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EDUCAÇÃO DE TRÂNSITO NO ENSINO

REGULAR

1. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO VERSUS LEI DE


DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL

Anulou, tornou O primeiro Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei n. 3.651, de


sem efeito. 25 de setembro de 1941, que revogou o Decreto-Lei n. 2.994, de 28 de
janeiro de 1941, dando nova redação ao Código Nacional de Trânsito)
não mencionava o tema educação de trânsito em qualquer um de seus
doze capítulos.
Após vinte e cinco anos, com a Lei n. 5.108, de 21 de setembro de
Estabeleceu. 1966, que instituiu o segundo Código Nacional de Trânsito, é possível
encontrar as primeiras referências ao tema. Ainda que, timidamente, a
educação de trânsito começou a ser mencionada.

Art. 4°. O Conselho Nacional de Trânsito, com sede no


Distrito Federal, subordinado diretamente ao Ministro da
Justiça e Negócios Interiores, é o órgão máximo normativo da
coordenação da política e do sistema nacional de trânsito e
compor-se-á dos seguintes membros, tecnicamente capacitados
em assuntos de trânsito:
a) (...)
f) um representante do Ministério da Educação e Cultura;
(...)
Art. 5º. Compete ao Conselho Nacional de Trânsito, além do
que dispõem outros artigos deste Código:
I – (...)
X – Promover e coordenar campanhas educativas de
Determinação
escrita, vinda de
trânsito; (...)
chefe de estado, Art. 125. O Ministério da Educação e Cultura promoverá
do governo ou de
outra autoridade
a divulgação de noções de trânsito nas escolas primárias e
superior. médias do País, segundo programa estabelecido de acordo com o
Conselho Nacional de Trânsito.

Deliberação.
Passados trinta e seis anos (repletos de resoluções e decretos), a
Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, foi sancionada, instituindo o
Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Aprovada. O atual CTB dispensa um capítulo (com seis artigos) exclusivo ao
tema Educação para o Trânsito.

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No Código Nacional de Trânsito de 1961 a palavra educação
aparece duas vezes; o termo campanhas educativas, quatro vezes;
a palavra aprendizagem, duas vezes. Assim, o tema educação
aparece num total de oito vezes, o que representa pouco mais de
6%, levando em conta os 131 artigos da Lei.
No CTB, a palavra educação pode ser lida vinte e oito vezes,
além de mais 13 palavras e termos correlatos (aprendizagem,
campanha educativa, especialização, nível de ensino, currículo
de ensino, currículo interdisciplinar, escola pública etc.) que
aparecem vinte e uma vezes.
O tema é abordado, portanto, quarenta e nove vezes, o que
representa 15% dos 341 artigos da Lei.
ALMEIDA, Dílson de Souza. Palestra proferida em 1999.

No entanto, quando o assunto é educação, o artigo mais debatido


desde a implementação do CTB é o artigo 76.

A educação para o trânsito será promovida na pré- escola e


nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações
coordenadas entre órgãos e entidades dos Sistema Nacional de
Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.
Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o
Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta
do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades
Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:
I – a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo
interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de
trânsito;
II – a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito
nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de
Grupo de profissionais
professores e multiplicadores; trabalhando de forma
III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para integrada.
levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao
trânsito;
IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de
trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de
trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade na
área de trânsito.

Uma reflexão sobre o artigo 76...

• Quando o CTB foi implementado, a atual Lei de Diretrizes


e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394, de 20
de dezembro de 1996, já vigorava, apresentando alterações

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significativas em comparação à Lei anterior (5.692/71). A atual
LDB estabelece somente dois níveis escolares: a Educação
Básica (composta pela Educação Infantil, Ensino Fundamental
Conjunto de termos
e Ensino Médio) e a Educação Superior.
peculiares a uma
arte ou ciência. Como se pode perceber, a nomenclatura utilizada no CTB não está
de acordo com a utilizada na LDB.
• Para implementar a educação de trânsito na Educação Básica
e na Educação Superior, o CTB estabelece que o Ministério
da Educação e do Desporto (MEC) – mediante proposta
do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades
Brasileiras diretamente ou mediante convênio – promoverá
a adoção de um currículo interdisciplinar com conteúdo
programático sobre segurança no trânsito.
No entanto, a LDB é clara quando dispõe que:
• Os currículos do ensino fundamental têm uma base nacional
comum (Parâmetros Curriculares Nacionais). Porém, cabe
a cada sistema de ensino e a cada escola oferecer uma parte
diversificada de acordo com as características regionais e locais
da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
• A base nacional comum é o estudo da língua portuguesa e da
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
Que não é realidade social e política, especialmente do Brasil. O ensino
obrigatória. da arte e da educação física (facultativa nos cursos noturnos)
também é componente curricular obrigatório. O ensino da
História do Brasil levará em conta as diferentes culturas e
etnias para a formação do povo brasileiro.
grupos humanos • Para atender a LDB, assim como à Constituição Brasileira,
homogêneos quanto que estabelece a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar
à língua, cultura etc.
parâmetros claros capazes de orientar ações educativas do ensino
obrigatório, de forma a adequá-los aos ideais democráticos e à
busca da melhoria do ensino nas escolas brasileiras, foram criados
os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil
(RCNEI), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio (PCN).
Como se pode notar, a LDB não contempla o estudo do trânsito em
sua base nacional comum. Da mesma forma, os RCNEI e os PCN não
indicam o trânsito sequer como tema transversal.

Os temas transversais para o trabalho escolar do ensino


fundamental foram estabelecidos de acordo com os seguintes
critérios:
• Urgência social: questões graves que se apresentassem como
obstáculos para a concretização da plena cidadania;
• Abrangência nacional: questões que fossem pertinentes a
todo o País;
• Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental:
temas ao alcance da aprendizagem nessa etapa de ensino;

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• Favorecer a compreensão da realidade e a participação
social: temas que possibilitassem uma visão ampla e
consistente da realidade brasileira (e do mundo) e a Sólido.
participação social dos alunos.
De acordo com esses critérios, os temas transversais eleitos
foram: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e
Orientação Sexual.
Trabalho e Consumo foi um tema escolhido apenas para os
alunos de 5ª a 8ª séries, além dos cinco citados.

Nos PCN, de acordo com a realidade de cada lugar, as escolas


podem eleger se quiserem – além dos temas transversais estabelecidos
– temas locais para serem trabalhados.

(...) Tomando-se como exemplo o caso do trânsito, vê-se


que, embora esse seja um problema que atinge uma parcela
significativa da população, é um tema que ganha significado
principalmente nos centros urbanos, onde o trânsito tem sido Confusas,
embaraçadas.
fonte de intrincadas questões de natureza extremamente diversa.
Pense-se, por exemplo, no direito ao transporte associado
à qualidade de vida e à qualidade do meio ambiente; ou o
desrespeito às regras de trânsito e a segurança de motoristas e
pedestres (o trânsito brasileiro é um dos que, no mundo, causa
maior número de mortes). Assim, visto de forma ampla, o tema
trânsito remete à reflexão sobre as características de modos de
vida e relações sociais.
Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética.
Secretaria de Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. p.35.

A partir da análise dos PCN, podemos afirmar, então, que o trânsito


– na visão do MEC – é um problema. Problema que atinge (em especial)
a população dos centros urbanos. Isso faz crer que o trânsito não foi
eleito como tema transversal por não se tratar de uma questão de
abrangência nacional.
Também nos PCN é encontrada uma concepção reducionista sobre
o tema. Vimos, na unidade anterior, que o trânsito é um direito de
todos e não podemos mais aceitá-lo apenas como um fenômeno dos
grandes centros urbanos.

O trânsito é mencionado apenas nos PCN do ensino


fundamental (como sugestão de tema local), não havendo
referência alguma sobre o tema nos RCNEI, assim como nos
PCN do ensino médio.

É muito importante que o profissional de educação de trânsito


conheça o CTB, a LDB, os RCNEI e os PCN. Dessa forma se prevenirá
contra informações distorcidas que divulgam que o trânsito é um tema

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transversal, que o trânsito deve ser tratado “dentro” dos temas transversais
eleitos pelo MEC, que deve ser inserido nas especificidades das disciplinas (o
que isso quer dizer?) ou, pior ainda, que é obrigatório por lei dar aulas de
trânsito nas escolas. Uma série de afirmações descabidas, sem a menor
fundamentação.
Por isso, não se deve acreditar em tudo o que se ouve e em
tudo que se lê. É importante buscar novas informações, pesquisar e
analisar as informações recebidas. No CD, integrante deste material,
Totalidade. estão disponíveis documentos (CTB, LDB, RCNEI, PCN) na íntegra
para que seja feita uma leitura mais aprofundada sobre este assunto.

Fato histórico
O MEC, um dia, pensou em educação de trânsito na
escola...
Em 1991, no dia 15 de maio, o Diário Oficial da União
publicou a Portaria n. 678, de 14 de maio, do Ministério da
Educação, trazendo como conteúdo:
1 – Os sistemas de ensino em todas as instâncias, níveis e
modalidades contemplem, nos seus respectivos currículos, entre
outros, os seguintes temas/conteúdos referentes à:
a) Prevenção do uso indevido de substâncias psicoativas;
b) Educação Ambiental;
c) Educação no trânsito;
d) Educação do Consumidor;
e) Prevenção da DST/AIDS.
f) Prevenção de acidentes de trabalho;
g) Defesa Civil;
h) Relação contribuinte/Estado; e,
i) Educação em saúde.

2. CURRÍCULO INTERDISCIPLINAR

No artigo 76 do CTB, a determinação é: a adoção, em todos os níveis


de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático
sobre segurança de trânsito.
Para compreender essa determinação, é necessário esclarecer
alguns conceitos.

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O que é currículo?

A palavra currículo pode ser entendida como o conjunto das


disciplinas escolares ou, ainda, como a exposição dos conteúdos a
serem trabalhados em cada disciplina.
Porém, a concepção do termo currículo, na educação brasileira
atual, vai além da simples enumeração dos conteúdos referentes às
áreas do conhecimento (disciplinas). O currículo está expresso em
princípios e metas que devem nortear o projeto pedagógico da escola.
Perfeitamente afinado, então, com a importância de uma educação
fundamentada em valores, como visto na unidade anterior.
Em seu projeto pedagógico, a escola deve programar o que ensinar
em cada área do conhecimento, mas deve comprometer-se – acima
de tudo – com o desenvolvimento de capacidades que possibilitem ao
aluno intervir em sua realidade para transformá-la.

O que é interdisciplinar?

A interdisciplinaridade é o trabalho de integração profunda entre


as diferentes áreas do conhecimento. Estas áreas não aparecem de Dividida.
forma fragmentada e compartimentada, esquematizadas em conteúdos
produzidos fora da realidade dos alunos. Dividido.
Para que a interdisciplinaridade aconteça – de verdade – na escola,
é necessário que os professores estejam preparados para estabelecer
uma relação de troca de experiências. Devem estar sempre abertos ao
diálogo e ao planejamento cooperativo. É um trabalho, sobretudo, de
parceria.

(...) A alegria desse trabalho em parceria manifesta-se no


prazer em compartilhar falas, compartilhar espaços, compartilhar
presenças, compartilhar ausências. Prazer em dividir e, no
mesmo movimento, multiplicar, prazer em subtrair para, no
mesmo momento, adicionar, que, em outras palavras seria de
separar para, no mesmo tempo juntar. Prazer em ver no todo a
parte ou vice-versa – a parte no todo. (...) Parceria, enfim, pode
ser traduzida em cumplicidade. (...) Tal é o sentido da parceria na
interdisciplinaridade.
FAZENDA. Ivani Catarina A. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria.
São Paulo: Loyola, 2002.

Esta parceria transcende o mero debate acerca de conteúdos. Não


se trata apenas de uma troca de idéias superficial para estabelecer uma
relação entre as disciplinas: “um texto de língua portuguesa pode ser
utilizado pelo professor de matemática”.

O objetivo da interdisciplinaridade é, portanto, o de promover


a superação da visão restrita do mundo e a compreensão da
complexidade da realidade, ao mesmo tempo resgatando Dificuldade.
a centralidade do homem na realidade e na produção do

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conhecimento, de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor
compreensão da realidade e do homem como o ser determinante
e determinado.
LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

Como se pode notar, um currículo interdisciplinar envolve o


trabalho conjunto dos professores no sentido de integrar as disciplinas
escolares entre si e com a realidade, superando a fragmentação do
ensino, a fim de que os alunos sejam capazes – mediante uma visão
global do mundo – de exercerem sua cidadania.
Ao estabelecer a adoção de um currículo interdisciplinar com conteúdo
programático sobre segurança no trânsito, o CTB vai de encontro à
interdisciplinaridade, proposta como um movimento a ser assumido e
construído pelos professores sem imposições. Além disso, como se viu,
um currículo interdisciplinar não traz somente conteúdos programáticos
a serem trabalhados.
Diante dessa “confusão” conceitual, a Câmara Temática de
Educação e Cidadania no Trânsito – órgão de assessoramento ao
Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) – em conjunto com
o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) estudam a
possibilidade de sugerir ao MEC o trânsito como tema transversal às
áreas curriculares.

ATIVIDADE

Assinale a questão que não se refere à interdisciplinaridade:


a) Visão global e não fragmentada da realidade.
b) Adoção de um único método de trabalho por várias
disciplinas.
c) Integração política e social do aluno em seu meio.
d) Trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao
planejamento.
Resposta b. A interdisciplinaridade não é um método de ensino, mas uma
prática pedagógica.

3. TRÂNSITO: UMA PROPOSTA TRANSVERSAL

Já foi visto que o trânsito não foi eleito pelo MEC como tema
transversal. Porém, se quiserem, as escolas podem encaminhar sua
prática educativa nesta direção.

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Tema transversal

Todas as pessoas aprendem na escola a ler, a escrever, a somar,


a dividir. Ao longo da vida escolar, aprendem centenas, talvez
milhares, de conteúdos: sinônimos, antônimos, relevo, hidrografia, raiz
quadrada, equação numérica, colônia, república. Mas, desde sempre,
os professores – além de conteúdos – trabalharam com valores, embora
sem saber disso. Também se aprende na escola que “xingar” o colega
não é correto; que não se deve riscar as carteiras, pois é preciso cuidar
da escola...
Qualquer pessoa é capaz de lembrar diversas ocasiões em que
seu professor ou sua professora interrompeu a aula para falar sobre a
importância do respeito aos colegas, da preservação do meio ambiente,
das diferenças entre as pessoas. Assuntos que – aparentemente – não
tinham nada a ver com a aula. Entretanto, sempre que fizeram isso,
transversalizavam um tema.
Na escola, hoje, estas conversas informais precisam ser planejadas.
Ou, seja: o professor, ao programar sua aula, já deve saber que, além do
conteúdo formal, precisa criar situações que possibilitem a aquisição de
valores, posturas e atitudes. É nesse momento que os temas transversais
aparecem. Eles têm por objetivo trazer à tona, em sala de aula, questões
sociais que favoreçam a prática da democracia e da cidadania.
Os temas transversais não são novas disciplinas. São conteúdos
educacionais – fundamentados em aspectos da vida social – que
transpassam pelas disciplinas. Portanto, o professor não vai dar “aulas Ultrapassam.
de ética” ou “aulas de meio ambiente” e tão pouco “aulas de trânsito”.
Ele vai inserir, em sua aula, atividades que favoreçam a análise e a
reflexão sobre estes temas, a fim de que os alunos realizem sua própria
aprendizagem e traduzam em comportamentos os conhecimentos
construídos.

Interdisciplinaridade X Transversalidade

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental


explicam a diferença entre interdisciplinaridade e transversalidade da
seguinte forma:

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre


os diferentes campos de conhecimento produzida por uma
abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência
entre eles – questiona a visão compartimentada (disciplinar)
da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida,
historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação
entre disciplinas.
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se
estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender
na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente
sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida
real (aprender na realidade e da realidade).

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Trânsito como tema transversal

A partir de uma visão ampla e abrangente de trânsito é possível


propor às escolas um trabalho de transversalização do tema.
O trânsito poderá ser contemplado em todas as disciplinas, como é
possível notar em simples exemplos:
• na Língua Portuguesa: a leitura e a interpretação de textos
jornalísticos, literários entre outros, sobre o tema trarão
diferentes elementos para debate;
• na Geografia: o estudo das diferentes paisagens que compõem
os espaços rurais e urbanos provocará uma visão crítica e
aprofundada em relação ao próprio município;
• na Matemática: a análise de indicadores de trânsito possibilitará
a identificação de problemas no trânsito e a busca de soluções;
• na História: o reanimar de cenas do transitar humano reforçará
a visão de que todas as pessoas são responsáveis pela construção
da realidade;
• na Arte: o acesso a diferentes formas de expressão que abordam
o trânsito remeterá a exteriorização de sentimentos e de idéias;
• nas Ciências Naturais: a reflexão sobre as relações entre
trânsito, ambiente, ser humano e tecnologia favorecerá a
integração ao ambiente e à cultura, oportunizando ações de
respeito e de preservação do espaço público;
• na Educação Física: o desenvolvimento de habilidades
Indispensável. corporais e de noções espaciais será imprescindível à
compreensão da importância do ato da locomoção para a vida
humana.
É importante compreender que este trabalho deve ser permanente
nas escolas. Ninguém apreende valores em um dia, em uma semana, em
um ano. Assim, para que o trânsito seja transversalizado nas escolas, é
necessária a formação dos professores. Eles precisam estar preparados
para desenvolver o tema trânsito como prática educativa cotidiana. E
para isso, devem ter representações adequadas sobre o assunto.

ATIVIDADE

Assinale a afirmativa que não corresponde a uma proposta de


transversalidade.
a) A proposta de um currículo de transversalidade não
significa que deva ser considerada como uma nova matéria.
Trata-se de apresentar atitudes, procedimentos, fatos,
conceitos que os alunos devem conhecer ao longo de sua
educação formal.
b) Numa proposta de transversalidade, os temas
transversais podem ser considerados como linhas que se
entrecruzam nas disciplinas, criando a possibilidade de
trabalhar com questões de interesse social.

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Abertura,
c) A transversalidade pode ser considerada como uma oportunidade.
“brecha” no ensino formal para mencionar questões sociais.
d) Os conteúdos dos temas transversais potencializam Tornam possível.
valores, fomentam comportamentos, desenvolvem atitudes e
não podem ser contemplados de maneira casual. Promovem o
desenvolvimento,
estimulam.
Resposta c. A transversalidade não pode ser considerada como uma “brecha”
no ensino. Os temas transversais devem estar ser escolhidos, seqüenciados,
desenvolvidos e avaliados permanentemente.

4. AÇÕES EDUCATIVAS DE TRÂNSITO

Implementar o trânsito como tema transversal nas escolas é um


grande desafio para os órgãos gestores de trânsito. Este trabalho requer
a elaboração de um projeto sério: objetivos bem definidos, recursos
educativos de qualidade, acompanhamento e avaliação permanentes,
corpo técnico capacitado.
Entretanto, outras ações podem ser desenvolvidas com sucesso,
como por exemplo:
• encontros de professores: seminários, oficinas etc. que
sensibilizem e incentivem os educadores para o desenvolvimento
de atividades relacionadas ao trânsito na escola;
• espetáculos teatrais: peças de teatro bem montadas, com
textos adequados às diferentes faixas etárias, com espaço para
debate ao final da peça;
• sessões de vídeo: a produção de programas educativos,
abordando valores, gerando debates entre os alunos;
• oficinas com alunos: a apresentação de pesquisas e de outros
trabalhos produzidos pelos alunos;
• encontros com pais, alunos e comunidade: a promoção de
eventos com o objetivo de debater questões relacionadas ao
trânsito.
Estes são apenas alguns exemplos. O profissional de educação de
trânsito pode criar uma série de outras ações educativas a partir das
necessidades e das expectativas dos educadores, dos alunos, dos pais
dos alunos, enfim, de todas as pessoas que compõem o universo escolar.
Afinal, ele sabe o quanto é importante a participação da sociedade
para um trabalho efetivo de educação.

Alertas!

Quando o assunto é trânsito nas escolas, é preciso considerar


alguns aspectos muito importantes:

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• Geralmente, na Semana Nacional do Trânsito, os órgãos
gestores trabalham, exaustivamente, promovendo ações
educativas: elaboram materiais, mandam fazer camisetas,
promovem seminários... No entanto, é fundamental acreditar
que qualquer ação educativa de trânsito – que tenha como
objetivo ensinar valores – deve ser permanente. E para
isso, ações devem ser planejadas, programadas, pensadas e
desenvolvidas no decorrer de todo o ano.
• Muitas vezes, as “pequenas” ações são mais eficazes que
“grandes” obras. Um exemplo disso são as mini-cidades.
A construção de um ambiente como este implica enorme
gasto de dinheiro público que poderia ser utilizado para o
desenvolvimento de programas permanentes. Em vez de
uma mini-cidade, por que não promover passeios orientados
pela cidade? Que tal a implementação de um projeto voltado
para a descoberta da cidade: o desenho das ruas, das casas, das
praças..

Para reflexão

(...) construir e morar em cidades implica necessariamente


viver de forma coletiva. Na cidade nunca se está só, mesmo
que o próximo ser humano esteja para além da parede do
apartamento vizinho ou num veículo no trânsito. O homem
só no apartamento ou o indivíduo dentro do automóvel é um
fragmento de um conjunto, parte de um coletivo.
Hoje, este conjunto se define como massa, aglomeração
densa de indivíduos cujos movimentos e percursos são
permanentemente dirigidos. Isto é bem claro, por exemplo, no
movimento dos terminais de transporte, em horas de pico, ou na
saída de um jogo de futebol.
Na verdade esta regulação de fluxos está presente o tempo
todo no cotidiano das cidades: são o semáforo e a faixa de
pedestres, as entradas de serviço e social nas portarias dos
edifícios, as filas de ônibus, os impostos urbanos etc. São
regulamentos e organizações que estabelecem uma certa ordem
na cidade definindo movimentos permitidos, bloqueando
passagens proibidas.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.

No Fórum Nacional de Educação, realizado em São Paulo, no


dia 3 de abril de 2004, Bernard Charlot, professor da Universidade
de Paris e doutor em Ciência da Educação, afirmou que o grande
desafio da educação é “ligar os recursos educativos da cidade aos
da escola e fazer da escola um lugar onde se aprenda a vida”.

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Jaqueline Moll, professora da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e conferencista do
painel “Cidade educadora: construção de currículos e produção
do conhecimento”, defendeu a mudança nos currículos. “A
escola deve ser vista como uma habitante da cidade; processos
educativos devem ser realizados fora da sala de aula. A escola e
a cidade devem ser reinventadas; caso contrário, nosso discurso
será um simulacro”. Aparência, fingimento.

• As ações educativas de trânsito nas escolas, promovidas pelos


órgãos gestores de trânsito, devem ter a parceria das secretarias
de educação (municipal ou estadual, conforme o âmbito de
sua circunscrição). Esta parceria é fundamental para troca de
idéias e de experiências. Além disso, uma ação aprovada pela
secretaria de educação tem sempre melhor aceitação por parte
dos educadores.
• Nenhuma ação educativa destinada às escolas deve ter como
objetivo formar futuros motoristas. Isto porque não existe
lei alguma determinando que todas as pessoas devem ser
motoristas. Além disso, muitas pessoas não têm condições
financeiras para comprar um automóvel e não podem ser
ensinadas – desde crianças – a valorizar um bem material,
quando há tantos outros valores a serem ensinados. E o
mais importante: a escola não é um Centro de Formação de
Condutores (CFC) e, portanto, o professor não tem obrigação
de ensinar conteúdos de direção defensiva, legislação etc. A
função da escola é analisar, refletir e debater sobre o respeito
às leis de trânsito e ao espaço público; sobre a convivência
entre as pessoas pelas ruas da cidade, baseada na cooperação;
sobre tolerância, igualdade de direitos, responsabilidade,
solidariedade e tantos outros valores imprescindíveis para um
trânsito mais humano.

Para reflexão

A escola deve, em qualquer momento do processo pedagógico,


ter clareza de seu papel. Há um alvo a ser alcançado: a
universalização e a socialização do saber, das ciências, das letras,
das artes, da política e da técnica. Mas há um ponto de partida
que não pode ser olvidado: as experiências de vida e a realidade Esquecido.
percebida por aqueles a quem ela deve educar. O objetivo deve
ser o de elevar o nível da compreensão dessa realidade por parte
do educando, que deve ultrapassar a percepção do senso comum
em direção a formulações mais elaboradas e organizadas. Esse é o
trajeto que a escola deve percorrer.

RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola: o transitório e o permanente na


educação. São Paulo: Cortez, 2000.

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