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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO JORNALISMO

RAMON PENDEZA

#ONIBUSSM: ANÁLISE COMPARATIVA DA COBERTURA


NO TWITTER DA OCUPAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES
DE SANTA MARIA EM OUTUBRO DE 2010

Santa Maria
2010
RAMON PENDEZA

#ONIBUSSM: ANÁLISE COMPARATIVA DA COBERTURA


NO TWITTER DA OCUPAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES
DE SANTA MARIA EM OUTUBRO DE 2010

Trabalho de Conclusão de Curso


Para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo

Orientadora: Luciana Mielniczuk

Santa Maria
2010
Ramon Pendeza

#ONIBUSSM: ANÁLISE COMPARATIVA DA COBERTURA


NO TWITTER DA OCUPAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES
DE SANTA MARIA EM OUTUBRO DE 2010

Trabalho de Conclusão de Curso como requisito para obtenção de grau de bacharel


em Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o


Trabalho de Conclusão de Curso

__________________________________________
Dra. Luciana Mielniczuk
(Presidente/Orientadora)

__________________________________________
Me. Marcelo Freire
(Professor do Decom do Cesnors/UFSM)

__________________________________________
Maurício Dias
(Jornalista e mestrando no PPGCOM/UFSM)

__________________________________________
Silvana Dalmaso
(Jornalista e mestranda no PPGCOM/UFSM - Suplente)
AGRADECIMENTOS

Eu deveria agradecer a todas as pessoas que cruzaram meu caminho nos últimos anos,
inclusive em experiências ruins, pois mesmo estas – e principalmente estas – me fizeram ser
mais forte e não desistir de ir até o final. Indiferentemente disso, há alguns nomes que eu
preciso mencionar aqui.
Não posso deixar de colocar minha mãe, Maria Ezolete, no topo desta lista. Seria
preciso páginas e mais páginas para agradecer tudo que ela faz por mim, e mesmo assim eu
não saberia escolher as melhores palavras.
Agradeço à Andressa Ferla, a melhor amiga do mundo, que sempre me incentivou e
sempre ouviu meus desabafos nas horas difíceis.
Também sou grato a minha família pelo apoio, especialmente a vó Victória pela
atenção e pelas orações, e aos tios Eron, Tânia e Rosane pela ajuda financeira durante o curso.
E aos primos e outros tios – são muitos – pelo carinho e apoio psicológico.
À Punky, minha gatinha, por sempre me fazer sorrir, e também pela companhia nas
madrugadas de estudo, não me deixando dormir ou dormindo comigo.
A Luciana “Luti” Mielniczuk, por ter colocado meus pés no chão quando eu queria
solucionar todos os problemas do mundo na minha primeira pesquisa acadêmica, e por todos
os ensinamentos no último ano da faculdade.
Aos colegas e amigos que fiz no Cesnors, em especial ao Antonio Marcos Demeneghi
com que gastei horas discutindo o futuro da comunicação e da sociedade, e ao Lucas Wirti, à
Laisa Fantinel com quem fiz festas muito legais em Frederico Westphalen.
A todos meus ex-professores do Cesnors, pela amizade e pelo conhecimento que me
passaram nos três anos que estudei em Frederico Westphalen, e principalmente por terem
acreditado e apostado no meu potencial.
Ao Luciano Miranda, meu amigo e meu primeiro orientador, pelos ensinamentos e
pela confiança que depositou em mim.
Ao grupo de pesquisa Jordi, pelas reuniões nas quais, quieto mas atento, aprendi muita
coisa.
Aos colegas da Facos, por me receberem com respeito no último ano do curso, e
especialmente ao Marcelo De Franceschi pela amizade e prontidão sempre que pedi ajuda.
Por último – para ele não ficar convencido – agradeço ao Izaner Durlo, por ter sido um
amigão e por tolerar meus atrasos nos compromissos, principalmente nesse último ano de
faculdade que estou de volta à Santa Maria. Valeu!
Cada um é sua própria mídia.
Lucien Sfez
RESUMO

O presente trabalho foi elaborado a partir do tema jornalismo em microblogs e de


problematizações que envolvem profissionalismo versus amadorismo. Para torná-lo possível,
em um primeiro momento apresentamos uma revisão de três esferas dos media: mass, self e
social. Depois, abordamos o jornalismo digital e também as práticas jornalísticas não-
profissionais, direcionando nosso raciocínio ao microblog Twitter, até chegarmos na Cauda
Longa (Anderson, 2006). Em um segundo momento, apresentamos uma análise comparativa
da cobertura de um fato de interesse jornalístico no Twitter – a ocupação da Câmara de
Vereadores de Santa Maria por estudantes e representantes de movimentos sociais em outubro
de 2010 – por três perfis diferentes: um jornal de referência, um jornalista independente e
amadores. A partir dessa análise, observamos como foi a participação e como cada um desses
perfis cobriu o caso que intitulamos #OnibusSm.

Palavras-chave: jornalismo digital; microblogs; práticas jornalísticas não-profissionais; Pro-


Am.
ABSTRACT

This work has been developed from the theme journalism and microblogging, and also from
problematizations involving professionalism versus amateurism. To make it possible, in a first
moment we present a review of three spheres of media: mass, self and social. Then we
approach the digital journalism and also non-professional journalistic practices, directing our
thought to the microblog Twitter, until we achieve the Long Tail (Anderson, 2006). In a
second moment, we present a comparative analysis of a newsworthy fact's coverage on
Twitter - the occupation of the Santa Maria's City Council by students and members of social
movements in October 2010 - for three different kinds of profile: a mainstream journal, an
independent journalist, an amateur. From this analysis, we observe how was the participation
and how each of these profiles has covered the case which we call #OnibusSm.

Key-words: digital jounalism; microblogs; non-professional journalistic practices; Pro-Am.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Seriado Batman transmitido nos anos 1960 na televisão norte-americana _____ 21
Figura 2 – Capa da revista Veja de março de 1979 ________________________________ 24
Figura 3 – Capa do fanzine Estúdio de ideias de janeiro de 2010 ____________________ 24
Figura 4 – Busca por Aerosmith no YouTube, a divisão do espaço por mass e self media _ 30
Figura 5 – Ascensão de Ana Free: do YouTube ao mainstream ______________________ 31
Figura 6 – Ascensão de Heat: do mainstream ao YouTube __________________________ 31
Figura 7 – Twitter na telefonia celular __________________________________________42
Figura 8 – Tweet diálogo entre @dceufsm e @eudecaliine _________________________ 49
Figura 9 – Tweet cobertura/comentário do @claudemirpe __________________________ 50
Figura 10 – Transparência e espontaneidade na cobertura de @claudemirpe ___________ 50
Figura 11 – Finalização da cobertura pelo @diariosm _____________________________ 51
Figura 12 – Tweet do @dceufsm corrigindo informação passada por jornal de referência _ 52
Figura 13 – Retweet interno do @diariosm _____________________________________ 52
Figura 14 – Retweet externo do @claudemirpe __________________________________ 53
Figura 15 – Uso de links pelo @diariosm direcionando a um blog da equipe do Diário ___ 53
Figura 16 – Uso de links pelo @claudemirpe direcionando ao seu próprio blog _________ 54
Figura 17 – Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço não-profissional _______ 54
Figura 18 – Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço profissional ___________ 54
Figura 19 – Direcionamento sem link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE __ 55
Figura 20 – Direcionamento com link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE __ 55
Figura 21 – Direcionamento com link à empresa híbrida – tuitado pelo DCE ___________ 55
Figura 22 – Palavras-chave nos tweets do @diariosm _____________________________ 57
Figura 23 – Palavras-chave nos tweets do @claudemirpe __________________________ 57
Figura 24 – Palavras-chave nos tweets do @dceufsm _____________________________ 57
.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – A Cauda Longa __________________________________________________ 39


Gráfico 2 – Representação da cauda longa do jornalismo digital _____________________ 40
Gráfico 3 – Representação ideal da cauda longa do jornalismo ______________________ 41
Gráfico 4 – Uso de hashtags e palavras-chave nos tweets __________________________ 56
Gráfico 5 – Relevância das informações e seus produtores _________________________ 58
Gráfico 6 – Representação da cauda longa do jornalismo no Twitter no caso #OnibusSm _ 59
.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparação cobertura instantânea, comentário/opinião e diálogo ___________ 49


Tabela 2 – Comparação informações imprecisas e cobertura posterior ________________ 51
Tabela 3 – Comparação retweets de profissionais e de amadores _____________________ 52
Tabela 4 – Comparação entre direcionamentos ___________________________________ 53
.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 11
.
CAPÍTULO I – DOS MEDIA AOS SOCIAL MEDIA ___________________________ 15
1.1 Mass Media ___________________________________________________________ 18
1.2 Self Media ____________________________________________________________ 22
1.3 Social Media __________________________________________________________ 26

CAPÍTULO II – O JORNALISMO DIGITAL _________________________________ 33


2.1 Jornalismo de referência _______________________________________________ 34
2.2 A abertura do polo emissor e as práticas jornalísticas não-profissionais ________ 37
2.2.1 A cauda longa do jornalismo e a explosão do microblogging ___________________ 38
.
CAPÍTULO III – O CASO #ONIBUSSM _____________________________________ 45
3.1 Sobre a pesquisa ______________________________________________________ 45
3.1.1 Corpus de análise _____________________________________________________ 45
3.1.2 Aspectos metodológicos ________________________________________________ 47
3.3 Análise comparativa ___________________________________________________ 48
3.3.1 Cobertura instantânea, comentário/opinião e diálogo _________________________ 49
3.3.2 Informações imprecisas e cobertura posterior _______________________________ 51
3.3.3 Retweets ____________________________________________________________ 52
3.3.4 Direcionamentos com ou sem link ________________________________________ 53
3.3.5 Hashtags e palavras-chave ______________________________________________ 55
3.3.6 Observações qualitativas _______________________________________________ 57
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________ 61
..
REFERÊNCIAS __________________________________________________________ 65
.
ANEXO I – OS TWEETS DO @DIARIOSM __________________________________ 68
ANEXO II – OS TWEETS DO @CLAUDEMIRPE ____________________________ 70
ANEXO III – OS TWEETS DO @DCEUFSM _________________________________ 74
11
INTRODUÇÃO

Ainda não saímos às ruas com brincos que comunicam, como previa Nicholas
Negroponte em meados dos anos 1990. No entanto, não estamos muito longe da proposição –
otimista – do autor do livro A vida digital 1 se considerarmos que as joias eletrônicas
ornamentam parte da população, por exemplo, em forma de fones de ouvido conectados a
smartphones. Não obstante, computadores conectados à internet tornam a comunicação
humana mais imediata e interativa a cada dia. Correios eletrônicos, mensageiros instantâneos,
blogs, redes sociais, possibilitam a interação entre indivíduos de todos os cantos do mundo de
forma inédita, e permitem que a experiência virtual naturalize-se como real.

O otimismo de Negroponte é bastante aceitável e também contagiante. A aceleração da


evolução tecnológica nas últimas décadas, em especial na área das telecomunicações, tem
gerado mudanças significantes no estilo de vida de muitos indivíduos. A tecnologia “muda a
vida das pessoas, como se relacionam, como se expressam e o modo que comercializam”
(VACAS, 2010, p. 13). Com a popularização de equipamentos com acesso à internet, e com o
desenvolvimento dos mais variados aplicativos e plataformas online, o indivíduo tem seu
potencial criativo expandido. Não mais apenas receptor de conteúdo, ele agora é emissor,
produtor de sua própria mídia. Isso corrobora com a ideia de André Lemos, de que “as novas
tecnologias de informação e comunicação alteram os processos de comunicação, de produção,
de criação e de circulação de bens e serviços no início do século XXI trazendo uma nova
configuração cultural” (LEMOS, 2005). Seguindo o pensamento de Lemos, constatamos que
a cultura ciberespacial faz parte da cultura contemporânea. Para a cibercultura – proposta por
Pierre Levy –, uma das características essenciais apontadas por Lemos é a liberação do polo
de emissão, fator que afeta diretamente o jornalismo, o qual é tema do presente trabalho. “A
web permite cada um tornar-se produtor de informação (um jornalista, no sentido essencial da
palavra), em jornalista de si, mas também de tudo aquilo que é possível testemunhar com
smartphones, palm ou laptop nas mãos” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 82).

O fenômeno foi observado no início deste século com o crescimento da blogosfera. O


uso de blogs como espaço para produção e exposição de material de caráter jornalístico foi
percebido logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Contudo, foi em
1 Nicholas Negroponte é um dos fundadores e professor do Media Lab, o laboratório de multimídia do
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ler: NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. 2a ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
12
2003, com a eclosão da guerra no Iraque que a então nova plataforma online ganhou
considerável importância. O blog iraquiano de Salām Pāx2 – com postagens diárias relatando
a guerra – superou qualquer estimativa de número de acessos para a época. Esse foi
provavelmente o primeiro acontecimento significante (relacionado ao tema jornalismo) na era
da internet que alarmou a grande mídia e, obviamente, os jornalistas.

Depois dos blogs, grande parte das novas criações para a internet – em geral, não
idealizadas com finalidade jornalística – foram exploradas tanto por amadores quando por
profissionais para a difusão de produto midiático informativo. Esse processo é intensificado
quando as gerações nascidas simultaneamente ou depois da internet chegam a uma idade que
as permite tais ações, algo que acontece cada vez mais cedo. Kuklinski menciona que
“quando nativos digitais não encontram a ferramenta apropriada para desenvolver certa tarefa
de comunicação, eles a inventam. Ou modificam aplicações pensadas para fins diferentes. Isto
provoca a criação constante de novos meios” (2009, p. 257). Os microblogs3 são exemplos
disso. O Twitter, que induzia seus usuários a responderem a questão “What are you doing?”,
posteriormente substituída por “What's happening?”, é a plataforma de microblogging mais
popular do mundo, e muitos dos seus usuários (profissionais ou não) estão experienciando
diferentes práticas jornalísticas.

As tecnologias DIY (Do It Yourself)4 – como as das aplicações Web 2.0 – causaram
uma grande inovação nessa primeira década do século XXI. O fato de as mídias e, por
conseguinte, o jornalismo sofrerem transformações cada vez mais rapidamente, e de novos
formatos e “modos de fazer” surgirem de forma incessante não impede – pelo contrário, exige
– que estudemos casos e fenômenos, mesmo sabendo que estes podem fazer parte do passado
– obsoletos – antes mesmo do término das pesquisas.

Dessa forma, considerando as dicotomias profissional/amador e tradicional/moderno


como base desta monografia, apresentamos um estudo comparativo que analisa como um fato
de relevância social é tratado por um jornal de referência, por um jornalista profissional

2 Pseudônimo do blogueiro que consiste da soma da palavra "paz" nos idiomas árabe (salām) e latim (pāx). Em
2003 foi publicado um livro baseado em "Where is Raed?" intitulado The Baghdad Blog (O Blog de Bagdá,
em português). O livro é composto por entradas de blog de setembro de 2002 a junho de 2003.
3 Microblogs são instrumentos de comunicação onde o usuário tem em média 140 caracteres para descrever o
que está fazendo em um dado momento. Esses microblogs são usados por empresas jornalísticas, políticos e
outras instituições, ou como novos formatos artísticos, como microcontos (Lemos e Lévy, 2010).
4 Apropriação da expressão que surgiu no cenário punk em meados dos anos 1970. Do It Yourself traduzia, de
certa forma, o espírito empreendedor e anarquista daquele movimento.
13
independente, e por não-profissionais em uma plataforma online razoavelmente nova, o já
mencionado Twitter. Esse fato é a ocupação da Câmara de Vereadores de Santa Maria por
estudantes e representantes de movimentos sociais no dia 25 de outubro de 2010, que
chamaremos de “caso #OnibusSm”.

Antes da análise comparativa entre canais, emissores e suas mensagens – ou dos


modelos comunicacionais “todos-todos” e “um-todos” (LÉVY, 1999) –, fazemos uma breve
revisão dos media, na qual discutimos não apenas a expressão mass media, como também
social media e self media. Esta última, menos conhecida, foi usada pela primeira vez em
1975, por Jean Cloutier, no livro L'ère d' EMEREC5. Mesmo após mais de trinta anos da
conceituação de self media, o termo parece ter sido pouco estudado e também ser pouco
conhecido. Para tanto, no primeiro capítulo apresentamos conceitos e características e
fazemos uma breve revisão – contextualização – histórica, destacamos as diferenças – ou
semelhanças – entre os self, os mass e os social media.

Após estruturarmos claramente uma sequência de ideias sobre os media, focamos o


jornalismo digital. Nesse segundo capítulo discutimos jornalismo profissional 6 e práticas
jornalísticas não-profissionais, buscando a ligação com capítulo anterior. Ambas as formas são
conceituadas e exemplificadas. A teoria da Cauda Longa, de Chris Anderson, é apresentada
como plano de fundo para o desenvolvimento desse capítulo, que exibe casos ilustrativos de
grandes empresas jornalísticas (top-down) até de mídias independentes geridas por grupos ou
por uma única pessoa (bottom-up).

Construído o cenário – composto da soma dos estudos específicos sobre media e


jornalismo digital –, expomos no terceiro capítulo os procedimentos metodológicos da
pesquisa. Finalmente temos condições de, através da aplicação de uma metodologia analítica,
materializarmos nossos objetivos. O quarto capítulo constitui-se da comparação do tratamento
de um fato jornalístico por um profissional não-vinculado à grande mídia (Claudemir Pereira
da Silva), por não-profissionais (Diretório Central dos Estudantes da UFSM) e por um jornal

5 CLOUTIER, Jean. L'ère d' EMEREC ou la communication audio-scripto-visuelle à l'heure des self-média.
2e. Montréal: l'Université de Montéal, 1975.
6 Eventualmente acrescemos o adjetivo “profissional” aos substantivo “jornalismo” e “jornalista”. Isso é feito
apenas com a intenção de enfatizar a distinção do produto ou produtor amador. Mesmo tendo ciência da atual
polêmica sobre a não obrigatoriedade da formação acadêmica – do diploma – para a execução da profissão,
defendemos que a expressão jornalismo deve ser sempre vinculado ao profissionalismo. Isso não quer dizer
que somos contra práticas de caráter jornalístico – pelo contrário, as incentivamos –, apenas esperamos as
devidas distinções, começando por sua denominação.
14
de referência (Diário de Santa Maria) no microblog Twitter. Aqui, tentaremos fazer o
cruzamento da teorização apresentada nos dois capítulos iniciais com o material coletado
empiricamente.

Vivemos um período de transição. Mutações técnicas causam confusão e inquietação à


cerca do futuro dos media e do jornalismo. No último capítulo expomos algumas conclusões e
propomos reflexões não apenas sobre o caso #OnibusSm – tema-chave desta monografia –,
mas também sobre o jornalismo na sociedade em tempos de meios digitais, pois mais
importante que esses novos meios e jornalismo são as mudanças sociais geradas por eles.
15
Quando os periódicos oferecem vídeo, as emissoras de rádio incluem texto e as redes de
televisão arquivos de áudio, a pergunta necessária é: o que é um meio?
Francisco Vacas

CAPÍTULO I – DOS MEDIA AOS SOCIAL MEDIA

Uma pesquisa etimológica revela-nos que o termo latim “medium” (meio, em


português) deu origem ao inglês “media”, designado, inicialmente, para identificar os meios
de comunicação. Rabaça e Barbosa, no Dicionário de Comunicação, apresentam o conceito de
meio de comunicação:

Canal ou cadeia de canais que liga a fonte ao receptor. Sistema (constituído por
elementos físicos) onde ocorre a transmissão de mensagens. “Meios ou veículos capazes
de assumir formas que tenham características de mensagens ou que transmitam
mensagens” (George Gerbner). Assim como as mercadorias podem atingir seu destino
por vários meios de transporte, as mensagens (vistas como produto material, sequência
de sinais físicos) podem chegar ao receptor utilizando diversos meios (veículos) de
comunicação (1978, p. 305).

O termo media recebe uma variação na língua portuguesa: mídia. Em um outro


dicionário específico da área, Filho menciona que:

A forma brasileira mídia e suas variáveis (multimídia, intermídia, hipermídia etc.) é


uma construção linguística espúria, obtida a partir da pronúncia norte-americana do
termo media e não se justifica essa incorporação ilegítima e empobrecedora, já que o
termo medium é latino, como é a própria língua portuguesa, e nos data da forma
linguisticamente mais correta do termo media. Além do mais, mídia é obrigatoriamente
uma expressão no plural, cabendo, no máximo, a pronúncia “os mídia”, devendo,
contudo, a escrita manter a expressão os media (2009, p. 249).

Além deste apontamento feito por Filho, devemos observar que media é sinônimo de
mass media desde o século XIX. Guardemos essa questão para mais adiante. Antes, voltemos
um pouco mais no tempo.

A noção de media é tida desde tempos remotos. Antes de empregar-se o termo aos
meio de comunicação de massa, os livreiros7 eram vistos como “intermediários” entre

7 Os vendedores de livros multiplicaram-se após a invenção da prensa de Gutemberg, em meados do século


XV, que permitiu a reprodução em grande quantidade de obras até então manuscritas. O conceito de obra
também veio a ser revisto por autores como Theodor Adorno, Humberto Eco que acreditavam que a
serialização das obras descaracterizam-nas como tais.
16
escritores e leitores (BRIGGS; BURKE, 2004). Porém, a tábua de argila, a escritura egípcia
nas paredes, os rolos de pergaminho escritos à mão com tinta podem ser considerados os
primeiros media da história – mesmo que não fossem entendidos como tais às suas respectivas
épocas. Para Sousa:

A noção de media contém em si a noção de intermediário. Os media – ou meios de


comunicação – são dispositivos tecnológicos que suportam mensagens e permitem a sua
difusão. São intermediários entre um ou mais emissores e um ou mais receptores (2006,
p. 537).

O senso comum, todavia, considera como medium (ou mídia) os emissores e as


mensagens. Isso é esclarecido se entendermos que essa consideração parte inicialmente do uso
de figuras de linguagem, como demonstram os exemplos a seguir:

a) “A mídia é sensacionalista.” (mídia = emissor)


b) “Mantenho-me informado lendo mídias impressas.” (mídia = mensagem)

Com uma simples reflexão constatamos que:

• No primeiro enunciado temos uma prosopopeia8. A mídia (meio) não é sensacionalista,


e sim o emissor.
• No segundo enunciado temos uma metonímia9. Eu não leio mídias (meios), mas sim
através delas.

Desconsideremos, por hora, esses dois entendimentos já convencionalizados


socialmente e pensemos em mídia apenas enquanto meio (canal de comunicação). Esses
meios, com relação à técnica, são divididos em analógicos e eletrônico/digitais. Além disso, as
mídias têm um potencial de alcance de audiência para difusão de informação – em geral
determinado por limitações de alcance geográfico. Elas podem alcançar um único indivíduo,
um grupo restrito deles ou mesmo uma massa generalizada. Este último potencial remete à
expressão mass media (meios de comunicação de massa ou mídias massivas) – que
mencionamos anteriormente. O jornal impresso é o primeiro meio de comunicação de massa
depois do livro. No entanto, foi a televisão que se consagrou o meio com maior potencial

8 Prosopopeia: figura de estilo que consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais sentimentos
ou ações próprias dos seres humanos.
9 Metonímia: figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de
semelhança ou a possibilidade de associação entre eles.
17
massivo. Por convenção – já que concessões para operar rádio e televisão, bem como as
condições para se manter um grande veículo impresso, inferem historicamente poder
aquisitivo – os mass media são relacionados a grandes conglomerados midiáticos.

Os indivíduos desligados dessas empresas de comunicação não deixaram de criar suas


próprias mídias de forma independente – que em geral não alcançavam grandes audiências,
mesmo que algumas delas tivessem potencial para tanto – fenômeno chamado aqui de self
media. Exemplos podem ser resgatados desde os panfletários – que circulavam paralelamente
(e fazendo oposição) aos grandes informativos, em geral, subsidiados por governantes,
autoridades – até os ainda contemporâneos jornais de condomínios e sindicatos, além das
rádios piratas e comunitárias.

Hoje, todavia, é nítida a extrapolação desses media (mass e self). Há confusão nos seus
papéis e características devido, principalmente, às tecnologias da informação e comunicação
(TIC) e ao ciberespaço que permitiram, por exemplo a ruptura dos limites geográficos pelos
self media. Segundo Lemos:

No fim do século XX, com o surgimento das mídias “pós-massivas” (eletrônico-


digitais), a relação com o espaço passou por transformações a partir da liberação da
emissão e da conexão generalizada por redes telemáticas. Elas estão reconfigurando a
indústria cultural do século XXI. Do fluxo massivo editado por centros de controle,
assistimos a emergência de formas comunicacionais horizontais e multipolares (2007, p.
9).

Atualmente, aquilo que Lemos chamou de função massiva perde força. Por função
massiva compreende-se um fluxo centralizado de informação com controle editorial do polo
da emissão por grandes empresas em processo de competição, financiadas pela publicidade;
busca pelo hit, o sucesso de massa, que mantém as verbas publicitárias (LEMOS; LÉVY,
2010). O que era fluxo massivo nas mídias, como a TV, o rádio e o impresso, passa a
desempenhar agora o que o autor sugere chamarmos de “função pós-massiva”, função
personalizável, interativa, estimulando não só o consumo, mas também a produção e a
distribuição de informação. As novas mídias, como a internet, os telefones celulares, os
microcomputadores, assim como os softwares, agentes e inúmeras ferramentas de
comunicação, podem desempenhar funções abertas, colaborativas, interativas, distributivas,
“pós-massivas” (LEMOS; LÉVY, 2010). Esses processos coexistem, como conclui Lemos:
18
A paisagem comunicacional contemporânea é formada hoje por processos massivos,
com o fluxo informacional centralizado, e pós-massivos, customizados, onde qualquer
um pode produzir, armazenar e circular informação sobre vários formatos e modulações.
É o que o Castells chama de 'mass self communication' (2007, p. 9).

A descrição sintética do cenário da comunicação contemporânea baseada nas palavras


de Lemos é significante. Para a melhor compreensão desse cenário, pensemos agora nesses
processos (massivos e pós-massivos) separadamente.

1.1 Mass Media

Considerando a etimologia de mass media, observemos o conceito apresentado por


Filho:

Mass, do inglês, massa; adicionado com o termo media, plural do termo latino medium,
meio condutor, espaço intermediário (na física, medium é corpo ou ambiente que atua
como suporte para ocorrência de fenômenos de propagação). Mass media é termo
anglo-saxão do início do século XX utilizado para caracterizar o conjunto dos meios de
comunicação de massa10, especialmente as cadeias suprarregionais de difusão,
inicialmente em rádio e nos veículos impressos, jornais e revistas, que passaram a ter
tiragens em alta escala (2009, p. 242).

A primeira mídia direcionada a uma massa, como já mencionamos, foi a impressa


(destacando-se o jornal). Isso foi possível devido principalmente a Johannes Gutenberg que
inventou, em 1455, a imprensa com tipos móveis reutilizáveis. No entanto, como é
mencionado acima, foi no início do século XX, com o rádio – que, assim como os impressos,
tinha um caráter mais local – e, posteriormente, com a televisão – tecnologia com maior faixa
de alcance, considerando sua transmissão via satélite ou cabo 11 – que passou-se a falar em
10 O termo mass media, em verdade, é equivocado, já que medium (e seu plural, media) é, para física, o meio
físico por onde passa o sinal comunicacional, não o próprio veículo que o transporta. No rádio, é o ar que
repercute as ondas sonoras; no cinema, é a luz que permite, atravessando uma película cinematográfica, a
projeção da imagem sobre uma tela; é a água que propaga o som emitido por algum sistema acústico. Quando
se trata de jornais, revistas, radio e televisão, mais certo seria, portanto, falar de veículos de comunicação e
não de meios. Além do mais, a forma original mass media, ambígua em sua criação, pois supõe tanto a
produção em massa de material informativo ou de entretenimento como seu consumo maciço ou “massivo”,
como diriam os países de língua espanhola, não manteve essa ambiguidade na sua conversão para outras
línguas. A tradução portuguesa, por exemplo, optando pelo “comunicação de massa”, perde as duas
dimensões já que a comunicação, no caso, ou é em massa ou é para massas, jamais de massas, já que as
massas não participam do processo de produção da mesma, mas de seu consumo. Meios de comunicação de
massa diferem das formas de produção de comunicação em pequena escala, como a apresentação de uma
dança e a ministração de uma conferência, que são eventos voltados a um público específico, diferenciado,
por vezes personalizado, exatamente o oposto da definição de massa (FILHO, 2009).
11 Segundo Dondor, “os puristas, de maneira mais precisa, dirão: a imprensa paga, a TV aberta e o rádio de
alcance nacional ou local. Porque por trás da ideia de mídia está a ideia de mídias de massa, consumidas pelo
que são: mídias de informação de massa acessíveis a todos” (2007, p. 23).
19
mass media, para tornar mais claro o potencial massivo dos media.

Experiências com ondas de rádio já eram realizadas no final do século XIX, mas a
História costuma mencionar uma experiência de 1906, nos Estados Unidos, como a primeira
transmissão radiofônica do mundo. No Brasil o rádio começou a ser usado em 1922. Poucos
anos depois, ainda na década de 1920, a população conhecia a televisão. No Brasil, a tevê
entrou nas casas da população apenas na década de 1950.

Ainda devemos mencionar que no século XX as fotografias estática e em movimento


(cinema) também se popularizaram em todo o mundo como mídias com potencial massivo.
Em 1888, os consumidores norte-americanos e, posteriormente de outros países, conheceram
a primeira máquina fotográfica de funcionamento simples. George Eastman, fundador da
Kodak, havia transformado o que até então era um processo árduo e complicado, em algo
simples e acessível para praticamente qualquer pessoa. Já em 1895, os irmãos Lumière faziam
a primeira exibição de películas cinematográficas em um café parisiense.

Sobre a definição conceitual de mídia massiva, consideremos também as palavras de


Lemos e Lévy:

A mídia massiva [...] são meios informativos utilizados na esfera privada, sem nenhuma
possibilidade de emissão. Esses produtos da mídia massiva são, erroneamente,
chamados de meios de comunicação de massa. Eles cumprem efetivamente um papel
comunicacional, mas apenas por sua função informativa. Assim, televisão, rádio,
revistas e jornais são meios que não permitem o estabelecimento de processos
comunicativos mais amplos e profundos, com formatos comunicacionais de mão dupla e
efetiva troca entre consciências. Na verdade, são meios de informação que não
permitem nenhuma interação, a não ser, indiretamente, pela interpretação e demais
processos simbólicos de recepção e formação de opinião pública (2010, p. 44-45).

Apesar da problematização feita pelos autores, não podemos desconsiderar que jornal
impresso, rádio e televisão são, até hoje, os maiores representantes da mídia massiva, também
chamada de “grande mídia”, mesmo que tenham mera função informativa – o que, para
Lemos e Lévy, parece descaracterizar um efetivo processo de comunicação. Outro fato é que
esses meios transmitem o conteúdo informativo pensando sempre em aumentar suas
audiências, das quais a publicidade tira proveito.

Em outras palavras, mass media são meios com potencial de difusão de informação
para grandes massas. Sousa amplia esse conceito e apresenta os maiores problemas atribuídos
20
à expressão:

Mass media são os meios que permitem a difusão de uma mesma mensagem a uma
audiência vasta e heterogênea. Este conceito está na base do conceito de comunicação
de massas (mass communication). No entanto, como o conceito de comunicação de
massas pressupõe, de certa forma, uma audiência passiva, que se comporta
homogeneamente na sua heterogeneidade, foi sendo substituído por outras designações,
que dão melhor conta da individualidade e capacidade reativa e interpretativa de cada
receptor/destinatário, bem como da elevada heterogeneidade e segmentação – que chega
à personalização e individualização – de meios e mensagens. A designação
“comunicação social”, por exemplo, foi proposta pelo Concílio Vaticano II para
substituir o termo “comunicação de massas” (2006, p. 81).

Passividade e uniformidade. Esses fatores são criticados desde os primórdios dos


estudos em Comunicação e tornaram as mídias massivas, de certa forma, grandes vilãs do
século XX. “Os meios massivos decidem o que expor e o que ignorar, outorgando relevância a
certos conteúdos em detrimentos de outros, com a finalidade de conquistar a atenção dos
usuários e, em alguns casos, impor ideias políticas” (KUKLINSKI, 2009, p. 259). Entretanto,
o que mais se discute até hoje é o fator “um-todos”, ou seja, a forma de emissão de ponto a
massa – “de um (único) emissor a uma miríade de receptores” (VACAS, 2010, p. 31). Essa
comunicação unilateral – que caracteriza o que chamamos de difusão – não permite o
intercâmbio (VANOYE, 2006), e é a justificativa dada por Lemos e Lévy quando os autores
questionam a expressão meio de comunicação de massa. Não podemos, todavia, criticar os
mass media sem considerarmos ao menos um fator: eles difundem unilateralmente, na maioria
dos casos, devido às suas limitações técnicas12.

No início dos anos 1930, estudos que corroboram com essa ideia apontavam os
receptores dos mass media como sendo uma massa homogênea, sem capacidade de resposta,
alienada13. De fato, os mass media são símbolo de uma época em que o fluxo comunicacional
é unívoco, já que o receptor das mensagens restringe-se a esse papel. Essa ideia de massa,
todavia, já passava a ser desconsiderada pela grande mídia por volta da década de 1950.
Atentando para as diferenças na audiência – indivíduos que, como veremos adiante, passavam
a produzir de forma independente cada vez mais –, a produção, mesmo serializada, passou a
ser gradativamente segmentada. Os mass media são estruturas altamente organizadas que
buscam satisfazer as preferências e as exigências dos setores do público que representam a

12 Vanoye (2006) cita o exemplo de jornais, rádio, televisão. Eles não permitem o intercâmbio, exceto através
de outros meios, como a carta do leitor (no caso dos impressos) e peguntas feitas ao telefone (o que acontece
no rádio e na televisão).
13 Essa ideia é base da Teoria Hipodérmica. Ler: WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. 5ª ed. Lisboa:
Presença, 1999.
21
maior parte do mercado para que possam se manter (CÂMARA, 1999). Como dependem da
publicidade, não podem fugir desta lógica. Logo, essa segmentação, esse “estreitamento” não
deixava de ser uma estratégia que visava lucratividade.

Esta espécie de submissão da imprensa e da indústria do entretenimento às opiniões


das multidões tem uma motivação essencialmente econômica. Então foi para que as multidões
não deixassem de os comprar que os jornais foram obrigados a transformar-se “em meras
folhas de informação, onde abundam crônicas divertidas, mexericos mundanos e propaganda
financeira” (SERRA, 2007, p. 147), da mesma forma que e a televisão atentou, por exemplo,
para as especificidades do público jovem.

O seriado Batman – que passou a ser transmitido nos anos 1960 – não seria
exatamente um exemplo da segmentação, mas ilustra outra questão dos mass media. Por mais
que a massa já não fosse vista como amorfa, homogênea, ela continuava passiva 14 (no sentido
da unidirecionalidade da emissão). E isso, como vimos no início do capítulo, é algo
incorrigível pela própria natureza desses meios. Indiferentemente disso, o caso desse
programa de televisão é interessante pela frase “Tune in tomorrow – same Bat-time, same
Bat-channel!” – adaptada no Brasil para “Atá amanhã, na mesma Bat-hora, no mesmo Bat-
canal” e inspiração para outras adaptações que se tornaram clichê da televisão brasileira. O
enunciado – abusando da persuasão –, mesmo que pudesse não convencer, ajudava a manter
um público cativo – criava um vínculo, uma artificial relação de intimidade entre emissor e
receptor –, já que àquela época não existiam tantas opções de entretenimento como existem
hoje.

Figura 1: Seriado Batman transmitido nos anos 1960 na televisão norte-americana


Fonte: http://tinyurl.com/24jds2y

14 Notas sobre estudos de recepção e discussões sobre passividade podem ser vistas em: WOLF, Mauro. Teorias
da Comunicação. 5ª ed. Lisboa: Presença, 1999.
22
Observemos, porém, que a segmentação é apenas um primeiro passo para aquilo que viria ser
uma espécie de revolução da comunicação mediada. E, como menciona Sousa, o indivíduo
“comum” foi também responsável por isso:

A utilização dos meios com potencial de comunicação massiva por indivíduos ou


pequenos grupos também contribui para desacreditar o conceito de comunicação de
massas e para pôr em destaque a desmassificação da produção e do consumo de
produtos comunicacionais, que se iniciou com o processo de segmentação e
especialização dos meios de comunicação e se desenvolveu com a utilização individual
dos meios de comunicação, a interatividade, a personalização das mensagens recebidas
por um receptor, etc. (2006, p. 81)

Entretanto, manifestações e produções feitas através de self media dificilmente


preocupariam a grande mídia. Fanzines, vídeos caseiros, pequenos jornais não costumavam
influenciar a economia das empresas do mainstream15, principalmente pelo fato de não
circularem para além de pequenos grupos – mesmo que por vez seus meios tivessem, em
teoria, função (potencial) massiva. Falemos, então, desses self media.

1.2 Self media

Paralelamente aos meios de comunicação coletivos – os mass media – a técnica


moderna facultava ao homem os meios individuais, que Jean Cloutier viria a designar de self
media, meios baseados na gravação, como a fotografia, o primeiro media individual – os self
media baseiam-se no registro das mensagens individuais ou de grupos (RODRIGUES,
2009)16. Em 1975, Cloutier lançou A era do Emerec. No livro, o autor defendia que as novas
tecnologias da informação, aliadas a custos acessíveis à massa, possibilitavam a potencializam
do fenômeno. Para ele os self media são instrumentos que permitem a criação e o acesso à
informação por seleção, reprodução e registo individual. Estes media são caracterizados por
estarem disponíveis através de uma vontade de procura orientada por classes ou grupos de
interesse e ainda por o produtor e o receptor da informação poderem ser o mesmo agente. Isto
é, cada um dos utilizadores da informação é em simultâneo o seu produtor (CLOUTIER,
1975). Daí a expressão Emerec – presente no título da obra canadense –, que é a aglutinação
das palavras émetteur (emissor) e récepteur (receptor).

15 Mainstream media (mídias da corrente principal, em português) é outra expressão referente à grande mídia.
Ela é usada, por exemplo, por Chris Anderson (2006) no livro Cauda Longa.
16 Original: Les self-média sont basés sur l'enregistrement des messages individuels ou de groupes (Cloutier,
1975, p.15).
23
Self media infere, em sua essência, amadorismo (por mais que esse modelo esteja
sendo quebrado atualmente); infere desligamento de empresas de comunicação, pois era
justamente a impossibilidade de criação e transmissão de conteúdo nos mass media que
fizeram os indivíduos buscarem meios alternativos.

Cloutier identificou quatro momentos da História da Comunicação. “Comunicação


interpessoal” (gestual e verbal); “comunicação de elite” (aparece a escola como organização e
sistema); e “comunicação de massa” (a escola não é mais a única instituição transmissora de
conhecimento). A “comunicação individual” seria, para o autor, o quarto momento, justificado
pela possibilidade de acesso do homem a todo o conhecimento e pelo poder de exprimir-se
através dos self media. De acordo com Rodrigues (2009), “esta fase, ou como Cloutier
sugeria, este episódio, da vida do homem enquanto emissor e receptor, começou durante o
apogeu da era da comunicação de massa” – na segunda metade do século XX. Datar o
fenômeno sincronizando-o apenas com o desenvolvimento dos primeiros computadores é, em
parte, um equívoco. O próprio Cloutier menciona que os primeiros self media foram as
câmeras fotográficas portáteis. Mas, como foi mencionado no início do subcapítulo, a
tecnologia apenas potencializou essa produção que era suprimida pela reprodução massiva
desde o início do século passado.

O modelo clássico da indústria do entretenimento separava nitidamente o conteúdo


elaborado pelos profissionais do setor que trabalhavam para/nos grandes meios de os
produzidos esporadicamente por amadores, que Vacas (2010) chama de “user generated
content”17 (conteúdo gerado pelo usuário). O alto custo dos equipamentos de produção e –
sobretudo – o limitado acesso às redes de distribuição que faziam chegar os conteúdos a seus
consumidores potenciais foram os principais motivos da assimetria do mercado. Era fácil
distinguir um conteúdo amador de um elaborado pela indústria.

A seguir, comparamos esteticamente a capa de 1979 da revista Veja – profissional


(Figura 2) – com a capa de 2010 do fanzine Estúdio de ideias – amador (Figura 3). A Veja foi
criada em 1968 e, atualmente, com uma tiragem superior a um milhão de exemplares, é a
revista de maior circulação no Brasil. Já o Estúdio de Idéias foi criado em 2009, mas busca
resgatar o espírito amador das antigas publicações self media, por isso ilustra bem o que

17 Segundo Vacas (2010), um conteúdo produzido por um usuário converte-se em UGC quando os demais
podem acessá-lo (publicamente), o que implica teoricamente uma vontade explícita de seu criador.
24
queremos explicitar. Atentemos para o considerável contraste entre os mass media e os self
media:

Figura 2: Capa da revista Veja de março de 1979


Fonte: Blog Boteco do Edu - http://tinyurl.com/27gnvkr

Figura 3: Capa do fanzine Estúdio de ideias de janeiro de 2010


Fonte: Blog Fanzine de ideias - http://tinyurl.com/24fwapb
25
Podemos ver que enquanto a capa da revista Veja, apresentada na figura 2, usa
recursos como impressão colorida e sofisticação gráfica, a capa do fanzine Estúdio de ideias,
na figura 3, são basicamente artesanais e usam recortes, desenhos, colagens, etc. Isso porque a
Veja, que pertence a uma grande empresa midiática – a Editora Abril – que dispunha de
tecnologia de ponta para a produção de seu material impresso. Por outro lado, o fanzine
Estúdio de Idéias faz aquilo que era a prática comum na era pré-internet, uma produção
precária que, mesmo criativa, restringe-se a técnicas manuais como a escrita e o desenho.

Falamos no início do capítulo sobre potenciais de alcance de audiências. Segundo


Vacas, “o surgimento da internet permitiu a conversão dos usuários em produtores e
distribuidores do seu próprio conteúdo” (2010, p. 47-48) em escala global; também permitiu
que as diferenças entre profissional e amador fossem amenizadas. É válido ressaltarmos que a
neutralidade da rede18 também foi fundamental para a explosão dos conteúdos gerados por
usuários, por tratar os bits indiscriminadamente, não privilegiando amador ou profissional.

Um meio com potencial de alcance global, suporte para produção de qualidade e


iguais condições na rede. Esses fatores colocam nas mãos dos indivíduos (amadores) a
oportunidade de transmitirem a si mesmos – como o próprio YouTube sugeriu em seu slogan
– “Broadcast yourself”, (transmita-se, em português) – de forma competitiva com as empresas
(profissionais).

Para os produtores dos mass media restaram a adaptação ou a extinção19.


Desconsiderando a segunda opção e visando a coexistência com os produtores dos self media
no ciberespaço – que é potencialmente social20 –, eles se apropriam de todas as ferramentas e
plataformas, o que gera ambientes híbridos, com os dois tipos de usuário – mass e self –
coexistindo; ainda promovem uma interatividade às vezes superficial, e a personalização
automatizada de conteúdo através de softwares coletores de dados. Além disso, com um
potencial de alcance de audiência superior ao que seria considerado um nível massivo (da
televisão, por exemplo), o ciberespaço permite a existência de uma sociedade global, que

18 Neutralidade da rede é uma expressão proposta por Tim Wu, professor da Columbia Law School, integrante
do grupo de reforma da mídia da Free Press, e um dos principais articuladores do movimento Save the
Internet.
19 Essa ideia é apresentada também por Roger Fidler, em Mediamorfosis (1998).
20 Castells (2003) refere-se ao fato de a internet ter sido desenvolvida com o ideal de libertação da grande
mídia, o que intensifica o acreditado potencial social da rede. Ler: CASTELLS, Manuel. A galáxia da
Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
26
entende as diferenças dos seus membros e percebe as individualidades de cada um.
Computadores e dispositivos móveis, portanto, permitem a inserção das pessoas em diferentes
grupos no que chamamos de social media.

1.3 Social media

Social media é uma expressão inglesa traduzida para o português como mídias sociais.
Na página da Wikinvest21, ela própria um meio de comunicação social, encontramos a
definição: “mídias sociais descrevem sites que permitem aos usuários o compartilhamento de
conteúdo, mídias, etc”22. De acordo com a Wikipédia23, outro meio social:

as mídias sociais são meios de interação social, usando técnicas de edição muito
acessível e escalável. A mídia social utiliza tecnologias baseadas na Web para
transformar a comunicação em diálogos interativos. Andreas Kaplan e Michael
Haenlein também definem meios de comunicação social como "um grupo de aplicações
baseadas na Internet que constroem as bases ideológicas e tecnológicas da Web 2.0, que
permitem a criação e troca de conteúdo gerado pelo usuário"24.

Para Lemos e Lévy (2010), essas novas mídias atuam a partir dos princípios de
liberação da emissão, da conexão permanente em redes de conversação e da reconfiguração
da paisagem comunicacional que tem implicações nas dimensões sociais, culturais e políticas.

A necessidade ancestral do ser humano de pertencer a grupos afins – tribos – e


compartilhar experiências (VACAS, 2010) justifica o sucesso das novas mídias. A sociedade
contemporânea, individualizada e fragmentada no mundo atômico, está em rede no mundo
dos bits. Computadores e dispositivos móveis conectados entre si – em rede – são as mídias
que chamamos de sociais – os social media25. Através delas, a comunicação não ocorre apenas
“de um para muitos”, mas é potencializada pela interação “de muitos com muitos”. Enquanto
os mass e os self media – diferenciados apenas pelo fato de os primeiros serem produzidos por

21 http://www.wikinvest.com
22 Social media describes websites that allow users to share content, media, etc. (Tradução livre)
23 http://www.wikipedia.org/
24 Original: Social media are media for social interaction, using highly accessible and scalable publishing
techniques. Social media uses web-based technologies to turn communication into interactive dialogues.
Andreas Kaplan and Michael Haenlein also define social media as "a group of Internet-based applications
that build on the ideological and technological foundations of Web 2.0, which allows the creation and
exchange of user-generated content".
25 Também chamado de Socialcast, expressão inspirada no broadcast. Ver: FERNANDES, Manoel (Org.). Do
Broadcast ao Socialcast: Como as redes sociais estão transformando o mundo dos negócios. São Paulo: W3
Geoinformação, 2009.
27
empresas de comunicação, e os segundos por indivíduos independentes delas – promovem
uma comunicação unidirecional, os social media baseiam-se no diálogo e na colaboração. Em
relação a esses meios, é interessante mencionarmos as palavras de Igarza:

É um fenômeno, em todo caso, de troca profunda na comunicação, um fenômeno na


forma de relacionar-se e, como tal, é um fenômeno social com as implicações que tem
todo o fenômeno desta natureza. As dimensões disruptivas desta transformação são
tanto espaciais, temporais como relacionais (2009, p. 94)

A internet é a maior rede de comunicação e, como menciona Vacas, “se converteu em


uma caixa de ressonância de múltiplas vozes”. (2010, p. 121). Segundo o autor:

Quando a internet deixou de ser exclusivamente uma rede acadêmica e científica, ela se
converteu em um novo meio ao alcance de um crescente número de usuários não-
profissionais, a rede foi perdendo seu inicial caráter textual em favor de um mais
plenamente multimídia (VACAS, 2010, p. 93)26.

As primeiras formas de agregação de pessoas ao redor dos computadores surgem na


década de 1970 nos Estados Unidos. O crescimento da internet nos anos 1980, paralelo ao dos
computadores pessoais, permitiu que redes de indivíduos e instituições começassem a
alimentar e explorar o ciberespaço (LEMOS; LÉVY, 2010). Do ciberespaço, surgiu a
cibercultura, entendida por Lemos e Lévy como:

O conjunto tecnocultural emergente no final do século XX impulsionado pela


sociabilidade pós-moderna em sinergia com a microinformática e o surgimento das
redes telemáticas mundiais; uma forma sociocultural que modifica hábitos sociais,
práticas de consumo cultural, ritmos de produção e distribuição de informação, criando
novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação
social (2010, p. 22).

Passou-se a falar sobre vida virtual27 – ou digital ou, ainda, online. Aqui, defendemos
que o virtual é real. De acordo com Lévy, “ele existe sem estar presente” (1999, p. 48). Existe
vida no ciberespaço, mas ela é constituída por códigos binários, por bits. A vida virtual é uma
extensão não-física da vida no mundo dos átomos. As redes sociais 28 seriam, metaforicamente,

26 Cuando Internet dejó de ser exclusivamente una red académica y científica y se convirtió em un nuevo medio
al alcance de un creciente número de usuarios no profesionales, la red fue perdiendo su inicial carácter
textual em favor de uno ya más plenamente multimedia (VACAS, 2010, p. 93)
27 O espaço virtual compreende o conjunto aberto ao infinito de maneiras de organizar os signos digitais
copresentes na rede. Cada espaço atual (definido por um sistema de classificação) pode ser considerado como
uma 'dimensão' do espaço virtual (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 203).
28 Sites de rede social com serviços baseados na web que permitem aos indivíduos construir um perfil público
ou semi-público dentro de um sistema limitado, articular uma lista de outros usuários com quem eles
compartilham uma conexão, e ver e percorrer suas lista de conexões e aquelas feitas por outras pessoas
dentro do sistema (BOYD; ELLISON, 2007).
28
nações dentro das quais existem grupos de indivíduos que compartilham signos e têm
interesses comuns. Esses grupos são as comunidades virtuais. Em síntese, Lévy diz que “uma
comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre
projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independente das
proximidades geográficas e das filiações institucionais” (1999, p.127)29. O autor ainda diz
que:

Um grupo humano qualquer só se interessa em constituir-se como comunidade virtual


para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido,
mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado.
O ciberespaço talvez não seja mais do que o indispensável desvio técnico para atingir
a inteligência coletiva (LÉVY, 1999, p. 130).

Mesmo inconscientemente, a sociedade contemporânea está desenvolvendo isso que


Lévy denominou inteligência coletiva, “uma inteligência distribuída por toda a parte,
incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização
efetiva de competências” (2007, p. 28). Para Lemos e Lévy, “a computação pessoal aumenta
as possibilidades da inteligência coletiva” (2010, p. 14). Wikis 30, redes sociais31 (generalistas
ou de nicho) e blogs facilitam a construção de inteligência coletiva.

A essência da cibercultura parece emergir de três tendências em ressonância mútua: “a


interconexão, a criação de comunidade e a inteligência coletiva” (LEMOS; LÉVY, 2010, p.
14). Distribuição livre, produção além do controle do polo de emissão e customização são
algumas das principais características ciberespaciais – logo, dos social media. Observemos:

• Distribuição – qualquer rede digital podia agora distribuir qualquer conteúdo digital.
Isso propiciou um cenário 'todos contra todos'.

• Produção - A introdução massiva no mercado de equipamentos cada vez mais baratos


e potentes fez com que, na lógica, surgissem mais empresas e profissionais capazes de

29 Lemos e Lévy sintetizam ainda mais o conceito dizendo que “comunidade virtual é simplesmente um grupo
de pessoas que estão em relação por intermédio do ciberespaço” (2010, p. 101)
30 Os termos wiki e WikiWiki são utilizados para identificar um tipo específico de coleção de documentos em
hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo (Fonte: Wikipédia).
31 Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários
tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características fundamentais na
definição das redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos horizontais e não
hierárquicos entre os participantes. "Redes não são, portanto, apenas uma outra forma de estrutura, mas quase
uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente"
(Fonte: Wikipédia).
29
oferecer conteúdo a menor custo. Além disso, considerando que esses equipamentos
eram cada vez mais fáceis de manejar (amigáveis), os consumidores se converteram
em produtores e, na lógica pré-internet, esses amadores “entraram no mercado”
(VACAS, 2010).

• Personalização – A Internet de hoje se tornou a suporte ideal para o crescimento da


“mídia do eu”. A cada dia são combinadas informações demográficas do usuário, o
contexto da informação e dados comportamentais para oferecer um novo mosaico
midiático e retirar da nuvem de informações do ciberespaço a informação que o
usuário se interessa, no momento que ele tem interesse, com a profundidade que ele
costuma ler ou acessar. O uso do mapeamento por etiquetas – o tagging – ainda faz
com que essas máquinas, futuramente providas de sistemas baseados em inteligência
artificial, proponham para o usuário, consumidor da mídia, um universo de
informações calcado nos seus interesses individuais, e não mais de segmentos
particulares como fazemos hoje (DUGUAY; PATRIOTA, 2010).

Derivada dessas características, nos deparamos com o fator atividade. Mas o que
tornou o público realmente participativo, “ativo”? Resumindo Vacas (2010), constatamos dois
motivos: o primeiro deriva-se da lógica renovação geracional do público dos meios, o que
significa que nesses anos se incorporaram boa parte dos jovens 'nativos digitais' – criados em
um entorno 100% digital – importando ao passivo mundo mainstream suas lógicas interativas.
O segundo é a popularização de determinados aplicativos de internet como blogs, salas de
bate-papo, mensageiros instantâneos e redes sociais, que estenderam a cultura da participação
ativa do usuário, demonstrando também que esta é a essência dos novos meios. Mencionando
Saffo (2005), na era da televisão o difícil – senão impossível – era participar, mas agora no
novo entorno dos social media, é difícil ser passivo (VACAS, 2010). Temos um novo receptor
que é, ao mesmo tempo, produtivo e comunicativo. Misturam-se o tempo e o espaço, o
emissor e o receptor, o consumo passivo e a crítica seletiva, cria-se um ambiente
comunicativo, como já mencionamos, híbrido. Isso é exemplificado adiante com a captura de
tela da busca pela banda norte-americana de rock Aerosmith no site de compartilhamento de
vídeos YouTube32. Veremos, dentro de retângulos contornados de vermelho, os resultados da
pesquisa referentes a grandes empresas detentoras de direitos autorais do material postado. Os
resultados sem destaque são de postagens independentes, de indivíduos comuns, que não
32 www.youtube.com
30
possuem direito sobre aquele material. Observemos:

Figura 4: Busca por Aerosmith no YouTube, a divisão do espaço por mass e self media
Fonte: http://www.youtube.com/results?search_query=aerosmith&aq=f

Na imagem acima podemos observar a divisão do espaço entre grandes empresas e


indivíduos comuns no YouTube. Um site alimentando por aqueles que seriam os tradicionais
self e mass media pode ser considerado híbrido. Quando buscamos a palavra “Aerosmith”,
vemos um equilíbrio nos resultados. Ainda podemos ver que a Vevo 33 ocupa, entre outros, um
espaço privilegiado – pago – no topo dos resultado (retângulo maior).

Na internet é desconsiderado o princípio do público cativo – original dos mass media.


Como exemplo, Vacas (2010) menciona que os usuários da rede mantêm a fidelidade a um
buscador ou a qualquer aplicação simplesmente até que apareça outro melhor, e que uma das
razões para isso está em outro princípio da internet: o tempo online não é equivalente ao real
(offline), sendo que transcorre muito mais depressa e os usuários não querem perder um
segundo (VACAS, 2010). Outro exemplo seriam os produtores de conteúdo. Um produto
melhor geralmente terá preferência independentemente de ter sido feito por um profissional
ou um amador. Isso tem permitido o sucesso de muitos indivíduos anônimos, como a
portuguesa Ana Free, que após gravar e disponibilizar vídeos em que aparece cantando no
YouTube, foi convidada a participar de programas de entretenimento nas mídias tradicionais e

33 Site de videoclipes e entretenimento que pertence a empresas da grande mídia.


31
ainda gravou um álbum, caso ilustrado na figura 5, a seguir:

Figura 5: Ascensão de Ana Free: do YouTube ao mainstream


Fonte: Site Oficial da Ana Free: http://www.anafreemusic.com/

Buscando fazer parte da grande mídia, muitos pequenos criadores utilizam as


plataformas digitais para auto-promoção, por ser uma forma barata e de amplo alcance
(VACAS, 2010). Ana Free ganhou popularidade com seus vídeos caseiros postados no
YouTube e conseguiu chamar a atenção de grandes empresas do entretenimento. Ela gravou
um álbum e participa de programas de televisão e rádio. O caminho contrário também
acontece. O banda sueca Heat participou de um concurso de talentos na televisão. Ela não
venceu, mas o vídeo de sua participação foi postado no YouTube e a banda se tornou sucesso
ao redor do mundo.

Figura 6: Ascensão de Heat: do mainstream ao YouTube


Fonte: Site Oficial do Heat: http://www.heatsweden.com/
32
Castells chama esse fenômeno de comunicação de massa autocomandada. “É
comunicação de massas porque é difundida em toda a internet, podendo potencialmente
chegar a todo o planeta. É autocomandada porque geralmente é iniciada por indivíduos ou
grupos, por eles próprios, sem a mediação do sistema de media” (CASTELLS, 2005, p. 24).

Neste capítulo observamos, em síntese, que os media têm potencial de alcance de


audiência variável, e que geralmente esse potencial reflete seu caráter profissional ou amador,
considerando que os mass media (referentes aos canais ou veículos de grandes empresas da
comunicação) são consumidos por massas de pessoas, e que os self media (canais ou veículos
de pequenas empresas ou de um único indivíduo) não alcançam grandes audiências. Ainda
vimos que os social media, com um potencial de alcance de audiência flexível – do individual
ao global –, são usados tanto pela grande mídia quando por indivíduos independentes dessa
grande mídia.

Expostas e discutidas questões referentes aos media, podemos agora direcionar nosso
trabalho especificamente ao jornalismo.
33
Na web, ao contrário da mídia impressa, a relevância de uma notícia não é determinada pelo
lugar em que é disponibilizada na página, mas pelo que as pessoas pensam dela.
Chris Anderson

CAPÍTULO II – O JORNALISMO DIGITAL

Desde que a internet passou a ser utilizada para transmissão de informações de caráter
jornalístico, fala-se do fim do jornalismo nos meios de comunicação tradicionais. O tema
ainda é motivo de divergências, mas aos poucos torna-se consenso que o jornalismo
convencional – do impresso ao televisivo – dificilmente será extinto. Ele deve sim continuar
sofrendo transformações, da mesma forma que outros produtos (não jornalísticos) da mídia
sofrem. Isso é inevitável, considerando que as novas mídias permitem uma comunicação
diferente das suas antecessoras.

Segundo Palacios (2003), o jornalismo digital34 possui seis características.


Sintetizamos a proposição do autor:

• multimidialidade/convergência – um fato jornalístico pode ser apresentado em um


produto único, apresentando uma narrativa que utiliza texto, áudio, imagens estáticas
ou em movimento, etc.
• interatividade – o receptor sente-se parte do processo jornalístico, pois pode
comentar, opinar, ampliar publicações; ele ainda pode construir seu próprio produto.
• hipertextualidade – permite ao usuário diferentes trajetórias de leitura através da
interconexão de textos;
• personalização/customização – o indivíduo pode receber apenas informações de
acordo com seus interesses pessoais, de forma bastante específica; também pode
configurar páginas para abrirem com determinado layout, etc.
• memória – o armazenamento de informações é mais viável técnica e economicamente
pois não ocupa espaço físico nem consome matéria prima; além disso, virtualmente,
34 Optamos pelo uso da terminação “digital”, mas outras expressões também designam o jornalismo produzido
e distribuído através da internet, de forma mais ampla ou mais restrita, como jornalismo eletrônico e
ciberjornalismo, respectivamente. Uma discussão sobre o tema é apresentada em: MIELNICZUK, Luciana.
Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual. Tese
(Doutorado em Comunicação e Culturas Contemporâneas), Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia, 2003.
34
torna a informação coletiva.
• instantaneidade – fácil produção e disponibilização de conteúdo, rapidez no acesso e
possibilidade de atualização contínua do material informativo.

Hoje a tendência é que o jornalista seja “multitarefa”. O próprio conceito de redação


(espaço físico) parece estar sendo alterado, já que é cada vez mais comum os jornalistas terem
flexibilidade para trabalhar em casa ou qualquer outro lugar.

No entanto, a característica do jornalismo digital – e dos social media, de forma


abrangente – que mais nos interessa aqui é a interatividade, principalmente porque o
jornalismo clássico – dos mass e dos self media – é unidirecional (por limitações técnicas35) e
possibilidades interativas entre emissores e receptores são quase nulas. Por outro lado, os
social media não apenas permitem a disponibilização do jornalismo – em teoria, profissional
–, mas também de práticas jornalísticas não-profissionais. Discutimos esses dois tópicos a
seguir.

2.1 Jornalismo de referência

Devido à credibilidade atribuída aos mass media e à relação desses com o


profissionalismo, o jornalismo produzido pelas grandes empresas é chamado de jornalismo de
referência. De acordo com Berger (1996), “o jornal de referência pretende testemunhar o
mundo, produzindo um discurso universal e objetivável”. Esse jornalismo, no ciberespaço, já
passou por três fases durante sua evolução: a da transposição, a da adaptação e a da
exclusividade de conteúdos. Hoje, presenciamos ainda uma quarta fase, que envolve a
utilização de ferramentas automatizadas e diferenciadas (sistemas para a apuração, a edição e
a veiculação das informações) na produção de produtos jornalísticos. Essa evolução não é
desconexa da cronologia, o que não significa que as quatro fases – ou gerações – não
coexistam.

O jornalismo digital surgiu no início dos anos 1990. Sua prática restringia-se à
transposição – à realocação – do conteúdo de veículos tradicionais, como o de jornais

35 A atividade do consumidor do jornalismo tradicional, como mencionamos no capítulo anterior, é feita apenas
através de outros meios, como telefone ou carta.
35
impressos, para a internet. De acordo com Mielniczuk, “os produtos dessa fase, em sua
maioria, são simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel, só que para a
web” (2003, p. 33). Além do “Ctrl+C e Ctrl+V” diário – fator humano –, o jornalismo digital
de primeira geração está vinculado a sites estáticos 36 que, de certa forma, podem ser
comparados às mídias tradicionais por praticamente não permitir a interatividade – fator
técnico. Com poucas chamadas e poucos links, os sites costumam parecer mais uma
publicidade para que a população comprasse o exemplar do dia nas bancas.

A segunda fase foi possível devido aos constantes avanços das TIC que possibilitaram,
no final dos anos 1990, mudanças não apenas no jornalismo digital como em todo a web.
Aqui, atualizações no site já podiam ser feitas durante uma edição e outra dos tabloides, e o
uso do e-mail se tornava mais comum na comunicação entre jornalistas e leitores. As
publicações do jornalismo digital de segunda geração se ancoram nos jornais impressos, mas
os jornalistas exploram os recursos hipertextuais (MIELNICZUK, 2003). Superando a mera
transposição, agora a informação começava a ser alterada em termos de linguagem e
narrativa.

Segundo Vacas, “como todo meio, a internet possui códigos, formatos e audiências
próprias, em todo caso, diferentes dos meios convencionais, que tiveram que adaptar seus
conteúdos às características da rede para poderem atuar nela (2010, p. 23). Além das
adaptações dos mass media tradicionais, vemos ainda durante a segunda geração do
jornalismo digital o surgimento de novas grandes empresas – exclusivamente onlines.
Provedores como o Terra (Zaz, na época), o America Online e o Universo Online criaram
portais que misturavam jornalismo – alimentado, em geral, por agências de notícias – e
entretenimento – salas de bate-papo, hospedagem de páginas pessoais e formas primitivas de
comunidades virtuais.

Além de novas empresas da web, popularizaram-se nessa segunda fase extensões de


jornais impressos e dos mass media de forma geral. Eles investiram no ciberespaço para tentar
amenizar a decadência econômica gradativa que atingiu boa parte da grande mídia. Isso é
explicado com as palavras de Valdettaro (2009), ao dizer que uma das características dos
jornais impressos foi sempre sua capacidade de transmitir informação confiável. Essa

36 Um site estático, em síntese, é aquele que o webdesigner desenvolve todo o layout e faz a montagem de suas
páginas Html de forma estática. Nesses sites tanto os textos quanto as imagens são atualizadas através do
webdesigner.
36
confiança nas fontes de informação supõe um capital, para os diários, que parece se
configurar como uma vantagem em relação aos sites, blogs e demais formatos. Em uma
versão mais otimista, é possível uma associação entre o prestígio do impresso com a
flexibilidade da edição eletrônica que, junto a outros meios, formariam conglomerados
midiáticos exitosos.

Já a terceira geração do jornalismo digital é marcada pela produção de conteúdo


exclusivamente para os ambientes digitais37. Já existe uma maior preocupação da parte dos
jornalistas e pesquisadores em relação à estrutura e à estética dos sites; pensa-se na
organização das páginas e em facilitar a navegação nelas; linguagem e tamanho de textos;
ícones, cores e fontes tipográficas também são exemplos – mais técnicos – dos cuidados nesse
novo jornalismo. Além disso, conforme Mielniczuk:

Nesse estágio, entre outras possibilidades, os produtos jornalísticos apresentam recursos


em multimídia, como sons e animações, que enriquecem a narrativa jornalística;
oferecem recursos de interatividade, como chats com a participação de personalidades
públicas, enquetes, fóruns de discussões; disponibilizam opções para a configuração do
produto de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário; apresentam a
utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização das informações
da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa de fatos (2003, p. 36).

A terceira geração do jornalismo digital, caracterizada não só por operadores e equipes


mais sofisticados, maior integração dos usuários na produção dos conteúdos, proliferação de
plataformas móveis e, sobretudo, pela utilização de novos softwares capazes de habilitar
poderosas formas de publicação e formatos de produtos, as aplicações para a implementação
de conteúdo mais original, contextualizado e multimídia passam pela adoção de estruturas de
bancos de dados inteligentes e dinâmicos, funcionando a partir da lógica descentralizada que
rege as redes telemáticas, especificamente a internet (BARBOSA, 2005).

O jornalismo digital de quarta geração, por sua vez, consolidara a utilização de bancos
de dados complexos (relacionais, voltados a objetos) através da utilização de ferramentas
automatizadas e diferenciadas (sistemas para a apuração, a edição e a veiculação das
informações) na produção de produtos jornalísticos (SCHWINGEL, 2005).

Essas características são presenciadas de forma mais significante em determinados

37 Não podemos confundir essa produção com aquela das agências de notícias que geravam conteúdo genérico
– que podia se adaptar a várias mídias.
37
sites. Como já mencionamos, as gerações coexistem. Por isso, ainda podemos encontrar
muitas empresas produzindo jornalismo de primeira ou segunda geração. Da mesma forma,
podemos ver sites misturando características das quatro gerações.

2.2 A abertura do polo emissor e as práticas jornalísticas não-profissionais

Falamos em outros momentos sobre o ciberespaço e sua importância para os social


media. Lemos e Lévy (2010) apontam três características essenciais para a cibercultura:
liberação do polo emissor, princípio de conexão em rede e reconfiguração. Destes três
princípios, o que mais nos interessa aqui – pela relação direta com o jornalismo – é a
liberação da emissão, constatada a partir da liberação da palavra. Para Lemos e Lévy, a
“liberação da emissão (da palavra) constitui a liberação de sons, imagens, textos, produzidos e
distribuídos livremente” (2010, p. 87). Em outras palavras, é o surgimento de funções
comunicacionais pós-massivas que permitem a qualquer pessoa, e não apenas empresas de
comunicação produzir, distribuir e consumir informação sob qualquer formato em tempo real
e para qualquer lugar do mundo sem ter que movimentar grandes volumes financeiros ou ter
que pedir concessão a quem quer que seja. Ainda para Lemos e Lévy (2010), a internet difere
das outras mídias (TV, rádio, impresso) por permitir a expressão individual sem a necessidade
de passar pelo filtro de um jornalista ou de outro mediador. No ciberspaço, pensamentos são
expressos por aqueles que os produzem e os pensam e não por jornalistas obrigados a
simplificar ou mesmo caricaturar por falta de tempo ou de competência.

Percebemos que, apesar de ser um dos princípios da internet, somente nos últimos
anos – com o desenvolvimento de plataformas e aplicativos amigáveis e direcionados à
socialização – presenciamos o ápice da comunicação “todos-todos”, o real sentido da
liberação do polo emissor. Wikis e blogs são exemplos de espaços que se popularizaram
significativamente nos últimos 10 anos. Quem tem acesso à internet dificilmente desconhece a
Wikipédia e nunca publicou ou ao menos acessou ao Blogger38.

Na internet os leitores são também produtores, “jornalistas” potenciais39, e isso

38 http://www.blogger.com
39 Todavia, evitamos chamar os amadores de jornalistas, mesmo sabendo que a profissão só tornou-se
regulamentada há poucas décadas atrás e que práticas de investigação e reportagem de informação decorrem
há séculos de forma não-profissional.
38
representa uma tendência mundial que chamamos de “Pro-Am” – abreviatura de professional
amateurism (traduzido como amadorismo profissional) – na qual indivíduos não-profissionais
exercem funções que necessitam de especialização40. Nessa caso, cada pessoa que se encontra
como testemunha de um acontecimento pode propor para o mundo todo a sua versão dos fatos
(em texto, foto, som ou vídeo).

Para além da questão dos pro-ams, percebemos que com as atuais tecnologias móveis,
esses usuários-produtores desempenham uma função muito maior do que a comunicação
interpessoal. Fala-se também de mobile journalism (jornalismo móvel) ou locative journalism
(jornalismo locativo) para práticas que utilizam essas novas tecnologias para localizar e
publicar notícias seja por jornalistas profissionais, seja pelo cidadão “comum” (LEMOS;
LÉVY, 2010). É cada vez maior o número tanto de profissionais quando de amadores
utilizando dispositivos portáteis como smartphones, netbooks e tablets para a produção e a
publicação de conteúdo jornalístico.

Muitas empresas da grande mídia disponibilizam diferentes versões do seu periódico


adequadas aos diferentes suportes ou meios. No entanto, essas possibilidades de distribuição –
que exigiriam certas plataformas e softwares – ainda não estão ao alcance de todos,
restringindo-se a quem pode pagar por elas, quase sempre as grandes empresas midiáticas.
Aos cidadãos comuns, que não podem pagar por determinadas tecnologias, estão disponíveis
outras opções – não menos interessantes – na Cauda Longa da Informação (ANDERSON,
2006).

2.2.1 A Cauda Longa do Jornalismo e a explosão do microblogging

A teoria da Cauda Longa, aplicada ao jornalismo, permite-nos compreender que na era


da comunicação digital é possível atender às necessidades e desejos de públicos específicos
através das redes, que têm espaço ilimitado para conteúdos tanto da preferência das massas
quanto das minorias. Assim, as notícias que antes eram publicadas com exclusividade pelos
conglomerados – detentores do poder econômico e do prestígio mercadológico – agora
dividem espaço com iniciativas amadoras. Meios diferentes de difusão da informação, que se

40 Pro-Am é um termo cunhado pelo centro de altos estudos inglês Demos. Ler: Leadbeater, Charles; Miller,
Paul. The Pro-Am Revolution How enthusiasts are changing our economy and society. Demos, 2004.
Disponível em: <http://www.demos.co.uk/publications/proameconomy>.
39
espelham no jornalismo para dar forma aos seus produtos, porém, inserem novos elementos
comunicacionais em seus domínios. Exemplo clássico disso são os blogs, que permitem
comentários em postagens, algo inviável . Assim, é extrapolada a ideia de que a divulgação de
notícias é exclusividade dos veículos jornalísticos massivos, bem como a de que emissores e
receptores têm papéis definidos no sistema de produção, emissão e consumo da informação
(BELOCHIO, 2009). Observemos agora o gráfico ilustrativo que representa a produção
versus consumo para que entendamos a teoria da Cauda Longa:

Gráfico 1: A Cauda Longa


Fonte: autoria própria

Belochio, a partir de Anderson (2006), explica que a ideia do gráfico no contexto da


informação, do jornalismo:

No topo da curva da demanda ficam os chamados hits, ou seja, os produtos mais


consumidos, preferidos pela grande maioria do público. Na cauda longa da informação
esse seria o caso dos meios informativos tradicionais, que conquistaram credibilidade
no decorrer de sua história, tais como jornais, emissoras de TV e rádio e outras marcas
mais conhecidas e também atuantes fora do universo digital. Sua presença no
ciberespaço é mais uma forma de projeção de seus conteúdos massivos. Na cauda,
conforme descreve o autor, encontram-se os nichos, aqui entendidos como os meios
alternativos e customizados de informação.

Ponderemos, porém, que a teoria da Cauda Longa não aplica-se ao jornalismo digital
diretamente em relação aos locais onde são produzidos e disponibilizados, mas sim em
relação aos seus produtores e, consequentemente, seus conteúdos. Em outras palavras, não é
necessariamente o suporte da informação que define a posição na cauda, e sim quem a produz,
40
o próprio produto e a credibilidade atribuída a eles. Como a grande mídia costuma ter o maior
número de consumidores seja em seus sites, seja em outras plataformas, poderíamos observar
todos os suportes no topo dos gráficos. O mesmo serve para aqueles produtores e produtos
desligados da grande mídia. Tanto em sites elaborados, quanto em blogs e microblogs eles
apareceriam na chamada cauda longa dos gráficos. Tentamos explicar a constatação a seguir:

Gráfico 2: Representação da cauda longa do jornalismo digital


Fonte: Autoria própria

Quando mencionamos, no final do capítulo anterior, que aos indivíduos ainda são
restritas algumas maneiras de produção/disponibilização de conteúdo tentávamos fazer
entender que esse é o único motivo pelo qual os suportes podem ser interpretados como
determinantes de posições nos gráficos de produção/consumo. Portanto, podemos dizer que os
nichos, os elementos da cauda longa do jornalismo mais populares são os blogs, os sites de
compartilhamento de vídeo e imagem e, mais recentemente, os microblogs, já que são os não-
jornalistas que correspondem a grande maioria dos produtores destas plataformas, enquanto
os jornalistas representam maior número na produção em sites e portais de notícias. Dessa
forma, a melhor maneira de representarmos o gráfico de consumo do jornalismo – e, nesse
caso, não apenas o digital – é como sugerimos no gráfico que veremos na página seguinte,
com a grande mídia representando os hits, e com os amadores e jornalistas em nichos na
cauda longa:
41

Gráfico 3: Representação ideal da cauda longa do jornalismo


Fonte: Autoria própria

Como o microblog Twitter é a rede que concentra hoje um dos maiores – senão o
maior – números de usuários produtores de conteúdo informativo não-profissional online, é
interessante que nos questionemos sobre esse fenômeno contemporâneo. O sucesso desse
novo formato de plataforma justifica-se com a necessidade da população em geral de não
perder tempo e de buscar a simplificação – a brevidade – em quase tudo, especialmente
quando o assunto é comunicação. Narrativas breves e/ou fragmentadas, sejam ficcionais ou
não-ficcionais, são mais facilmente assimiladas pelo receptor. Esses são fatores humanos. De
acordo com Igarza, “a brevidade e a imediatez também são parte do universo midiático. As
notícias se apresentam cada vez mais enxutas. Da agência passa à página do jornal gratuito
com a facilidade de um Enter”41 (2009, p. 169). Esse é um fator técnico, assim como o
desenvolvimento da telefonia móvel – e o uso massivo de SMS 42 – e consequentemente da
internet móvel – e o uso do Twitter, inspirado no SMS, como é mostrado a seguir:

41 Tradução livre de “La brevedad y la inmediatez son parte además del universo mediático. Las noticias se
presentan cada vez más magras. De la agencia pasa a la página del periódico gratuito con la facilidad de un
Enter”.
42 Abreviação de Short Message Service (Serviço de Mensagens Curtas, em português), que em geral permitem
o uso de 160 caracteres.
42

Figura 7: Twitter na telefonia celular


Fonte: autoria própria

Com os dispositivos móveis e a disponibilização de internet em espaços públicos, todo


lugar se torna local de trabalho. “Onde não há cobertura não há vida” (VACAS, 2010, p. 108).
Vacas também lembra que “quando Steve Jobs apresentou o ansiosamente esperado Iphone
em 2007, poucos imaginaram o impacto e alcance que teriam as aplicações criadas por
desenvolvedores profissionais e amadores” (2010, p. 8). Entre tantas outras, as relacionadas a
redes sociais, microblogging e geolocalização destacam-se. O Twitter tem funções que
envolvem esses três elementos – conecta pessoas [following (seguidos) e followers
(seguidores)], permite a postagem de mensagens curtas (públicas e privadas), e a menção
direta ou indireta (através da conexão com o Foursquare 43, por exemplo) do local onde o
usuário se encontra.

Recentemente, porém, o vice-presidente de negócios e de desenvolvimento


corporativo do Twitter, Kevin Thau, declarou em entrevista 44 que a plataforma não se
enquadra na categoria rede social. Pensamos que o Twitter é sim uma rede social,

43 Foursquare (http://foursquare.com/) é uma rede social e de microblogging que permite ao utilizador indicar
onde se encontra e procurar por contactos seus que estejam próximo desse local. O aspecto lúdico vem do
facto de ser possível acumular distintivos relativos a lugares específicos (Fonte: Wikipédia).
44 Notícia publicada no blog Link, do Estadão. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/o-twitter-nao-
e-rede-social/>.
43
contrariando Thau. Além disso, como lembramos em outro momento, o Twitter sugeria que
seus usuários respondessem o que estavam fazendo, algo que dificilmente poderia ser
considerado uma notícia, ou um conteúdo de caráter noticioso. Mesmo que esse não seja um
argumento decisivo – concreto –, lembremos que foi apenas mais tarde que a pergunta
sugeriria que o usuário respondesse o que estava acontecendo, algo que é mais relacionado a
conteúdo, à informação de interesse público. Hoje, Vacas (2010) vê o Twitter como agência
de notícias global, instantânea e gratuita. Em outras palavras, podemos pensar nesse
microblog como uma espaço social onde profissionais e amadores interconectados produzem
e publicam conteúdo livremente. E esse material pode ser fonte de informação não apenas
dentro da rede, mas também fora, em outros locais (inclusive fora do ciberespaço).

Consideremos ainda que os indivíduos estão, em tese, em todo o lugar e formam uma
rede, os jornalistas são poucos e dependem do acaso ou da agenda para produzir seus
conteúdos. Para além do jornalismo, não apenas através do Twitter, mas também de outros
microblogs contínuos, a relação social pelo ciberespaço torna-se quase permanente. Pessoas
da mesma rede compartilham o dia a dia, ou mesmo sobre uma base horária, sua atividades
quotidianas.

Devemos mencionar, ainda, que o Twitter apresenta funções pós-massivas pela


abertura do fluxo informacional, pela liberação da emissão e pela transversalidade e
personalização do consumo da informação. Essas funções, segundo Lemos e Lévy:

permitem não só a produção livre, mas também a circulação aberta e cooperativa dos
produtos informacionais. Não há preocupação com grandes verbas publicitárias, não se
busca o hit, mas sim suprir nichos, criando a cauda longa, proposta por Chris Anderson
(2006) (2010, p. 48-49).

Contudo, enquanto Twitter e outros meios disponibilizam gratuitamente conteúdo


informativo, certos sites jornalísticos fecham seus arquivos para o público operando contra os
princípios da cauda longa e da lógica de pesquisa, porque ao invés de promover a ampliação
do número de acessos, levam os indivíduos a pesquisar em outros espaços – profissionais ou
não – pelo conteúdo que os interessa.

Para finalizarmos este capítulo, devemos fazer alguns apontamentos-chave. Desde o


seu surgimento o jornalismo digital sofre transformações que aproximam cada vez mais o
44
jornalismo – jornalistas profissionais – e práticas jornalísticas não-profissionais – dos
indivíduos amadores. Mas é o fator credibilidade – e não o suporte, o local – que parece ser
decisivo para a definição de posições em gráficos de índices de consumo. A grande mídia
ainda é sinônimo de credibilidade, portanto está no topo, enquanto os indivíduos desligados
dela, que não costumam ser relacionados a esse fator, estão na base, na cauda longa. É a partir
dessas constatações que pretendemos traçar nossa pesquisa empírica.
45
“É preciso liberar a 'energia' da massa para dela se fazer o 'social'”
Jean Baudrillard

CAPÍTULO III – O CASO #ONIBUSSM

Este capítulo é referente ao caso que chamamos de #OnibusSM. Esclarecemos,


inicialmente, a pesquisa empírica e também destacamos seus aspectos metodológicos. Em
seguida, descrevemos o caso e justificamos a escolha do seu nome. Por fim, fazemos
cruzamentos de dados e interpretamos os materiais coletados.

3.1 Sobre a pesquisa

A problematização desta monografia gira em torno da dicotomia profissional/amador


na produção de conteúdo de caráter jornalístico. Com a abertura do polo de emissão, o jornal
de referência não é o único a transmitir essas informações. À contemporaneidade, vemos o
microblog Twitter sendo usado para diferentes fins, e o jornalismo, com destaque, é um deles.
Portanto, fazendo o recorte para um contexto local (Santa Maria), nos propusemos a
responder a seguinte questão: como um fato jornalístico é tratado nesse espaço – no Twitter –
por três tipos distintos de usuário, um jornal de referência, um jornalista independente (sem
vínculos com a grande mídia) e um não-jornalista (amador)?

A escolha do caso voltou-se a uma manifestação social contra o reajuste da passagem


de transporte público na cidade de Santa Maria, que teve seu ápice na noite do dia 25 de
outubro e madrugada do dia 26, com a ocupação da Câmara de Vereadores por estudantes e
representantes de movimentos sociais. Apresentemos, então, o corpus e a metodologia da
pesquisa.

3.1.1 Corpus de análise

O Twitter, um microblog com plataforma simples e amigável, que permite a interação


rápida e informal, criado, assim como outras mídias, sem ideais jornalísticos, é um fenômeno
46
interessante da atualidade para os pensadores da comunicação e pesquisadores do jornalismo
digital. Além de ser o microblog mais popular no mundo, o Twitter é utilizado por
profissionais e amadores – o que é determinante nesta pesquisa –, o que aconteceu também no
caso escolhido nesta pesquisa.

O caso estudado são as informações no Twitter sobre a ocupação da Câmera de


Vereadores de Santa Maria por movimentos estudantis e sociais na noite do dia 25 de outubro
de 2010 por três tipos de produtores. Essa ocupação resultou de uma manifestação social
contra o reajuste da passagem de transporte público na cidade de Santa Maria que teria uma
reunião marcada, para a tarde daquele dia, com o prefeito da cidade Cezar Schirmer no
plenário da Câmara. Com o não comparecimento da autoridade política, estudantes e outros
manifestantes decidiram permanecer na Câmara – e dormir na local, se fosse preciso – à
espera de uma justificativa ou uma ação de Schirmer. Depois de quatro horas de ocupação, os
manifestantes deixaram a Câmara, por ordem judicial, na madrugada do dia 26 de outubro.
Como a pesquisa é relacionada com o Twitter, chamamos esse caso de #OnibusSm, hashtag 45
sugerida durante a ocupação do prédio público e que continuou sendo usada por vários dias
após o término da ocupação.

A cobertura do caso #OnibusSm foi feita por diversos não-jornalistas, a maioria


interessada nos fatos e/ou relacionados – atores – com o mesmo. Desses não-profissionais,
destacou-se na cobertura o perfil @dceufsm. A mídia de referência local foi pouco ativa no
microblog. O perfil @diariosm foi o único que participou da cobertura. No entanto, o perfil
@claudemirpe representou os profissionais independentes.

A seguir, apresentamos os três perfis escolhidos para a análise:

• @diariosm – perfil que pertence ao jornal de referência local Diário de Santa Maria,
do Grupo RBS. Diário de Santa Maria é o tabloide com maior circulação atualmente
na cidade. Representa a grande mídia de referência.

• @claudemirpe – perfil de Claudemir Pereira da Silva, que se formou no curso de


Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1983. Além de uma

45 Hashtag é a expressão usada para designar as etiquetas usadas no Twitter. É composta pelo símbolo “#”
acrescido de uma ou mais palavras sem espaço entre caracteres.
47
conta no Twitter, mantém um blog. Claudemir assina uma coluna do A Razão (outro
jornal local de referência) e tem um programa diário de debate na rádio Antena 1 Santa
Maria. Contudo, nem seu blog e tampouco seu twitter tem ligação com o jornal e o
rádio – são independentes. Representa, assim, o jornalista independente.

• @dceufsm – criado e gerenciado pelos membros do Diretório Central dos Estudantes


da UFSM. Esses estudantes universitários são considerados amadores na produção de
conteúdo noticioso, pois não têm formação específica. Observemos que os membros
do DCE eram atores do acontecimento. O perfil representa os não-jornalistas.

3.2.2 Aspectos metodológicos

Este estudo consiste da comparação da produção de conteúdo na cobertura de um fato


jornalístico no Twitter por três tipos de emissor (descritos anteriormente).

• Tempo de observação

Os tweets coletados foram postados entre o início da ocupação da Câmara Municipal


de Santa Maria pelos movimentos estudantis e sociais, no final da tarde do dia 25 de outubro
de 2010 – momento no qual foi decidido que, com a ausência do prefeito Cezar Schirmer, eles
permaneceriam no local – e o final do dia seguinte, 26 de outubro, para que pudéssemos obter
a possível repercussão do caso #OnibusSm.

• Critérios de análise

Selecionamos 90 tweets para o trabalho, dos quais 9 foram postados pelo jornal de
referência, 23 pelo jornalista independente, e 58 pelos não-jornalistas. Primeiramente,
classificamos os tweets em categorias, de acordo com o conteúdo e as características
apresentados em cada um deles. É importante mencionarmos que um mesmo tweet pode
apresentar características que se enquadrem em mais de uma categoria. Nesse caso, a
postagem é contabilizada em ambas as categorias. Listamos a seguir os critérios tomados para
a análise dos tweets:
48
a) cobertura instantânea – mensagens que narram fatos e que foram postadas no
momento (ou pouco após) que os fatos aconteceram;
b) comentário e opinião – mensagens que transparecem subjetividade e/ou não têm
intenção de narrar os fatos acontecidos;
c) diálogo – comunicação direta entre tuiteiros, com menção de nomes de usuários;
d) informação imprecisa e/ou inverídica – mensagens corrigidas, desmentidas
posteriormente;
e) retweets de amadores – mensagens de emissores amadores reenviadas;
f) retweets de profissionais – mensagens de emissores profissionais reenviadas;
g) hastags – mensagens que apresentam etiquetas de classificação;
h) links – mensagens que direcionam a outro local;
i) tweets posteriores – mensagens postadas ao final do caso;
j) outros veículos – mensagens que direcionam a outro meio.

Depois, algumas destas categorias são analisadas individualmente em subtópicos,


enquanto outras são agrupadas por similaridade, para que façamos cruzamentos de dados e
comparações de resultados. As mensagens enquadradas na categoria cobertura instantânea
ainda são classificadas em ordem de relevância para que destaquemos quem postou o quê,
identificando, assim, a fonte das informações mais importantes. Devemos ressaltar que o fator
imparcialidade não é levado em consideração no trabalho, pois não acreditamos que exista
total isenção tanto da parte dos profissionais quando dos amadores. De qualquer forma
diferenciamos em nossa proposta classificativa “cobertura” – entendida aqui como narração
de fatos com inferência de neutralidade – de “comentário/opinião”, para distinção mais clara
das mensagens objetivas das subjetivas.

3.3 Análise comparativa

Neste subcapítulo fazemos a descrição e o cruzamento de dados obtidos na pesquisa


empírica realizada no microblog Twitter sobre o caso #OnibusSm baseando-nos e fazendo
possíveis relações com a teorização apresentada nos capítulos I e II.
49
3.3.1 Cobertura instantânea, comentário/opinião e diálogo

A primeira análise refere-se a três critérios: cobertura instantânea, comentário/opinião


e diálogo. Observemos a comparação quantitativa da produção de conteúdo dos três usuários:

Tabela 1: Comparação cobertura instantânea, comentário/opinião e diálogo


Usuário (nº total tweets) → @diariosm (9) @claudemirpe (23) @dceufsm (58)
Cobertura instantânea 7 9 34
Comentário / Opinião 0 10 15
Diálogo 0 7 9

A Tabela 1 nos revela que o perfil dos amadores foi o mais ativo na cobertura do caso.
Dos 58 tweets, 34 se enquadram na categoria cobertura instantânea. Esse dado remete ao
potencial das mídias sociais na produção independente e/ou amadora. Foram 15 tweets e/ou
retweets comentando e opinando sobre o caso. Essa é uma possibilidade – liberdade – do
Twitter e dos meios sociais de forma geral. O @dceufsm ainda contabilizou 9 mensagens
tuitadas e/ou retuitadas que se classificam como diálogo, portanto, podemos dizer que ele
soube explorar essa outra função da plataforma. Veja um exemplo de diálogo:

Figura 8: Tweet diálogo entre @dceufsm e @eudecaliine


Fonte: http://twitter.com/dceufsm

O perfil do profissional independente foi bastante participativo, mas teve mais tweets
comentando e opinando sobre o caso do que narrando-o de forma objetiva: 10 contra 9.
Observemos uma peculiaridade, como @claudemirpe mistura cobertura e comentário em um
mesmo tweet:
50

Figura 9: Tweet cobertura/comentário do @claudemirpe


Fonte: http://twitter.com/claudemirpe

Essa mistura passa uma ideia de transparência e naturalidade na cobertura do caso.


Isso parece ocorrer justamente pela liberdade do autor (que não tem ligação com a grande
mídia) de fazer o que bem entender naquele espaço. Não entendemos a ação como falta de
seriedade no trabalho, apenas como espontaneidade, uma mistura de questões profissionais
com pessoais, pela própria natureza do espaço (o Twitter). Essa talvez seja a maior diferença
do profissional independente para o profissional do veículo de referência. E essa característica
marcou toda a cobertura do @claudemirpe. Ela nos revela a forma de trabalho, um pouco da
rotina do jornalista. Vejamos outro tweet que ilustra a ideia que estamos querendo transmitir e
ainda revela-nos a existência de uma fonte – mesmo não identificada pelo jornalista – que
provavelmente passou informações via telefone:

Figura 10: Transparência e espontaneidade na cobertura de @claudemirpe


Fonte: http://twitter.com/claudemirpe

O perfil que representa o jornalismo de referência não apresenta, de fato, essa


transparência do processo de obtenção das informações. Aliás, a pequena participação na
cobertura – com o menor número de postagens entre os três analisados – omitiu, por exemplo,
se a equipe estava ou não no local do acontecimento e, consequentemente, a forma como
estava obtendo informações. No entanto, todos seus tweets se enquadram no aspecto de
cobertura instantânea, o que é em parte previsível. Sem comentários e opiniões, vemos que o
jornal de referência é limitado nessa plataforma, e que ainda não está completamente
adaptado ao meio. Isso também é comprovado pela ausência de diálogos, “feedback”,
interação com os usuários. Ressaltemos ainda que o @diariosm, supostamente acreditando
que novas decisões não fossem ser tomadas até a manhã seguinte, desejou boa noite a seus
51
seguidores e parou de acompanhar o caso. Isso é mostrado a seguir:

Figura 11: Finalização da cobertura pelo @diariosm


Fonte: http://twitter.com/diariosm

Chama atenção é que o Diário não corrigiu, nem mesmo mencionou esse tweet com
informações precipitadas. Retificações, que costumam ser comuns nos veículos de
comunicação tradicionais, mostraram-se ausentes no perfil do jornal de referência. Após essa
postagem, houve outros acontecimentos importantes que, obviamente, deixaram de ser
noticiados no microblog pelo Diário de Santa Maria, e foram exclusivos do Claudemir, que
havia mencionado que esperaria o desfecho do caso, e do DCE, que era também ator do caso.

3.3.2 Informações imprecisas e cobertura posterior

Sobre informações imprecisas e também sobre tweets posteriores ao caso, vejamos os dados
apresentados na tabela 2:

Tabela 2: Comparação informações imprecisas e cobertura posterior


Usuário (nº total tweets) → @diariosm (9) @claudemirpe (23) @dceufsm (58)
Informações imprecisas 1 0 0
Informações posteriores 2 2 11

Podemos ver que a única postagem com informação imprecisa foi o tweet apresentado
na Figura 11, no qual o @diariosm dizia que o mandato de reintegração de posse só seria
cumprido na manhã seguinte. Contudo, a reintegração aconteceu ainda durante a madrugada,
não muito depois desse último tweet do Diário. Durante o dia 26, posteriormente ao caso, o
jornal de referência e o jornalista independente tuitaram duas vezes cada um sobre o assunto.
A história rendeu mais repercussão posterior apenas no perfil dos não-jornalistas, com onze
tweets ao todo. É válido mencionarmos que os não-jornalistas ainda corrigiram, durante a
madrugada, informação transmitida pelo jornal de referência, de circulação estadual, Correio
52
do Povo, como expomos abaixo:

Figura 12: Tweet do @dceufsm corrigindo informação passada por jornal de referência
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

3.3.3 Retweets

Façamos uma comparação, agora, a respeito dos retweets. Para apontar quem repassou
mais mensagens e o tipo de emissor dessas mensagens repassadas. Analisemos, abaixo, a
tabela 3:

Tabela 3: Comparação retweets de profissionais e de amadores


Usuário (nº total tweets) → @diariosm (9) @claudemirpe (23) @dceufsm (58)
Retweets de profissionais 6 0 0
Retweets de amadores 0 1 19

Conforme os dados da Tabela 3, vemos que o perfil de referência repassa apenas


informações, teoricamente, de referência. Esses 6 retweets do @diariosm (2/3 da totalidade de
postagens) são de autoria de um profissional que trabalha no jornal (Deni Zolin, @denizolin).
Não repassando mensagens de outras fontes – fechando-se em um meio aberto, social – o
Diário foge da lógica colaborativa do Twitter. A imagem a seguir exemplifica o reenvio de
mensagens “internas” (de membros da equipe):

Figura 13: Retweet interno do @diariosm


Fonte: http://twitter.com/diariosm

Já o perfil do jornalista independente repassou apenas uma única mensagem durante


toda a cobertura do caso, mas essa mensagem era de autoria amadora, como mostramos
53
adiante:

Figura 14: Retweet externo do @claudemirpe


Fonte: http://twitter.com/claudemirpe

O perfil que mais retuitou foi o @dceufsm. Foram 19 mensagens, e todas são de
origem amadora, fato que nos permite interpretar que há maior interação entre produtores
“similares”, o mesmo que aconteceu no @diariosm (amadores com amadores, profissionais
com profissionais).

3.3.4 Direcionamentos com ou sem link

Na tabela adiante analisamos os tweets com links direcionados a outros locais na rede,
e também aqueles que direcionam (indicam) meios tradicionais. Observemos:

Tabela 4: Comparação entre direcionamentos


Usuário (nº total tweets) → @diariosm (9) @claudemirpe (23) @dceufsm (58)
Tweets com link externo 7 10 8
Tweets com indicação de
0 0 5
outro meio

Os dados mostram que 7 das 9 mensagens enviadas pelo @diariosm apresentam links.
Desses 7 tweets, 6 direcionam ao blog do jornalista do Diário de Santa Maria, Deni Zolin,
como é exemplificado adiante, e um para o site do próprio Diário.

Figura 15: Uso de links pelo @diariosm direcionando ao blog da equipe do Diário
Fonte: http://twitter.com/diariosm
54
Outra vez o jornal de referência apresenta característica de isolamento em relação aos
outros meios. Dessa vez, @claudemirpe também foge ao princípio cooperativo do ciberespaço
ao enviar 10 mensagens com links direcionados ao seu próprio blog. Vejamos um exemplo
desse direcionamento:

Figura 16: Uso de links pelo @claudemirpe direcionando ao seu próprio blog
Fonte: http://twitter.com/claudemirpe

O perfil não-profissional usou links em 8 dos 58 tweets analisados. Esses links


direcionam a conteúdos amadores e também profissionais. Abaixo, exemplos que comprovam
a constatação:

Figura 17: Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço não-profissional (Revista Vies, produzida
por alunos do curso de Jornalismo da UFSM)
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

Figura 18: Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço profissional (Diário de Santa Maria)
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

Além disso, o perfil @dceufsm foi o único a apresentar mensagens (com e sem links)
indicando empresas de comunicação com suporte em mais de um meio : o Diário de Santa
Maria (impresso e internet) e a Rádio Santamariense (rádio e internet), como é mostrado nas
três figuras a seguir:
55

Figura 19: Direcionamento sem link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

Figura 20: Direcionamento com link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

Figura 21: Direcionamento com link à empresa híbrida – tuitado pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm

Destas três mensagens, a primeira e a segunda (Figuras 19 e 20) são posteriores ao


caso. Elas foram postadas na manhã do dia 26, enquanto representantes do DCE falavam
sobre os acontecimentos da madrugada, na rádio local Santamariense.

3.3.5 Hashtags e palavras-chave

Outro critério de análise é o uso de hashtags pelos perfis desta pesquisa. No gráfico
adiante, além de hastags ilustramos o uso de palavras-chave nas mensagens, o que facilita a
procura no próprio Twitter e também em buscadores externos, como o GoogleSearch 46. Essas
palavras-chave foram identificadas pela frequência de uso, pelas suas aparições em diversos
tweets. Analisemos a ilustração:

46 http://www.google.com.br/
56

Gráfico 4: Uso de hashtags e palavras-chave nos tweets


Fonte: autoria própria

Vemos que o único perfil que usou etiquetas foi o dos não-jornalistas e, mesmo assim,
de forma modesta – em 6 das 58 mensagens. O recurso etiquetagem é usado atualmente em
inúmeras plataformas, mas parece ser pouco explorado pelos perfis estudados. No entanto,
intencionalmente ou não, os três twitters usam palavras-chave – indexação 47 – que, em tese,
facilitam a busca por conteúdos específicos. Ilustramos o uso de palavras-chave nas figuras
adiante:

47 Atribuição de termos a um determinado item que facilitem a recuperação da informação desejada. Hoje há
também estudos referentes ao "jornalismo de indexação".
57

Figura 22: Palavras-chave nos tweets do @diariosm


Fonte: http://twitter.com/diariosm

Figura 23: Palavras-chave nos tweets do @claudemirpe


Fonte: http://twitter.com/claudemirpe

Figura 24: Palavras-chave nos tweets do @dceufsm


Fonte: http://twitter.com/dceufsm

3.3.6 Observações qualitativas

Como se tratou de uma cobertura ao vivo, mesmo os profissionais não podiam aplicar
certos critérios de noticiabilidade, como a relevância das informações. Esse tipo de cobertura
– instantânea – costuma caracterizar-se pela narração de fatos à medida em que eles vão
acontecendo, indiferentemente de sua importância. Segundo Moraes (2005, apud SCHMITT;
FIALHO, 2007, p. 4), “com baixo custo e rapidez a internet favoreceu a difusão extensiva de
informações e conhecimentos, sem submetê-los às hierarquias de juízos e aos filtros
ideológicos da mídia tradicional”.

Para fins deste estudo, porém, simulamos aqui uma hierarquia de informações do caso
#OnibusSm e definimos que perfil falou o quê. Fizemos essa hierarquização a partir de
critérios jornalísticos. Consideramos, por exemplo, como as mensagens mais importantes
aquelas que anunciaram o início e o fim da ocupação, e como as menos importantes as que
58
noticiavam detalhes que não interferiram no desencadeamento do caso. A seguir, vemos um
gráfico com essa proposta:

Gráfico 5: Relevância das informações e seus produtores.


Fonte: autoria própria
59
A ilustração na página anterior revela que foram os não-jornalistas e o jornalista
independente que publicaram as informações mais relevantes durante a cobertura do caso
@OnibusSm. Apesar de o Diário de Santa Maria ter postado apenas tweets de caráter
jornalístico, os mesmos podem ser considerados pouco relevantes. Um dos motivos para isso
foi a má apuração dos fatos e a confiança em uma única fonte, pois, presume-se que essa fonte
do jornal tenha garantido que nada mais aconteceria durante aquela madrugada.

Se, baseados na teoria da Cauda Longa, fôssemos representar em um gráfico


ilustrativo a produção e o consumo decorrentes dos três twitters analisados aqui, teríamos o
seguinte esboço:

Gráfico 6: Representação da cauda longa do jornalismo no Twitter no caso #OnibusSm.


Fonte: autoria própria

O Diário de Santa Maria, produzindo conteúdo isoladamente de outros produtores, tem


2027 followers, mais consumidores do que o Claudemir Pereira e o Diretório Central dos
Estudantes juntos (598 e 1414 followers, respectivamente)48, e está no topo do gráfico.
Todavia, estes dois últimos twitters, produzindo mais conteúdo durante a cobertura e
explorando a cooperação – ou seja, havia muitos outros twitters trabalhando juntos –,
compensaram a produção do perfil do Diário, por isso estão na Cauda Longa do Twitter em
Santa Maria.

48 Números obtidos no dia 20 de novembro de 2010. Não são muito distantes daqueles que veríamos no dia da
cobertura.
60
Finalizamos a análise comparativa do caso #OnibusSm, e agora partiremos para o
capítulo final deste trabalho. Apresentando as conclusões e algumas proposições decorrentes
da teorização dos capítulos iniciais e da análise concluída até agora.
61
“O texto de um jornalista se distinguirá cada vez menos daquele de um expert reconhecido
ou de um internauta com uma escrita hábil.”
André Lemos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma questão deve ser proposta nas páginas conclusivas desta monografia: o
microblog Twitter, bem como outras plataformas dos social media possibilitaram a existência
de um novo jornalismo ou de sistemas participativos de informação? Ao nosso ponto de vista
as duas opções são viáveis. As redes digitais e seus suportes, aplicativos e plataformas tornam
possíveis uma prática jornalística diferente daquela tradicional. No entanto, como observamos
no caso #OnibusSM, nem sempre os jornais de referência fazem uso de todos os seus
recursos. Por outro lado, o jornalista independente esteve mais enquadrado na lógica dos
social media. Das possibilidades destes meios, a cooperação é uma das que têm grande
importância. Ela foi praticada pelo Claudemir Pereira, mas descartada pelo Diário de Santa
Maria. Em outras palavras, o jornal de referência não fugiu da lógica dos meios de
comunicação convencionais. Acreditamos, porém, que por mais que a produção amadora
tenha sido mais eficiente, ela não pode ser considerada “cobertura de caso”, jornalismo. Ela é
classificada por nós apenas como relato, narração de fatos. Como esse trabalho aconteceu de
forma colaborativa, se enquadra na segunda opção mencionada na questão do início do
parágrafo, os sistemas participativos de informação. Nessa produção colaborativa de conteúdo
o DCE também chamou nossa atenção por ter exercido um papel de agregador de
informações, reenviando as mensagens de outros usuários do Twitter que diziam respeito à
ocupação da Câmara.

Tanto o DCE quando os outros perfis não profissionais que produziram conteúdo de
forma colaborativa são prosumers49 (produtor + consumidor, prossumidores, em português).
Segundo Machado (2010), Prosumers são consumidores que estão conectados à internet e que
produzem informações em web sites, blogs, comunidades online, sites de relacionamento e
outras tecnologias digitais em rede. Não entendemos mais as pessoas apenas como a ponta
final da cadeia. Vemos nascer as parcerias de consumo.

49 Prosumer é uma expressão criada por Alvin Toffler no livro A Terceira Onda (1980).
62
Outra expressão que pode ser aplicada no Twitter como ferramenta de produção de
informação com interesse jornalístico é “Pro-Am”, por ser um espaço de trabalho dividido
pelo indivíduo profissional e pelo amador, onde este último exerce funções do primeiro. Logo,
é possível dizermos que o DCE e os outros usuários do microblog, que participaram da
apuração do caso, são Pro-Ams, pois são amadores que executam atividades que exigem
qualificações profissionais. Adaptando as palavras de Anderson (2006) ao nosso contexto50, os
Pro-Ams estão sujeitos a limites, e sua maior função é coletar e não produzir conteúdo
qualificado. Contudo, muito além da simples coleta de dados, no caso #OnibusSM os
amadores superaram os profissionais – em especial, o jornal de referência – quantitativa e
qualitativamente, o que expusemos no capítulo anterior.

Apesar de não termos analisado o fator “mobilidade” durante a pesquisa empírica,


acreditamos que o uso de dispositivos móveis com acesso à internet propulsione o aumento de
amadores produtores de conteúdo. Segundo Lemos e Lévy, “o Brasil está em segundo lugar
entre os países com mais interesse em 'mobilidade'” (2010, p. 24). Isso deve ser refletido
também em Santa Maria, quando a qualidade da internet móvel alcançar um patamar mais
alto.

A credibilidade de um profissional reconhecido na esfera do jornalismo continuará,


talvez, tendo mais peso do que a de um usuário “comum” no Twitter. Mas se pensarmos,
como sugere Vacas (2010), que a existência de milhares ou milhões de usuários ativos –
convertidos em pequenos produtores – necessariamente aumenta o tempo de atenção que
dedicamos a eles, o esforço para o jornalista da grande imprensa influenciar muitas pessoas
será cada vez maior. Assim, essa massa de indivíduos – os prossumidores – pode ganhar mais
e mais leitores, desde que ela adquira a credibilidade que antes raramente era atribuída aos
não-profissionais. Isso é corroborado por Jaffe ao dizer que “os consumidores de hoje não
apenas questionam, como contestam e rejeitam abertamente tudo o que é irrelevante,
desnecessário e insultuoso” (2008, p. 14). Portanto, vemos que a reputação de cada produtor –
tanto dos amadores quanto dos profissionais – é importante, mas que, acima disso, parece
haver no momento da busca uma atenção por parte dos leitores, primeiramente, para o
conteúdo e apenas posteriormente para seu produtor. Ou seja, o equilíbrio no consumo de
conteúdos amador e profissional só depende dos próprios elementos daquela “massa”.

50 No livro A Cauda Longa o autor Discute os Pro-Ams com relação à Astronomia.


63
Como vemos, uma das questões apontadas para o conteúdo amador é a falta de
credibilidade. A Wikipédia, por exemplo, não a tinha até pouco tempo atrás. No entanto, ela é
hoje frequentemente vista como fonte de pesquisa e de citações em trabalhos acadêmicos.
Especulamos que o Twitter, com o mesmo princípio amador, social, não tenha obtido ainda a
confiança de uma parcela significativa de usuários. A aquisição de credibilidade por parte dos
seus usuários deve se dar da mesma maneira que ocorreu com a wiki: “recolhendo, filtrando,
redistribuindo, fazendo circular a informação, a influência, a opinião, a atenção e a reputação
de um dispositivo a outro” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 12). Isso é necessário se os indivíduos
desligados de empresas midiáticas quiserem ser bem sucedidos nos social media –
indiferentemente da lógica da cauda longa na qual um grande número de amadores
compensaria o pequeno número de profissionais.

Como já constatamos, as empresas da grande mídia, de certa forma, parecem estar


infiltradas em todas as redes sociais. Poderíamos justificar a afirmação com as palavras de
Kuklinski:

Os mass media sempre souberam se adaptar. Quando algo que surge das bordas da
sociedade vira moda é rapidamente absorvido pelos grandes meios, como demonstram
os exemplos das rádios piratas desde a década de 1950, os DJ's, a música rap, a pirataria
peer to peer, entre outros (2009, p. 256).

O Twitter não escapa dessa dinâmica e foi completamente absorvido pelos


conglomerados dos tradicionais mass media. Entretanto, no atual momento, concluímos que
este microblog como espaço para produção de conteúdo jornalístico (profissional) e de caráter
jornalístico (amador) ainda é modesto, ao menos em número de produtores. Lemos e Lévy,
ponderam que:

Embora sistemas como blogs ou wikis tenham efetivamente poucos 'produtores' de


informação, nada nos impede de pensar que haverá uma evolução para formas cada vez
mais participativas, conversacionais (2010, p. 77).

De qualquer forma, é explícita a mudança constante no cenário do jornalismo. Para


Domingues, “o fenômeno das mídias sociais e da geração de conteúdo pelos usuários
reconfigura as relações entre amadores e a indústria das mídias e suas instituições oficiais”
(2010, p. 68). O que presenciamos, na verdade, é a passagem da era do consumo midiático de
massa para a era da produção cultural de massa (DOMINGUES, 2010). Ou ainda uma
produção cultural social, pois é este o termo mais apropriado para denominar essa era.
64
A partir desta última proposição, concluímos ainda que quando falamos de
ciberespaço, comunicação digital, internet, etc, podemos esquecer antigas denominações,
entre elas mass media e self media. O termo social media parece suficiente para a
comunicação mediada por computadores e dispositivos móveis com acesso a redes mundiais.
Primeiro, porque o potencial de alcance desses meios é maior do que aquele entendido como
massivo (dos mass media). Segundo, porque para além de produção e registro individuais
(self media), esses meios têm potencial coletivo, colaborativo, social.
65
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68

ANEXO I – OS TWEETS DO @DIARIOSM


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ANEXO II – OS TWEETS DO @CLAUDEMIRPE
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ANEXO III – OS TWEETS DO @DCEUFSM
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