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As vestes do sacerdócio

Compilação por Antônio Trevisan Teixeira

O uso das vestimentas sacerdotais de Adão a Cristo

I. Velho Testamento

1. Em Gênesis 3:21 encontramos a primeira referência às vestes do sacerdócio, dadas a


Adão e Eva:

E fez o Senhor Deus a Adão e sua esposa túnicas de pele e os vestiu.

Tais vestes foram dadas a Adão e Eva após comerem do fruto proibido e perceberem
que estavam nus. Com a Queda, eles estariam sob a constante influência da tentação e
precisavam ser protegidos. Em hebraico, as palavras para cobertura (kipa) e expiação
(kipur) provêm da mesma raiz, sugerindo que a expiação de Cristo “cobriria” os efeitos
da Queda.

2. A referência seguinte a vestes do sacerdócio está no relato sobre Noé e sua família.
Em Gênesis 9:20-29, lemos como Noé abençoa seus filhos Sem e Jafé , e amaldiçoa
(com relação ao sacerdócio) Canaã, seu neto, filho de Cão.

E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha;


E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.
E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez de seu pai e fê-lo saber a ambos seus irmãos fora.
E tomaram Sem e Jafé uma capa e puseram-na sobre ambos seus ombros e, indo
virados para trás, cobriram a nudez de seu pai, e os seus rostos eram virados, de
maneira que não viram a nudez de seu pai.
E despertou Noé do seu vinho e soube o que seu filho menor lhe fizera.
E disse: maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos.
E disse: bendito seja o Senhor Deus de Sem: e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.

Conforme fontes apócrifas como o Livro de Jasher e outros, neste episódio, Cão
aproveita-se da embriaguez de seu pai para roubar-lhe algo de muito valor: suas vestes
do sacerdócio. Ao não ter mais direito ao sacerdócio por ter-se casado com uma mulher
que preservou o sangue de Caim (Abraão 1:21-24), Cão tentou obter o privilégio das
vestimentas sacerdotais por meio do roubo, passando-as a seu filho Canaã. Estas vestes
chegariam por sua descendência até Ninrode, o homem que deu origem à famosa torre
de Babel (Gênesis 11), interpretada por muitos como um templo apóstata. Dessa
linhagem, viriam os egípcios, que reivindicavam ter o sacerdócio justamente através de
Cão (Abraão 1:26-27). A posse das vestes de Noé parece ter sido usada por Cão,
portanto, como uma “prova” para seu suposto direito ao sacerdócio.
3. Ao instruir Moisés sobre como organizar o tabernáculo, o templo móvel que
acompanharia os israelitas em sua jornada, o Senhor também fala sobre as vestimentas
que deveriam ser confeccionadas para Aarão e seus filhos, a quem caberia cuidar das
obrigações do sacerdócio. Após o povo ter se recusado a receber as bênçãos maiores do
sacerdócio (D&C 84:21-26), Israel perdeu muitos privilégios da ordem patriarcal do
sacerdócio e passou a ter a tribo de Levi como responsável pela administração das
ordenanças. Em Êxodo 28:2-3, lemos como as vestes do sacerdócio estavam ligadas à
realização das ordenanças:

E farás vestidos santos a Aarão, teu irmão, para glória e ornamento.


Falarás também a todos os que são sábios de coração, a quem eu tenho enchido do
espírito de sabedoria, que façam vestidos a Aarão para santificá-lo; para que
administre no ofício sacerdotal.

Também Êxodo 31:10 associa às vestes à administração do sacerdócio:

E os vestidos do ministério, e os vestidos santos de Aarão, o sacerdote, e os vestidos de


seus filhos, para administrarem o sacerdócio.

4. Levítico 16 fala da realização de sacrifícios para expiação. No versículo 32, diz:

E o sacerdote que for ungido e que for sagrado, para administrar o sacerdócio no lugar
de seu pai, fará a expiação, havendo vestido os vestidos de linho, os vestidos santos.

5. Com a morte de Aarão, seu filho Eleazar passa a ser o sumo sacerdote. Moisés é
então ordenado pelo Senhor a dar as vestes de Aarão à Eleazar (Números 20:23-28) :

E falou o Senhor a Moisés e a Aarão no monte Hor (...), dizendo:


Toma a Aarão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte de Hor.
E desde a Aarão os seus vestidos, e veste-os a Eleazar, seu filho, porque Arão será
recolhido e morrerá ali.
Fez pois Moisés como o Senhor lhe ordenara (...).
E Moisés despiu Aarão os vestidos e os vestiu a Eleazar, seu filho; e morreu Aarão ali
sobre o cume do monte; e desceram Moisés e Eleazar do monte.

6. Eclesiastes 9:8 fala sobre manter as vestimentas intactas, usando o simbolismo de


pureza existente na cor branca. Uma vez que as vestimentas estão associadas a certos
convênios feitos entre o homem e o Senhor, a conservação das vestes representa a
observância dos convênios:

Em todo tempo, sejam alvos os teus vestidos e nunca falte o óleo sobre tua cabeça.

7. Isaías fala das “vestes de salvação” e relaciona as vestimentas a valores ou princípios


que devem ser possuídos e desenvolvidos por aqueles que a usam. Isaías 59:17:

Porque se vestiu de justiça, como de uma couraça, e pôs o elmo da salvação sobre a
cabeça, e vestiu-se de vestidos de vingança por vestidura, e cobrindo-se de zelo, como
de um manto.
Isaías 61:10:

Gozo-me muito no meu Senhor, a minha lama se alegra no meu deus: porque me vestiu
de vestidos de salvação, me cobriu com o manto de justiça, como quando o noivo se
orna com atavio sacerdotal, e como a noiva se enfeita com suas jóias.

II. Novo Testamento

1. Em uma parábola registrada em Mateus 22:1-14, Cristo fala da necessidade de


determinadas vestes para a entrada em sua presença no mundo futuro:

Então Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo:


O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho;
E enviou servos a chamar os convidados para as bodas; e não quiseram vir. (...)
E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram tanto maus quanto bons; e as bodas
encheram-se de convidados.
E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado
com vestido de bodas.
E disse-lhe: amigo, como entraste aqui, não tendo um vestido de bodas? E ele
emudeceu.
Disse então o rei aos servos; amarai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas
exteriores ali haverá pranto e ranger de dentes.
Porque muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.

Nesta parábola, o Pai (“um certo rei”) celebra a união (“bodas”) de Cristo (“seu filho”)
com a Igreja (“os convidados”), para a qual todos devem estar devidamente preparados
ou vestidos. Ao emudecer, o convidado sem as vestes demonstra que não poderia haver
um argumento que o permitisse estar ali naquelas condições. Comparar com Apocalipse
19:1-9.

2. Em Romanos 13:12, Paulo fala da necessidade de um santo usar a “armadura de luz”,


ao abandonar o mal e procurar viver princípios celestiais:

A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-
nos das armas da luz.

O mesmo tema é retomado por ele em Efésios 6:11-18, onde descreve a “armadura de
Deus”:

Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas
ciladas do diabo.
Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas sim contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as malícias espirituais nos ares.
Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e,
havendo feito isso, ficar firmes.
Estai pois firmes, tendo cingido vossos lombos com a verdade , e vestidos com a
couraça da justiça;
E calçado os pés com a preparação do evangelho da paz:
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual possais apagar todos os dardos
inflamados do maligno.
Tomai também o capacete da salvação, e a espada do espírito, que é a palavra de
Deus;
Orando em todo tempo com todo o coração e súplica em espírito, e vigiando nisto com
toda a perseverança e súplica por todos os santos.

3. Em Apocalipse 16:15, João fala de vestes que devem ser usadas para receber Cristo:

Eis que venho como um ladrão. Bem aventurado aquele que vigia, e guarda os seus
vestidos, para que não ande nu e não se vejam suas vergonhas.

Todo o livro de Apocalipse está repleto de referências às ordenanças do templo e


menciona as vestes sacerdotais em relação aos convênios feitos nessas ordenanças.
Apocalipse 3:4-5:

Mas também tens em Sardo algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos, e
comigo andarão em vestidos brancos, porquanto são dignos disso.
O que vencer será vestido de vestidos brancos, e em maneira nenhuma riscarei o seu
nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu pai e diante de seus
anjos.

Uso das vestimentas sacerdotais na dispensação de Joseph Smith

1. Após a introdução das ordenanças iniciatórias em Kirtland, Joseph Smith teve


revelada a totalidade da investidura em Nauvoo. Em 04 de maio de 1842, Joseph
registrou o seguinte:

Quarta-feira, 4 – Passei o dia na parte superior da loja, onde fica meu escritório
particular, em conselho com o General James Adams de Springfield, o Patriarca Hyrum
Smith, os bispos Newel K. Whitney e George Miller, o Presidente Brigham Young e os
élderes Heber C. Kimball e Willard Richards. Dei-lhes instruções sobre os princípios e
ordem do sacerdócio, cuidando dos lavamentos, unções, investiduras e da comunicação
das chaves pertencentes ao Sacerdócio de Aarão, e assim sucessivamente até a ordem
mais alta do Sacerdócio de Melquisedeque, explicando a ordem concernente ao Ancião
de Dias e todos aqueles planos e princípios, por meio dos quais qualquer um pode
alcançar a plenitude das bênçãos preparadas para a Igreja do Primogênito, e ascender
e habitar nas presença dos Eloheim nos mundos eternos. Nesse conselho, instituiu-se a
ordem antiga das coisas, pela primeira vez nestes últimos dias. E as comunicações que
fiz a esse grupo foram de coisas espirituais, e só aqueles que têm mentes espirituais as
poderiam receber; e nada se revelou a esses homens que não se fará saber a todos os
santos dos últimos dias, tão logo estejam preparados para recebê-las, e se prepare um
lugar próprio para comunicá-las , sim, mesmo ao mais fraco dos santos. Portanto, que
os santos sejam diligentes em edificar o templo e todas as coisas que Deus lhes tem
mandado ou lhes mandar erigir; e esperem seu tempo com paciência, cheios de
mansidão e fé, perseverando até o fim, com o forme conhecimento de que todas essas
coisas são governadas pelo princípio de revelação. (Ensinamentos do Profeta Joseph
Smith, p. 231)

2. Em 1906, Joseph F. Smith escrevia a respeito das tentativas de se adaptar os garments


à moda da época, quando mulheres estavam passando a usar cada vez mais os
antebraços de fora, saias de comprimento menor e decotes mais generosos.

O Senhor nos deu os garments do santo sacerdócio, e vocês sabem o que isto significa.
Há, no entanto, aqueles entre nós que os mutilam, para que possamos seguir as
práticas tolas e indecentes do mundo. (...)

Para imitar a moda, tais pessoas não hesitarão em mutilar aquilo que deveria ser
considerado por eles a mais sagrada de todas as coisas do mundo, próximo de sua
própria virtude, próximo de sua própria pureza de vida. Eles deveriam manter estas
coisas que Deus lhes deu sagradas, sem mudanças ou alterações daquele padrão no
qual Deus as deu. Tenhamos a coragem moral de nos opôr às opiniões da moda, e
principalmente onde a moda nos impele a quebrar um convênio e cometer assim um
grave pecado. ("Fashion and the Violation of Covenants and Duty," Improvement Era 9,
August 1906, 812-815)

3. Em uma reunião do templo de Nauvoo, George A. Smith dirigiu-se àqueles que já


haviam recebido suas investiduras e, entre outros temas, falou sobre as vestes do
sacerdócio. Aqui, George A. Smith relaciona o uso do garment à prática da oração como
aprendida no templo:

Quando oramos ao Senhor, devemos nos reunir vestidos com vestimentas [garments]
adequadas e quando assim o fazemos, e unimos nossos corações e mãos juntas, e
agimos como uma mente, o Senhor responderá nossas orações. Nossos garments devem
ser marcados adequadamente e devemos entender essas marcas e devemos vestir esses
garments continuamente, de dia e de noite, na prisão ou livres e se os demônios nos
cortarem em pedaços, que cortem os garments também. Se tivermos os garments sobre
nós todo o tempo, poderemos a qualquer momento oferecer os sinais. (...) Ele então
disse que quando tinham uma oportunidade, eles [George A. Smith e Wilford Woodruff]
se retiravam para um lugar isolado ou um sótão e então ofereciam os sinais e eram
sempre respondidos. Seria bom para nós colocar as vestimentas todos os dias e orar a
Deus, e em círculos privados, quando pudermos fazer isso em segurança. (An intimate
chronicle: the journals of William Clayton, p. 221)

Na mesma reunião, John Taylor comenta sobre o fato de Joseph Smith ter retirado suas
vestes (aqui referidas como “robes”, designação comum na época) antes de ir para
Carthage, onde seria assassinado ao lado de Hyrum Smith:

Elder John Taylor confirmou o dito que Joseph, Hyrum e ele próprio estavam sem os
robes na cadeia de Carthage, enquanto o Doutor Richards estava com o seu, mas
corrigiu a idéia que alguns tinham de que eles os haviam tirado por medo. (idem, p.
224)
Enquanto Joseph e Hyrum foram mortos naquele local e John Taylor gravemente ferido
por tiros, Williard Richards saiu ileso (ver D&C 135). Os motivos para os três homens
em questão terem retirado seus garments são motivo de disputa: alguns falam que eles
queriam evitar que as suas vestes fossem dessacralizadas pela turba; outros de que
Joseph e Hyrum haveriam consentido em ser mártires e, ao tirar as vestes, estavam
tornando isso possível; já outros falam que o verdadeiro motivo foi o calor. Nesta
mesma reunião, na presença de John Taylor, W. W. Phelps diz ter ouvido Joseph falando
que eles estava sem os garments por causa do calor.

O uso das vestes cerimoniais e dos símbolos do sacerdócio fora do templo, como
referido na citação acima de George A. Smith, podem parecer algo inusitado para os
membros da igreja hoje. No entanto, a ordem de oração praticada no templo
originalmente tinha também o objetivo de instruir seus participantes a como orarem fora
dali. Há muitos relatos demonstrando esse uso da ordem de oração.

Tendo assim conferido as chaves e a forma da verdadeira ordem de oração, Joseph


Smith aparentemente também autorizou membros do Quorum dos Ungidos a praticar a
ordem de oração aparte do restante do círculo de oração. Enquanto trabalhava na
campanha presidencial de Joseph Smith em Washington, D.C., Heber C. Kimball
registrou o seguinte em seu diário em 06 de junho de 1844: “noite passada, eu me vesti
e ofereci os sinais do Santo Sacerdócio e clamei ao nome do Senhor. Ele me ouviu, pois
meu coração foi confortado.” E um mês depois, ele e o apóstolo Lyman Wight
obtiveram confirmação sobre a realidade do martírio em resposta à ordem de oração.
(D. Michael Quinn, BYU Studies, Vol. 19, No. 1, p.91)

O garment foi modificado pela Igreja em 1923, durante a administração de Heber J.


Grant. O modelo original é semelhante à peça usada nas ordenanças iniciatórias,
diferindo em tamanho, além de conter outros elementos retirados em 1823.

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