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VENDA PROIBIDA

EDIÇÃO 1 - DEZEMBRO 2008

www.anapa.org.br

Nosso Alho
Alho Roxo
sua história em números

Chonan
História viva
da cultura de
alho no Brasil

Prestação de contas
da diretoria jurídica da

ANAPA

Biocontrole da Cadeia de produção Alho livre


podridão branca de hortaliças de vírus
PROJETO PARCERIA ANAPA:
UM NOVO PASSO PARA A PROFISSIONALIZAÇÃO

A nova gestão do biênio 2008-2009, presidida por Rafael Corsino, inovou


as atividades desenvolvidas pela Anapa. Promoveu encontros técnicos, roda-
das de debates do setor privado do alho, cursos de capacitação, criação do
site, mantendo informativos diários, lançamento da revista Nosso Alho, dentre
tantas outras que impulsionam a profissionalização da Anapa. Porém, uma
delas merece destaque: PROJETO PARCERIA ANAPA – EMPRESA PRIVADA.
A Anapa no ano de 2008 buscou apoio das empresas privadas que par-
ticipam da cadeia produtiva do alho para suas atividades. O objetivo é for-
talecer a produção nacional. A crise chegou, mas para o produtor nacional
ela deve ser amenizada. A Anapa trabalha para isso: além de defender a
produção nacional, devemos capacitá-lo para ampliar a sua participação
no mercado nacional e internacional.
Mas o trabalho de parceria não é fácil! A crise também chegou para grande
número de empresas que buscamos, mas as nossas parceiras abriram as por-
tas mesmo com todas as dificuldades. As empresas que contribuíram com o
nosso trabalho podem ser conferidas no site e na própria revista Nosso Alho.
Nossos parceiros contribuíram para esta nova etapa de atividades e es-
tão de portas abertas para nos ajudar. Eles sabem que produtor fortalecido
é sinônimo de bons negócios para toda a cadeia. Agradecemos o apoio de
todas as empresas parceiras. Nós da Anapa e todos os produtores que rep-
resentamos saberão retribuir esta parceria, valorizando a marca e o trabalho
de cada empresa.
As empresas que não participaram este ano terão a oportunidade de
nos apoiar em 2009, pois a tarefa de fortalecer a cadeia produtiva do alho
não pára.

Tatiana Monteiro Reis


Secretária Executiva da Anapa
Sumário

CHONAN
História viva da cultura
de alho no Brasil
Pg. 24

Proposta para o Alho livre de Uma Questão de


biocontrole da vírus: Classificação
fitosanidade

tecnologia

podridão branca um futuro Ivonete Teixeira


entrevista

através de tangível Razedo, engenheira


microrganismos Pg. 10 agrônoma
antagonistas Pg. 32
Pg. 8

Alho Roxo no Competitividade Alho em


Brasil e desafios Compota
horticultura

Um pouco da da cadeia de Pg. 30


culinária
história

história dos produção de


números desse hortaliças no
nobre Brasil
Pg. 16 Pg. 36

Prestação de
contas da
atuação jurídica
da ANAPA
Pg. 6
ETC.

Pesquisa
brasileira indica
benefícios do
alho para saúde
Pg. 22
Nosso

Editorial Alho
Expediente:
A INFORMAÇÃO QUE FORTALECE
Presidente da Anapa
A Associação Nacional dos Produtores Rafael Corsino
de Alho (ANAPA) concretiza mais um Vice-presidente da Anapa
avanço para a classe produtora. Na Olir Schiavenin
verdade, podemos dizer que é uma Presidente de honra da Anapa
conquista; conquista de todos que nos Marco Antônio Lucini
antecederam e que certamente
Jurídico da Anapa
renderá bons frutos. Jean Gustavo Moisés
O papel da Revista é justamente Cloves Volpe
alicerçar a ANAPA, reunindo as Colaboradores
informações úteis a toda classe, para Luiz E. B. Blum
André Nepomuceno Dusi
que juntos possamos crescer com Paulo César Tavares de Melo
qualidade e segurança. Ivonete Teixeira
Acreditar que uma Associação Tesoureiro
possa ser forte sem ter meios idôneos de Marcio Braga
se expressar, além de ser uma forma de
Secretário
reprimir o direito de manifestação, é inibir qualquer possibilidade Renato Mendes
de reunir para fortalecer.
Editor
A Associação por natureza traduz a idéia de Heber Oliveira Brandão
fortalecimento. No entanto, esse fortalecimento somente ficará imprensa@anapa.com.br
enraizado com meios que agreguem os associados, e Repórteres
transmitam seus anseios e ideais. Heber Oliveira Brandão
Em uma sociedade em que os obstáculos são colocados Mariane Rodovalho

diariamente, seja da deslealdade de alguns concorrentes, da Arte e diagramação


falta de incentivo governamental, da ausência de informações, Felipe Honda
do aumento de preço dos insumos, da elevação da carga Secretária Executiva
tributária, da elevação das exigências legais, não restam Tatiana Monteiro Reis
dúvidas de que o empenho necessário para vencer tais
obstáculos poderá ser dividido entre todos, fortalecendo a Jornalista responsável
Heber Oliveira Brandão
representatividade que favorecerá o benefício comum. ( 7508DF)
Por isso, a Revista Nosso Alho não é só um instrumento de MARCOZERO COMUNICAÇÃO
informação e divulgação sobre o alho e sua produção, mas (61) 8119 5380
marcozerocomunicacao@
também um meio de dar representatividade à classe produtora gmail.com
nacional, dando vozes àqueles que sempre foram calados por
Escritório da Anapa
interesses econômicos internos e externos. SRTVS Quadra 701 Bloco A
A Revista Nosso Alho será um canal livre e aberto para os Sala 813
Centro Empresarial Brasília
associados, produtores, governos e pessoas com legítimos Brasília – DF
interesses no crescimento com qualidade da cultura de alho. Telefone: (61) 3321 0822
Fax:(61) 3321 0821
Enfim, esta primeira edição simboliza um marco na cultura
nacional do alho, para que o produtor de alho, persistente Nosso Alho é uma
como o sol que ilumina suas áreas e forte como solo que publicação da Associação
Nacional dos Produtores de
sustenta a sua produção, possa encontrar base para suas Alho (ANAPA) com uma
necessidades de informação, acolhida para a divulgação de tiragem de 5.000 exemplares.
As conclusões dos artigos
interesses comuns e abrigo aos seus reclamos. técnicos e as opiniões são de
responsabilidade de seus
autores.
Rafael Jorge Corsino
Presidente da ANAPA
PRESTAÇÃO DE CONTAS DA ATUAÇÃO DO JURÍDICO DA ANAPA
A nova diretoria da ANAPA foi empossada tendo como um dos principais objetivos
fazer valer o direito antidumping conquistado por mais 5 (cinco) anos, através da aprova-
ção da Res. 52/07 da CAMEX. Além desse e de outros projetos, a ANAPA se propôs a
profissionalizar a gestão da entidade.
Entre outras contratações necessárias para atingir todos esses objetivos, buscou-se
o serviço de um escritório jurídico, para ajudar na construção dessa profissionalização e,
principalmente combater as liminares concedidas pelo judiciário para importadores de
alho chinês que buscavam não pagar o direito antidumping conquistado pela classe.
Nesse contexto, criou-se uma diretoria jurídica especializada em atuar no sentido de fazer
valer a nova resolução, já que a anterior (Res. 41/01) não alcançou o resultado almejado
pelos produtores.
Segundo levantamento feito pelo DECOM, de 2001 a 2006, período de vigência
da Res. 41/01, o recolhimento do direito antidumping incidente sobre o alho chinês não
chegava à 25% (vinte cinco por cento) do que era importado. Ou seja, praticamente
todo alho chinês que ingressava em solo brasileiro não pagava o direito antidumping,
causando uma concorrência desleal e inúmeros prejuízos aos produtores nacionais.

Para evitar que essa situação se repetisse, fazendo com que o rigoroso processo
de renovação do antidumping não servisse para absolutamente nada, a diretoria da
ANAPA (gestão 2008/09) resolveu combater frontalmente o principal problema do não
recolhimento: liminares judiciais.
Assim, a partir da atuação direta do jurídico contratado (06/02/2008), a porcenta-
gem de pagamento mais que dobrou. Conforme dados fornecidos pelo COANA, no
primeiro semestre de 2008, período em que houve uma forte e contínua atuação ju-
rídica, a média de recolhimento passou para 51% (cinqüenta e um por cento) do alho
chinês importado.
Esse dado não é o objetivo final da ANAPA, mas reflete que o trabalho está ren-
dendo frutos, estando apto a alcançar a eficácia plena e total da Resolução 52/07.
Isto porque, a diretoria jurídica realiza pesquisa periódica em todos os Tribunais Federais,
para acompanhar mais de 200 empresas importadoras, com o fim de encontrar e fis-
calizar as liminares concedidas.
Nesse período já foram cassadas inúmeras liminares, firmando jurisprudência em
nosso favor, tanto que o Superior Tribunal de Justiça já declarou legal, sem nenhum vício,
a renovação do antidumping pela Res. 52/07.
Além da atuação rápida, com recursos visando a cassação, foi firmada parceria
com a Procuradoria da Fazenda Nacional (Advocacia-Geral da União), para demonstrar
união e fortalecimento junto ao Judiciário, denunciando com medidas judiciais os atos
ilegais de alguns importadores e os prejuízos sociais que com isso são causados à classe
produtora.
Esse resultado também é fruto direto do trabalho político exercido por essa nova
diretoria, que não mediu esforços, despesas, nem investimentos para consolidar uma
representação madura e fortalecida.
A ANAPA, com a diretoria jurídica, buscou assistência aos órgãos do governo com
competência para ajudar no combate às importações ilegais. O COANA (Coordena-
ção Geral Aduaneira - Receita Federal) tem aumentado a fiscalização nos portos brasil-
eiros, com maior incidência do alho chinês, atentando para as empresas “burladoras”
do fisco, etc. A diretoria também buscou Parcerias com a Embrapa, Ministério da Agricul-
tura, DECOM, EPAGRI, CONAB, etc..
Mesmo com o trabalho articulado pelos importadores para burlar o antidumping, os
números mostram que a diretoria jurídica atuou no sentido certo. A ANAPA comemora
o resultado, mas acredita que ainda não há razão conformismo nem satisfação, pois o
sonho de todos os produtores é que seja cumprido o direito anti-
dumping conquistado por eles, e, mesmo ante todas as dificul-
dades enfrentadas, o trabalho deve ser intensificado, porque o
mercado necessita de que o antidumping do alho chinês seja
pago em sua totalidade.
Assim, a diretoria jurídica acredita que pode fazer com que não
haja uma liminar favorecendo um importador em prejuízo de
uma imensa classe de produtores para o ano de 2009. Mas para
isso, e levando em conta a dimensão territorial do Brasil, será
preciso fortalecer as teses judiciais apresentadas a ponto de não
mais permitir decisões judiciais desfavoráveis.
Nesse caminho seguiremos sem nos desviar, pois as regras injustas
não resistem aqueles que sabem o que querem e onde vão.

Jean Gustavo Moisés


Diretor Jurídico da ANAPA

Nosso Alho 7
Proposta para o

biocontrole
da Podridão Branca
fitosanidade

através de microrganismos antagonistas

resistentes que atuam na sobrevivência do


fungo no solo na ausência da hospedeira,
e também como inóculo inicial da doença.
O fungo produz micélio e esclerócios
em resposta a presença de compostos
radiculares da hospedeira. O micélio in-
fectivo do fungo penetra na epiderme das
Luiz E. B. Blum raízes, invadindo inter e intracelularmente o
Professor, parênquima radicular causando extensiva
Departamento degradação dos tecidos, conseqüente
de Fitopatologia, murcha e morte da planta. O patógeno
Universidade de produz ácido oxálico fitotóxico e enzimas
Brasília pectolíticas que se difundem destruindo os
tecidos da epiderme e permitindo a sua
passagem para o bulbo.
A importância da doença
As propostas para o controle da
A podridão branca é uma das mais doença
importantes doenças do alho e outras
espécies de Allium. Esta doença pro- Vários métodos de controle têm sido
voca importantes perdas econômicas na relatados para esta doença, dentre os
produção do alho em todo o mundo. No quais destacam-se os fungicidas (Tebocu-
Reino Unido as perdas giram em torno de nazole, captan, procimidone e thiram). Fu-
10%, no Canadá há relatos de 65% de per- migação do solo com brometo de metila.
das. Já em regiões tropicais como Etiópia, Solarização e estímulo da germinação dos
México e Brasil as perdas podem ser de escleródios pelo uso de restos culturais de
100%. cebola. E uso de agentes de biocontrole,
dentre os quais destacam-se os fungos
Trichoderma e Gliocladium.
O agente causal
Nosso Alho

Também no biocontrole, o uso de


Pseudomonas fluorescentes (P. putida e P.
Sclerotium cepivorum é o fungo
fluorescens) tem sido relatado para difer-
causador da podridão branca. Este or-
entes patógenos incluindo fungos produ-
ganismo é um típico patógeno habitante
tores de esclerócios como Rizoctonia solani
do solo, específico de plantas do gênero
(Podridão de raízes), Sclerotium rolfsii (Po-
Allium. Este fungo fitopatogênico sobre-
dridão de hastes) e Sclerotinia sclerotiorum
vive no solo na forma de esclerócios pretos
(Mofo branco).
(~ 0,5mm). Tais esclerócios são estruturas
8
O biocontrole e; (2) avaliar e comparar os agentes de
biocontrole selecionados e os tradicionais
O biocontrole ou controle biológico métodos de controle da podridão branca
visa diminuir a densidade do inóculo medi- do alho;.
ante o uso de organismos antagonistas que
destruam os esclerócios, ou evitem sua for- Associação para o desenvolvimento da
mação. Assim os objetivos dos agentes de proposta
biocontrole no ciclo da doença incluem:
a erradicação dos esclerócios presentes Foi firmada uma associação para o de-
no solo antes do plantio, a supressão ou senvolvimento desta proposta de pesquisa
degradação dos esclerócios sobre as plan- entre o Departamento de Fitopatologia da
tas infectadas e a proteção do sistema UnB (Brasília, DF), representado pelo profes-
radicular em crescimento. sor Luiz E. B. Blum e a ANAPA, representada
O isolamento e a seleção de microorgan- por seu presidente Rafael J. Corsino. O pro-
ismos antagônicos de uma comunidade fessor Blum e sua equipe serão responsáveis
microbiana representa o primeiro passo pela condução dos estudos acadêmicos
para o estudo de programas de controle e a ANAPA pelo fornecimento de plantas
biológico. Desta forma, visando à seleção materiais para a condução dos diversos ex-
de espécies de Trichoderma, Gliocladium e perimentos. O início previsto das atividades
Pseudomonas fluorescentes para utilização se dará em dezembro de 2008 e o término
em programas de controle biológico de S. da etapa inicial da proposta em fevereiro
cepivorum objetiva-se com esta proposta: de 2010.
(a) Isolar, selecionar e manter os isolados
de Trichoderma, Gliocladium e Pseudomo-
nas. fluorescentes de solos do DF e entorno,
Alho livre de vírus:
um futuro tangível
tecnologia

56 mil empregos diretos e um total de 120


mil empregos (diretos e indiretos) na cadeia
produtiva, segundo estimativas levantadas
pelo Dr. Marco Lucinni. Com a redução da
área plantada a partir de 2004 para uma
André média de 8 mil ha nos anos subseqüentes,
Nepomuceno houve uma perda estimada de 24 mil postos
Dusi diretos. Assim, o impacto negativo final em
Eng. Agron., Ph. perda de postos diretos e indiretos totaliza
D., pesquisador 40 mil empregos.
da Embrapa
Hortaliças A importação do alho in natura ocorre da
Argentina e da China. O Brasil importou
no ano de 2005 um volume equivalente à

O
produção de 8 mil ha da Argentina e de 6
setor produtivo do alho vive atual-
mil ha da China, gerando 32 mil empregos
mente uma crise que há muito não
na Argentina e 24 mil empregos na China,
ocorria. Além dos problemas que
respectivamente. São 14 mil ha e 120 mil
afetam os produtores em geral (como juros
empregos diretos e indiretos fora do Brasil.
altos e câmbio desfavorável), desde 2001
Esse quadro apresenta-se estável desde
se verifica uma crescente importação, pri-
então, com uma perspectiva de agrava-
mariamente da China, além da Argentina.
mento ao fim da safra de 2008. Historica-
Não só o alho in natura entra no país, com-
mente, verifica-se uma correlação negativa
petindo com o alho nacional no período
altamente significativa entre a importação
de safra, como também alho processado
de alho e a área plantada no Brasil no ano
em pó em largas quantidades. Foram 1.300
seguinte (Figura 1).
toneladas em 2004 (Agrianual, 2005).
A necessidade de importação pode ser re-
A cultura do alho tem grande impacto so-
vertida, pois o produtor de alho brasileiro
cial, ocupando 600 dias/homem/ha. Gera
tem condições de atender a esta deman-
Nosso Alho

quatro empregos diretos por hectare plan-


da. Mesmo em crise, o setor registrou signifi-
tado e outros quatro indiretos na cadeia
cativo aumento da produtividade de 2,3 t/
produtiva. Deve ser ressaltado que mais de
ha em 1961 para 8,4 t/ha em 2005, resultado
60% da produção nacional de alho se dá
da competência tecnológica do produtor
por pequenos produtores em propriedades
brasileiro.
de base familiar.
O Brasil tem condições imediatas de au-
Nos anos de 2001 e 2002, quando ainda tín-
mentar a área plantada para 24 mil ha. São
hamos cerca de 14 mil ha da cultura, gerou
10
! Figura 1. Série histórica de produção, área plantada e importação de alho (Fonte: Agrianual e IBGE).

mais de 190 mil empregos: R$ 100 milhões forme identificado pelo presidente anterior
em remuneração; R$ 210 milhões em insu- da Anapa, o Dr. Jorge Kyriu.
mos; R$ 2.100 milhões anuais (US$ 1 bilhão)
À pesquisa, cabe desenvolver tecnologias
na cadeia produtiva, além de estimular a
para aumento de produtividade e redução
fixação do homem no meio rural.
do custo de produção, cujas ações atuais
Ações articuladas entre o Estado (através são tímidas. No passado, a pesquisa con-
de políticas públicas), os produtores (pela tribuiu com o desenvolvimento da cultura,
melhoria da qualidade do produto) e a pes- desenvolvendo recomendação de cultiva-
quisa (pela viabilização de novas tecnolo- res, adubação, controle fitossanitário, irriga-
gias) podem estimular tanto a produção ção, tecnologia de vernalização e outras,
como o consumo interno como atender que viabilizaram a expansão da área plan-
nichos de mercado na Europa para o alho tada no Brasil e a produção de alho de mel-
nobre roxo. hor qualidade. Entretanto, nesse campo,
pouco há para ser desenvolvido que pos-
Ao Estado, cabem ações de salvaguarda
sa causar um grande impacto na cadeia
como cotas e épocas de entrada, ações
produtiva.
anti-dumping e a exigência de uma análise
de risco de pragas adequada, reduzindo Um trabalho de pesquisa iniciado na Em-
o risco de introdução de pragas quaren- brapa em 1992, em estreita colaboração
tenárias. com a Universidade e Brasília, porém, alca-
nçou um resultado que pode modificar esse
Por parte dos produtores, pode ser desen-
cenário. Foi desenvolvida a tecnologia de
volvida uma campanha de estímulo ao au-
limpeza de vírus em alho. Na continuidade,
mento do consumo interno e a busca por
foi validado um sistema de produção base-
mercados externos específicos como nichos
ado no uso desse alho-semente livre de vírus
para o alho roxo já identificados na Espanha
que foi validada junto a pequenos produ-
e nos mercados do centro-sul do País, con-
Nosso Alho 11
tores na Bahia, com alho comum. Apenas O processo de obtenção desta semente
com a substituição da semente, foi possível se inicia com o tratamento dos bulbilho em
dobrar a produção e, concomitantemente, temperatura alta a seco (termoterapia),
melhorar a qualidade (classe comercial) seguido da cultura de ápices caulinares.
dos bulbos produzidos. Uma vez desenvolvida a planta in vitro, ela
é indexada ( i.e., testada para presença
A produtividade média brasileira se situa
ou ausência de vírus) e apenas as plantas
entre 7,0 e 8,0 t/ha. A produtividade média
sadias são preservadas para produzirem
nas áreas onde o trabalho de validação foi
um bulbo único não diferenciado ao fim do
realizado era de 3 a 5 t/ha. A produtividade
tecnologia

ciclo. Nos dois anos que se seguem, o bulbo


do alho proveniente de material livre de
é plantado em vasos, em casa-de-vegeta-
vírus nesses municípios onde a tecnologia foi
ção à prova de afídeos, com rigoroso con-
validade (Cristópolis e Novo Horizonte, BA)
trole sanitário, para nova indexação e possi-
varia, hoje, de 8 a 12 t/ha (IBGE, 2007). Esse
bilitar a diferenciação. Novamente, apenas
aumento de produtividade se deu apenas
as plantas sadias são mantidas. Nos anos
com a substituição da semente (Figura 2).

Figura 2. Evolução da produtividade no município de Cristópolis, BA, com a substituição da semente


tradicionalmente utilizada por uma semente oriunda do alho livre de vírus.

que se seguem, os bulbos sadios são mul- aumentado ano apos ano, sendo continu-
tiplicados até que se obtenha uma quanti- amente reposto pelo material produzido no
telado. Há reinfecção no campo, porém,
dade que possibilite o início do plantio em
campo. a uma taxa muito lenta, o que possibilita o
uso da produção do quarto ou quinto ciclo
No sistema de produção proposto, cerca
de campo como semente, gerando um au-
de 2.000 bulbilhos são plantados na pro-
mento de produtividade na ordem de 50 a
priedade do produtor, dentro de um telado
100% (Figura 3).
a prova de afídeos. Em campo aberto, é
Nosso Alho

plantada uma área de cerca de 100 m2, Para o alho nobre, o processo de obten-
gerando a primeira geração em campo ção da semente de alho livre de vírus está
aberto. No segundo ano, esse procedi- no início, é lento e há algumas etapas que
mento é repetido e o material produzido ainda necessitam de pesquisa para seu de-
em campo aberto no primeiro ano é plan- senvolvimento, como a melhoria do sistema
tado novamente, gerando a segunda ge- de indexação e o desenvolvimento de fer-
ração em campo aberto. Assim, continu- ramentas de genotipagem de cultivares, a
amente, o material em campo vai sendo caracterização de novas pragas.
12
!
Figura 3. Alho produzido à partir de alho-semente livre de vírus (esquerda) em comparação ao alho
produzido à partir de semente comum (direita).

A Anapa, parceira da Embrapa através dos designar os produtores para validar o


seus produtores, entende que a proposta sistema em suas propriedades, assumindo
de investimento na produção em larga es- os custos de produção. A Embrapa, através
calda de alho-semente livre de vírus, bem da Embrapa Hortaliças, uma de suas uni-
como a continuidade nas pesquisas de de- dades de pesquisa, se responsabilizará pela
senvolvimento de sistemas de diagnose, car- coordenação, execução da fase de labo-
acterização molecular e seleção de novos ratório e suporte técnico do projeto, além
clones é altamente relevante para o setor. A de parte da infra-estrutura laboratorial e de
tecnologia de alho livre de vírus apresenta- casa-de-vegetação.
se neste momento, como a tecnologia ca- Foi iniciada, em 2007, a validação em
paz de causar o maior impacto positivo no pequena escala de duas cultivares de alho
sistema produtivo de alho em um horizonte nobre na Bahia e no Rio Grande do Sul. Es-
de 10 a 15 anos. É também uma tecnologia pera-se, assim, que até o ano de 2011 já seja
democrática, pois pode ser adotada tanto possível iniciar a produção em campo das
por pequenos quanto por grandes produ- primeiras sementes de alho nobre livres de
tores. À luz dessa posição, a Anapa solicitou vírus para as cultivares Quitéria e Chonan.
apoio ao Ministério da Agricultura, Pecuária
Esse é mais um exemplo de que uma ação
e Abastecimento (Mapa), que solicitou que
a Embrapa apresentasse uma proposta em parceria da pesquisa com o setor prod-
utivo pode ser a chave para o sucesso na
para implementar o processo de produção
transferência de uma tecnologia de alto
de alho-semente livre de vírus. A proposta
impacto, não só para a cadeia específica
foi apresentada em agosto e está em fase
de análise pelos técnicos do Mapa. do alho, mas também por contribuir com a
política pública de geração de emprego e
Anapa confirmou sua contrapartida em renda para o homem do campo.
Nosso Alho 13
Alho Roxo no Brasil
Um Pouco da História dos Números desse Nobre
história

Marco Antônio Produção nacional e abasteci-


Lucini mento de alho
Engenheiro
Agrônomo Nas décadas de 60 e 70 a produção
brasileira de alhos era localizada princi-
palmente nos estados de Minas Gerais
e Goiás. Ali se cultivavam alhos comuns,
Histórico
brancos, de baixo valor comercial.
A produção de alhos nobres no O crescimento da produção de
Brasil começou no final da década de alhos nobres e roxos no Brasil foi incremen-
70, através do Sr. Takashi Chonan, incenti- tado na década de 80. Com toda essa
vado pelo Eng° Agr° Sérgio Mário Regina produção foi possível abastecer 90% do
na época no Ministério da Agricultura. A consumo nacional na safra 1988/89.
seleção da variedade de alho nobre roxo, O Brasil cultivou alho na faixa dos 18
que leva o seu nome, foi realizada na lo- mil hectares, no final dos anos 80 e no início
calidade do Núcleo Tritícola, então municí- da década de 90, reduzindo em muito a
pio de Curitibanos, hoje Frei Rogério SC. produção no final dessa mesma década,
como pode ser visto no gráfico abaixo.
As áreas de plantio voltaram a crescer no
início dos anos dois mil e recuaram nova-
mente em 2004, estabilizando-se até 2008
quando novamente houve uma redução
na área. A área de plantio de alho no Brasil
Nosso Alho

em 2008 é a menor dos últimos 20 anos.


Hoje a participação do alho nacio-
nal no abastecimento está ao redor dos 25-
30%, com uma área total de plantio de 9,6
mil sendo 8 mil hectares com alho nobre
roxo.
!
Takashi Chonan, pioneiro no cultivo de alho nobre roxo no
Brasil.
16
O gráfico abaixo mostra a participa-
ção do alho nacional no abastecimento
do país, com médias mensais durante os
anos de 1997 a 2008. Percebe-se a diminu-
ição ao longo dos anos da oferta do alho
nacional no abastecimento do mercado.

!
Fonte: LSPA – Ibge

A oferta atual de alho no país é com


65% de semente chinesa, quer produzida
na China quer produzida na Argentina e
35% com alho nobre roxo, produzido no Fonte: Aliceweb
!

Brasil e Argentina.
Por definição o alho nobre é aquele O consumo per cápita no Brasil au-
bulbo que possui menos de 20 bulbilhos por mentou significativamente, passando de
cabeça e é roxo por possuir os dentes dos 0,49 Kg/habitante/ano no ano de 1961
bulbos dessa cor. para mais de um quilo em 2007. Nos últimos
Os alhos importados da Argentina, anos esse aumento foi ao redor de 4% ao
China e Espanha se enquadram dentro ano, conforme pode ser visto no gráfico
dessa classificação de alho nobre roxo. abaixo.
Ao longo dos anos a Anapa e suas
associadas estaduais, juntamente com
os órgãos de extensão rural dos estados
(Emater´s, Epagri) acompanha a evolução
do plantio dos alhos nobres roxos.
Os alhos considerados comuns, de
acordo com a normativa 242, possuem
mais de 20 bulbilhos por bulbo e são desti-
nados basicamente aos mercados region-
ais, sendo comercializados em réstia e a
granel em sacos.
!
Fonte: Conab
Produção Brasileira de Alhos Nobres Roxos
Com a adoção do livre comércio,
do Mercosul, no início do governo Collor, a
partir da safra 1990 aumentou significativa-
mente as importações de alho, especial-
mente da Argentina, num primeiro momen-
to e após também pelo chinês.

!
Fonte: Anapa, Acapa, Agopa, Agapa, Apamig,
Emater´s, Epagri

Nosso Alho 17
Brasil. Por outro lado, um bom ano estimula
o produtor a aumentar a área de cultivo
dessa hortaliça.

!
Fonte: Aliceweb
história

O Alho Nobre Roxo em Santa


Catarina
!
Santa Catarina foi o berço do alho Fonte: LSPA – Ibge
nobre roxo no Brasil. Foi em Curitibanos que
o plantio comercial dessa hortaliça iniciou-
se no ano de 1977. Alho Vernalizado
Sem conhecimento tecnológico as
primeiras produtividades de alho nobre Para ser possível colher o alho no-
roxo no estado foram ao redor dos 3 mil bre roxo na região do Cerrado do Brasil, é
quilos. Aos poucos, Curitibanos tornou-se necessário que o mesmo passe pela câ-
centro de geração e difusão da tecnolo- mara fria, para o“choque frio”na semente
gia de produção de alho. antes do plantio. Assim o alho cria a habili-
Hoje muitas lavouras conseguem dade de produzir nessa região quente.
produtividades de 15.000 Kg. Isso repre- A produção de alho nobre roxo
senta 5 vezes mais que no ano de 1980. Os vernalizado no Brasil cresceu muito. Passou
produtores rurais da região de Curitibanos de 600 hectares em 1994 para se estabili-
e os técnicos ligados a cultura da região, zar ao redor dos 5 mil hectares na década
ao longo desses anos todos desenvolveram de 2000. O gráfico abaixo mostra essa
uma tecnologia que serviu de modelo para evolução da produção de alho nobre roxo
as demais regiões do país. vernalizado. Adaptando e melhorando a
No início do cultivo de alho, atu- tecnologia desenvolvida pelos produtores
avam em Curitibanos 3 cooperativas de e técnicos do sul do Brasil, os alhicultores
produtores (Cooperplac, Cotia e SulBrasil). do cerrado hoje são considerados os mel-
Além das cooperativas, várias empresas de hores do mundo em alho nobre roxo.
planejamento, assistência técnica e pes-
quisa trabalhavam na região, entre elas a
Acaresc/Empasc e após a Epagri. Área de Plantio de Alho no Cerrado
O gráfico abaixo mostra a ascensão
e a permanência de 1986 a 1996 do plan-
tio na faixa dos 4 mil hectares. Em seguida
Nosso Alho

ocorreu uma redução nas áreas de plan-


tio e produção do estado em função do
volume ofertado de alhos, em especial os
importados. O excesso de oferta num de-
terminado ano, faz com que o preço caia
e a área de plantio no ano subseqüente !
Fonte: Anapa, Agopa, Apamig.
também. Essa tendência tem se mostrado
nos últimos 30 anos em Santa Catarina e no
18
postos de trabalho na Argentina e 28 mil
Evolução da Produtividade do empregos na China. Hoje apenas 25% do
Alho Nobre Brasileiro alho consumido no país é produção brasil-
eira.
Para tentar competir com os al- Durante muitos anos a cultura do
hos importados, especialmente o chinês, alho foi a principal atividade agrícola de
os produtores do Cerrado do Brasil con- inverno/primavera da região dos Campos
seguiram adaptar uma tecnologia e elevar de Curitibanos que viabilizava duas mil
as suas produtividades de 10 a 12 mil quilos pequenas propriedades. Da mesma forma
por hectare para 15/18 toneladas, como na Serra Gaúcha a cultura do alho junta-
pode ser visto no gráfico seguinte. Hoje mente com a uva viabilizava mais de 4 mil
o Brasil já produz, em muitas lavouras 20 propriedades. Hoje isso já não ocorre mais.
toneladas de alho nobre roxo vernalizado. Com a abertura do mercado o vol-
Por outro lado os alhicultores do sul ume das importações cresceu vertiginosa-
passaram de 3 mil quilos por hectare em mente e a produção nacional diminui. Hoje
1980 para 12 mil quilos no final dos anos 90. 60% dos tradicionais alhicultores do Sul não
A partir de então não estão conseguindo cultivam mais essa olerícola. Utiliza-se no sul
aumentar a produtividade e por isso têm apenas 30% da capacidade produtiva im-
diminuído suas áreas de plantio todo ano plantada e os produtores estão migrando
já que estão perdendo a competitividade. para outras culturas.
Os produtores do sul, além de brigarem A produção nacional apesar do
com o clima adverso, com a legislação tra- baixo peso na nossa balança comercial
balhista ultrapassada, sofrem com a con- com a China e Argentina necessita sim de
corrência do alho Argentino que é mais medidas protecionistas como: o estabe-
competitivo atualmente. lecimento de cotas, épocas de internal-
ização dos alhos importados, controle de
Evolução da Produtividade Média de Alho Nobre no Brasil qualidade, controle fitossanitário, o efetivo
pagamento da taxa de antidumping entre
outras.

Alho do sul (Santa Catarina e


Rio Grande do Sul)

O produtor do sul, que já reduziu


as suas áreas a 30% da capacidade de
produção, deverá cada vez mais cultivar
variedades tardias de alto potencial produ-
!Fonte: Anapa, Agapa, Acapa, Agopa, Apamig, Emater´s, tivo como é o caso do grupo São Valen-
Epagri
tin. Esse grupo de cultivares possibilita a
produtividade de até 15 toneladas de alho
Perspectivas da Cultura do Alho curado por hectare, com uma boa túnica
no Brasil externa e os dentes roxos.
Não vemos outra saída a não ser a
O alho é uma cultura geradora de alta produtividade com materiais livres de
empregos de alta densidade econômica. vírus ou seleções clonais, cultivados em
Para cada hectare plantado criam-se qua- áreas novas com todas as demais tecno-
tro empregos. logias existentes, organizando a comer-
Atualmente o Brasil importa a cialização e investindo em câmaras frias e
produção de sei mil hectares da Argentina agregação de valor.
e de sete mil hectares da China. Dessa
forma estamos mantendo e gerando 24 mil

Nosso Alho 19
Lavoura de alho em Curitibanos - SC
história

Alho no Cerrado - vernalizado preparo do produto, seus esquemas mon-


tados de exportações, suas pesquisas em
O produtor do cerrado do Brasil de- tecnológica, o alho Argentino dominou a
verá sempre buscar altas produtividades, oferta no primeiro semestre no Brasil.
como hoje já se consegue em alguns lotes. Agora com a desvalorização do real, o
Isso demandará uma semente de quali- custo da importação do alho Argentino
dade superior, um solo bem corrigido, sem ficará mais caro, amenizando assim a situa-
doenças e um ciclo maior do que 130 dias. ção dos produtores do sul.
Com isso conseguirá baixar os custos de A grande reclamação da Anapa e
produção e ficar competitivo nesse mer- seus associados nacionais em relação ao
cado globalizado. alho Argentino é que tem entrado no país
Além disso, o produtor dessa região muita mercadoria abaixo das normas e
deverá investir fortemente em câmaras padrões, estabelecidas para o Mercosul.
frias para o manejo da vernalização e o Esse alho de baixa qualidade é nocivo ao
pós-colheita, com ofertas de qualidade por mercado brasileiro, por nivelar o preço do
um período mais longo. A agregação de mesmo por baixo. O que seria ideal era
valor na comercialização deverá ser priori- um volume não superior as 4,8 milhões de
dade do setor. caixas/ano, bem distribuídas entre os me-
Com um câmbio mais favorável, ses e de excelente qualidade. Com um
não temos dúvida que o Cerrado será um volume menor, uma taxa de câmbio den-
grande exportador de alho nobre roxo. tro da realidade e uma maior qualidade
Nosso Alho

os preços praticados nos mercados serão


Alho da Argentina muito superiores e todos sairão ganhando.
A Argentina tem safra coincidente
Argentina é o segundo maior expor- com a do sul do país que no momento
tador de alho do mundo, atrás apenas da está reduzindo as áreas de plantio anual-
China. Até a safra de 2008, ancorado no mente devido a essa concorrência.
câmbio e sua enorme tradição em anos É impossível concorrer hoje com os
de cultivo de alho, seu grande parque de hermanos já que eles tem uma carga tribu-
20
Tipica propriedade de produção no RS, uva e alho

tária, custos dos insumos, máquinas/imple- utilitários e combustíveis.


mentos e mão de obra muito inferiores que Com um volume de 75% da
a do Brasil. Mas o mais importante de tudo produção mundial, a China tem exportado
isso é que eles são protecionistas e defen- apenas 6-8% do que colhe. Mesmo assim
dem o produtor de alho Argentino o que é algo ao redor das 120 milhões de caixas/
nos causa enorme inveja. anuais, distribuídas durante o ano todo,
Santa Catarina e o Rio Grande do uma vez que dominam e utilizam câmaras
Sul já cultivaram 8 mil hectares na década frias para a conservação do alho. Com a
de 90 e na safra 2008/09 plantarão apenas oferta distribuída durante o ano, os preços
2,8 mil hectares, devido principalmente a na China têm se mantido estáveis e em
concorrência do alho importado. baixa, na faixa dos US$ 3.00 a 4.80 a caixa
de 10 Kg.
Alho da China Para tentar amenizar a situação,
a Anapa têm se mobilizado para que os
Apesar do direito antidumping em importadores paguem a da taxa de anti-
vigor e a TEC, a China aumentou suas dumping e que só entre alho no Brasil den-
exportações de alhos ao Brasil, passando tro da legalidade. Tal fato não ocorreu no
das 3,1 milhões de caixas de 10 Kg em 2004 período de 2001/2005, onde apenas 23%
para 8,0 milhões em 2008. Isso ocorreu devi- dos alhos chineses importados pagaram
do a grande produção de alho na China esse tributo, protegidos pelas liminares da
e também a valorização do real frente ao justiça.
dólar. Alhos vindos da China entraram até Os produtores nacionais, através
setembro de 2008 a R$ 14,50/caixa de 10 da Anapa reivindicam a cláusula de sal-
Kg sem o pagamento do antidumping e vaguarda, com a adoção de cotas de
com o pagamento a R$ 22,50. Dessa forma importação como forma de proteger a
é impossível o produtor nacional competir, produção de alhos do Brasil. Isso por que
pois possui um custo de produção superior as medidas adotadas até o momento não
ao importado, devido a alta carga tribu- foram suficientes para diminuir as importa-
tária, preços dos insumos, mão de obra, ções da China.
Nosso Alho 21
Pesquisa brasileira indica benefícios do alho para saúde
O alho já foi alvo de várias pesquisas no Brasil e no mundo, que buscam comprovar
sua eficiência para tratamento de gripes e resfriados e, no Brasil, mais uma pesquisa foi
feita para comprovar a eficácia da alicina, composto presente no alho e responsável pelo
uso terapêutico do alho.

Realizada pela aluna de doutorado da UNB, Ester da Silva e co-orientada pela pes-
quisadora da Embrapa, Leonora Mansur Mattos, a pesquisa conduzida em Brasília indica
que o alho também é eficaz para evitar o infarto do miocárdio e prevenir o colesterol.

Outro objetivo da pesquisa é que, tanto os produtores como os agentes de comer-


cialização varejistas, usem as informações produzidas no projeto para aumentar a venda
de alho no mercado nacional, o que pode trazer impacto econômico pelo crescimento
de vendas dessa hortaliça.

Essa foi a primeira pesquisa realizada in vivo com alho no Brasil e utilizou duas var-
iedades para comprovar suas propriedades, o alho brasileiro e o alho chinês. Os resulta-
dos mostram que os dois tipos tem as mesmas propriedades, sendo que o alho brasileiro
conserva suas qualidades nutricionais por um tempo mais longo, o que é apontado como
grande beneficio. Outro ponto positivo da variedade brasileira foi sua atividade anti-oxi-
dante, em 70%, que ajuda a prevenir o envelhecimento.

O experimento brasileiro vem contradizer uma recente pesquisa norte-americana,


patrocinada pelo governo dos Estados Unidos, em que o cientista Christopher Gardner
concluía que o alho não reduz o colesterol. Mas pelos últimos resultados, as pesquisadoras
estão otimistas com as propriedades do alho brasileiro.

Para quem quer consumir o alho buscando suas propriedades terapêuticas é pre-
ciso ficar atento para um detalhe, pois durante a experiência, ao usar o alho cozido,
Nosso Alho

grande parte da alicina, sua principal propriedade terapêutica, foi perdida. Por isso, todo
o experimento foi realizado com o alho lifolizado, ou seja, retirada toda sua água, para
que não houvesse perda da alicina.

A pesquisa brasileira ainda aguarda os resultados finais de laboratório dos experi-


mentos mais recentes, mas, segundo Leonora, as primeiras prévias já geraram resultados
bastante positivos e otimistas.
22
CHONAN
História viva da cultura
de alho no Brasil
TAKASHI CHONAN é considerado um
dos pioneiros da produção de alho no
Brasil e, além disso, está na vanguarda da
produção de alho nobre roxo.
C
honan nasceu no dia 10 de Janeiro tiu para Curitiba e ficou perdido na cidade
de 1937, na cidade de Okura-Mu- onde encontrou um imigrante japonês que
ra, estado de Yamagata no Japão, morava em Vacarias/RS. Chonan estava
pouco antes da Segunda Guerra Mundi- decidido: “Quero conhecer o sul do país e
al (1939 – 1945). Depois da guerra, com o não quero mais voltar para São Paulo”. O
Japão arrasado pela destruição das duas imigrante lhe disse que, naquele mesmo
bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki dia sairia um ônibus para Lages/SC e no dia
o país enfrentou fortes crises de moradia, seguinte para Vacaria. Ele resolveu então
saúde, alimentação e falta de emprego. ficar em Lages onde procurou por famílias
Nesse contexto o governo japonês buscava de japoneses. Encontrou a família do senhor
soluções rápidas e práticas e uma das alter- Takeo Sato, que no futuro seria seu sogro e a
capa

nativas foi a conhecida emigração japone- outra família: Hirata.


sa para vários lugares do mundo, que rece- Em 1961, Chonan casa-se com Lila
biam japoneses. Dentre esses países, o Brasil Izumi, em Lages e ali se firma. No natal de
era muito conhecido como grande produ- 1962, Chonan foi conhecer o serviço de jo-
tor de café, o que atraiu os japoneses com a vens imigrantes japoneses em Pedras Bran-
expectativa de serem proprietário de terras. cas, interior de Lages onde reencontrou
Assim, famílias e jovens solteiros reuniram-se os companheiros que vieram com ele do
no Porto Internacional de Yokohama para Japão. Em 1963 foi organizado o primeiro
uma viagem sem perspectiva de volta para encontro entre o consulado japonês de Por-
a América. Brasil, Argentina, Paraguai, Uru- to Alegre – Japão Assistência a Imigração
guai e Peru, eram seu destino. Em um dess- e Colonização – JAMIC. Nesse ano, deixou
es navios estava Takashi Chonan, à época a cidade de Lages e foi morar em Curitiba-
com X anos de idade e tudo que ele sabia nos – SC, na localidade do Núcleo Tritícola,
era... Após 60 dias à bordo do Boisuen, em onde trabalhou na administração do Núcleo
11 de setembro de 1958, Takashi Chonan, e receberia terras, caso algum assentado
Sadahiro Jimbo, Hagiwara Shimuzu, entre desistisse do lugar. Foi o primeiro assentam-
muitos outros jovens, desembarcaram no ento de colonos japoneses organizado pelo
Porto de Santos – SP. administrador Dr. Francisco Hoeltegbum
“Decidi ficar no estado de São Pau- através do Ministério da Agricultura. Assim,
lo na cidade de São Bernardo do Campo, em 1965 adquiriu um lote de 50 hectares ini-
iniciei minhas atividades numa granja, tra- ciando uma seleção de alhos provindos do
balhei muito, o trabalho era quase todo Rio Grande do Sul (Bagé, Porto Alegre e Ijui),
artesanal. Colhiam-se verduras e ovos, tirava Paraná(Assai) e Santa Catarina (São José
os estercos dos galinheiros, ficava todo sujo do Cerrito, Caçador e Curitibanos), além
e esse tipo de serviço não me satisfazia”, de algumas espécies de alhos importados
comenta Chonan sobre um dos primeiros de outros países.Porém Chonan encontrou
trabalhos no Brasil. dificuldades com a geografia da região e a
Chonan trabalhou na granja durante dificuldade em lidar com as máquinas nesse
dois anos e sua produção era vendida nas terreno. As plantações estavam se deslo-
feiras, aos sábados e domingos na capital cando para terras mais planas como a de
paulista. Nas feiras, chamavam a atenção de Campos Novos e oeste catarinense. Neste
Chonan as maçãs e alhos importados ven- contexto começou a busca por novas alter-
didos. Ficou com essa visão na sua mente, nativas e Chonan estava sem os incentivos
Nosso Alho

mas foi para o Paraná, por recomendação que a colônia japonesa recebia no desen-
de um tio, para tentar um emprego condi- volvimento de suas culturas. Ele começou a
zente com seus sonhos, nos grandes cafezais buscar famílias de alemães e italianos na lo-
ou como criador de gado. Permaneceu por calidade do Núcleo, buscando até mesmo
lá por apenas uma semana, sem conseguir outras alternativas de produção. Em 1970,
nada. As vagas estavam todas preenchidas o governo estadual lançou o Programa de
devido ao grande número de japoneses na Desenvolvimento de Frutos de Clima Tem-
região. “Não tinha vaga lá pra mim.” Par- perado. Chonan percorreu as terras de bi-
26
cicleta convidando as famílias para inicia- cultura do alho como se vê hoje.
rem o plantio de maçã, com o auxílio da Chonan havia adquirido experiências
ACARESC (Associação de Crédito e As- nas feiras em São Paulo e já sabia que tipo
sistência Rural de Santa Catarina. Não per- de alho a dona-de-casa consumia. “Eu tin-
deu tempo. Enquanto esperava a safra da ha coleções de variedades, até aí ninguém
maçã, plantava cebola entre as macieiras dava valor, eu estava desistindo, quando
que ainda não frutificavam, preocupado reencontrei senhor Jinbo.” Neste mesmo
com o pagamento dos financiamentos. A ano um pesquisador mineiro, apaixonado
experiência com o alho, entretanto, não por alho, veio visitar as lavouras de alho.
parava, e eram selecionadas as variedades Ele surpreendeu-se com a qualidade do
mais produtivas. produto a ponto de afirmar “esse é melhor
No inicio do ano de 1973, Sadahiro alho do Brasil”. O técnico sugeriu para essa
Jinbo, um experimentador da área de alho nova variedade o nome de “alho Chonan”.
deixa Porto Alegre e também vem para a lo- A conseqüência disso foi que, na safra de
calidade do Núcleo Tritícola. Nesta época 1974, colheu-se o melhor alho em produtivi-
já havia realizado vários experimentos dade e com as características que o
e pesquisas sobre o alho e mercado consumidor exigia.
também havia
abandonando algumas
variedades já
experimentadas.
“Jinbo visitava-me
diariamente e
dizia: ‘esse alho é
melhor que o
importado...você
conhece alho?”
Essa foi a conversa
que deu inicio a

Chonan

Nosso Alho 27
Chonan e amigos nas lavouras de alho
capa

Assim surgiu um dos do Brasil. Ainda neste ano na 1ª Amostra Nacio-


grandes produtores e comercializadores de nal de Alho, realizada em Gouveia – MG rece-
alho nobre roxo do Brasil. “Sou um imigran- beu prêmio do Ministro da Agricultura de melhor
te japonês pós-guerra que deu certo neste alho do Brasil.
imenso Brasil. Consegui realizar meu sonho Pela Lei 1.432, de 12 de outubro de 1979,
recebeu o título de “CIDADÃO CURITIBANENSE”
e continuo contribuindo para a sociedade
pelos relevantes serviços prestados ao municí-
brasileira.”
pio;
Em novembro de 1981 foi eleito vereador
REALIZAÇÕES da Câmara Municipal de Curitibanos, e exerceu
Foi Sócio Fundador da Associação Cul- a vereança até 1988. 1º vereador descendente
tural Brasil – Japão de Curitibanos, tendo exer- de japoneses dos estados SC e RS.
cido o cargo de Presidente em 1978; Em 1984 foi eleito Presidente da ANAPA
Em 1972 Foi Presidente da COOPERPLAC – Co- – Associação Nacional dos Produtores de Alho,
operativa Regional Agropecuária do Planalto em Assembléia Geral na cidade de Lages – SC,
Catarinense Ltda. e novamente no ano de 1987 e 1994.
Em abril de 1975 vieram para Curitibanos os pes- Em 1989 foi novamente Presidente da COOPER-
quisadores Dr. Yoshihiko Horio e Dr. Sérgio Mário PLAC.
Regina, que devido à qualidade do alho, incen- Recebeu da Associação Brasileira de
tivaram a multiplicação da semente e sugeriram Estudos Técnicos de Agricultura ABETA – 27º Prê-
o nome de “ALHO CHONAN”, que foi registrado mio KIYOSHI YAMAMOTO – Título de Honra ao
no Ministério da Agricultura. Mérito, em 1995.
Desde 1977 vem realizando, juntamente com a Em 1996 Recebeu da Assembléia Legisla-
Nosso Alho

EPAGRI, pesquisas de seleção do alho e técni- tiva do Estado de Santa Catarina, Título de Ci-
cas de cultivo. dadão Destaque Catarinense.
Em sua propriedade, conseguiu selecio- Em 1997 é eleito 1º prefeito do município de Frei
nar um novo clone, mais produtivo e mais resist- Rogério.
ente a doenças foliares que aos poucos vem Ao termino da gestão como prefeito de
substituindo as outras variedades plantadas na Frei Rogério( 1997-2000), retorna as atividades
região. agrícolas em sua propriedade no Núcleo Trití-
Em 1977, foi iniciada a venda do Alho cola, onde permanece atualmente com a ativi-
Chonan, para os grandes centros consumidores dade do alho e fruticultura.
28
Alho em
Compota
culinária

Ingredientes:

Para cozinhar o alho


•1,5 l de água
•3 kg de alho descascado (dentes
grandes)
•½ copo (de requeijão) de vinagre
•½ colher de sopa de sal

Compota
•1 colher de chá de manjerona
•1 colher de chá de camomila
•1 colher de chá de orégano
•1 colher de chá de manjericão
•1 colher de chá de alecrim
•4 folhas de louro
•½ copo de vinagre
•Azeitona preta (a gosto)
•Azeite (até encher o recipiente)
•Sal (a gosto)
Nosso Alho

Acrescente ½ colher de sopa de sal.


O tempo para preparar esta etapa será de
aproximadamente 5 a 10 minutos. O segre-
do é não deixar o alho mole e nem ardido.
Coloque a água para ferver. Quan- DICA: retire um dente após o período mín-
do alcançar fervura, coloque os 3 quilos de imo de fervura e experimente a consistên-
alho descascados com ½ copo de vinagre. cia e o sabor.
30
Em seguida prepare a compota.
Coloque a manjerona, a camomila, o
orégano, manjericão, o alecrim, as folhas
de louro a azeitona preta, o vinagre, o sal e
o alho.

Em seguida, escorra o alho e


enxágue em água fria.

Finalize com o azeite e aproveite.

Depois, seque todo o alho com


pano. Atenção: o alho não pode ficar
molhado.

Nosso Alho 31
Uma questão de classificação
A lei 9.972, de 25 de maio de 2000, “Institui a clas-
sificação de produtos vegetais, subprodutos e resíduos de
valor econômico(...)”, e no seu artigo primeiro sujeita à
essa classificação e seus subprodutos quando destinados
diretamente ao consumo humano, nas operações do pod-
er público e nos portos aeroportos e postos de fronteira,
quando importados. O artigo terceiro define a classifica-
entrevista

ção como “o ato de determinar as qualidades intrínsecas e


extrínsecas de um produto vegetal, com base em padrões
oficiais, físicos ou descritos.” E essas tarefas, dentre muitas
outras relacionadas à classificação, devem ser de inicia-
tiva dos produtores e estão sujeitas ao credenciamento e
à fiscalização do ministério da Agricultura.
Para poder fazer a classificação deve-se ser cre-
denciado ou formado por uma empresa credenciada pelo
ministério. Em outubro desse ano, a Anapa promoveu um curso de classificação de alho.O
curso foi dirigido por Ivonete Teixeira Razedo, engenheira agrônoma e proprietária da
ITR Consultoria e Treinamento, uma empresa credenciada para formar classificadores.
Ela concedeu uma entrevista à Nosso Alho e esclarece muitos pontos importantes dessa
questão.

Nosso Alho - Em que contexto surgiu a leg- No mercado interno, para que o produto
islação para a classificação desses produ- seja classificado, rotulado e disponibilizado
tos? para o consumo é necessário fazer classifi-
Ivonete – A legislação da classificação é cação e para poder fazer essa classificação
uma lei que foi atualizada em 2000 e institui o profissional deve-se formar profissionais li-
o que é a obrigatoriedade da classificação gados a essa atividade. Tem que ser engen-
hoje no Brasil. A classificação já existe aqui heiro agrônomo ou técnico agrícola para
desde 1940 e as legislações foram sendo at- poder executar e tem que passar por um
ualizadas; essa de 2000 instituiu a obrigato- curso oficial homologado e supervisionado
riedade da classificação em produtos desti- pelo Ministério da Agricultura. Ela atende a
nados diretamente à alimentação humana, todo produto que é comercializado. No Bra-
na compra e venda do poder público e no sil é utilizada a portaria 242.
caso de produtos importados. Essa legisla-
ção, para atender hoje à comercialização Qual a diferença entre uma classificação e
no Brasil, no caso específico do alho, que é a outra?
um produto destinado diretamente ao con- Essa diferença é que estamos tentando
sumo, é obrigatória a classificação e existe passar para o ministério da agricultura para
Nosso Alho

também a fiscalização do ministério da ag- que haja uma reformulação desse padrão
ricultura, executadas em todas as unidades do alho para que tenha uma única portaria
da federação. Hoje, em relação ao alho, na classificação para que não haja tanta
existe uma legislação nacional e uma res- diferença como acontece hoje.
olução específica do mercosul. Todo produ-
to provenienete de países do mercosul deve Elas vão se fundir ou uma vai substituir a out-
se submeter a essa resolução do mercosul. ra?
32
Como existe a do mercosul deve-se fazer Isso também auxilia, porque se o produto
um trabalho para se reformular essa legisla- está entrando para a indústria ele deve
ção. Um trabalho técnico dentro do Brasil ir para a indústria e não para o consumo
para ver o que se está produzindo aqui e como acontece hoje. Outro detalhe impor-
propor ao ministério essa coleta de subsídio tante é que a legislação, a portaria 242, é
do setor produtivo para que ele possa refor- feita também para o alho que vem da chi-
mular o padrão. na. Se não estiver de acordo ele não pode
entrar no Brasil. Esse alho tem que passar por
Isto está próximo de acontecer? essa classificação obrigatoriamente como
Sim, já estamos fazendo isso, por exemplo está na legislação.
com a batata. O próprio setor produtivo
sentiu necessidade de fazer esse trabalho Tanto o alho argentino como o Chinês es-
e propor ao ministério essa mudança. Pro- tão sendo submetidos a essa classificação
pusemos ao Rafael (Corsino), ele aceitou a na chegada ao Brasil ou estão conseguindo
proposta e vamos avançar nas discussões. fugir dela?
Qual a importância dessa classificação? A classificação é obrigatória e é feita nas
Em termos de classificação de produtos, fronteiras onde o produto chega, nos portos
verificamos a qualidade e a determina- ou postos de fronteira. Há informações de
ção da classe em relação ao tamanho, do que o alho que é destinado à indústria está
produto que vai ser comercializado. Para indo para o consumo, mas isso não deveria
o produtor o importante é verificar os re- acontecer. O ministério deveria fazer mais
sultados da produção dele, em termos de fiscalizações e verificar realmente se isso
qualidade e colocar isso para o consumo. está acontecendo ou não. Sem o creden-
E a importância disso é que, como existe a ciamento não pode ser classificador. Além
legislação que diz que é obrigatória a clas- da credencial do classificador, a empresa
sificação dos produtos destinados direta- na qual esse profissional trabalha também
mente ao consumo, ela vem de encontro tem que se credenciar junto ao ministério da
a essa legislação e aí é feita a fiscalização agricultura para estar habilitada a exercer
no comércio para ver se o produto tem a a atividade. E para isso deve ter um profis-
qualidade exigida. A classificação verifica o sional já ligado a ela para que isso possa ser
tamanho, o diâmetro do alho e ele tem que feito.
estar padronizado e a quan-
tidade de defeitos que esse
alho tem, para verificar se
está apto ao consumo.

Essa questão da qualidade


chega até que ponto?
Ver se tem alhos perfeitos,
podridão, algum dano que
vá prejudicar o uso...

A classificação pode ajudar


a resolver a questão do alho
indústria proveniente da Ar-
gentina, que está sendo tão
discutida hoje?
ricultura e isso é um dado importante.

Com isso a senhora percebe a importân-


cia das associações para injetar a ener-
gia necessária para que se forme outros
classificadores?
Isso já foi um trabalho que foi feito pela
ABBA, com a qual a Anapa tem bastante
ligação, e através dela a Anapa solici-
tou esse curso, que iniciou com a batata,
com cursos em Itapetininga e em Vargem
Grande. Lá eles já estavam sendo fiscal-
izados e houve a necessidade urgente da
formação de classificadores. Aqui nós an-
Como foi o curso realizado aqui (em Brasí- tecipamos isso. Assim as empresas podem
lia/setembro)? fazer sua própria classificação sem ter que
Esse foi o primeiro curso que teve a partici- recorrer a terceiros, porque é um proces-
pação ativa do setor produtivo, que o setor so dinâmico; se o produtor ainda tem que
se juntou e solicitou o curso. Os outros foram pedir pra outro fazer a classificação pode
demanda das empresas que queriam fazer causar uma demora.
a classificação. E porque isso é importante?
Porque foi aí que nós sentimos que esse setor E com relação à mudança nos padrões de
não tem todas as informações referentes classificação, reivindicadas pelos produ-
aos padrões exigidos pelo Ministério da Ag-
tores de alho, principalmente? falhas na classificação, ou a falta dela, há
Deve mudar para um diâmetro mínimo e possibilidade de autuação, direito à defesa
máximo e mesmo para a identificação de com prazos estabelecidos, uma análise da
defeitos não englobados pela 242. É pre- defesa, por parte do ministério e a comuni-
ciso uma reforma na portaria oficial. Com cação do resultado dando direito ainda a
relação ao alho foram levantadas muitas uma segunda instância. As penalidades para
questões relativas a esse problema, tanto irregularidades podem variar de R$ 1.000,00
que, no relatório que fizemos ao final do a R$ 500.000,00. Penariol afirma que o Minis-
curso, colocamos os principais pontos que tério da Agricultura busca trabalhar princi-
os estudantes levantaram para reformular. É palmente com a orientação das empresas
um trabalho que vamos até começar a faz- sobre a legislação para que até mesmo os
er com a batata. A Anapa está buscando pequenos produtores possam ter acesso às
isso para o alho também. informações e se regularizar. “O fato de ser
pequeno produtor não isenta das penaliza-
Nosso Alho também conversou com o Co- ções”, afirma. Apesar disso, Penariol admite
ordenador Geral de Qualidade Vegetal do que o ministério estuda fomas para que os
Ministério da Agricultura, Fernando Pena- pequenos produtores, a exemplo dos que
riol. De acordo com ele, a fiscalização dos vendem seus produtos em feiras, não sejam
produtos é documental, através de notas obrigados a passar pela classificação.
fiscais e números de certificação e também
de análise, por meio de amostras, para veri-
ficar se os produtos estão em conformidade
com os padrões estabelecidos. Em caso de
Competitividade e desafios
da cadeia de produção de
horticultura

hortaliças no Brasil

Paulo César Tavares Diversificação e características da


de Melo cadeia produtiva
USP/ESALQ- Dept?
de Produção Veg- A olericultura é praticada em todos os
etal, Presidente da diferentes agroecossistemas do território na-
Associação Brasileira cional e abrange mais de uma centena de
de Horticultura (ABH) espécies cultivadas de forma temporária.
A maior parte da produção de hortaliças
(60%) está concentrada em propriedades
Em 2006, a produção total de hortal- de exploração familiar com menos de 10
iças foi de 17,5 milhões de toneladas, ocu- ha. Como atividade agroeconômica difer-
pando uma área cultivada de 771,4 mil encia-se das culturas agrícolas extensivas
hectares. O valor total da produção foi da do agronegócio por exigir altos investimen-
ordem de R$ 11,5 bilhões, respondendo por tos. De outro lado, permite a obtenção de
2 % do PIB do agronegócio brasileiro. altos rendimentos por hectare cultivado
Nos últimos dez anos a produção de hor- e por hectare/ano dependendo do valor
taliças no país aumentou 33 % enquanto a agregado do produto e da conjuntura de
área foi reduzida em 5 % e a produtividade mercado.
incrementou 38 %. Três quartos do volume A olericultura se caracteriza ainda por ser
de produção concentram-se nas regiões uma atividade econômica de alto risco em
Sudeste e Sul enquanto o Nordeste e o Cen- função de problemas fitossanitários, maior
tro-Oeste respondem pelos 25 % restantes. sensibilidade às condições climáticas adver-
Apenas sete hortaliças são responsáveis por sas, maior vulnerabilidade à sazonalidade
aproximadamente 60 % da produção total. da oferta gerando instabilidade de preços
Em ordem decrescente, em volume pro- praticados na comercialização. Além disso,
duzido, são as seguintes: tomate (3.278.070 devido à elevada exigência de mão-de-
t), batata (3.125.930 t), melancia (1.505.130 obra desde a semeadura até à comercial-
t), cebola (1.174.750 t), cenoura (705.000 ização, estima-se que cada hectare plan-
t) e batata-doce (513.650 t). No Norte, a tado com hortaliças possa gerar, em média,
Nosso Alho

produção de hortaliças é incipiente e os entre 3 e 6 empregos diretos e um número


mercados consumidores são abastecidos idêntico indiretos.
por produtos oriundos, principalmente, do
Sudeste e Nordeste. Consumo
Além de sua relevância enquanto ativi-
dade econômica, a olericultura é recon- A quantidade de hortaliças consu-
hecida por sua importância social gerando midas pela população brasileira é atual-
empregos e renda, especialmente para o mente muito abaixo do mínimo recomen-
segmento da olericultura familiar. dado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). O consumo per capita no Brasil é de
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apenas 130 g/dia, um montante que cor- US$ 389,7 milhões, resultando em um saldo
responde a aproximadamente um terço negativo de US$ 149 milhões na balança co-
do que é recomendado pela OMS. A pes- mercial brasileira de hortaliças. As principais
quisa POF/IBGE (2002-2003) evidencia ainda hortaliças importadas foram alho, batata,
que o aumento da renda familiar é refletido cebola, ervilha e tomate. O alho respondeu
automaticamente no maior consumo de por 27 % do total de hortaliças importadas
hortaliças. Desse modo, nas famílias onde em 2007.
a renda mensal é superior a R$ 3.000,00, o
consumo médio anual de hortaliças é de Novas fronteiras de produção e im-
42 kg por pessoa. Já entre as famílias com pacto de novas tecnologias
renda de até R$ 400,00 por mês, o consumo
por pessoa cai para 15,7 kg/ano. A título de A produção de hortaliças nos últimos
comparação, o consumo anual médio por 20 anos expandiu-se para novas fronteiras,
pessoa na Itália é de 157,7 kg, nos Estados tais como a Chapada Diamantina, BA, São
Unidos 98,5 kg e em Israel 73,0 kg. A pes- Gotardo, MG e Cristalina, no cerrado goia-
quisa detectou também que o consumo de no. Essas novas fronteiras reúnem vantagens
hortaliças é maior nas áreas urbanas do que competitivas relevantes: clima favorável,
nas áreas rurais e aumenta com a idade e topografia adequada à mecanização,
com a escolaridade das pessoas. custo menor da terra em comparação ao
A pesquisa POF-IBGE (2002-2003) mostrou de das zonas tradicionais de produção, como
forma clara que o consumo de hortaliças São Paulo, e a fixação de produtores com
anual nas regiões Sul (40,2 kg per capita) e maior nível tecnológico e de gestão agrí-
Sudeste (32,7 kg per capita), em média, é cola. Outras características inerentes aos
aproximadamente 60 % superior à média empreendimentos olerícolas dessas novas
das regiões Norte (18,9 kg per capita), Nor- zonas de produção são a intensa utilização
deste (22,3 kg per capita) e Centro-Oeste de tecnologia e insumos modernos, como
(23,4 kg per capita). cultivares híbridas de alto potencial produ-
tivo, que maximizam a produtividade das
Perfil do consumidor hortaliças cultivadas. A rigor, a adoção de
tecnologia mais eficiente tem proporciona-
O perfil do consumidor de hortaliças, so- do significativos ganhos de produtividade
bretudo, nos grandes centros de consumo, nos principais cultivos em relação às médias
vem se tornando cada vez mais exigente nacionais, destacando-se o alho (18 t/ha),
em termos de qualidade e aspectos nutri- a batata (50 t/ha), a cebola (70 t/ha), a ce-
cionais. Por sua vez, a expectativa do con- noura (60 t/ha) e o tomate industrial (120 t/
sumidor de encontrar produtos frescos e ha).
comprá-los em lugar confiável, com mais A preocupação com a sustentabilidade
conforto e flexibilidade de horário tem ex- ambiental, no entanto, tem incentivado os
ercido marcada influência na dinâmica de produtores ao uso racional de agrotóxicos
distribuição dos produtos. e de sistemas de irrigação mais eficientes
O interesse dos consumidores por novidades quanto ao consumo de água, como o
na área alimentar, tem contribuído para gotejamento, em relação ao sistema por
que o mercado de hortaliças se estruture aspersão por pivô central, predominante
em vários segmentos com destaque para nessas áreas.
as hortaliças não-tradicionais, minimam-
ente processadas, supergeladas, congela- Transformações na comercialização
das, conservadas e orgânicas. Com efeito, e nos canais de distribuição
hoje, as gôndolas dos supermercados e dos
varejões ofertam produtos com variações As mudanças que vêm ocorrendo nos
ao padrão tradicional quanto ao tamanho, setores de distribuição e comercialização
formato e cor. têm desafiado todos os elos da cadeia prod-
utiva de hortaliças. Do lado da demanda,
Comércio exterior os consumidores mostram-se cada vez mais
exigentes, interessados em produtos com
A participação do Brasil no mercado qualidade e sempre disponíveis nos pontos
mundial de hortaliças é ainda pouco signifi- de venda. Do lado da oferta, as grandes
cativa e está restrita a um número limitado redes de supermercado, que detém hoje
de espécies. Destacam-se em volume ex- mais de 60% da comercialização de produ-
portado, melão, pimentas e pimentões, to- tos hortícolas nos grandes centros urbanos
mate, melancia e gengibre. O valor total do país, têm dificuldade em alinhar de-
exportado em 2997 alcançou US$ 240,6 mil- manda e oferta. Isso decorre de problemas
hões enquanto as importações totalizaram relacionados, principalmente, à logística e
Nosso Alho 37
à qualidade. Por conta disso, as grandes itação do pessoal técnico envolvido com a
redes de supermercado abandonaram o produção de hortaliças dos setores privado
sistema tradicional de suprimento de produ- e público, incluindo os extensionistas agríco-
tos hortícolas, por meio das centrais de las, para fazer frente ao fluxo contínuo de
abastecimento e estabeleceram centrais lançamento de novos insumos e tecnologias
próprias de compras onde a aquisição dos disponibilizadas para o segmento produtivo
produtos é feita diretamente de produtores de olerícolas.
rurais e atacadistas especializados. As ca-
deias de suprimentos, que optaram pela
distribuição por meio das centrais de com- No mês de outubro, a Associação
horticultura

pras de grandes redes de auto-serviço têm Brasileira da Batata – ABBA, realizou o en-
apresentado melhor desempenho competi- contro nacional da batata, em Uberlân-
tivo do que a distribuição por meio das cen- dia – MG. Nesse encontro, o presidente da
trais de abastecimento tradicionais.
ABBA, Kenji Okamura, convidou a Anapa
Desafios para o futuro e o representante da tomaticultura, sr. Ed-
son Antônio Trebeschi para participar do
Os desafios do setor que ense- encontro e falar das particularidades de
jam ações de curto/médio prazos são os suas culturas e os problemas que enfren-
seguintes: tam. A idéia do presidente da ABBA é unir
Acelerar o processo de registro de agro- os produtores de hortaliças em uma única
químicos modernos para as hortaliças con- associação que os represente. Segundo
sideradas de suporte fitossanitário insufi- Trebeschi eles chegaram à conclusão de
ciente (“minor crops”); que a produção de hortaliças tem uma
Compatibilizar a expansão da produção importância social e econômica muito rel-
nas novas fronteiras de produção com o evante. Sem desconsiderar a importância
mínimo de impacto ao meio ambiente; do setor de grãos, Trebeschi explicou que a
Desenvolver ações que contribuam relação do custo de produção de 1 hectare
para o incremento das exportações de hor- de tomate estaqueado (para consumo in
taliças in natura e processadas; natura), é equivalente a aproximadamente
Redução das perdas pós-colheita por meio 30 hectares de soja. Outro dado, segundo
de embalagens alternativas às caixas de ele, é que a demanda por mão-de-obra na
madeira e tecnologias de conservação cultura do tomate é de 4 pessoas/hectare,
pós-colheita; trabalhando diretamente e mais 4 indire-
Incentivar o setor produtivo a desen- tamente. A distribuição de renda é muito
volver maior senso de organização empre- maior do que na produção de soja.
sarial, ampliando suas competências em Além do tomate, o alho é a cultura
termos de conhecimentos, atitudes, ha- que mais emprega mão de obra. São qua-
bilidades, valores e na implementação de tro empregos diretos e mais seis indiretos
programas de promoção e marketing do
em toda cadeia produtiva. A exigência
agronegócio de hortaliças bem como na
gestão eficiente e eficaz dos recursos da de qualificação para quem trabalha no
propriedade; ramo é muito baixa, por isso a importância
Fortalecer os papéis da pesquisa e dessa mão de obra. Seria muito mais difícil
da extensão rural como instrumentos poten- para esse trabalhador encontrar emprego
cializadores da melhoria de toda a cadeia, em outro setor. Dada essa importância os
garantido a sua competitividade e sustent- representantes das três culturas conclu-
abilidade enquanto atividade inserida no iram que é fundamental que esses setores
agronegócio brasileiro de grande alcance se unam. Segundo Rafael Corsino, presi-
econômico e social; dente da Anapa, ainda faltam os diálogos
Alavancar o consumo de hortaliças com o setor da cebola e da cenoura para
por meio da articulação de esforços entre completar o grupo e definir os parâmetros
governo, setor privado e organizações civis, da instituição que poderá lidar em con-
Nosso Alho

inclusive organizações de consumidores. Os junto com questões trabalhistas, tributárias


benefícios advindos de ações de incentivo e ambientais, por exemplo. Para Corsino, o
ao consumo de hortaliças e frutas abran- encontro em Uberlândia serviu para a per-
gem da redução de despesas com planos cepção de que a melhor alternativa para
de saúde privados e dos sistemas públicos solucionar vários problemas que envolvem
de previdência social, à ampliação da a produção de hortaliças é a união de todo
produção com reflexos positivos sobre to- seu setor produtivo.
dos os elos da cadeia produtiva;
Aumentar os investimentos na capac-
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