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APOLOGIA DO CRIME OU
CRIMINOSO

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60.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O crime está assim definido no art. 287 do Código Penal: “fazer, publicamente,
apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. A pena é detenção de três a seis
meses,ou multa.

O bem jurídico protegido é a paz pública, a segurança e a tranqüilidade das pessoas


da comunidade.

Sujeito ativo é qualquer pessoa que realiza a conduta típica. Sujeito passivo é o
Estado, a coletividade.

60.2 TIPICIDADE

60.2.1 Conduta e elementos do tipo

Apologia é o elogio, o louvor, o enaltecimento de alguma coisa, fato, acontecimento


ou pessoa. Fazer apologia é elogiar, enaltecer, louvar ou transmitir por meio da
manifestação concreta do pensamento referência positiva de um determinado fato ou de
uma pessoa.

Pode ser realizada através da palavra oral ou escrita ou ainda por meio de gestos,
símbolos ou outras inequívocas manifestações do pensamento, como a criação de obras de
arte, especialmente a pintura.

A conduta é típica quando o agente elogia um fato criminoso ou enaltece o autor de


um crime enquanto tal.
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

A norma refere-se a fato criminoso; de conseqüência só há crime quando o agente


elogia determinado acontecimento que se ajusta a um tipo legal de crime. Um fato
criminoso realmente ocorrido e não um crime abstratamente considerado. É necessário
que o agente teça comentários elogiosos ou enaltecedores da ação criminosa realizada por
alguém, ainda que a seu autor não se refira e desde, entretanto, que fique claramente
demonstrado o elogio feito ao acontecimento.

Não há crime se o fato diz respeito a uma contravenção penal, podendo ser
qualquer fato criminoso, tipificado no Código Penal ou em qualquer lei especial, doloso ou
culposo. Se é verdade que não é possível incitar indiretamente alguém a praticar um crime
culposo, não menos certo é que, ao fazê-lo, há, implicitamente, elogio à conduta negligente,
o que, induvidosamente, pode excitar a realização de conduta semelhante.

Também há crime quando o elogio recai sobre o autor de determinado crime, pela
razão de tê-lo cometido, não por qualidades outras que possa ter. Na manifestação do
agente deve restar demonstrado que o elogio é feito à pessoa do delinqüente enquanto
autor de determinado crime em razão do fato por ele praticado e não pelo que ele seja ou
pelo que o agente dele pensa enquanto cidadão ou ser humano. Não há crime quando se
elogia o autor de crime como pai de família, cidadão honrado e trabalhador ou cumpridor
de seus deveres.

A apologia do crime é incriminada porque a lei vê, nela, uma forma indireta de
incitar a prática de crime, em razão do perigo de provocar nas pessoas que a presenciam
um estímulo a seguir também os passos do que cometeu um crime ou a repetir um
acontecimento criminoso elogiado.

O fato criminoso não precisa ter sido previamente julgado, nem se exige trânsito em
julgado de sentença condenatória em relação a ele e nem tampouco ao autor de crime.
Todavia, se o fato tiver sido definitivamente julgado, com a absolvição do agente por ter
agido licitamente, por legítima defesa, estado de necessidade ou qualquer outra
descriminante real, a apologia não será nem de fato criminoso, nem de autor de crime,
porque aí o elogio se dará em relação a um fato lícito ou a uma pessoa que agiu segundo o
Direito. Não haverá, pois, tipicidade.

Só há crime quando o pensamento é manifestado publicamente, em lugar onde haja


um número indeterminado de pessoas, aberto e acessível a qualquer ouvinte. Todavia, não
há necessidade que se demonstre a real existência do perigo criado pela conduta, porque o
crime é de perigo abstrato, absolutamente presumido pela norma.
Apologia do Crime ou Criminoso - 3

É crime doloso. O agente deve estar consciente de que se refere a fato criminoso ou
a autor de crime e agir com vontade livre de elogiá-lo, enaltecê-lo em local público e na
presença de indeterminadas pessoas. Se não sabe que se encontra em público, crime não
haverá. Quando o agente, em lugar fechado, realiza a conduta e, em razão dela, vem
alguém a cometer crime de mesma espécie do que foi elogiado, poderá se reconhecer,
desde que se demonstre inequívoco nexo causal, a participação, por induzimento, no crime
praticado pelo que ouviu o elogio.

60.2.2 Consumação e tentativa

O crime estará consumado no instante em que um número indeterminado de


pessoas presencia a manifestação do pensamento do agente, tomando, pois, ciência do
elogio feito ao fato criminoso ou ao agente de crime. A tentativa é possível se, após iniciar
sua peroração, o agente é interrompido antes de começar a expressão da apologia, ou
quando, fazendo-o por meio escrito, não chega ela ao conhecimento das pessoas.

60.2.3 Concurso de crimes e conflito aparente de normas

Há crime único se num mesmo contexto o agente faz, simultaneamente, a apologia


do fato criminoso e de seu autor. Se, porém, promove elogio a mais de um fato criminoso
ou a mais de um autor de crime, haverá concurso formal de crimes.

A apologia de fato criminoso ou de autor de crime feita pelos meios de


comunicação, jornais, rádio ou televisão é fato regido pela Lei nº 5.250/67, a Lei de
Imprensa, que no § 2º do art. 19 a tipifica, punida com detenção, de três meses a um ano,
ou multa.

A apologia de fato criminoso definido na Lei de Segurança Nacional é punida com


detenção, de um a quatro anos, pelo art. 22, IV, da Lei nº 7.170/83.

60.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A competência, tratando-se da


forma típica do Código Penal, é do juizado especial criminal, possível a suspensão
condicional do processo penal.

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