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HERMENEUTICA PLURAL Possibitidades jusfiloséficas em contextos imperfeitos ©: (CARLOS EDUARDO DF-AMREU HOUCALLT JOSE RODRIGO RODRIGUEL eu co Martins Fontes So Paulo 2005 Fundamentos axiolégicos da hermenéutica juridica José Ricardo Cunha* 1. Consideragées sobre o papel da hermenéutica Recorrente ¢ usual é 2 temitica da hermenéutica no uni verso dos estudos juridicos, pois trataese de aypecto central quer na teoria, quer na pritica do direito. Alids, é correto afir~ ‘mar quc os pressupostos hermenéuticos ¢ a atividade interpre tativa € que operam no dado momento da passagem da teoria 4 pritica, ou de um direito abstrato para um direito concret. E ente. nessa idéia de “elo” ou nesse lugar de “liga- encontramos o referente fuleral dos coneeitos de her- mengutiea ¢ interpretagio: medlivgdo. Basela-se esta afirina 20 na compreensio singular de que © mundo juridico munca Se apresenta ao mundo da vida de maneira imediata, ow seja instantinea, sem detenga e sem permeio. Ao contririo, a nor ‘matividade juridica é sempre dependente de “algo” que Ihe de- termine © sentido pritico ¢aplicavel nas situades reais do mun. do da vida em determinadas circunstineias € momento histo- rico, A normatividade juridica & sempre dependente de uma ‘medigdo. Ndo poderia set diferente na medida em que © cari- ter prescritivo do diteito sempre se volta para a conduta social dos individuos, dando ao direito um carter, ao mesmo tempo, nno:mativo € social! * Professor Faculte de Det 1. CF PERRY, “Inept met ds UERI.UCAM EPUC-Rio ogi ns oe jes”. 1, 310 HERMENEUITCA PLURAL Hermenguticae interpretagdo medeiam a experigncia juri- dca na vida real, porem ni por elas mesmas, ¢ sim pela atua- ‘gio de um sujeito: o hermencura ou o intéxprete, nto devendo Se entender estes como especialistas, mas como sujcitos intin= secamente ligados iquela experigneia juridica. Assim, mais importante que o diteito abstrato sio os sujeitos intérpretes da ‘experincia juridiea porque vivificam ¢ resignifieam a norma 4 partir de um sentido proprio ¢ real, Na verdade, slo estes su- jeitos que animam o direito, garantindo-lhe © dinamismo e a processualidade que Ihe sio proprios dentro de uma sociedade aaberta e pluralists. Nao é por outra razao que o lugar de herme- neuta ou intérprete nio pode Ficar reservad para 0s “especia- listas”, ¢ sim deve ser ocupade pelos “interessados", pots s80 estes que asseguram 0 teor propriamente denioertico da expe- riéncia juridica. A mediagio aberta ¢ que assegura a pluralida~ ‘de dos sistemas democrats, oportunizando aos sujetos © agen tes sociais uma definigao autdnoma de seus estilos de conduta. ‘Na experiéncia juridiea, lembra-nos Peter Hlirbele, em sede de direivo constitucional. que a hermenéutica da Constit mente deve ocorrer no émbito de uma interpretagao pluralista, na qual a sociedade desempenba, ao lado do Estado, fungao vi- tal na busca do sentido conerewo da norma constitucional; de Sruiios estatais até grupos sociais onganizados, todos imerfe~ rem no momento hermenéutico de compreensio da norma e, portanto, da aco social. Eis aqui aspecto significativo do pa pel da hermengutiea: assinala ¢ assegura a participagao de um Sujeito ative que nao apenas desereve, mas di sentido & nor- rma, Com efeito, o processo hermencutice e interpretative cor responde, igualmente, a um processo de humanizagio do di- reito, na medida em que & este sujeito intérprete ¢ hermeneuta que media o direito ma vida e, neste ato, transcende 0 perigo- 0 fetichismo da lei pela lei para registrar que 0 direito nao pode ser maquinal ¢ que sua alma ¢ humana e, como tal, aber- tue imprevisivel. 2. CC HARDELE, Heredia comtincona dso ria dos rprtes da corns; comets ura weprtacae plate e prvced: ‘ont Conca, pp 8-28, |! HERMENEUTICA JURIDICA & SEU SUIEITO an © huumanismo subjacente 4 atividade hermendutica e ine terpretativa nos trangtiliza quanto a0 pesadelo de uma aplica- {glo meciinica © automata da norma juridica que, no Tirite, Substiuiria juizes por computadores & homens por miquinas Todavia, ainda campeia alguma angistia que resulta da consta tagio de uma eerta acomodagao do pensamento diante de su- jpostas verdades aparentemente legitimadas por uma episterno~ ia posiivista de cardter mecanicista e determinista, Curio~ ssametite, 0 humanismo proprio da modernidade resultante dos pensamentos renascentista ¢ iluminista foi, de alguma forma, traido pelo determinismo do cientificismo positivista, O sujei- to livre da historia parece ter sido aprisionado no reino da natu- reza onde 0s acontecimentos sio definides nao pela liberdade, ‘nas pela necessidade, onde nio hi possibilidade de escolha, apenas de contemplagio de uma condigo que nio & constri da, mas necessariamente dada pelas circunstancias; da mesma maneira que ocorte na logica analitica em que 0 pensamento iio é livre para escolher ou deliberar, mas apenas conclui um resultado necessirio da articulagio de premissas, Onde hi ne- cessidade como fatalidade, nio ha liberdade, © onde 1iio hit e ou diminai 2 humanidade, Por isso mes- mo 0 ser humano no pode ser definido apenas como ser da natureza mas, sobretudo, como ser da cultura na qual ele nao & criatura do mundo mas © mundo € que & criado por ele como tarefa historica de sua liberdade. Entretanto, como dito, longe do exereicio de uma radical humanidade, algumas epistemolo- aaias modernas, convergentes para a epistermologia positivista, ‘apresentaram a realidade como dado ea contemplagdo como tinica alternativa possivel, em que a consciéncia humana e sua racionalidade propria foram reduzidas & eapacidade de obser- vagio e de raciocinio analitico. Especialmente a influéncia do racionalismo cartesiano corroborou para a estruturagio de ‘uma epistemologia matematizante em que a razao foi tomada ‘como ente calculador para aleangar 0 conceito evidente em verdades apodicticas do tipo cogito engo sum’, Nesta persp 8, Afimia BESCARTES:*Mus, logo em sag, advert gue enquanta x. vin asin pea uc ta ea aso, camp wecesariamente que co qe pens

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