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Conversa com um autor

GL - A título de introdução, nos conte para institucionais. Mas foi somente no


um pouco como começou seu envolvi- final dos anos 1990 que fiz meus primei-
mento com o teatro e quando começou ros textos não jornalísticos, escreven-
a escrever. do algumas poesias, depois vieram os
RV – Sempre estive muito próximo do haikais (inspirados na leitura que fiz do
cinema e do teatro, da música e da dança, livro Vida, do Paulo Leminski). Logo
das artes plásticas e da fotografia. Nas após escrevi vários contos. Em 1999
atividades jornalísticas que iniciei em criei coragem e, em poucos meses jun-
1971 todas essas manifestações artísti- tei material para publicar o livro “Trinta
cas foram foco de minha atenção. Além Toques”, de poesias e haikais. Passei a
disso, tive um colega de jornal que era estudar e a pesquisar sobre roteiros de
diretor e autor teatral e pude acompan- cinema. Em 2000, depois de um curso
har várias de suas montagens, ajudando de roteiro que fiz, escrevi uma primei-
Entrevista com Rogério Viana,
em algumas questões de produção. Os ra versão de um roteiro de cinema, jun-
autor de “Entrevista com olhos sempre estavam voltados para al- tando material de três dos meus contos
o devorador de ratos” e “Triste guma forma de arte e o teatro chamava a que tinha um personagem em comum.
inventário de perdas”. atenção junto com o cinema. Mas como Em 2002 fui morar em Salvador e, lá,
repórter, fotógrafo, depois editor, che- trabalhando numa editora universitária
fe de redação, nunca encontrava tempo acabei fazendo contato com duas atrizes
para escrever algo que fosse além das que me propuseram escrever uma peça
matérias, das pautas a cumprir, do ma- de teatro. Acabei me motivando e com
Por Gustavo Lemos terial a ser editado. Quando eu estava um tema em mente, em uma semana es-
Editor de Cénico - Blog de Teatro
decidido a não mais atuar no jornalis- crevi minha primeira peça de teatro que
mo – trabalhei em jornais e revistas – nasceu com o nome de “O medo de te
passei a atuar como redator publicitário perder”, mas que, depois, em uma ver-
e, como tal, tive que escrever roteiros são um pouco mais enxuta foi transfor-
para comerciais de televisão (foi a partir mada em “Nas razões do nosso medo”.
de 1982), roteiros para documentários, Depois de ter retornado de Salvador,

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em 2003 tive oportunidade de ver meu “Casais” (Parejas) e “Noite de Verão
texto teatral ser lido por duas atrizes bem longe dos Andes ou diálogo com
e um ator, na cidade de Piracicaba. E, meu dentista” (Noche de Verano lejo de
definitivamente eu sentia que, a partir los Andes o dialogo con mi dentista”, de
daquele momento eu tinha mesmo que Susana Lastreto. Bem, a título de uma
estudar mais, pesquisar muito mais e breve introdução, meu envolvimento
escrever ainda muito mais o que fosse com o teatro tem sido esse.
diretamente ligado à dramaturgia, ao
teatro. Em 2004 vim para Curitiba e, GL - Sempre que leio um texto, como
logo em seguida, fui motivado a escre- um exercício de desconstrução da obra,
ver um texto teatral inspirado nos anti- fico imaginando quais as possíveis re-
gos circos teatros caipiras de minha in- ferências do autor. Como é seu pro-
fância na cidade de Paranavaí, vizinha a cesso criativo? Finalizo essa pergunta
Maringá, e que ficaram ainda mais níti- com um trecho de pergunta de Dio-
dos depois de 32 anos de militância jor- nelia para Lourenço: “Você pesquisa
nalística na cidade de Piracicaba, onde para imaginar? Ou a imaginação brota
convivi e conheci pessoas do universo espontaneamente?”
da música caipira e do circo teatro cai-
pira. Nasceu, então, meu texto “Arco, tir de março de 2009. Como fui estudar RV – Sabe... é uma pergunta interessan-
Tarco ou Verva? Paixão e Alegria de não apenas o material bibliográfico e te essa. Eu disse, na primeira resposta,
Um Barbeiro Caipira”, que virou um os autores indicados pelo Alvim acabei que sempre fui guiado no trabalho de
projeto aprovado pela Lei Rouanet (está encontrando alguns autores de língua jornalista a ter que cumprir pautas. Isso
em fase de captação). Em 2009 integrei espanhola e, como desafio, impus-me me obrigou a ir atrás de um tema (no
o Núcleo de Dramaturgia patrocinado a necessidade de traduzir alguns textos caso das reportagens) e a pesquisar, a
pelo SESI Paraná e a oportunidade de teóricos – importantes, eu diria – do au- ouvir, a entrevistar. Depois a resumir
trabalhar sob a supervisão – e a ins- tor espanhol José Sanchis Sinisterra, de tudo e escrever uma matéria, uma re-
piração – do premiado autor e diretor Gustavo Ott, de Nestor Caballero, che- portagem. No que você chama de “des-
Roberto Alvim, passei a me dedicar ex- gando, depois, a duas peças de teatro da construção”, esse exercício de caminhar
clusivamente ao estudo e a pesquisa de autora franco-argentina Susana Lastreto do fim para o começo de uma obra, no
dramaturgia. Nasceram 12 textos a par- que traduzi. Assim pude traduzir a peça sentido de entendê-la, de percorrer, tal-

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vez, os mesmos caminhos que o autor de RV – Eu arriscaria a dizer que nada é
textos tem que trilhar na feitura de sua inconsciente. O que esteve inconsciente
obra, eu me motivei a escrever drama- “Bem, ninguém escreve deixa de ser quando processamos nos-
turgia a partir de certas “pautas”, melhor sa biblioteca de referências, de vivên-
explicando para quem não é jornalista nada inconscientemente. cias. Tenho lido um pouco sobre mui-
como você, fui motivado a relacionar A não ser que faça como tos assuntos. No ano passado descobri
alguns temas, criar alguns personagens, dois livros fantásticos do Umberto Eco,
criar o espaço desses personagens, es- um médium e escreva um autor italiano que escreveu o “Nome
tabelecer o tempo em que esses perso- texto ditado por alguém da Rosa”, que virou filme. Eu já tinha
nagens existem, criar as motivações lido o romance que foi muito badala-
desses personagens e, sobretudo, que que já tenha partido dessa do e que foi um filme de sucesso. Mas
ações esses personagens executam. para outra vida”. ao ler primeiro “A misteriosa chama
Numa reportagem, numa matéria jorna- da Rainha Loana” e, depois, o livro de
lística, a gente trabalha com tudo isso, ensaios “Sobre Literatura”, Eco ensina
só que não é ficção, é realidade. Então, que “os livros falam entre si”. E que
para transformar o material inicial de por esse motivo, muitas vezes, somos
lado de fatos, de histórias, de vivências,
uma “pauta para um texto teatral”, eu influenciados por um autor que jamais
dessa visão de mundo que temos. Isso
percorro tudo isso, criando as ligações, tivemos contato com suas obras. Lemos
pode, então, ser dramaturgia. No papel
motivações, desejos, caras, locais, tem- alguém que leu outro autor que leu um
ainda não é dramaturgia. Só vira drama-
pos desses personagens e o texto acaba autor bem distante. E se estabeleceu
turgia mesmo quando ganha vozes e os
fluindo sem maiores problemas. Acabo, uma ligação, uma conexão entre nós e
corpos dos atores. Só vira teatro quando
sempre, escrevendo muito rápido. Pois a o autor inicial. Coisas que também po-
ganha o espaço do palco. Antes é apenas
história tem seu fio condutor. A pergun- dem acontecer com a literatura dramá-
intenção.
ta da personagem Dionelia Mutarelli de tica, não apenas a literatura de roman-
“Entrevista com o devorador de ratos” é ces, contos. Bem, ninguém escreve nada
GL - Uma pergunta aparentemente
sintomática e indica meu caminho. Toda inconscientemente. A não ser que faça
superficial, mas que pretendo adian-
pesquisa auxilia no desenvolvimento da como um médium e escreva um texto
tar com um gancho: Você acredita que
imaginação. Toda leitura que fazemos ditado por alguém que já tenha partido
além dessas referências, a criação dra-
ou fizemos também ajuda. O que brota dessa para outra vida.
maturgica envolva alguma parcela de
espontaneamente é fruto desse acumu-
inconsciência?

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GL - Pelo menos nesses dois textos que infantis do grande Monteiro Lobato. E
li – “Entrevista com o devorador de isso, não é brincadeira, é mesmo verda-
ratos” e “Triste Inventário de Perdas” de. Eu era fascinado pelas histórias do
– percebi a presença de elementos que Monteiro Lobato. E foi dele a inspiração
remetem facilmente ao Rogério Viana para ler muito, sempre, todos esses lon-
jornalista, autor e diretor de produção gos anos. Mas, também, somos, como
teatral. Você acredita que a obra seja disse antes, seres permeáveis pelas lei-
realmente uma extensão do artista? turas e pelas vivências que fizemos e
tivemos. Tudo pode ser referência na
RV – Tudo o que fazemos é uma exten- criação dramatúrgica. Tudo mesmo.
são nossa. Mas, como autores, temos
a capacidade de mentir, de ocultar, de GL - Não pude deixar de notar a semel-
indicar caminhos equivocados, de ser hança entre os nomes das personagens
uma coisa sendo outra. Ou não. O que de “Entrevista com o devorador de ra-
fazemos sempre é uma extensão do que foram autores que eu pude ler, outros tos” e o escritor, ator e dramaturgo Lo-
vivemos, do que conhecemos, do que que eu nunca li, e vários, sim, vários urenço Mutarelli. Queria que você nos
sonhamos, mas, sobretudo do que dese- deles foram autores dos livros que certa contasse sobre essa escolha.
jamos e do que imaginamos. Mas é por pessoa, certa vez, fez com que aqueles RV – Espertinho, você, hein? Pois en-
aí. Talvez. livros deixassem mesmo de ser meus. tão... é o que eu havia dito. Tudo pode
Mas isso pode ser ou não verdade. Numa ser referência na criação dramatúrgica.
GL - Em “Triste Inventário de Per- oficina que participei com o Luiz Alber- E no caso da escolha desses nomes foi
das”, tem uma passagem no esquete to de Abreu, premiado e profícuo autor feito mesmo de forma deliberada. Só
“Os livros que ficaram por lá” onde teatral paulista, ele disse que quando que a referência ao Lourenço Mutarelli,
você cita diversos autores que, de al- fosse feita uma pergunta a nós de quem de quem nunca li nenhum livro, mas as-
guma forma ou de outra, te influen- recebemos influência, teríamos que citar sisti – e adorei – o filme “O Cheiro do
ciaram – e influenciam. Quais são as alguém que não tivesse ligação nenhu- Ralo”, que foi inspirado num dos seus
suas principais referências na criação ma com dramaturgia ou teatro. Mas meu livros não se deu por referência ou in-
dramatúrgica? gosto pela palavra escrita, se isso pode fluência direta. Eu havia acabado de ler
ajudar, nasceu nas leituras feitas na in- o livro “Os ratos”, do Dyonelio Macha-
RV – Ah, sim... aquela lista de autores fância em Paranavaí de todos os livros do. Um livrinho escrito nos anos 1930

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GL - Quando veio para Maringá, Ro-
berto Alvim comentou em tom profé-
tico: “De dois a cinco anos, Curitiba
estará para o teatro como Seattle es-
tava para o rock nos anos 90”. Como
jornalista, você acompanha o otimismo
de Alvim? Como você vê a cena curiti-
bana de hoje?

RV – Tenho grande apreço e carinho


pelo Roberto Alvim. Eu havia citado isso
“A palavra ratos levou-me a fazer uma ligação entre ralo, sim, ralo que leva num material de uma escola de teatro de
águas usadas para o esgoto. E esgoto leva a ratos. Uma coisa liga à outra”. São Paulo que ele é um “iluminador de
caminhos”, embora, no seu trabalho ele
muito interessante e inteligente e que, na na internet. O titio “Google” sempre é tenha preferência pelas sombras, pela es-
edição que tenho, traz uma pequena en- um excelente auxiliar em nossas pes- curidão, até pela ausência de luz. Alvim
trevista com ele, o autor. A palavra ratos quisas, indicando precisamente o que coloca luz no trabalho dos outros, dos
levou-me a fazer uma ligação entre ralo, temos que ler. Daí é só uma questão de autores, indicando, assinalando camin-
sim, ralo que leva águas usadas para o escolhas. Mas tanto do Mutarelli quan- hos, sem, no entanto iluminar de verda-
esgoto. E esgoto leva a ratos. Uma coisa to do Machado, os dois autores, nada se de alguns desses caminhos, no sentido
liga à outra. Então brinquei com isso, no relaciona diretamente a eles na questão de não jogar luz em mais trabalhos, mas
processo de criação dos nomes dos per- do que escrevi com o que deles eu pude privilegiando apenas uns mais próximos
sonagens, criando o nome do velho au- ler. E o texto da peça nasceu da possibi- do seu gosto personalíssimo. Alvim dis-
tor no personagem Lourenço Machado lidade de se fazer uma “entrevista” entre se uma frase que a mim me intriga, já
e na pele da personagem jovem, a Dio- uma jovem curiosa (ela é jornalista) e que ele, aqui em Curitiba disse que tinha
nelia Mutarelli. Peguei o nome de um um velho autor. Criei, então, uma entre- preferência pela “singularidade” do que
e juntei ao sobrenome do outro. Ah... vista com um devorador de ratos. Mas o pela “qualidade”. Coisas que poderiam
quando associei ralo, esgoto com ratos, que seriam esses ratos? Você descobriu ensejar uma discussão mais ampla. Mas
fui ler algumas boas entrevistas do Lo- o que eles podem ser? o tom profético a que você atribui à fala
urenço Mutarelli que estão disponíveis entusiasmada do Alvim, no meu modo

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de ver, ensejaria algo mais contundente
para caminhar em direção a ser uma ver-
dade. Curitiba, sim, Curitiba será – e já
está se transformando – num celeiro de
novos e produtivos autores. E o Roberto
Alvim é, de maneira bem direta, respon-
sável por esse estímulo, já que ele, con-
tratado que foi pelo projeto de drama-
turgia do SESI Paraná, é quem dentro
do seu trabalho, faz o papel de fomenta-
dor de novos autores teatrais. Mas uma
montanha de textos de teatro, para mim,
não tem o mínimo valor, sejam esses
textos “singulares” ou de “qualidade”,
esse aspecto desprezado pelo Alvim.
Mas você dirá, mas isso é uma absurda
afirmação. E eu defendo meu ponto de “Mas uma montanha de textos de teatro, para mim, não tem o mínimo valor, sejam
vista com uma questão muito simples. esses textos “singulares” ou de “qualidade”, esse aspecto desprezado pelo Alvim”.
De que adianta você ter uma enxurrada
de autores, uma montanha de textos es- sável demais na sua afirmação, Alvim me como profecia. Não adianta induzir
correndo pelos vales da dramaturgia se não tenha levado em conta que produzir as pessoas a escreverem, escreverem e a
poucos, pouquíssimos mesmos, textos uma montanha de autores de teatro pos- escreverem se não houver um trabalho
forem levados ao palco. As bandas de sa, ao contrário de ser uma coisa positi- paralelo de se mostrar esses trabalhos,
garagem de Seattle não ficaram restritas va para o teatro brasileiro, em particular esses textos, em leituras, em discussões,
às garagens. As bandas, os músicos, os para o teatro paranaense, e muito mais em encenações, enfim, fazer dos textos
compositores foram para as gravações, particularmente para o teatro curitibano, dramatúrgicos obras de arte nos palcos
para os palcos, ganharam notoriedade e possa ser um enorme desastre, ou sen- e não apenas textos “singulares” que es-
divulgação no grande fenômeno musi- do menos dramático (eita palavrinha, tarão confinados em cópias de papel, e
cal norte-americano nascido em Seatt- hein?) possa ser menos importante que guardados nos arquivos. Outra questão
le. Talvez otimista demais ou irrespon- o otimismo exagerado do Alvim procla- importante que também defendo – lógi-

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na. A sede dos vampiros só é diminuída
com sangue, sempre mais sangue. Os
políticos corruptos tem uma sede cres-
cente que nunca se aplaca e sempre que-
rem mais dinheiro, verbas, negociatas,
poder. A mulher insaciável quer muito
mais do que um cartão de crédito, vesti-
dos aos montes, muitas vezes quer me-
nos sexo e mais o prazer pelo simples
ato de consumir. Isso tudo estou falando
bem genericamente, embora de forma
“Quem escreve quer, sobretudo, ser reconhecido. Eu estou apenas exagerada até. Qual é a sede de um au-
escrevendo e fazendo escoar o que em mim, ao longo dos anos, está retido”. tor? Muitos autores, creio mesmo que
a grande maioria deles, não querem ser
co, falando do meu ponto de vista – é vras escritas e pensar seriamente num conhecido, ganhar o espaço da mídia,
que não basta escrever, escrever e escre- projeto de fazer a palavra escrita virar ser premiados, ter peças suas encena-
ver, é preciso que se promova o ato de palavra falada. E falada num palco. É o das. Quem escreve quer, sobretudo, ser
leitura e da discussão entre os autores, que penso. reconhecido. Eu estou apenas escreven-
do que se escreveu, do que se entendeu do e fazendo escoar o que em mim, ao
do material lido e, principalmente, do GL - Para encerrar esse primeiro blo- longo dos anos, está retido. O que virá
que temos que aprender e reconhecer co, cito um trecho de “Entrevista com o depois, não sei. Ocupo-me apenas em
com mais potencial no que deverá ser devorador de ratos”: “Nenhuma água escrever. Ah... lembrei-me de uma fra-
encenado e levado para quem realmen- fará sua sede aplacar. Você não neces- se do autor Oscar Wilde: “O artista não
te interessa, o público freqüentador de sita de água. Sua sede é outra. Você tem convicções éticas. Uma convicção
teatro. Seattle não teria gerado aquela sabe o que pode saciar essa sede inter- ética em um artista é um imperdoável
geração maravilhosa de músicos se não minável.” Sua produção é uma tentati- maneirismo de estilo”. E arremato: Não
tivesse provocado o desejo de ouvir va que curar uma espécie de sede? se faz boa literatura e boa literatura dra-
aquela música pulsante, contestadora. mática com boas intenções. Acho que
Curitiba só será uma referência maior RV – Todos nós temos sedes que não isso possa ensejar outras discussões.
na dramaturgia se olhar além das pala- se aplacam com essa boa água cristali-

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