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Falando de Axé

“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS


— CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.
Ano I — Edição 01 Março/2011

Bàbálóòrìsà José Carlos de


OLÓDÙMARÈ
Ibùalámo fala de Axé.
- O Supremo que
governa a Terra em
seu esplendor.

ÌSÈSE ÀGBÁYÉ
– O Tradicional
Culto Indígena
Yorùbá.

CANDOMBLÉ
- A importante
herança religiosa
Africana.

UMBANDA PÈRÈGÚN
- Uma Religião - O rei que desperta as
tipicamente brasileira. divindades na Terra.

1
EDITORIAL
Por Hérick Lechinski (Ejòtolà
T’Òsúmarè)
Aprendi e acredito que, o único bem que não nos pode ser tirado
(roubado) é o CONHECIMENTO, bem esse, tão precioso, mas que
infelizmente muitos não valorizam, poucos o estimam e apenas
alguns o possuem...
E é com o intuito de passar conhecimentos, cultura e aprendizado,
que nasce a Revista "Falando de Axé".

Que a cada mês apresentará inteligentes temas sobre Umbanda,


Candomblé e Cultos Africanos, Cultura e Religiosidade Negra.
Servindo assim, para o aprendizado ou esclarecimento de todos
aqueles que tenham a oportunidade de ler.

Desejamos também, através desta "revista virtual", unir os adeptos


da religião umbandista e dos vários segmentos da religião afro, para
que juntos possamos lutar pelos mesmos ideais e principalmente
“Um homem pelo respeito que nossa linda e maravilhosa religião merece, por
sem nossos direitos e também para que possamos cumprir nossos
conhecimento deveres.
é como um
Chega de vermos e ouvirmos outros sacerdotes, principalmente os
selvagem da
das religiões protestantes, tripudiarem sobre nossa Crença e
floresta..." Religião. Ganharem seu rico dinheirinho a "nossas custas".

Respeitamos as demais religiões, mas também exigimos o nosso


respeito...

Esperamos de todo coração, que gostem desta e que o mesma sirva


para todos aqueles que desejarem possuir esclarecimentos...

2
ÍNDICE
Ìsèse Àgbáyé – O Tradicional Culto
Indígena Yorùbá Pág. 04

Candomblé - A importante herança


religiosa Africana Pág. 07

Umbanda – Um Religião tipicamente


brasileira Pág. 09

Olódùmarè - O Supremo que governa a


Terra em seu esplendor Pág. 12

Òrìsà do Mês = Èsù, o Indulgente e


Poderoso filho do Universo Pág. 14

Entrevista do Mês = Bàbá José Carlos de


Ibùalámo fala de Axé Pág. 17

Folha do Mês = Pèrègún - O rei que


desperta as divindades na Terra Pág. 20

O Carnaval = Aqui e na África Pág. 22

Livro do Mês = Òrun Àiyé - O Encontro


de dois mundos Pág. 24

3
Ìsèse Àgbáyé – O Tradicional Culto Indígena
Yorùbá
De todos os Cultos
Africanos, foi e é o mais
influente no Brasil, falando
religiosamente. A primeiro vez
que este veio ao nosso país, foi
em meados do século XVIII,
com a vinda de escravos
africanos de origem Nàgó
(yorùbá, ìjèsà, igbó, egbá, etc),
através do tráfico escravista.
Chegando aqui, pela diferença
cultural, o mesmo teve que ser
re-adaptado a nossas terras e a
cultura existente, nascendo ai o
Candomblé, CULTO AFRO-
BRASILEIRO, de MATRIZ
AFRICANA. Então, muito da
tradição deste culto perdeu-se
e muito de outras culturas foi
agregado a este, gerando
assim o Candomblé que
conhecemos hoje.
Ìsèse Àgbáyé ou Èsìn Yorùbá é como é chamado e
conhecido o tradicional culto indígena yorùbá. Uma Mas na década de 90, o
religião ancestral praticado dês dos primórdios da Terra, há Bàbálóòrìsà Síkírù Sàlámì
milênios... (King), o finado Bàbálóòrìsà
A tradicional religião nigeriana, também referida como religião Rivas, a Ìyálóòrìsà Sandra
indígena yorùbá, engloba manifestações e fundamentos Epega e mais alguns outros
culturais, sociais e religiosos de um país da África, chamado sacerdotes, começam o resgate
Nigéria. ao Culto Tradicional Indígena
Yorùbá em nossas terras,
O Èsìn yorùbá (culto yorùbá) possui ensinamentos, trazendo ao Brasil sacerdotes
práticas e rituais que organizam a estrutura das sociedades iorubás oriundo da Nigéria.
nativas nigerianas, permitindo também, concepções próprias
a respeito de Deus e do Universo em geral. Porém, mesmo
dentro de uma mesma comunidade, cidade ou estado,
podem existir pequenas divergências em relação as
concepções a respeito do sobrenatural. É uma tradição
religiosa que em quase nada foi influenciada pelas religiões
adotadas recentemente, como o cristianismo, islã, judaísmo,
entre outras. Pelo contrário, assim como no Brasil, muitos
cristãos e mulçumanos vão em busca de sacerdotes do Culto
Iorubá para se tratarem, principalmente os Bàbálawo
(adivinhos, detentores dos segredos). É um culto que além
de praticado na Nigéria, muito vem sendo praticado e
difundido em países da América, Ásia e Europa.

O Ìsèse Àgbáyé é um culto completamente étnico e


tribal, por mais que sua base seja única, possui também suas
diferenças, variando seus costumes e liturgias, de acordo
4com cada etnia e tribo.
E então, esta religiosidade retorna à nossa terra e hoje, diferente da primeira vez,
podemos ter o livre arbítrio e o privilégio de cultuar as divindades Iorubás, como estas eram e
são cultuadas em suas terras natais, na Nigéria.

Hoje, além das Ilé Èsìn (casas de culto) da Ìyálóòrìsà Sandra Epega (em Diadema/SP) e
do Bàbálóòrìsà King (em Mongaguá/SP), podemos encontrar espalhadas pelo Brasil a fora,
diversas outras casas de culto que praticam o Èsìn Yorùbá (Ìsèse Àgbáyé), seguindo as mais
variadas tradições religiosas, Abéòkúta, Ìbàdàn, Òsogbo, Èkìtì, etc.

O Culto Iorubá prega a existência de uma Divindade regente e governante da Terra,


chamada Olódùmarè, que equivale ao Deus/Alá/Jeová dos outros povos. Este criou a raça
humana e governa a Terra com o auxílio de outras divindades, chamadas Irúnmolè
(popularmente conhecidas como Orixás no Brasil). Cada divindade destas, possui seu corpo
sacerdotal, que através de comunidades (conventos, templos, casas, sociedades) difundem e
preservam seus cultos. A maior autoridade sacerdotal desta religião hoje, é o Àràbà Àgbáyé, da
Cidade de Ilé Ifè na Nigéria, que além de Àràbà Àgbáyé (Chefe Universal de todos os
Sacerdotes de Òrúnmìlà), detém o título de Olú Ìsèse Àgbáyé (Senhor desta Religião no
Mundo), sua pessoa para os seguidores deste culto, equivale ao Papa para os católicos. É um
representante de Òrúnmìlà sobre a Terra e é considerado um descendente consangüíneo desta
divindade. Guarda segredos incalculáveis da humanidade. É também uma autoridade política na
Nigéria. O mesmo esteve no Brasil em Setembro de 2009.

O Culto Iorubá, como já dito, foi o culto que deu origem a diversos outros cultos religiosos
no Novo Mundo, como a Santeria em Cuba e o Candomblé no Brasil.

A cidade de Ilê Ifé (Ilé Ifè) é considerada pelos iorubás o lugar de origem de suas
primeiras tribos, de seus ancestrais primordiais. lfé é o berço de toda religião tradicional
iorubá, é um lugar sagrado, onde as divindades (Orixás) chegaram, criaram, povoaram o mundo
e depois ensinaram aos mortais como as cultuarem...

Os iorubas mais tradicionais seguem


um calendário lunar, com semanas de apenas
quatro dias (ojó Obàtálá, ojó Awo, ojó Ògún,
ojó Jàkúta), nos quais cultuam suas
divindades.

No Ojó Òsè (Ojó Obàtálá), dia de


Obàtálá, dia em que rendem homenagem às
divindades criadoras, cultuam Obàtálá
(Primogênito de Olódùmarè, o criador da raça
humana, senhor de todos os òrìsà [irúnmolè
fúnfún]), Yèmowó (Esposa de Obàtálá,
divindade dos búzios e da prosperidade), Èsù
(Divindade organizadora do Universo),
Egúngún (Ancestrais masculinos), Orò
(Ancestral primordial), Òkè (Divindade das
mo n t a n h a s) e Ag e mo ( Di vi nd a de
representada pelo camaleão, a primeira a
caminhar sobre a Terra com seus
descendentes).

5
Sònpònná (Divindade da
terra, das doenças e epidemias) e
Nàná Bùkúù (Divindade antiga da
morte e mãe de Sònpònná).

Ao contrário do Brasil, onde


várias divindades passaram a ser
cultuadas em um mesmo templo, na
Nigéria as divindades são cultuadas
cada uma em seus respectivos
templos ou sociedades. Existindo em
cada cidade nigeriana, os respectivos
templos de cada divindade. Porém,
cada divindade possui seu templo
principal na cidade de sua origem,
por exemplo, o principal templo de
Sàngó encontra-se em Òyó, o
principal templo de Òsun, encontra-
se em Òsogbo, o principal templo de
Yèmoja se encontra em Abéòkúta, o
principal templo de Òrúnmìlà
encontra-se em Ilé Ifè e assim por
diante. Quando existem pessoas que
devem ser iniciadas a uma
determinada divindade e não existe o
templo desta na cidade natal da
pessoa, a mesma é encaminhada ao
templo mais próximo desta divindade
no país (Nigéria). Com toda esta
recriação do Culto no Brasil, o culto
não teve apenas percas, mas ganhos
também, o ato de cultuarem várias
divindades em um mesmo templo,
No Ojó Awo, dia do Segredo, dia em que rendem por exemplo.
homenagem as divindades detentoras dos segredos,
mais precisamente Òrúnmìlà (Ifá), a divindade da Bom, este foi apenas um
sabedoria. Cultuam Èlà (Divindade da Luz), Òrúnmìlà pouco do que é esta esplendida e
(Divindade da Sabedoria), Òsun (Divindade da complexa religião, que a cada dia
maternidade), Òsányìn (Divindade detentora dos que passa, mais e mais devotos vem
segredos das folhas), Olókun (A poderosa e riquíssima semeando em nossa terra.
divindade dos mares), Yèmoja (Divindade dos rios e Infelizmente, ainda muito mal
protetora das cabeças). No Ojó Ògún, dia do Guerreiro, interpretada por alguns, porém, muito
dia em que rendem homenagem as divindades amada por outros, por sua simples e
guerreiras e caçadoras, cultuam Ògún (Patrono de ao mesmo tempo complexa
todos os caçadores e divindade do ferro), Òsóòsì ritualística, pelos seus ensinamentos
(Divindade caçadora que protege contra as feiticeiras), de moral e conduta e principalmente,
Ìja (Divindade da família de Ògún), Òrìsà Oko pelas suas magníficas divindades.
(Divindade funfun da fazenda e da agricultura e grande Espero que essa matéria possa
caçador). No Ojó Jàkúta, dia do Mortífero atirador de incentivar aos leitores a busca da
pedras, rendem homenagens às divindades Sàngó conhecer mais sobre esse magnífico
(Divindade do trovão e ancestral de Òyó), Oya culto.
(Divindade dos ventos e tempestades, esposa de Ìbáse a todos!!!
Sàngó), Baáyànnì (Divindade da família de Sàngó),
Por Hérick Lechinski (Ejòtolà
6 T’Òsúmarè)
Candomblé — A
Importante herança
religiosa Africana
A religião dos Òrìsàs (Orixás),
conhecida e chamada de Candomblé aqui no
Brasil, é oriunda da África, sendo trazida
pelos negros africanos à época da
escravidão, nos calabouços dos navios
negreiros. Segundo Verger "a presença
dessas religiões africanas no novo mundo é
uma conseqüência imprevista do tráfico de
escravos. Escravos estes que foram trazidos
para os diferentes países das Américas e das
Antilhas, provenientes de regiões da África
escalonadas de maneira descontínua", diz
ainda que "no tocante à Bahia, esses contatos
foram particularmente intensos com Angola e
o Congo, até aproximadamente o final do
século XVII, desviando-se, mais tarde, em
direção à costa do Leste do Forte São Jorge
de Mina, situada no golfo de Benin, entre o rio
Volta e o rio Lagos.

Tais relações limitaram-se, posteriormente, à parte central da referida região, conhecida


pela triste denominação de "Costa dos Escravos", cujo porto principal era Uidá".
Do berço da cultura dos Òrìsàs vieram sacerdotes de diversas etnias, das quais destacamos
algumas: Kétu (atual república do Benin), Ìjèsà, Ìjèbu, Òyó, Dahomé, Egbá, Kongo, dentre
outras.

Mais do que escravos, embarcaram nos calabouços dos navios negreiros, grandes
sacerdotes, que com eles trouxeram suas Divindades, que são as representações mais belas e
poderosas da natureza, como rios, lagos, oceanos, pântanos, pedras, florestas, etc. Para nós, os
Òrìsàs foram seres humanos que em função da sua sabedoria e poderes foram divinizados,
tornando-se grandes Ancestrais, conforme ilustra-nos o excerto de um Ìtàn de Ifá:

"Òrúnmìlà disse, o ser humano transformou-se Òrìsà


Eu disse, ser humano transformei-me Òrìsà
Òrúnmìlà disse, você não vê Ògún
Era ser humano
Mas quando se tornou sábio e poderoso
Transformou-se Òrìsà
Òrúnmìlà disse, ser humano transformou-se Òrìsà
Eu disse, ser humano transformei-me Òrìsà
Òrúnmìlà disse, você não vê Òrìsànlá
Era ser humano
Mas quando se tornou sábio e poderoso
Transformou-se Òrìsà
É um sábio que se tornou Òrìsà
Adoram somente aqueles que são sábios
É ser humano que se transformou Òrìsà".
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Na África, o culto aos Òrìsàs não ocorre de forma tão pluralista como no Brasil, em suma,
um templo é reservado ao culto de poucas divindades, geralmente o Òrìsà local e mais alguns
que formam o seu "panteão". No Brasil, contam os antigos, que houve a necessidade da
unificação do culto dessas divindades para que a cultura não fosse perdida, sobretudo, em razão
da perseguição e descriminação à época. Isto posto, os sacerdotes de diversas localidades
africanas, reuniram-se de forma que o Òrìsà da sua tradição, fosse cultuado com outros num
mesmo ambiente que a princípio, não ocorria na África. Nascia então, o "Candomblé", que é um
termo em Kimbundo (Angola). Os antigos contam ainda, que foi nessa primeira "reunião" que a
cantiga "Omo Alákétu re Faraimora" foi entoada. Resumidamente, a cantiga pede que os "Filhos
de Alákétu se abracem (reunião) para louvar". À alusão ao "Alákétu" (rei da cidade de Kétu)
deve-se, essencialmente, à Òsóòsì, que foi um dos reis de Kétu e que teria sido o primeiro
Òrìsà cultuado no Brasil, tornando-se, assim, o "Onílè" (Dono da Terra).

Assim surge o Candomblé, a Importante Herança Religiosa Africana, que a nós foi
delegada, por reis, príncipes e grandes sacerdotes africanos.

Texto adaptado por


Wemerson Elias (Dofono D’Sàngó)

“Não acredito em um
Deus
que não dança...”

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Umbanda
– Uma Religião
tipicamente brasileira

A Umbanda é uma Religião tipicamente


Brasileira, nasceu no Brasil, em meados do século
XX, mais precisamente em 1908, nasceu da
miscigenação das diversas raças e credos
existentes em nosso País. Foi oficialmente
conhecida no RJ, em subúrbios cariocas. Adaptada
ao modo de vida do brasileiro é uma religião de
fácil acesso a todos e sem discriminação alguma. E
ao contrário, sofre grande discriminação,
principalmente por parte das religiões protestantes.

A Umbanda é estruturada, moralmente, em


três princípios: fraternidade, caridade e respeito
ao próximo.

Admite um deus criador, conhecido como Olórum ou Zambi, que é o criador de tudo e
todos. Seus adeptos (chamados também de "umbandistas" ou "filhos de fé") cultuam
divindades denominadas Orixás e reverenciam espíritos chamados Guias.

Sua orientação espiritual ou doutrinária é feita pelos Guias - espíritos que atuam na
Umbanda sob uma determinada linha de trabalho que, por sua vez, está ligada diretamente a
um determinado Orixá. Os guias têm sapiência e consciência da natureza humana e os
atributos para que essa humanidade possa evoluir e seguir por um caminho melhor.

Os guias se manifestam através da mediunidade dos médiuns, sendo a prática da


incorporação a matriz do trabalho deles - ato pelo qual uma pessoa médium, inconsciente,
consciente ou semi-consciente, permite que espíritos falem através de seu corpo físico e
mental.

Os espíritos possuem diversos arquétipos pelos quais se apresentam através da


incorporação. Cada arquétipo está ligado a uma determinada Linha Espiritual. Como exemplos
desses arquétipos podemos citar:
- Caboclos;
- Boiadeiros;
- Pretos-velhos;
- Baianos;
- Crianças;
- Exús e Pombogiras, entre outros.

Os arquétipos são roupagens utilizadas pelos guias para se apresentarem nos terreiros
e não espíritos que, necessariamente, tenham sido escravos, índios ou crianças, embora
existam aqueles que realmente o foram.

Cada terreiro ou conglomerado de terreiros têm a sua forma de interpretar e manifestar


a Religião de Umbanda.
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São diversos ritos que diferem de casa para casa. Alguns utilizam atabaques, já outros,
não utilizam tais instrumentos, preferindo somente o ritmo das palmas e o cântico dos pontos
cantados.

De maneira geral, toda gira de Umbanda inicia-se como o processo de defumação -


elemento característico de quase todas as giras - que consiste na queima de ervas e
essências, com a finalidade de limpeza da matéria e do espírito, e do ambiente do terreiro
antes do início da sessão e do trabalho das entidades que ali estarão.

Normalmente as giras se iniciam com os pontos cantados, defumação e a incorporação.


As giras variam de casa para casa e podem ser de atendimento e/ou de desenvolvimento,
específicas para cada grupamento de entidades, ou seja, gira de pretos-velhos, de caboclos,
de crianças etc. Nas giras de atendimento os médiuns incorporados pelos seus guias
(caboclos, pretos-velhos, crianças, etc.), procedem ao atendimento espiritual ao público, em
que todos são convidados a se consultarem com um guia e/ou a tomar um "passe". Nas giras
desenvolvimento, os médiuns da casa são desenvolvidos pelos guia chefe da casa ou por
outros guias mais experientes, para o trabalho espiritual. O desenvolvimento (que também
varia de casa para casa) consiste em "chamar" o guia do médium e "firmá-lo" nesse médium
até que ele, o guia, possa incorporar sem a necessidade da ajuda de um guia mais experiente.
Durante o processo de desenvolvimento, os médiuns passam por diversos rituais, como:
amacis, camarinhas, deitadas, oferendas, etc. Os quais são fundamentados e variantes para
cada forma de Umbanda existente.

A Umbanda tem origens variadas (dependendo da vertente que a pratica).

Em meio as festas nas senzalas os negros escravos comemoravam os Orixás por meio
dos Santos Católicos. Nessas festas eles incorporavam seus Orixás, mas também começaram
a incorporar os espíritos ditos ancestrais, como os Pretos-Velhos ou Pais Velhos (espíritos de
ancestrais, que não era de antigos Babalaôs, Babalorixás, pois esses eram cultuados no Culto
aos Eguguns em Itaparica, Bahia, e nem Iyalorixás, pois, essas eram cultuadas no Culto das
Iyás), eram antigos "Pais e Mães de Senzala": escravos mais velhos que sobreviveram à
senzala e que, em vida, eram conselheiros e sabiam as antigas artes da religião da distante
África), que iniciaram a ajuda espiritual e o alívio do sofrimento material daqueles que estavam
no cativeiro. Embora houvesse certa resistência por parte de alguns, pois, consideravam os
espíritos incorporados dos Pretos-velhos como Eguns (espírito de pessoas que já morreram e
não são cultuados no candomblé), também houve admiração e devoção. Com os escravos
foragidos, forros e libertados pelas leis do Ventre Livre, Sexagenário e posteriormente a Lei
Áurea, começou-se a montagem das tendas, posteriormente terreiros.

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Em alguns Candomblés também
começaram a incorporar Caboclos (índios das
terras brasileiras como Pajés e Caciques) que
foram elevados à categoria de ancestral e
passaram a serem louvados. O exemplo disso
são os ditos Candomblé de Caboclo. Muito
comuns no norte e nordeste do Brasil até
hoje.

No início do século XX com o


surgimento da Umbanda, esta que muitas
vezes era realizada nas praias e que
começou a ser conhecida pelo termo
macumba, pois, macumba nada mais é que
um determinado tipo de madeira usada para
produzir o atabaque usado durante as giras;
por ser um instrumento musical, as pessoas
referiam-se da seguinte forma: "Estão
batendo a macumba na praia", ficando então
conhecidas as giras como “macumbas”. Com
o passar do tempo, tudo que envolvia algo
que não se enquadrava nos ensinamentos
impostos pelo catolicismo, protestantismo,
judaísmo, etc., era considerado macumba.
Com isso, acabou por virar um termo
pejorativo.
Referência Histórica-Literária

A mais antiga referência literária e denotativa ao termo Umbanda é de Heli Chaterlain, em


Contos Populares de Angola, de 1889. Lá aparece a referência à palavra Umbanda, como:
curador, magia que cura, sinônimo de Kimbanda.

Visão Esotérica sobre o vocábulo Umbanda

Segundo a corrente esotérica que existe na Umbanda, a origem do vocábulo Umbanda


estaria na raiz sânscrita AUM que, na definição de Helena Petrovna Blavatsky, em seu Glossário
Teosófico, significa a sílaba sagrada; a unidade de três letras; daí a trindade em um. É uma
sílaba composta pelas letras A, U e M (das quais as duas primeiras combinam-se para formar a
vogal composta O). É a sílaba mística, emblema da divindade, ou seja, a Trindade na Unidade
(sendo que o A representa o nome de Vishnu; U, o nome de Shiva, e M, o de Brahmâ); é o
mistério dos mistérios; o nome místico da divindade, a palavra mais sagrada de todas na Índia, a
expressão laudatória ou glorificadora com que começam os Vedas e todos os livros sagrados ou
místicos. As outras palavras componentes se supõem, como: Bandha, de origem sânscrita, no
mesmo glossário significa laço, ligadura, sujeição, escravidão. A vida nesta terra.
Autores dessa corrente esotérica, analisando as duas palavras, definiram Umbanda como sendo
a junção dos termos Aum + Bandha, que seria o elo entre os planos: divino e terreno. A palavra
mântrica Aumbandha foi sendo passada de boca a ouvido e chega até nós como Umbanda.

E assim nasce a nossa adorada Umbanda, uma religião tipicamente brasileira.

Texto adaptado por


Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)

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Olódùmarè - O Supremo que governa a Terra
em seu esplendor
“Bí Oba àiyé kò rí o, ti òkè nwò ó”.
(Se um rei terreno não vê você, Aquele que está em cima o vê).

Ao contrário do que muito é pregado pelas religiões cristãs (católicas e


protestantes), a Umbanda, o Candomblé e também o Ìsèse Àgbáyé (culto tradicional
indígena iorubá), acreditam e cultuam DEUS sim. Essas religiões não são seitas
demoníacas, que cultuam Satanás, como erroneamente dizem alguns sacerdotes
cristãos. Buscando assim, converterem mais e mais fiéis, ou melhor dizendo,
CONTRIBUINTES DE DÍZIMOS, para as suas igrejas.

Na Umbanda, Deus Pai todo Poderoso, é conhecido e cultuado com o nome de


Olórum (O Dono do Céu, de origem iorubá) ou Zambi (de origem bantu). Nas casas de
Candomblé, o mesmo é chamado de Olódùmarè/Olórun (tratando-se das casas de
origem yorùbá), Nzambi (tratando-se das casas de origem bantu) e Dada Segbo/Mawu/
Lisa (tratando-se das casas de origem fòn) e no Culto tradicional iorubá (Èsìn yorùbá),
ele é conhecido e cultuado como Olódùmarè, além claro, de seus inúmeros títulos, que
exprimem com grandiosidade e magnitude, suas inúmeras qualidades e poderes.

A palavra Olódùmarè, de origem yorùbá, possui uma tradução bastante complexa,


alguns traduzem como: Oló (Senhor) + Odù (recipiente sagrado, em menção a Terra)+
marè (supremo) = Supremo Senhor do Recipiente Sagrado (Terra). Alguns outros
pesquisadores, traduzem como Olódù omo Erè, Olódù filho (descendente) da Grande
Serpente (Erè), fazendo menção a origem desta divindade em relação a Via Láctea (a
Grande Serpente).

Olódùmarè é o Imortal (divindade) que rege e governa a Terra (Àiyé) em seu


esplendor.
12
Através de Obàtálá (Òsàlá), seu primogênito, criou a raça humana e permitiu que a
mesma povoa-se a Terra. Em menção a sua esplendida criação, é chamado de Elédá (O
Criador). Por ser ele aquele que nos anima com o hálito divino (Èmí), nos fazendo despertar
para a vida (Ayé), recebe também o título de Elémí (Senhor do hálito divino) e Aláyé (Dono da
vida), cabendo apenas a este o tirar da mesma.

Olódùmarè é representado pelo Odù Òfún méjì e além de ser saudado e louvado antes
de qualquer ato litúrgico, é louvado também a cada quinto dia da tradicional semana yorùbá, no
ojó awo (dia do segredo, dia do mistério) ou então, no ojó àìkú (domingo, dia da imortalidade),
dia de se louvar o mais importante de todos os imortais, o poderoso Olódùmarè e rogar ao
mesmo, vida longa (ire-àìkú).

Por acreditar-mos que à Olódùmarè não devem ser erguidos templos (igrejas, por
exemplo) e que o mesmo não possui sacerdotes, pois, a sua essência (èmí – hálito divino, força/
energia de Olódùmarè) habita dentro do maior templo construído, o corpo humano. Que muitos
acreditam que nosso DEUS não é cultuado, não é louvado e agradecido e que somos
cultuadores do Diabo, SER ESPIRITUAL que nem faz parte de nosso Culto...

Deus (Olódùmarè), por conhecer sua criatura, criou então as Divindades (Irúnmolè, Òrìsà, etc),
para que facilitassem nosso contato com ele e principalmente para nos ajudar em nossa
evolução rumo a ele...

Deus não é muitos, é UNO, apenas é conhecido através de nomes diferentes em Cultos e
Religiões diferentes.

O Culto a Òrìsà, seja ele Ìsèse Àgbàyé, seja Candomblé, seja Umbanda, não cultua
SATANÁS. Nosso Deus é Olódùmarè – O Supremo que habita o Òrún (Universo/mundo
espiritual) e ilumina o Àiyé (Terra/mundo material) com sua luz.

“Muitos caminhos levam a Casa da Boa Sorte...”

Adúpé l’owó Olóòrun


(Nós Agradecemos a
Deus).”

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)

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Èsù – O Indulgente e Poderoso Filho do
Universo
“Aquele que o conhece, não o encontra. Aquele que o
encontra, não o reconhece.”
Erònímosàn (um dos nomes pelo
qual Èsù é conhecido na Egbé Ògbóní),
divindade primordial, antiga, porteiro da
casa de Olódùmarè (O Deus Regente da
Terra). Senhor do Àse (força realizadora,
força vital). Divindade responsável pela
manutenção das três forças primordiais
regentes da Terra (Ìwà/funfun, Àbá/dúdú,
Àse/pupa). Senhor de todos os caminhos,
líder dentre os Irúnmolè (Divindades) e
Ajògún (Divindades que lutam contra o
homem). Divindade da ordem e da
multiplicação.

Èsù é cultuado em seus mais


variados aspectos, positivo e negativo...
Uma Divindade nem boa e nem ruim,
apenas PERFEITA...
Mensageiro de Olódùmarè...
Amigo inseparável de Òrúnmìlà...
Marido de Agbèrù...
Senhor da cidade de Kétu...

Muitos são os títulos desta divindade, dentre eles, Àgbó Òdàrà, Èsù, Láàlú,
Elégbára, Olúlànà, Alàmùlamu Bàtá, Ajígídam Irin, Olóògùn Àjísà, Èrú, Látopa,
Láarúmò, Elégbàá Ògo, Ora, Obasin, Onílé Oríta, Láaróyè.

Seu principal símbolo, o Yangí (laterita, barro pré-histórico) e o Ògo (objeto/


bastão fálico).

Èsù deve ser cultuado para que nossos caminhos não se fechem, para que
nossos pedidos cheguem ao consentimento de Olódùmarè e possam então ser
sancionados. Para que nada e ninguém nos façam mal. Para que tenhamos vida longa
e tudo de satisfatório sobre a Terra (Àiyé).

Seu dia de culto é o Ojó Awo (Dia do Segredo, da Sabedoria), primeiro dia da
Semana Religiosa Yorùbá de quatro dias. No Brasil, Èsù passou a ser cultuado as
segundas-feiras (Ojó Ajé/Dia da Riqueza), porém, é uma Divindade que pode ser
cultuado em todos os dias da semana. Seu principal lugar de culto é a oríta
(encruzilhada, cruzamento de caminhos) e principalmente a Oríta métà (encruzilhada
de três caminhos, três pontas). Èsù também é cultuado nos mercados (ojà). Na entrada
das cidades, templos e casas.
14
Suas principais oferendas são Omi (água), Epo pupa (azeite de dendê), Èko
(bolinho de milho branco cozido), Èwà (feijão fradinho), Àkàrà (bolinho de feijão fradinho),
Iyán (inhame pilado), Okà àmàlà (molho de carnes com pirão de inhame), Elédè (porco),
Ajá (cachorro), Òrúko (cabrito), Àkùko (galo), Adìe (galinha), Eja (peixe) e Eku (rato do
mato).

Èsù detesta Àdí (óleo feito da castanha interna do dendezeiro).

No Brasil, Èsù foi erroneamente associado ao Diabo e vez de amado passou a ser
odiado e temido por muitas pessoas, que quando escutam a palavra Exú, associam a
tudo que seja de ruim e acabam por cometer um erro grande. E infelizmente por medo,
acabam por perder a oportunidade de conhecer esta maravilhosa Divindade, a primeira
estrela criada no Universo, o pródigo filho de Deus (Universo). E o principal, serem
benfazejos pelo poder de Èsù, aquele que transforma pedra em sal, aquele que matou
um pássaro ontem com uma pedra que somente hoje atirou, aquele que pisa na pedra e
ela sangra.

Outro grande erro cometido nos dias de hoje, é a associação ou até mesmo a
confusão, entre a Divindade Èsù e os Exús e Pombogiras, espíritos cultuados na
Umbanda. Essa grande confusão, dá margem para erros como a Iniciação (feitura) de
Exú Tranca-Ruas, Pombogira Maria Molambo e outros mais, na cabeça de pessoas sem
malícia e com desconhecimento da Divindade, acabam caindo na mão de sacerdotes
sem conhecimento do Culto.

Espero através deste artigo, ter contribuído para o aprendizado de muitos em


relação à desmistificação sobre Èsù e seu Culto. Um dos mais belos cultos que existe
dentro da Religião e o mais essencial para a evolução, organização e prosperidade dos
seres humanos...

15
Mo júbà Èsù Kábiyèsí mi

Èsù òta Òrìsà


Òsétùrá ni orúko Bàbá mò ó
O lé sonsó sí esè elésè
A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò
A kìì láyò láì mú ti Èsù kúrò
Èsù àpáta sómo olómo lénu
O fi òkúta dípò iyò
Olópa Olódùmarè lailai
Epo l’érò Èsù
Oníbòdè Olórun
Tani o gbà ebo
Èsù ni yio gbà ebo wa
Èsù gbè eni se ebo l’ore o
Èsù bò wá ba wa ré ìkóríta
Oba ló ni òpó
Èsù Òdàrà ló ni Ìkóríta méta
Jé a mu Àse bò ìkóríta o

Èsù inimigo dos Òrìsà.


Òsétùrá é o nome que o Pai
(Olódùmarè/Deus) o chama.
Ele que senta no pé das
pessoas.
Aquele que tem dinheiro dá
uma parte a Èsù.
Aquele que tem felicidade dá
uma parte a Èsù.
Èsù faz uma pessoa falar o
que não deseja.
Ele usa pedra em vez de sal.
O fiscal de Olódùmarè (Deus)
dês de tempos imemoriais.
O azeite de dendê acalma
Èsù.
―Kò sí èyí ti yóò móo jeun O porteiro de Deus (Olórun).
Tàbí yóò móo se igúnwà ti kó Quem recebe o nosso ebo
(oferenda, sacrifício, sacro-
Ni fi ti Èsù síwájú ofício)?
É Èsù quem recebe o nosso
ebo.
Não existe ninguém que coma. Èsù apóia a pessoa que faz o
Ou esteja instalado com realeza. ebo bem feito.
Èsù venha, acompanhe-nos
Sem que haja recorrido a Èsù até a encruzilhada.
primeiro.” O rei faz uso do trono.
Èsù faz uso da encruzilhada
(que liga o Céu a Terra).
Permita que voltemos da
encruzilhada com Àse (força
de realização).
Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)
Àse...
16
ENTREVISTA DO MÊS
Bàbá José Carlos de Ibùalámo fala de Axé
Ilé Alákétu Àse Ibùalámo

Fundado em 20/10/1987 o Ilé Alákétu Àse


Ibùalámo, tem como patrono, o Òrìsà Ibùalámo,
divindade africana da caça, originário de Ìlóbú
(província localizada ao sul da Nigéria
Ocidental), esposo de Òsun e pai de Lògùn Ede.
O Àse Ibùalámo está situado num espaço de
3.000 metros no bairro do Jd. São Marcos - Stº
Amaro - SP, é estreitamente ligado com a
comunidade que o circunda, mantendo diversas
ações sociais que visam à melhoria de vida na
comunidade e, a edificação da cultura religiosa
africana no Brasil.

O Ilé Alákétu Àse Ibùalámo é presidido


pelo seu fundador, o Bàbálóòrìsà José Carlos de
Ibùalámo, iniciado pela Ìyálóòrìsà Maria de Nàná
O Bàbálóòrìsà José Carlos de que, juntamente com Ògán Tarrafa de
Ibùalámo, é natural da cidade de Obalúayé, "plantaram" o Àse Ibùalámo. O Àse
Castro Alves (recôncavo baiano), Ibùalámo é descendente do conhecido Àse da
Ilha Amarela, do saudoso Bàbálóòrìsà Otávio da
filho de santo da Ìyálóòrìsà Maria de
Ilha Amarela (Ode Taosi) e do Ile Ode do
Nàná, fundadora do Ilé Àse Silanje Bàbálóòrìsà Camilo José Machado (Camilo da
(Feira de Santana - BA). Homem Vila América - Ode Taode) ambos filhos do
catedrático do Candomblé, não Òrìsà Ode. O Ile Alaketu Àse Ibùalámo é a
centrou seus esforços somente no continuidade dessas duas roças de Candomblé
sacerdócio, e fundou o "Grupo que infelizmente, não existem mais, o Òrìsà
Beneficente e Cultural Olúwa", que análogo desses três sacerdotes, não figura
dentre outros aspectos, assiste a como coincidência, mas sim, como missão de
comunidade com programas em perpetuar o culto ao Deus do rio Ibù e a tradição
parceria com a Prefeitura e o do Candomblé da Ilha Amarela, desta feita, em
Governo do Estado de São Paulo. São Paulo. Mãe Maria de Nàná, quando
inaugurou o Àse Ibùalámo, certamente, plantou
não somente seus conhecimentos, mas sim, a
Bàbá Jose Carlos é um
tradição ímpar de uma família norteada pela
homem calmo e sereno, que palavra dos Òrìsàs e do respeito ao ser humano.
vislumbra na religião, o pilar para a
harmonia entre as pessoas. Para A Sociedade Àse Ibùalámo, tem como
ele, seus filhos de santo são premissa religiosa, a adoração e preservação do
extensão de sua família, repudia a culto aos Deuses de origem africana (Òrìsà) no
intolerância na casa de Candomblé, Brasil, tendo como seu patrono, o Òrìsà
diz que, embora exista uma Ibùalámo, deus da caça e do rio Ibù. Temos
hierarquia a qual certamente deve como valores, o amor, o respeito ao próximo e a
ser seguida, deve existir sobretudo, responsabilidade sócio-ambiental.
o respeito às pessoas que o
acompanham.
17
Dofono T’Sàngó na estrada em direção a São Paulo capital, para ser mais exato,
ao Bairro de Santo Amaro, Jardim Varginha, onde nos aguarda o Bàbálóòrìsà José
Carlos de Ibùalámo um dos ícones do Candomblé Paulista.
A impressão que se tem chegando ao Àse Ibùalámo é que estamos na Bahia devido à
geografia da área onde está localizado o Ilé àse.
A recepção que tivemos não poderia ser melhor, devido a simplicidade das pessoas e a
amabilidade com que recebem seus visitantes.
E o que nos deixou surpresos foi o importante trabalho social realizado aqui e a grande
quantidade de Arvores e folhas. Bem mas pra falar disso nada melhor que um bate papo
com o nosso anfitrião.
Sentado em sua cadeira em frente à Casa de Ibùalámo esta o nosso entrevistado. Eu que
esperava encontrar aqui um “Pai de Santo” cheio de não me toques devido a sua
importância no Candomblé, me deparo com uma pessoa simples, humilde, sem grandes
ostentações, mas de grande sabedoria.

Falando de Axé: Babá José Carlos,


quando e como se deu inicio este tão
belo trabalho social que o Sr. realiza
aqui?

Bàbá José Carlos: Os trabalhos


sociais tiveram inicio logo após a
implantação do Àse por determinação
de uma Entidade da casa e nessa
época a comunidade circunvizinha era
muito carente, e nós não morávamos
aqui, aqui somente era o espaço
destinado ao culto a Orixá e a casa
ainda estava em formação. O primeiro
trabalho social realizado foi o “sopão”,
me lembro que passávamos a noite
toda de sexta pra sábado fazendo a
sopa e de manhã no sábado as
pessoas da comunidade vinham com as
panelas buscar.

A sopa era distribuída a + ou – 300 pessoas semanalmente, sempre aos sábados.


As pessoas da comunidade continuavam nos procurando e sentimos necessidade de ampliar este
trabalho. Dando continuidade montamos um projeto chamado Olúwa, que atende crianças e
adolescentes, com oficinas de dança, percussão, balé afro, capoeira.
Realizamos uma seria de atividades com as crianças da comunidade e então, senti necessidade de
abrir uma creche para poder atender as famílias que não tinham onde deixar seus filhos para
poderem trabalhar, em virtude da distância do bairro e o centro da cidade, atendemos 60 crianças,
que entram ás 6hs da manhã e saiam quando os pais voltavam do trabalho, estes serviços eram
realizados por voluntários do Axé e da comunidade, e eram totalmente gratuitos. Conseguimos
criar então vários convênios, o primeiro foi com o governo do Estado de São Paulo, com a
coordeagro, coordenadoria ligado à secretaria de agricultura, para distribuição de cesta básica e o
projeto Viva Leite Criança e Idoso, atendendo 150 famílias semanalmente sendo que para cada
família são entregues 4 litros de leite; depois criamos o convenio de inclusão digital com a
montagem do Telecentro, atendendo crianças e adultos da comunidade com cursos de
telemarketing, informática e cursos livres, contando com 20 computadores ligados na rede mundial
de internet. Em parceria com a secretaria estadual de segurança pública passamos a receber as
pessoas de pequenas causas que cumprem penas alternativas de serviços à comunidade
ajudando nas obras sociais perante a comunidade.

Falando de Axé: Vi que o Sr. tem instalada no Àse uma Biblioteca. Ela é aberta à comunidade ou
18
restrita apenas aos membros do Àse?
Bàbá José Carlos: Outra preocupação do Axé é ajudar as crianças com a leitura, e após a
abertura do Telecentro foi verificado que as crianças tinham muita dificuldade com leitura e diante
disso foi desenvolvido um projeto chamado “Ler Para Crescer” que foi desenvolvido pelo Vinicius,
Pai Ògán do Axé, e enviado para Telefônica, o qual foi aprovado permitindo a construção desta
biblioteca que recebeu o nome de meu pai carnal, “Biblioteca Comunitária Osvaldo Santana” com
um acervo de 5000 livros, e também foi criado uma sala onde é ministrado os cursos de
telemarketing, culinária, de doceria, confeitaria, de religiosidade africana o qual foi ministrado por
mim durante 6 meses; o Ilé faz parte do circuito urbano do SESC, sendo assim neste espaço que
está adequado com cadeiras, data show, também recebe pessoas que são enviadas pelo SESC,
para receberem informação sobre a religião, para conhecimento desta com o intuito de quebrar o
preconceito. Todos os projetos são abertos a comunidade.

Falando de Axé: Tive o prazer de acompanhar a distribuição de leite e gostaria de saber qual o
sentimento do Sr. em poder ajudar a comunidade?

Bàbá José Carlos: Sinto-me realizado, gosto muito do que faço e me sinto gratificado por poder
ajudar as pessoas necessitadas, toda a minha família presta serviço comunitário, meu irmão foi
vereador em minha cidade natal na Bahia e seu mandato foi dedicado a pessoas carentes. E aqui
na comunidade atendemos pessoas de diferentes credos, como católicos, evangélicos, espíritas
sem distinção.
Preconceito que existe com relação às religiões de matrizes africana.

Falando de Axé: Vejo que o Sr. tem uma grande preocupação com as crianças de sua Egbé
(comunidade).

Bàbá José Carlos: Nós nos preocupamos muito com as crianças dos filhos do Axé, eles não são
levados para serem batizados em outra religião, eles são batizados no próprio Ilé para que haja
uma aproximação destas crianças com a religião de seus pais, o que possibilita que essas crianças
cresçam vivenciando a religião de seus pais, para que no momento certo possam ser iniciadas
para darem continuidade ao que seus pais começaram, pois essas crianças serão o futuro da
religião, do Axé; elas recebem o conhecimento sobre os orixás, sobre os toques de atabaque,
sobre as folhas, e demais rituais do terrreiro.

Falando de Axé: O Sr. tem aqui uma grande diversidade de Arvores e folhas, algumas raridades
que só vemos em livros. Além do Àse, aqui funciona como área de preservação?

Bàbá José Carlos: O bairro hoje onde existe o Ilé era um setor apenas de chácaras, e a
preocupação com as aves, com as folhas, com as águas, foi o que fez com que eu comprasse
essa área e saísse do bairro Jabaquara, que fica próximo ao centro da cidade. Essa região é uma
área de manancial e área de proteção ambiental, qualquer árvore para ser cortada precisa da
autorização da APA Bororé Colônia que administra tudo e da qual eu faço parte como conselheiro
representante da sociedade civil. O Axé tem uma preocupação muito grande com o meio ambiente,
com o ecológico, que muitas ervas foram trazidas da Bahia, e essa preocupação se justifica pelo
patrono do Axé ser Ibùalámo, pois, não há como cultuá-lo sem a mata, sem a água. Ressalto que o
culto das folhas e ervas é de suma importância no Àse Ibùalámo, pois, "Kòsí Ewé, Kòsí Òrìsà - Se
não existir folha não tem Òrìsà”, lembro que não só os povos africanos, mas também todos os
povos antigos se preocupavam com as árvores.

Falando de Axé: Como o Sr. vê o Candomblé de São Paulo perante ao Candomblé na Bahia?

Bàbá José Carlos: Embora muitas pessoas critiquem o candomblé de São Paulo, acredito que
essas críticas são injustificadas e pura falta de conhecimento, pois o candomblé de São Paulo é o
que mais evolui, e existe um contato estreito com suas casas matrizes, para preservar as
tradições, existindo uma busca muito grande pelo aperfeiçoamento e uma grande busca pelo
conhecimento. Lembro que em uma das visitas de Pai Tarrafa ao Axé, em uma festa de Ibùalámo,
este disse que vê o candomblé de São Paulo como o candomblé do futuro, pois, ele via o interesse
da juventude no candomblé, que essa juventude busca o conhecimento. Realmente existem os
marmoteiros, mas também existe o Candomblé sério, que segue suas raízes e se preocupam em
preservar o culto aos ancestrais.
19
FOLHA DO MÊS
Também é utilizado para
demarcar onde começa os patrimônios
campestres de cada membro de um
mesmo clã.

Pèrègún - O rei que A origem desta planta é


desperta as divindades africana, porém, com a vinda de
escravos africanos para o Brasil, na
na Terra infeliz época do tráfico escravista, esta
árvore difundisse em nosso país.
Nome Yorùbá = Pèrègún.
Nomes Populares = Nativo, Pau-d’água, É considerada a planta mais
Dracena, Coqueiro de Vênus. popular dentro das Casas de
Nome Científico = Dracaena fragrans. Candomblé (Culto Afro-brasileiro),
possuindo uma utilização bastante
Pèrègún, que simbolicamente significa variada, essencial e indispensável na
alicerce, coluna. composição do Àgbo (banho lustral e
litúrgico composto de folhas e outros
Na África, é considerada uma árvore elementos ritualísticos), banhos,
sagrada, uma “divindade”, é de costume vê-la sacudimentos, medicinas, magias e
plantada em lugares sagrados para os òrìsà, junto etc.
ou próximo aos seus Ojúbo (Locais de adoração).
Em Òsogbo mesmo, encontramos muitos É uma folha que possui a
pèrègún plantados próximo ao Ojúbo Òsun regência de diversos irúnmolè, como:
(santuário de Oxum), divindade que tem a mesma Èsù, Ògún, Òsányìn, Òsóòsì,
como uma árvore sagrada dentro do seu culto e Obalúayé e principalmente Òsun.
suas folhas, completamente essenciais ao mesmo. É uma folha gún (de excitação).
Masculina e ligada ao elemento
Terra.

Sua principal ligação com Òsun,


se dá ao fato do acúmulo de água em
seu caule. Não sendo a toa um dos
nomes populares desta planta, PAU
D”ÁGUA. Por isso, é uma planta que
mesmo pertencendo ao elemento
terra, possui grande ligação ao
elemento água.

Muitas medicinas são realizadas


com o pèrègún, tanto para chamar e
obter a sorte (àwúre oríire), quanto
para agradar as feiticeiras (ìyónú
ìyámi).

Como folha gún, de excitação,


tem o poder de despertar o transe, por
isso é a primeira das utilizadas no
àgbo ìgbèrè (banho de iniciação):

“Pèrègún ní í pe irúnmolè
l’át’òde òrun w’áyé.
É Pèrègún que chama as
divindades do céu para a terra.”
20
Na África, os àmì (assentamentos) Òsun, são colocados muitas vezes sob a copa
desta árvore, no Brasil, isso acontece com os àmì Ògún (assentamentos de Ògún). O
Pèrègún é também utilizado como cerca viva em torno do assentamento de Ògún em
algumas casas de culto.

Uma folha de grande utilização nos àgbo (banhos) de sacramento dos objetos
litúrgicos de Ògún, Òsóòsì e Òsányìn.

Pèrègún é utilizado medicinalmente em banhos e chás para reumatismo.

“Pèrègún alará gigùn o


Pèrègún alará gigùn
Oba o ni je o roro ókàn
Pèrègún alará gigùn
Pèrègún gba agbára tuntun

Peregum, Você é dono de um corpo excitado.


Peregum, Dono de um corpo excitado.
O Rei que não deixa ter problema de coração.
Pregum, Dono de um corpo excitado.
Peregum que dá nova força (revigora).

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)

PARCERIAS

21
O Carnaval — Aqui e na África

A riquíssima cultura da África do Sul possui um carnaval, festejado no dia 2 de janeiro.


Na Cidade do Cabo os sul-africanos celebram o carnaval, a festa acontece desde o final do
século 19 em comemoração ao único dia de folga que os escravos tinham durante todo o ano.

Segundo o Wikipédia, o “Carnaval é um período de festas regidas pelo ano lunar no


cristianismo da Idade Média.”, que popularizou-se pelo mundo, abrindo suas alas em vários
países, cada um com seus costumes e tradições, foram aprimorando-se a sua moda. E este
mesmo site registra que o - período do carnaval era marcado pelo "adeus à carne" ou "carne
vale" dando origem ao termo "carnaval”. Começando numa sexta e finalizando na quarta feira
de cinzas, o carnaval é uma festa pública que leva o povo às ruas para festejar, mas sem
vinculo algum com a tradição do Òrìsà.

Porem qual o papel desta festa aqui no Brasil para a cultura Afro-brasileira? A meu ver
nem uma, afinal o Òrìsà não é Cristão, muito menos, deveria depender do cristianismo e suas
datas para afinar os seus tambores, culturalmente não existe ligação alguma com a
religiosidade da Umbanda nem do Candomblé, esta confusão deveria ser elucidada na
sociedade contemporânea. Sem dúvida a família tradicional afro-brasileira, espera mais do que
um misero sincretismo para explicar a falta de consciência religiosa dos adeptos e religiosos.

Se pensarmos que o “Carnaval” é um produto da sociedade Vitoriana do século XIX,


não deveria influenciar em nada os rituais afro-brasileiros, sabendo que a raiz do Candomblé é
africana e a Umbanda apesar da influência religiosa e cultural da África, Europa e América
latina, é muito difícil afirmar que existe alguma ligação do Carnaval e a cultura afro-brasileira,
considerando que a Umbanda, apesar de ser legitima nação brasileirinha, não deve se deixar
influenciar mais uma vez por equívocos religiosos e sincretismo venenoso.

Mas porque ligar a Umbanda e o Candomblé com a festa de Carnaval? Porque hoje,
quando eu vejo sacerdotes de Umbanda preparando rituais seguindo o calendário cristão eu
tento entender qual a real ligação deste sincretismo, por mais que eu tente entender, não
consigo de forma alguma achar alguma ligação que faça desta presa a outra, afinal a Umbanda
possui seus rituais e liturgia e não vemos as entidades saindo às ruas em procissão durante o
Carnaval, por muito menos chego a pensar que os sacerdotes da Umbanda, mais uma vez
dobram seus joelhos perante uma religião que considera superior, muitas vezes não
22 considerando a sua posição perante o culto e os rituais a que foi iniciado.
Um sacerdote tem a missão de formar o bom caráter dos seus seguidores, além de
prover a luz espiritual a qual eles irão comungar, da mesma forma que os adeptos da religião
confiam e seguem aqueles sacerdotes esperam que os mesmo estejam preparados para seus
rituais e liturgia, mesmo observando que muitos sacerdotes não estão devidamente
preparados, exemplos vemos pós-morte de um filho, onde o sacerdote muitas vezes apenas
despacha sem atribuir ritual algum para aquele ente que faleceu, fora que muitas
vezes vemos entidades ministrando casamentos, batizados e rituais, aos quais seriam
responsabilidade do médium e não da entidade, claro que nada impede que uma entidade
manifeste-se após o ritual, mas cabe ao sacerdote ministrar seus rituais. Pior, em alguns casos
o sacerdote chama um padre para encaminhas a alma daquele ente iniciado por ele...

Por estes equívocos que tenho plena certeza de que a Umbanda e o Candomblé
deveriam quebrar definitivamente os vínculos com o sincretismo, afinal ambas as culturas
possuem rituais, liturgia e tradição, sem que seja preciso criar vínculos com outras religiões,
desta forma que eu tentei encontrar algum ritual que explicasse algum vinculo com o Carnaval
e felizmente não encontrei nada além de equívocos e mais erros acometidos durante esta
data.

Eu imagino que o mais correto seria encerrar as funções dentro de um templo e


aproveitar a festa, para aqueles que curtem um baile carnavalesco e ver os desfiles que não
deixar de ser interessante, claro que para quem gosta, nem todos possuem o mesmo gosto
felizmente.

Por Erick Wollf (Bàbálóòrìsà do Ilé Oba Óbokún Àse Nàgó)


Editor da Magazine On Line www.olorun.com.br

23
LIVRO DO MÊS
Òrun Àiyé - O Encontro de
dois mundos
O sistema de relacionamento Nagô-Yorubá entre
o Céu e a Terra.
Livro do profº José Beniste.
Editora Bertrand Brasil.

A globalização já é uma realidade e devemos nos


preparar para outros avanços da humanidade. Avanços
estes sempre defendidos por José Beniste, em se
tratando da cultura afro-brasileira. Não poderia haver
avanço maior do que Òrun Àiyé. Aqui, Beniste dá uma
amostra do que é verdadeiramente o sistema nagô-
yorubá, onde você entenderá de forma correta acentos
yorubás, vogais, substantivos, cânticos e rezas.

Em pesquisas muito bem elaboradas, José


Beniste registra, segundo a tradição yorubá, o universo e
a sua existência, a formação da Terra – Òsàálá,
Odùdúwà, os Òrìsà e suas classificações. Em “Rituais a
Ifá”, traduz recitações importantíssimas ao culto a Ifá e
distribui os Odù em seus diversos caminhos, de forma
minuciosa.

Em um ponto muito interessante, certamente não


o mais, o autor descreve na íntegra um ritual de borí e
“Pípé ni yó pèé, ìpàdé, com todos os seus cânticos seqüenciais e
ritualísticos. Nestas pesquisas, ele nos mostra como os
akòpe yó wàá sílè” yorubás preservam e cultuam seus ancestrais e
antepassados, e o valor de ìkú – a morte, para esse
povo.
Tradução: Pode demorar
Òrun Àiyé é um livro de avançadas pesquisas, no
um tempo, mas o vinho qual homem e divindades são explicados de forma
da palma descerá sobre cultural e didática. Certamente, bàbálórìsà e ìyálórìsà,
pesquisadores e toda a comunidade afro-brasileira se
a árvore. deleitarão com este livro, pioneiro e extremamente
importante, pela forma abrangente e precisa como retrata
Interpretação: Todos a cultura afro-brasileira, “o candomblé”.

que recorrem à Por Paulo Guerreiro


paciência; alcançarão
seus objetivos. Esta obra do professor José Beniste não pode
faltar em sua estante, ela é magnífica e será bastante
esclarecedora a todos aqueles que buscam um
aprendizado verdadeiro a respeito da tradição cultural
religiosa afro-brasileira de origem yorùbá.
Uma ótima leitura que você não pode deixar de
fazer...

24 Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)


PRÓXIMA EDIÇÃO
Ilé Àse Ìyá Nàsó Okà — 1ª Casa de Candomblé do Brasil.
Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade — 1ª Tenda de Umbanda
do Brasil.
Òrìsà do Mês — Òrúnmìlà, o Vice de Olódùmarè e Testemunha dos
Destinos.
Santo do Mês — São Jorge, o Guerreiro.
Folha do Mês— Kúkundùkun, a Mestra das Folhas.
Mulher — A importância do Sagrado Feminino dentro do Culto
E muito mais...

CONTATOS
Jornal
E-mail: falandodeaxe@live.com
Orkut: Jornal — Falando de Axé
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?
origin=is&uid=10758619178602102938
Blog: http://falandodeaxe.blogspot.com/

Editor: Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsúmarè)


E-mail: ejotola@hotmail.com
Msn: ejotola@hotmail.com
Orkut: Ejòtolà fó yèriyèri
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?
rl=ls&uid=1113546347591436131
Fone: (041) 8469-1985

Co-editor: Wemerson Elias (Dofono T’Sàngó)


E-mail: wemerson@awure.com.br
Msn: oba_sango@hotmail.com
Orkut: Wemerson Dofono T’Sàngó
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=10568273622791865718
Fone: (034) 9179-7335

Qualquer sugestão, crítica ou reclamação, entre em contato


conosco...
AXÉ.
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