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Cuidados Pal Embebido pelos ares sadiamente misturados das Serras da Estrela e da ¢ Gardunha, por fragrancias de florestas, matos e pomares ~as cerejas, as cerejas... ~ 0 Hospital do Fundio sobressai mais cedo da neblina que matinalmente mergulha a fértil Cova da Beira. Numa encosta vizinha, um surpreendente verde-claro,vicoso, completa a mancha de verde mais escuro de arvores de maior porte, que resistiram a incéndios passados. A vida, no seu ciclo etemno, vai Rene alhumanience avancar para onde geralnent@lna0 Enerevista Fotos: Joao 12+ HOMEM Magarine Homem Magazine ~ Para um leigo, ‘cuidados paliativos poderio confundin-se com meios artifi de suporte de vida. Numa unidade de cuidados paliativos, quem decide ‘quando & chegado © momento de "destigar a maquina’ Antonio Lourenco Marques = O° « dados paliavos nfo podem confundise com meios artifeais de suporte de vida Do que se trata ¢ de insttuir medidas sim. ples, de naeureza multidiecplinar, destina- das a melhorar a qualidade de vida dos doentes que tém uma doenga evolutiva que conduz 8 morte, ¢ também das suas familias. Basicamente procura-se prevenir € aliviar 0 sofrimenco causado por essas ‘doencas, devando intervirse precocemen- 1t2.A avalagio cuidadosa ¢ 0 eatamento hear da dor e dos outros problemas tanto de ordem fsica, como psicolégica, social eespirtual, sfo as armas que garan- tem essa qualidade de vida.A morte deve- i ocorrer de forma natural e portanto ‘alo hi nenhuma miquina artificial para eslgar”. H.M.-A actual polémica sobre ‘estado vegetative prolongado, dado que o doente nio sente dor (entirat) ~ élicito deixar de alimentécto artificialmente? Como segulu a recente polémica sobre 0 tetraplégico galego (filme Mar ‘dentro viu?).E sobre a mulher hnorte-americana que © marido ‘queria "matar"? AL LLM. ~ Penso que so eazor muito ‘excepcionals. VI flme Mar Adentr, um filme notivel, mas chocou-me a auséncia de apoios especicos para um caso em ue era tio evidente © sofrimento do Ramen da sua familia. A cunhada viuse brigade 2 receber dinheiro de uma pes- soa estranha e 0 lemio proferiy aquela frase terrivel: "omos todos escravos de ti". E embora na carta de despedida Ramén diga que foi sempre bem tratado pela famila (e foi-0 certamente) foi um sacrificio exigido durante muito tempo. E sem apolos, era uma situagSo terivel Portanto, tenho dividas sobre © genuino feneimento da vontade de morrer de Ramén Sampedro. De qualquer modo, ‘estes casos sero sempre muito dificels de compreander e as decisdes nunca serio faces. Mas, deve ser feito tudo, e logo desde o nico. O sistema nervoro & "pis- tico" € determinadas slteragSes, 3 no previnem, estabelacem-se e jf nfo recupe- Fam mais. Quanto 20 caso de Terri Schiavo, © diferente, Ramén estava. conscience. Terri estava em coma vegetative persis tente, Tinka feado em coma logo apés 2 paragem cardiaca © teria havido critérios médicos, quando © coma se estabeleceu definitvamente para retirar 0 suporte de vida. Claro que, neste caso, parece que hava dvergancias a familia e isso podria, ‘eventualmence,difiular a decisio.Enfim, reve que ser © tribunal... tantos anos depois! H.M.~ Hi a tentagio de culdados pliativos "a mais"? AcLMe= Uma das caracteristicas dos dados palativos é a sua "sensblidade” dferengas individuais, a sua adaptacio Aaquele indviduo doence concrete, como tum todo e com a sua famila. Os euidados Grande See eee Hospial do rundse gastos supérfluos e sofrimento piliavos reflectem sempre também spectos culeurais, nacionais © a6 regio fais Penso que nio havers culdados pall tivos "a mais"mas no limite, os necessér- fof. Por definigao, oF cvidador paliativor ‘nfo pretendem acelerar nem atrasar a sorte, mas dar qualidade de vida, antes da H.M.~ Numa altura de conten¢ao ‘de despesas na Saude, como tom ‘encarada 0 poder politica os gastos ‘em Cuidados Pallativos? Nunca se deparou com a reacsao politica de dizer que "Cuidados Paliativos" si0 esforga e dinheiro "escusado"? (se 0 doente, vai, de qualquer mane ‘morrer...) A.L.M,~ © atraso na implancagio desta fres'da medicina entre née, penso que tem mais a ver com o estado em que se encon tra a formagio dos profisionais de salde, omeadamente dos médicos. A cura das “O poder politico percebeu reportagem que, sem cuidados paliativos, ha doengas & 0 objective quase exclusive dase mal com a doenga eréniea e com fs seus miliplos problemas. que acabam or rer também, inevieavelmente, ce DSedem pricologies, social e expires Sepois,s morte ¢ vista como um fracasto. Poreanto, ou mancém um "encarnicamen- to" terapdutiea “irracional” ou se abando- ra © doonte. © poder politico, por seu Indo, relecee 2 tendéncia dominante dot profissionas. Mas ests a tomar mais cons ania e penso que, fralmente, percebeu aque, sem culdados pallativos, haverd mais _astos supérfiuos e mals sofrimento. M. de qualquer modo penso que a "bol muito do lado dos profissionai. H.M.-A vivéncia numa unidade que convive muito mais de perto ‘com a morte do que as outras ‘proveea no corpe médica e paramédico estados depressives, de ‘ansiedade? Como combate exses ” possivels sentimentos? "Desliga”, quando passa a esfera privada? A.L.ML. ~ Pars mim, como. profissional madico, entando que um doents tom Gireito a ter cuidador medicor enquanto for vivo. doengs aguda,curada defniva. mente, @ apenas uma parte da medicina O {que nés vemos nos hospitals @ nos serv- or de urgéncia x30 logiGes de doenter ‘Som doeneas erénicas, que felizmente se podem estabilzar durante longos perio- ‘dos Mas irs uma altura em que essa situa ‘fo cande & maior instablidade, que ance- Sede a morte natural, Entio, devemos fugir? Poreanto, encaro este trabalho como (9 enercicio normal da minha profissa, Sentinmee! bem, s¢ 0 doente benefiiar com a minha inervengio. & impossivel dizer que nto penso nos doentes fora do Hospital € que as vezes, durance 2 noite, info me perturbam. Mar fago 3 minha vida ormal pois gorto de ouvir a minha mas ‘ler ot meus los, estar com a familia, fer outros projectos. Gosto, em especial, se histéria da medicina, que ensino na ‘aculdage H.M.— }4 houve casos de doentes {nesta unidade ou noutras) que ‘venham recusado culdados paliativos, por questies de Fé, por ‘exemple! (a dor como Vie Crucis ‘assumida). ALM. —A minha experiénea if longa, nese Area, € que os doentes nfo gostam ide sofrer demecessariamente, Isso. 8 um ‘mito Tver fsa ideia tena sido "imposta” or doentes quando nfo havia outros fecursos. Ninguém gosta de solrer dor. “Todas as pessoas gostam de ser bem tar tadas ¢ cém muita confanga na equipa de satide. Sabem que of profisionale cém Cconhecimenos que. permizem alviar Sofrimento.As pessoas eunca recusam cu ‘dados que thes sejam bem expleados © fue thes seam deel H.M.~ Que tipo de papel foi chamado a desempenhar, como ‘especialista, pelo Vaticano? ALL.M. — A minha ide & conferéncia sobre culdades palatvos, ue ocorreu no Vaticano, em Novembro, fol por convice

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