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Ao Geyson,
companheiro de todas as horas,
meu amor,
minha razão.
Com carinho.
INTRODUÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anexo I
Anexo II
Anexo III
INTRODUÇÃO
Destarte, dada a importância do tema, o presente estudo tem por escopo precípuo
contribuir para a análise de tão relevante princípio, enfatizando prioritariamente os aspectos que
vêm gerando maiores controvérsias. Há que se ressaltar, no entanto, que o conteúdo desta
monografia parte de pressupostos eminentemente teóricos, fruto de uma corrente que ainda não
se encontra propriamente sedimentada e ainda está por merecer maior respaldo jurisprudencial.
Ressalta ainda o autor que o campo da moral é indubitavelmente mais amplo que
o do direito, posto que o primeiro regula todas as formas do comportamento humano e o
segundo regula apenas aquelas que tem relevância para o Estado. Assim, em função da distinta
relação da moral e do direito com o Estado, nota-se que a moral poderá vir a se confrontar com
o poder estatal, enquanto que o Direito estará sempre em conformidade com o Estado, posto
que depende diretamente dele.
1
VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Tradução por João Dell’Anna. 14. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1993. 267p. p. 80-84.
2
Idem, p. 81.
3
Idem, ibidem.
4
VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. op.cit., p. 84.
tanto o termo latino quanto o grego têm o mesmo significado – costumes.
“O que nela se afirme sobre a natureza ou fundamento das normas morais deve
valer para a moral da sociedade grega, ou para a moral que vigora de fato numa
comunidade humana moderna. É isso que assegura o seu caráter teórico e evita
sua redução a uma disciplina normativa ou pragmática. O valor da ética como
teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com
vistas à ação em situações concretas.” 8
Isto não significa entender a ética como algo imutável. A ética varia de acordo
com o seu objeto de estudo, tendo, portanto um caráter extremamente dinâmico, já que a moral,
como visto anteriormente, sofre constantes modificações que acompanham a história do
homem.
5
DÁLLARI, Sueli Gandolfi. A Ética Sanitária na Constituição Brasileira. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, v. 30, n. 117, p. 419-428, jan./mar. 1993. p. 420.
6
CARLIN, Volnei Ivo Carlin. Deontologia Jurídica – Ética e Justiça. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996. 180
p., p. 37.
7
VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. op. cit., p. 14.
8
Idem, p. 11.
9
Idem, p. 10.
1.3.1. Origem
Alguns autores ressaltam que mesmo antes de 1914, mais precisamente em 1910,
Maurice Hariou já havia feito referência à moralidade administrativa na 1ª edição de sua obra
Principes de Droit Public (Princípios de Direito Público), quando discorreu:
A noção de moralidade formulada pelo autor francês, não muito bem explicitada
nesta pioneira experiência, foi ganhando clareza e expressividade com as edições que seguiram.
Foi assim que, em sua 10ª edição, a moralidade administrativa vem conceituada como “o
conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração”15.
No entanto, foi apenas na 11ª edição de sua obra, em 1927, que Maurice Hariou
conceitua de forma exemplar a moralidade administrativa, apregoando:
10
MELLO, Cláudio Ari. Improbidade Administrativa – Considerações sobre a Lei 8.429/92. Cadernos de
Direito Constitucional e Ciência Política, São Paulo, v. 3, n. 11, p. 49-62, abr./jun. 1995. p. 50.
11
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Moralidade Administrativa: do conceito à efetivação. Revista de
Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 190, p. 1-44, out./dez. 1992. p. 4.
12
Antônio José Brandão assevera que “a doutrina do exercício abusivo dos direitos representa a primeira
intromissão da regra moral na esfera do jurídico”. (BRANDÃO, Antônio. Moralidade Administrativa. Boletim
de Direito Administrativo, p. 62-72, fev. 1996. p. 63.)
13
Consoante apregoa Antônio José Brandão, a partir destas anotações, Hariou “desenvolveu, com maior
brilhantismo do que transparência, a seguinte tese audaciosa: a legalidade dos atos jurídicos
administrativos é fiscalizada pelo recurso baseado na violação da lei; mas a conformidade dêsses atos aos
princípios basilares da ‘boa administração’, determinante necessária de qualquer decisão administrativa, é
fiscalizada por outro recurso, fundado no desvio de poder, cuja zona de policiamento é a zona da
‘moralidade administrativa’.” (BRANDÃO, Antônio José, op. cit., p. 64.)
14
apud MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. op. cit., p. 06.
15
apud ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios Constitucionais da Administração Pública. Belo
Horizonte: Del Rey, 1994. 307 p. p. 189.
“Quanto à moralidade administrativa, sua existência provém de tudo que
possuindo uma conduta pratica, forçosamente, a distinção do bem e do mal.
Como a Administração tem uma conduta, ela pratica esta distinção ao mesmo
tempo que aquela do justo e injusto, do lícito e do ilícito, do honorável e do
desonorável, do conveniente e do inconveniente. A moralidade administrativa é
freqüentemente mais exigente que a legalidade. Veremos que a instituição do
excesso de poder, graças à qual são anulados muitos atos da Administração, é
fundada tanto na noção de moralidade administrativa quanto na legalidade, de tal
sorte que a Administração é ligada, em certa medida, pela moral jurídica,
particularmente no que concerne ao desvio de poder”.16
Ante tais ensinamentos, conclui-se que o legado deixado pelo mestre francês foi
fundamental não só no intuito de dar à moralidade a importância que lhe é necessária, mas,
principalmente, ressaltar que o seu conceito ultrapassa os limites da legalidade.
16
apud FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. ver. atual. ampl. São Paulo:
Malheiros, 1995. 439 p. p. 48.
17
Cf. LOPES, Maurício Antonio. Ética e Administração Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. 86
p. p. 31.
18
Ao analisar o tema, José Augusto Delgado ressalta que “A Administração Pública não está somente
sujeita à lei. O seu atuar encontra-se subordinado aos motivos e aos modos de agir, pelo que inexiste
liberdade de agir. Deve, assim, vincular a gestão administrativa aos anseios e às necessidades do
administrado, mesmo que atue, por autorização legal, como senhor da conveniência e da oportunidade.
Qualquer excesso a tais limites implica adentrar na violação do princípio da moralidade administrativa
sempre exigindo uma correta atividade.” (DELGADO, José Augusto. Princípio da moralidade administrativa
e a Constituição Federal de 1988. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 208-223,
jan./mar. 1993. p. 212-213.)
19
Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, mesmo antes da Carta Magna de 1988, enfatizava que o controle
externo da moralidade administrativa poderia ser realizado. Em sua obra “Princípio Constitucional da
Moralidade Administrativa”, o autor ocupa dois capítulos para discorrer acerca do “Alcance da Moralidade
Administrativa na Ação Popular Constitucional” e do “Alcance da Moralidade Administrativa no Mandado de
Segurança”. (FRANCO SOBRINHO, Manoel de Oliveira. O Princípio Constitucional da Moralidade
Administrativa. 2. ed. Curitiba: Genesis, 1995. 179 p.)
públicas”.20
1.3.2. Natureza
Com base no conceito deixado por Hariou, Welter, em sua monografia publicada
em 1930 - Le Contrôle Juridictionel de la Moralité Administrative (O Controle Jurisdicional da
Moralidade Administrativa), elaborou uma noção mais clara de moralidade:
20
MELLO, Cláudio Ari. op. cit., p. 50.
21
.
apud BRANDÃO, Antônio José. op. cit., p. 66.
22
DELGADO, José Augusto. A supremacia dos princípios informativos do direito administrativo:
interpretação e aplicação. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 83, n. 701, p. 34-44, mar. 1994. p. 40.
influenciada, indubitavelmente por preceitos da moral comum. 23
“o bom administrador (...) é aquele que usando da sua competência legal ‘se
determina, não só pelos preceitos vigentes, mas também pela moral comum’. Há
de conhecer, assim, as fronteiras do lícito e do ilícito, do justo e do injusto nos
seus fins.” 24
25
O Ministro Demócrito Ramos Reinaldo, ao concluir seus comentários acerca da relação entre a moral
comum e administrativa, assim se expressa: “A moralidade (administrativa), portanto, é a condizente com a
moral comum, a do homem médio, a que está em consonância com a cultura, costumes e hábitos sociais.
Atos morais são os acatados pela sociedade, porque se fundam em regras comuns e iguais a todos, são de
interesse geral e afinam-se com respeito à ordem natural das coisas. A sociedade repudia, sempre, os
provimentos administrativos personalizados, individualizados, que se sabe, ‘prima facie’, protecionistas de
pessoas ou grupos não isonômicos”. (REINALDO, Demócrito Ramos. O princípio da moralidade da
Administração Pública. Arquivo Forense, Pernambuco, v. 75, p. 45-50, jan. 1993/dez. 1995. p. 49-50.)
conceito da moralidade administrativa torna difícil não só a sua compreensão, mas
principalmente a sua conceituação e, portanto, a sua caracterização. Assim, enquanto elemento
absorvido pela própria noção de legalidade, sua configuração não ensejaria tantas ponderações,
já que a legalidade é, sem dúvida, um conceito de muito mais fácil apreensão.
27
REINALDO, Demócrito Ramos. O princípio da moralidade na Administração Pública e a liceidade do
limite etário para acesso dos cargos públicos. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 84, n. 711, p. 17-22, jan.
1995. p. 19.
28
ZANCANER, Weida. Razoabilidade e Moralidade: princípios concretizadores do perfil constitucional do
Estado Social e Democrático de Direito. In: MELLO, Celso Antônio Bandeira de (org.). Estudos em
homenagem a Geraldo Ataliba. São Paulo: Malheiros, 1997a. 2 v. p. 619-632. p. 632.
29
Nesse sentido, assinala Antônio José Brandão: “O ato conforme à lei jurídica nem sempre é um ato
irrepreensível do ponto de vista moral: non omne quod licet honestum est, dizia já Paulo. Se os particulares
podem cometer vilanias respeitando formalmente a lei, o mesmo acontece aos administradores. No entanto,
assim como há uma Moral positiva, que, para os primeiros, se acrescenta à lei vigente, também para os
segundos há uma moral institucional, que se sobrepõe à lei das suas atribuições e competência. Esta é-lhes
imposta de fora pelo Poder Legislativo, e apenas traça o âmbito da sua atividade e fixa os meios a utilizar.
Quanto aos preceitos da moralidade administrativa, são-lhe impostos de dentro, vigoram no próprio
ambiente institucional e condicionam a utilização de qualquer poder jurídico, mesmo o discricionário. A
noção de moralidade administrativa é, assim, mais ampla do que a noção de legalidade jurídica. E, por isso,
as exigências da moralidade administrativa são mais fortes que as exigências da legalidade jurídica. (...)
Desta sorte, os agentes administrativos, se têm de inspirar os seus atos nas leis jurídicas vigentes,
expressão normativa da ordem jurídica a que a Administração está submetida, movem-se também na órbita
da ordem interna desta, gerada pela comunhão espiritual em que a idéia diretriz se tornou objetiva.
Semelhante ordem interna encontra a sua expressão normativa num ‘direito natural da instituição’ — o qual,
no caso da pública Administração, é a ‘moralidade administrativa’.” (BRANDÃO, Antônio José. op. cit., p.
65.)
formalmente legal, mas materialmente comprometido com a moralidade
administrativa.” 30
A corrente majoritária, por sua vez, vem seguindo os ditames de José Afonso da
Silva, que, utilizando o conceito deixado por Marcelo Caetano, discorre acerca da probidade
administrativa da seguinte forma:
30
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10. ed. rev. São Paulo: Malheiros, 1995.
820 p. p. 616. (grifos do autor)
31
É o caso, por exemplo de José de Castro Meira, quando assevera que “A expressão probidade
administrativa é sinônima de moralidade administrativa ou simplesmente de honestidade”. (grifo no original)
(MEIRA, José de Castro. Administração Pública na Constituição Federal. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, v. 30, n. 119, p. 193-204, jul./set. 1993. p. 199.)
32
Flávio Sátiro Fernandes, ao defender esta corrente, expõe que “a probidade é (...) o gênero, do qual a
moralidade é espécie, haja vista a maior amplitude e o maior alcance emprestados à primeira, pela
Constituição Federal e pela legislação ordinária. De fato, examinando-se o que a Constituição de 5 de
outubro de 1988 e a legislação infraconstitucional contêm a respeito dos princípios aqui aludidos, verifica-se
que probidade e moralidade administrativas são conceitos que se não podem (sic) confundir e que a
segunda dessas noções está contida na primeira.”
A seguir, o autor enumera os dispositivos constitucionais e infraconstitucionais que fazem referência à
matéria e tece a seguinte conclusão: “Em suma, podemos dizer que todo o ato contrário à moralidade
administrativa é ato configurador de improbidade. Porém, nem todo ato de improbidade administrativa
representa violação à moralidade administrativa.” (FERNANDES, Flávio Satiro. Improbidade Administrativa.
1997. Endereço Eletrônico: http://www.jfrn.gov.br/doutrina20.htm)
33
SILVA, José Afonso. op. cit., p. 616.
34
LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. op. cit., p. 58.
quando da formulação do texto da Lei de Improbidade Administrativa 35 (Lei nº 8.429/92), mais
especificamente em seu art. 11, caput, (Capítulo II, Seção III - Dos Atos de Improbidade
Administrativa que Atentam contra os Princípios da Administração Pública), haja vista a
ampliação que deram ao conteúdo do termo improbidade administrativa. Consoante
mencionado dispositivo legal,
35
Anexo I.
36
A imprecisão da redação acabou por suscitar alguns comentários mais aprofundados de vários autores,
talvez numa tentativa de justificar os legisladores. Wallace Paiva Martins Jr., comenta o dispositivo em
questão trazendo à lume o conceito deixado por Ruy Alberto Gatto que entende tal tipificação “como norma
de encerramento ou de extensão, proporcionando a censura de atos comissivos ou omissivos que não
importam prejuízo patrimonial da administração pública ou enriquecimento ilícito do agente público, mas que
ofendem os valores morais da administração pública.” MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Alguns meios de
investigação da improbidade administrativa, Revista dos Tribunais, a. 85, v. 727, p. 325-344, maio 1996. p.
326.
No mesmo sentido, os autores da obra Improbidade Administrativa – Aspectos Jurídicos da Defesa do
Patrimônio Público, após tecerem críticas à redação do caput do art. 11 da Lei 8.429, acabam por concluir
que mencionado dispositivo “funciona como regra de reserva, para os casos de improbidade administrativa
que não acarretam lesão ao erário nem importam em enriquecimento ilícito do agente público que pratica.”
(PAZZAGLINI FILHO, Marino, ROSA, Márcio Fernando Elias, FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade
Administrativa: Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Atlas,
1997. 238. p. 117.)
Ainda sobre o assunto, Juarez Freitas faz o seguinte comentário: “Sob a ótica da Lei, ainda quando não se
verifique o enriquecimento ilícito ou o dano material, a violação do princípio da moralidade pode e deve ser
considerada, em si mesma, apta para caracterizar a ofensa ao subprincípio da probidade administrativa, na
senda correta de perceber que o constituinte quis coibir a lesividade à moral positivada, em si mesma,
inclusive naqueles casos em que se não se vislumbram incontrovertidos, os danos materiais”. (FREITAS,
Juarez. Do princípio da probidade administrativa e de sua máxima efetivação. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, n. 204, p. 65-84, abr./jun. 1996. p. 71.)
Apesar de receber sua explicitação constitucional apenas em 1988, a moralidade
administrativa sempre foi objeto de discussões no âmbito do Poder Público, posto que a
corrupção tem acompanhado o Estado brasileiro desde seus tempos mais remotos.
Art. 157. Por suborno, peita, peculato e concussão, haverá contra eles a ação
popular, que poderá ser intentada dentro de um ano e dia pelo próprio queixoso
ou por qualquer do povo, guardada a ordem do processo estabelecido por lei.” 37
37
Como apregoado por Cármen Lúcia Antunes Rocha, esta foi “a única referência normativa constitucional
brasileira do século XIX e a única norma que se refere à ação popular antes da Constituição de 1934”.
(ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 218.)
38
Constata Cármen Lúcia Antunes Rocha: “A contaminação ética do Poder na Primeira República, que a
denominada “política dos governadores” assegurou em grande parte, e a viciosidade do processo eleitoral
integraram-se à Administração Pública mais afeta a interesses privados dos coronéis e seus apaniguados
que à causa social”. (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 218.)
39
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 224-225.
pautada pela moral.
“Aquele que abusar dos direitos individuais previstos nos parágrafos 8º, 23, 27 e
28 do artigo anterior e dos direitos políticos, para atentar contra a ordem
democrática ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão destes últimos
direitos pelo prazo de dois a dez anos, declarada pelo Supremo Tribunal Federal,
mediante representação do Procurador-Geral da República, sem prejuízo da ação
civil ou penal cabível, assegurada ao paciente a mais ampla defesa”.41
40
Ressalta Cármen Lúcia Antunes Rocha que “A entronização, no Direito Constitucional brasileiro, da ação
popular como instrumento de atuação do cidadão na defesa do patrimônio público constituiu um dos
melhores exemplos da possibilidade constitucional de sua participação no exercício da atividade
administrativa como controlador da qualidade ética dos comportamentos públicos”. (ROCHA, Cármen Lúcia.
op. cit., p. 222)
41
Os parágrafos a que o artigo faz remissão possuem a seguinte redação: (...) “§ 8º. É livre a manifestação
de pensamento, de convicção política ou filosófica e a prestação de informação sem sujeição à censura,
salvo quanto a espetáculos de diversões públicas, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos
que cometer. é assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos independe de
licença da autoridade. Não será, porém, tolerada a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de
preconceitos de raça ou de classe.(...) § 23. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
observadas as condições de capacidade que a lei estabelecer. (...)
Este mandamento constitucional caiu por terra com os Atos Institucionais que
advieram como conseqüência de mais um regime ditatorial, que centralizou, nas mãos do
Presidente da República, as mais diversas atividades, incluindo aí a decretação do confisco de
bens daqueles que enriquecessem ilicitamente.
A fim de dar uma resposta aos anseios da sociedade é que foi promulgada a
Constituição de 1988, que se não concretizou todos os desejos sociais, teve um caráter
inovador no que concerne à Administração Pública. O atual Texto Constitucional modificou
efetivamente o tratamento dado até então à moralidade administrativa, explicitando-a em vários
de seus dispositivos e conferindo-lhe uma importância inquestionável, qual seja a de um dos
princípios retores da Administração Pública.
§ 27. Todos podem reunir-se sem armas, não intervindo a autoridade senão para manter a ordem. A lei
poderá determinar os casos em que será necessária a comunicação prévia à autoridade, bem como a
designação, por esta, do local da reunião.§ 28. É garantida a liberdade de associação. nenhuma associação
poderá ser dissolvida, senão em virtude de decisão judicial.(...)”
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. (grifo
nosso)
Por fim, seguindo a mesma linha das Constituições anteriores, o artigo 85, V,
preceitua que os atos que atentam contra a probidade na administração são crimes de
responsabilidade do Presidente da República.
42
apud DELGADO, José Augusto Delgado. op. cit., 1994. p. 41.
2.1.2. Legislação Infraconstitucional
Diversas críticas foram feitas a mencionado digesto legal, como aliás, ressaltado
anteriormente no presente trabalho 43, porém é inegável a sua importância, já que, apesar de
algumas impropriedades, este diploma legal vem sendo reiteradamente utilizado, e, portanto,
tem-se revelado de vital importância na busca incessante por coibir os atos destituídos de
moralidade administrativa.
Antes da vigência da Lei nº 8.429/92, duas outras leis federais foram elaboradas
versando sobre o assunto: a Lei nº 3.164/57 (Lei Pitombo-Godói Ilha), que foi completada pela
Lei nº 3.502/58 (Lei Bilac Pinto). Enquanto a primeira “sujeitava a seqüestro os bens de
servidor público, adquiridos por influência ou abuso de cargo ou função pública, ou de emprego
em entidade autárquica, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que aquele tenha
ocorrido (art. 1º caput)” 44, a segunda regulava “o seqüestro e o perdimento de bens de servidor
público da administração direta e indireta, nos casos de enriquecimento ilícito, por influência ou
abuso de cargo ou função” 45, enumerando diversas hipóteses caracterizadoras de
enriquecimento ilícito.
43
ver item 1.3.2.3, entitulado “Moralidade e Probidade”.
44
apud PAZZAGLINI FILHO, Marino, ROSA, Márcio Fernando Elias, FAZZIO JÚNIOR, Waldo. op. cit., p.
29.
45
Idem, p. 30.
Conforme o comentário de Cármen Lúcia Antunes Rocha,
Vale ainda ilustrar que a Lei 8.112/90, Estatuto dos Servidores Públicos Civis da
União, além de estabelecer as vedações e os deveres inerentes aos agentes públicos em geral, a
fim de garantir uma conduta ilibada, compatível com a moralidade administrativa, prevê a
responsabilidade civil, penal e administrativa do servidor pelo exercício irregular das suas
atribuições. 47
Insta ser ressaltada a existência do antigo, porém não menos importante Decreto-
Lei nº 201/67, que legisla acerca dos crimes de responsabilidade dos prefeitos e vereadores. Por
fim, cabe fazer menção à Lei nº 1.079/50, que dispõe acerca dos crimes de responsabilidade do
Presidente da República, ministros de Estado, ministros do Supremo Tribunal Federal e
procurador-geral da República.
46
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 222.
47
Cf. SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. op. cit., p. 129-132.
48
REINALDO, Demócrito Ramos. op. cit., 1993/1995. p. 49.
Sob esta perspectiva, assevera José Augusto Delgado:
49
DELGADO, José Augusto. op. cit., 1994. p. 41.
50
CARNEIRO, Ruy de Jesus Marçal. Ação Popular: um direito-dever do cidadão e a moralidade
administrativa. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, São Paulo, n. 13, 219-233, out./dez.
1995. p. 226.
51
Os autores da obra Improbidade Administrativa: Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público,
fazem menção ao dispositivo constitucional denominando-o como “norma-princípio que, por si só gera, de
um lado, direitos subjetivos pessoais e, de outro, deveres indeclináveis aos que, ainda que transitoriamente,
militam nos quadros públicos”. (PAZZAGLINI FILHO, Marino, ROSA, Márcio Fernando Elias, FAZZIO
JÚNIOR, Waldo. op. cit., p. 49.)
52
Nesse passo, Fernando Andrade de Oliveira coloca que “(mais) do que a valorização deste ou daquele
princípio singularmente considerado, o que precisa ser destacada é a necessidade da hierarquização dos
princípios, das normas e dos valores, à vista da condição de mutuamente entrelaçados”. (OLIVEIRA,
Fernando Andrade. A Administração Pública na Constituição de 1988 (2ª parte). Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, n. 206, p. 43-87, out./dez. 1996. p. 68.)
Os quatro princípios lembrados da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e
da publicidade, numa síntese de manifestação volitiva administrativa, se reúnem
como elementos de composição da vontade, ficando assim indispensáveis, não
um, senão todos, para uma exata configuração jurídica dos atos administrativos.
Desta forma, conclui-se pela vital importância de cada um dos princípios, o que
torna necessária a abordagem, mesmo que muito sucinta, dos princípios que, juntamente com a
moralidade, constituem os princípios básicos da Administração Pública expressos no caput do
artigo 37 da Constituição Federal.
53
FRANCO SOBRINHO, Manoel. Do Princípio da Moralidade Administrativa, Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, n. 190, p. 247-252, out./dez. 1992. p. 250-251.
54
NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. A discricionariedade administrativa e o controle judicial de seus
Limites. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 31, n. 127, p. 207-221, jul./set. 1995. p. 21.
55
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. rev. atual. ampl. São Paulo:
Malheiros, 1997b. 655 p. p. 70.
56
Hely Lopes Meirelles aponta que o sigilo só é admitido “nos casos de segurança nacional, investigações
policiais ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado
sigiloso nos termos do Dec. federal 79.099, de 6.1.77”.(grifo do autor) (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
Administrativo Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. 733 p. p. 86)
comprovantes de despesas e as prestações de contas submetidas aos órgãos
competentes”.57
No sentido de dar ênfase a este destaque é Ives Gandra da Silva Martins aduz que
os princípios da legalidade, da impessoalidade e da publicidade “terminam por desaguar na
moralidade pública”. E explica o autor:
Por outro lado, determinar que o administrador público deve ser impessoal, pois
está à disposição da sociedade, não podendo privilegiar amigos, parentes ou
interesses em detrimento do bem servir, é afetar faceta da ética administrativa,
sendo, pois, a impessoalidade dimensão parcial da moralidade.
57
MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit., p. 87.
58
MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Princípio da Moralidade no Direito Tributário. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, n. 204, p. 352-365, abr./jun. 1996. p. 352-354.
até mesmo, um verdadeiro sustentáculo dos princípios norteadores da Administração Pública. 59
2.2.2. Alcance
O termo “razoável” acima utilizado pode ser entendido a partir dos ensinamentos
de Weida Zancaner, que estabelece uma estreita ligação entre o princípio da moralidade e o
59
Assim, o princípio constitucional da moralidade administrativa, como bem assevera Cármen Lúcia
Antunes Rocha, “tem uma primazia sobre os outros princípios constitucionalmente formulados, por
constituir-se em sua exigência, de elemento interno a fornecer a substância válida do comportamento
público. Toda atuação administrativa parte deste princípio e a ele se volta. Os demais princípios
constitucionais, expressos ou implícitos, somente podem ter a sua leitura correta no sentido de admitir a
moralidade como parte integrante do seu conteúdo”.(ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 213-214.)
60
Adota-se, para tanto, o conceito de discricionariedade de Celso Antônio Bandeira de Mello, que, sem
sombra de dúvidas, evidencia a moralidade como elemento inafastável dos atos discricionários. Aponta o
autor que “Discricionariedade (...) é a margem de liberdade que remanesça ao administrador para eleger,
segundo critérios consistentes de razoabilidade, um, dentre pelo menos dois comportamentos cabíveis,
perante cada caso concreto, a fim de cumprir o dever de adotar a solução mais adequada à satisfação da
finalidade legal, quando, por força da fluidez das expressões da lei ou da liberdade conferida no
mandamento, dela não se possa extrair objetivamente, uma solução unívoca para a situação vertente”.
(MELLO: Celso Antônio Bandeira de. Discricionariedade e Controle Jurisdicional. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 1993. 110 p. p. 48.
61
Neste sentido: REINALDO, Demócrito Ramos. op. cit., 1993/1995.; QUIXADÁ, Valéria Oliveira. Princípio
da Moralidade Administrativa: Autonomia, Aplicabilidade e Controle em Face da Constituição de 1988.
Revista do Tribunal de Contas da União, Brasília, n. 73, p. 51-61, jul./set. 1997.; DELGADO, José Augusto.
op. cit., 1993.; LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. op. cit. e BASTOS, Celso Ribeiro. O Princípio da
Moralidade no Direito Público. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política. São Paulo, v. 22, p. 44-
54, jan./mar. 1998.
62
QUIXADÁ, Valéria Oliveira. op. cit., p. 56.
princípio da razoabilidade e aduz que, apesar da razoabilidade não constar expressamente do
Texto Constitucional, sua existência está subentendida.
Sob esta ótica, tem-se que o agente público, especialmente em sua atuação
discricionária, deverá ter uma conduta orientada pela razoabilidade, sob pena de afrontar a
moralidade administrativa, já que o ato desarrazoado “desvirtua a finalidade da lei, gera
arbitrariedade, descumpre o interesse público, enfim, afronta o sistema jurídico como um todo e
necessita, então, ser eliminado” 64.
Ressalte-se ainda que o alcance da moralidade administrativa não fica adstrito aos
agentes públicos, já que por vezes particulares também deverão observar tal princípio. É o caso
das pessoas, em geral as jurídicas, que se relacionam com a Administração Pública.
2.2.3. Efetividade
Sob este prisma, a moralidade administrativa tal qual a atual Constituição Federal
determina, não necessita de qualquer regulamentação. Tendo em vista que a intenção do
legislador constituinte ao explicitar a moralidade foi conformar a atuação da Administração
Pública com os anseios de seus administrados71, tem-se que o conteúdo da moralidade
administrativa deve ser sacado da própria noção de “bom administrador” e não limitado em uma
norma qualquer.
68
BARROSO, Luís Roberto. Princípios Constitucionais Brasileiros. Revista Trimestral de Direito Público,
São Paulo, v. 1, n. 1, p. 168-185, jan./mar. 1993. p. 169.
69
É o caso de Joaquim Antônio Castro Aguiar, que assim expõe seus entendimentos: “Não basta apregoar
a moralidade pública. Não basta invocar o princípio. Urge definir de alguma forma os seus contornos,
iluminar-lhe os meandros e aclarar-lhe pontos obscuros, dando-lhe um mínimo de precisão. A lei há de
desempenhar este papel, deve fazê-lo (...)”. (AGUIAR, Joaquim Antônio Castro. O Princípio da Moralidade
Administrativa. Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, São Paulo, v. 19, p. 146-148. abr./jun.
1997. p. 147.)
70
REINALDO, Demócrito Ramos. op. cit., 1995. p. 19.
71
DELGADO, José Augusto. op. cit., 1993. p. 213.
não exprimir-lhe mais que a própria validez da norma. Ela é parte íntima do
direito positivo, que a tem como pressuposto fundamental. A sua violação implica
tornar inválido e censurável o ato praticado com apoio na norma, mesmo que não
exista qualquer dispositivo expresso dizendo a respeito”.72
Com efeito, após tecer estes comentários iniciais, Diogo de Figueiredo Moreira
Neto explicita, objetivamente, seu método de verificação do ato imoral, designando várias
espécies de motivos e objetos que viciam o ato administrativo por serem incompatíveis com a
moralidade administrativa. Preleciona o jurista que o chamado “vício da moralidade” encontra
fundamento sempre que, no ato administrativo, for observado motivo inexistente, insuficiente,
inadequado, incompatível ou desproporcional à finalidade pública, bem como quando o objeto
analisado for impossível, desconforme ou ineficiente. 78
O motivo incompatível (...) é aquele que não guarda adequação com o objeto do
ato. (...)
“O objeto é impossível (...) quando o resultado jurídico visado pelo agente não se
compatibiliza com o ordenamento jurídico.(...)
78
c
MOREIRA NETO, op. cit., p. 11-13.
79
MOREIRA NETO, op. cit., p. 11-13.
O objeto é ineficiente (...) quando ocorrer grave comprometimento do interesse
público pela desproporcionalidade entre custos e benefícios”.80
3.1.1. Conceito
80
Idem, p. 13-14.
81
MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit., p. 575.
82
Defende a autora que o controle popular “é (...) provavelmente, o mais eficaz meio de controle da
Administração Pública”. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 5. ed. São Paulo: Atlas,
1994. 567 p. p. 478.)
desempenhadas imediatamente pelo Estado, tendo em vista os atendimentos das necessidades
públicas”, abarcando, portanto, o Poder Executivo bem como os Poderes Legislativo e
Judiciário, já que estes últimos, além das suas atribuições específicas, exercem, igualmente,
funções administrativas. 83
3.1.2. Modalidades
“A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.
Diversos são os meios para o controle administrativo. Conforme exposto por Hely
88
O conceito de mérito que ora se utiliza é aquele elaborado por Celso Antônio Bandeira de Mello. Para o
autor, mérito do ato administrativo “é o campo de liberdade suposto na lei e que, efetivamente, venha a
remanescer no caso concreto, para que o administrador, segundo critérios de conveniência e oportunidade,
se decida entre duas ou mais soluções admissíveis perante ele, tendo em vista o exato atendimento da
finalidade legal, dada a impossibilidade de ser objetivamente reconhecida qual delas seria a única
adequada”. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. op. cit., 1993. p. 38.
89
MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit., p. 580.
Lopes Meirelles,
Fazendo uso de tais direitos, afirma o autor, o administrado poderá “exigir dos
órgãos públicos informações de interesse coletivo ou geral”, bem como encaminhar “denúncia
formalizada destinada à defesa de direito, público ou privado, ou a coibir ilegalidade ou abuso
de poder” 92. O direito de petição será exercido, em geral, através do recurso administrativo, que
poderá, conforme o caso, consistir na representação, na reclamação administrativa, no pedido de
reconsideração, nos recursos hierárquicos próprios e impróprios ou ainda na revisão. 93
a. Controle Legislativo
90
.
Idem, 581-582.
91
A primeira expressão é utilizada por VASCONCELOS, Edson Aguiar de. Instrumento de Defesa da
Cidadania na Nova Ordem Constitucional: Controle da Administração Pública. Rio de Janeiro: Forense,
1993. 186 p. p. 123. Já FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit., p. 235 faz uso da segunda.
92
VASCONCELOS, Edson Aguiar de. op. cit., p. 123-124.
93
Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. op. cit., p. 482.
dependendo da esfera, se federal, estadual ou municipal, pelo Congresso Nacional, pelas
Assembléias Legislativas ou pelas Câmaras de Vereadores, respectivamente.
b. Controle Jurisdicional
A corrente que se entende ser mais acertada, ao revés, parte de uma análise mais
pormenorisada das inovações trazidas pela atual Carta Magna. Desta forma, defende que o
94
A respeito do Tribunal de Contas, Valéria Oliveira Quixadá expõe que suas atribuições foram bastante
ampliadas em face no novo Texto Constitucional. E aduz: “O seu poder judicante sobre as contas dos
administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
indireta, incide sobre atos, tanto de ordem financeira, orçamentária e patrimonial, como também sobre
aqueles de natureza operacional e que envolvam aspectos de economicidade. Tal amplitude demonstra que
a fiscalização exercida agora pelas Cortes de Contas Brasileiras tende à formação de um juízo sobre fatores
de legitimidade fora, muitas vezes, de considerações meramente legais. (QUIXADÁ, Valéria Oliveira. op.
cit., p. 59.)
95
Neste sentido MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit., p. 605 e DI PIETRO, Maria Sylvia Za nella. op. cit., p.
488. Defende esta última autora ser esta modalidade de controle uma exceção ao princípio da separação
dos poderes, “não podendo ser ampliado fora do âmbito constitucional”.
96
FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. op. cit., p. 41.
97
Neste sentido: MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit.; MELLO, Celso Antônio Bandeira de. op. cit., 1997. e
PAZZAGLINI FILHO, Marino, ROSA, Márcio Fernando Elias, FAZZIO JÚNIOR, Waldo. op. cit.
controle jurisdicional dos atos administrativos tem um espectro muito mais abrangente e que
portanto não se exaure no exame da legalidade administrativa, atingindo, igualmente, o exame
da moralidade. 98
“Essa disposição constitucional não pode deixar de ser vista como um dado
relevantíssimo para ruptura de uma tradição malsã de uma legislação
extremamente conveniente aos administradores e imprestável sob a ótica do
controle social e judiciário permitidos que tinha vigência, até então. Ruptura de
obstáculo para que os valores éticos e morais da atividade administrativa
quedassem distante desses controles”.103
102
Neste sentido, QUIXADÁ, Valéria Oliveira. op. cit., p. 57.
Lúcia Valle Figueiredo reforça este entendimento expondo que “(...) a moralidade não é mais – como se
pretendia antigamente – expressão fugidia, sem que se possa precisar o conceito e controlá-la pelas formas
concebidas pela Lei das Leis”. (FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit., p. 52.)
103
LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. op. cit., p. 61.
104
Cf. PAZZAGLINI FILHO, Marino, ROSA, Márcio Fernando Elias, FAZZIO JÚNIOR, Waldo. op. cit., p. 17.
105
Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. op. cit., p. 488.
administrativa, como é o caso, por exemplo, dos crimes de responsabilidade (art. 52, I e II) e da
fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo(art. 49, X), só para citar alguns.
106
Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade Administrativa na Constituição de 1988. São
Paulo: Atlas, 1991. p. 116.
107
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. op. cit., p. 209.
108
DELGADO, José Augusto. op. cit., 1993. p. 215.
entanto, duas grandes correntes: há os autores que admitem o controle por parte do Poder
Judiciário e há os que negam com veemência esta possibilidade. Outros autores, por seu turno,
simplesmente omitem-se no tratamento do assunto. As justificativas para a admissão ou não de
mencionado controle são as mais diversas, pelo que se faz necessário a explicitação de algumas
delas.
E, por fim, o último entendimento, e que ora filia-se o presente trabalho, defende
a tese de que o controle da moralidade administrativa não só é possível como também consiste
na exceção conferida ao Poder Judiciário de examinar o mérito do ato administrativo.112
109
MEIRELLES, Hely Lopes. op. cit., p. 610.
110
NUNES JÚNIOR, Amandino Teixeira. op. cit., p. 217.
111
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. op. cit., 1994. p. 493.
112
Coloca Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho que “em nome do princípio da moralidade administrativa,
a qual difere da ilegalidade por desvio ou abuso do poder, o Poder Judiciário, excepcionalmente, tem
competência para anular o mérito do ato administrativo quando a valoração dos motivos e a escolha do
objeto do ato mostrem-se notória e iniludivelmente ineficientes e contrárias à moral interna da entidade em
relação à outras hipóteses que o senso comum da sociedade teria adotado. (SARAIVA FILHO, Oswaldo
Othon de Pontes. op. cit., p. 131.)
113
DELGADO, José Augusto. op. cit., 1993. p. 223.
Tal corrente, apresenta-se como a mais condizente com o Texto Constitucional
vigente. Apesar de ainda ser repudiada por parte da doutrina mais tradicional, como destacado
ao longo do presente trabalho, vem ganhando força desde a promulgação da atual Constituição,
já que, a partir das inovações por ela trazidas, houve um fomento ao estudo da matéria e o
conseqüente amadurecimento no tratamento da moralidade administrativa.
118
LOPES, Maurício Antonio. op. cit., p. 74.
119
DELGADO, José Augusto. op. cit., 1993. p. 222-223.
120
Cf. MUKAI, Toshio. Da Aplicabilidade do Princípio da Moralidade Administrativa e do seu Controle
Jurisdicional. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, São Paulo, v. 1, n. 4, p. 211-215, jul./set.
1993. p. 215.
121
Cf. MEIRA, José Castro. op. cit., p. 202.
“O controle jurisdicional se restringe ao exame da legalidade do ato
administrativo; mas por legalidade ou legitimidade se entende não só a
conformação do ato com a lei, como também com a moral administrativa e com o
interesse coletivo”..122
122
Cf. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. op. cit., p. 28. Ao comentar mencionado julgado, o autor
ressalta que o mesmo “identificou a moralidade não só com a legalidade mas com a ilegitimidade, numa
propositada confusão, nitidamente positivista de categorias éticas”.
123
Cf. LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. ob. cit., p. 77-79.
124
Idem, ibidem.
125
Acórdãos pesquisados sob o argumento “moralidade administrativa”. Relação dos Acórdãos analisados
no Anexo II.
.
126
O texto integral do acórdão mencionado consta do Anexo III.
Há flagrante ilegalidade no ato punitivo de suspensão de servidor quando
apenas constar os artigos da Lei Municipal que se entende afrontado, sem,
contudo, demonstrar ou mesmo justificar os fatos funcionais ensejadores da
punição, ou tampouco a apuração de sua efetiva ocorrência.
(...)
Observa-se – principalmente pelos termos das informações – que não houve
instauração de qualquer procedimento administrativo com o fim de apurar
ocorrência de falta funcional, não conferindo à impetrante, conseqüentemente,
oportunidade de defesa.
(...)
Descumpriu-se, portanto, regra particular de legalidade do ato administrativo
impugnado, quanto a sua parte vinculada, requisito de operacionalidade, que era a
instauração de sindicância para averiguar a falta funcional da espécie.
A falta de sindicância impediu, conseqüentemente, que se assegurasse à
impetrante o direito constitucional ao contraditório e ampla defesa, o que resta
por macular, irremediavelmente, o ato punitivo da autoridade.
Cumpre notar, ainda, que todo ato administrativo – com apenas exceções legais –
deve ser obrigatoriamente motivado, sob pena de ser inválido, mormente quando
impositivo de penalidade. Tal dever é corolário do princípio da moralidade
administrativa que permeia, modernamente, toda a Administração Pública, ao
exigir a fundamentação dos seus atos, que permitam apurar a probidade e a
transparência de sua atividade administrativa, tornando possível a impugnação
direta, frente a motivação apresentada.
(...)
Florianópolis, 22 de abril de 1998.
Eder Graf - PRESIDENTE PARA O ACÓRDÃO
Silveira Lenzi - RELATOR”..127
127
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação cível em mandado de segurança. Apelação
Cível nº 98.001873-0. Beatriz Zeczkowski e Prefeito Municipal de Santa Terezinha. Relator: Desembargador
Silveira Lenzi. 22 de abril de 1998. Endereço eletrônico: http:// www.tj.sc.gov.br. (o grifo na expressão
moralidade administrativa é nosso)
128
Cf. QUIXADÁ, Valéria Oliveira, op. cit., p. 58.
mista assuma encargos financeiros de pessoa jurídica de direito privado que rege
interesses particulares.
5. Não é lícito que o Banco de Brasília pague as despesas administrativas de
pessoal da empresa Regius S/C de Previdência Privada.
6. Embargos de declaração acolhidos”.129
A efetivação deste controle, por sua vez, só se dará através de uma longa
construção jurisprudencial e doutrinária do tema, pelo que se faz necessário a mobilização de
todos os juristas, em especial dos magistrados brasileiros, nesta árdua tarefa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
129
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Declaração no Recurso em Mandado de Segurança.
EDROMS nº 6234. Relator: Ministro José Delgado. 15 de maio de 1998. Diário de Justiça, Brasília, p.
00022, 17/08/1998.
130
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário em Ação Popular. RE-206889/MG.
Vereadores da Câmara Municipal de Conselheiros Lafaiete e outros e Diarlhes Pider Benjamin e outros. 25
de março de 1997. Diário de Justiça, Brasília, v. 01873-11, p. 02257, 13/06/1997.
princípio constitucional inerente à Administração Pública, recebendo portanto, uma ampliação
em sua esfera, o que suscitou repercussões.
Sob este prisma, tem-se que o conteúdo da moralidade administrativa não pode
ser confundido ou vinculado à legalidade ou à probidade. Em relação ao primeiro elemento, que
consiste igualmente em princípio constitucional elencado no artigo 37, caput, do Texto
Constitucional, a moralidade reserva indiscutível independência. Justifica-se esta assertiva a
partir do entendimento de que a legalidade, apesar de essencial à atividade administrativa, não é
suficiente para a configuração de sua validade, devendo existir, portanto, acompanhado da
moralidade.
A probidade, por sua vez, tem seu conteúdo inserido na própria noção de
moralidade, sendo decorrência direta desta, e possuindo, por consegüinte, uma dimensão mais
restrita.
Desta forma, percebe-se que a moralidade merece estudo destacado dos demais
institutos, tendo em vista a autonomia que lhe foi conferida constitucionalmente. Aliás, com a
promulgação da atual Carta Magna, que pioneiramente juridicizou o seu conteúdo, alçando-o a
um dos mais altos níveis da hierarquia normativa brasileira, o alcance da moralidade ganhou
proporções que ainda recebe certo receio por parte da doutrina, que temendo reconhecê-la acaba
por destinar-lhe limites descabidos em face do Texto Constitucional.
Neste passo, insta salientar que foi com o desejo de vislumbrar a real aplicação
deste princípio na atividade da Administração Pública que a Constituição Federal lançou, em
inúmeros de seus dispositivos, mecanismos que tornam possível o controle dos atos
administrativos que tragam vícios quanto a sua moralidade. Assim, constata-se que a partir da
utilização destes instrumentos constitucionais, o controle da moralidade administrativa pode ser
amplamente realizado. Este controle poderá ser interno ou externo. Quando externo, poderá
advir do Poder Legislativo ou Judiciário.
Por fim, há que se perceber uma maior conscientização por parte dos mais
variados setores da sociedade brasileira, em especial àqueles que sofrem desmandos por parte
da Administração Pública e àqueles outorgados de competência para o julgamento de tais
desmandos, no sentido de que é coibindo a imoralidade na atividade administrativa, seja através
de sua prevenção, seja através do controle dos atos administrativos ou, ainda, da observância
pura e simples de tal preceito é que será possível vislumbrar a concretização de tal princípio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Agentes Públicos nos Casos de Enriquecimento Ilícito no Exercício de Mandato, Cargo,
Emprego ou Função na Administração Publica Direta, Indireta ou Fundacional e da outras
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Improbidade Administrativa: Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público. 2. ed.
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STEPHANO, Sílvia Pucú de. Controle da Administração Pública: Legalidade. In: XIX
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VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Tradução por João Dell’Anna. 14. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1993. 267p.
*
Diário Oficial [da República Federativa do Brasil] de 03 de junho de 1992.
agente publico, induza ou concorra para a pratica do ato de improbidade ou dele se beneficie
sob qualquer forma direta ou indireta.
Art. 4º. - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos
assuntos que lhe são afetos.
Art. 5º. - Ocorrendo lesão ao patrimônio publico por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do
agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.
Art. 6º. - No caso do enriquecimento ilícito, perdera o agente publico ou terceiro beneficiário os
bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.
Art. 7º. - Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio publico ou ensejar
enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar
ao Ministério Publico, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o "caput" deste artigo recairá sobre bens
que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do
enriquecimento ilícito.
Art. 8º. - O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio publico ou se enriquecer
ilicitamente esta sujeito as cominações desta Lei ate o limite do valor da herança.
CAPITULO II - Dos Atos de Improbidade Administrativa (artigos 9º a 11)
SEÇÃO I - Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento
Ilícito (artigo 9º)
Art. 9º - Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir
qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,
função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei, e notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem
econômica, direta ou indireta, a titulo de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou
omissão decorrente das atribuições do agente publico;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou
locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art.
1º., por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou
locação de bem publico ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor
de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, maquinas, equipamentos ou material de
qualquer natureza, de propriedade ou a disposição de qualquer das entidades mencionadas no
art. 1º., desta Lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros
contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a
exploração ou a pratica de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura
ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração
falsa sobre medição ou avaliação em obras publicas ou qualquer outro serviço, ou sobre
quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a
qualquer das entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
publica, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional a evolução do patrimônio ou
a renda do agente publico;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para
pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido, ou amparado por ação ou
omissão decorrente das atribuições do agente publico, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba publica
de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato
de oficio, providencia ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei.
SEÇÃO II - Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário
(artigo 10)
Art. 10 - Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário, qualquer ação
ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, mal
baratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º., desta Lei, e
notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de
pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial
das entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas
ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei,
sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis a espécie;
III - doar a pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins
educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1º., desta Lei, sem observância das formalidades legais e
regulamentares aplicáveis a espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de
qualquer das entidades referidas no art. 1º., desta Lei, ou ainda a prestação de serviço por parte
delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior
ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar
garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder beneficio administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis a espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensa-lo indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito a conservação do patrimônio publico;
XI - liberar verba publica sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de
qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, maquinas, equipamentos
ou material de qualquer natureza, de propriedade ou a disposição de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1º., desta Lei, bem como o trabalho de servidor publico, empregados ou
terceiros contratados por essas entidades.
SEÇÃO III - Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam contra os Princípios
da Administração Publica (artigo 11)
Art. 11 - Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração publica qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade as instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na
regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de oficio;
III - revelar fato ou circunstancia de que tem ciência em razão das atribuições e que deva
permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso publico;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a faze-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva
divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria,
bem ou serviço.
CAPITULO III - Das Penas (artigo 12)
Art. 12 - Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação
especifica, esta o responsável pelo ato de improbidade sujeito as seguintes cominações:
I - na hipótese do art. 9, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função publica, suspensão dos direitos
políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de ate três vezes o valor do acréscimo
patrimonial e proibição de contratar com o Poder Publico ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 1º.,0, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstancia, perda da função publica,
suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de ate duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Publico ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 1º.,1, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
publica, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de ate
cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder
Publico ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levara em conta a extensão do
dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
CAPITULO IV - Da Declaração de Bens (artigo 13)
Art. 13 - A posse e o exercício de agente publico ficam condicionados a apresentação de
declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada
no Serviço de Pessoal competente.
§ 1º. - A declaração compreendera imóveis, moveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e
qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizados no Pais ou no exterior, e,
quando for o caso, abrangera os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos
filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos
apenas os objetos e utensílios de uso domestico.
§ 2º. - A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente publico
deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.
§ 3º. - Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço publico, sem prejuízo de outras
sanções cabíveis, o agente publico que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo
determinado, ou que a prestar falsa.
§ 4º - O declarante, a seu critério, poderá entregar copia da declaração anual de bens
apresentada a Delegacia da Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto sobre a
Renda e proventos de qualquer natureza, com as necessárias atualizações, para suprir a
exigência contida no "caput" e no § 2º deste artigo*.
*Regulamentado pelo Decreto numero 978, de 10/11/1993.
CAPITULO V - Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial (artigos 14 a 18)
Art. 14 - Qualquer pessoa poderá representar a autoridade administrativa competente para que
seja instaurada investigação destinada a apurar a pratica de ato de improbidade.
§ 1º. - A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação
do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que
tenha conhecimento.
§ 2º. - A autoridade administrativa rejeitara a representação, em despacho fundamentado, se
esta não contiver as formalidades estabelecidas no § 1 deste artigo. A rejeição não impede a
representação ao Ministério Publico, nos termos do art. 22 desta Lei.
§ 3º. - Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinara a imediata apuração
dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos
artigos 148 e 182 da Lei numero 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando de
servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.
Art. 15 - A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Publico e ao Tribunal ou
Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para apurar a pratica de ato
de improbidade.
Parágrafo único. O Ministério Publico ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a
requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento administrativo.
Art. 16 - Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representara ao Ministério
Publico ou a Procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do
seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao
patrimônio publico.
§ 1º. - O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos artigos 822 e
825 do Código de Processo Civil.
§ 2º. - Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens,
contas bancarias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei
e dos tratados internacionais.
Art. 17 - A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Publico ou
pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
§ 1º. - E vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o "caput".
§ 2º. - A Fazenda Publica, quando for o caso, promovera as ações necessárias a
complementação do ressarcimento do patrimônio publico.
§ 3º - No caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Publico, a pessoa jurídica
interessada integrara a lide na qualidade de litisconsorte, devendo suprir as omissões e falhas da
inicial e apresentar ou indicar os meios de prova de que disponha.
§ 4º. - O Ministério Publico, se não intervier no processo como parte, atuara obrigatoriamente,
como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
Art. 18 - A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda
dos bens havidos ilicitamente determinara o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o
caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
CAPITULO VI - Das Disposições Penais (artigos 19 a 22)
Art. 19 - Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente publico ou
terceiro beneficiário quando o autor da denuncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses de multa.
Parágrafo único. Alem da sanção penal, o denunciante esta sujeito a indenizar o denunciado
pelos danos materiais, morais ou a imagem que houver provocado.
Art. 20 - A perda da função publica e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o
transito em julgado da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o
afastamento do agente publico do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária a instrução processual.
Art. 21 - A aplicação das sanções previstas nesta Lei independe:
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio publico;
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou
Conselho de Contas.
Art. 22 - Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Ministério Publico, de oficio, a
requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação formulada de acordo com
o disposto no art. 1º.,4, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento
administrativo.
CAPITULO VII - Da Prescrição (artigo 23)
Art. 23 - As ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas nesta Lei podem ser
propostas:
I - ate cinco anos após o termino do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função
de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei especifica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço publico, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego.
CAPITULO VIII - Das Disposições Finais (artigos 24 e 25)
Art. 24 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 25 - Ficam revogadas as Leis números 3.164, de 1 de junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais
disposições em contrario.
*
Anexo II – RELAÇÃO DOS ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA ANALISADOS
*
Fonte: Endereço Eletrônico: http://www.tj.sc.gov.br.
ÓRGÃO JULGADOR: Primeira Câmara Civil
DATA DECISÃO: 02 de dezembro de 1997