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Uma nova proposta de mestre

O livro O mestre ignorante escrito pelo filósofo Jacques Ranciére trás, com
um tom um tanto provocativo,uma discussão quanto ao papel o mestre, ou
professor, dentro do processo de aprendizagem. Ele argumenta a favor da
igualdade de inteligências, e para tanto ele defende o que ele chamada de
emancipação intelectual.
Ranciére relata a história do professor e pedagogo francês do século XIX,
Joseph Jacotot. Ele, quando lecionava para alunos holandeses que não
dominavam o idioma francês, se surpreende com o fato dos de seus alunos que
nunca tiveram contato com o idioma conseguirem escrever no mesmo a partir
somente da leitura de um livro bilíngue o Telêmaco, francês e holandês. A
partir de então Jacotot começa a se questionar quanto ao papel do mestre e
como pode funcionar a inteligência humana. Ele vai defender, portando, que
alguém que não domine ou não tenha determinado conhecimento pode,
mesmo assim ensina-lo para outra pessoa, mas para tanto ele necessitaria se
emancipar.
A emancipação intelectual para Jacotot seria ter consciência de sua
inteligência e saber que e capaz de aprender e ensinar qualquer coisa para
qualquer pessoa também emancipada, mesmo que desconheça-a ou não tenha
domínio de tal.
Ele justifica, pensando na prática, que o emancipado saberia buscar e
pesquisar, assim construir um conceito ou saber, então poderia auxiliar
qualquer outra pessoa,uma vez que as inteligencias são equiparadas, a
apreender também, pois instruiria como pesquisar, buscar e conhecer. Desta
forma, “um camponês , um artista (pai de família) se emancipará
intelectualmente se refletir sobre o que é e o que faz na ordem social”(p.57)”
e assim poderia instruir o seu próprio filho, pois conseguiria o fazer buscar,
pesquisar e conhecer. Pode-se perceber, então, que o autor focaliza muito
mais o método que o conhecimento e domínio do próprio mestre ou professor.
Ele ainda mostra a relação do método com mestre sábio:

a ciência do mestre muito sábio torna muito difícil para ela não arruinar o
método. Conhecendo as repostas, suas perguntas orientam naturalmente o
aluno. É o segredo dos bons mestres: com suas perguntas, guiam
discretamente a inteligência do aluno – tão discretamente, que a fazem
trabalhar, mas não o suficiente para abandona-la a si mesma.(p.51)

Como se pode ver o mestre é aquele que alimenta a curiosidade, que guia
aluno para como e por onde busca-la. Ao comparar com as questões de
interpretações, a proposta de Culler em defesa de uma superintepretação,
dentro da qual se poderia conseguir interpretações mais extremas e que
trariam ideias novas e mais produtivas , pode ser comparada com processo de
busca do aprendiz. Mais ainda se pensarmos a ideia de que

Poder-se ia imaginar que a superinterpretação fosse como uma


superalimentação: há uma alimentação ou interpretação adequada, mas
algumas pessoas não param quando deveriam. Continuam comendo ou
interpretando em excesso, com maus resultados. (Culler)
Ao olhar o papel do mestre por está ótica, então, ele seria aquele monitora
essa superalimentação, evitando assim o “maus resultados”
Considerando a obra em sua totalidade, ela trás à tona uma proposta e uma
discussão um tanto provocativa quanto transgressora. Alterar a forma de
pensar o professor, esse que nem necessita mais dominar um conteúdo para
ensina-lo, como não sendo principal agente do processo e sim o método,
rompe com várias concepções construídas sobre o processo pedagógico. Porém
são ideias como essas que destabilizam estruturas e nos fazem repensar,
neste caso no modo de ensinar.

Referências:
Ranciére, J. O mestre ignorante – cinco lições sobre a emancipação intelectual ;
tradução de Lilian do vale- Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

Eco, H. Interpretação e Superinterpretação – São Paulo : Martins Fontes, 1993.

Universidade Estadual de Campinas

RESENHA:

O mestre ignorante
LA303 A – Interpretação: Teoria e Prática 17/05/2011
Denis Felipe de Araujo Faria RA: 104808

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