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ATIVIDADES DA ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL

1 - A Função do Centro Espírita

O Centro Espírita é um PRONTO SOCORRO ESPIRITUAL, pois os


necessitados (encarnados e desencarnados) nele são auxiliados espiritualmente. Todos
nós, deficientes espirituais que somos, nele encontramos o remédio para os nossos
males.
É um TEMPLO, um SANTUÁRIO, no sentido de propiciar a comunhão com
Deus e com a espiritualidade superior.
É uma ESCOLA, pois nele se ensina o Evangelho, busca-se o estudo das leis
divinas e dos princípios es pirituais e, principalmente, a vivência dessa Boa Nova,
reeducando para um mundo melhor. Visa -se pois, o auto-conhecimento, para propiciar a
luta contra vícios e defeitos e pelo aprimoramento de virtudes.
Nos lembra Divaldo Pereira Franco (in Novos Rumos para o Centro
Espírita, Editora Leal, palestra de 08/05/98) que a Casa Espírita é também uma
OFICINA DE TRABALHO, pois nela desenvolvemos aptidões, realizamos
experiências, procurando sair da teoria para a prática. Complementaríamos que ela nos
prepara também e principalmente para o trabalho no mundo, enquanto sal, fermento e
luz, nos dizeres evangélicos.
A Casa Espírita é também um CENTRO DE CONVIVÊNCIA FRATERNAL,
pois se procura despertar a fraternidade e o amor, unindo-se e fortificando-se os laços
entre os trabalhadores, com vistas à realização de um bem comum.
Assim, um Centro Espírita deve ser um foco de luz a irradiar nas trevas desse
mundo denso, iluminando os caminhos da espiritualização, propiciando a consolação,
e, essencialmente, a libertação ou redenção do Homem.
A REFORMA ÍNTIMA dos trabalhadores é uma condição essencial para que
um Centro Espírita atinja os seus objetivos, ou seja, para que possa ser o que deve ser
(e, em muitos casos, infelizmente, não é).
Também é essencial o APRIMORAMENTO TÉCNICO, pelo estudo
constante e perseverante (individual e em grupo) e pela praticagem correta, com
conhecimento de causa e, portanto, desenvoltura funcional eficaz. Boa Vontade só não
basta.
Tudo isso se resume no preceito AMAI-VOS E INSTRUÍ-VOS, ditado pelo
Espírito de Verdade (in O Evangelho Segundo o Espiritismo , capítulo VI, item 5, de
Allan Kardec). Só assim há irradiação de luz, auxílio efetivo, esclarecimento, vivência
fraternal, testemunho e espiritualização.
Tudo isso pressupõe coerência de vida, o que propicia a autoridade moral,
através do comportamento cristão em todo e qualquer ambiente de nossas relações,
dando-se exemplo, em primeiro lugar, para os desencarnados, antes que aos
encarnados. Pois aqueles nos vêem o íntimo, mesmo nos nossos momento s de solidão,
de lazer e aquilatam o que se encontra por de trás de muitas de nossas máscaras, no
campo das nossas verdadeiras intenções.
Todo o trabalho do Centro Espírita só se efetiva em equipe . Em não
havendo o esforço de todos e de cada um, a qualidad e espiritual dos trabalhos sofrerá
conseqüências em algum grau. Através, portanto, do fortalecimento espiritual
individual, se estará fortalecendo espiritualmente o Grupo, o qual, enquanto ente
coletivo, tem um papel a desempenhar. Assim, estará o Centro E spírita cumprindo a sua
função.

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Diz Herculano Pires: “se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita,
quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais
importante movimento cultural e espiritual da Terra ”.
Portanto, estar num Centro Espírita não pode se constituir num passatempo. O
Centro não pode ser um mero clube de amigos. Não pode ser um lugar onde vamos
jogar conversa fora. Não é um local que temos a obrigação de ir e executar
mecanicamente um trabalho para qu e tenhamos a consciência tranqüila.
Estar trabalhando num Centro Espírita é assumir a responsabilidade de
uma tarefa a que nos comprometemos no plano espiritual, antes da encarnação . É
a busca constante de qualidade na colaboração em um trabalho que não é nosso, mas
sim, de JESUS!
Portanto, devemos VALORIZAR ao máximo – nos lembra o confrade
Azamar Bragança Trindade – os minutinhos que tivermos a honra de vivenciar junto
às entidades do amor e do bem, ao adentrarmos num Centro Espírita. Seja para receber
auxílio ou para auxiliarmo -nos mutuamente. E prossegue, inspiradamente, o nosso
companheiro: “banalizar o Centro Espírita é endividamento sério e cármico ”.
Conscientizados dessa questão tão importante, estaremos colaborando de fato, para a
evolução evangélica no planeta.

2 - Postura nos Serviços de Acolhida e Encaminhamento

Pergunta-se: o que sentimos na primeira vez que colocamos o pé dentro de um


Centro Espírita?
Em que pese os inúmeros casos de pessoas que se sentiram em paz, em
harmonia e em clima espiritual elevado, um percentual grande de pessoas, mormente as
provenientes de religiões dogmáticas, em especial quando praticantes, mas mesmo as
que apenas assimilaram determinados princípios, relatam sentir medo, insegurança,
desconforto, ansiedade, estr anheza e expectativa diante do desconhecido. Muitos se
julgam naquele primeiro instante, traindo seus valores mais íntimos recebidos na
infância. Sabemos, aliás, que várias pessoas com problemas dolorosos só buscam a Casa
Espírita após terem esgotado outro s recursos.
Logo, o primeiro fator de importância capital é o ACOLHIMENTO. É lógico
que, mesmo que não haja medo ou qualquer desconforto fruto de algum preconceito,
todos gostamos de ser bem tratados, acolhidos. É uma condição prévia para a
harmonização íntima. Mas é notadamente nesses casos em que já chegamos ao Centro
com desconforto, nos esforçando em muitas ocasiões para não deixarmos o ambiente
precipitadamente, até também por problemas emocionais e obsessivos, que o
acolhimento se faz essencial para nos acalmar e auxiliar na assimilação do tratamento
(falamos não só do passe em si, mas também da preleção evangélica).
A acolhida carinhosa e fraternal é importantíssima para que a pessoa se sinta
bem. E isso pressupõe o sorriso. Não o sorriso forçado, maquinal, exterior, mas o
sorriso primeiramente do coração. O sorriso, para ser verdadeiro e, portanto,
contagiante, deve vir de dentro para fora. Para isso, temos que fazer um exercício
íntimo para enxergar no próximo, verdadeiramente, o nosso irmão que ele é.
Jesus nos disse: “quando fizeres o bem ao necessitado, é a mim que o
fizestes” (Mateus 25, 40). O Mestre, reconhecendo -se um igual a todos nós, Espíritos
em evolução, na Sua grandeza proclama a identidade fraternal entre os filhos do Pai,
sentindo-se assim beneficiado intimamente quando qualquer outro seu irmão também o

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é, sentindo alegria íntima tanto pelo que recebe, quanto pelo que doa. Vivenciando o
amor em comunhão com o Pai, vislumbrando o estado de perfeição relativa a que todas
as criaturas alcançarão, alimenta-se o Mestre de certo modo, pelo amor que é semeado
no coração do irmão necessitado e que o desperta progressivamente para a sua condição
divina, fazendo brotar o sentimento de fraternidade cuja plenitude é obra dos séculos.
Assim, o amor que acalenta a criatura carente é o amor que acalenta a Jesus!
Por conseguinte, procuremos ver Jesus no outro. Procuremos agir para com
o outro como agiríamos se ele fosse Jesus. Sem servilismos, sem afetação, mas com
amor, com acolhida fraternal. Façamos de conta que os homens, mulheres e crianças
que adentram à Casa Espírita sejam Jesus e Maria disfarçados – fazendo a eles tudo o
que faríamos se os encontrássemos de fato, ou seja, tudo o que gostaríamos que fosse
feito para nós.
Se tivermos isso em mente, sorriremos espontaneamente, com solicitude,
respeito, carinho, gentileza, etc. Verdade é que umas pessoas são mais sorridentes que
outras. Há um traço característico diferenciado em cada ser. O Comandante Edgard
Armond era uma pessoa mais séria, contida, porém extremamente amorosa. Existem
pessoas francamente extrovertidas, mas não necessariamente amorosas. Há pessoas que
sentem mais dificuldade em sorrir, em acolher o outro, por uma introversão ou mesmo
timidez. Às vezes não gostaríamos de ser assim, gost aríamos de ser mais atirados,
porém se ainda não somos, é importante nos auto -avaliarmos na função da acolhida. Às
vezes queremos desempenhar uma função para a qual ainda não rendemos devidamente,
em detrimento de outra para a qual seríamos excelentes. Iss o não significa que não
podemos nos desenvolver nesse ou naquele sentido, mas sim, procurar em determinado
momento “não dar o passo maior que a perna”.
Armond junto aos trabalhadores, buscava conhecer as potencialidades de cada
um para adequar a pessoa na função que pudesse desempenhar melhor. Essa é uma
tarefa difícil dos dirigentes. E é também uma responsabilidade de todos nós
procurarmos o auto-conhecimento, estudando as nossas potencialidades para
desenvolvê-las da melhor forma possível. É como na mediu nidade: às vezes queremos
uma faculdade que não temos, ou queremos o aprimoramento de uma que é secundária
em detrimento da principal, quando o nosso dever é trabalhar a faculdade dominante.
Portanto, para acolher, precisamos sorrir, criar empatia, e verda deiramente
vibrar amorosidade. Mesmo quando diante dos problemas da vida, cairmos na tristeza –
buscar passar otimismo, positividade, alegria é fundamental, pois se aparecer um
assistido com depressão e, nos mostramos deprimidos, aí é que ele vai “para o b uraco”.
Dirá de si para consigo: “O que é que vim buscar aqui?! ”.
E a nossa luta é, apesar dos nossos sofrimentos, procurarmos ir modificando o
nosso íntimo, desenvolvendo com perseverança, a fé e a confiança, para buscarmos não
fingir, mas passarmos ao o utro o que é positivo por estarmos buscando vivenciar de fato
o positivo. Isso é esforço de reforma íntima.
Dar as explicações necessárias, corretas, com solicitude, fineza, carinho, sem
jamais perdermos a paciência – é fundamental. Pois então, mesmo que a s vibrações do
outro não estejam boas, estando ele irritado, nervoso, impaciente – não haverá sintonia
e, com a ajuda dos bons Espíritos que procuram atuar em colaboração conosco – haverá
a influenciação positiva do mal -humorado, com a alteração de suas di sposições íntimas.
Por isso, em muitos casos, o sorriso é mais importante que o próprio passe,
pois propiciará a receptividade necessária para recebê -lo. E o simples fato de a pessoa
estar num lugar onde é bem tratada de fato, em não estando acostumada a e ssa acolhida
em sociedade, em sua vida, aí, nesse instante, já começa o seu despertamento, operando -
se em certa medida um choque em sua alma, sentindo -se tocada no íntimo do seu ser e

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sendo levada, assim, a refletir que existem pessoas diferentes, afáveis, boas, carinhosas.
E assim o grau de ameaça cai, o nível de temor (se houver) cai e o plano espiritual pode
agir com mais facilidade.
Por isso também o ENCAMINHADOR deve sorrir e ser extremamente
amoroso para verdadeiramente encaminhar, procurando agir efi cientemente para que
não haja margem para nenhuma dúvida por parte do assistido quanto à realidade que o
cerca. “O local para sentar-se é aqui”, “a caixa de vibrações fica ali ”, “o banheiro e o
bebedouro ficam acolá”, “tenha um bom tratamento ”; se perguntado, esclarecer
pacientemente, por exemplo, que “ as vibrações são sentimentos de amor que servem
para auxiliar os necessitados ”, “o tempo de preleção é cerca de vinte minutos ” e assim
por diante.

3-Preparação Diária, Oração, Vigilância e Abertura Prévia do s Trabalhos

Para que possamos assim atuar de forma satisfatória, não podemos olvidar a
importância de nossa preparação diária. A oração e a vigilância são preceitos de
importância capital recomendados pelo Cristo. A preparação individual dos
trabalhadores de um Templo Espírita deveria ser uma realização de todos os dias.
Porém, em razão da nossa inferioridade, mesmo com esforço, ainda estamos sujeitos a
quedas inúmeras. Procuremos, assim, diminuir as nossas falhas em especial nos dias de
atividade espiritual, através de uma preparação mais intensa. Vigiarmos as ocasiões que
podem nos comprometer espiritualmente. Evitarmos nesse dia, no lar, no trabalho
profissional, na sociedade enfim, discussões, ainda que amistosas, altercações,
pensamentos menos dignos, sentimentos inferiores, bebidas alcoólicas, carne,
procurando comer de forma moderada, e, diante de uma situação inusitada, nos
valermos sempre da prece.
Gostaríamos de lembrar, nesse sentido, duas passagens da vida de Francisco
Cândido Xavier, narradas por Marcel Souto Maior, em seu livro As Vidas de Chico
Xavier, que nos mostra a importância da oração.
“Numa tarde, quando voltava da Fazenda Modelo, a pé e sozinho, parou no
meio da estrada de terra e se jogou ao chão de joelhos, com os olhos voltados para o
céu e as mãos enlaçadas em prece. Em sua direção, cada vez mais perto, avançava uma
legião de quase seiscentas criaturas descontroladas, armadas com pau e aos berros:
– Você é o Chico Xavier? Agora você vai ver. Miserável, protegido.
Os agressores já estavam a cinco passos de distância e nem sinal de
Emmanuel, o protetor. Chico rezou, pediu perdão a Deus e se preparou para o
linchamento. De repente, as figuras começaram a se desfazer. Não sobrou uma para
contar a história. Chico se levantou, sacudiu a poei ra da calça e, a caminho de casa,
decifrou a lição do dia: a reza era um santo remédio.
Semanas depois, Chico foi surpreendido por três mulheres nuas se
ensaboando embaixo do chuveiro em sua casa. Elas riam, jogavam água uma nas
outras e encaravam o moço c om olhares convidativos. O autor de Libertação fechou os
olhos rezou e, quando voltou à tona, estava sozinho de novo no banheiro, pronto para o
banho” (capítulo V).
Além da nossa preparação individual no dia -a-dia, visando a nossa atuação
satisfatória no Templo Espírita, não podemos desprezar a importância da
preparação antes do começo do trabalho, ou seja, de nossa ligação prévia com o
Alto. Seria bom que os que pudessem chegar mais cedo, sempre participassem dessa
abertura prévia. Isso para a devida ligação fraternal com o colega de serviço, o irmão
de jornada e, principalmente, para a ligação com o Plano Espiritual. A integração plena

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de todos com o dirigente e os mentores e colaboradores espirituais do trabalho é fator
importante. Isso nos dá força ínti ma para mantermos o padrão vibratório elevado no
contato com os assistidos, mesmo os mais perturbados. Os trabalhadores que chegarem,
por motivo profissional ou outro relevante, após essa preparação inicial, devem, tomado
o passe de limpeza ao adentrarem a o Centro, se recolher em profunda prece antes de
qualquer contato com os assistidos.
Para a postura íntima adequada, além de procurarmos passar o amor, o sorriso
e o calor necessários, vendo Jesus no outro, tratando -o como a um verdadeiro irmão –
como se fosse o nosso pai, a nossa mãe, o nosso filho – precisamos também aprender a
visualizar o companheiro espiritual ou os companheiros espirituais que estão ali
atuando conosco no desenvolvimento do trabalho. Mesmo não tendo a faculdade de
vidência ou uma sensibilidade mais aflorada, a busca da elevação cotidiana e a
preparação bem feita nos possibilitam perceber as entidades que trabalham conosco e
receber as suas orientações para cada caso.
Em determinado sentido, todos somos médiuns, todos recebemos inspira ções
da espiritualidade. Procurando sentirmo -nos diante dessas entidades – o que é uma
realidade – não nos permitiremos pensamentos menos dignos, distrações, posturas
meramente exteriores e comportamentos incompatíveis com o desempenho de tão
dignificante função. Assim, estaremos em estado de prece contínua . Em sentindo
qualquer dificuldade nesse sentido, lembremos de Agostinho, que quando encarnado
como tal afirmou: “há uma oração interior que nunca se cala. Teu desejo. Portanto, se
queres orar sem cessar, não cesses nunca de desejar ”.
Isso vale para os que fazem a acolhida, os encaminhadores, os passistas, os
plantonistas ou entrevistadores e os preletores.

4 - Os Passistas e a Higiene das Transmissões

Quanto à higiene das transmissões (capítulo 28 d o livro Passes e Radiações)


afirma o Comandante Armond que tal pressupõe tanto quanto possível que os passistas
“tenham boa saúde, sejam sóbrios na alimentação, no vestuário, nos costumes e
altamente moralizados; que eliminem vícios, evitem tóxicos, inclusive os provindos de
seus próprios organismos e aprendam a dominar suas emoções, para evitar a perda
inútil de energia fluídica, mormente as do campo sexual, pois que um sistema nervoso
esgotado ou desequilibrado, impedirá a emissão e a livre movimentação d e fluidos
curativos e levará o operador a uma condição de hipersensibilidade que o exporá a
vários e sérios riscos” (grifos nossos).
E prossegue: “realmente, sempre que houver excesso de sensibilidade, por
parte do doente ou do operador, haverá possibilid ade mais ampla de permuta de
fluidos bons e maus, sendo comuns os casos de transmissão de fluidos mórbidos do
doente para o operador e vice -versa. Este último, além dos fluidos de cura, transmitirá
com os passes, toxinas orgânicas ou medicamentosas e ainda mais: produtos vindos da
esfera moral, de suas próprias paixões inferiores que, porventura, constituam sua
natural tonalidade vibratória ”. “São muito comuns os casos de doentes submetidos a
passes dados por servidores sinceros e de boa vontade que, todavi a, sentem após a
aplicação, inexplicável agravação de seus males, ou o acréscimo de novos,
acompanhados de visível mal -estar que, justamente, resultam dessas impurezas a que
nos referimos”, esclarece.
E finaliza: “para dar passes, pois, não basta a boa von tade; é necessário
também que o operador preencha uma série de condições físicas e psíquicas, tendentes
à purificação do corpo e espírito ”.

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No que toca à sobriedade do vestuário, na questão 219 do livro Respondendo
e Esclarecendo, perguntado como a gente d eve se vestir hoje em dia, responde
Armond: “discretamente, com decência, simplicidade e conforto ”.
“Alimentação sóbria, abstenção de tóxicos e outros fatores, influem
sobremodo no trânsito livre e desembaraçado das energias pelo binômio centro de
força-plexo; isto é muito importante para aqueles que dão passes e que necessitam
manter sempre suas próprias forças em perfeito ritmo e capacidade ”, lembra nosso
Irmão Edgard no capítulo 2 do livro Passes e Radiações, e enfatiza no capítulo 3 a
necessidade da reforma íntima (vencer vícios e defeitos, dominar paixões inferiores,
conquistar virtudes espirituais), da higiene do corpo físico, da alimentação racional e
sóbria, do repouso necessário, distrações benéficas e úteis e de um programa individual
de ação.
André Luiz, nos lembra o Comandante, “ demonstra que a carne é alimento
tão tóxico e desaconselhável quanto o fumo ou o álcool ” (capítulo 28 do mencionado
livro).
E no capítulo 8, enfatizando que os sensitivos mais que quaisquer outros estão
sujeitos ao constante recebimento de fluidos pesados, Armond recomenda como uma
necessidade a LIMPEZA PSÍQUICA DIÁRIA . Isso, para que se não tornem “ vítimas
crônicas e submissas de graves perturbações provindas da contaminação fluídica ”. O
hábito do autopasse diário comp ensa a nossa inferioridade imanente, diz Edgard,
“própria dos nossos corpos de carne, sujeitos a tantas imperfeições e impurezas ”. E no
capítulo 18: “justamente por causa das contaminações diretas que sofrem a todos os
momentos, devem os médiuns se utiliza r – sobretudo eles – do Autopasse para a
limpeza psíquica de si mesmos e o recarregamento de energias dos plexos e centros de
força”.
Diz ele que, “os médiuns e as pessoas que dão passes não devem ser viciadas
no fumo, no álcool, etc. para que, juntament e com seu próprio fluido, não transmitam
para os doentes as emanações naturais desses tóxicos, que produzem males inúmeros
aos organismos doentes e sensíveis ”, bem como, prossegue, “ não devem dar passes
quando estiverem doentes, fracos ou intoxicados por e xcessos de alimentação ou
medicamentos, porque, da mesma forma, transferirão para os doentes esses venenos
orgânicos”. “E, ainda, quando estiverem espiritualmente perturbados, vitimados por
encostos, obsessões, etc., porque além dos seus fluidos, já de si mesmos prejudiciais,
ainda transferirão para o doente os fluidos maus dos espíritos perturbadores com os
quais estejam em contato” (grifos nossos), finaliza. No livro Trabalhos Práticos de
Espiritismo, contido atualmente na coletânea Prática Mediúnica, Armond, além dos
referidos casos, ainda recomenda que não devem ministrar o passe, “ aqueles que,
moralmente, sejam julgados indignos ” (capítulo 4, item 4.3, Regras). Deve referir-se a
alguém cujo comportamento incompatível com a moral e a ética se tornou conh ecido de
modo comprovado e insofismável.
Nessas condições, portanto, tais trabalhadores devem se afastar do passe,
da doação magnética, o que não significa afastamento do trabalho . O trabalho é
essencial para o equilíbrio psíquico do ser, de modo que, nas referidas condições não
devem doar suas energias, mas devem procurar realizar qualquer outra função nos
trabalhos da Assistência Espiritual. Assim como cabe ao trabalhador saber quanto a
eventual necessidade de se submeter a tratamento espiritual (detectan do o desequilíbrio
em si), cabe também a ele a responsabilidade de revelar a sua condição ao dirigente do
trabalho, para que as providências cabíveis sejam tomadas.
Compreende-se que, nesses casos, não poderá o trabalhador realizar o passe de
limpeza, bem como a aplicação de todo e qualquer passe ou imposição de mãos; da

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mesma forma, mesmo que esteja tão somente na corrente doando magnetismo, se
enquadra igualmente na proibição, pois haverá doação de fluidos impuros. É verdade
que em nosso mundo de provas e expiações não existe passe isento de impurezas,
porém, nesses casos, elas adquirem uma condição negativa superlativa e, portanto,
prejudicial.
Por conseguinte, o passista necessitado de tratamento espiritual não poderá
doar energias mesmo se apenas na c orrente de aplicação do P1, P3A e P2 (nesse,
embora seja o aplicador quem conscientemente cuida do físico do assistido, estando os
obsessores recebendo as vibrações de amor emitidas pelos participantes da corrente,
esses, têm também o seu magnetismo utiliz ado pela espiritualidade no tratamento); no
que toca ao CH, como em tese, a doação é puramente de fluidos amorosos,
cientificamente não haveria problema na doação, porém entrar na roda que já estava
harmonizada apenas nesse momento, o que implicaria ainda em arrastamento de
cadeiras se revelaria contraproducente. Falamos “em tese”, pois na prática, poderia
ocorrer de um trabalhador, incorretamente, invés de realizar doação fluídica (emissão
pelo coração de vibrações amoráveis) – não obstante seja a doação sabida de todos para
esse caso – efetuar doação magnética. Tal problemática (erro na natureza da
transmissão) poderia ocorrer também no que tange ao P3B.
No livro Chico Xavier Amor e Sabedoria , o autor, João Cuin, narra ter
trabalhado durante muitos anos num grupo de desobsessão com o Chico, na Comunhão
Espírita Cristã, em Uberaba, revelando que durante todo esse período era vítima de um
assédio espiritual muito grande que lhe ocasionava muito sofrimento, dando a entender
tratar-se de uma obsessão cármica. Nesse sentido, uma dirigente de um grupo de P3B de
um Centro Espírita do interior, nos contou certa vez que um trabalhador da equipe,
médium, padecia de obsessão cármica, e, não obstante, os trabalhos transcorriam em
plena harmonia, sem qualquer problema ou efeito colateral negativo para os assistidos.
Ora, perguntaríamos, e como ficaria a questão da doação e sua participação na corrente,
nesse caso?
A médium Martha Gallego Thomaz nos esclareceu que “quando o médium é
inexperiente ele passa energia ao as sistido, dando sem saber, força ao obsessor. Na
verdade a vibração deve ser de amor, fluídica -luminosa, sem magnetismo. Emmanuel
certa vez nos disse ‘amor é luz e luz é vida’. Para o assistido na desobsessão só se deve
doar amor. Na corrente se dá sustenta ção, inclusive magnética, ao médium que
incorpora e não ao assistido. Deve -se ter esse cuidado também com tumores, pois a
energia o ativa. Vimos o caso de uma pessoa que tinha uma ‘bola’ no final do esôfago
e, com a energia, ela começou a destilar luz e a crescer. Havendo tumor não se deve
dar energia”.
Logo, no que tange à participação do médium com envolvimento espiritual no
trabalho de um grupo de desobsessão, concluiríamos que sua participação seria possível,
desde que bem orientado pelo dirigente do g rupo no que toca à sua atuação ou tipo de
doação. Malgrado o desequilíbrio em algum grau que possa possuir, desde que esteja
buscando sua reforma íntima e sentindo -se em condições para a realização do trabalho
de modo plenamente satisfatório (o que pressup õe o acompanhamento do dirigente, que
deverá observar todos os aspectos da realização da atividade em questão), e evitando a
doação magnética para o assistido, nesse caso, não haveria problemas.

5 - Passe de Limpeza

O PASSE DE LIMPEZA deve ser “utilizado na preparação dos atendidos e


passistas, logo que adentram ao Centro Espírita, para que não venham a perturbar a

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harmonia dos trabalhos e para que os necessitados possam assimilar com maior
proveito os tratamentos que irão receber ”, conforme reza o iníci o do capítulo 17 do
livro Passes e Radiações. Todavia, no capítulo 26 afirma Armond que, “após a
recepção e entrevista, o assistido recebe o passe de limpeza. Notar que este ato deve ser
realizado sempre fora do recinto do trabalho ”.
Entendemos a contradição aparente no sentido de que, se possível, o passe
logo ao adentrarmos ao Centro é recomendável, o que dependerá contudo das
instalações de cada qual, não se constituindo a falta desse passe em fator impeditivo aos
trabalhos da recepção e da entrevista, sendo contudo essencial que este ato seja
“realizado sempre fora do recinto do trabalho ”, vale dizer, onde se dará o tratamento,
tanto a evangelização, que se dá numa sala determinada, quanto a aplicação do passe
específico, realizada a seguir, noutro reci nto.
Com efeito, na nota final do capítulo 15, do mencionado livro, o nosso Irmão
Edgard reforça que “em todos os tratamentos materiais ou espirituais, é obrigatória a
prévia limpeza psíquica dos doentes e dos operadores, antes de penetrarem no recinto
do trabalho (...)” (grifos nossos).
Evidencie-se que o passe de limpeza não pode se dar de modo tumultuado .
Mais que a execução do passe em si nos referimos à postura dos passistas, como por
exemplo: um passista ficar conversando com outro ; ficar observando o que se passa na
entrada (às vezes até durante a aplicação do passe); sair do local para ler o quadro de
avisos ou para escrever nomes para as vibrações, deixando, por vezes, um único passista
para aplicar o passe em homens e mulheres .
No que toca à questão de gênero, salvo impossibilidade, cada um deve receber
passe de passista do próprio sexo; normas como essa, bem como a preocupação para
que não haja contato físico pela imposição de mãos, ou com aquela sobre indumentária
imprópria para com o ambiente e spiritualizado, incompatível com a decência, visam
evitar situações que possam ensejar pensamento ou impressão sensual, pois tal
modificaria a natureza do fluido a transmitir, carregando -o de vibrações negativas –
prejudiciais aos doentes e operadores, atr aindo Espíritos inferiores, aumentando as
perturbações e ensejando, caso a situação se perdure de modo irresponsável, corrupção
psíquica do ambiente, conforme o capítulo 25 da obra Passes e Radiações.
O passista em seu posto deve estar ligado ao Plano Esp iritual; sorrirá ao
assistido para atrair-lhe a simpatia assim que esse tomar o seu lugar a sua frente e
desempenhará sua função em comunhão com a espiritualidade. “ Para que os passes
magnéticos produzam melhor efeito, é necessário que, previamente, o oper ador
estabeleça laços fluídicos de simpatia, solidariedade e confiança entre si e o doente;
qualquer sentimento de antipatia, temor ou desconfiança de qualquer deles, impedirá o
fluxo natural e espontâneo dos fluidos entre ambos ”, ensina nosso Irmão Edgard, no
capítulo 10, item “m” do referido livro.
Se o assistido estiver incomodado, impaciente, for mal educado ou agressivo,
jamais devemos entrar na mesma sintonia, e o conseguiremos, desde que previamente e
durante todo o trabalho estejamos orando e vigiando. Tratando-se, como se trata, de
trabalho em equipe, recordamos Allan Kardec: “(...) para que todos os pensamentos
concorram para o mesmo fim é necessário que vibrem em uníssono, que se confundam
por assim dizer em um só, o que não pode se dar sem concen tração” (item 331, capítulo
XXIX de O Livro dos Médiuns).
Como costuma lembrar o confrade Flávio Focássio, o passista que fica atento
ao que se passa na entrada, fazendo gestos com a mão para chamar à cadeira os
assistidos para o passe, é porque não está concentrado. Evidentemente, acrescentamos,
se não há um encaminhador, não há alternativa para o passista. A responsabilidade,

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então, seria do dirigente do trabalho, que deveria organizá -lo de modo condizente com a
importância que a espiritualidade lhe confe re, salvo situação de impossibilidade
momentânea insuperável. Todo o corpo de trabalhadores estando consciente das
implicações que um trabalho como esse oferece, deverá contribuir à altura para evitar
essas falhas, com responsabilidade e em sintonia com a espiritualidade.
A busca cotidiana da espiritualização – através do esforço de reforma íntima,
de preces, da vibração das 22 horas, evangelho no lar, utilização da caderneta pessoal,
da revisão preconizada por Agostinho (questão 919-A de O Livro dos Espíritos), da
vigilância (de pensamentos, atos, ocasiões que podem nos prejudicar espiritualmente),
da prática da caridade (não somente a eventual, mas a sistemática, habitual, periódica),
da aceitação diante das dificuldades momentaneamente insuperáveis da vid a – vai nos
possibilitando uma maior qualidade de nossa doação em todos os sentidos, inclusive,
uma ligação mais poderosa com os Bons Espíritos, nos permitindo uma maior
inspiração e intuição diante dos problemas que se nos afigurem nos trabalhos
espirituais.
O comportamento íntimo de se procurar evitar as sintonias indesejáveis,
mesmo quando somos francamente atacados, com o tempo, nos fortifica e nos dá
segurança na nossa atuação. Gostaríamos de lembrar, nesse sentido, um fato da vida de
Chico Xavier, contida no livro Chico, de Francisco – de autoria de Adelino da
Silveira (“Razão e Necessidade”).
“Muita gente procurava o Chico em seu emprego e isto começou a causar -lhe
problemas.
Certa vez, uma senhora em adiantado estado de perturbação foi procurá -lo. O
chefe não queria que ele atendesse ninguém em seu ambiente de trabalho e foi dito à
senhora que o Chico estava em casa. Para lá se dirigiu ela, sendo informada de que o
Chico estava trabalhando. Voltou novamente ao emprego e disseram que o nosso amigo
saíra a serviço.
Ela resmungou qualquer palavrão e se foi.
À noite, quando as portas do Centro se abriram, ela avançou sobre ele e lhe
deu inúmeros bofetões no rosto.
Quando acabou de desabafar através da agressão, falou com voz nervosa e
trêmula.
– Está pensando que tenho tempo para andar atrás de você para cima e para
baixo? E, agora, já para aquela sala que você vai me dar um passe...cachorro...
A senhora sentou-se numa cadeira e ficou esperando.
O Chico começou a pensar: “Senhor Jesus, para se transmitir u m passe
precisamos estar calmos, com o coração voltado para o amor do próximo. O Senhor
sabe todas as coisas e sabe que não estou com raiva dela, mas ela me deixou num
estado meio diferente. Ajude -me Senhor”.
Então, o espírito de Emmanuel lhe aparece e diz :
– Para ajudá-la é preciso alcançar-lhe o coração. Converse com ela.
E o Chico, para a irmã em sofrimento:
– Minha irmã, a senhora me perdoe ser uma pessoa tão ocupada. Não
pude atendê-la em meu emprego porque meu chefe não permite. A senhora
compreende... estou ali para servir à empresa, que me paga. Não posso perder aquele
serviço porque tenho muitos irmãos para ajudar.
Foi conversando... conversando, e a mulher se acalmando, para em seguida
começar a chorar. O Chico, então, transmitiu -lhe o passe e ela foi devolvida à razão.
Depois de sua saída, o médium perguntou ao espírito de Emmanuel:
– Emmanuel, eu não estou com a razão?

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A resposta foi esta jóia de caridade cristã:
– Você está com a razão, mas ela está com a necessidade.
No outro dia, quando o Chico chegou ao serviço, estava com o rosto todo
inchado. Seu chefe indagou o que ocorrera.
– Bati na porta.
Ele então olhou-o por sobre os óculos e perguntou novamente:
– Mas... dos dois lados?”
A história fala por si mesma.

6 - Conscientização Quanto ao Efeito do Passe de Limpeza

Costumamos notar que, por vezes, não temos a devida consciência do que
significa o passe de limpeza e qual o seu efeito em termos perispirituais. Isso porque
temos visto, constantemente, mesmo trabalhadores antigos e supostamente
experimentados nesses trabalhos, logo após a recepção da limpeza, cumprimentarem,
com beijos, apertos de mão e abraços efusivos, pessoas – trabalhadoras ou não – que
vão entrando no Centro antes de ainda terem tomado o passe.
Ora, o contato de seus corpos fluídicos e energias, como costuma acontecer na
rua, fora do Centro, casam -se, permitindo a permuta de fluidos nocivos daquele que não
tomou o passe para aquele que tomou. Em seguida, enquanto o que acabou de entrar vai
para o passe, aquele outro, vai adentrando nas o utras dependências do Centro
despreocupadamente, acarretando aos mentores encarregados uma situação que eles não
têm a obrigação de sanar. Evidentemente que, olhando para a boa vontade dos
trabalhadores, podem procurar sanar os prejuízos, provenientes de m era ignorância.
Porém, se os trabalhadores não estudam e, mesmo com uma certa consciência “dão de
ombros”, só resta à espiritualidade largá -los aos efeitos que semeiam para si mesmos.
Veja-se a importância do estudo, da instrução, também preceituada pelo
Espírito de Verdade. O passe, nessas condições, se assemelha aos gestos exteriores
formalísticos, litúrgicos ou ritualísticos, eis que aplicados sem a noção de seus
fundamentos e efeitos, inculcando nos assistidos que chegam a Casa, vícios e uma visão
deturpada da realidade.
O passe não pode ser ato maquinal e nem aplicado com distração, sob pena de
se constituir em gesto puramente exterior. A figura do dirigente e do encaminhador
nesse processo para o saneamento das falhas, torna -se fundamental. E, em havendo a
conscientização geral, mesmo que o assistido que chega venha querer nos abraçar no
momento que estamos saindo do passe, diríamos com muita cortesia: tome
primeiramente o passe, e depois nos cumprimentamos . E assim, após, poderemos
conversar e explicar fraternalmente o porquê do nosso comportamento.
Lembremos que aqueles que realizam a função de acolhida (na entrada do
Centro), diferentemente dos demais estão em contato direto com os assistidos que
chegam, cumprimentando -os, apertando-lhes as mãos. Eles se prepararam
espiritualmente para isso e, enquanto estiverem no seu posto é isso que devem fazer. O
trabalhador na função da acolhida, ao terminar seu trabalho, ou, caso tenha (por justo
motivo) que se ausentar do seu posto antes da hora aprazada (o q ue pressupõe que outra
pessoa também esteja no local de entrada, disponível para o exercício da referida
função) – deverá tomar o passe de limpeza, como todos os demais que se introduzem na
Casa. Isso tudo é muito lógico para que continuemos a insistir.
Evidente, contudo, que o bom senso deve sempre imperar. Suponhamos que
membros de um grupo do Centro que trabalhe com moradores de rua tenham que
adentrar ao local com um grande carregamento de cobertores a serem guardados numa

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sala qualquer, de modo que, di ante da quantidade, mesmo carregando vários de cada
vez, necessitem entrar e sair inúmeras vezes. Se a cada entrada tivessem de se desfazer
do grande pacote de cobertores para tomar o passe de limpeza, para a seguir novamente
pegá-lo e depositá-lo no local devido, estaríamos diante de uma situação inusitada e
desgastante.
Tal atividade (transporte de cobertores ou de outros bens quaisquer),
logicamente, deverá ser evitada durante o horário de atendimento da Assistência
Espiritual para não tumultuar o ambie nte. Evitando-se essa situação, o cumprimento
dessa “regra” (limpeza prévia), nesse caso, não teria razão de ser, porque, então, estaria
sendo cumprida em função dela própria, o que seria irracional. As regras existem em
função de uma dada realidade, e não em razão de si mesmas. Elas são úteis, por sua
finalidade diante de uma situação concreta que as justifique, não existindo simplesmente
para serem cumpridas.
Verdade é que tomar o passe de limpeza não é mera regra disciplinar, mas tem,
cientificamente falando (do ponto de vista da Ciência Espírita), uma razão profilática
(consoante vemos no capítulo 17 do livro Passes e Radiações): evitar que a harmonia
dos trabalhos seja perturbada e possibilitar a assimilação mais proveitosa dos
tratamentos. A imposição da mão direita sobre a cabeça do assistido (após a captação da
força fluídica para a cura) visa agir diretamente sobre a mente do obsessor,
neutralizando sua ação e desligando -o da mente do doente. Os movimentos transversais
cruzados visam projetar fluido s dispersivos, produzindo um choque que desarticula as
ligações fluídicas do obsessor com o assistido. Os transversais simples dispersam os
fluidos nocivos do perispírito do doente. Os longitudinais promovem a regularidade do
fluxo do fluido nervoso pelo o rganismo em geral. A imposição final, visa a benção de
Deus sobre o paciente.
Note-se, porém, que o referido livro sobre métodos espíritas de cura,
estabelece que a limpeza psíquica prévia é obrigatória em todos os tratamentos (nota ao
final do capítulo 15). Fora do horário desses trabalhos, em razão da manutenção de uma
maior pureza ambiente (em termos fluídicos) a limpeza seria recomendável, mas não
obrigatória.
Na suposição em pauta, embora não haja a limpeza dos indivíduos (que
carregam os cobertores), a Assistência Espiritual não estaria funcionando nesse
momento, pelo que eles não quebrariam a harmonia dos trabalhos e nem teriam
qualquer problema de assimilação do tratamento (que não estaria acontecendo) e nem
estariam interferindo no tratamento de ou trem pelo mesmo motivo. Mesmo assim,
poderia haver eventualmente contaminação fluídica no ambiente. Havendo necessidade
de limpeza ambiente, esta será realizada pela espiritualidade somente ao final da
atividade (carregamento dos cobertores), por questão ó bvia, racional, ou noutro
momento posterior em que os espíritos protetores julgarem conveniente, como na
assepsia que começa a ser realizada horas antes do início dos trabalhos espirituais.
Quanto aos encarnados que fazem o carregamento, uma prece simples inicial e/ou ao
final do mesmo, poderá ser feita.
Porém alguém poderia questionar: e se por questão hipotética tal carregamento
só pudesse se dar imperiosamente durante o horário de realização de um determinado
trabalho de Assistência Espiritual? Responder íamos: se fossem apenas uma ou duas
“viagens”, o passe de limpeza seria uma necessidade; porém, se o peso carregado for
considerável ou se o tamanho do pacote dificultar o seu carregar, ou ainda se as
“viagens” forem muitas, haverá falta de caridade em sac rificar os carregadores com tal
procedimento. O argumento de que se faltará com a caridade para com os assistidos, não
procede, pois se tem como pressuposto ser essa uma situação excepcional e

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absolutamente necessária. Mormente se esse carregamento for rea lizado por pessoas não
espíritas, meros entregadores que aí estão simplesmente para cumprir seu dever
profissional. Assim sendo, deverá se procurar que os assistidos não tenham contato, na
medida do possível, com os carregadores, cuidando -se para que o passe seja realizado,
de fato, na ante-sala da preleção.
De qualquer modo, sendo situação que extrapola as responsabilidades
individuais, nesse caso, com certeza, a espiritualidade auxiliaria com recursos especiais
e empenho no que for necessário para que tu do transcorra da melhor maneira possível,
sem prejuízos para os assistidos.
Portanto, enquanto regra, o passe de limpeza deverá ser realizado
obrigatoriamente por todos os que adentram na Casa Espírita nos horários de tratamento
espiritual e de trabalhos m ediúnicos diversos no campo da cura. Fora dos horários da
Assistência Espiritual, a limpeza psíquica é recomendável para a manutenção da
higienização ambiente, mas não obrigatória. Nas palestras para o público em geral
também não haveria uma obrigatoriedad e, até porque se trata de evento isolado, sem
compromisso e sem caráter de tratamento.
Nos cursos e escolas evangélicas regulares, ainda que não se revistam de
obrigatoriedade, pelo entendimento de que não se constituem em tratamento em sentido
literal, entendemos a utilização da limpeza psíquica como altamente recomendável, em
sendo possível, até porque se visa estimular o livre -arbítrio do ser para a realização da
reforma íntima, a qual ensejará a cura no seu sentido mais profundo (atuação nas causas
e não nos efeitos, possibilitando a redenção), fazendo -se mister evitar, na medida do
possível, perturbações ambientes e ensejar uma circunstância de maior assimilação dos
ensinamentos evangélicos. Não se pense, entretanto, que a falta do passe (por uma
impossibilidade qualquer) se constituiria num impedimento ao processo de iniciação
espiritual, o qual, em essência, transcende as religiões. Pensar diferentemente implicaria
em admitir que fora da verdade espírita não haveria salvação, o que é um erro. O bom
senso e a ausência de fanatismo e meticulosidade pueril devem sempre imperar, pois a
Doutrina Espírita será sempre pautada no amor e na racionalidade.

7 - Manutenção da Ordem e Doação Fraterna

Devemos todos colaborar para evitar conversas altas próximas ao recinto de


aplicação de passes durante o desenrolar do trabalho, auxiliando a concentração dos
passistas. Mas é justamente pela concentração, alguém dirá, que conseguimos nos alhear
dos barulhos externos – o que é verdade, mas em função da condição ainda precária em
muitos de nós no que tange a um maior controle da vida interior, estamos sujeitos a
falhas na concentração, pelo que não custa nada que duas ou três pessoas colaborem
com sete ou mais nesse sentido.
Quanto aos trabalhadores que permanecem no l ocal de aplicações de passes
antes da abertura do trabalho para os passes específicos, preceitua Armond que fiquem
“(...) lendo e meditando até a abertura, sendo prejudicial, neste ínterim, qualquer
espécie de conversa” (capítulo 26, item 4, letra b do livro Passes e Radiações).
Na qualidade de passistas, procuremos passar para o assistido no instante do
passe, tudo aquilo que gostaríamos de doar se o necessitado fosse o nosso pai, ou nossa
mãe, ou nosso filho, enfim, se fosse alguém a quem amamos profundam ente. Desejar
profundamente, assim, a sua cura. Esse exercício de fraternização é importante, pois
nosso sentimento de fraternidade é ainda precário.
Diante de um mendigo, na via pública, poderemos dar uma esmola, pagar um
lanche, fornecer um agasalho, de spender um tempo para uma conversa... Tudo isso é

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muito positivo. Contudo, se reconhecêssemos nesse morador de rua, por hipótese, nosso
pai há anos desaparecido, em regra, o levaríamos para nossa casa, visando sua
reintegração na sociedade. Essa situação d e tratamento diferenciado para com os nossos
parentes consangüíneos, diante de outros indivíduos quaisquer, demonstra a nossa
necessidade de crescer muito ainda em fraternidade. Vislumbramos, então, a grande
distância que nos separa dos mundos adiantados. Quiçá, entre os mendigos aos quais
renegamos auxílio, não está um parente nosso de outra encarnação? Mas mesmo que
assim não fosse, todos somos filhos do mesmo Pai, logo, todos somos irmãos. Não sem
razão estabelece O Livro dos Espíritos que, “numa sociedade orientada segundo a Lei
do Cristo, ninguém deve morrer de fome ” (resposta à questão 930).
Em verdade ainda estamos muito longe dessa vivência, tendo muito a
progredir, mas que possamos nos exercitar, ainda que minimamente, de acordo com as
nossas possibilidades. E os nossos trabalhos de assistência espiritual se constituem para
tanto em oportunidades benditas! Que possamos, pois, exercitar a nossa doação de
amor, vendo em cada necessitado um ente muito amado, amando, pelo menos nesse
momento do passe, como gostaríamos de fato que nos amassem.

8 - Atendimento Fraterno

Todas as considerações aqui expendidas no que toca à postura no trabalho, à


doação amorosa e à comunhão com a espiritualidade, se aplicam a todos os
trabalhadores, em especial aos entrevistadores ou plantonistas, os quais, em razão da
especificidade da função, dialogam mais profundamente com os assistidos. Uma vez
que devem estar sintonizados com os trabalhadores do plano espiritual – até porque
enfrentam maiores dificuldades no trato com cada um, percebendo mais nitidamente
pela conversa o estado interior dos mesmos (como agitação, angústia, desconfiança,
inibição, inconformismo, raiva etc.) – mesmo nos momentos em que não há quem
atender durante o período do trabalho, devem evitar conver sas inoportunas, trocas de
receitas culinárias, tudo, enfim, que não se coadune com aquele momento reservado ao
atendimento espiritual, para que tenham condição de agirem em sintonia com os
mentores no desenrolar das conversas fraternas e nas situações inu sitadas que possam
vir a ocorrer. Oração, meditação e vigilância sempre!
O trabalho de atendimento fraterno através do diálogo é de importância
capital, pois dele “depende o benefício a distribuir e, até mesmo, o bom nome da Casa e
da própria Doutrina” (capítulo 27 do livro Passes e Radiações).

9 - Preleção Evangélica

Não menos importante é o trabalho de realização das preleções evangélicas,


através do qual se visa o primeiro passo no processo de conscientização do assistido,
procurando-se atuar no âmbito das causas e não dos efeitos. Ou seja, procura-se
esclarecer para que posturas e comportamentos se modifiquem.
Suponhamos alguém que mantenha suas mãos em contato com lama e detritos
imundos. Lacerando o dedo num objeto qualquer, seu ferimento se inflam ará em contato
com esses elementos. Através da assepsia e de um curativo o ferimento melhoraria. Não
obstante, se esse alguém não modificar sua postura de manter as mãos na lama fétida e
contaminada, a situação de sua ferida acabará por ficar pior. Analogi camente, o passe é
como essa assepsia, que age no efeito (inflamação) causado pelos detritos deletérios.
Mas se a postura da pessoa não se modificar (“tirar as mãos da lama”), poderá tomar
passes durante a vida inteira que seu problema permanecerá e até se agravará. A

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preleção tem por objetivo justamente trabalhar a postura do ser, visando tocar -lhe o
íntimo, para que ele passe a atuar na causa ou origem do seu mal.
A Assistência Espiritual deve ser um portal e não o caminho em si; é um
primeiro passo no método de auto-libertação, e não um meio de escravização; é uma
mola propulsora, um “dar o peixe”, em primeiro lugar e num primeiro momento
(através do passe), para então, dar início (ainda que de forma tímida e mui relativa) a
um processo de conscientização (através da preleção), ou seja, dar um primeiro passo no
“aprender a pescar”, porquanto os demais só poderão ser dados pelo interessado, os
quais serão melhor aproveitados num processo de iniciação espiritual, que extrapola em
muito os estritos limites da Assistência Espiritual.
A função da preleção, assim, reveste -se de uma importância fundamental no
tratamento espiritual e, para que o preletor cumpra essa difícil tarefa, necessita tocar o
coração do assistido. “Tocar-lhe o coração” significa proporcionar -lhe em certa medida
um choque de amor na profundidade do ser, fazê -lo sentir a emoção vibratória do
ensinamento evangélico, descortinando -lhe sentimentos sublimes e uma compreensão
nova da realidade. A explicação puramente racional se esclarece (e esclare ce) não
fornece de per si a vibração sublime que cala no fundo d’alma, proporcionando uma
força íntima, interior, capaz de fazer o ser levantar do fundo do seu abismo íntimo.
Muitos fumantes sabem à saciedade os males que o cigarro proporciona, mas é só
quando se sentem tocados no íntimo de si mesmos é que acumulam forças para largar o
vício.
Vinte minutos de preleção amorosa e edificante que alcance o seu objetivo,
vale mais que duas horas de exposição que, não obstante o enriquecimento intelectual
que possa proporcionar, seja estéril no campo do desabrochar dos sentimentos elevados.
Isso não significa que a conscientização no campo meramente doutrinário seja
infecunda, mas é a história de fundo moral que toca as fibras do ser ou aquelas palavras
que alcançam o problema íntimo do necessitado, é que não só vincarão a sua
emotividade, como e principalmente se lhe reterão na memória, propiciando reflexões
profundas posteriores.
Com propriedade o confrade Flávio Focássio, ao referir-se ao trabalho da
preleção, relembra a figura evangélica do semeador, aquele que sai a semear, atirando
sementes ao solo com uma finalidade nobre. A visualização desse ato simbólico por
parte do preletor, ajuda-o a compreender a responsabilidade e a sublimidade da tarefa,
revelando-lhe uma situação real através da qual se visa a germinação da mensagem
evangélica no coração de nossos irmãos. Daí a necessidade que temos de comunhão
com a espiritualidade para atingir esse elevado e essencial objetivo.
O preletor, para tanto, deve prepa rar-se de modo muito especial para aquele
dia de trabalho e, antes de se dedicar à tarefa da palavra, deve unir -se em prece intensa,
prévia, ligando-se com os mentores espirituais. Pedirá auxílio para que seja inspirado
devidamente para atender às necessid ades espirituais do auditório, para que, diante do
que preparou em torno do tema, possa utilizar todos os seus recursos para tocar o
coração do assistido. Nesse sentido, o estudo e a meditação devem fazer parte integrante
do cotidiano do preletor. E quanto mais procurar aprimorar a sua humildade, com
sinceridade, maior será o auxílio que lhe será conferido, na proporcionalidade do
esforço realizado. Sabedor que é um pecador como todos os demais e que carrega
grandes débitos para com a coletividade, pois a n atureza das tarefas é proporcional à
natureza dos débitos, e que aquilo que realiza não o faz por mérito mas por pura
misericórdia divina, procurará se nivelar sempre como a qualquer irmão que lhe ouve as
palavras. E bendito será se procurar vivenciar as p alavras que emite, sem o que
carregará brasas para a sua consciência no futuro.

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A palavra, nessas condições, intermedeia não só aquele que fala, mas o próprio
mentor espiritual que coopera na tarefa, de modo que, em havendo esforço de reforma
íntima do tarefeiro encarnado, tal parceria mediúnica comunicará uma mensagem mais
precisa, genuína, com vibração elevada, que poderá assim elevar a vibração dos
ouvintes, encarnados e desencarnados, possibilitando esse “chacoalhar” íntimo em suas
almas. Ressalta André Luiz, no livro Missionários da Luz (capítulo 18), referindo-se
às doutrinações, mas cujo ensinamento se aplica, entendemos, às preleções, que “ o
companheiro que ensina a virtude, vivendo -lhe as grandezas em si mesmo, tem o verbo
carregado de magnetismo p ositivo, estabelecendo edificações espirituais nas almas que
o ouvem”.
O olhar magnetizado nos olhos dos assistidos, prende -os, por assim dizer, no
fio da narrativa e, essa, sendo detentora de vibração elevada enseja ainda mais
imantação, possibilitando a té o corte das ondas hipnóticas dos obsessores que atuam à
distância, de modo que as condições tornam -se amplamente satisfatórias para que a
sintonia íntima dos presentes possa ser elevada, pelo que se beneficiam com o
tratamento em todos os sentidos. Todo esse processo começa desde a porta de entrada,
com a acolhida, o encaminhamento, o passe de limpeza, a entrevista, possibilitando uma
complementaridade que permite que a espiritualidade possa agir com profundidade e
eficiência, o que se dá a partir de nos sa própria atuação enquanto trabalhadores do
Cristo.
Para tanto, a concentração nessa tarefa é fundamental. Assim como aquele que
faz a preparação dos trabalhos espirituais procura catalisar as atenções e proporcionar a
elevação vibratória de todos e de ca da um, utilizando a palavra certa, na medida certa
(sem perda inútil de energia), da mesma forma dá -se o trabalho na preleção, onde cada
palavra é uma peça na construção de um clima mais e mais elevado, que culminará com
a “abertura do coração do assistido ”. Isso não é tarefa fácil e demanda muita vontade,
determinação e sensibilidade.
Estando ligados aos mentores do trabalho de evangelização, buscando
enxergar no outro o irmão verdadeiro que ele é, teremos a possibilidade de desenvolver
uma doação verdadeiramente amorosa, eis que desejaremos intimamente abarcar a todos
com um sentimento carinhoso capaz de propiciar a cura em seu sentido mais profundo e
redentor, como gostaríamos para nós mesmos ou para alguém muito amado.
Lembremos mais uma vez dos ensinam entos de André Luiz, bem como de Edgard
Armond no que toca às doutrinações, cujo princípio aqui é o mesmo, entendemos,
segundo o qual, o importante não é a quantidade das palavras em si, a eloqüência, mas o
sentimento de amor, base pelas quais as mesmas se estruturam. Tal é que tocará os
desencarnados e encarnados e, inclusive, o próprio preletor.
Em última análise, é Jesus quem bate à porta do coração de cada um, porém
compete somente a nós mesmos a abertura dessa porta, sendo que a preleção procura
influenciar positivamente o necessitado para essa abertura. Nessas condições a
assimilação do passe, a seguir, será muito maior e os conseqüentes benefícios também,
de tal arte que, estando toda a equipe trabalhando nesse mesmo padrão, a cobertura da
espiritualidade será grandiosa pela identidade de ideais e até mesmo verdadeiros
prodígios poderão acontecer. Não sem razão diz Edgard Armond, que “a reforma
íntima, quando feita em profundidade, dá ao discípulo o poder de curar em nome de
Deus desde que, todavia, s eja positiva sua evangelização estando, além disso,
harmonizado com o débito cármico trazido para esta encarnação. E desde que o doente
deseje a cura, tenha fé e merecimento espiritual ” (conforme o texto Comentando
Pensamentos Construtivos – item 27, inserido em sua obra Falando ao Coração).

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10 - Manutenção de Sintonia Elevada

Como tudo deve colaborar para esse clima especial, não é bom que, após a
realização das preleções, os assistidos fiquem muito tempo esperando a chamada para o
passe específico, em razão de preparações e vibrações muito longas na sala de
aplicações de passes. As preparações devem ser bem feitas, mas concisas, sem
divagações, para que haja concentração e elevação conjunta do começo ao fim. As
vibrações também não podem ser excessivas , o que é desgastante até para o trabalhador,
justificando-se um maior número de intenções somente em se tratando de trabalho
específico para esse fim (Trabalho de Vibrações Coletivas). Isso em razão de nossa
dificuldade de manter uma sintonia elevada por muito tempo, em silêncio, mormente os
assistidos, os quais na situação referida, embora possam refletir por um certo tempo
sobre a evangelização terminada, têm a tendência natural a desviar seu pensamento para
os problemas que os afligem. Deve -se procurar nesse caso, na medida do possível, uma
sincronia das referidas atividades. Tudo deve pois se realizar em ordem e harmonia para
que os objetivos sejam alcançados.

11 - Sessão Doutrinária

Como o passe é para quem realmente necessita, havendo o restabeleci mento


do assistido, não há justificativa para que continue a ele submetido. Mas mesmo
conferida a alta, como a questão fundamental a ser observada diz respeito ao seu
esclarecimento e à sua evangelização, é ele convidado a participar das Sessões
Doutrinárias, onde os tarefeiros procuram proporcionar um mais profundo
esclarecimento espírita evangélico, a partir de temas rotativos, aqui com abertura para o
diálogo fraterno e questionamentos, elucidando -se as dúvidas porventura existentes,
sem discussões, em clima de prece. Como sempre, a comunhão com a espiritualidade e
a doação fraterna, são fundamentos básicos também para os coordenadores das Sessões
Doutrinárias, os quais procurarão manter o mesmo padrão espiritual existente nos
demais trabalhos da Assistência Espiritual.
As Sessões Doutrinárias procuram também proporcionar assim, a transição
natural entre a Assistência Espiritual e os cursos que a Casa oferece, notadamente, a
Escola de Aprendizes do Evangelho , eis que a evangelização e o esclarecimento se
constituem na essência e na finalidade principal da Doutrina Espírita.

12 - Fraternização entre Trabalhadores e Vivência Plena

No livro O Espírito de Chico Xavier (médium: Carlos A. Baccelli), vemos


uma colocação interessante: “ estar com os espíritos é uma tarefa cômoda, mesmo com
os chamados obsessores; estar com os espíritas é que são elas, mesmo com os que se
dizem companheiros”.
Da mesma forma que os membros de uma família não estão juntos por acaso,
aqueles que partilham a convivência num Centro Esp írita se comprometeram a trabalhar
juntos em prol do Evangelho de Jesus. Não por situação fortuita, nos inter -
relacionamos mais intimamente com esses e não aqueles e, surgem as diferenças, muitas
vezes com raízes no pretérito obscuro, que nos cumprem super ar como condição
necessária ao processo de espiritualização.
Por vezes, em função de um passado esquecido, guardamos problemas que se
manifestam no presente através de sentimentos contraditórios que geram atritos sem
razão de ser; algo no outro eventualme nte nos incomoda, e, então, procurando

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racionalizar a questão, pautando -nos naquilo que supostamente decidimos chamar de
“pontos de vista”, criticamos desnecessariamente ou de forma não condizente com o
Evangelho que professamos. Dizemos que o outro é isso ou aquilo, porém, se o
problema é do outro, como pensamos, por que isso nos incomoda? O que está por trás
desse sentimento? Que misterioso processo de transferência para o outro ou de
identificação no outro de nossos defeitos se opera, sem que nossas más caras nos
permitam discernir a real situação?
O esforço de fraternização se faz necessário, até mesmo enquanto exercício
para que, amanhã, tal se dê naturalmente. Aquilo que é fácil para uns e difícil para
outros, pressupõe esforço realizado no primeiro c aso e a realizar no segundo. A
convivência fraternal com os que conosco partilham os ideais se constitui num
pressuposto para termos condição de iluminarmos o mundo. Assim como devemos
identificar Jesus nos assistidos, e tratá -los como gostaríamos de ser t ratados, da mesma
forma, devemos vivenciar a fraternidade entre os companheiros de trabalho. Superar
mágoas, críticas negativas ou não, melindres, indiferenças, problemas vários de
relacionamento, enfim, é tarefa nossa de todos os dias.
A busca de confraternização, de estreitamento dos laços de amizade nos
grupos de trabalho se torna necessária nesse processo. A conversa fraterna ao final dos
trabalhos, ou, o encontro do grupo fora do Centro, periodicamente ou não, seria
importante método para reforçar os l aços de amizade. Ainda do livro O Espírito de
Chico Xavier: “Infelizmente, sem querer generalizar, os espíritas têm falhado no que é
básico: no amor com que deveriam se amar uns aos outros ”.
Jesus nos ensinou que seus discípulos deverão ser conhecidos pel o muito que
amarem. Mas como falar de amor se não procuramos, de fato, amar os que nos são mais
próximos? Devemos procurar conciliar discurso e prática. As nossas manifestas
imperfeições, assim, se constituem na razão pela qual, com humildade, devemos nos
considerar como eternos aprendizes. Espíritos ainda muito imperfeitos e carentes de
evolução, e, como tais, necessitados de vivência plena.
Ensina-nos o apóstolo Tiago: “confessem mutuamente os próprios pecados e
rezem uns pelos outros, para serem curados. A oração do justo, feita com insistência,
tem muita força” (Tg 5, 16).
Os exercícios de Vida Plena, exortados (em verdade) há pelo menos dois mil
anos, através dos quais, em comunidade buscamos abrir o nosso coração, falar através
do nosso sentimento, reconhecer a nossa real situação na relação com Deus, com o outro
e conosco mesmo, derramando -nos em oração mútua, se constituem numa necessidade
de crescimento interior e de cura (e, portanto, de uma vida mais plena e feliz).
No momento em que aquele “confe ssa” o que está sob suas máscaras
conscientes, no reconhecimento dos defeitos e das virtudes que possui, o restante do
grupo vibra amor intensamente para o irmão, desejando a ele cura, felicidade e paz,
como gostaria para si. A oração do justo – ou seja, daquele que busca a justiça em todos
os seus relacionamentos, que busca a vivência em plenitude, vale dizer, a
espiritualização – feita com insistência, a partir da equipe, do grupo, daquela irmandade,
em uníssono uns com os outros, adquire grande força flu ídico-vibratória. Ampliada pela
assembléia espiritual que lhe confere apoio em razão da identidade dos sinceros ideais,
essa força se torna verdadeiramente poderosa. O “confessar” e o orar em conjunto, uns
no auxílio dos outros, portanto, em real convivênc ia fraternal possibilita a cura em
sentido profundo e transcendente.
Orar insistentemente pelo companheiro de trabalho, na realização desses
exercícios e fora deles, por impulso do coração, não visando qualquer retribuição, é
trabalhar na estruturação de nossa personalidade de homem novo. Trata-se de um

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preparo para a realização de uma sociedade mais justa no futuro, como a prenunciada
pelos apóstolos no passado, a partir de gestos concretos através dos quais ninguém
considerava propriedade particular as c oisas que possuía, sendo tudo posto em comum
entre eles, de modo que, mesmo inexistindo a igualdade absoluta, o que contraria a
diversidade dos caracteres, ninguém passava necessidade entre eles ( Atos dos
Apóstolos, capítulo 4, versículos 32-35).
Assim é que, o exercício de Vida Plena, sem debates e interferências
desgastantes, mas realizado em consonância com a recomendação do apóstolo, se
constitui em mais um fator essencial não só de reforma íntima, mas de exemplificação e
testemunho evangélico em socied ade, no sentido em que, possibilita à Casa Espírita
realizar a sua função de foco resplendente de luz nesse mundo denso, propiciando o
despertamento de encarnados e desencarnados. E cada componente que
progressivamente se vai curando, fortificando e se ali mentando por essa convivência
fraternal tem, pois, as condições necessárias e suficientes para realizar no mundo o que
Jesus espera de um seu discípulo. Dar de comer, beber, vestir, acolher, auxiliar e visitar
não só no sentido literal, porém no mais profu ndo. Assim se dará a redenção da
Humanidade.
O que há de mais santo, mais espetacular, mais maravilhoso na encarnação?
O que mais nos pode arrebatar das planuras da nossa animalidade que o
esforço individual e conjunto de reforma íntima, ensejador de vivê ncia plena em todos
os sentidos?
Por isso é que, todo aquele que devotadamente se consagra a transformar o
Centro Espírita no que deve ser (pronto socorro espiritual, templo, escola, oficina de
trabalho, centro de convivência fraternal), através da transfo rmação de si próprio, esse
vivencia o preceito de Amor e Instrução ditado pelo Espírito de Verdade, e
conseqüentemente refulge, salga e fermenta em todos os ambientes do qual participa, na
caminhada gradativa de sua auto -iluminação pelos páramos das ondas divinas criativas,
de modo que, naquele dia ouvirá:
“Vinde, bendito de meu Pai” .
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Trabalho para reciclagem de Assistência Espiritual do CEAE/Genebra


27/Nov/2004

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