos os elementos disponíveis,
em número atômico crescente e em maio de 1934, quando chegaram ao urânio, ficaram
surpresos com a complicada mistura de meias-vidas das espécies originadas do processo de
desintegração desse núcleo.

Em dezembro de 1938 Fermi recebeu o Prêmio Nobel de Física pela demonstração


da existência de novos elementos radioativos, produzidos pela irradiação com nêutrons e
pela descoberta de reações nucleares produzidas por nêutrons lentos. O cientista aproveitou
a oportunidade, levou a sua família até a Suécia e em seguida se dirigiu aos Estados Unidos
para trabalhar na universidade de Chicago. Durante o trabalho de pesquisas na universidade
de Chicago Enrico Fermi e seu grupo colocou em funcionamento, em 1942, o primeiro
reator nuclear utilizando grafite como moderador de nêutrons e 50 toneladas de urânio
natural.

Com a intervenção do grande cientista Albert Einstein, que através de uma carta de
02 de Agosto de 1939, dirigida ao presidente Roosevelt, Fermi pode realizar o trabalho
pioneiro que resultou na bomba atômica e no final (em 1945) da segunda guerra mundial.
Em 6 de Agosto de 1945 um avião B-52 da força aérea norte americana lançou a primeira
bomba atômica (Little boy), fabricada com urânio enriquecido, sobre Hiroxima (Japão),
matando cerca de 80.000 pessoas. Três dias depois dessa primeira explosão os nortes
americanos lançaram outra bomba atômica (Fat man), à base de plutônio, sobre Nagasaki
(Japão), matando cerca de 40.000 pessoas.

Plutônio 239, obtido do U238, também é utilizado em bombas atômicas. A seguir se


encontram as reações básicas para a desintegração do U238, induzidas por impacto de
nêutrons.
N + U238  (U239)*
O núcleo excitado de U239 decai por emissão  ao estado fundamental.

(U239)*  U239 + 
41

O novo radioisótopo, que não ocorre naturalmente, libera raios , com t½ = 24


minutos, formando um núcleo residual com Z = 93 (netúnio).

U239  Np239 + 
O núcleo de Np239 também é instável e se desintegra, por emissão  com t½ = 2,3
dias, para formar o plutônio (Pu), com Z = 94, conforme a seguinte reação:

Np239  Pu239 + 

O funcionamento de uma bomba de fissão nuclear, com 92U235 enriquecido a 80%


ou a 94Pu239 ocorre basicamente através de uma fonte de nêutrons, para iniciar a reação em
cadeia, sendo ativada por uma carga explosiva de TNT (trinitrotolueno). Por exemplo, 5 a 6
Kg de urânio, enriquecido a 80%, ou a massa equivalente de plutônio, resulta em uma
explosão, com liberação de energia que equivale a explosão de 10000 toneladas (10
quilotons) de TNT. Por outro lado, muito mais energia é liberada pela explosão de uma
bomba de hidrogênio, em que ocorre a fusão nuclear.

Na bomba H ocorre a fusão entre os isótopos do hidrogênio (trítio e deutério) de


acordo com a seguinte reação: 1H3 (trítio) + 1H2(deutério) 2H4 + N + energia (17,6
Mev/átomo). Portanto, a bomba de hidrogênio requer um estágio inicial que consiste de
uma bomba de fissão nuclear, que atua como ativador da reação de fusão do trítio e
deutério. Em 1962 a URSS explodiram uma bomba H, de 58 megatons, que equivaleu a
3000 bombas atômicas do tipo utilizado em Nagasaki.

Após a rendição total da Alemanha, segui-se uma louca corrida nuclear, através de
outras explosões de bombas atômicas que tinha como razão a “paz armada”. Por exemplo,
em 1949 (URSS), 1952 (Inglaterra), 1960 (França), 1964 (China), realizaram suas
primeiras explosões na atmosfera. Em 1952 os EUA (Estados Unidos da América)
explodiram a primeira bomba de hidrogênio (fusão nuclear), muito mais poderosa que as
bombas de fissão nuclear. Seguiram-se a URSS (1953), Inglaterra (1957), China (1967) e
França (1968), com explosões nucleares utilizando-se a fusão nuclear.

Em 1977 os EUA explodiram a primeira bomba de emissão de nêutrons,


extremamente letal para os seres vivos. Até 1963 foram realizadas cerca de 323 (EUA=
183; URSS= 118; Inglaterra= 18; França= 4) explosões nucleares na atmosfera, com o
surgimento de nuvens radioativas que se espalhavam em nosso planeta, causando poluição
ambiental.

Devido à pressão da opinião pública internacional, comandada principalmente pelo


eminente químico Linus Pauling, que conseguiu, em 44 paises, nove mil assinaturas de
cientistas contrários a aquelas explosões nucleares, as explosões passaram a ser
subterrâneas. Linus Pauling, que já recebera um Prêmio Nobel de Química (1954), ganhou
o Prêmio Nobel da Paz (1962) pelas suas ações contrárias a corrida armamentista.

Desde o início da década de cinqüenta do século XX foram realizados esforços para


a utilização pacifica da energia nuclear, através de reatores nucleares, para gerar
42

eletricidade. Entretanto, surgiram problemas como, entre outros, a explosão de um reator


nuclear na usina de Chernobyl (1986), na Ucrânia, contaminando o meio ambiente com
material radioativo e causando vítimas. A partir desse acidente nuclear vários reatores
foram desativados, mas continua o problema do “lixo nuclear”, ou seja, resíduos
radioativos, que vem se acumulando no planeta, pois após acondicionado esse lixo tem sido
depositados em aterros. No final do século XX esse lixo nuclear já atingia cerca de 130000
toneladas.

O Brasil também utiliza reatores nucleares (Usinas de Angra I e II) no Estado do


Rio de Janeiro, para gerar eletricidade, a partir do isótopo 235 do urânio que apresenta
vantagens, pois é físsil, mantendo-se a reação em cadeia com elevada eficiência e assim é
apropriado para gerar eletricidade em reatores nucleares. Entretanto, 92U235 apresenta-se na
natureza com cerca de apenas 0,7% no minério de urânio, o que exige enriquecimento. Nos
processos de difusão gasosa e de centrifugação, atinge-se um teor de cerca de 2 a 3% em
92 235
U , que é adequado como combustível em usinas nucleares.

O processo de fusão nuclear ainda não tem sido viável para gerar eletricidade, por
razões econômicas e técnicas. A repulsão inter-nuclear somente é rompida quando o
combustível atinge uma temperatura da ordem de 50 a 100 milhões de graus Celsius. Nessa
temperatura, que ocorre no núcleo do sol, a matéria se encontra no estado de plasma, que é
uma espécie de gás ionizado, com elétrons livres e núcleos com carga positiva. Para que
ocorra uma fusão eficiente o plasma deve ser confinado em um volume fixo, pois assim
permitiria choques efetivos entre os núcleos, iniciando-se o processo. Essa é uma grande
restrição, econômica e técnica, para a utilização da fusão nuclear com o objetivo de gerar
eletricidade.

 Antipartículas e a Fissão Nuclear

Paul Dirac, em 1928, apresentou a mecânica quântica relativística, como sendo a


primeira descrição do elétron consistente com a Mecânica Quântica e a Teoria da
Relatividade Especial. Com base em uma equação da teoria quântica relativística de Dirac,
para o movimento de elétrons super-rápidos foi prevista a existência de antipartículas,
como o antielétron, denominado pósitron, que é uma espécie de elétron positivo. Essa
partícula foi descoberta por Carl David Anderson (1932) quando estudava os raios
cósmicos submetidos a um campo magnético.

Pela descoberta do pósitron Anderson dividiu o Prêmio Nobel de Física de 1936


com Victor Franz Hess, que descobriu a radiação cósmica. Antipróton apresenta a mesma
massa do próton, mas de carga negativa. Essa antipartícula foi descoberta por Emílio Gino
Segré e Owen Chamberlain, em 1955. Pela descoberta do antipróton Segré e Chamberlain
dividiram o Prêmio Nobel de Física de 1959.

Antinêutron, que apresenta a mesma massa do nêutron, mas de spin = ½ħ, foi
descoberto em 1956. Outras partículas subnucleares são, por exemplo, mésons  ( -;  0, 
+
), que apresentam maiores massas em relação à massa de prótons, do nêutron e de
antipartículas. Hideki Yukawa ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1949 pela previsão da
43

existência de mésons, mas foi o físico brasileiro César Lattes (1924-2005), que em 1947
demonstrou a sua existência.

O fóton, que tem massa de repouso zero, é considerado estável, assim como o
próton, os elétrons e o neutrino.
A partir de considerações sobre a natureza e a participação dessas partículas e antipartículas
nucleares, com cerca de centenas já conhecidas, os físicos teóricos tentam explicar a
estabilidade nuclear. Em 1944, Otto Hahn (Alemanha), ganhou o Prêmio Nobel de Química
pela descoberta da fissão de núcleos pesados. Com as previsões e constatações de
antipartículas surgiu a idéia de antimatéria, mas esse é um assunto para ser discutido por
físicos que trabalham na área de partículas elementares.

Como já foi comentado, Fermi demonstrou em 1934, que 92U238 sendo irradiado por
nêutrons fazia surgir um grande número de partículas devido à fissão nuclear. Para explicar
o mecanismo da fissão nuclear em átomos pesados, Frenkel (1939), Bohr e Wheeler (1939)
desenvolveram o modelo da gota líquida para o núcleo. De acordo com esse modelo, um
fator externo como a captura de um nêutron, provoca um estado excitado no núcleo.

Esse excesso de energia é distribuído estatisticamente, podendo ocorrer oscilações,


similares às de uma gota esférica de líquido, devido à repulsão coulômbica entre prótons,
tornando as oscilações instáveis e causando a desintegração do núcleo (fissão) em núcleos
menores e mais estáveis.

O modelo da gota líquida apresenta todo um formalismo matemático, que não será
apresentado, em relação ao balanço de energia. O isótopo 235 do urânio, por exemplo, sofre
fissão nuclear quando bombardeado por nêutrons de alta energia: 92U235 + nêutrons 
39 95
Sr + 54Xe139. O processo continua, resultando em cerca de 40 fragmentos, com massas
variando entre 70 e 160, conforme se encontra representado a seguir. A captura de um
nêutron pelo núcleo de U235 libera cerca de 6.0 Mev.

%
de produtos
da fissão
10 95 139
Sr Xe

-1
10

-3
10

-5
10
60 80 100 120 140 160 massa

De acordo com os cálculos, utilizando o modelo da gota líquida, um núcleo com Z =


100 deve tornar-se instável devido ao predomínio da repulsão coulômbica em relação à
força de atração. Núcleos de elementos pesados (Z até 92) são capazes de fissão
espontânea, sem a necessidade de irradiação com nêutrons ou fótons, mas em um menor
grau.
44

Quando núcleos como Bi83, Pb82, Te81, Hg80, Au79, Pt78 e outros, além de U238 ou
U , são irradiados com partículas super-rápidas tais como nêutrons, prótons, partículas ,
239

etc., aceleradas com energias da ordem de MeV, apresentam diferentes produtos, em


relação aos produtos da fissão nuclear desses núcleos bombardeados com partículas lentas.
Portanto, a estrutura do núcleo é complexa e continua sendo investigada.

 A Estrutura em Camadas para o Núcleo Atômico

Os fatos experimentais indicavam uma grande complexidade na estrutura do núcleo


atômico, entretanto, a Mecânica Quântica apresenta possibilidades de tratar o núcleo de
forma análoga como são tratados os elétrons no átomo, sendo possível se considerar um
campo médio e uma interação residual no núcleo do átomo. O princípio de exclusão de
Pauli, quando aplicado à estrutura do núcleo, pois assim como elétrons, prótons e neutros
também são partículas de spin = ½ ħ, permite tratar o núcleo como um conjunto de
partículas independentes que irão ocupar níveis de energia, gerados por um campo radial
médio.
Considerando que raios  são monocromáticos, Condon e Gurney (1928) e Gamov
no mesmo ano, idealizaram uma estrutura em camadas para os níveis de energia no núcleo
do átomo. Essa estrutura em camadas é evidenciada por uma maior estabilidade de alguns
núcleos, em analogia ao octeto de elétrons no grupo dos gases nobres, quando se atinge
uma estrutura nuclear de acordo com os “números mágicos” 2, 8, 20, 28, 50, 82, etc..
Conforme a seguinte representação em níveis e subníveis de energia, os elementos com Z
igual a um desses números mágicos têm vários isótopos estáveis.
20

d 3/ 2
s 1/ 2
d 5/ 2

8
p1
/2
p3
/2

2 s 1/ 2

Neste modelo os níveis de energia para prótons e nêutrons são semelhantes e


independentes. Por exemplo, em um nível s½ para prótons cabem 2 prótons, pois mj = +½ e
mj = - ½. Do mesmo modo, para nêutrons em um nível s½ cabem 2 nêutrons, pois mj = +½ e
mj = - ½. Em um nível p3/2 para prótons cabem 4 prótons, pois mj = +3/2; +½; - 3/2; - ½ e
em um nível p½ cabem 2 prótons, pois mj = +½ e mj = - ½. O mesmo ocorre para nêutrons.

Como no caso do elétron no átomo, cada estado de energia no núcleo é simbolizado


pelas letras s, p, d, f,... . O subscrito ½, 3/2, 5/2,..., representa o momento angular total (j).
Como a interação ou acoplamento spin - órbita no núcleo é muito forte, isso provoca uma
grande separação entre os níveis de energia.
45

A energia de ligação no núcleo é muito maior que a energia das ligações químicas.
Por exemplo, considerando o deutério, a energia de ligação entre um próton e um nêutron =
2,33 MeV enquanto que a energia da ligação química de um próton e um elétron, na
molécula de hidrogênio, para formar o íon molecular H2+ = 2,65 eV.

Os físicos subdividem prótons e nêutrons em partículas, denominadas quarks (1968)


e tanto o próton quanto o nêutron seria formado de três tipos de quarks e quarks seriam
ligados por partículas denominadas gluons.

 Considerações Finais sobre Átomos

Moléculas são formadas de átomos, que são formados de elétrons e núcleo. O


núcleo atômico é formado de prótons e nêutrons, que são formados de quarks, que são
ligados por gluons e desse modo podemos resumir a evolução do conhecimento científico
sobre a estrutura da matéria.

Após esta breve apresentação sobre aspectos do núcleo atômico, podemos entender
porque o sonho dos alquimistas para a transmutação de metais “inferiores e pouco
desenvolvidos” em metais “superiores e desenvolvidos”, através da “pedra filosofal”,
jamais seria alcançado! Aprendemos que a transmutação nuclear depende apenas do
núcleo instável ser capaz de eliminar partículas  e/ou  e não depende do metal ser
manipulado por um alquimista ou por um cientista “espiritualmente evoluído”. De certo
modo, esta conclusão está na linha da intuição de Robert Boyle.
46

Moléculas
47

Teorias em conflito
A primeira tentativa de se estabelecer um modelo para a ligação química e assim
explicar a formação de um composto remonta ao início do século XIX com T. Bergman
(Suécia) e C. L. Berthollet (França) através da teoria da gravitação universal. Segundo os
autores a afinidade química (um conceito de origem alquímica) tem origem na gravitação
universal que atua entre as partículas. Parece que Bergman e Berthollet tiveram inspiração
nas leis de Newton (Isaac Newton foi alquimista), mas comparando, por exemplo, o átomo
de mercúrio com o átomo de hidrogênio, seria de se esperar que óxido de mercúrio (HgO
com massa molar = 216,6 g/mol) fosse mais estável que água (H2O com massa molar =
18,0 g/mol), que é um composto mais leve! Entretanto, ocorre o inverso e a teoria da
gravitação não se tornou viável para explicar a ligação química.

De acordo com essa teoria, a força da gravidade seria a responsável pela


atração entre átomos para formar moléculas. Portanto, o composto HgO sendo mais
pesado que o composto H2O, haveria uma maior preferência do átomo de mercúrio
(massa atômica= 200,6 g/mol), em relação ao hidrogênio (massa atômica = 1,0 g/mol),
na reação com oxigênio, mas em uma mistura contendo oxigênio, hidrogênio e
mercúrio forma-se, a partir de uma leve ignição, preferencialmente H 2O.

Em 1810, surgiu a teoria eletroquímica de J. J. Berzélius (Suécia), em que o enlace


químico seria motivado pela atração mútua entre corpos de sinais contrários. De acordo
com Berzélius, o átomo de cada elemento teria dois pólos, um positivo e o outro negativo.
Para alguns átomos prevaleceria um dos pólos e para outros átomos prevaleceria o outro
pólo e assim poderia ser entendida a formação de um composto. Magnésio, por exemplo,
considerado eletropositivo reage com oxigênio, considerado eletronegativo, para formar
óxido de magnésio (MgO), devido à atração entre os pólos opostos. Quando ocorre uma
compensação parcial de cargas, o produto da reação apresentaria carga residual. Desse
modo, moléculas como carbonato de magnésio (MgCO3), seria formada pela afinidade
química entre MgO (positivo) e CO2 (negativo).

Por influência de Dalton (1808), a palavra átomo já era utilizada na linguagem


da ciência, sugerindo uma partícula fundamental da matéria. Devemos, entretanto,
lembrar que a estrutura do átomo somente surgiu no início do século XX com a
participação de Físicos como Thomson, Nagaoka, Rutherford, Bohr e Schrödinger,
entre outros cientistas. Naquela época Berzélius já conhecia a composição de algumas
substâncias e na tentativa de explicar a formação e a estabilidade dos compostos,
utilizou uma idéia errada sobre a possibilidade de pólos no átomo.

A teoria de Berzélius desapareceu do meio científico em 1834 quando Dumas


demonstrou a existência de moléculas constituídas de átomos idênticos, ou seja, com iguais
polaridades, como H2 e Cl2. Na década de 40 do século XIX, os químicos franceses Dumas
e Gerrard apresentaram a teoria dos tipos. De acordo com essa teoria as propriedades
químicas de uma substância não dependeriam da natureza dos átomos. Esta foi uma
tentativa de construção de uma teoria química isolada, sem considerar a Física que até
aquela época ainda não podia contribuir com a Química. De acordo com os autores
48

C2H5OH e C2H5OC2H5 seriam referidos como “tipo” H2O, pois seriam, respectivamente,
produtos da substituição de um átomo de hidrogênio em H2O pelo grupo C2H5 no álcool
etílico e por dois grupos C2H5 para formar o éter etílico. Analogamente CH3NH2 e
(CH3)2NH seriam do “tipo” NH3. A situação tornou-se complicada devido ao grande
número de tipos, sendo necessário atribuírem diferentes fórmulas à mesma substância, pois
o tipo também dependia da reação que originava tal substância! Os autores da teoria dos
tipos não estavam interessados em esclarecer a estrutura das moléculas, pois consideravam
que o estudo dos processos químicos permitiria conhecer apenas o passado e o futuro das
substâncias, não permitindo conhecer o presente, ou seja, a substância em si não poderia ser
conhecida. Por exemplo, a nitração do benzeno seria o passado do nitrobenzeno enquanto
que anilina, obtida a partir do nitobenzeno, seria o seu futuro.
NO2

+ HNO3/H2SO4 + H2O
0
50 C
b en ze n o n it ro ben zen o

n it ra ç ão d o b e n ze n o
i) re d u ç ã o p o r h id ro g e n aç ã o c a t a lít ic a o u
ii) re d u çã o p o r a g en t e s re d u t o re s e m me io á c id o

NH2

+ H2O
a n ilin a

É interessante notar que Dumas e Gerrard conseguiram invalidar a teoria de


Berzélius, entretanto, novamente por falta de uma sustentação teórica sobre o átomo
acabaram propondo mais uma teoria absurda.

Após esse período confuso, a química orgânica começou a se organizar e em 1852


E. Frankland (Inglaterra) introduziu o conceito de valência ou atomicidade. Surgia a teoria
da valência e Frankland foi o primeiro a afirmar que os átomos possuem poder de
combinação bem definido, o qual determinaria as fórmulas dos compostos. Estudando a
formação de compostos organometálicos como CH3Na, (CH3)2Hg, (CH3)3Al, (CH3)4Sn,
Frankland relacionou numericamente a capacidade do átomo de um elemento formar
compostos com um determinado número de átomos de outro elemento. Considerando a
valência do hidrogênio = 1, Frankland pode calcular a valência de outro elemento mediante
uma reação química, podendo determinar com quantos átomos de hidrogênio, ou de outro
elemento monovalente, esse átomo seria capaz de se unir. O autor concluiu que a valência
dependia do estado físico em que se encontrava o elemento, da natureza do outro elemento
químico que reagiu com esse elemento e das condições experimentais impostas à reação.
Os elementos eram divididos em dois grupos, um deles incluía os elementos com valência
constante (sódio, por exemplo) e no outro grupo, os elementos com valência variável
(fósforo, enxofre, etc.).
49

Compostos organometálicos, como nos exemplos anteriores, são caracterizados


pela ligação metal-carbono, mas esta característica era desconhecida na época de
Frankland. A palavra-chave da época era valência. Devemos destacar a importância
do trabalho experimental de Frankland, pois ele foi capaz de obter uma série de
compostos organometálicos e assim poder concluir sobre a valência dos outros
elementos, por exemplo, Hg = bivalente; Al = trivalente; Sn = tetravalente, em relação
ao sódio (monovalente), pois se deve lembrar que a lei periódica de Mendeleyev
surgiria apenas em 1869.

Em 1858 A. Kekulé e A. S. Couper, em um trabalho independente, demonstraram


que o carbono é tetravalente e que os átomos de carbono se encontram ligados uns aos
outros formando cadeias nos compostos orgânicos. No mesmo ano Cannizzaro demonstrou
que utilizando a hipótese de Avogadro, disponível desde 1811, era possível se determinar
com precisão os pesos moleculares dos compostos orgânicos. Em 1861, houve a
participação de A. M. Butlerov (Rússia) que através da teoria da estrutura química e se
contrapondo à teoria dos tipos, contribuiu para o desenvolvimento da Química Orgânica,
inclusive distinguindo isômeros estruturais através de reações químicas. Por exemplo,
Butlerov, reagindo C2H6O com sódio metálico, concluiu sobre a seguinte estequiometria:
2C2H6O + 2Na  2C2H5ONa + H2(gás). A partir da estequiometria da reação, Butlerov pode
eliminar a chance de participação do isômero éter metílico na reação com sódio metálico,
restando apenas a possibilidade da reação ter ocorrido com o álcool etílico. Isômeros são
compostos com idêntica composição química, mas com diferentes propriedades. Portanto a
partir da fórmula C2H6O foi possível se prever dois isômeros: etanol e éter metílico.

ponto de fusão ( 0C ) ponto de ebulição ( 0C )


Etanol CH3CH2OH _ 114,7 78,5
C2H6O _ 138,5 _ 23
Eter metílico CH3OCH3

Fenantreno e antraceno, com a mesma composição química, apresentam


pontos de fusão igual a 1010C e 2160C, respectivamente. Observe as seguintes
estruturas, para estes dois compostos.

fenantreno antraceno
A isomeria normal é subdividida em isomeria de ligação e em isomeria
geométrica. Por outro lado, estereoisômeros apresentam as mesmas ligações, a mesma
estrutura geométrica, mas diferem no arranjo espacial dos átomos, sendo classificados
como enantiômeros ou como diastereoisômeros. Enantiômeros apresentam atividade
ótica, ou seja, quando interagem com a luz polarizada esses compostos são capazes de
mudar o plano de polarização dessa radiação. Diastereoisômeros podem ou não
apresentar atividade ótica.

Jacobus Henricus van’t Hoff (Holanda) e J. A. Le Bel (França), em 1874,


concluíram, em trabalhos independentes, que as 4 valências do carbono estão dirigidas para
50

os vértices de um tetraedro, com o átomo de carbono no centro da figura. Desse modo o


ângulo entre todas as ligações seria de 109o,5’. Assim surgiu a representação espacial das
moléculas orgânicas e que posteriormente culminou em uma área da Química denominada
Estereoquímica.

van’t Hoff e Le Bel levantaram a hipótese de isomeria especular, para cada centro
de carbono assimétrico, conforme a seguinte representação:
C C

C B B C
D A A D

De acordo com os dois cientistas, em um composto assimétrico as imagens


especulares não seriam sobreponíveis quando os átomos, ou grupos de átomos ligados ao
carbono, forem diferentes, ou seja, A  B  C  D. Este é o critério básico para se prever
atividade ótica. Hoje químicos orgânicos denominam o átomo de carbono ligado a 4
diferentes grupos como sendo quiral. A existência de substâncias com diferentes formas de
cristais e que não se diferenciavam em suas propriedades químicas já era conhecida antes
dos trabalhos de van’t Hoff e Le Bel. Louis Pasteur (França) em 1848 descobriu que sais do
ácido tartárico (tartarato de sódio-amônio) formam dois tipos de compostos, com idênticas
propriedades químicas, mas que se diferenciam quanto à sua simetria, conforme
representados a seguir.

Pasteur anunciou as seguintes observações:


Durante a cristalização de uma mistura (de isômeros óticos) eles formam cristais com
simetrias espelhadas. Analisando-se, cuidadosamente, mediante a utilização de uma lupa,
era possível se distinguir o cristal (de um isômero) em relação ao outro cristal (do outro
isômero); Microorganismos que se alimentam de uma substância oticamente ativa,
escolhem apenas um dos isômeros, deixando o outro intacto. Portanto, os organismos vivos
são formados apenas de uma determinada forma de substâncias oticamente ativas.

van’t Hoff e Le Bel explicaram a origem desses cristais geminados considerando a


presença de átomos de carbono assimétricos e conseqüentemente seriam estereoisômeros
(isômeros óticos, que tem a capacidade de interagir com a luz polarizada).
51

O estudo da estereoquímica teve início no começo do século XIX com os


trabalhos do francês Jean Baptiste Biot, quando investigava a natureza da luz plana
polarizada. Biot observou que quando um feixe de luz polarizada atravessa a solução
de algumas moléculas como sacarose ou cânfora, o plano de polarização era
rotacionado em um ângulo , ou seja, sofria um giro, conforme a seguinte
representação. Essas substâncias foram denominadas oticamente ativas. Portanto,
esta técnica já era utilizada por Pasteur em seus trabalhos com cristais espelhados.

tubo com observador


a amostra
polarizador analisador

Considerando argumentos geométricos van’t Hoff e Le Bel concluíram que caso os


compostos de carbono viessem a apresentar estruturas quadrado planos não seria possível a
isomeria ótica, pois trocando os átomos de posição, haveria diferença nas distâncias entre
os átomos. Por exemplo, os átomos na diagonal do quadrado estariam em distâncias
diferentes em relação a outros átomos vizinhos, o que seria suficiente para haver uma
distinção na reatividade química dos isômeros e assim não existiriam estereoisômeros. No
caso da estrutura ser tetraédrica não haveria diferença em reatividade dos estereoisômeros,
pois não importa a posição dos átomos ou grupo de átomos ligados ao centro de carbono,
ou seja, as distâncias e conseqüentemente a reatividade seriam as mesmas. Jacobus
Henricus van't Hoff, recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1901, pela descoberta das leis
da dinâmica química e da pressão osmótica nas soluções.

Em 1893, Alfred Werner (Suíça), realizou sínteses e apresentou propostas


estruturais para os compostos de coordenação (também denominados complexos). Werner
recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1913, pelos trabalhos desenvolvidos sobre a
ligação dos átomos nas moléculas, muito antes do desenvolvimento de métodos físicos
(difração de raios X em monocristais, por exemplo) para a determinação de estruturas de
compostos químicos. Este cientista propôs e testou a teoria da ligação coordenada,
através de métodos químicos de análises, para os compostos dos metais de transição.
Vamos apresentar alguns dos desafios enfrentados pelos químicos da época de Werner e
como esse cientista resolveu os problemas. i) Muitos elementos químicos apresentavam
valências (hoje denominamos números de oxidação, nox) fixas, como Na = 1+; Cl = 1-; O
= 2-; ii) Outros elementos apresentavam nox variado, como Cu = 1+, 2+; Co = 2+, 3+; Pt =
2+, 4+; iii) Cloretos desses íons metálicos reagem com amônia o que era surpresa, pois as
valências já haviam sido utilizadas, por exemplo, PtCl 2 + 4 NH3  PtCl2. 4NH3.

Werner foi capaz de isolar dois complexos de Pt2+, de fórmula PtCl2. 2NH3, que
apresentavam diferentes reações químicas e assim concluiu que não poderiam ter
estruturas tetraédricas, devendo ser quadrado plano. Werner demonstrou que PtCl2.
2NH3 = [Pt(NH3)2 (Cl)2]. Os dois complexos são isômeros geométricos (cis e trans) com
estrutura quadrado planas, conforme a seguinte representação. Sabemos hoje que o
isômero cis, que se constitui no protótipo da série de compostos “cis-platina”,
52

apresenta atividade anti-canserígena, podendo se ligar às bases do DNA, enquanto


que o isômero trans é inativo contra o câncer.

H3N Cl Cl
H3N

H3N Cl Cl NH3
cis trans
Os seguintes complexos de cobalto já haviam sido sintetizados e constituíam uma
surpresa quanto à valência do cobalto e a diversidade de cores. Note que dois dos
complexos (3 e 4) apresentam a mesma composição química, mas diferem nas cores.

1) CoCl3. 6NH3 (amarelo)


2) CoCl3. 5NH3 (roxo)
3) CoCl3. 4NH3 (verde)
4) CoCl3. 4NH3 (violeta)

Werner observou que a reatividade destes complexos frente à solução aquosa de


nitrato de prata era diferente, resultando em diferentes quantidades de precipitado de
cloreto de prata. Observe que os complexos 3 e 4 geram a mesma quantidade de cloreto de
prata.

1) CoCl3. 6NH3 + excesso de Ag+(aq)  3AgCl(sólido)


2) CoCl3. 5NH3 + excesso de Ag+(aq)  2AgCl(sólido)
3) CoCl3. 4 NH3 + excesso de Ag+(aq) 1AgCl(sólido)
4) CoCl3. 4NH3 + excesso de Ag+(aq) 1AgCl(sólido)

Correlacionando o número de moléculas NH3 no complexo com a quantidade de


cloreto de prata precipitado em solução, Werner formulou os complexos coloridos do íon
Co3+ como sendo [Co(NH3)6]Cl3 = complexo 1, [Co(NH3)5Cl]Cl2 = complexo 2,
[Co(NH3)4(Cl)2]Cl = complexos 3 e 4.

Existem três modos de coordenação, nesta série de complexos do íon Co3+,


sendo os complexos 2, 3 e 4 derivados, por reações de substituição, do complexo 1,
[Co(NH3)6]Cl3. Por exemplo, o complexo [Co(NH3)5Cl]Cl2 é formado a partir do
complexo [Co(NH3)6]Cl3, através da perda de uma molécula de amônia, que é
substituída por um íon cloreto (Cl-) presente como contra-íon em solução. Portanto,
para o complexo CoCl3. 6NH3 Werner propôs [Co(NH3)6]Cl3, que em solução se
apresenta como [Co(NH3)6]3+(aq) + 3Cl-(aq).

O próximo desafio seria propor um modelo para as ligações químicas nos


compostos de coordenação. Werner assumiu que as seis moléculas de amônia no complexo
1 estariam ligadas de maneira simétrica em relação ao íon Co 3+. O arranjo poderia ser
hexagonal plana (como no benzeno), prisma trigonal ou octaedral. Examinando esses
arranjos geométricos e relacionando com o número de possíveis isômeros isolados, Werner
optou corretamente pela estrutura octaédrica para os complexos coloridos de Co3+. A
53

seguir se encontram representadas as estruturas para esses complexos do íon Co 3+. Observe
as ligações com o íon Co3+, ou seja, o modo de coordenação das moléculas de amônia e dos
íons cloreto na primeira esfera de coordenação do íon Co3+ para estes 4 complexos.
NH3 NH3
3+ Cl 3+
H3N NH3 H3N
_ _
3 Cl 2 Cl

H3N NH3 H3N NH3


NH3 NH3
[Co(NH3)6]Cl3 [Co(NH3)5Cl]Cl2

NH3 + NH3 +
H3N Cl H3N Cl
_ _
Cl Cl

Cl NH3 H3N Cl
NH3 NH3
[Co(NH3)4Cl2]Cl [Co(NH3)4Cl2]Cl

Considerando esta breve história da Química até os tempos de Werner, podemos


reconhecer que, assim como a estrutura eletrônica está relacionada com a manifestação das
propriedades de um átomo, o conceito ligação química se constitui em uma palavra chave
relacionada com moléculas. Um problema central em Química se refere à utilização de
teorias sobre a estrutura das moléculas, atreladas às teorias sobre a estrutura atômica,
quando se tenta entender a natureza das forças moleculares e explicar as ligações químicas.
Portanto, é comum para os químicos utilizarem modelos e proporem uma ou mais teorias
para correlacionar, por exemplo, as propriedades espectroscópicas, estruturais, magnéticas
e de reatividade dos compostos.

Quando se tentou utilizar a teoria de Bohr para a molécula de hidrogênio, o modelo


falhou e algum entendimento somente foi possível com o modelo quântico. Entretanto,
considerando a natureza elétrica da ligação química e utilizando o modelo de Bohr, pois era
o único disponível na época, surgiram duas teorias independentes em 1916 para a ligação
química: a teoria de Kossel (químico alemão), e a teoria de Lewis (químico norte-
americano) são conhecidas como teoria do elétron de valência. O termo valência era
utilizado para expressar a capacidade dos elementos químicos em se combinarem. Estas
teorias utilizaram o conceito de camada fechada para a ligação química, com 8 elétrons em
volta de cada átomo na molécula, assim como nos gases inertes, com exceção do hélio e por
esta razão os compostos seriam estáveis quando a molécula atinge o octeto de elétrons para
os seus átomos ligados.

De acordo com Gilbert Newton Lewis, um composto atinge a estrutura eletrônica de


um gás inerte através do compartilhamento de elétrons entre os átomos. Por outro lado, a
teoria da valência de Kossel, que reduz as interações na molécula à forças eletrostáticas, era
aplicada a compostos iônicos ou heteropolares. Assim, enquanto que a teoria de Kossel era
mais adequada para os compostos de caráter iônico, a teoria de Lewis se aplicou melhor aos
compostos não iônicos. Em 1919, Irving Langmuir sugeriu o termo eletrovalência para a
54

ligação baseada na transferência de elétrons (teoria de Kossel) e covalência para a ligação


que envolve o compartilhamento de elétrons (teoria de Lewis). Langmuir recebeu o Prêmio
Nobel de Química em 1932 pelo seu importante trabalho em química de superfície.

Ligações químicas
Como conseqüência da localização dos elementos químicos na tabela periódica
esses elementos apresentam propriedades periódicas tais como eletronegatividade, energia
de ionização, afinidade eletrônica, entre outras. Essas propriedades são fundamentais para
se entender os conceitos sobre a ligação química. As ligações químicas são classificadas em
intramoleculares (entre os átomos na molécula) e intermoleculares (entre moléculas). As
ligações intramoleculares são subdivididas em iônicas, covalentes e metálicas, enquanto
que as ligações intermoleculares podem ser basicamente do tipo de hidrogênio ou de van
der Waals. Essas possibilidades serão aqui analisadas e exemplificadas.

Propriedades Periódicas e a Ligação Química


O comportamento de átomos em uma reação química depende da situação
energética dos elétrons em seus orbitais, surgindo a seguinte pergunta: um determinado
átomo teria a tendência de perder elétrons, de ganhar ou de compartilhar elétrons em
relação a outro átomo? Para responder essa questão, temos que examinar três importantes
propriedades dos átomos: a energia de ionização (AI), a afinidade eletrônica (AE) e a
eletronegativadade. Os seguintes processos representam respectivamente, a energia de
ionização e a afinidade eletrônica. Eletronegatividade, como será discutida depois,
representa uma média entre EI e AE.

EI: A + energia  A+ + e- (a)

AE: A + e-  A- + energia (b)

 Energia de Ionização

A magnitude da energia de ionização pode ser determinada a partir de dados do


espectro atômico. Dados para a afinidade eletrônica são mais raros, devido às dificuldades
experimentais para a sua determinação. Um tipo de espectroscopia utilizada para a medida
da EI é a técnica PES, (do inglês, Photo Eletron Spectroscopy), que utiliza fótons de alta
energia para ionizar o átomo. O método se apóia na hipótese de que a energia cinética (K)
do elétron que sai do átomo é igual à energia do fóton (E = h), menos a energia de
ionização, ou seja, K = h - EI. Nessa espectroscopia, utiliza-se radiação monocromática
de alta energia, tipicamente a emissão em 58,4 nm (ler-se nanômetro, sendo 1nm = 10-9m)
que resulta da descarga de uma lâmpada de hélio.

Os elétrons liberados pelo átomo são registrados pelo equipamento em função de


suas energias cinéticas. Conhecendo-se os valores de h e K, na equação anterior, faz-se o
55

gráfico dos elétrons liberados versus sua energia de ionização. No caso da radiação do He
os fótons de 58,4 nm apresentam energia de 21,2 eV (1eV = 96,486 kJ/mol = 23,060
kcal/mol), portanto esses fótons somente podem ionizar átomos com a primeira energia de
ionização menor que 21,2 eV, incluindo todos os elementos químicos, menos hélio e
neônio. Exemplos da primeira energia de ionização em Kj/mol dos primeiros 20 elementos
químicos se encontram a seguir.

Note que a primeira energia de ionização evidencia uma periodicidade, ou seja,


varia com certa regularidade na tabela periódica dos elementos químicos. Estas variações
podem ser explicadas em termos da estrutura dos átomos envolvidos no processo de
ionização.

Observe que a EI é mínima nos metais alcalinos (grupo 1), devido à abertura de
uma nova camada, indicando que esses elementos apresentam uma maior facilidade para
perder o elétron de valência. Por outro lado, nos gases nobres (grupo 18) o valor da EI é
máximo, devido ao “octeto” de elétrons, fechando assim a camada que teve início no metal
alcalino. Por exemplo, a primeira energia de ionização do hélio = 24,587 eV e do neônio =
21,564 eV. Para a determinação da energia de ionização destes dois átomos, que
apresentam elétrons mais fortemente ligados, utiliza-se a técnica ESCA (do inglês Electron
Spectroscopy for Chemical Analysis), através da linha de emissão de raios X, k do Cr,
com 5.414,7 eV.

 Afinidade Eletrônica

Elétrons se mantêm no átomo pelo campo exercido pelo núcleo. Esse campo
também pode atrair elétrons livres. Cálculos teóricos e dados experimentais têm
demonstrado que a energia de atração exercida pelo núcleo por um elétron livre se
sobrepõe à repulsão eletrostática. Portanto, átomos podem receber um elétron, se
transformar em um íon com uma carga negativa, e ser estável. A energia que é liberada pelo
átomo ao receber esse elétron, é igual a AE, expressa em eV e estabiliza o sistema.

Cálculos mecânicos quânticos têm demonstrado que a adição de dois elétrons ao


átomo resultaria em uma maior repulsão intereletrônica em relação à energia de atração
pelo núcleo, ou seja, a afinidade de átomos por dois ou mais elétrons é sempre negativa.
Por isso, íons negativos, monoatômicos, com cargas maiores ou iguais a dois não poderão
existir em estado livre, por exemplo, as espécies O2-, S2-, N3-, etc., que formam compostos
estáveis, ocorrem apenas entre os átomos em reações químicas.
56

Existem menos dados para AE disponíveis na literatura, em relação ao EI, por


dificuldades experimentais em medir a energia de A-. Invertendo a equação (b): A-  A +
e-, pode-se prever que AE de A = EI de A-, portanto assim como a energia de ionização, a
afinidade eletrônica também segue tendências na tabela periódica dos elementos químicos,
atingindo valores máximos nos halogênios (grupo 17). Apresentamos a seguir alguns
valores significativos de afinidade eletrônica para átomos (em eV).

H = 0,747; He = 0,19; Li = 0,82; Be = - 0,19; B = 0,30; B (sp2 = 2.0); C = 1,25; C (sp3 =


2,30); N = 0,05; O = 1,47; F = 3,58; Ne = - 0,57; Na = 0,47; Mg = - 0,32; Al = 0,52; Si =
1,46; P = 0,77; S = 2,33; Cl = 3,81; Br = 3,56; I = 3,29.

 Eletronegatividade

Devido à dificuldade experimental para a determinação da afinidade eletrônica de


átomos R. S. Mulliken utilizou o conceito eletronegatividade para expressar “o poder do
átomo em atrair elétrons” e considerou a seguinte relação empírica entre EI e AE como
uma indicação da eletronegatividade (X) de um elemento químico: X = ½ [EI + AE]. Trata-
se de uma escala absoluta. Como interessam os valores de eletronegatividades relativas,
ou seja, de um átomo em relação a outro átomo, que irá se envolver na ligação química,
Linus Pauling (The nature of chemical bond. IV. The energy of single bonds and the
relative eletronegativity of atons – J. Am. Chem. Soc, v. 54, p. 3570, 1932), utilizou outra
escala, baseada em dados termoquímicos, antes mesmo da escala absoluta de Mulliken. O
conceito eletronegatividade é central em Química, pois trata das possibilidades de ligações
entre os átomos para formar a moléculas.

Linus Carl Pauling correlacionou a diferença de eletronegatividades, entre um par


de átomos (A e B) como a contribuição para uma possível ligação iônica (A+B-, se B é
mais eletronegativo que A), com a força da ligação AB. Considerando as diferenças de
eletronegatividades, Pauling fixou arbitrariamente a eletronegatividade para o átomo de
flúor = 4,0 como o valor máximo e para césio o menor valor = 0,70. O valor utilizado neste
texto para flúor será 3,98 e para césio será de 0,79, pois são valores mais recentes.
Hidrogênio (2,20), por exemplo, ocupa um valor intermediário entre flúor e sódio (0,93) e
assim quando hidrogênio reage com flúor “cede um elétron”, mas quando interage com
sódio, recebe um elétron, formando respectivamente H+F- e Na+H-. Veja a seguir a
representação para o átomo de hidrogênio (H), para o próton (H+) e para o íon hidreto (H-).
Note que perdendo um elétron o átomo de hidrogênio é transformado no próton, mas
ganhando um elétron, hidrogênio é transformado no anion hidreto.

_
+
+
+ e- _ e-
+ +

_ H +
H H
57

A escala absoluta de Mulliken pode ser relacionada com a escala relativa de Pauling
através da seguinte expressão: X = 3,17 (xA – xB), em que xA e xB são valores relativos na
escala Pauling. Linus C. Paulig recebeu o Prêmio Nobel de Química de 1954 pelo seu
trabalho sobre a natureza da ligação química e a sua aplicação para a elucidação da
estrutura de substâncias complexas. R. S. Mulliken recebeu o Prêmio Nobel de Química de
1966 pelo seu trabalho relacionado à ligação química e pela estrutura eletrônica de
moléculas através da teoria do orbital molecular.

De acordo com um critério estabelecido por Linus Pauling (1932) não seria possível
uma ligação química ser puramente iônica nem puramente covalente, mas por uma questão
didática costuma-se representar a ligação química nesses dois casos extremos.

A seguinte tabela apresenta a percentagem do caráter iônico para uma ligação


simples entre dois átomos, em função da diferença de eletronegatividade ().

 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1.0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
% 0,5 1 2 4 6 9 12 15 19 22 26 30 34 39 43 47 51

 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3,0 3,1 3,2
% 55 59 63 67 70 74 76 79 82 84 86 88 89 91 92

Portanto, de acordo com Linus Pauling , o valor de aproximadamente 1,7 para a


diferença de eletronegatividade entre átomos é significativo para a Química, podendo-se
fazer as seguintes generalizações:

  Eletronegatividade  1,7  predomina o caráter iônico (Ex.: NaCl ; NaBr; CaCl2). Os


compostos iônicos são solúveis em solventes polares, por exemplo em água.

  Eletronegatividade  1,7  predomina o caráter covalente (Ex.: H2; O2 ; H2O ). Os


compostos covalentes polares (Eletronegatividade  0) são solúveis em solventes polares; os
compostos covalentes apolares (Eletronegatividade = 0) são solúveis em solventes apolares,
por exemplo, benzeno.

  Eletronegatividade  1,7  50% de probabilidade de caráter covalente e iônico


(Ex.: LiI). Este composto é solúvel tanto em solvente
polar quanto em solvente apolar, o que indica o caráter
iônico e covalente de suas ligações químicas.

Ligações iônicas
A ligação iônica, devido à atração eletrostática entre os íons, é normalmente
representada através das cargas dos íons. Por outro lado, a ligação covalente, devido ao
compartilhamento de elétrons entre átomos, é representada através da estrutura completa de
Lewis. Devemos adotar para cada composto químico o modelo que apresente uma melhor
aproximação com os seus dados experimentais. Portanto, de acordo com Pauling, para se
decidir entre as possibilidades de ligação intramoleculares, iônicas ou covalentes, em um
58

composto devemos calcular a diferença () de eletronegatividades entre os átomos


envolvidos na ligação química.

Na+Cl- (cloreto de sódio) apresenta célula unitária, que é o menor volume de


um cristal, do tipo cúbico de faces centradas, conforme a seguinte representação.

NaCl
Célula unitária = Na+
cúbica de faces centradas = Cl-

As partículas de uma célula unitária, em geral, não estão totalmente dentro da


célula. Aquelas que estão nos vértices são compartilhadas por 8 células unitárias,
aquelas nas arestas por 4 células e aquelas nas faces estão compartilhadas por 2
células unitárias. Desse modo os 14 íons Cl - e os 13 íons Na+, em NaCl, na realidade
correspondem a [8(1/8) + 6(1/2)] = 4 íons Na+ e [12(1/4) + 1 = 4 íons Cl-, o que
corresponde a Na4Cl4. Assim, a fórmula química mínima para cloreto de sódio = NaCl.
A célula unitária reflete a simetria do cristal e as proporções estequiométricas da
fórmula química. Na representação a seguir se encontram destacadas as 8 partículas
(4 íons Na+ e 4 íons Cl-) na célula unitária do cloreto de sódio.

A formação de um composto iônico é realizada em etapas, conforme exemplificado


a seguir para o cloreto de sódio.
59

Etapas para a formação de NaCl a partir de átomos isolados no estado gasoso:

1) O átomo de sódio recebe energia e sofre ionização (potencial de ionização)


_
Na Na+ + e + 496 kJ/mol

2) O átomo de cloro recebe um elétron e libera energia (afinidade eletrônica)


_
_
Cl + e Cl _ 348 kJ/mol

3) Formação do par iônico, com liberação de energia .


_ _
+
Cl + Cl _ 450 kJ/mol
Na + Na
_
Na + Cl Na+ Cl _ kJ/mol
302

Nesse processo, a energia necessária para ionizar o sódio (etapa 1) não é totalmente
compensada pela energia liberada quando átomos de cloro aceitam elétrons (etapa 2).
Entretanto, a energia liberada na etapa 3, quando somada à energia liberada na etapa 2, que
resulta em – 798 kJ/mol, é suficiente para atender a etapa 1, ocorrendo a formação do par
iônico com liberação de 302 kJ/mol. A perda de energia, que leva a formação de um
composto estável, está associada com um processo energeticamente favorável, ou seja,
espontâneo.

Ligações covalentes
De acordo com o modelo de Lewis, em que se considera 2 elétrons por ligação
química, existem duas possibilidades para a ligação covalente: (i) a ligação covalente
normal que ocorre por compartilhamento desses 2 elétrons, sendo que cada átomo árticipa
com 1 elétron ou (ii) a ligação ligação covalente dativa que ocorre através da “doação de
um par de elétrons” do átomo menos eletronegativo para um orbital vazio de outro
elemento mais eletronegativo. Neste caso os átomos são diferentes, pois não haveria ligação
dativa entre átomos idênticos.

 Covalentes normais

A teoria de Lewis utiliza os elétrons da última camada dos átomos para efetivar as
ligações covalentes, prevendo um total de 8 elétrons em volta dos átomos na molécula. Esta
é a assim denominada “regra do octeto”. O modelo representa cada elétron por um ponto e
admite dois elétrons por ligação química. Lembrado que elétrons se encontram em orbitais
atômicos, em uma ligação simples, considerada (sigma), a interação entre dois orbitais
atômicos é frontal. Em uma ligação dupla (1 e 1), com dois pares de elétrons entre os
átomos, a interação  ocorre entre dois orbitais atômicos paralelos. Uma ligação tripla (1 e
2), com três pares de elétrons entre os átomos, a segunda ligação  ocorre pelo mesmo
60

mecanismo de interação entre dois orbitais atômicos paralelos. Desse modo, utilizando dois
elétrons por ligação química, podemos conferir a regra do octeto eletrônico em volta de
cada átomo para as moléculas Cl2, O2 e N2, conforme as seguintes estruturas de Lewis.

** ** **O * * O**
**Cl **Cl * **N ** ** **N *
** ** * ** * * ** *** *
Cl2 O2 N2

Um processo moderno utilizado para a representação da estrutura de Lewis de


uma molécula ou íons requer a configuração eletrônica de cada átomo na molécula.
Devemos utilizar apenas os elétrons da última camada (camada de valência),
desprezando-se os elétrons de camadas internas. A partir da configuração eletrônica
torna-se conveniente se distribuir os elétrons em caixas, pois assim ficam mais
evidentes quais as possibilidades de se fazer as ligações entre os átomos na molécula.
Observe os passos utilizados para se propor a estrutura de Lewis, e as respectivas
representações espaciais das ligações químicas, em Cl2, O2 e N2. Observe que apenas
os elétrons desemparelhados participam das ligações covalentes.
z z
3p 5
3s
2
y
y
17Cl = [Ne]3s 2 3p 5
Cl2  Cl 
Cl x

3p 5
17Cl = [Ne]3 s2
3s
2
3p
5

z z
2p
4
2 s2 y
8
O = [He] 2s 22p 4  y

O2   
Cl
O Cl
O x
8 2
O = [He] 2s 2p 4
2
2s 2p
4

z z

2 2p3
2s y
7
N = [He]2s2 2p 3  y

N2     N
Cl
N Cl x
7
N = [He]2 s2 p3
2
2
2s 2p 3

 Covalentes dativas

SO

De acordo com o modelo de Lewis este composto apresenta uma ligação dupla
(duas ligações covalentes normais), sendo uma  e outra . Observe na estrutura a seguir,
que sobraram dois pares de elétrons no átomo de enxofre. De fato o átomo de oxigênio
também apresenta dois pares de elétrons não ligantes (que não participam da ligação), mas,
61

neste caso, para simplificar a representação da estrutura da molécula estão representados


apenas os dois pares de elétrons sobre o átomo de enxofre.

Interação entre orbitais de subníveis p:  e 


16
S : [Ne] 3s 2 3p
4

S O
 
uma ligação
8
dupla ( e  )
O : [He] 2s 2 2p
4

SO2

Para este composto, quando comparado a SO e pela falta de elétron desemparelhado


em SO, não seria possível a formação de outra ligação covalente normal, via
emparelhamento de elétrons, entre o átomo de enxofre ligado ao oxigênio e outro átomo
de oxigênio. Entretanto, redistribuindo os elétrons de um segundo átomo de oxigênio, pois
oxigênio é mais eletronegativo que enxofre, obtém-se um orbital vazio nesse oxigênio,
podendo assim receber um par de elétrons da molécula SO. Essa ligação  é considerada
covalente dativa. As interações entre os orbitais dos subníveis p em SO2 são consideradas
 e , pois forma-se uma ligação dupla.

8
O : [He] 2s 2 2p
4

16
S : [Ne] 3s 2 3p
4

O S O
  (I)

8O : [He] 2 s 2 4
2p

De acordo com o modelo de Lewis para a molécula SO 2 temos duas ligações


covalentes e uma ligação covalente dativa. O arranjo de elétrons na estrutura (I) da
molécula SO2 é arbitrário, pois existe outra possibilidade que está representada a seguir na
estrutura (II). As duas possibilidades indicariam uma ligação mais curta (dupla) e outra
mais longa (simples), entretanto, se constata experimentalmente em SO2 uma estrutura
angular em que as duas ligações são idênticas e iguais a 1,43 Å.
O S O
( I I)

O conceito de ressonância, que tem origem na química quântica, relaciona o


deslocamento de elétrons  o que tornam equivalentes as estruturas ( I ) e ( II ).
62

..
.. .. .
O . S . .O
. .. ..
O . .S .O
S

O O

SO3

Restando um par de elétrons no átomo de enxofre do composto SO 2 é possível a


formação de outra ligação covalente dativa, ou seja, entre SO2 e outro átomo de oxigênio
com orbital vazio. Observe a seguir, a representação dessas ligações.

8O : [He] 2 s 2 p4
2

 S : [Ne] 3s 2 3 p4 O
16 S O
8O : [He] 2 s 2 2 p 4   O

8
O : [He] 2 s 2 2 p4

Outras duas possibilidades de arranjo dos elétrons em SO 3 e a estrutura de


ressonância se encontram a seguir.
O
O O....
O
.. ...S...O .
O .S. O
. S

( II) (III) O O

Note que não seria mais possível a ligação de um quarto átomo de oxigênio,
para formar SO4, pois todos os pares de elétrons sobre o átomo de enxofre foram
utilizados em ligações covalentes dativas. Entretanto, através da reação entre SO3 e
H2O forma-se H2SO4 que sofrendo ionização libera no meio aquoso as espécies H+ e
[SO4]2-. Represente as ligações químicas em H2SO4.

Considerando as estruturas de Lewis para os exemplos apresentados, podemos


prever que essas moléculas seriam diamagnéticas, pois todos os elétrons se encontram
emparelhados, mas constata-se experimentalmente que a molécula de oxigênio é
paramagnética, o que coloca em dúvida a regra do octeto e a respectiva estrutura de Lewis.
Através da teoria do orbital molecular, que tem suporte na teoria quântica, será
demonstrado que a molécula de oxigênio apresenta dois elétrons desemparelhados,
confirmando o seu paramagnetismo. A teoria de Lewis também falhou em muitos outros
casos, por exemplo, utilizando o modelo de Lewis o elemento carbono (6C = 1s22s22p2)
deveria ser bivalente, com dois elétrons desemparelhados em orbitais 2p e o elemento
berílio (4Be = 1s22s2) deveria ter valência zero, conforme a configuração eletrônica para o
estado fundamental desses átomos. Portanto, seria necessário explicar as ligações químicas
63

nos compostos de carbono como em CH4 e também nos compostos de berílio como em
BeCl2 e em muitos outros compostos.

Ligações em metais
Por que mercúrio é líquido? Ou, por que efeitos relativísticos não são tratados em
livros texto de Química? Este é título de um artigo do Prof. Lars J. Norrby (Canadá) no
Jounal of Chemical Education, v. 68, No. 2, p. 110-113 (1991) e, certamente, interessa para
quem estuda Química. O fato é que 80Hg = [Xe]4f145d106s2 está situado, na tabela periódica
dos elementos químicos, entre 79Au = [Xe]4f145d106s1 e 81Tl = [Xe]4f145d106s2p1, porém,
enquanto estes dois elementos são sólidos, mercúrio é um metal líquido (ponto de fusão = -
39oC), à temperatura ambiente. Trata-se de uma questão complexa, que deve ser tratada
com base na mecânica quântica relativística de Paul Dirac (1928). A mecânica quântica não
relativística de Schrödinger (1926) não seria adequada para responder as questões
relacionadas com elementos pesados em que o acoplamento spin-órbita é muito forte. Esse
acoplamento surge de interações entre os momentos magnéticos (J), associados com o
momento angular orbital (L) e o momento angular de spin (S) do elétron. Segundo o autor
do artigo, o par inerte 6s2 surge de uma contração relativística e o mesmo argumento parece
se aplicar à questão da contração nos lantanídeos e actinídeos. No caso do mercúrio, o
orbital externo 6s2 contribui muito pouco para a ligação metal-metal, mas como explicar o
fato de 55Cs = [Xe]6s1 e 87Fr = [Rn]7s1, serem ambos metais líquidos (ponto de fusão 
27oC) ? Percebemos que esta questão foi evitada pelo autor do artigo, portanto, levantamos
a questão como uma provocação aos estudantes de Química. A resposta a estas questões
demonstra a importância dos conceitos da teoria quântica para o entendimento da Química.

Considerando a natureza corpuscular do elétron, este está sujeito a um campo


magnético originário do movimento orbital. O campo atua sobre o spin do elétron
exercendo uma força sobre a partícula, tentando alinhá-la, de maneira similar a um
imã que tende a se alinhar sobre a ação do campo magnético da terra. Essa força que
está no plano formado pelo momento angular orbital (L) e momento de spin (S)
exerce um torque perpendicular a esse plano fazendo com que os dois precesionem em
torno do vetor J = L + S, designado como momento angular total.

O acoplamento spin – órbita (entre S e L), que resulta no momento angular


total, faz com que as projeções no eixo z de L e de S (L z e Sz) variem, mas Jz
permanece constante.

J
L

Uma análise detalhada sobre a ligação metálica, através da teoria de bandas, é


realizada pela química quântica. Entretanto, as interações metálicas podem, em uma
64

grosseira aproximação, serem descritas através de um modelo simples e intuitivo.


Utilizando esse modelo intuitivo, podemos associar, por exemplo, a condução de
eletricidade e de calor em metais como ferro, cobre e alumínio. Podemos imaginar que
existam cátions (íon de carga positiva) e uma nuvem de elétrons nesses materiais. A
condução de eletricidade em um material metálico ocorre para manter a neutralidade de
cargas no material e do mesmo modo, devido à presença da nuvem de elétrons, quando se
aproxima uma fonte de calor de um material metálico propaga-se uma alteração na
movimentação dos elétrons e como conseqüência ocorre a transmissão de calor. Desse
modo as interações metálicas podem ser consideradas como ligações inter-metais sendo
muito fortes, se refletindo em suas temperaturas de fusão que geralmente são elevadas.
Mas, recorde a questão anterior, por que mercúrio é líquido? Portanto, a ligação metálica é
complicada e foge ao escopo desta disciplina. A seguir se encontram exemplos de ponto de
fusão (em graus Kelvin) para alguns metais.

Metal K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn
Ponto de 336,35 1112 1812 1943 2175 2130 1517 1809 1768 1726 1357,6 692,73
fusão(k)

Ligações de hidrogênio
O conceito “ligações de hidrogênio” foi introduzido em 1919 por Huggins e admite
duas possibilidades: ligações de hidrogênio intramoleculares e ligações de hidrogênio
intermoleculares. Nos dois casos a ligação ocorre quando o átomo de hidrogênio se liga a
dois ou mais átomos e por isso também costumamos denominar “pontes de hidrogênio”.
Utilizando a representação de Lewis, que é a mais didática para se “enxergar moléculas”,
uma ligação de hidrogênio não poderia ser considerada como covalente normal, pois o
átomo de hidrogênio dispõe de apenas um elétron. Ambos os tipos de ligações de
hidrogênio (intramoleculares e intermoleculares) são encontradas, por exemplo, em solução
do composto 2-nitrofenol e dependem apenas da basicidade do solvente. No solvente
tetracloreto de carbono (CCl4) o composto apresenta ligação intramolecular de hidrogênio,
mas em anisol (C6H5OCH3) a ligação de hidrogênio é do tipo intermolecular.

H...
- . . .H O anisol
-
O O
O
N N
+
CCl4 +
O O
intramolecular intermolecular

Observe na seguinte representação as possibilidades de realização das ligações de


hidrogênio para dois líquidos separados, água (a) e etanol (b), bem como para a mistura dos
dois (c).
65

Nestes casos, as ligações de hidrogênio são possíveis devido à polarização do


grupo Oბ-Hბ+, ou seja, neste grupo oxigênio que é mais eletronegativo
(eletronegatividade na escala Pauling = 3,44) adquire uma carga residual negativa (ბ–
) e hidrogênio que é menos eletronegativo (eletronegatividade na escala Pauling =
2,20) adquire uma carga residual positiva (ბ+). Portanto, no estado líquido as
moléculas de água e etanol se encontram associadas por legações de hidrogênio. Por
outro lado, em H2S não seria possível essa polarização e não havendo a possibilidade
de ligação de hidrogênio o composto se apresenta como gás à temperatura ambiente.

As moléculas de água estão tetraedricamente associadas no gelo, conforme a


seguinte representação. No gelo, cada átomo de oxigênio está ligado, em uma
estrutura tetraédrica, com outros quatro átomos. Entre eles se distribuem os átomos
de hidrogênio, sendo dois deles ligados através de covalência polar ( 0,99 Å) e outros
dois por enlace de hidrogênio (1,76 Å), o que resulta em uma estrutura com elevada
porosidade e baixa densidade. Lembre-se que gelo flutua em água e durante a fusão
ocorre o rompimento parcial das ligações de hidrogeno, diminuindo o volume e
conseqüentemente aumentando a densidade. Um leve aquecimento provoca expansão,
mas a ruptura das ligações de hidrogênio conduz a redução de volume e como
resultado a densidade da água atinge um máximo a 40C. Portanto, as ligações de
hidrogênio são responsáveis pelas propriedades especiais da água.
66

Este importante conceito é de fundamental importância em Química e em


Bioquímica, pois as interações de hidrogênio são responsáveis pela fantástica estabilidade
dos ácidos nucléicos (DNA e RNA). Os tempos de meia vida do DNA e RNA, quando
extrapolados para condições fisiológicas, são estimados em 2 x 10 8 anos e 8 x 102 anos,
respectivamente (A Sreedhara and J. A. Cowan - Catalytic Hydrolisis of DNA by metal
íons and complexes. J. Biol. Chem., v.6., n. 4, p. 337-347, 2001a.) e incluem a participação
de ligações de hidrogênio. Esta fantástica estabilidade demonstra porque a natureza
escolheu o DNA como o responsável pelo código genético. A representação de uma das
hélices do DNA se encontra a seguir. As ligações de hidrogênio ocorrem através das bases
nitrogenadas.

O P O CH2
O base
_O
H
O H

O P O CH2
O base
_O
H
O H

O P O CH2
O base
_O
H
O H

No DNA, as ligações de hidrogênio provocam uma dupla hélice, incluindo as


seguintes possibilidades de ligações entre as bases: (citosina – guanina) e (timina –
adenina), conforme as seguintes representações. Observe que são possíveis três
ligações de hidrogênio para cada par citosina – guanina, enquanto que somente são
possíveis duas ligações de hidrogênio para a combinação timina – adenina. Essa
diferença faz com que a dupla hélice sofra uma torção e seja orientada para a direita.
adenina
H guanina
0 H
2,9 A 0
N H O N 3,0 A
O H N N
, 0 3HC
N 3 0A N
N
,
0
H
H 2 8A N
N
N N
0 açúcar
2,9 A N N N açúcar
O H
açúcar
O
H açúcar
citosina
timina

No DNA de humanos se encontram 46 cromossomos. Em cada cromossomo


existem áreas hereditárias denominadas genes, que são segmentos do DNA que podem
conter entre 1000 a 100.000 pares de bases. Através do projeto genoma estimou-se que
o DNA de humanos possa conter cerca de 100.000 genes e aproximadamente três
bilhões de pares de bases. A estrutura em dupla hélice para o DNA foi proposta em
1953 por Watson e Crick, baseados em argumentos químicos, em evidências
bioquímicas e em dados de difração de raios X. Francis Harry Compton Crick, James
67

Dewey Watson e Maurice Hugh Frederick Wilkins dividiram o Prêmio Nobel de


Medicina em 1962 pela descoberta da estrutura molecular dos ácidos nucléicos. RNA
não forma dupla hélice e sendo as ligações de hidrogênio intramoleculares a fita se
torna enovelada. No RNA as ligações possíveis são formadas apenas entre uracila e
adenina, conforme a seguinte representação.
adenina
H
H N
O N

H N N
N
N açúcar
N
O
açúcar
uracila

A energia para a dissociação de uma ligação de hidrogênio, em geral é cerca de 10


kcal / mol. Comparando este valor com o valor médio da energia para a dissociação de uma
ligação covalente simples ( 100kcal/mol), nota-se que a ligação de hidrogênio é cerca de
10 vezes mais fraca, mas em relação às interações intermoleculares de van der Waals , que
ocorrem em moléculas polares ( 1kcal/mol), a ligação de hidrogênio é cerca de 10 vezes
mais forte.

Teoria da Ligação de Valência


Utilizando a teoria de Lewis, como seria possível explicar as ligações químicas nos
compostos de coordenação? Esses compostos, também denominados complexos dos
elementos da série de transição, são formados por ligações em que o metal
(disponibilizando orbitais hibridizados e vazios) recebe pares de elétrons dos ligantes,
através de ligações coordenadas. No complexo [Zn(H2O)6]2+, que apresenta 6 moléculas de
água ligadas ao íon Zn2+, resulta em 12 elétrons em volta do centro metálico, ultrapassando
o octeto. Note, a seguir, que a partir da estrutura de Lewis, em que H2O disponibiliza dois
pares de elétrons sobre o átomo de oxigênio, mas apenas um desses pares é utilizado para
H2O se ligar ao centro metálico para formar o complexo, ou seja, nesta teoria utiliza-se
também 2 elétrons por ligação química.

Linus Pauling, em 1932, utilizando a idéia da mistura de orbitais atômicos


(hibridização de orbitais), desenvolveu a teoria da ligação de valência, que é adequada para
os compostos covalentes. O modelo tem suporte na teoria quântica que admite a
hibridização de orbitais atômicos e pode ser utilizado tanto para compostos de coordenação
quanto para os compostos de não metais.

Acesse o seguinte endereço na internet para acompanhar animações em flash


sobre hibridização de orbitais atômicos:

http://www.mhhe.com/physsci/chemistry/essentialchemistry/flash/hybrv18.swf
68

Compostos de não metais

CH4 (metano)  Molécula tetraédrica (hibridização sp3). Sendo a molécula um tetraedro


regular, com ângulos de 1090,28 entre as ligações, é necessário que todas as 4 ligações
químicas sejam idênticas, de natureza  (enlace frontal).
H

C
H H
H

Uma maneira de representar a formação dos 4 orbitais híbridos sp3 no átomo


de carbono, para efetivar as ligações  com orbitais s de cada átomo de hidrogênio, se
encontra a seguir.
4 orbitais híbridos sp3
excitação hibridização
6
C :[He] 2s 2 2 p2 2s 1 2p 3    
H HH H
C2H6 (etano)  Molécula tetraédrica (hibridização sp3)

H
H
C
H C
H
H
H

Observe a seguir a representação da ligação  C-C, efetivada através de


orbitais híbridos sp3 em cada átomo de carbono. Os outros 3 orbitais híbridos, em
cada átomo de carbono, irão realizar as outras ligações  com os orbitais s dos átomos
de hidrogênio no composto C2H6.
H H H

C excitação hibridização
3 sp3
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
C2H6

C excitação hibridização
3 sp3
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
H HH

C2H4 (eteno ou etileno)  Molécula plana (hibridização sp2). Sendo a molécula plana,
com ângulos de 1200 entre as ligações, é necessário que 3 ligações químicas sejam idênticas
69

() e uma quarta ligação, unindo os dois átomos de carbono, seja de natureza  (enlace em
paralelo entre orbitais p não hibridizados).
H H
C C
H H

Na seguinte representação para as ligações no composto C2H4, a ligação  C-C,


se torna efetivada através de orbitais híbridos sp2 em cada átomo de carbono,
enquanto que a ligação  C-C, é realizada pelo enlace de orbitais p puros (não
hibridizados), em cada átomo de carbono. Os outros 2 orbitais híbridos, em cada
átomo de carbono, irão realizar as outras ligações  com os átomos de hidrogênio no
composto. Observe a indicação da formação da ligação dupla entre os átomos de
carbono (uma  e outra ) no eteno.
H H

C excitação hibridização
3 sp2
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
C2H4

C excitação hibridização
3
sp2
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
H H

C2H2 (etino ou acetileno)  Molécula linear (hibridização sp). Sendo a molécula linear,
com ângulos de 1800 entre as ligações, é necessário que 2 ligações químicas sejam idênticas
() e outras duas ligações, unindo os dois átomos de carbono, sejam de natureza .
H C C H
Na seguinte representação para as ligações no composto C 2H2, a ligação  C-C
torna-se operante através de orbitais híbridos sp, em cada átomo de carbono,
enquanto que as duas ligações  são realizadas pelo enlace em paralelo de orbitais p
puros em cada átomo de carbono. O outro orbital híbrido, em cada átomo de carbono,
irá realizar a ligação  com o átomo de hidrogênio no composto. Observe a indicação
da ligação tripla (uma  e duas ) no etino.
H

C excitação hibridização
sp
3
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
C2H2

C excitação hibridização
sp
3
2 s2 2 p2 2 s1 2 p
H
70

BeCl2  Estrutura linear (hibridização sp)


Cl Be Cl

Considerando apenas os elétrons da última camada dos átomos de cloro e do


berílio, veja a seguir uma maneira para a representação da formação das duas
ligações  no composto BeCl2. Este composto apresenta estrutura linear, ou seja, com
ângulo de 1800 entre as duas ligações.

Be excitação hibridização
sp
Cl
Cl Cl
BeCl2
BF3  Estrutura trigonal plana (hibridização sp2)
F

B
F F

Considerando apenas os elétrons da última camada dos átomos de flúor e do


boro, veja a seguir uma maneira para a representação da formação das três ligações 
no composto BF3. Este composto apresenta estrutura trigonal plana, com ângulos de
1200 entre as três ligações.

B excitação hibridização
sp2
F
F F F
BF3
PCl5  Estrutura bipirâmide trigonal (hibridização sp3d)

Cl
Cl

Cl P
Cl
Cl

Considerando apenas os elétrons da última camada dos átomos de cloro e do


fósforo, veja a seguir uma maneira para a representação da formação das cinco
71

ligações  no composto PCl5. Este composto apresenta estrutura bipirâmide trigonal,


com ângulos de 1200 entre as três ligações no plano e de 1800 entre as ligações
perpendiculares ao plano da molécula.

P excitação

Cl
hibridização
sp 3d

Cl Cl Cl Cl Cl

PCl5
SF6  Estrutura octaédrica (hibridização sp3d2)
F
F F
S
F F
F

Considerando apenas os elétrons da última camada dos átomos de flúor e do


enxofre, veja a seguir uma maneira para a representação da formação das seis
ligações  no composto SF6. O composto apresenta estrutura octaédrica, com ângulos
de 900 entre as ligações no plano e de 1800 entre as ligações perpendiculares ao plano
da molécula.

S excitação

F
hibridização
sp 3d 2

F F F F F F
SF6
72

 Casos curiosos: XeF2, XeF4, XeF6

Linus Pauling previu, em 1933, a possibilidade da síntese de compostos dos gases


nobres, entretanto apenas em 1962 é que foi possível o preparo do primeiro composto de
xenônio (XePtF6). Outros compostos como XeF2, XeF4 e XeF6 também foram sintetizados.
A descoberta de compostos estáveis de gases raros, de elevado número atômico, foi
publicada em 1963 (C.L. Chernick, Chemical compounds of the noble gases, Record chem.
Progr. Kresge-Hooker Sci. Lib., v. 24, p.139), porém a reação direta entre Xe(gás) e F2(gás)
resulta em uma mistura de XeF2, XeF4, XeF6. Esses compostos são todos incolores,
podendo-se prever que são diamagnéticos. De certo modo, a obtenção de compostos dos
"gases inertes" se constituiu em uma violação da regra do octeto, que é fundamental na
teoria de Lewis para a ligação química, ou seja, essa teoria não admite a existência de
compostos dos gases nobres, que efetivamente existem!

A síntese, quando dirigida para um composto específico exige o controle da


estequiometria dos reagentes, da pressão total dos gases e temperaturas acima de 250
K. Em geral, as seguintes condições experimentais atendem o melhor rendimento nas
sínteses:

(400K) 2Xe + F2  XeF2


(400K) Xe + 2F2  XeF4
(300K) Xe + 20F2  XeF6

Veja a seguir as demonstrações para as hibridizações (um conceito fundamental na


teoria da ligação de valência) no átomo central de cada molécula e a previsão das
respectivas estruturas, de acordo com o modelo da repulsão dos pares eletrônicos da
camada de valência (R. J. Gillespie, J. Chem. Educ., v. 47, p. 18, 1970).

▪ XeF2 (estrutura linear): hibridização sp3d

Considerando que elétrons são indistinguíveis temos a formação de cinco orbitais


híbridos sp3d no átomo central do composto.
F
Xe = ... 5s2 5p 6 sp3d

Xe
5s 5p 5d
F
F F

Os três pares de elétrons e o átomo de xenônio ficam posicionados no mesmo


plano e os dois átomos de flúor, em linha reta, ocupam as posições perpendiculares a
esse plano. De acordo com o modelo da repulsão dos pares eletrônicos da camada de
valência a molécula é linear, estando de acordo com a estrutura determinada
experimentalmente.
73

▪ XeF4 (estrutura quadrada plana): hibridização sp3d2

Considerando que elétrons são indistinguíveis temos a formação de seis orbitais


híbridos sp3d2 no átomo central.
Xe = ... 5s2 5p 6 sp3d 2 F F
Xe
5s 5p 5d F F

F F F F

Os dois pares de elétrons se encontram perpendiculares ao plano formado


pelos quatro átomos de flúor e o átomo de xenônio. De acordo com o modelo da
repulsão dos pares eletrônicos da camada de valência, a molécula é quadrada plana e
está de acordo com a estrutura experimental.

▪ XeF6 (estrutura “octaédrica”): hibridização sp3d2 ou sp3d3? (um caso complicado!)

Baseado em aspectos de simetria molecular podemos considerar que XeF6 seja uma
molécula octaédrica. Considerando uma estrutura octaédrica perfeita a teoria da ligação de
valência prever que a hibridização no átomo central de xenônio seja sp3d2. Temos duas
possibilidades para distribuir os elétrons nos orbitais híbridos do átomo central: i) resultaria
em um composto paramagnético. Esta hipótese deve ser eliminada, pois o composto
conforme medido experimentalmente, é diamagnético. ii) resultaria em um composto
diamagnético, mas a estrutura do composto seria “octaédrica” distorcida, devido à presença
de um par isolado de elétrons em um orbital não hibridizado de maior energia (6s 2). A
hibridização no átomo central seria sp3d2 (desprezando-se o par isolado 6s2 por está em
orbital de maior energia) ou seria sp3d3 (incluindo o par isolado, como prever o modelo da
repulsão dos pares eletrônicos da camada de valência)?
Xe = ... 5s2 5p 6 sp3d 2
i) F
5s 5p 5d F F

F F F F F F Xe
ou
F F
sp3 2
d
F
ii)
5s 5p 6s
5d

F F F F F F

Antes da determinação experimental da estrutura de XeF 6, Gillespie utilizando


o seu modelo da repulsão dos pares eletrônicos da camada de valência, sugeriu três
possibilidades de estrutura para a molécula: bipirâmide pentagonal; octaedro
distorcido; prisma trigonal distorcido. Para as três possibilidades, as hibridizações
seriam sp3d3. O composto, na fase de vapor, teve a sua estrutura determinada por
74

difração de elétrons (L. S. Bartell e R. M. Cavin (J. Chem. Phys., v. 48, p. 2460, 1968),
que revelou se tratar de uma molécula “octaédrica” levemente distorcida. Entretanto,
no estado sólido, o composto se apresenta como [XeF 5]+ e F- (como contra íon).

Utilizando o modelo da repulsão dos pares eletrônicos da camada de valência


podemos prever para [XeF5]+ uma estrutura do tipo pirâmide de base quadrada com
hibridização sp3d2 (5 ligações e um par de elétrons isolado que ocupa a sexta posição
em um octaedro idealizado) o que está de acordo com a sua estrutura determinada
experimentalmente (R. D. Burbank e G. R. Jones, Science, v. 168, p. 248, 1970).

De acordo com S. Lawton e R. Jacobsen (Inorg. Chem., v. 5, p. 743, 1966) as


estruturas experimentais para os ânions [TeCl 6]2-, [TeBr6]2- e [SbCl6]3-, que são
isoeletrônicos com XeF6, são octaédricas perfeitas, indicando hibridização sp3d2 no
átomo central. Entretanto, a estrutura dos três ânions é influenciada pelos cátions,
como contra-íons, na formação dos cristais. Sabemos que cátions podem influenciar
na estrutura cristalino-molecular dos respectivos complexos, mas XeF 6 é um composto
neutro, portanto a situação torna-se diferente. Realmente, ainda temos um conflito
entre a previsão da estrutura e os dados experimentais para XeF 6.

É interessante notar que o número de regiões  (ligantes e não ligantes) em volta do


átomo central de um composto corresponde ao somatório dos expoentes na composição da
hibridização. Exemplos: 2  sp; 3  sp2; 4  sp3 ou dsp2; 5  dsp3; 6  d2sp3 ou
sp3d2, etc. Esta observação está de acordo com o modelo da repulsão dos pares eletrônicos
da camada de valência que relaciona o número de regiões  com a estrutura geométrica
mais provável para a molécula. Portanto, existe uma relação direta entre hibridização de
orbitais atômicos no átomo central com a estrutura das moléculas. Podemos então anunciar
a seguinte correlação: a hibridização dos orbitais atômicos no átomo central favorece a
ligação covalente e decide a geometria da molécula.

Compostos de coordenação

Os compostos de coordenação são classificados como clássicos, do tipo Werner, ou


organometálicos. Enquanto os complexos clássicos utilizam, por exemplo, ligantes com
átomos doadores do tipo oxigênio e nitrogênio e o metal geralmente em elevado estado de
oxidação, nos complexos organometálicos se destaca a ligação metal-carbono, com o metal
em baixo estado de oxidação. A Mecânica Quântica disponibiliza teorias para a ligação
química, tais como: Teoria do Campo Cristalino (TCC, que é mais específica para os
complexos dos metais de transição), Teoria da Ligação de Valência (TLV) e Teoria do
Orbital Molecular (TOM). Enquanto a TLV e a TOM são mais apropriadas para a ligação
covalente a TCC se aplica melhor para a ligação iônica. Quando se utiliza a TCC em
compostos covalentes essa é adaptada e se transforma na Teoria do Campo Ligante.
Estamos interessados em descrever a ligação química em moléculas mais simples. Para os
compostos de coordenação será utilizada a TLV e para poucas moléculas simples
utilizaremos a TOM. Para a descrição da ligação química nos compostos de coordenação
75

através da TOM é necessária a utilização da teoria de grupo aplicada a Química, que foge
ao escopo desta apresentação.

Podemos demonstrar em um tubo de ensaio, que através da adição de uma solução


aquosa de hidróxido de amônio (NH4OH(aq)) em outra solução aquosa que contenha íons
Cu2+(aq), surge uma solução azul escura. A cor azul escura dessa solução está relacionada
com transições eletrônicas envolvendo o cátion complexo [Cu(NH3)4]2+(aq), formado em
solução aquosa de acordo com a seguinte reação:

Cu2+(aq) + SO42-(aq) + 4NH3 (aq)  [Cu(NH3)4]2+(aq) + SO42-(aq)


(azul claro) (azul escuro)

No estado sólido este íon complexo se encontra ligado, por atração eletrostática, ao
contra-íon sulfato o que resulta no composto de coordenação [Cu(NH3)4]SO4 . Fazendo
uma comparação entre íons complexos e um sal duplo, por exemplo, o alúmen de potássio,
KAl (SO4)2 . 12H2O (que é um sal duplo), podemos demonstrar através de análises, que ao
ser dissolvido em água o alúmen libera os constituintes K+(aq) , Al3+(aq) e SO42-(aq), enquanto
que íons complexos mantém sua identidade química em solução, por exemplo,

KAl (SO4)2 . 12H2O + água  solução com íons K+(aq) , Al3+(aq) e SO42-(aq)

[Cu(NH3)4]SO4 + água  solução com íons [Cu(NH3)4]2+(aq) + SO42-(aq)

São conhecidos mais compostos de coordenação que todos os outros compostos


inorgânicos, o que demonstra a importância deste tópico. Os complexos encontram
destaques em vários campos da ciência, por exemplo, desempenham papel fundamental em
processos biológicos e cerca de 30% das enzimas são metaloenzimas. Os complexos se
comportam como ácidos, bases, sais (eletrólitos e não eletrólitos), por exemplo:

H[AuCl4], H2[SiF6], [Ag(NH3)2]OH, [Cu(NH3)4](OH)2, [Ni(NH3)4](NO3)2 , [Ni(CO)4] ,


[Mo(CO)6], etc..

O número de coordenação de um complexo, ou seja, o número de íons e/ou de


moléculas ligadas ao átomo ou ao íon metálico central varia normalmente entre 1, até 12. O
íon vanadila (VO 2+), se apresenta como exemplo para número de coordenação = 1, pois na
espécie o íon vanádio (IV) está ligado ao anion O2-. Por outro lado, esta espécie tende a se
ligar com outros ligantes para formar, por exemplo, o complexo [VO (H2O)6] 2+. De fato os
complexos dos íons metálicos típicos da série de transição (bloco d da tabela periódica dos
elementos químicos) têm a tendência de formarem seis ligações coordenadas. Observe, a
seguir, a representação da coordenação octaédrica, em que M representa um metal ou um
íon metálico e L representa os ligantes coordenados ao átomo central.
76

L
L L

L L
L
A formação de complexos é especialmente característica com íons metálicos da
série de transição, que é o enfoque desta discussão.

No complexo o íon metálico se encontra ligado com moléculas neutras, como


NH3, H2O, etc., ou com ânions como CN-, Cl-, etc. e, dependendo do número desses
ligantes o complexo apresenta número de coordenação 1, 2, 3, 4, 5, 6,... .No exemplo
apresentado o complexo de Cu2+ tem número de coordenação = 4. Veja, a seguir,
outros exemplos de compostos de coordenação e a respectiva nomenclatura.

[Co(NH3)6]Cl3 = Cloreto de hexaamincobalto(III)


[Co(NH3)5Cl]Cl2 = Cloreto de cloropentaamincobalto(III)
[Co(NH3)3NO2Cl2] = Dicloronitrotriamincobalto(III)
K4[Fe(CN)6] = Hexacianoferrato(II)de potássio
K3[Fe(CN)6] = Hexacianoferrato(III)de potássio
[Fe(C2O4)3]3- = Trisoxalatoferrato(III)
[Cu(en)2]2+ = bisetilenodiaminacobre(II)
[Co(en)3]3+ = trisetilenodiaminacobalto(III)

O complexo, [KFe2+Fe3+(CN)6], conhecido inicialmente como Azul da Prússia


ou Azul de Turnbull, pode ser obtido, através das seguintes reações químicas.

K+(aq) + Fe3+(aq) + [Fe2+ (CN)6]4-(aq)  K[Fe2(CN)6](s)

(complexo azul escuro)

K+(aq) + Fe2+(aq) + [Fe3+ (CN)6]3-(aq)  K [Fe2(CN)6](s))

Estas duas reações foram inicialmente realizadas por fabricantes de tintas na


Alemanha (1704, para o azul da Prússia), mas apenas em 1963 foi estabelecido, por
espectroscopia Mössbauer, o número de oxidação e o estado de spin do elemento ferro
nesses complexos, sendo considerados, nos dois casos, compostos de valência mista
Fe2+Fe3+.(J. F. Duncan e P. W. R. Wigly, J. Chem. Soc. P. 1120). Em 1977 Ludi e
colaboradores estabeleceram através da análise de difração de raios X em
monocristal, a estrutura do Azul da Prússia como sendo idêntica a estrutura do Azul
de Turnbull ( H. J. Buser, D. Schwarzenback. W. Peter e A. Ludi, Inorg. Chem., v. 16,
p. 2704), conforme a ilustração seguir.
77

Fe 2 +

Fe 2 + C Fe 2 +

C C
N
N N
3+
Fe

N N
C N C
Fe 2 +
Fe 2 + C
n
Fe 2 +

É interessante observar na representação da estrutura do complexo, que o


modo de coordenação do ligante cianeto ocorre através do átomo de carbono ou do
átomo de nitrogênio, estando relacionado com o caráter ácido-base duro e mole do íon
metálico Fe2+ ou Fe3+, nesse complexo de valência mista.

A seguir serão apresentados exemplos de compostos de coordenação em que suas


ligações químicas são interpretadas pela teoria da ligação de valência.

[Zn(H2O)6]2+: Estrutura octaédrica  6 orbitais híbridos sp3d2.

Como o íon Zn2+ poderia realizar seis ligações químicas com moléculas de água,
sendo Zn2+ = [Ar]3d10? As ligações químicas nos compostos dos metais de transição são
coordenadas, de natureza , em que o metal dispõe de orbitais vazios e os grupos que se
ligam ao centro metálico (os ligantes) doam um par de elétrons por ligação química.
Considerando um octaedro regular é necessário admitir que todas as ligações são idênticas,
portanto os orbitais vazios no metal devem ser hibridizados.
H2O
H2O OH2
2+
Zn
H2O OH2
H2O

Uma maneira de representar a formação das 6 ligações  no complexo se


encontra a seguir. Observe que todos os eletros do íon Zn 2+ se encontram
emparelhados em orbitais 3d, indicando um complexo diamagnético. Note que as
ligações químicas, diferentemente daquelas que ocorrem com os compostos de não
metais, são coordenadas, ou seja, os orbitais híbridos no metal se encontram vazios
para receberem os pares de elétrons dos ligantes.
78

Zn(II)

3d
10 4s 4p

2+
[Zn(H2O)6] sp3d2

6 moléculas H2O
coordenadas aos
6 orbitais híbridos

[Co(Cl)4]2- : Composto paramagnético com estrutura tetraédrica  4 orbitais híbridos sp3.


Cl

2+
Co
Cl Cl Cl

Uma maneira de representar a formação das 4 ligações  no complexo se


encontra a seguir. Observe a presença de 3 elétrons desemparelhados, indicando um
complexo paramagnético.
Co(II)

7 4s 4p
3d
_
2
Co(Cl)4
sp3

_ _ _ _
Cl Cl Cl Cl

[Ni(CN)4]2-: Composto diamagnético com estrutura quadrada plana  4 orbitais híbridos


dsp2.
NC CN
2+
Ni
NC CN

Observe na seguinte representação os 4 pares de elétrons no complexo de Ni 2+,


o que está de acordo com um composto diamagnético, e a indicação da hibridização
envolvendo um orbital 3d interno. Pode-se inferir que a presença dos ligantes cianeto
(CN-) provocou o emparelhamento dos elétrons no íon Ni 2+.
79

Ni(II)

3d8 4s 4p
_
2
Ni(CN)4
dsp2

_ _ _ _
CN CN CN CN

[Mn(CO)4(NO)]: Composto diamagnético com estrutura pirâmide de base quadrada


distorcida  5 orbitais híbridos d2p3.
O
N

OC CO
Mn-
OC CO

Uma possibilidade de hibridização no complexo envolve a mistura d2p3,


conforme a seguinte representação. Observe que no complexo existe a participação
dos orbitais internos (3d) do metal. Devido a influencia dos ligantes CO, que
provocam uma modificação na configuração eletrônica do íon Mn -, o complexo é
diamagnético. A presença do par eletrônico (4s) provoca distorção na estrutura do
complexo.
_
Mn

3d 4s 4p
[Mn(CO)4(NO)]
d2 p3

C N+ C C C

O O O O O

[Fe(CN)6]4-: Composto diamagnético com estrutura octaédrica  6 orbitais híbridos d2sp3.


CN

NC CN
2+
Fe
NC CN

CN
80

Observe na seguinte representação para a estrutura eletrônica do complexo, a


presença de 3 pares de elétrons o que está de acordo com um composto diamagnético.
Note a indicação da hibridização envolvendo dois orbitais 3d internos.

Fe(II)

3d 6 4s 4p
4
_
Fe(CN)6
d2sp3

_ _ _ _ _ _
CN CN CN CN CN CN

[Fe(H2O)6]2+: Composto paramagnético com estrutura octaédrica  6 orbitais híbridos


sp3d2.

H2O

H2O OH2
2+
Fe
H2O OH2

H2O

Observe na seguinte representação os elétrons desemparelhados no complexo de


Fe2+, o que está de acordo com um composto paramagnético, e a indicação da
hibridização envolvendo dois orbitais 4d externos.
Fe(II)

3d 6 4s 4p 4d

2+
Fe(H2O)6 sp3d 2

H2O H2O H2O H2O H2OH2O


81

Resumo
CH4 = estrutura tetraédrica  hibridização sp3 = 4 ligações  em volta do carbono
C2H6 = estrutura tetraédrica  hibridização sp3 = 4 ligações  em volta de cada carbono
C2H4 = estrutura plana  hibridização sp2 = 3 ligações  em volta de cada carbono
C2H2 = estrutura linear  hibridização sp = 2 ligações  em volta de cada carbono
BeCl2 = estrutura linear  hibridização sp = 2 ligações  em volta do berílio
BF3 = estrutura trigonal plana  hibridização sp2 = 3 ligações  em volta do boro
PCl5 = estrutura bipirâmide trigonal  hibridização sp3d = 5 ligações  em volta do
fósforo
SF6 = estrutura octaédrica  hibridização sp3d2 = 6 ligações  em volta do enxofre
XeF2 = estrutura linear  hibridização sp3d = 5 regiões , sendo 2 ligações e 3 pares
isolados
XeF4 = estrutura quadrada plana  hibridização sp3d2 = 6 regiões , sendo 4 ligações e 2
pares isolados
XeF6 = estrutura “octaédrica”  hibridização sp3d2 (6 ligações ) ou estrutura “octaédrica”
distorcida  hibridização sp3d3 (6 ligações  e 1 par isolado)?
[Zn(H2O)6]2+ = estrutura octaédrica  hibridização sp3d2 = 6 ligações  em volta do íon
Zn2+
[Co(Cl)4]2- = estrutura tetraédrica  hibridização sp3 = 4 ligações  em volta do íon Co2+
[Ni(CN)4]2- = estrutura quadrada plana  hibridização dsp2 = 4 ligações  em volta do íon
Ni2+
[Mn(CO)4(NO)] = estrutura pirâmide de base quadrada distorcida  hibridização d2p3 = 5
ligações  em volta do íon Mn-
[Fe(CN)6]4- = estrutura octaédrica  hibridização d2sp3 = 6 ligações  em volta do íon
Fe2+. A hibridização utiliza orbitais 3d internos e o complexo é pouco reativo, sendo
considerado inerte em reações de substituição dos ligantes cianeto.
[Fe(H2O)6]2+ = estrutura octaédrica  hibridização sp3d2 = 6 ligações  em volta do íon
Fe2+. A hibridização utiliza orbitais 4d externos e o complexo é reativo, sendo considerado
labil em reações de substituição dos ligantes H2O.

Exercícios de auto-avaliação
Demonstre a formação das ligações químicas nos seguintes compostos: TeCl4; ICl3;
I3-; N3-; NO2; N2O4; ClO4-; ICl5; ICl4-.
82

Modelo da Repulsão dos Pares Eletrônicos da Camada de Valência

Este modelo é utilizado para se fazer a previsão aproximada da estrutura de


moléculas ou de íons a partir da estrutura de Lewis. De acordo com o modelo os pares
eletrônicos do átomo central, envolvidos (pares ligantes) ou não (pares não ligantes, ou
também denominados pares isolados) com as ligações químicas, irão adotar uma geometria
de modo que a distância entre eles seja máxima para assim evitar repulsões e com isso a
molécula atinge um estado de menor energia. Pode-se classificar a forma geométrica de
moléculas ou de íons, dependendo do número de regiões  (somatório dos pares ligantes e
não ligantes) de densidade eletrônica podendo-se correlacionar com o tipo de hibridização
do átomo central. Restringiremos inicialmente a análise até seis regiões .

 Duas regiões   moléculas lineares

A distância máxima entre duas regiões  de densidade eletrônica requer um ângulo


de 1800, o que ocorre em moléculas lineares. As ligações podem ser simples (BeCl 2),
[Ag(NH3)2]+, dupla (CO2) ou tripla (CO, CN-). Lembre-se que em uma ligação simples,
corresponde a uma interação frontal entre orbitais e tem caráter . Em uma ligação dupla
uma delas tem caráter  e a outra  (interação entre orbitais paralelos) e em uma ligação
tripla uma delas tem caráter  e as outras duas ligações têm caráter . Deve-se notar que a
hibridização no átomo central da molécula BeCl2 é do tipo sp, com dois pares de elétrons 
entre o átomo de berílio e os átomos de cloro. Em CO 2 as ligações químicas podem ser
descritas pela interação entre dois orbitais hibridizados sp do átomo de carbono, com
orbitais p dos átomos de oxigênio e do mesmo modo existem duas ligações  entre os
átomos de carbono e oxigênio.

Cl  Be  Cl ..O.   ...
 C  O

C.  .
O .
[ C
 .
N ]
_
H3N
 Ag(I) 
HH3

Em CO e CN-, que são isoeletrônicos, existe duas regiões , no íon complexo


[Ag(NH3)2]+, também existe duas , sendo que essas ligações são consideradas
coordenadas, pois o íon metálico (considerado um ácido de Lewis) participa com orbitais
hibridizados e vazios para receberem pares de elétrons dos ligantes (considerados bases de
Lewis). Uma ligação química é considerada coordenada quando existe uma interação do
tipo ácido–base de Lewis em que o átomo ou íon central participa com orbitais hibridizados
e vazios e cada ligante participa da ligação doando um par de elétrons.

 Três regiões   moléculas trigonais planas e angulares

Com três regiões de elétrons  (ligantes + não ligantes) existem duas possibilidades
de formas moleculares com ângulos de aproximadamente 1200. No primeiro caso todos os
pares de elétrons estão envolvidos em ligações  (3 pares ligantes) e a geometria em volta
do átomo central é do tipo trigonal plana (BF3). A hibridização no átomo central é do tipo
83

sp2, pois existem três ligações  em volta do átomo de boro. Em outra situação existem
duas regiões de ligação (dois pares ligantes) e um par de elétrons não ligante (NO 2-), sendo
a molécula classificada como angular. Do mesmo modo, a hibridização seria sp2 no íon
nitrito, pois em volta do átomo de nitrogênio apresentam-se três regiões . Para o íon
complexo [Cu(SPMe3)3] a estrutura também é trigonal plana.

F
  O _
N 
 B  
F F O

CH3

H3C P
S CH3
CH3
CH3
119 0Cu(I)
P
S S CH3
CH3
P
CH3
CH3

 Quatro regiões   moléculas tetraédricas e quadrado planares, pirâmide trigonais,


e angulares.

A distância máxima entre quatro regiões  de densidade eletrônica envolve um


ângulo de aproximadamente 1090 (ângulo tetraédrico), sendo a geometria da molécula
classificada como tetraédrica, mas existem outras três possibilidades. No primeiro caso
(CH4) as quatro ligações, devido a 4 pares de elétrons , formam um arranjo tetraédrico
regular em volta do átomo central; No segundo caso há três regiões de ligação  e uma
região com um par de elétrons não ligantes (NH3), sendo a forma da molécula classificada
como pirâmide trigonal; Na terceira possibilidade há duas regiões  ligantes e duas regiões
 com dois pares de elétrons não ligantes (H2O), sendo a molécula classificada como
angular. Nas três moléculas a hibridização no átomo central seria do tipo sp 3, pois
apresentam quatro pares de elétrons . O complexo [Co(Cl)4]2-apresenta estrutura
tetraédrica (hibridização sp3), enquanto que o complexo [Ni(CN)4]2-apresenta estrutura
quadrado planar (hibridização dsp2).

. H
..N.
. .. 

. .H  .. 
......
 

H. 
O 
H. . .H
 C
. . .H
H

H H
84

Cl
NC CN
Co(II) Ni(II)
Cl
Cl NC CN
Cl

 Cinco regiões   moléculas bipirâmide trigonais, tetraédrica distorcidas, “em


forma da letra T”, lineares e pirâmide quadradas.

A distância máxima, envolvendo cinco regiões  de densidades eletrônicas requer


uma geometria denominada bipirâmide trigonal, existindo outras quatro possibilidades de
formas moleculares. No primeiro caso todas as cinco regiões , em volta do átomo central,
são ligantes (PCl5), sendo a molécula classificada como bipirâmide trigonal; Com quatro
regiões de ligação  e uma região não ligante (TeCl 4) a molécula é classificada como
tetraédrica distorcida; Surge um terceiro caso quando existem três regiões de ligação  e
duas regiões com pares não ligantes (ICl 3) sendo a forma geométrica da molécula
classificada como “forma de T”; Por último, quando existem duas regiões de ligação  e
três regiões não ligantes (I3-) a forma da molécula é do tipo linear. Conforme pode ser
observado, nas representações a seguir, existem 5 regiões  (ligantes + não ligantes) em
volta de cada átomo central, portanto a hibridização seria do tipo sp 3d. O complexo
[Ni(CN)5]3- poderia apresentar estrutura bipirâmide trigonal ou pirâmide quadrada, sendo a
geometria bipirâmide trigonal mais favorecida por efeitos estéricos.
...
..Cl
..Cl.. .. Cl
.. .  . .  .. . 
.. Te  Cl .. ..

.. ..
 _
.. .  . P.. ..Cl. .
..Cl

 Cl  I  Cl I  ..
I  I
.. . .  Cl  

.. ..
.Cl Cl Cl

CN CN
CN
CN NC
NC Ni(II) Ni(II)
CN NC CN
CN

 Seis regiões   moléculas octaedrais, pirâmide quadradas, quadrado planas,


“forma de T” e lineares.

A distância máxima envolvendo seis regiões  de densidade eletrônica, em volta do


átomo central, requer uma geometria octaédrica, existindo outras quatro possibilidades de
formas moleculares. No primeiro caso, ([Fe(H2O)6]2+), com seis regiões de ligação 
ligantes, a forma da molécula corresponde à geometria em volta do átomo central, ou seja,
octaedrica. No caso de cinco regiões de ligação  ligantes e uma região não ligante (ICl 5) a
forma da molécula é do tipo pirâmide quadrada; No caso de existirem quatro regiões de
ligação  e duas regiões não ligantes (ICl 4-), a forma da molécula será quadrado plana; Em
outra possibilidade existem três regiões de ligação  ligantes e três regiões não ligantes,
com a molécula apresentando “forma de T”; Por último, quando a molécula apresenta duas
regiões de ligação  ligante e quatro regiões não ligantes, é classificada como linear. Não
85

temos ainda exemplos de compostos para essas duas últimas possibilidades. De qualquer
modo, em todos estes casos a hibridização do átomo central seria sp 3d2, pois existem 6
regiões . Note que o somatório dos expoentes da hibridização deve corresponder ao
número de regiões . Nas seguintes representações das estruturas de moléculas ou de íons,
os círculos representam átomos ou íons.

H2O

2+
..Cl... ..  .. ..Cl..
H2O   OH2 ..  ...Cl..
..Cl ..Cl
.. ...I.  ....
..Cl
 
Fe
.. ...I..  ....
..Cl ..  .Cl ...

...
H2O OH2
H2O ..  .Cl

octaedro pirâmide quadrada quadrado plano

forma de T linear

Segue uma tabela com a forma geométrica e o arranjo de elétrons em volta do


átomo ou íon central. Note que a cor amarela é utilizada para representar os pares
isolados de elétrons em volta do átomo ou íon central.

Forma geométrica Arranjo de elétrons

Linear

Angular
86

Angular

Linear

Trigonal plana

Pirâmide trigonal

Em forma da letra T

Tetraédrica

Tetraédrica distorcida
87

Quadrada plana

Bipirâmide trigonal

Pirâmide de base quadrada

Octaédrica

Pirâmide pentagonal

Bipirâmide pentagonal
88

Outros exemplos

Utilizando a TLV-MRPECV, faça a demonstração para a hibridização do átomo ou


íon central e forma geométrica nos seguintes compostos:

[ClO4]- ... Perclorato 4 orbitais


híbridos sp3
17 2 5
Cl:[Ne] 3 s 3 p

8 4
O:[He] 2 s2 2 p O _
ou 
 Cl  O sp3: 4  ligantes
O

8 - 5 O
O :[He] 2 s2 2 p
Estrutura tetraédrica

[ClO3]- ... Clorato 4 orbitais


híbridos sp3
17 2 5
Cl:[Ne] 3 s 3 p

8 4 _
O:[He] 2s2 2 p O

ou  Cl  O sp3
3  ligantes
O 1não ligante

8 - 5
O :[He] 2 s2 2 p
Estrutura pirâmide trigonal

[ClO2]- ... Clorito 4 orbitais


híbridos sp3
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3 p

8 4
O:[He] 2s2 2 p O _
ou 
 Cl  O sp3
2 ligantes
2
 não ligantes

8 - 5
O :[He] 2 s2 2 p
Estrutura angular
89

4 orbitais
[ClO]- ... Hipoclorito
híbridos sp3
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3 p
_

4  Cl  O 1 ligante
8
O:[He] 2s2 2 p sp3
3 não ligantes

8 - 5
O :[He] 2s2 2 p
Estrutura linear

SO ... Monóxido de enxofre 3 orbitais


híbridos sp2
2 4
16
S:[Ne] 3 s 3 p   1 ligante
S  O sp2 2não ligantes
  
8 4
O:[He] 2 s2 2 p Estrutura linear
SO2 ... Dióxido de enxofre

8 4
O:[He] 2s2 2 p
3 orbitais
 híbridos sp2

16 2 4
S:[Ne] 3 s 3 p  sp2 1 não ligante
S  O 2 ligantes
  
O
8 4
O:[He] 2 s2 2 p
Estrutura angular
SO3 ... Trióxido de enxofre

8 4
O:[He] 2s2 2 p

8 4
O:[He] 2s2 2 p

3 orbitais
 híbridos sp2 O 
16 2 4
S:[Ne] 3 s 3 p  sp2 : 3  ligantes
S  O
  
O
8 4
O:[He] 2s2 2 p Estrutura trigonal plana
90

[SO3]2- ... Sulfito


8 4
O:[He] 2s2 2 p
4 orbitais

híbridos sp3
16 2 4
S:[Ne] 3s 3 p _
2
O
_  
5 3 ligantes
8
 O
O  S
O:[He] 2s22 p sp3
 1 não ligante

_ 5
8
O:[He] 2s22 p
Estrutura pirâmide trigonal
2-
[SO4] ... Sulfato

8 4
O:[He] 2 s2 2 p

8
O:[He] 2s2 2 p
4 
4 orbitais

híbridos sp3
16 2 4
S:[Ne] 3s 3 p _
2
O
_  
 S  O
8 5
O:[He] 2s22 p O sp3: 4 ligantes
 
_ 5 O
8
O:[He] 2s22 p
Estrutura tetraédrica
ClF5

17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3 p

6 orbitais híbridos sp3d2


Excitação F
F  F 5ligantes
 Cl  sp3d2 1 não ligante
F F F F F 
F  F
2 5
9
F:[He] 2 s 2 p Estrutura pirâmide quadrada
ICl3

53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

5 orbitais híbridos sp3d


 3ligantes
Excitação   Cl sp3d
Cl I 2  não ligantes

Cl Cl Cl Cl
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3p
Estrutura na forma de T
91

[ICl4]-

53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

6 orbitais híbridos sp3d2


Excitação

Cl Cl Cl Cl-
_
2 5
Cl  
17
Cl:[Ne] 3s 3p Cl
4 ligantes
 I  sp3d2 2  não ligantes
Cl  Cl
17 2 6
Cl-:[Ne] 3s 3p
Estrutura quadrada plana
ICl5
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

6 orbitais híbridos sp3d2


Excitação Cl

Cl  
Cl
5ligantes
sp3d2
 I  1 não ligante
Cl Cl Cl Cl Cl Cl  Cl
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3p
Estrutura pirâmide quadrada
-
[ICl6]

53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

7 orbitais híbridos sp3d3


Excitação

_
Cl Cl Cl Cl Cl Cl- Cl
Cl   Cl
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3p  sp3d3
6 ligantes
 I Cl 1não ligante
Cl  Cl

17 2 6
Cl-:[Ne] 3s 3p Estrutura pirâmide pentagonal
ICl7
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

7 orbitais híbridos sp3d3


Excitação Cl
Cl   Cl
 3 3
 I Cl sp d : 7ligantes
Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl   Cl
17 2 5 Cl
Cl:[Ne] 3s 3p
Estrutura bipirâmide pentagonal
92

ClF3

17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3p

5 orbitais híbridos sp3d


Excitação  
 Cl  F sp3d 3ligantes
F 2  não ligantes
F F F 
9 5 F
F:[He] 2 s22 p
Estrutura na forma de T

[IF4]+

53 + 4
I :[Kr]: 4 d105s2 5 p

5 orbitais híbridos sp3d


+
Excitação 
I  4 ligantes
 sp3d
1 não ligante
F F F F  F
F
2 5 F F
9
F:[He] 2 s 2 p
Estrutura tetraédrica distorcida

[ICl2]-
5 orbitais híbridos sp3d
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

Cl Cl-
5
17
Cl:[Ne] 3s23p  _ 2 ligantes
[Cl  I  Cl ] sp d
3
3 não ligantes

17
Cl-:[Ne] 3s23 p6
Estrutura linear
[IOF5]2-
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

7 orbitais híbridos sp3d3


Excitação

- -
O F F F F F
2 5
9
F:[He] 2 s 2 p _
O 2
F F 6 ligantes
9 -
F :[He] 2s2 2 p6 F I sp3d3
1 não ligante
F F
8
O:[He] 2 s22 p4 Estrutura pirâmide pentagonal
93

[IO2F2]-
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

5 orbitais híbridos sp3d

-
O O F F
2 5
9
F:[He] 2 s 2 p
_
I 4 ligantes
9 -
F :[He] 2s2 2 p6 O sp3d
O 1 não ligante
F F
8
O:[He] 2 s22 p4 Estrutura tetraédrica distorcida
AsF5
2 3
33
As:[Ar] 3d104s 4 p

5 orbitais híbridos sp3d F


Excitação F
F AS sp3d : 5ligantes
F F F F F F
2 5 F
9
F:[He] 2s 2 p
Estrutura bipirâmide trigonal
IF7
53 5
I:[Kr]4 d10 5s25p

7 orbitais híbridos sp3d3 F


Excitação F
F
I F sp3d3 : 7ligantes
F F
F F F F F F F
2 5 F
9
F:[He] 2s 2 p
Estrutura bipirâmide pentagonal
[SiF6]2-
2 2
14
Si:[Ne] 3s 3p
6 orbitais híbridos sp3d2
Excitação
_
F 2
F F F F F- F- F
F
2 5
9
F:[He] 2s 2 p Si sp3d2 : 6 ligantes
F
F
9 - 6 F
F :[He] 2 s2 2 p
Estrutura octaédrica
94

[BrF4]+

35
Br+:[He] 3 d104 s2 4 p4

5 orbitais híbridos sp3d


Excitação
Br +
4 ligantes
F F F F F sp3d 1 não ligante
F
2 5 F F
9
F:[He] 2s 2 p
Estrutura tetraédrica distorcida
[XeF7]- : Estrutura de antiprisma quadrado distorcido ou de bipirâmide pentagonal?

54 2 6
Xe:[Kr] 4d10 5s 5 p

8 orbitais híbridos sp3d4


Excitação

F F F F F F F- F F _
F F
9 2 5
F:[He] 2 s 2 p Xe 7 ligantes
sp3d4 1 não ligante
F F
9 - 2 6 F
F :[He] 2s 2 p
Estrutura antiprisma quadrado distorcido

Ou
6
54
Xe:[Kr] 4 d10 5s25 p

7 orbitais híbridos sp3d3


F _
Excitação
F F
F F F- 6 s2 Xe F sp3d3: 7ligantes
F F F F
9 2 5
F:[He] 2s 2 p F F
F
9 - 2 6 Estrutura bipirâmide pentagonal
F :[He] 2s 2 p
( Despreza-se o par de elétrons em maior energia )
95

[XeF8]2- : Estrutura de antiprisma quadrado distorcido ou de antiprisma qaudrado?

54 2 6
Xe:[Kr] 4d10 5s 5 p

9 orbitais híbridos sp3d5


Excitação

F F -
F F F F F F F- F- F F 2
2 5 8ligantes
9
F:[He] 2s 2 p Xe F sp3d5 1 não ligante
F F
2 6
F
9 -
F :[He] 2s 2 p
Estrutura antiprisma quadrado distorcido

ou

54 2 6
Xe:[Kr] 4d10 5s 5 p
8 orbitais híbridos sp3d4
Excitação F -
F F 2
6 s2 F
F F F F F F F- F- F Xe sp3d4 : 8ligantes
9 2 5
F:[He] 2s 2 p F
F
F
9 - 2 6 Estrutura antiprisma quadrado
F :[He] 2s 2 p
(despreza-se o par de elétrons em maior energia)

[CH3]-
6 - 3
C :[He] 2 s22 p
_
4 orbitais 3
híbridos sp
C 3 ligantes
Excitação sp3
H 1 não ligante
H
1
H: 1s1 H
H H H
Estrutura pirâmide triginal
XeO2F2
54 2 6
Xe:[Kr] 4d10 5s 5 p

5 orbitais híbridos sp3d


Excitação

O O F F 4 ligantes
2 5 Xe sp3d 1 não ligante
9
F:[He] 2s 2 p
O O
4
F F
8
O:[He] 2 s22 p
Estrutura tetraédrica distorcida
96

XeOF4
54 2 6
Xe:[Kr] 4 d10 5s 5 p

6 orbitais híbridos sp3d2


Excitação
F F
sp3d2 1ligantes
O F F F 5
F Xe
9 2 5  não ligante
F:[He] 2 s 2 p F F
O
2 4
8
O:[He] 2 s 2 p
Estrutura pirâmide quadrada

BiF3 4 orbitais híbridos sp3


83 3 3  ligantes
Bi:[Xe] 4 f145 d106s26 p Bi sp3 1 não ligante
F F
F F F
9 2 5 F
F:[He] 2s 2 p
Estrutura pirâmide trigonal

BiF5 F
9 2 5 F
F:[He] 2s 2 p
F Bi
5 orbitais híbridos sp3d F
83 3 F
Bi:[Xe] 4 f145 d106s26 p

F F F F F sp3d : 5 ligantes Estrutura bipirâmide trigonal

N2O3 = trióxido de dinitrogênio (anidrido nitroso)


O O
  O
 
7 3
N:[He] 2s22 p N N
 
2 4 3 regiões em volta de cada átomo de nitrogênio : Híbridos sp2
8
O:[He] 2 s 2 p
Composto angular
N2O5 = pentóxido de dinitrogênio (anidrido nítrico)
O O
7
N:[He] 2s22 p3   O  
N N
2 4  
8
O:[He] 2 s 2 p
O O
2 4 3 ligações em volta de cada átomo de nitrogênio : Híbridos sp2
8
O:[He] 2 s 2 p
Dois centros trigonais planos Composto planar
97

TeCl4
5
17
Cl:[Ne] 3s23p
Te
4
52
Te:[Kr] 4 d105s25 p Cl Cl
3 Cl Cl
5 orbitais híbridos sp d
4  ligantes
Excitação sp3d 1 não ligante
Cl Cl Cl Estrutura tetraédrica distorcida

[TeCl5]-
17 2 5
Cl:[Ne] 3s 3p
17
Cl-:[Ne] 3s23 p6 Cl _
Cl Cl
52 105 25 p4 Te
Te:[Kr] 4 d s Cl Cl
3 2
6 orbitais híbridos sp d 5  ligantes
sp3d2 1 não ligante
Excitação
Estrutura pirâmide quadrada
Cl -
Cl Cl Cl
SF4
16
S:[Ne] 3s23p4

5 orbitais híbridos sp3d


S
Excitação
F F
F F
F F F F
4  ligantes
9 2 5
F:[He] 2s 2 p sp3d 1 não ligante Estrutura tetraédrica distorcida

SOF4
16
S:[Ne] 3s23p4 F
F
5 orbitais híbridos sp3d F S
F
Excitação
O
F O F F F sp 3
d : 5 ligantes Estrutura bipirâmide trigonal
9 2 5
F:[He] 2s 2 p

8 4
O:[He] 2s22 p
98

BF3
5 2 1
B:[He] 2s 2 p
3 orbitais híbridos sp2
F
Excitação
B 3 ligações 
F F F F F
9 2 5
F:[He] 2 s 2 p
Estrutura trigonal plana
[BF4]-
5 2 1
B:[He] 2s 2 p
4 orbitais híbridos sp3
Excitação
F _
F F F F-
2 5
B
9
F:[He] 2s 2 p F F
F
9 - 2 6
F :[He] 2s 2 p
4 ligações  Estrutura tetraédrica

Descreva as variações nas hibridizações do átomo central e nas formas moleculares de reagentes
e produtos nas seguintes reações químicas:

a) BF3 + F- [BF4]-

b) BF3 + NH3 BF3NH3

c) PCl5 + Cl- [PCl6]-

d) ICl3 + Cl- [ICl4]-

e) SF2 + F2 SF4

f) C 2H 2 + H2 C2H4

g) H+ + H2O H3O+

h) SO3 + H 2O H2SO4

i) CO2 + H 2O H2CO3
j) NH3 + H+ [NH4]+
99

Teoria do orbital molecular


Inicialmente vamos fazer uma comparação simples, entre ondas de luz (radiação
eletromagnética) e ondas de elétrons, para explicar como duas ondas podem interagir. A
partir dessas idéias demonstraremos o diagrama de orbitais moleculares para uma molécula
simples (H2). Relembre a animação sobre a radiação eletromagnética em
http://mutuslab.cs.uwindsor.ca/schurko/animations/emwave/emwave.htm. Click em start
para iniciar a animação.

A descrição ondulatória para luz explica o efeito que essa provoca no meio. Esse
efeito pode variar em intensidade (relacionada à amplitude da onda) o que resulta na
variação no brilho da luz e na energia (que está relacionada ao comprimento de onda).
Ondas de luz podem interagir em fase, o que faz aumentar a intensidade da luz (mais
brilho) ou fora de fase, o que faz diminuir a intensidade da luz (menos brilho).

Ondas de elétrons também podem interagir em fase ou fora de fase. No primeiro


caso leva a um aumento na intensidade da carga negativa e no segundo caso, provoca uma
diminuição na intensidade da carga negativa.

Uma aproximação muito utilizada que permite a construção de orbitais moleculares


e que tem origem na Química Quântica é a combinação linear de orbitais atômicos para
gerar orbitais moleculares, a partir dos seguintes pressupostos:

▪ Orbitais moleculares são formados a partir de orbitais atômicos (não hibridizados ou


hibridizados), de mesma simetria e energias;
▪ Quando dois orbitais atômicos se combinam formam dois orbitais moleculares, sendo um
denominado ligante (de menor energia e que contribui para ligação química) e outro
antiligante (de maior energia e que contribui para desestabilizar a molécula).

O modelo do orbital molecular assume que dois orbitais atômicos 1s podem


interagir em duas situações extremas para gerar os orbitais moleculares: a) Os orbitais
interagem em fase, o que leva a um aumento na intensidade da carga negativa entre os dois
núcleos e conseqüentemente um aumento na atração elétron-núcleo para os átomos ligados.
Quanto maior for a atração menor será a energia potencial, pois os elétrons no orbital
molecular se encontram em menor energia que separados em seus orbitais atômicos. Como
os elétrons combinam os átomos na molécula, esse orbital molecular é denominado ligante.
Esse orbital molecular é simétrico (denominado sigma = ) em relação ao eixo da ligação.

Assim, utilizamos o símbolo 1s para descrever o orbital molecular ligante, de


menor energia, formado a partir de dois orbitais atômicos 1s.

b) A outra maneira para a interação de dois orbitais atômicos, de mesma simetria e energias
é fora de fase, o que resulta na diminuição da intensidade da carga negativa entre os dois
núcleos atômicos. Essa diminuição de carga negativa provoca uma menor atração, negativo
(orbital)-positivo (núcleos), o que reduz a ligação na molécula. Essa menor atração provoca
um aumento na energia potencial o que desestabiliza a ligação química e por isso esse tipo
100

de orbital molecular é denominado antiligante. Esse orbital molecular é antissimétrico (*)


em relação ao eixo de ligação. Assim, utilizamos o símbolo *1s para descrever o orbital
molecular antiligante, de maior energia, formado a partir de dois orbitais atômicos 1s.

O seguinte diagrama representa a formação do orbital molecular ligante e


antiligante, para a molécula de hidrogênio, formados a partir das interações de orbitais
atômicos 1s, em fase (1s) e 1s fora de fase (*1s), respectivamente.

*1s Orbital molecular


Interação anti ligante
fora de fase

Orbial atômico 1s1 1s1 Orbital tômico


H H

(1s) 2
Orbital molecular
Interação ligante
em fase
H2

Resumindo, a teoria admite a combinação linear entre os orbitais atômicos de


mesma simetria para formar os orbitais moleculares. Esses orbitais moleculares são
classificados como ligantes (orbitais moleculares de menor energia em relação aos orbitais
atômicos), antiligantes (de maior energia em relação aos orbitais atômicos) ou, em muitos
casos, orbitais moleculares não ligantes (energias idênticas aos orbitais atômicos). Nesses
casos, não existe a possibilidade de interação entre os orbitais atômicos, por uma questão de
simetrias orbitais e assim orbitais não ligantes não contribuem para a ligação química.
Portanto, de acordo com a teoria do orbital molecular, a análise do problema sobre as
ligações químicas em uma molécula tem início com a determinação das simetrias dos
orbitais atômicos.

A média entre o número de elétrons que ocupam os orbitais moleculares ligantes e


antiligantes é definida como a ordem de ligação na molécula e serve de indicação sobre o
número de ligações químicas entre os átomos na molécula e conseqüentemente sugere a
estabilidade relativa da molécula.

Considerando O2, o modelo de Lewis prever molécula diamagnética (sofre leve


repulsão por um campo magnético externo), quando de fato se trata de molécula
paramagnética (sofre atração por um campo magnético externo), mas acerta quando indica
uma ligação dupla em O2. Por outro lado, o diagrama de energia para o orbital molecular
em O2 indica se tratar de um composto paramagnético (com dois elétrons desemparelhados
em orbitais antiligantes) e ordem de ligação = 2 (ligação dupla), de acordo com a
representação a seguir.
101

O2

e
n *
e
r
g
* *
i 6 _
a 2
ordem de ligação = 2 =2
4 4
2p 2p
( 2 ligações entre
átomo de   átomo de os átomos)
oxigênio oxigênio

molécula de
oxigênio

Observe dois elétrons desemparelhados na molécula (em orbitais *), o que


explica o seu paramagnetismo. Este foi o primeiro sucesso da teoria do orbital
molecular. Note que apenas o subnivel 2p4, em cada átomo de oxigênio, foi utilizado
para efetivar a ligação química na molécula de oxigênio, pois orbitais completos com
elétrons (1s2 e 2s2 em cada átomo de oxigênio) não contribuem para a ligação química.
A interação entre os orbitais do subnível p (px, py e pz), entre os átomos de oxigênio
resulta na formação de três orbitais moleculares ligantes (um orbital  e dois orbitais
) e os correspondentes orbitais moleculares antiligantes (um orbital * e dois orbitais
*). A ligação  sendo mais efetiva (estabiliza mais a molécula) que a ligação , fica
posicionada em menor energia, mas * fica posicionada em maior energia em relação
aos orbitais *. O mesmo padrão é utilizado para a molécula N2.

N2

energia

p3 p3
nitrogênio nitrogênio

N2
ordem de ligação = 6 _ 0 ( 3 ligações entre os átomos )
= 3
2

Conforme a teoria do orbital molecular a molécula é diamagnética (todos os


elétrons se encontram emparelhados em seus orbitais moleculares), o que está de
acordo com os resultados experimentais. Uma ordem de ligação 3 (ligação tripla entre
os átomos) corresponde à fórmula de Lewis para N2, que também representa a
molécula como diamagnética.
102

Existe He2?

energia

He He
He2
2
_ 2
ordem de ligação = = 0 ( não existe ligação entre os átomos )
2

Na tentativa de se fazer a previsão da molécula He 2 chega-se a conclusão que


essa molécula não seria estável, pois teria ordem de ligação = zero, o que torna o hélio
e também os outros gases nobres, monoatômico. Assim como a teoria do orbital
molecular prever a inexistência de He2, o modelo de Lewis, embora utilize argumentos
centrados na regra do octeto, também acerta quanto à ausência de ligação química
entre os átomos de hélio.

CO e CN-

O modelo de Lewis não se aplica a estes dois compostos, ou levaria a previsões


contrárias aos dados experimentais sobre as ligações e as propriedades de CO e CN-. No
caso de moléculas ou de íons heteronucleares, devemos evitar o modelo de Lewis e
considerar a hibridização dos orbitais atômicos. As espécies CO e CN-, apresentam
hibridização do tipo sp no átomo de carbono, pois a ligação é tripla. O caráter de ligação
tripla em CO e CN- pode ser evidenciado experimentalmente pela análise do estiramento
das ligações CO e CN, através da espectroscopia de infravermelho. O diagrama
aproximado para o orbital molecular de CO e CN -, se encontra a seguir. Note que essas
espécies são isoeletrônicas e apresentam 10 elétrons disponíveis para as ligações químicas.

p*
*
s*
2p
2p
sp
2s
2p
p
C p
2s
_
s O ou N
_
CO ou CN
103

A assimetria no diagrama está relacionada com a polarização dessas espécies,


devido ao fato da eletronegatividade do oxigênio e nitrogênio serem maiores que a
eletronegatividade do átomo de carbono. Confirme, através do cálculo médio, que a
ordem de ligação em CO e em CN- é igual a três, o que confirma a ligação tripla.

NH3
*
2p
1s
sp 3

2s 
N NH3 3H

O ângulo, determinado experimentalmente, entre as ligações H-N-H, na


molécula de amônia, é de 1070,67’ podendo ser correlacionado com hibridização sp3 no
átomo central de nitrogênio. A ordem de ligação em NH3 é igual a três, indicando três
ligações na molécula. Note que existe um par de elétrons em orbital molecular não
ligante e assim não afeta a ordem de ligação na molécula. Embora o modelo de Lewis
possa ser utilizado para descrever as ligações químicas em NH 3, não seria adequado,
pois de acordo com esse modelo as ligações seriam realizadas através dos três orbitais
p do átomo de nitrogênio com o orbital s, de cada átomo de hidrogênio, e assim os
ângulos seriam de 900. Na verdade o modelo de Lewis, mesmo quando representa
corretamente a estrutura eletrônica de uma molécula, não serve para se fazer a
previsão da estrutura geométrica.

H2O
*
2p
1s
sp 3

2s 
O H2O 2H

Na molécula de água o ângulo experimental entre H-O-H é cerca de 1040,5’


podendo também ser correlacionado com uma hibridização aproximada em sp3 no
átomo central de oxigênio. Confira que a ordem de ligação em H2O é igual a dois,
indicando duas ligações na molécula. Dois pares de elétrons em orbitais moleculares
não ligantes não afetam a ordem de ligação na molécula.
104

CH4
*
2p
1s
sp 3

2s 
C CH4 4H

O modelo de Lewis não se aplica aos compostos de carbono, pois este átomo
sendo bivalente no estado fundamental (6C = 1s22s22p2), não poderia se ligar aos 4
átomos de hidrogênio para formar o metano. No estado excitado ( 6C = 1s22s12p3) o
átomo de carbono seria tetravalente, mas as ligações não seriam equivalentes. No
metano, uma molécula com estrutura tetraédrica, o átomo de carbono está
hibridizado em sp3, pois o ângulo experimental entre as ligações H-C-H = 1090,28’.
Confira que a ordem de ligação em CH4 é igual a quatro, indicando quatro ligações na
molécula.

Além de medidas magnéticas, o espectro eletrônico de uma molécula seria outro


parâmetro experimental para o teste de modelos teóricos como a teoria do orbital
molecular, pois os diagramas de energia indicam possibilidades de transições eletrônicas.

Exercícios de auto-avaliação

1. Considere o diagrama de orbital molecular para O 2. i) Calcule a ordem de ligação


para as espécies O2+ e O2-; ii) Faça a previsão sobre a reatividade de O2+ e O2- em
relação a O2.

2. De acordo com Lewis a molécula de amônia é básica, pois dispõe de um par de


elétrons localizado no átomo de nitrogênio, enquanto que o próton é considerado
um ácido, pois apresenta o orbital 1s vazio. A ligação entre NH3, que doa o par de
elétrons e H+, que recebe esse par de elétrons, é denominada dativa e tem caráter .
Pode-se, portanto, esperar uma reação base-ácido entre a molécula de amônia e um
próton para formar o cátion amônio. i) Localize no diagrama de orbital molecular de
NH3 o par de elétrons que seria doado pela molécula de amônia em reação com um
próton; ii) Construa o diagrama de orbital molecular para [NH4]+, por semelhança
com o diagrama de NH3 e calcule a ordem de ligação para esse cátion.

3. Utilizando os argumentos apresentados no exercício anterior a molécula de água,


que dispõe de pares de elétrons em orbital molecular não ligante, se liga a um
próton e sendo assim trata-se de uma reação entre uma base e um ácido. i) Construa
o diagrama de orbital molecular para [H3O]+, por semelhança com o diagrama de
H2O e calcule a ordem de ligação para esse cátion; ii) Você acha que seria possível
a molécula de água doar dois pares de elétrons para reagir com dois prótons e assim
formar a espécie [H4O]2+? Justifique a sua resposta.
105

Reações químicas
106

As reações químicas podem ser classificadas em dois grandes blocos: (i) as reações
entre ácidos e bases e (ii) as reações que envolvem a transferência de elétrons, denominadas
reações de redução-oxidação ou simplesmente redox.

Considerando que a maioria do trabalho experimental em Química é realizado em


solução, inicialmente serão definidas as unidades de concentração de soluções que
normalmente são utilizadas em Química. Serão apresentadas teorias sobre ácidos e bases, e
em seguida serão estudadas as reações de transferência de elétrons.

 Unidades de Concentração de Soluções

Soluções, ou misturas homogêneas, são classificadas, em função do estado físico em


sólidas, líquidas ou gasosas. Para uma mistura binária, a substância presente em maior
quantidade é denominada solvente e aquela em menor quantidade é considerada soluto.
Quando uma solução apresenta a capacidade de conduzir a eletricidade é classificada como
eletrolítica ou iônica e quando a solução não conduz eletricidade é denominada não
eletrolítica ou molecular. Como exemplo do primeiro caso, considere a dissolução de
cloreto de sódio em água, em que os íons Na+(aq) e Cl-(aq) são os responsáveis pela condução
de eletricidade. Por outro lado, quando dissolvemos açúcar de cana (sacarose = C12H22O11)
em água a solução não é capaz de conduzir eletricidade, pois as moléculas dissolvidas não
apresentam cargas.

A razão entre a massa do soluto, que é a espécie ativa em solução, ou seja, é o


reagente em uma reação química e o volume da solução, corresponde a concentração da
solução, mas existem várias unidades de concentração de soluções, destacando-se
Concentração simples (c), Molaridade (M), Densidade (d) e Título (T).

 Concentração Simples

Concentração (c) é definida como a razão entre a massa do soluto, expressa em


grama e o volume da solução, expresso em litro. Note que litro é simbolizado pela letra
maiúscula L.

c = msoluto (g) / Vsolução (L) (1)

Exemplos:

1 litro de solução contendo 58,4g de um soluto dissolvido apresenta concentração


de 58,4g/L. A mesma quantidade de soluto em 2 litros de solução teria concentração de
29,2g/L. Portanto, esta unidade de concentração não distingue a composição química do
soluto.

 Molaridade

Molaridade (M) é definida como a razão entre o número de moles do soluto (n) por
volume de solução (expresso em dm3 ou em litro).
107

M = nsoluto / Vsolução (L) (2)

Exemplos:

58,4g de cloreto de sódio (1 mol de NaCl) dissolvido em água para se obter 1 litro
de solução, apresenta molaridade 1 ou solução 1 molar de NaCl. Se a massa de NaCl fosse
igual a 29,2g para o mesmo volume de solução a molaridade dessa solução seria igual a 0,5
mol/L. A notação para a concentração de uma solução em unidade molar é mol/L, mas
neste texto utilizaremos indistintintamente mol/L ou simplesmente M.

O número de moles do soluto (n) pode ser obtido por uma regra de três:

58,4g de NaCl .......... 1 mol de NaCl  n = 29,2 / 58,4


29,2g de NaCl .......... n mol de NaCl ou n = 0,5 moles

Portanto, o número de moles do soluto é calculado a partir da seguinte formula:

n = msoluto / mmolar (3)

Onde,

mmolar significa a massa molar do soluto.

Substituindo a expressão (3) na definição de molaridade (2), tem-se:

M = [msoluto / mmolar ] / Vsolução M = msoluto / mmolar x Vsolução (L) (4)

Quando se utiliza molaridade é necessário se conhecer a composição química do


soluto, pois n e mmolar se encontram nas expressões para M.

Comparando a expressão (4) com a expressão (1), podemos relacionar essas duas
unidades de concentração de soluções:

M = msoluto / mmolar x Vsolução (L)  M = c / mmolar (5)

ou c = msoluto (g) / Vsolução (L)

 Densidade

Densidade (d) é definida como a razão entre a massa da solução, expressa em


grama e o volume da solução expresso em mL (1 mililitro = 0,001litro). Note que mililitro
é simbolizado por mL.
108

d = msolução (g) / Vsolução (mL) (6)

Exemplo:

10g de uma solução que ocupa o volume de 10 mL apresenta densidade igual a


1,0g/mL. Portanto, esta unidade de concentração não distingue a composição química do
soluto.

 Tìtulo

Define-se título como a razão entre a massa do soluto e a massa da solução,


expressas em grama, portanto título como unidade de concentração de solução é um
adimensional e varia de zero a um, ou em percentagem varia de 0 a 100%. A massa da
solução igual à soma da massa do soluto com a massa do solvente.

Algumas soluções aquosas como de ácido clorídrico (HCl (aq)), de ácido sulfúrico
(H2SO4 (aq)), etc., estão disponíveis na forma concentrada e apresentam título por cento
(T% - indicando que em 100g da solução existem x gramas do soluto dissolvido ) como
unidade de concentração.

Exemplos:

HCl 36,5 %  Em 100g de solução existem 36,5g do soluto HCl


H2SO4 95,0 %  Em 100g de solução existem 95,0g do soluto H2SO4

Título pode ser relacionado com concentração simples, densidade e molaridade,


através da seguinte formula:

c = T% x d x 1000

ou

c = T x d x 10 (7)

Sendo,

M = c / mmolar  M = (T x d x 10) / mmolar (8)

Exemplo:

Uma solução concentrada de ácido clorídrico que apresente as seguintes


informações no rótulo do frasco,
109

36,5 % ......... (T%)


1,18g / mL ... (d)  c = 36,5 x 1,18 x 10
36,5g / mol ....(mmolar) c = 430,7 g / L
 M = 430,7 / 36,5  M = 11,8

Portanto, essa solução concentrada de HCl 36,5 % apresenta molaridade = 11,8.

 Diluição de Soluções

Muitas vezes é necessária a preparação de uma solução de menor concentração a


partir de outra solução mais concentrada, devendo-se adicionar solvente o que resulta na
diluição da solução.

Sendo,

M = nsoluto / Vsolução (L) n=MxV (9)

Considerando que a adição do solvente não altera n (número de moles do soluto na


solução), portanto antes da diluição (i) e depois da diluição (f), tem-se a expressão (10).

MiVi = MfVf (10)

Exemplo:

Qual seria o volume de solução concentrada de HCl ( 36,5 % ; 1,18g / mL; 36,5g /
mol) necessário na preparação de 100 mL de uma solução aquosa 1 molar deste ácido ?

Essa solução tem molaridade igual a 11,8 mol/L como já foi demonstrado.
Utilizando a expressão (10), calcula-se o volume do concentrado (Vi), necessário para a
diluição.

Vi = ( Mf x Vf ) / Mi  Vi = (1 x 0,1) / 11,8
Vi = 0, 00847 L
Vi = 8,47 mL

 Definições de Ácidos e Bases

De acordo com o cientista sueco Svant August Arrhenius (1887), ácidos e bases são
compostos que em solução aquosa sofrem ionização com liberação de íons H+(aq) (próton
hidratado) e íons OH- (aq) (ânion hidróxido hidratado) respectivamente. Arrhenius ganhou o
Prêmio Nobel de Química em 1903, pela sua participação no desenvolvimento da Química
através da teoria da dissociação eletrolítica.
110

Exemplos de ácidos: HCl(aq) e CH3COOH(aq)

_
(forte) HCl + H2O H +(aq) + Cl(aq)
_
(fraco) CH3COOH + H2O H +(aq) + CH3COO(aq)

Exemplos de bases: NaOH(aq) e NH4OH(aq)

+
_
(forte)NaOH + H2O Na (aq) + OH (aq)
_
(fraca) NH4OH + H2O NH4+(aq) + OH (aq)

As representações com seta nas equações químicas se referem ao grau de ionização


() de ácidos e bases em solução, em que  = [H+] / [solução]. A seta em sentido único
simboliza uma ionização completa e em duplo sentido simboliza uma ionização parcial, o
que indica equilíbrio químico na reação. Sendo a ligação química muito polar em HCl e em
NaOH, o solvente água provoca uma ionização de praticamente 100 % (  1) nesses
solutos. HCl é considerado um ácido forte e NaOH uma base forte em solução aquosa pois
apresentam   1. Por outro lado CH3COOH(aq) (ácido acético) e NH4OH(aq) (hidróxido de
amônio), apresentam grau de ionização muito pequeno (  0,004) sendo considerados
ácido fraco e base fraca respectivamente, atingindo-se um equilíbrio químico de
concentrações iônicas em solução. Os valores para  são obtidos experimentalmente.

Considera-se que em solução aquosa de ácidos e de bases fortes a concentração de


íons H+(aq) e de íons OH- (aq) respectivamente, sejam aproximadamente iguais à
concentração da solução, pois  é  1. Para ácidos e bases fracos a concentração de íons
H+(aq) e de íons OH- (aq) é bem menor que a concentração da solução, pois  é pequeno,
devendo-se calcular essas concentrações. A metodologia para esses cálculos será
apresentada ainda neste capítulo.

Outros compostos, por exemplo, NH3 (amônia) e C5H5N (piridina) apresentam


propriedades básicas em solução, mas não poderiam ser classificadas como base de acordo
com a definição de Arrhenius, pois não dispõem do grupo OH- em suas composições. De
acordo com J. N. Brönsted e T. M. Lowry, em trabalhos independentes em 1923, base é uma
substância que aceita íons H+ de um ácido. Àcido, na definição de Brönsted e Lowry é a
substância que doa íons H+ a uma base. Esta definição é mais geral que a definição de
Arrhenius e não restringe o solvente da solução a apenas água. Entretanto, no meio aquoso
essa definição não difere da definição de Arrhenius, para ácido e base, pois as seguintes
formulações são equivalentes. Observe e compare as seguintes ionizações envolvendo o
solvente água e note que H+ é equivalente a H3O+.
111

_
Arrhenius H2O H+ + OH
solvente ácido base
_
Bronsted _ Lowry 2 H2O H3O + + OH
solvente ácido base

A utilidade da definição de Brönsted - Lowry, para ácido e base, se refere às


reações químicas em solventes próticos não aquosos, como amônia (que é uma base)
líquida ou H2 SO4.

_
NH4+ + NH2 2 NH3
ácido base produto da
neutralização
+
_
2 H SO
[H3SO4] + [HSO4] 2 4
ácido base produto da
neutralização

Outras transferências de prótons que não poderiam ser classificadas como reações
de neutralização, mas que são reações entre ácidos e bases, podem ser tratadas segundo
Brönsted e Lowry. As espécies químicas que diferem com relação à extensão da
transferência de prótons, se encontram conjugadas, conforme os exemplos á seguir. Quanto
maior a tendência do ácido em liberar prótons, indica que a sua base conjugada é fraca, ou
seja, na reação inversa a base seria pouco reativa. Por outro lado, quanto mais reativa for a
base conjugada, mais fraco será o ácido, ou seja, esse ácido estaria pouco ionizado. Com
relação a uma base, quanto mais reativo for o ácido conjugado, mais fraca será a base, ou
seja, essa base estaria pouca ionizada. Compare as representações apresentadas a seguir.

par conjugado
_ _
NH4 + + S 2
NH3 + HS
ácido base base ácido
par conjugado

O O
CH3CH2C +
+ H CH3CH2C
_
O O H
acetato próton ácido acético
(base conjugada reativa) (pouco ionizado)

Outra definição, ainda mais geral, foi concebida por Lewis em 1916. Segundo o
autor base é a espécie química capaz de ceder um par de elétrons, através de ligação dativa
a um ácido e ácido é a espécie química que possui orbital vazio que aceita o par de
elétrons da base. Considere os seguintes exemplos:
112

Pelas definições apresentadas para ácidos e bases o cátion H+ representa um ácido e


o ânion OH- representa uma base e ao reagirem formam H2O. A água dissolve ácidos, se
comportando como uma base, mas também dissolve bases se comportando como um ácido,
é considerada um composto anfótero. Note que o composto BF3 é um ácido, pois aceita um
par de elétrons da amônia (NH3), conforme a representação a seguir para esta reação ácido-
base.

ácido de lewis + base de lewis aducto

F H
F
B N F B N H
F +
H H
F H F
estrutura trigonal plana H
estrutura pirâmide trigonal

 Produto Iônico da Água e pH

De acordo com Arrhenius (1887),

+ _
H2O H(aq) + OH (aq)
(anfótero) (ácido) (base)

De acordo com Brönsted e Lowry (1923),

_
+
H2O + H2O H3O(aq) + OH (aq)
(ácido) (base) (ácido) (base)

Para simplificar a representação será utilizada a notação H+(aq) para H3O+(aq), pois
ambos são equivalentes. A ionização da água atinge o equilíbrio químico de concentrações
entre os íons H+(aq) e OH-(aq). Note, na representação a seguir, que a ruptura de uma das
ligações em H2O é heterolítica, o que resulta nos íons H+ e OH-.
113

_
O + O
H +
H H H

+ _
H2O H(aq) + OH (aq)

O equilíbrio químico é caracterizado pela constante de equilíbrio (K) que é


determinada experimentalmente. A ionização da água é representada pela seguinte
expressão em que [ ] denota concentração molar da solução.

Kágua = [H+(aq)] x [OH- (aq)] / [H2O] (Kágua = 1,8 x10-16 a 220C)

Considerando [H2O]  55,4 mol/L, o produto Kágua x [H2O] = [H+(aq)] x [OH- (aq)] =
1,0 x 10-14 a 229C, que é definido como o produto iônico da água.

Considerando o produto iônico da água, no equilíbrio químico,


[H+(aq)] = [OH- (aq)] = 1,0 x 10-7 mol/L
= 0,0000001
= 1/107 (1/10.000.000)

Este valor indica que em um litro de água pura, cuja massa é igual a 997g (
55,4 moles de moléculas H2O), 10-7 moles de íons H+(aq) e 10-7 moles de íons OH-(aq)
estão presentes em solução aquosa.

A concentração molar total de íons H+(aq) e de íons OH- (aq) em uma solução aquosa
dependerá da natureza química do soluto e desse modo:

 Em solução ácida,

[H+(aq)]  [OH- (aq)]  [H+(aq)]total  10-7 molar

Exemplo:

10-6 , 10-5 ,...  [OH-(aq)]total  10-7 mol/L (exemplo: 10-8 , 10-9 ...)

 Em solução neutra,

[H+(aq)]total = [OH- (aq)]total = 10-7 mol/L

 Em solução básica,

[H+(aq)]total  [OH- (aq)]total  [H+(aq)]total  10-7 mol/L

Generalizando para soluções aquosas a 220 C,


114

100 10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 10-6 10-7 10-8 10-9 10-10 10-11 10-12 10-13 10-14
........ Solução ácida .............  .......... Solução básica ........ ..
Solução neutra

Outra maneira de se expressar a quantidade de íons H+ em solução aquosa é em


termos de pH. Em 1909 S. P. L. Sörenson, em um trabalho com enzimas (Biochemische
Zeitscchirf, v. 21, p. 131-200), definiu o grau de acidez de soluções aquosas relacionada
com a concentração do íon H+, através da seguinte fórmula:

1
pH = log
[H+]
= log 1 _ log [H+] pH = _ log [H+]

= 0 _ log [H+]

Esta expressão indica que a acidez da solução aumenta à medida que o valor do pH
diminui. A 220 C,

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Na escala pH, os valores de 0 até próximos de 7 a solução é ácida, em 7 a solução é


neutra e acima 7 até 14, a solução é considerada alcalina ou básica.

Analogamente, pOH = - log[OH-]. Considerando o produto iônico da água ([H+(aq)]


x [OH (aq)] = 1,0 x 10-14 a 220 C ), e aplicando – log em ambos os lados desta expressão:
-

- log [H+(aq)] x [OH- (aq)] = - log 10-14

- log [H+(aq)] + - log [OH- (aq)] = - log 10-14

 pH + pOH  = 14  pH = 14 - pOH

Como demonstrado, as escalas pH e pOH são inter-relacionadas. A seguir se


encontra alguns exemplos para a utilização da escala pH.

Suco gástrico (humano) 1,0 a 3,0 Maçã 2,9 a 3,3


Limão 2,2 a 2,4 Vinho 2,8 a 3,8
Vinagre 2,4 a 3,4 Banana 4,5 a 4,7
Cerveja 4,0 a 5,0 Feijão 5,0 a 6,0
Laranja 3,0 a 4,0 Leite (bovino) 6,3 a 6,6
Urina (humana) 4,8 a 8,4 Saliva (humana) 6,5 a 7,5
Queijo 4,8 a 6,4 Milho 6,0 a 6,5
Batata doce 5,6 a 6,0 Bile (humana) 6,8 a 7,0
Manteiga 6,0 a 6,4 Leite (humano) 6,6 a 7,6
Plasma sanguíneo (humano) 7,3 a 7,5 Água potável 6,5 a 8,0
115

 Cálculo do pH de Soluções de Ácidos e Bases Fortes

Como foi definido, ácidos e bases são considerados fortes quando o grau de
ionização () for praticamente 100 % ( 1). Conhecendo-se a composição química do
soluto e a concentração da solução aquosa, calcula-se o valor do pH da solução.

 Ácido forte

Exemplo:

_
HCl(aq)
_ H+(aq) + Cl_(aq)
_
(10 3 M ) (10 3 M ) (10 3 M )

pH = -log [H+(aq)]  pH = -log 10-3 ou pH = 3,0 (solução ácida).

Sendo, -log K = y ou log K = -y  K = 10-y , pode-se realizar a operação inversa.

Exemplo:

pH = 3

-log [H+(aq)] = 3 ou log [H+(aq)] = - 3  [H+(aq)] = 10-3 molar.

 Base forte

Exemplo:

_
NaOH(aq)
_ Na_+(aq) + OH_(aq)
(10 3 M ) (10 3 M ) (10 3 M )

pOH = -log [OH- (aq)]

= - log 10-3  pOH = 3

Sendo, pH + pOH = 14  pH = 14 - pOH


 pH = 14 - 3,0
pH = 11 (solução básica).
116

 Cálculo do pH de Soluções de Ácidos e Bases Fracos

Ácidos e bases são considerados fracos quando o grau de ionização () for pequeno,
se aproximando de zero, devendo-se calcular a concentração de íons H+(aq) totais a partir do
valor da constante de equilíbrio (K), que é obtida experimentalmente da concentração da
solução.

 Ácido fraco

Exemplo:

+ _
CH3_COOH + H2O H(aq) + CH3COO (aq)
(10 3 M ) (?) (?)

No equilíbrio químico, [H+(aq)] = [CH3COO- (aq)] = ?

Considerando a constante de equilíbrio para a ionização do ácido acético, Ka = 1,8 x


10-5 a 220C e sendo Ka dada pela seguinte expressão:

O O
Ka
CH3CH2C CH3CH2C +
+ H (aq)
_
O H (aq) O (aq)
_ +
[CH3COO(aq)] * [H(aq)]
Ka =
[CH3COOH](aq)

[H+(aq)]   (1,8 x 10-5) x (10-3), em que  = símbolo para a operação raiz quadrada.

Ou [H+(aq) ]  1,3 x 10-4 mol/L  pH = - log 1,3 x 10-4

pH  3,87 (solução ácida).

 Base fraca

Exemplo:

+ _
NH4OH + H2O NH4 (aq) + OH (aq)
_
( 10 3 M ) (?) (?)

No equilíbrio químico, [OH-(aq)] = [NH4+ (aq)] = ?


117

Considerando esta base fraca e a sua constante de equilíbrio Kb = 1,8 x 10-5 , a 22


0
C para a ionização do hidróxido de amônio e sendo [OH- (aq)]   Kb x [molar],

Kb = [OH- (aq)] x [NH4+ (aq)] / [NH4OH]

 [OH- (aq)]   (1,8 x 10-5) x (10-3) ou [OH- (aq)]  1,3 x 10-4 mol/L

 pOH = - log 1,3 x 10-4  pOH 3,87.

Como pH = 14 - pOH  pH = 14 - 3,87  pH = 10,13 (solução básica).

 Reações entre Ácidos e Bases em Solução Aquosa

As reações químicas entre ácidos e bases típicos de Arrhenius em solução aquosa,


tem como produto sal e água conforme exemplificadas a seguir.

(a) HCl(forte) + NaOH(forte) NaCl(aq) + H2O


(b) HCl(forte) + NH4OH(fraca) NH4Cl(aq) + H2O

(c) CH3COOH(fraco) + NaOH(forte) CH3COONa(aq) + H2O

(d) CH3COOH(fraco) + NH4OH(fraca) CH3COONH4(aq) + H2O

Com a dissolução desses sais em água, que correspondem às reações inversas às


apresentadas, o pH da solução salina dependerá do grau de ionização () do ácido e da
base formados na solução aquosa. Esse processo é denominado hidrólise do sal. Desse
modo o pH da solução salina, para os sais dos exemplos apresentados acima, seria:

(a) neutro
(b) ácido
(c) básico
(d) Aproximadamente neutro, pois depende dos valores das constantes de equilíbrio
Ka e Kb.

 Indicadores de Ácidos e de Bases

A adição do composto fenolftaleína a uma solução aquosa de hidróxido de sódio ou


a outra solução básica, resulta em coloração vermelha. Entretanto, quando esse composto
for adicionado a uma solução aquosa de ácido clorídrico ou a outra solução ácida a solução
ficará incolor. Portanto, esse composto pode ser utilizado para indicar o caráter ácido ou
básico de soluções aquosas. Indicadores são ácidos fracos ou bases fracas, coloridos ou
incolores, que reagem com bases e com ácidos respectivamente, apresentando cores
diferentes em função do pH da solução que se encontrem. A mudança de cor na solução
está relacionada com um rearranjo intramolecular na estrutura do indicador. Os
equilíbrios entre as formas do indicador fenolftaleína em solução se encontram
representados a seguir.
118

OH

C C
O O
incolor

OH

OH
C C
O vermelho
OH

O
OH

C C +
O + H( aq )
O

O vermelho
fenolftaleína

Encontram-se a seguir os nomes comuns de alguns indicadores, que normalmente


são utilizados para a determinação da faixa de pH de soluções aquosas. O indicador
alaranjado de metila, por exemplo, em solução aquosa com pH inferior a 3,1 apresenta
coloração vermelha e em pH superior a 4,4 a cor da solução é amarela. Caso o pH da
solução se encontre entre 3,1 e 4,4 a cor da solução seria alaranjada.

Indicador Mudança de cor na solução Faixa do pH


Ácido pícrico Incolor - amarelo 0,1 a 0,8
Vermelho de metacresol Vermelho - amarelo 1,2 a 2,8
Alaranjado de metila Vermelho - amarelo 3,1 a 4,4
Azul de bromofenol Amarelo - azul 3,0 a 4,6
Vermelho de metila Vermelho - amarelo 4,4 a 6,2
Vermelho de clorofenol Amarelo - vermelho 5,2 a 6,8
Azul de bromotimol Amarelo - azul 6,2 a 7,6
Vermelho de fenol Amarelo - vermelho 6,9 a 8,0
Roxo de metacresol Amarelo - roxo 7,6 a 9,2
Fenolftaleína Incolor - vermelho 8,3 a 10,0
Timolftaleína Incolor - azul 9,4 a 10,6
Amarelo de alizarina Amarelo - violeta 10,0 a 12,0

A solução do indicador fenolftaleína, que é comumente utilizado para titulações


ácido-base, é preparada dissolvendo-se 0,1g do composto em 100 mL de álcool etílico. A
adição de uma a três gotas dessa solução de fenolftaleína, dependendo do pH da solução
aquosa, pode resultar incolor em pH  8,3, ou rosa em pH entre 8,3 e 10,0 ou vermelho em
pH  10,0. Como a fenolftaleína é incolor em pH  8,3 , quando se utiliza este indicador
119

não seria possível se distinguir se a solução aquosa apresenta pH levemente básico ou


neutro ou ácido. Quando a solução contendo fenolftaleína apresentar coloração rosa indica
que o pH da solução encontra-se na faixa entre 8,3 a 10,0 e quando se observar uma cor
vermelha na solução, indica que o pH  10,0. A cor rosa deste indicador sugere baixas
concentrações de íons OH-(aq) na solução aquosa o que é importante para titulações ácido-
base (consulte a parte experimental).

Acesse o seguinte site para realizar simulações sobre titulações ácido base,
utilizando indicadores.

http://www.chem.iastate.edu/group/Greenbowe/sections/projectfolder/flashfiles/stoi
chiometry/acid_base.html

Tutorial para a simulação: uma prática virtual interativa.

1. Selecione o tipo de reação. O programa oferece duas possibilidades. Escolha uma delas,
por exemplo, ácido forte versus base forte. Veja a diferença conceitual entre ácidos e
bases fortes e fracos, neste arquivo;

2. Complete a bureta com ácido ou com base. Inicie, por exemplo, com base. Note que na
etapa 4 (em que você deverá selecionar o indicador), aparecem duas opções de
indicadores: alaranjado de metila ou fenolftaleína e que na etapa 5 a bureta conterá a
solução básica; na outra opção, ou seja, caso você escolha completar a bureta com ácido,
você notaria que na etapa 4, as opções de indicadores seriam vermelho de metila ou azul
de bromotimol. Nesse caso, note que na etapa 5 o programa indicaria solução ácida na
bureta. Você encontrará neste arquivo, as características desses indicadores ácido-base;

3. Selecione o ácido e a base. O programa oferece 4 opções para ácido e 4 opções para base.
Note, em baixo e próximo ao erlenmeyer, que em cada escolha o programa mudará o
valor da concentração da solução. Você precisará desse valor e do volume da solução,
para realizar na etapa 6, o cálculo do valor da molaridade da solução titulada;

4. Selecione o indicador. Se você esquecer-se de selecionar o indicador, a titulação não será


realizada!

5. Empurre, aos poucos, a base da vareta para cima, para adicionar a solução contida na
bureta. Você também tem a opção de adicionar a solução na bureta, gota a gota
(Dropwise). Recomenda-se que, no início da titulação, você utilize a base da vareta para
adicionar a solução contida na bureta e quando perceber alguma mudança na cor da
solução (contida no erlenmeyer) adicione gota a gota a solução, para assim visualizar a
mudança total de cor na solução, o que indica o final da titulação. Nesse ponto
(denominado ponto de equivalência ácido-base), leia (na bureta) o volume da solução
gasta na titulação, faça o cálculo (NAVA= NBVB) do valor da concentração da solução
titulada e lance esse valor no espaço reservado na etapa 6 da simulação. O programa
indicará se o seu valor está correto ou não!
120

6. Repita a simulação, tantas vezes quanto você desejar, de modo a também rever o
conteúdo sobre unidades de concentração de soluções, sobre ácidos e bases (neste
arquivo) e através das simulações você estaria se preparando melhor para a realização da
prática sobre titulações ácido ácido-base reais, no laboratório de Química.

 Normalidade: N

Esta unidade de concentração de soluções, que geralmente é utilizada em Química


Analítica e em Bioquímica, é expressa como a razão entre o número de equivalentes grama
(equivalentes em massa do soluto), por volume de solução (expresso em litro), ou seja, N =
nequivalentes do soluto/Vsolução(L).

Exemplo: Uma solução aquosa 1 normal de HCl (1N HCl(aq)), significa que
apresenta 1 equivalente grama de HCl por litro de solução, sendo necessário se considerar a
reação química que o soluto participa. Assim, o equivalente grama de um soluto expressa a
quantidade em grama do soluto que se equivale ao outro reagente, quando reagem em
solução para formar os produtos da reação.

Caso se faça reagir, por exemplo, certo volume de uma solução 1N de ácido
clorídrico com o mesmo volume de uma solução 1N de hidróxido de sódio, as massas de
HCl e de NaOH, necessárias no ponto de equivalência, seriam 36,5 g de HCl e 40,0g,
respectivamente, o que correspondem aos equivalentes grama desses reagentes na reação
química. Nesse caso, o equivalente grama do ácido e da base corresponde aos seus pesos
moleculares (também denominados massas molares).

HCl(aq) + NaOH(aq) ⇄ NaCl(aq) + H2O(l)


36,5g 40,0g = 58,5g 18,00g

Utilizando ácido sulfúrico em reação com hidróxido de sódio, o equivalente grama


do H2SO4(aq), dependerá da reação química que esse ácido participe:

H2SO4(aq) + NaOH(aq) ⇄ NaHSO4(aq) + H2O(l)


98,0g 40,0g = 120,0g 18,0g

Nesta condição o equivalente grama do ácido sulfúrico é igual a 98,0g, entretanto,


em outra estequiometria para a formação de sulfato de sódio, o ácido sulfúrico teria um
equivalente grama igual a 49,0g.

1/2H2SO4(aq) + NaOH(aq) ⇄ 1/2Na2SO4(aq) + H2O(l)


49,0g 40,0g = 71,0g 18,0g

Do mesmo modo, na reação entre ácido fosfórico (H3PO4(aq)), que pode liberar até
três íons H+(aq), e hidróxido de sódio, o equivalente grama do H3PO4(aq) irá depender do
produto formado na reação.

H3PO4(aq) + 1NaOH(aq) ⇄ NaH2PO4(aq) + H2O(l)


121

H3PO4(aq) + 2NaOH(aq) ⇄ Na2HPO4(aq) + H2O(l)


H3PO4(aq) + 3NaOH(aq) ⇄ Na3PO4(aq) + H2O(l)

Nestas reações H3PO4(aq) apresenta equivalentes gramas iguais a 97,95g (97,971);


49,75 (97,952); 32,65 (97,953), que correspondem à participação de 1, 2 e 3 íons H+(aq)
para reagir com a solução de NaOH(aq), conforme as estequiometrias apresentadas acima.

A normalidade tem utilidade prática na titulação ácido-base. Considerando uma


solução básica, de normalidade desconhecida (NB) a ser titulada com uma solução padrão
ácida, de normalidade (NA) e volume (VA) conhecidos, temos as seguintes relações: NA =
neq.A/VANB = neq.B/VB. Desse modo, no ponto de equivalência das duas soluções, temos
que NAVA = NBVB, pois os equivalentes grama são idênticos. Assim, conhecendo-se a
normalidade da solução ácida (NA), o seu volume utilizado na reação (VA) e determinando-
se o volume da solução básica (VB), pelas titulações, pode-se calcular o valor da
normalidade da solução básica (NB).

Exercícios de auto-avaliação

1 Elabore um glossário dos conceitos apresentados no capítulo.


2 Qual a massa necessária no preparo de 250 mL de uma solução 0,5M de acetato de
sódio anidro? Qual seria a massa, para o preparo da mesma solução, a partir de acetato de
sódio tri hidratado?
3 Considere a equação de Brönsted e Lowry: H2O(L) + H2O(L)  H3O+(aq) + OH-(aq).
Podemos imaginar uma solução de água em água em que o solvente é água e o soluto está
representado pelos íons no produto da reação. Demonstre a afirmação: “em água pura a
concentração de H2O  55,4 mol/L”.
4 Qual seria a faixa de pH (acida, básica ou neutra) esperada para uma solução aquosa
de KCN?
5 Porque na titulação de HCl(aq) com NaOH(aq) é comum se adicionar a solução básica
sobre a solução acida/fenolftaleína , e não ao contrario? – Consulte a parte experimental.
6 Calcule  para o ácido fórmico em solução 0,5 N, dado que [H+] = 0,01g/L.
7 Considere o equilíbrio químico em solução aquosa, entre os íons cromato ([CrO4]2-
2-
(aq)), de cor amarela e dicromato ([Cr 2O7] (aq)), de cor laranja, conforme representado a
seguir. a) qual a cor da solução quando se adiciona um ácido? b) qual a cor da solução
quando se adiciona uma base? c) faça o balanceamento da equação adicionando íons H +(aq)
ou íons OH-(aq) e moléculas de água no lado apropriado:

[ CrO4] 2 - [Cr2O7] 2 -
(aq) (aq)
amarelo laranja

8 Demonstre que N = M x n, onde:


n = n0 de hidrogênios ionizáveis no ácido ou n0 de hidroxilas ionizáveis na base.
122

 Reações com transferência de elétrons

As reações que envolvem a transferência de elétrons são denominadas reações de


redução-oxidação ou simplesmente redox. Define-se oxidação como a perda de elétrons e
redução como o ganho de elétrons. Surgem outros dois conceitos relacionados com a
transferência de elétrons: agente redutor, que se encontrando em maior potencial
eletroquímico, libera elétron(s) para o agente oxidante, que se encontra em menor potencial
eletroquímico e assim recebe elétron(s) do agente redutor. Portanto, em uma reação
eletroquímica os elétrons são transferidos do agente redutor para o agente oxidante. Desse
modo, devido a transferência de elétrons, motivada por uma diferença de potencial
eletroquímico, o redutor sofre oxidação e conseqüentemente, o oxidante sofre redução.

Para o ajuste dos coeficientes estequiométricos de reações químicas redox é


necessária a determinação do número de oxidação (nox) médio, através de algumas regras,
dos átomos nos regentes e produtos da reação. O número de oxidação representa o balanço
de carga em um átomo, ou seja, considerando o número atômico e o número de elétrons no
elemento químico, calcula-se o nox do elemento. Portanto, em átomos, que são neutros, o
nox = zero. Do mesmo modo, em moléculas homonucleares, em que não haverá
polarização da ligação química, pois os átomos são iguais, o nox de cada átomo = zero.
Apresentamos a seguir algumas regras e exemplos para o cálculo do nox médio por átomo.

 Regras para a Determinação do nox

1) Elementos, isolados ou formando moléculas homonucleares, apresentam nox zero.


Exemplos: H, H2; O, O2 ; Cl, Cl2
0 0
2) Elementos do 1 e do 2 grupos da tabela periódica, quando combinados com elementos
mais eletronegativos apresentam nox igual a 1+ e 2+ respectivamente. Exemplos: Na +Cl-
; Ca2+Cl2-

3) Elementos do160 e do170 grupos da tabela periódica quando combinados com elementos
menos eletronegativos apresentam nox igual a 2- e 1- respectivamente. Exemplos:
H2+O2-; Ca2+F2-

4) Hidrogênio apresenta nox igual a 1+ (próton) quando combinado com elemento mais
eletronegativo e nox igual a 1- (hidreto) quando combinado com elemento menos
eletronegativo. Exemplos: H+Cl-; Na+H- (hidreto de sódio).

5) Oxigênio pode apresentar os seguintes nox quando combinado com elementos menos
eletronegativos: igual a 2- (óxido), 1- (peróxido) e (1/2)- (superóxido), sendo que a
maior tendência para esse elemento é apresentar nox 2-, pois assim adquire a
configuração eletrônica do neônio.

Exemplos: H2+O2-; Ca2+O2-; Fe23+O32-; H2+O2-; K+O2(1/2)-


123

6) A soma algébrica do nox de cada átomo é igual a zero para um composto neutro ou igual
à carga residual para um composto iônico.

Exemplos: Fe23+O32-

Suponha que o composto seja um óxido  nox do oxigênio = 2-. Portanto, 3 x (2-)
+ 3Fe = 0  nox do ferro = 3+ (Fe3+ : [Ar] 3d5, que é adequado para o ferro)

Fe3O4 (magnetita)

Suponha que o composto seja um óxido  nox do oxigênio = 2-. Portanto, 4 x (2-)
+ 3Fe = 0  nox do ferro = 8 / 3 (nox misto), corresponde a dois íons Fe 3+ e um íon
Fe2+. Este composto é magnético, podendo ser atraído por ímãs.

[SO4]2- (ânion sulfato)

Supor nox do oxigênio = 2-. Portanto, 4 x (2-) + S = 2-  S = 6+ (S6+ : [Ne],


que é adequado para o enxofre, pois adquire a configuração eletrônica do neônio).

[NH4]+ (câtion amônio)

Suponha que o nox do hidrogênio = 1+. Portanto, 4 x (1+) + N = 1+  N = 3-


3-
(N : [Ne], que é adequado para o nitrogênio, pois adquire a configuração eletrônica do
neônio).

 Estequiometria de Equações Químicas Redox

A determinação dos coeficientes estequiométricos de uma reação química é uma


tarefa necessária e anterior ao trabalho experimental para síntese de compostos no
laboratório de Química e para o ajuste estequiométrico considera-se um rendimento de
100% na reação química, ou seja, a total transformação de reagentes em produtos. Isto não
significa que as reações químicas atingem na prática 100% de eficiência, mas em termos de
previsão devemos ser otimistas e prever a melhor relação entre as massas dos reagentes
para se obter um rendimento máximo na reação de interesse. Devemos afirmar que em uma
reação química haverá a conservação da massa, ou seja, o total das massas dos átomos dos
reagentes será necessariamente igual ao total das massas dos produtos na reação química.
Você certamente terá a oportunidade de fazer essas previsões e de calcular o rendimento de
reações químicas, após a realização dos experimentos de síntese de compostos no
laboratório de Química. Em se tratando de reação redox apresentamos a seguir uma
sistemática para facilitar a previsão dos coeficientes estequiométricos, de reagentes e
produtos na reação química.

Considerando a composição química dos reagentes e produtos na reação redox a


principal etapa será determinar o número de elétrons ganhos pelo oxidante e o número de
elétrons cedidos pelo redutor e isto se torna evidente através da comparação dos nox de
124

todos os átomos envolvidos na reação química. Ocorrendo uma variação no nox (nox),
entre átomos iguais nos reagentes e nos produtos da reação, fica evidente que se trata de
uma reação redox. Em seguida deve-se fazer o ajuste dos elétrons (número de elétrons
perdidos na oxidação de um dos reagentes em relação ao número de elétrons ganhos pela
redução do outro reagente). Para tanto, será necessário encontrar um fator multiplicativo,
que será o coeficiente estequimétrico do reagente envolvido na transferência de elétrons,
para se igualar essa diferença no número de elétrons, pois os elétrons devem se conservar
em uma reação química redox. Para uma reação ácido–base, em que não existe
transferência de elétrons, o ajuste dos coeficientes estequiométricos é realizado por
tentativas.

Exemplo: Determine os coeficientes estequiométricos para a reação de formação da água


a partir de hidrogênio e oxigênio.

A primeira etapa será determinar o nox de cada átomo nos reagentes e no produto da
reação. Acompanhe todas as etapas para o “balanceamento” desta reação redox.

0 0 + =
H2 + O2 H2O
oxidação : cada H perde 1 elétron 2 / H2

redução : 2 elétrons recebidos / O 4 / O2

i) fazer o ajuste de elétrons:


o número de elétrons perdidos (oxidação) =
o número de elétrons recebidos (redução)
ii) oxidação: 2 x 4 = 8 4 será o coeficiente de H2 4H
redução : 4 x 2 = 8 2 será o coeficiente de O2 2O

4H + 2O 4H
2 2 2O

iii) dividir todos os coeficientes por 4

H2 + 1/ 2 O H 2O
2

1) Determine o nox de cada átomo ou íon na equação química.

H20 + O20  H2+O2-

Nas moléculas H2 e O2, que são homonucleares, com ligações covalentes apolares,
os átomos apresentam nox zero enquanto que H2O (molécula heteronuclear), com ligações
covalentes polares, para efeito do calculo do nox, considera-se o átomo de oxigênio com
nox = 2 - e cada átomo de hidrogênio com uma carga positiva (H+).
125

2) Compare, na equação química, o nox de cada átomo, nos reagentes em relação ao


produto da reação. Caso a reação não apresente variação de nox pode ser classificada como
não redox. Por exemplo, as reações ácido-base, tem o ajuste dos coeficientes
estequiométrico realizado através de tentativas, pois não existe variação do nox, como já foi
comentado. Na reação acima, de formação da água, o átomo de hidrogênio aumentou o nox,
devido à perda de elétrons (sofreu oxidação) enquanto que o átomo de oxigênio reduziu o
nox, devido ao ganho de elétrons (sofreu redução).

3) Determine o número de elétrons envolvidos no processo redox.

Cada átomo de hidrogênio em H2 perde um elétron, pois o nox variou de zero para
um, o que resulta em dois elétrons cedidos pela molécula de hidrogênio. Por outro lado,
cada átomo de oxigênio em O2 necessita de dois elétrons, o que resulta em quatro elétrons,
para assim serem transformados em H2O.

4) Iguale o número de elétrons cedidos pelo redutor com o número de elétrons recebidos
pelo oxidante.

Multiplicando por 4 o número de elétrons cedidos pela molécula de hidrogênio


obtém-se 8 elétrons; Multiplicando por 2 o número de elétrons recebidos pela molécula de
oxigênio obtém-se 8 elétrons, o que se constitui no ajuste de elétrons, no processo redox
para a formação de H2O a partir de H2 e O2. O fator multiplicativo 4 será o coeficiente
estequiométrico para H2 e o fator multiplicativo 2 será o coeficiente estequiométrico para
O2 na equação química que representa o processo redox.

4H2 + 2 O2  H2O

5) Faça o ajuste final dos coeficientes estequiométricos da equação química.

Considerando a composição química da água, são necessários 4H2O (quatro moles


de moléculas H2O) para se obter a conservação dos átomos e da massa na reação.

4H2 + 2 O2  4H2O

6) Apresente, como opção, a equação balanceada para a formação de um mol do produto


principal.

Neste caso, podemos dividir todos os coeficientes estequiométricos na equação


química por 4, para se obter a estequiometria da formação de um mol de molécula de água.

H2 + ½ O2  H2O

Exemplos: Faça o balanceamento das seguintes reações incluindo necessariamente: i) a


indicação do nox em cada átomo (nos reagentes e nos produtos da reação), que participam
do processo redox; ii) o ajuste de elétrons e de carga (quando for o caso); iii) o ajuste final
dos átomos e dos coeficientes estequiométricos em cada reação.
126

5+ o
o - 2+
a) 5Zn (s) + 2NO3 (aq) 5Zn (aq) + 1N2(g) (ocorre em meio ácido)
2 x5= 10
x 2 = 10 5

Balanço de cargas: 2 _ 10 +

+ 12 H+

12 H+ o - 2+
(aq) + 5Zn (s) + 2NO3 (aq) 5Zn (aq) + 1N2(g) + 6 H2O
7+ 5+ 4+
- - -
b) 3Br (aq) + 6MnO4 (aq) 3BrO3 (aq) + 6MnO2(s) (gera solução básica)
6 x3 = 18
x 6 = 18 3

Balanço de cargas: 9 _ 3_

-
+ 6 OH
- - - -
3H 2O + 3Br (aq) + 6MnO4 (aq) 3BrO3 (aq) + 6MnO2(s) + 6OH

c) 6+
2-
_ 3+ o
1Cr2O7 (aq) + 6HCl(aq) 2Cr (aq) + 3Cl2
(3 x 2) = 6 x 1 = 6
1x6 = 6

Balanço de cargas: 2_ 6+

8 H+
+ 2- 3+
8H (aq) + 1Cr2O7 (aq) 6HCl(aq) 2Cr (aq) + 3Cl2
+ + 7H2O

3+ 7+ 4+ 2+
d) 5H2C2O4 + 2KMnO4 10CO2
+
2MnO + 1K2O + 5H2O
(1 x 2 = 2 ) x 5 = 10
5 x 2 = 10

4+ 5+ 6+ _
e) 6MnO2 + 2KClO3 + 12KOH 6K2MnO4 + 2KCl + 6H2O
2 x6 = 12
6 x 2 = 12
127

 Potenciais de Eletrodo

Quando uma reação redox é realizada em solução, através do contato direto (em um
mesmo recipiente) entre o redutor e o oxidante na reação, formam-se os produtos o que é
diferente da situação de uma pilha eletroquímica em que o redutor está separado do
oxidante. A voltagem da pilha de Daniell (pilha Zn/Cu2+(aq)), conforme representada a
seguir, demonstra um valor igual a +1,10 volts, mas como se pode determinar a
participação de cada eletrodo ?

+ 1,10 V

2e 2e
_ +

ZnSO4 Zn Cu CuSO4
1M 1M

Esta pilha é formada por duas soluções: uma solução de ZnSO 4(aq) de concentração
1mol/L e outra solução também 1mol/L de CuSO4(aq). Note, na figura anterior, que na
solução de íons Zn2+(aq) se encontra imersa uma lâmina de zinco metálico e que na solução
de íons Cu2+(aq) se encontra imersa uma lâmina de cobre metálico. Conforme a
representação da pilha de Daniell os elétrons fluem da lâmina de Zn (que sofre oxidação),
para a lâmina de cobre. Cobre metálico não podendo sofrer redução os elétrons são
captados pelos íons Cu2+(aq) (da solução de CuSO4(aq)). Para evitar a polarização da pilha e
fechar o circuito elétrico, as duas soluções são interligadas por uma “ponte salina”
(representada por um tubo e “U” invertido) que contem uma solução aquosa de elevada
concentração de um sal como KCl ou NaNO3.

Veja no seguinte site uma animação sobre células galvânicas:


http://www.mhhe.com/physsci/chemistry/essentialchemistry/flash/galvan5.swf.

Esta animação demora alguns segundos para iniciar, mas vale a pena esperar!

Considerando que é impossível se medir o valor absoluto do potencial de um


eletrodo, é necessário um eletrodo de referência de potenciais. Escolheu-se como eletrodo
de referência, o ENH (Eletrodo Normal de Hidrogênio), cujo potencial foi arbitrariamente
fixado em 0,00V. Este eletrodo consiste em uma lâmina de platina, recoberta com platina
finamente dividida para aumentar a área superficial, imersa em uma solução ácida, cuja
[H+(aq)] = 1 mol/L, a 250C, conforme a seguinte representação. Borbulha-se H2(gás), à
pressão de uma atmosfera, sobre a superfície do eletrodo, conforme a seguinte
representação.
128

H2
1 atm

Pt

[H+(aq)] = 1 M + 2e
H2(gás) 2 H (aq) + 0,00 V

O sinal do potencial de um eletrodo, acoplado ao ENH, é convencionado positivo


quando os elétrons tendem a fluir espontaneamente do eletrodo metálico, através de um fio
condutor externo, para o ENH. No caso contrário, ou seja, o sinal do potencial será
negativo quando os elétrons tendem espontaneamente a fluir do ENH para o outro eletrodo
que está sendo medido. Um eletrodo de zinco tem potencial +0,76 V versus ENH e um
eletrodo de cobre tem sinal –0,34 V versus o ENH. Portanto, a pilha de Daniell apresenta
um potencial de + 1,10 V versus o ENH.

 Diferença de Potencial e Energia Livre

Uma pilha eletroquímica apresenta uma diferença de potencial entre os eletrodos


que depende, entre outros fatores, da natureza química das semi-pilhas. A diferença de
potencial, expressa em volts, é uma medida da energia que se pode obter da pilha quando se
transfere um Coulomb de carga de um eletrodo ao outro eletrodo. A unidade eletroquímica
de carga é o Faraday, sendo 1F  96.500 Coulombs, que corresponde a carga de um mol de
elétrons. Portanto, a diferença de potencial, em Volts, representa a energia liberada por uma
pilha quando se transporta 1F de carga entre os eletrodos. Em Química, costuma-se utilizar
a unidade Kcal (1 Kilocalorias = 1000 calorias), como unidade de energia, sendo que 23,05
Kcal / Faraday de carga corresponde a diferença de potencial igual a um Volt.

Na pilha de Daniell, cuja diferença de potencial = + 1,10V, a transferência de 2F de


carga, que equivale a reação entre um mol de zinco metálico com um mol de íons Cu 2+(aq),
conduz a transferência de energia igual a 2 x 1,10 x 23,05 = 50,7 Kcal. Portanto, quando se
utiliza a pilha de Daniell como fonte de energia elétrica a quantidade máxima de energia
que se pode obter é 50,7 Kcal/mol de zinco. Por outro lado, quando se misturam um mol de
zinco metálico, com um mol de íons Cu2+(aq), são liberados 52,1 Kcal de calor.

Considerando que todas as formas de energia, liberadas por um sistema podem ser
convertidas em energia térmica, mantendo-se o sistema em temperatura constante, além
das 50,7 Kcal de energia elétrica, são transferidos 1,4 Kcal de calor na reação entre zinco
metálico e íons Cu2+(aq). Em eletroquímica, define-se como energia livre (G), a capacidade
de um sistema em produzir energia elétrica, de modo que uma mudança espontânea é
acompanhada da diminuição da energia livre do sistema. Na reação entre zinco metálico e
íons Cu2+(aq), G  0: Zn(s) + Cu2+(aq)  Zn2+(aq) + Cu(s).

A diferença de potencial em uma pilha eletroquímica, entre os dois eletrodos


separados, não representa apenas a separação de carga, mas também G, entre o estado
inicial e final da pilha. A variação da energia livre padrão (G0), é dada pela seguinte
129

expressão: G0 = - nFE0. Observe, na expressão de G0 que a espontaneidade de uma


reação redox depende do sinal positivo de E0.

n = número de elétrons transferidos (+);


F 96.500 Coulombs/mol (+);
E0 = diferença de potencial da pilha.

G0, expresso pela fórmula G0 = - nFE0, tem unidades Joules/mol e para se obter
G0 em Kcal/mol, devemos utilizar a seguinte expressão: G0 = - nFE0  4,86 J/mol = -
23,05 n E0. Apresentamos na tabela seguinte, alguns potenciais normais de eletrodo (E0) e
G0(Kcal/mol) para semi-reações a 250C e concentração iônica aquosa igual a 1 mol/L e 1
atm.

Semi_ reação de redução  (volts)


0
G
0

+ _ 2,90
Ba 2 + 2e Ba(s)
+ 133,7
+ _ 2,71
Na + e Na(s) + 62,6
2+ _ 2,37
Mg + 2 e Mg(s) + 109,3
Al 3 +
+ 3e Al(s) _ 1,66 +114,9
Mn2 + + 2e Mn(s) _1,18
+ 54,4
Zn2 + + 2e Zn(s) _ 0,76
+ 35,2
2+ _ 0,44
Fe + 2e Fe(s) +20,3
+ _ 0,25
Ni2 + 2e Ni(s) + 11,3
Sn2 + + _ 0,14
2e Sn(s) + 6,3
2+ _ 0,13
Pb + 2e Pb(s) + 5,8
+ _ 0,04
Fe3 + 3e Fe(s) + 2,5
+
2H 2 e H2(g) 0,00
+ 0,00
4+
Sn + + 2e Sn 2 + + 0,15
_ 6,9
Cu 2 + 2e Cu(s) + 0,34 _ 15,5
Cu+ + e Cu(s) + 0,52 _ 12,0
_
I2(s) + 2 e 2I + 0,53
_ 24,7
+ + _ 17,8
Fe 3 + e Fe2 + 0,77
Ag+ _ 18,4
+ e Ag(s) + 0,80
_ _ 50,1
Br2(L) + 2e 2 Br_ + 1,08
2e + 1,36
_ 62,7
Cl2(gás) + 2Cl
_ 113,3
+
O2(gás) + 4 H + 4e 2 H2O(L) +1,23
_ _ 132,3
F2(gás) + 2e 2F +2,87

Observe que nas semi-reações, conforme apresentadas na tabela, com valores


positivos de E0 e negativos de G0, são espontâneas. Essas reações representam agentes
oxidantes, enquanto que as reações no início da tabela, com sinais negativos de E 0 e
positivos de G0 não são espontâneas, sendo agentes redutores. Uma reação não
espontânea, conforme apresentada na tabela, torna-se espontânea no sentido inverso, ou
seja, a oxidação de Ba(s), Na(s), ou Mg(s), são exemplos de fortes agentes redutores.
130

 Diferença de Potencial e Fluxo de Elétrons

Para destacar a importância da diferença de potencial de eletrodos (E0), em relação


ao fluxo de elétrons considere a seguinte representação para duas pilhas, de concentração
1M, em oposição (próxima figura). Qual será o sentido do fluxo de elétrons? Considere,
inicialmente, as duas pilhas separadas (a) e depois considere a situação(b), em que se faz
uma ligação entre as duas pilhas.

+ 0,51V + 1,56 V

_ _
+ +
2e 2e 2e 2e

Zn Ni Ag Zn
+ + +
Zn2 1M Ni 2 1M Ag+ 1M Zn2 1M

(a) Pilhas separadas

+1,05 V

2e 2e
2e
2e

Zn Ni Ag Zn
+ + +
Zn2 1M Ni 2 1M Ag+ 1M Zn2 1M

(b) Pilhas ligadas

Representação para duas pilhas, de concentração 1mol/L, em oposição.

Temos as seguintes semi-reações para as pilhas separadas:

2+
oxidação : Zn(s) Zn + 2e + 0,76 V
redução : 2 Ag+ + 2e 2 Ag(s) + 0,80 V

redox : Zn(s) + 2 Ag+ Zn2 + + Ag(s) +1,56 V

2+
oxidação : Zn(s) Zn + 2e + 0,76 V
redução : Ni 2 + _ 0,25
+ 2e Ni(s) V
+ Ni 2 + + + 0,51 V
redox : Zn(s) Zn2 + Ni(s)

Interligando as duas pilhas, que funcionam em oposição, poderíamos observar no


voltímetro o valor +1,05V, que corresponde a E 0 {(Zn – Ag+)} - E0 {( Zn – Ni2+)} =
+1,56V – 0,51V. Portanto, essa diferença de potencial corresponde à reação efetiva entre as
duas pilhas em oposição que é a oxidação de níquel metálico e a correspondente redução de
íons Ag+(aq), conforme a seguinte reação redox:
131

+
oxidação : Ni(s) Ni2 + 2e + 0,25 V
redução :2 Ag+ + 2e 2 Ag(s) + 0,80V
redox : Ni(s) 2 Ag
+
Ni2 + 1,05 V
+ + 2 Ag(s)

 A Equação de Nernst

Os potenciais listados para as semi-reações de redução foram determinados em


condições padrão, ou seja, todas as espécies se apresentam inicialmente em concentração de
1 mol/L, a 250C e 1 atm. A equação de Nernst prever a diferença de potencial
eletroquímico com a concentração, conforme se apresenta a seguir:

aOx + ne b Red
b
E= E _
0 RT ln [Red]
nF [Ox]a
ou
b
2,3 RTlog [Red]
E = E0 _
nF [Ox]a

Onde, E= potencial de redução na concentração de trabalho;


E0 = potencial de redução nas condições padrão (ver a tabela de
potenciais de redução);
R = constante universal dos gases = 8,3144 J.mol-1.K-1;
T = temperatura absoluta, em kelvin;
n = número de elétrons transferidos;
F = constante de Faraday = 96.485 C.mol-1.

Na temperatura de 250C (298,16K), temos para a equação de Nernst:

b
E= E _
0 0,059 log [Red]
n [Ox]a

A concentração de substâncias puras, na forma de precipitados e solventes, é


considerada unitária. Walther Hermann Nernst ganhou o Prêmio Nobel de Química em
1920 pelo seu trabalho sobre termoquímica.

Exemplos de aplicação da equação de Nernst

1) Na seguinte reação redox uma solução 10-3 mol/L de íons dicromato reagem em
meio ácido (pH = 2) para formar uma solução 10-2 mol/L de íons Cr3+(aq), sendo E0=
1.33V. Calcule o potencial da pilha.
132

_
Cr2O72(aq) +
+
14 H(aq) 2 Cr3+
(aq) + 7 H2O
(L)

_2 2
,
_ 0 059 log ( 10 )
E= 1,33 _3 _ = 1,06 V
6 ( 10 ) ( 10 2 )14

2) Determine a constante de equilíbrio para a reação eletroquímica na pilha de Daniell.


Calcule a [Cu2+(aq)] no equilíbrio eletroquímico.

2+
Zn(s) + Cu2(aq)
+ Zn(aq) + Cu(s)
2+
Zn(aq)
K=
Cu2(aq)
+

2+
Zn(aq)
0 _ 0,059 log
Da equação de Nernst, E= E n
Cu2(aq)
+

No equilíbrio eletroquímico, o potencial da pilha é nulo, ou seja, E= 0,0 V, portanto,


2+ 2+
Zn(aq) Zn(aq) 0
0 0,059 log nE
E = n log = ,
Cu2(aq)
+
Cu2(aq)
+ 0 059

2+
Zn(aq) 37,3
Portanto, log 2 x 1,10 37,3 K
= 10
Cu2(aq)
+ 0,059
K 2,0 x 10 37

37
Cu2(aq)
+ 2,0 x 10
2+
Zn(aq)

Quando dois ENH, sendo um deles padrão ([H+(aq)] = 1mol/L) e o outro com [H+(aq)]
= 0,1mol/L, são conectados, observa-se no voltímetro o valor 0,059V, conforme a seguinte
representação e respectivas semi-reações de eletrodos:
133

0,059 V
_ + 2e
2e
H2 H2
1 atm atm
1 (outro eletrodo) H2(gás) +
2 H (aq) + 2e
+
(ENH) 2 H ( 1 M ) + 2e H2(gás)
+
[H(aq)] =0,1M +
[H(aq)] =1M H2(gás/1 atm) + +
+ 2 H (1 M ) H2(gás/1atm) + 2 H (aq/1M)

Representação de dois ENH interligados. A [H+(aq)] é diferente nos dois eletrodos.

Utilizando a equação de Nernst e generalizando para o caso da concentração do


outro eletrodo, por exemplo, [H+(aq)  1 mol/L] = x e p = pressão do gás hidrogênio = 1 atm,

0 _ 0,059 p H2 [X]2
E=E n log
p H2 [H + ]2

2
E= E _ 0,059 log 1 * [X]
0
n 1 * 12
0,059 2
E = E0 _ n log [X]
, * 2 log[X]
E = E0 _ 0 059
2

E = _ 0,059 log [X]


0
Sendo, E = 0,00 V (por convenção)
+
No outro eletrodo, [H ] = X = 0,1M , potanto, E= 0,059V, que corresponde ao
valor observado no experimento.

Considerando x = = 0,1mol/L = [H+(aq)], no outro eletrodo, podemos calcular o pH


de uma solução aquosa, determinado eletroquimicamente, através da seguinte expressão:

pH E
=
solução 0,059

A seguinte tabela apresenta valores para o pH de soluções e valores de potenciais na


reação redox. Considerando [H+] = 1mol/L no ENH, varia-se a [H+]mol/L, no outro
eletrodo.
134

[H+(aq)]mol/L, no [H+(aq)]mol/L, no V pH da solução


ENH outro eletrodo
1,0 1,0 0,00 0,0
1,0 1,0 x 10-1 0,059 1,0
1,0 1,0 x 10-2 0,118 2,0
1,0 1,0 x 10-3 0,177 3,0
1,0 1,0 x 10-4 0,236 4,0
............................... .............................. .............................. ..............................
1,0 1,0 x 10-7 0,413 7,0

Por uma questão de conveniências para o trabalho experimental, utilizam-se outros


eletrodos de referências, que são calibrados em relação ao ENH. Por exemplo, podemos
utilizar o eletrodo Ag/AgCl, em substituição ao ENH, em solução aquosa de KCl 0,1 M. O
valor do potencial eletroquímico, medido com esse eletrodo, deve ser corrigido,
subtraindo-se 0,22V. Desse modo, pH = [(Ag/AgCl) – 0,22]  0,059.

 Exercícios de auto-avaliação

1 Elabore um glossário dos conceitos apresentados no capítulo.

2 Exemplifique reações químicas do tipo redox, comuns em sua vivência.

3 Faça o balanceamento das seguintes equações químicas:

a) KClO3 + H2C2O4  ClO2 + KHCO3


b) CuO + NH3  N2 + H2O + Cu
c) MnO2 + KClO3 +KOH  K2MnO4 + KCl + H2O
d) H2C2O4 + KMnO4  CO2 + MnO + K2O + H2O

4 Consulte a tabela de potenciais redox, proponha reações químicas de redução e de


oxidação e a reação total, para várias pilhas espontâneas.

5 Calcule a constante de equilíbrio para a reação entre Sn2+ e Fe3+.

2+ +
Sn + 2 Fe
3+ Sn4 + 2 Fe
2+

Referências

1) Química – um curso universitário / B. H. Mahan – Ed. Edgard B., 1993.


2) Química & reações químicas / J. Kotz e P. Treichhel – Ed. LTC, 1996.
3) Química Geral e Inorgânica - O reino periódico: uma jornada à terra dos elementos
químicos / P. W. Atkins – Ed. Rocco, 1996.
4) Química Geral / J. B. Russel – São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1994.

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