Professional Documents
Culture Documents
"Longe de que a loucura seja para a liberdade um insulto é sua mais fiel companheira..."
Propos sur la causalité psychique,
Jacques Lacan
nos surpreendamos, pois Lacan já dizia que "a loucura, longe de ser um fato
do Outro não pode mais ser velada, introduz a questão ética que nos convoca.
fazer.
1
Lacan Jacques. 'Acerca de la causalidad psíquica" Suplemento a los Escritos, Ed. Siglo XXI, 1984, p. 177.
consideradas salubres, conjunto que, de tão ambicioso é inconsistente, o
campo do mental.
dos normais.
que significa soprar, e que com o tempo passa a significar fátuo, metido,
inchado como um balão. Bolha louca então, que leva Lacan a abordar o
2
Zizek, Slavoj, The abyss of freedom/Ages of the world by W. J. Schelling, USA: Ann Arbor, The University
of Michigan Press, 1997.
2
Num texto onde se pergunta pela ética, Lacan diz que a força do delírio nasce
Lacan fez da loucura uma questão de ética e, se procurava uma ética que a
identificasse à época.
Nossa clínica parte do que não funciona e se a época nos interessa é pelo viés
identificar o bem mais prezado hoje, critério global de saúde: "a auto-estima,
3
Miller, Jacques-Alain. Les contre-indications au traitement psychanalytique, Mental 5, juillet 1998.
4
Lacan, Jacques. ¿Es el psicoanálisis constituyente de una ética a la medida de nuestro tiempo?" en Uno por
Uno, revista Mundial de Psiconanálisis, N 39, Barcelona:, 1994, p7-17.
5
Aramburu, Javier, La época y la pulsión. http: //www.wapol.org/news/etext/aramburu001/htm
3
expert californiano. Os filósofos a estudam,6 milhares de exemplares circulam
época não cobre o campo freudiano e só nos interessa quando o próprio campo
que pretende cobrir faz sintoma, ou continuando com Miller, saúde mental e
Jacques-Alain Miller generaliza a loucura como uma estrutura geral para todo
Outro".8
6
Abraham, Tomás: Psicologías en La empresa de vivir, Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 1999..
7
Miller, Jacques-Alain. Curso Donc, aula 26/1/94, inédito.
8
Calderón de la Barca, Alicia. La locura del yo, en Freudiana 13, EEP-Catalunya- Barcelona: 1995.
4
considerado sujeito de direito, é tomado como irresponsável e sua palavra é
negou a palavra.
Que o louco seja o homem livre não é uma tese passageira de Lacan, diz
proporcionou.
A loucura como êxtase do ser numa identificação ideal, definição que Lacan
encarna.
objeto. O louco é livre porque carrega o objeto no seu bolso, porta sua causa
5
De Hegel finalmente, Lacan extrai a "fórmula geral da loucura" que aloja a
próprio gesto do espirito fechar-se sobre si, o ato louco a retirada do Umwelt,
mecanismos deterministas, mas cabe ao sujeito dizer que sim, dizer que não.
Cabe ao sujeito dizer que não à passagem do real para o simbólico, não
Fragmento de fracasso
6
estabilização perdida quando o fracasso na obtenção de suporte imaginário
onde o corpo não parece lhes dizer respeito, dedica-se a esse objeto que, até
miradas de amor.
Segregado de todas as normativas, é livre para cuidar de si, ouvir seu som,
social a não ser o que mantém a duras penas com os sinais do trânsito, livre de
toda queixa. Ama Jô Soares não por acaso já que a loucura da comicidade
dessa figura nos conduz a supor=lhe um gozo, no que é abismo para o resto
dos mortais.
segunda vez, em dois anos de encontros, o que é que o traz por aqui. Com um
7
sorriso irônico que só uma ampla liberdade permite enunciar, diz: "Venho
e o gozo de um UM.
Marcela Antelo,
2005.