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TATESERT—22-d2 Janeiro de 2021 Brauma vez um menino que naseeu viveu numa aldeia da Beira-Baixa que ava pelo nome de peso. Esse menino tinha cerea de6 anos de idade, corria 0 ‘anode 1941,neaaaalturaos sous pais oram comercian- tes do géneros alimenticios , uo aproximar-se a festa do Nossa Senhora de La Salette,compravam sempre algumesdezenasddeovelhas © cabras, para consumo fe venda directa aos seus regueses, ‘Conta dia uma das ove- has teve uma eria, mas, sabeDeus porqué,naotinha leite para a alimentar. En- ‘iio omenino, quenfo sabia oguehaviadefazerpara que ocardeirinho nao morresse PESO-COVILHA, _ RECORDACOES DE INFANCIA ‘fome, lembrow-se de tirar. conseguia imaginar a vida lite atuma cabra que tinha acabado de ter um filhote © tinha muito leite E assim, fer, arranjou uma garrafa improvisou ‘uma tetina, eeomegou assim a alimentar o cordeirinho com o leite que tirava da ‘abra. Para manté-o sem- pre quentinho arranjou-the uma cama, Tratava dele como se forse um bebé, 0 menino adorava-o, E assim foi passando © tempo © 0 cordeirinho foi erescendo © JA, grande e gordo, comer ‘2comer ervase de tad. Bo ‘meninoandavasemprecom, le para todo 0 lado. Kram. insepardveis, até servia ras suas brineadeiras, Ble tinhadhemuitoamorenem PESO A NOSSA TERRA sem ele. Os pais do menino, um ia, mandaram fazer-The uum recado ©, venderam 0 cordeirinho para abate Foi por altura do més do Junho més da festa anual ‘2 Santo Anténio na aldeia dos Vales. Quando © me nino nesse mesmo dia a0 regressar a casa @ nto viu sen cordeirinho catrowem, ‘Panico, ¢ perguntou © que tinha acontecido, Poi entio que a mie The disse toda a ‘verdade e fhe cantou o que ‘tinham feitoxocordeirinho, tinha sido vendide a um Jhomem dos Vales para ser comido na festa, Entiéofoiopanicototal. A maeaoverqueofilhoestara ‘asofrer tanto, ainda foi aos ‘Vales, paraverseeonsasia ‘trazer o cordeirinho de vol- ‘ta,masjétinhasidoabatido © estava pronto a cozinhar feito em pedagos. Quando ‘a mA regressou The con- tou, o mening fugiu, andow eseondido, Arevolta era tio grande que nao queria ver ‘ninguem. Andou perdido o restododiaetoda anoite. Os ‘pais afltos ealgunsamigos fandaram horas a procara dla © nao consoguiam en- contré-lo,e ele a continuar ‘semaparecer. Pensava-se 0 plor,chegaram a procuré-lo sno popo do Chao do Ribeiro, até que alguém se lembrou fem if as Barros, e ele la estava escondide ‘no meio da palha, numa pequena POR TERRAS DO ALTO MINHO, DIALOGANDO OM O JORNAL A VOZ DE SOAJO ‘casa dos ais, muito quietoe caladoapenasseouviaoseu choro pelo sou cordeirinho. Foi muito marcante © deloroso para aquele men no, Quenos anos quarenta do século passado, nunca soubeogueerasermenino, ‘essa personagem fui eu. Hojecomosmeus 75anos deidade, ainda recordotudo ‘camo se tivesse seontecida neste momento, Procuroacada momento ‘compreender as pessoas ¢ ‘também ser compreendido ‘erespeitado, em jeito de ser foliz ea gostar de viver ‘Buma historia verdadei- ya que me marcou muito © que nunca consogui tiré-la da minha meméria ‘Ao eserever esta minha ‘historia, que ponsoresultar muito bem, se otharmos ‘paraopresentorespeitando ‘opassadoe yamosencontrar ligagdes para o futuro. E tambem em jeito de ‘homenagem aos meus pais, ‘otiJosé VarPereiracti Ana Batista, e por tudo o que ‘passe por essa Beira-além, sinto-me hoje um homem ealizadoe feliz, tenho tudo ‘quanto me baste Para todos os leitores do Jornal Vor de Soajo, que © ‘ano que agora comera, vos ‘raga tudo de bom. Lisboa, 2 de Janeiro de 2011 ‘José Batista Vaz Pereira

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