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Corn isso, vereis uma arnostra - talvez inferior ao gue esperais _ dos tra-
balhos da escola francesa de sociologia. Dedicamo-nos de maneira mui-
CO especial à historia social das carego ri as do espirito huma no. Tenrarnos
exp]ica-l as uma a uma, partindo sî mpl esmente, e prov iso riamenre, da
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lisra da s categorias aristotéli cas. Descrevemos aIgu mas de suas fo rmas
em aigu mas civilizaçoes e, por essa comparaçào, busca mos enco ntrar
sua natureza fluida, e as razôes de esra ser assim. Foi dessa maneira qu e,
ao desenvolver a noçào de mana, Huberr e eu acredita mos encomrar nao
apenas 0 fundamenro arcai co da magia, mas também a forma muiw ge-
1. Duas teses da École des Hautes Études ja abo rdararn probJernas dess<l ordem: Charles Le
Coeur '932 e V. Labock '9]2. 2. Hubert e Mauss '9°9 .
raI e provavelmente muita primitiva da noçao de causa; foi assim que relaçôes que existem no tempo e no espaço entre 0 sujeito que fala e 0
Hubert descreveu algumas caracteristicas da noçao de tempo; que n05- objeto de que ele fala. Aqui, 0 "Eu" é onipresente, no entamo nao se ex-
so saudoso colega, amigo e discîpulo Czarnowski começou a elaborar - prime por "mim" nem por "eu". Mas sou um mediocre conhecedor nes-
e infelizmeme nao terminou - sua teoria do "retalhamento da exten- se vasto terreno das Hnguas_ Minha pesquisa sera inteirarnente uma pes-
sao", isto é, de alguns aspectas da noçào de espaço; foi assim que meu quisa de direito e de moral.
tio e mest re Durkheim esrudou a noçao de todo, apos ter estudado comi- Camo de lingiiistica, tampouco vos falarei de psicologia. Deixarei
go a noçâo de gêne ro. Ha muitas anoS venho preparando estudos sobre de lado tudo 0 que diz respeito ao "Eu" ) à personalidade consciente
a noçào de substância, do quai publiquei apenas um trecho bastante abs- como tal. Direi apenas: é evideme, sobretudo para nos, que nunca hou-
conso e inutil de 1er em sua forma atual. Mencionarei também as multi- ve ser humano que nao tenha tido 0 senso, nao apenas de seu corpo, mas
plas vezes em que Lucien Lévy-Bruhl abordou essas questoes no con- também de sua individualidade espiritual e corporal ao mesmo tempo. A
junta de suas obras relativas à mentalidade primitiva - em partlcular no psicologia clesse sentido fez imensos progressos no ultimo século, de uns
que se refe re ao nossO terna, 0 que ele charnou a H~lma pri~itiva". Mas cern anos para ca. Todos os neurologistas franceses, ingleses, alemâes,
ele esta interessado, nao no esrudo de cada categona em partlcular, ou da entre os quais meu mestre Ribot, nosso caro colega Head e outros, acu-
que vamos esrudar, mas sobrerudo em destacar, a proposito de todas, in- mularam sobre esse ponto numerosos conhecimemos: sobre a maneira
clusive a do "eu", 0 que hà de "pré-16gico" na mentalidade das popula- como se forma, funciona, decai, desvia-se e decompôe-se esse semido, e
çôes que pertencem à antropologia e à etnologia, e nao à historia. sobre 0 papel consideravel que ele desempenha.
N osso procedimento sera mais metôdico e nos restringimos ao es- Meu assumo é hem diferente, e é independente. É um assunto de
rudo de apellas uma dessas categorias, a do "Eu". Isso ja sera bastante. historia social. De que maneira, 301ongo dos sé~~los, através de nu-
------Nesse curto espaço merasas sociedades, se elaborou lentamente, nào 0 senso do "eu" , mas
de excessiva, vos levarei a percorrer 0 mundo e as épocas, indo da Aus- a noçao, 0 conceito qu e os homens das diversas épocas criaram a seu
tralia a nossas sociedades européias, e de historias muita antigas à de respeito? 0 que quero mostrar é a série das formas que esse conceito
nossOS dias. Pesquisas mais amplas poderiam ser empreendidas, cacia assumiu na vida dos homens, das socieclades, corn base em seus direi-
uma poderia ser muita mais aprofundada, mas pretendo apenas vos tas, suas religiôes, seus costumes, suas estruturas sociais e suas menta-
mostrar camo se poderia organizâ-Ias. Pois minha intençao é vos ofere- lidades.
cer, bruscamente, um catâlogo cias formas que a noçao adquiriu em di- Uma coisa pode vos indicar a tendência de minha dem onstraçao; é
versos pontos, e mostrar de que maneira ela acabou por ganhar corpo, que vos mostrarei 0 quanta é receme a palavra filosofica "Eu" , como
matéria, forma, arestas, e isto até nosSOS tempos, quando ela finalmente sâo recentes a "categoria do Eu", 0 "cuIta do Eu" (sua aberraçâo) e 0
tarnou-se clara, nitida, em nossas cÎvilizaçôes (nas ocidentais, muita re- respeito ao Eu - em particular, ao dos outras (sua norma).
centemente) e nâo ainda em todas. Farei apenas um esboço, darei um a Classifiquemos, pois. Sem nenhuma pretensâo de reconsrituir uma
primeira forma à argila. Ainda estau longe de ter explorado 0 bloco in- hist6ria geral, cla pré-historia aos nossos dias, estudemos prirneiro al-
teiro, de ter conc1uîd o a esculrura. . gumas dessas formas da noçao de "Eu", para depois entrarmos na his-
Assim nao vos falarei da questao lingüistica, que devena ser trata- toria corn os gregos e constatarrnos, a partir clat, alguns encadearnentos
da num est~do completa. De modo nenhum afirmo que tenha havido certos. Antes, sem outra preocupaçâo exceta a 16gica, faremos um pas-
uma tribo, uma lîngua, em que a palavra l'eu - mim" [je - moi] (vejam seio por essa espécie de museu de fatas (nao gosto da palavra survivais,
que a declinamos ainda corn ciuas palavras) .nâo existisse: I:ao e~pres sobrevivêncÎas, para instiruiçoes que ainda vivem e proliferarn) que a
sasse algo de nitidamente representado. Multo pela contrano, alem do etnografia nos apresenta.
pro nome que el as possuem, muitas Hnguas se destacam pelo usa ~e
abundantes sufixos de posiçâo, os quais se referem em grande parte as
Em cada da. encontra-se um conjunto de nomes gue sao chamados nomes de in-
fância. Esses nomes sa.o mais t{rulos gue cognomes, Sao selecionados segundo
Os Pueblos modos sodolôgicos e di'Vinalônos, e conJen'dos na infância na qualidade de
"nomes de 'Verdade" ou titulos das crianças que os receoem. Mas este corpo de
Comecemos pela fato do quai partiram todas essas pesquisas. Vou nomes relacionado a qualquer um dos tOlens - por exemplo, a um dos totens
toma-la dos indios Pueblos, dos Zui'ii, mais precisamente os do Puebla animais - nao sera 0 nome do propn'o totem, e sim 0 nome do totem em suas
de Zuiii, admiravelmenre esrudados par Frank Hainilton Cushing (ple- 'Van'as condiçoes ou de SUtll partes, ou de suas funçôes, ou de seus atriOulOs,
namente inici: Jo aas Pueblos) e por Mathilda Cox Stevenson e seu ma- reais ou misticos. Estas partes ou fimçôes, ou atrioutos das partes ou !unçôes,
rid o clurante muitos anos. A ob ra de1es foi criticada. Mas julgo-a segu- sao tamoém subdi'Vididas em seis, de modo que 0 nome reJerente a um memoro
ra e, em roda caso, ûnica. Nada de "muito primitivo", é verdade. As qualquer do totem - por exemplo, 0 oraço direiro ou a perna do animal- corres-
"Cidades de Cibo la" foram convertidas outrora aD cristianismo, elas e sena 0 (cl~9.ue nào é, e~...IPp-riq, _
conservaram seus registras batismais; mas ao mesmo têmp-o parte grupo setenm'onal); entao 0 nome reJerente a outro memoro - diga-
seus antigos direitos e religiàes - qua se em ('estado nativo", se pode- mos, a perna ou oraço esquerdo e seus poderes etc. - pertenceria ao oeste e seria
mas dizer: aproximadamente os de seus predecessores, os cliff dwelfers o segundo em honra; e outro memoro - 0 pé direito por exemplo - ao sul e seria
[moradores dos rochedos1e os habitantes da mesa até a México. Eles o terceiro em Iwnra; e outro memoro ainda - 0 pé esquerdo - ao leste e 0 quarto
eram e continuaram senclo muita comparaveis em civilizaçào material e em honra; a outro - digamos a caheça - às regiôes superiores e sen'a 0 quinto em
em constituiçào social aos mex icanos e aos mais civilizados do s indios honra; e outra - digamos a cauda - à regiao inJen'or e seria 0 sexLO em honra;
das duas Américas. ":\Iéxico, esse Pueblo" , escreve admiravelmente 0 efUjuanto 0 coraçào ou umoigo e centro do ser seria 0 primeiro assim como ûüi-
grande e tao injustamente tratado L. H. Morgan, fundador de nossas mo em honra. Os estudos do Major Powell entre os Maslcolci e outras t,ibos
deixaram muùo claro que os termos de parentesco, assim chamados, entre ou-
ciências. '
o documento qu e segue é de Frank H amilton Cushi ng, autor mui- tras m'bos indigenas (e a regra !lào se aplicarâ menos, e tal'Ve{ mesmo mais es-
ta criticado, mesmo por seus colegas do Bureau of American Ethno- trùam.ente, aos Zuiii), sao anUs dispositivos para determinar a posiçào ou au-
logy. Mas, conhecendo sua obra publicada e muito do que foi publicado lon'dade relaliva como significadas pela relaçao de 'idade, mais velho ou. mais
sobre os Zui'ii e os Pueblos em geral, e também pela que julgo saber de nova, da pessoa tratada ou refen'da pela Lerma de parentesco, De modo 'lue é
um g rande nûmero de sociedades americanas, insista em considera-lo imposs/vel para um ZuiiiJalando corn OUlro di{er simplesmente irmào; é precisa
como um dos melho res descritares de sociedades de todos os tempos. sempre di{er irmao mais 'Velho ou mais novo, por meio de que 0 [a/ante afirma,
ele mesmo, sua idade ou posiçào relau'va, É tamhém haoitualque 0 memoro de
um dà chame 0 outro pelos nomes de parentesco para irmào mais velho ou irmào
1 . Sob re l S datas respecti"as das diferemes civilizaçôes que ocuparam essa area dos hasket mais novo, lia ou soorinho elC,; mas segundo 0 dà daquele 'lue é chamado ocupe
people, dos cliff dwellers, PO\'os que habitavam as ruinas da mesa, e enfim dos pu.eh/os (qua-
uma posiçào supen'or ou infen'or ao do 'lue 0 chama pelo termo vocati'Vo, a
drados e circularcs), encontrar-se-a uma boa exposiçâo das hipôteses provaveis recentes cm
palavra-s/moolo para mais 'Velho ou mais novo tem de ser usada,
F. H. H. RobertS 1932: 23-ss. Id. 19,0: 9·
374 NOfàodep,moa
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nibais que chegavam do mar para um rirual - certamente de casamento. i~ade e a~ funçoes que ele c~mpre em decorrência dessa idade. 3 É 0 que
Corn suas roupas muito ncas, suas coroas de casca de cedro vermelho, dl z u m d~s~urs~ do clà das Aguias, isto é, é verdade, de uma espécie de
seus acompanhantes menos ricamente vestidos mas gloriosos, eles me grupo pnnlegJado de c1às privilegiados:
deram precisamente a impressâo do que pode ter sido, por exemplo, uma
China setentrional muito} muito antiga. Penso que esse barco, que essa o hâbiro de llào mudar os nomes começou ha muito tempo / / Oemaxt!
representaçâo um tanto romanceada desapareceu; ela nâo esta mais na Mali:, 0 ancestal do flumaym G. ig.flgarn do / Q 10moyâEye, fit os tronos
moda em nossos museus de etnografia. Mas 0 que importa é que esta das Aguias; e esses passaram para os nurnayms. E 0 dono do Mme Wilt-
produziu um efeito sobre mim. Mesmo as [aces indigenas lembraram- seEgstala dit / «agora, rlOSSOS cI/efes receberam tudo, e eu vou direto para
me vivameme as faces dos "paleo-asiaticos" (assim chamados porque baixo {segundo Q posiçào na lzierarquia)". / Assim eie dit, quando ele doa
nâo se sabe onde classificar suas Hnguas). E, a partir desse ponto de ci- sua.s propriedades: pois eu VOu apellas nomear os nomes / / de urn dos chefes
vilizaçâo e de povoamento, devemos ainda contar longas e muitiplas prin.cipais dos numayms das / tribos Kwakiutl. Eles nunca mudam seus
evoIuçôes, revoIuçôes, novas formaçôes, que 0 nosso caro colega Franz nomes desde a começo, / quando os primeiros hurnanos exirtiam no mundo;
Boas se es força por reconstituir, talvez um pouco apressadamente. pois os nomes nào padern sair / da lam /lia dos che/es principais dos numayms,
o fato é que todos esses indios, os Kwakiutl em particular, instala- ape1la.s para a mals J'elho da proIe do chefe.
ram 2 entre el es um sistema social e religioso no quaI, nu ma imensa tra-
ca de direitos, de prestaçôes, de bens, de danças, de cerimônias, de pri- o que esta em jogo em mdo isso é portanto mais do que 0 prestigio e a
vilégios, de posiçôes, as pessoas e os grupos sociais sâo simultaneamente autoridade do chefe e do clà, é a existência mesma destes e dos antepas-
satisfeitos. V ê-se muito nicidamente camo, a partir das classes e dos clàs, sad os que se reencarnam nos deœmores de tal direito, que revivem no
- - - - -o=-r- ,enam-se as rrpe 'ssoas human as", e coino, a partir destas, ordenam-se corpo dos que carregam seus nomes, cujo perpe tuidade é garantida pelo
os gestos dos atores num drama. Aqui, todos os atores sâo teoricament~ rituaI em todas as suas fases. A perpetuidade das coisas e das aImas 56 é
todos os ho mens livres. Mas, desta vez, 0 drama é mais do que estético. E garantida pela perpetuidade dos nomes dos individuos, das pessoas. Es-
religioso, e ao mesmo tempo côsmico, mito16gico, social e pessoa!. [as agem apenas como representantes e, inversamente, sao responsaveis
Primeiro, coma entre os Zufii, todo individuo em cada cIa: tem um por todo 0 seu cla, suas familias, suas tribos. Por exemplo, uma posiçao,
nome - ou até dois nomes - para cada estaçào, profana (verao) (WiX- um poder, uma funçao religiosa e estética, dança e possessao,parapher_
sa) e sagrado (inverno) (LaXsa) . Esses nomes sao repartidos entre as (a- na!ia e cobres em forma de escudos - verdadeiras "moedas" de cobre-,
mîlias separadas, as "sociedades secretas" e os cHis gue colaboram nos moedas insignes dos potlatch presentes e futuros, tudo isso se conquis ta
ritos, nos momentos em que os chefes e as familias se enfremam nos pela guerra: basta matar seu possuidor - ou apoderar-se de um dos apa-
inûmeros e interminaveis potlatch, do s quais busquei al hures dar uma ratos do ritual , vestes} mascaras - para herd ar seus nomes, seus bens,
idéia. Cada d a tem duas séries comple[as de nomes pr6prios, ou melhor, seus cargos, seus antepassados, sua pessoa - no semido pleno da pala-
de prenomes, uma corrente, a outra secreta, mas esta nao é uma série vra . ~ Assim adquirem-se posiçôes, bens, direiros pessoais, coisas e ao
simples. Pois 0 p renome do individuo, no caso 0 nobre, muda corn sua mesmo tempo 0 espirito individual deIas.
Toda essa imensa mascarada, todo esse drama e esse balé compli-
2. C f. Davy 1922; Mauss [1 923-2.-11 192 5 (cf. Terceira pane, supra), onde n50 pude insistir - cado de êx[ases, dizem respeito tamo ao passado quanto ao futuro, sao
estava fora do meu assuma - sobre 0 falo da "pessoa" e de seus direitos, dcveres e poderes
uma prova do oficiante e uma prova da prese nça nele do naualaku
religiosos, sobre a sucessào dos nomes elc. Nem Davy nem eu insistimos sobre 0 fata de que
o porlatell comporta, além das trocas de homens, mulheres, heranças, contratos, bens, prcsla-
(ibid.: 39 6 ), elemento de força impessoal, ou do antepassado, ou do
çoes riruais, em primeiro lugar, e em panicular, danças, iniciaçoes, e ainda: êxtases e passcs- deus pessoaI, em todo casa do poder sobre-humano, espirituaI, defini-
socs pelas espfritos elernos e reencarnados. Tudo, mesmo a guerra, as lutas, é fliro apenas en-
tre porraJores du~es titulos hueJùin'os, que encamam euas aimas. 3. Boas /92/: 431. 4. A melhor exposiçào geral de Boas encontra-se em: 1895b: 396- ss .
.,
378 Noçào de pessoa 379
ram com os pdssaros-troviio cemos um nome Pdssaro-trovào, e como esses sào Aru nta, os Loritja, os Kakadu eIc.). Mesmo entre os Arunta e os Lorit-
os animais que causam trovaes, temos 0 nome Ele-que-trovoa. Temos tamhém ja, esses espiritos reencarnam-se corn g rande precisào na te rceira gera-
Anda-com-passadas-poderosas, Treme-a-terra-com -sua-força, Vem-com- çào (avô-new) e na quinta, na quai antepassado e trineto sao homôni-
venlo-e-granizo, Raios-para-todos-os-Iados, S6-um-raio, Relâmpago, Anda- mos. Também aqui se trata de urn truto da descendência uterina cruzada
nas-nuvens, Ele-com-longas-asas, Alinge-a-arvore. corn a masculina. - E. par exernplo, pode-se estudar na repartiçào dos
Os pâssaros-troviio vieram com cerriveis trovoadas. Tudo sohre a terra, ani- nomes por individ uos, par clà e classe matrimonial exata (oito classes
mais, plantas, cudo, é coherto pela dgua da chul'a. Tro voadas terriveis arunta), a relaçao desses nomes corn os ancesrrais eternos) corn os rala-
ressoam por wda a parte. De cudo isso um nome foi derivado, e este é 0 meu pa, sob a forma deles no momento da concepçao, os fetos e crianças que
nome: Choque-do-troviio [Crash.i ng Thunder} .8 eles engendram a partir des se dia, e encre os nomes desses ralapa e os
nomes de adultos (que sao, em particular, os das funçôes cumpridas nas
Cada um dos nomes de pâssaro-trovao em que se dividem os diferentes cerimônias de clà e trillais). II A arte de todas essas repartiç6es é nao ape-
momentos do totem trovao, é a nome de um dos antepassados perpetua- nas culminar na religiào, mas também definir a posiçào do ind ividuo em
mente reencamados. (Ternas inclusive9 a historia de duas reencarnaçôes.) seus direitos, seu lugar rama na tribo camo nos ritos.
Os homens que os reencarnarn sao intermediârios entre 0 animal totê- Finalmente, se, par razôes que veremos em seguida, falei sobretu-
mica e a espirito guardiao, de um lado, e as coisas brasonadas e os ritos do de sociedades corn ma.scaras permanentes (Z uni, Kwakiutl), convém
do da ou grandes "medicamentos", de outro. E todos esses nomes e he- nao esquecer que as mascaradas tempora rias sao, na Australia e nOutros
ranças de personalidades sao determinados par revelaçôes, cujos limites lugares. simplesmeme cerimônias de mascaras nao permanentes. Nelas
o beneficiario conhece antecipadamente, indicados par sua avo ou pelas o homem fabrica-se uma personalidade sobreposta, verdadeira no casa
--- - - - - - - -anci6es:--En contramos-um-pouco-por-toda-a-América;-se-nao-es mesmo" do-rirual,-fingida-no"caso do jogo. Mas, entre uma pintura facial ou cor-
fatos, pelo menos 0 mesmo gênero de fatos. Poderiamos prosseguir essa po ral e uma vestimema e uma mascara, ha someme uma diferença de
demonstraçao no mundo iroquês, algonquino etc. grau, nenhuma diferença de funçào. Tudo resultou, aqu i e acola, numa
represemaçào extatica do antepassado.
Alias, a presença ou a auséncia da mascara sao antes traças da arbi-
Australia trariedade social, hist6rica, cultural, coma foi dito, do que traças funda-
mentai s. Assim, os Kiwai, os Papua da ilha de Kiwai , possuem admi ra-
Convém voltar por um instante a fatas mais sumarios, mais primitivos. veis mascaras, que ri\'alizam até mesmo corn as dos Tlingit, da Amé rica
Duas ou três Îndicaçôes dize m respeito à Austrâlia. do Norte - enquanro seus vizinhos pouco afastados, os Marind-Anim,
Também aqui 0 d a de modo nenhum é representado coma um ser nào têm senao uma unica mascara imeirameme simples, mas realizam
inteiramente impessoal, coletivo, 0 totem, representado pela espécie ani- festas de confrarias e de c1as corn as pessoas enfeiradas da cabeça aos pés,
mal e nao pelas individuos - homens, de urn lado, animais, de outro. 1O tornadas irreconhecÎyeis corn rantos enfeites.
Sob seu aspecta homem, ele é a frlito das reencarnaçôes dos espiritos Concluamos esta primeira parte de nossa demonstraçao. Observa-
dispersas e que renascem perpetuamente no d a (isso é verd ade para os se evidenremente que um imenso conjunto de sociedades chegou à no-
çâo de personagem, de papel cumprido pelo individuo em dramas sa-
8. Ver 0 mesmo fato, diferentemente disposto, em Radin 19 16: 194. 9. P. Rad in, Crashing
Thunder (1927: 41). 10. Formas de totemismo desse gênero encontram-se na A.O.F. [Âfrica 11. Sobre essas très séries de nomes, Hr os quadros genealôgicos (A runta) em Slrehlow
Ocidenlal Francesa1 e na Nigéria, 0 numero de peixes-boi e de crocodilos de um determina- 19 15, Caderno de ilustraçôes. parte V. Podem ser acompanhados corn inleresse os casos dos
do braço morto de rio correspondendo ao numero de viventes. Noutros lugares, provavel- Jerramba (formiga de mel) e dos Malbanka (portadores do nome do ncrôi civîlizaclor e fun-
mente, os individuos animais sào nomeados como os individuos humanos. dador do clà do gato seIYagem) que reaparecem varias vezes em genealogias muito scguras.
•
grados, assim como ele desempenha um papel na vida familiaL A fun- Ill. A persona Iatina
cào criou a formula e isso desde socîedades muito primirivas até as nos-
> ,
A [ndia
A India pareee-me ter sido a mais antiga das civilizaçôes que teve a no-
çao do individuo, de sua consciéncia, digo eu, do "Eu"; a ahamkara, a
"fabricaçao do eu", é 0 nome da consciência individual, aham = eu (é a
mesma palavra indo-européia qu e ego). A palavra ahamkara é evidente-
mente uma palavra técnica, criada por alguma escola de sâbios videntes,
superiores a todas as ilusôes psicologicas. 0 samklzya, a escola que jus-
tamente deve ter precedido 0 budismo, afirma 0 carater compostO das
coisas e dos espiritos (samklzya quer dizer precisamente composiçao),
12. Ver 0 artigo de Herskovits 193T 287-96. Um bom exemplo de reaparecim~nto de ~om~s considera que 0 "Eu" é algo ilusorio; quanta ao budisma, nu ma primei-
em paises bantu foi assinalado por E. \V. Smith e A. Dale, 1920; C. G. e B. Sebgmann Jamais ra parte de sua historia ) ele decretava ser esse apenas um composta, di-
perderam essa questao de vista. visîvel, separavel de skandha, e buscava seu aniqu ilamento no mange.
A China ~o contrario dos hindus e dos chineses, os romanos - os latin os, melhor
dlzendo - pa~ecem ser aqueles que estabeleceram parcialmente a noçao
Da China, sei apenas 0 que meu colega e amigo Marcel Granet consen- de ~e:s~a, CUJO nome permaneceu exatamente 0 da palavra latina. Bem
tiu em ensinar-rne. Em nenhum lugar, ainda hoje ~ 0 individuo, seu ser no InlCIO, samos transportados aos mesmos sisternas de fatos que os an-
social em particular, é mais levado em coma; em parte alguma ele se teriores, mas ja corn uma forma nova: a "pessoa" é mais do que um ele-
classifica mais fortement"". 0 que nos revelam os admiraveis trabalhos meoto de organizaçào, mais do que um nome ou 0 direito a um persona-
de Granet é a força e a grandeza, na China antiga~ de instituiçôes com- gem e a uma mascara ritual, ela é um fato fundarnental do direito. Ern
paraveis às do noroeste americano. A ordem dos nascimentos,. a hier~r direito, os juristas dizem: ha somente as personae, as res e as actiones: esse
quia e 0 jogo das classes sociais fixam os nomes, a forma de vlda do 111- prindpio ainda governa as ~ivisôe~ de nossos c6digos. Mas trata~~~gui
dividuo, sua "face", como ainda se diz . romano.
n6s). Sua individualidade é seu ming, seu nome. A China conservOu as Corn alguma ousadia, eis camo posso conceber essa historia. 1 Tuda
noçoes arcaicas. Mas, ao mesmo tempo, retirou da individualidade todû indica que 0 sentido origina l da palavra fosse exc1usivamente "masca-
carater de ser perpétuo e indecomponivel. 0 nome, 0 ming, é um coleti- ra". N aturalmente, a explicaçao dos etimologistas latinos - persona vio-
vo, é uma coisa vinda de alhures: 0 antepassado correspond ente 0 usou, do de per/sonare, a mascara pela (per) quaI ressoa a voz (do ator) - foi
assim como volta ra a usa-Io 0 descend en te do portador. E quando se fi - mventada logo em seguida. (Embora se distinga entre persona e persona
losofou sobre 0 individuo, quando em certas metafîsicas se tentou expri- muta, 0 personagem rnud o do drama e da pantomima.) Na verdade a
mir a que ele é, foi dito que é um composta de shen e de kwei (ainda dois palavra nao parece ser exatamente de origern latina , mas sim etrus~a ,
coletivos) nesta vida. Taolsmo e budismo tarnhém rocaram nesse pontO, camo outros nomes em na (Porsenna, Caecina etc.). Meillet e Ernout
e a noçao de pessoa nao se desenvolveu mais. (Dictionnaire .Etym~logique) compara rn-na à palavra mal transrnitida far-
Outras naçoes conheceram ou adotaram idéias sem el hantes. Sao su, e Benvemste dlsse-me que ela pode vir de um empréstimo tomado
raras as que fizeram da pessoa humana uma entidade completa, inde- pelos etruscos do grego rrp6crwTIov (perso) . 0 faro é que, materialmente,
pendente de qualquer outra, exceto de Deus. A mais importante é a ro-
mana. A nosso ver, foi em Roma que essa liltima noçao se forrnou. 1. 0. sociôlogo e 0 historiaclor do DireilO sempre deparam corn 0 obstaculo de nào termos
pr~tlcameme (omes autêmîcas do mais amigo direito: s6 alguns fragmentos da época dos
Reis (~uma) e algun~ t~echos da Lei das DOte Tâ/mas, c a seguir faros registrados muiro
p~s[Cnormeme. Do dlrelta romano completa, s6 comcçamos a formar uma idéia cena atra-
ves de texlOs de dircito, devidameme restiru fdos ou recuperados, nos séculos 1II e Il antes de
noss~ era, e mesmo mais tarde. No entamo. precisamos imaginar um passado do Direito e
da Clda.de. Sobre esta e sua primeira histôrü!. podem ser consultados os livras de Pigan iol e
CarcopIno.
.. ,,
2. Alusào clara a uma fo rma de 100em-lobo do deils do Irigo RoggenwolfJ (germ.). A pala. Iho d '" teona romana do nome. Asslm também em Virgilio: Marcelo 0 fi
vra hirpex orie;inou herse (cf. Lupatum), Ver Meillel e Emoul! 1931. 3. Ver os comema rios de e Auguslo, Ja e nomeado no limbo onde seu "Pai" Enéias A • •• ' -
ver-se igual menre a consideraçào do (ù~/u.r gue é mencionad 0 ve. - Aqul deH~na Inscre-
Frazer, ad. loc., cf. id. ibid., verso 4SJ, Acca lamemando·se sobre os reslOS monais de Remo se qu e para ele " 1 0 nesses versos. EmoU! me dis-
mOrio par Rômulo - Fundaçào das lemuria (resla sinisna dos lêmu res, das aimas dos mor· '. ) a propna pa avra lem uma origem etrusca. Do meSmo mod _
gramallcal de "pessoa" u ' 0, a noçao
tos sangrentos) - jogo de palavras entre Remuria/ Lemuria. deveria ser cOtlsiderada. q e empregamos alnda, persona (grego np6awrrov, gramaticos),
5. Pro C/Ilenlio, 72 . * Peto é nome proprio masculino e, também, adjetivo que significa zaro-
6: Outr~s exemplos de usurpaçao de prauwmina, Sue!onio, N ero., 1. 7. Assim Cicero, Ad At-
Iho. ** Élio Estaleno Pero, juiz do processo de Opiâncîo tratado no Pro Cluêncio_ [S_T.]
lu:um, dlz flaluram et pUsol/am meam , e ft! rsoflam seeluis nOutra parte_
1. Sobre a moral esroica, tanto quanta estou informado, 0 melhar livra é ainda Bonhafer
18 94.
Foram os cristâos que fizeram da pessoa moral uma entidade metafîsica, Nào comentarei mais nem prolongarei esse es tudo teolôgico. Cas-
de pois de terem sentido sua força religiosa _N ossa pr6pria noçào de pes- siodoro resume corn precisào: persona - sUhSlGmia rationalis indivl'dua
soa humana é ainda fundamentalmente a noçào crista. Aqui, nao farei (Ps VII). A pessoa é uma substância racional indivisîvel, individuaP
senào seguir 0 excelente livro de Schlossmann (1906).' Este percebeu Falrava fazer dessa subsrância raci onal individual 0 que ela é ago-
ra, uma consciência e uma categoria.
muita hem - depois de outros, mas melhor que outras - a passagem da
noçào de persona, homem investido de um eSlado, à noçào de homem sim- Isso foi a obra de um longo trabalho dos filosofos, que tenho so-
meme alguns minuros para descrever. 4
plesmente, de pessoa humana.
A noçao de "pessoa moral") alias, havia se tornado de tal modo
clara que, jâ nos primeiros dias de nossa era, e antes em Roma, em rodo
- - - -no-Império;-ehrse-impunhadnrda-s-:rs-p - =alicla-d-esfittfclas que cl1afua- -
mûs ai nda por esse nome de pessoas morais: corporaçôes, fundaçôes re-
ligiosas etc., que passaram a ser "pessoas". A palavra Ttp6awJt?v a~ de:
signa até nos Processos e Constituiçôes mais recentes. Uma un,lversztas ~
uma pessoa de pessoas - mas, como uma cidade, como Roma, e uma C01 -
sa, uma entidade. Magistratus gerù personam ~iYùatis, diz clara~ente Cî-
cero (De Off., 1, 34). E von Carolsfeld examma e comenta mUlto bem a
Epistola aos Gâlatas, 3, 28: "Jâ nao sois, um [rente ao outro, nem j~deu,
nem grego, nem escravo, nem livre, nem homem, nem mulher, pOIS to-
dos sois um, Elç ,em Jesus Cristo."
Estava colocada a questào da unidade da pessoa, da unidade da
Igreja, em relaçào à unidade de Deus, elç . Ela foiresolvida apos nume-
rosos debates. É toda a historia da 19reja que se na preclso reconstltlllr
aqui (ver Suidas - s. Y. e as passagens do famoso Discurso da Epifania de
Sao Gregorio de Nazianza, 39, 630, A). Sao as querelas Trinitâria, Mo-
no(jsita, que continuarâo a agitar os espirÎcos por muito tempo, e que a
1. Hen ri Lévy-Bruhl indicou-me ha bastante tempo esse livro e, desse modo, facili tou toda
cssa dcmonstraçào. Ver também a primeira parte do prim eiro volume de M.L.1. von Carols- 2. Ver as notas de Schlossmann , op.cit.: 6s Ctc. 3. Ver 0 CQncurs/.l.S de nu sticu s. 4. Sobre essa
[eld. Cesclll"c/ue der Jurislischen Person . histôria, essa revoluçào da noçào de unidade, have ria ainda muito a dizer. Ver em particular
02" volume de Progrès de la ConscÎence de Brunschvicg [19 27J.
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VII. A pessoa, ser psico16gico pinosista da "extensao" e do "pensamemo". Apenas uma pa rte da cons-
ciência é considerad a.
Mesmo Espinosa l conservou ainda sobre a imortal idade da alma a
idéia antiga pura. Sab emos gue ele nao crê na subsisrência apos a morte
de uma outra parte da alma sena a a gue é ani i'nada pela "amor intelec-
tuai de Deus". No fundo, ele repete Mai mônid es, gue repetia Aristote-
les (De an., 408, 6 cf. 430 a, Gen an. Il, 3, 7)6 b) . Somente a al ma poéti -
ca pode ser eterna, pois as duas outras aimas, a vegetati\'a e a sensitiva,
estao necessari arnente ligadas ao carpo, e a e ne rgia do corpo nao pene-
Ao resumir um certo numero de investigaçoes pessoais e inumeras opi- tra no voüç . - E, ao m es mo tempo, par uma oposiçào naru ral qu e
niàes das quais se pode fazer a historia, escusar-me-ao se lanço aqui Brunschvicgl evidenciou bem, é Espinosa, melhor gue D escartes, e me-
mais idéias do que provas. lhor que 0 prop rio Leibniz, porque colocou antes de tudo 0 problema
A noçào de pessoa haveria de sofrer ai nd a uma outra transforma- érico, gue rem a visao mais corre ra da s re laçoes da consciência indivi-
çào para tarnar-se 0 que ela se tarllOu hâ menas de urn século e meio, a dual corn as coisas de Deus.
categoria do Eu. Longe de ser a idéia primordial, inata, claramente ins- Nao foi entre os cartesian as, mas eITI OutrOs me ios, que 0 problema
crita desde Adào no mais fu ndo de nasso ser, eis que ela continua, até da pessoa que é apenas consciência enconr rou sua soluçao. Nao se pode-
quase 0 nosso tempo, lentamente a edificar-se, a c1arificar-se, a especifi- ria exagerar a importância dos movimentos sectarios, duranre os séculos
car-se , a identificar-se corn 0 conh ecimento de si, corn a consciência XVlt e sobre a formaçâo dt?j,ensamento polftico e filoséfico. Ne-
psicoI6gka-. - - - --.---. - ..__. ----- que se as questèes da liberdade ind ividual, da consciên-
Todo 0 longo trabalho da 19reja, das 19rejas, d os te610gos, dos fi- cia individual, do direito de comunicar-se diretamente corn D eus , de ser
lôsofos escolâsticos, dos fil6sofos do Renascimento - sacudidos pela um sacerdote para si mesmo, de ter um D eus inrerio r. As noçoes dos Ir-
Refo rma _, produziu mesmo um certo atraso, e obstaculos para criar a maos Morâvios, dos puriranos, dos wesleyanos, dos pietistas, for mam a
idéia que ago ra julgamos clara. A mentalidade de nossOs antepassados base sobre a quaI se estabelece a naçao: pessoa = 0 Eu; 0 Eu = a cons-
até a século XVlI, e mesmo até 0 final do século XVIII, é atormentada pela ciência - gue é sua categoria primordial.
questào d e saber se a alma individual é uma suhstância ou se é sustenta- Tudo isso é relativamen te recente. Foi preciso que Hume revolu-
da po r um a subsrância - se é a narureza do homem ou se é apenas uma cionasse tudo (depois de Berkeley, qu e havia começado) para dizer que,
das duas naturezas do homem; se é una e indivisive\ ou divisivel e sepa- na alma, havia apenas eSlados de cOflsciéncia, "percepçôes"; mas ele aca-
rave l; se é li vre, fonte absolu ta de açôes, ou se é determinada 'e esta en- bava po r hesirar di ante da noçao de " Eu ") coma categoria fund amental
cadead a pa r outros destinos, po r uma predestinaçao. Pergunta-se corn da consciência. Os escoceses acl imataram melhor sua s idéias.
ansiedade de onde ela vern, quem a criou e quem a dirige. E, no debare É so mente corn Kant que ela adqu ire forma precisa. Kant era pie-
de seitas, grupos e g randes instituiçoes da Ig rej a e das escolas fil osOfi- tista, swedenhorguiano, aluno de Tetens, que foi fi losofo medioc re mas
cas, das universidades em particular, nao se vai muitO além do resultado psic6 logo e te6logo experientej 0 "Eu" indi visivel, ele 0 descob ria a seu
estabelecido desd e 0 século tV de nossa era. - 0 concilio de Trenta pôe
fim, felizmenre, a polêmicas inûreis sobre a criaçào pessoal de cada alma.
1. Élica, Va pan e, proposiçâo XL. Corolario, proposiçào XXIII e cscolio. cm relaçao corn: pro
D e resta, quando se fala d as fu nçôes precisas da alma, é ao pensa-
e esc61io, proXXXVII! e csc6lio, pro XX I X, pro XXI. A noçào de amor inrelecrual vem de
°.
mento , ao pensame nto discursivo, claro, dedutivo, que Renascimenta
XXX IX
°
Leâo, Hebreu, fl orentino e plalônico. 2. Op.CiL, 1: 182-SS. 3. Blondel Jembra-rne 0 interes-
e Descartes se dirigem para co mpreender sua natureza. E esta que con- se das notas de Hume, nas quais este coloca a questào da relaçào consciéncia-eu. En.saio so-
°
rém revolucionâ ri o Cogito ergo sum j é Ela que constitui a oposiçao es- hre 0 ~ntendimenLO humano: idemidade pessoal (1912).
___ .l"'e.....- - - - - - - - - - - - - - - - --
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redor. l\.ant colocou, mas sem solucionâ-Ia. a 'Iuestâo de saber se 0 VII. Conclusao
"Eu", das leI/, é uma categoria.
Entlm. 'Iuem respondeu que todo fata de consciência é um fata do
"Eu ", 'Iuem fundou toda ciência e tada açào sobre 0 "Eu", foi Fichte.
Kant ja ha\'ia feito da consciência individual: do carâtel' sagrado da pes-
soa humana. a condiçao da Razào pcatica. Foi Fich te~ que fez dela, tam-
bém, a categoria do "Eu", condiçào da consciència e da ciência, da Ra-
zào Pura.
Descie entào, a revoluçào das mentalidades se com pletou, temos
cada um nos50 "Eu", eco das D eclaraçoes dos Direitos que haviam pre- De uma simples mascarada à mascara; de um personagem a uma pessoa,
cedido Kant e Fichte. a um nome, a um individuo; deste a um ser corn valor metafisico e moral;
de uma consciência moral a um ser sagrado; deste a uma forma funda-
mental do pensamento e da açào; foi assim que 0 percurso se realizou.
Quem sabe quais serao ai nda os progressos do Emendimento sobre
esse ponto? Que Iuzes projetarao sobre esses recentes problemas a psi-
cologia e a sociologia, ja avançadas, mas que devem se des envol ver ain-
da mais?
Quem pode mesmo dizer que essa "categoria", que todos aqui
-----jt.~-'iCBë<I .iUm()S estabelecida, sera-sempre reconhe-ctdXëO"motàl? Eia 56-se
for mou para nos, entre n6s. Mesmo sua força moral - 0 caraœr sagrado
da pessoa huma na - é question ad a nao apenas por todo um Oriente que
jamais chegou às nossas ciências, mas até mesmo em paises onde esse
principio foi encontrado. Temos grandes bens a defender, conosco pode
desaparecer a Idéia. Nao moralizemos.
Mas tampouco especulemos em demasia. Digamos que a antropo-
logia social, a sociologia, a historia nos ensinam a ver como 0 pensa-
mento hu ma no "caminha" (Meyerson); lentamente, através dos tempos,
das sociedades, de seus contatos, de suas mudanças, por caminhos apa-
rentemente os mais arriscados, ele consegue articular-se. E trabalhemos
para mostrar coma é preciso tomar consciência de nos mesmos, para
aperfeiçoa-Ia, para articula-la ainda mais.
4. Fichte! S!O- !!. Um breve e excelentc resumo desse rexlO pode se r lid o em Xavier Léon
19 21.: 101-09.
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