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O Direito Privado hoje não está unificado, e mesmo com as diferentes posições
existentes, a coerência conduz à Constituição, com a forte tendência do favorecimento
da pessoa humana nessas relações jurídicas e especialmente nas contratuais, pois a
vontade contratual deixou de ser o núcleo do contrato, cedendo espaço a outros valores
jurídicos, institutos fundados na Carta Magna.
O exemplo que serve como modelo da autonomia de vontade, cede espaço para o
equilíbrio da relação contratual valorizando a tutela da pessoa na sua dimensão de
contratante, portanto, a liberdade para contratar não pode ferir às regras e normas
necessárias para a normatização e posterior validação desses contratos, dentro dos
limites da lei.
“As normas do CDC são ex vi legis de ordem pública, de sorte que o juiz deve
apreciar de ofício qualquer questão relativa às relações de consumo, já que não
incide nesta matéria o princípio dispositivo. Sobre elas não se opera a preclusão e as
questões que dela surgem podem ser decididas e revistas a qualquer tempo e grau de
jurisdição.”[1]
É fácil deduzir então que, o princípio da autonomia de vontades só é válido quando for
aprazível para ambas as partes e guardando a igualdade efetiva de toda e qualquer
relação contratual.
O Capital, ainda assim, encontra saídas nas lacuna do direito, até no espaço do Código
Civil, mas sempre estará em descompasso com a Constituição e o Código de Defesa do
Consumidor.
O papel a ser desenvolvido por todas essas empresas que fornecem o crédito tem razão
de ser no interesse da coletividade e da produção. A função social do contrato bancário
é a prestação de um serviço essencial ao desenvolvimento da sociedade, que é o
fornecimento do crédito, produzindo uma multiplicação do dinheiro disponível e essa
finalidade deve estar restrita à disciplina legal dos juros remuneratórios.
O que se enxerga são taxas praticadas no mercado brasileiro que superam em muito a
taxa média de lucro da sociedade, em virtude de políticas internacionais do governo
visando a injeção de capital privado no Estado brasileiro, capital esse que ao invés de
trazer benefícios e crescimento, mantém estática e escraviza a população de modo geral.
A taxa de juros brasileira atinge patamar, atualmente que seria difícil de ser alcançado
por taxa de lucro médio de qualquer sociedade do mundo, restringindo na prática o
empréstimo a alguns poucos privilegiados que desempenham atividade altamente
lucrativa, àqueles abastados que podem ou preferem pagar o preço (juros) do
consumopresente em troca do consumo futuro, ou aos desesperados que recorrem ao
empréstimo na iminência da insolvência.
O investidor atualmente prefere aplicar seus ganhos em juros do capital do que investir
e produzir, desacelerando a economia, contrariando o objetivo constitucional de
"garantir o desenvolvimento nacional" (art. 3°, II, CF).
Neste seguimento, não existe a livre concorrência, mas sim um cartel visando o
estabelecimento de um patamar de juros intangível, onde nem o próprio Estado, que
deveria atuar como fiscal de todos os atos praticados por todos aqueles submetidos a
ele, o faz.
A distorção econômica merece correção jurídica e essa correção não deve ser esperada
pela regulamentação do art. 192, da Constituição, sendo que este aguarda a mais de dez
anos por lei complementar.
3 - A CULTURA PATRIMONIALISTA
Essa prática está sendo repudiada por operadores do direito, conforme entendimento do
jurista Pedro Luiz Pozza:
Por parte das Administradoras de Cartão de Crédito temos efetivas condutas aplicadas à
realidade sem qualquer consonância com a legislação infraconstitucional que se
efetivam quando da assinatura de contratos com cláusula mandato, outorgando a
condição de mandatária à Administradora, que por sua vez necessita, adquirir o dinheiro
necessário ao financiamento do débito de seu cliente com bancos, isso porque não são
instituições financeiras.
4 - A APLICAÇÃO DO CDC
Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final...
Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Os bancos são realizadores de atividade empresarial, pois recolhem capital para depois
distribuí-lo em forma de crédito, sendo irrefutável a aplicação do CDC nessas
atividades.
Entende-se que não tendo a Constituição Federal disciplinado sobre o teto de juros
cobrados pelas Instituições Financeiras, muito menos lei complementar, aplicar-se-á a
legislação infraconstitucional.
(...)
(...)
(...)
5 - CONCLUSÃO
Referências:
[1] NERY, Nelson Junior. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Anotado e
Legislação Extravagante, 3ª edição, RT, 2004, p. 1456
[2] Parafraseando Dallagnol, Deltan Martinazzo. Limite dos juros remuneratórios no
direito brasileiro e infraconstitucional. Inwww.jusnavigandi.com.br, 2004.
[3] Parafraseando MALFATTI, Alexandre David, revista jurídica eletrônica Direito
Bancário On-line. In www.direitobancario.com.br, 2.001.
[4] Parafraseando CALDAS, Pedro Frederico. As instituições financeiras e a taxa de
juros. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo,
v. 35, jan/mar., 1.996, p. 81.
[5] POZZA, Pedro Luiz. A limitação das taxas de juros, a nível constitucional e legal,
no crédito bancário. Ajuris, v. 62, nov. 1.994, p. 299
[6] Parafraseando GABRIEL, Sérgio. Curso de Direito Empresarial, 2.002, p. 89.