Está solidamente estabelecida na jurisprudência a responsabilidade
do proprietário pelas danos causados por veículo seu.
Tendo o acidente sido causado por filho menor, por tutelado ou
curatelado, vivendo sob a autoridade e em companhia do proprietário pai, tutor ou curador; ou se foi causado por empregado, serviçal ou preposto, são invocáveis os artigos 932 e 933 do Código Civil, a determinar a responsabilidade objetiva do dono do veículo.
Segundo a jurisprudência, ele responde também no caso de haver
locado ou emprestado o veículo causador do dano, de nada lhe valendo provar que o locatário ou o comodatário tinha habilitação de fato e de direito. Quanto à locação, há mesmo súmula do Supremo Tribunal Federal , prestigiada pelo Superior Tribunal de Justiça
No passado, chegou-se mesmo a afirmar a responsabilidade do
proprietário pelos danos causados pelo ladrão (culpa in vigilando!). Chegou-se, também, a afirmar a responsabilidade de quem alienou o veículo, enquanto não efetuado o registro no Cartório de Títulos e documentos, tese afastada pela Súmula 132 do STJ: “A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado”.
Independentemente da propriedade do veículo, tem-se afirmado a
responsabilidade da empresa que envia produtos de sua fabricação ou comércio, pelos danos causados por motorista autônomo que os transporta [4].
A responsabilidade do proprietário é excluída nos casos de
propriedade em garantia: venda com reserva de domínio, alienação fiduciária em garantia, leasing. Não obstante a identidade de função, afirmou-se, em certo caso, a responsabilidade do promitente vendedor de veículo na posse do promitente comprador [5].
Acidente de trânsito pode determinar a responsabilidade objetiva da
Administração Pública, como em caso de sinistro decorrente de buraco não sinalizado.
A responsabilidade do motorista funda-se na culpa, nos termos do
artigo 186 do Código Civil. Mas pode ocorrer que o motorista responda mesmo sem culpa, como nos casos em que os tribunais afirmam a responsabilidade do causador direto do dano, assegurando-lhe o direito de regresso contra o culpado. Exemplo: vai o motorista conduzindo tranqüilamente seu veículo, obedecendo a todas as regras do trânsito. É atingido por outro veículo e arremessado contra um pedestre, matando-o. Ainda que sem apoio em lei, tal motorista pode ser condenado como causador direto do dano. O direito de regresso é assegurado pelo artigo 934 do Código Civil.
A responsabilidade civil é independente da criminal (Cód. Civil, art.
935). Não há, pois, razão para se aguardar o desfecho de eventual processo criminal, mas a condenação criminal torna indiscutível a existência do fato e sua autoria (Cód. Civil, art. 935). O Código de Processo Penal contém, sobre esse tema, disposições que continuam invocáveis:
Art. 63 - Transitada em julgado a sentença condenatória,
poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Art. 64 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação
para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
Parágrafo único - Intentada a ação penal, o juiz da ação civil
poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela.
Art. 65 - Faz coisa julgada no cível a sentença penal que
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Art. 66 - Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal,
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Art. 67 - Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de
informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado
não constitui crime.
Havendo mais de um responsável pelos danos decorrentes de
acidente de trânsito, há solidariedade (Cód. Civil, art. 942, parágrafo único) [6]. O proprietário responde com todos os seus bens, não apenas com o veículo causador do acidente (Cód. Civil, art. 942). Se o acidente decorreu de defeito de fabricação, incide o artigo 931 do Código Civil, bem como o Código do Consumidor, cujo artigo 12 estabelece:
O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro,
e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
O direito de exigir a reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-
se com a herança (Cód. Civil, art. 943).
[1] Súmula 492: A empresa locadora de veiculos responde, civil e
solidariamente com o locatario, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.[2]
[3] Acidente de trânsito. Legitimidade passiva. É de quem figura como
proprietário do veiculo no Registro de Títulos e Documentos, ainda que o acidente tenha sido causado pelo comprador. A venda de automóvel somente tem eficácia contra terceiros depois do registro no Cartório Especial. (Apelação cível nº 185036225, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Sílvio Manoel de Castro Gamborgi, julgado em 21/08/1985)
[4] Acidente de trânsito. Legitimidade passiva. Caso em que a
Autonomia do Brasil S.A., para levar caminhões seus para a Argentina e Chile, contrata empresa transportadora, que, por sua vez, comete a tarefa a condutor autônomo. A empresa comitente tem legitimidade passiva para responder pelos danos causados pelo motorista, por culpa "in eligendo", independente de não ser proprietária do veiculo. (Agravo de instrumento nº 197204241, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Carlos Alberto Alves Marques, julgado em 27/11/1997).
[5] O promitente vendedor de veiculo automotor, por recibo arras
onde conste, expressamente que a propriedade será transferida em momento posterior, continua dono e na posse indireta do mesmo. conseqüentemente, é parte legitima passiva ad causam, em ação indenizatória, ainda mais quando o contrato não foi registrado, nem no Oficio de Registro de Títulos e Documentos, nem no Detran. (Apelação cível nº 184012060, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Lio Cezar Schmitt, julgado em 24/04/1984)
[6] Respondem solidariamente as proprietarias do veiculo rebocador e
do semi-reboque pelos danos causados em virtude de colisão. Cavalo mecanico e reboque, enquanto circulam no transito, constituem um só todo. Impossibilidade de atribuir a uma só das partes a responsabilidade. (Apelação cível nº 195117684, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, relator: Henrique Osvaldo Poeta Roenick, julgado em 25/04/1996)