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Pedagogia
Licenciatura em
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 1
Maria Odete Vieira Tenreiro
Maria Virgínia Bernardi Berger
Neiva de Oliveira Moro
Priscila Larocca
Colaboradores em EAD
Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
■■ seção 2-A PSICOLOGIA HUMANISTA DE CARL ROGERS: UMA CONCEPÇÃO IDEALISTA DO SUJEITO E
SUAS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS 47
■■ seção - A ÊNFASE NOS FATORES BIOLÓGICOS: O INATISMO NA PSICOLOGIA E SUAS IMPLICAÇÕES
EDUCACIONAIS 53
Prezado aluno
Organizamos este livro com a preocupação de oferecer
a você, futuro professor, os subsídios mais relevantes da área de
conhecimento da Psicologia da Educação, compreendendo que
estes devem possibilitar a você uma adequada compreensão
dos referenciais teóricos desta importante área da formação de
professores, bem como uma leitura competente e crítica de suas
implicações para a prática pedagógica.
Contudo, é preciso ter em mente que o estudo que você fará
deste livro não esgota todas as possibilidades de interpretação e
compreensão da realidade fornecidas pela área da Psicologia da
Educação. Esta é uma área muito densa e bastante diversificada em
termos de suas contribuições, deste modo estamos conscientes de que
as leituras aqui apresentadas não esgotam as necessidades de uma
formação docente com qualidade. Assim, você deverá complementar
seus estudos por meio de outras leituras que procuramos apontar
logo após os textos e nas referências bibliográficas.
Este livro foi concebido segundo um eixo em que posicionamos
as diferentes perspectivas teóricas da Psicologia da Educação a
partir de um critério epistemológico: contribuições que enfatizam
o sujeito, contribuições que enfatizam o objeto do conhecimento e
contribuições que vêem sujeito e objeto de modo interativo. Após
desenvolvermos essas contribuições dedicamos uma especial
atenção ao estudo da inclusão e da adolescência, uma vez que seus
alunos no ensino fundamental e médio serão adolescentes e jovens
que certamente retratarão a diversidade cultural, individual e social
que temos em nosso contexto.
Com este modo de organizar os conteúdos sugerimos a
necessidade de superar a visão dicotômica e parcelada da Psicologia
da Educação, tantas vezes criticada pelos estudos educacionais.
Trazemos neste livro sete unidades de estudo.
Na Unidade I tratamos de aspectos históricos da Psicologia,
da sua relação com a Educação e da diversidade de correntes
teóricas que fundamentam o conhecimento hoje existente, bem
como da utilização do critério epistemológico para a sua análise.
Na Unidade II tratamos do desenvolvimento e da
aprendizagem na perspectiva das teorias que enfatizam o objeto
(Comportamentalismo) e das teorias que enfatizam o sujeito
(Humanismo e Inatismo).
Nas Unidades III, IV, e V apresentamos os conceitos
e proposições das concepções interacionistas, através das
contribuições teóricas de Piaget, Vygotsky e Wallon.
A Unidade VI aborda o tema da inclusão e como Piaget e
Vygotsky se posicionam a esse respeito. A Unidade VII dedica-
se ao estudo da adolescência, fase peculiar do desenvolvimento
humano e na qual se encontram os alunos dos anos finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio.
Com o propósito de refletir sobre a educação que temos e
consubstanciar intervenções de qualidade na prática educacional,
convidamos você a adotar uma atitude positiva para construir um
caminho que o leve não só a atingir os objetivos que propomos, mas
a compreender que, para ser educador, é preciso estar atento a tudo o
que acontece ao ser humano em seus processos de desenvolvimento
e de aprendizagem.
Desejamos que o estudo deste livro fortaleça o seu propósito
de tornar-se professor, amplie sua visão do ser humano e seja um
alicerce para a sua compreensão da educação e da necessidade de
transformá-la.
Bom proveito!
Maria Odete Vieira Tenreiro
Maria Virgínia Bernardi Berger
Neiva de Oliveira Moro
Priscila Larocca
OBJETIVOS E ementa
Este material é fundamentado na área de conhecimento da Psicologia
da Educação. Ao finalizar seus estudos, pretendemos que você seja capaz
de:
Objetivos
■■ Compreender a evolução histórica da Psicologia, os campos de contribuição
da Psicologia da Educação, as diversas teorias e a necessidade do uso do critério
epistemológico para analisá-las.
■■ Identificar os principais conceitos e implicações das teorias comportamental,
humanista e inatista.
■■ Explicitar e diferenciar as principais contribuições sobre desenvolvimento e
aprendizagem na perspectiva de Piaget, Vygotsky e Wallon.
■■ Ampliar a compreensão sobre a educação inclusiva a partir das contribuições
teóricas de Piaget e Vygotsky.
■■ Compreender o significado evolutivo da adolescência e seus aspectos
psicossociais e culturais.
■■ Caracterizar as mudanças físicas, cognitivas, afetivas e sociais que ocorrem
nessa fase.
■■ Refletir sobre o seu papel de educador face à problemática do adolescente
quanto à sexualidade, escolha profissional e drogas.
Ementa
UNIDADE I
Psicologia da Educação
e Educação: Aspectos
Históricos, Campos de
Contribuição e a Diversidade
de Enfoques
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Compreender a construção histórica da Psicologia, sua relação com os
questionamentos sobre a constituição humana e suas contribuições para a
Educação.
■■ Reconhecer que o estatuto científico da Psicologia depende da contínua
investigação de seu objeto de estudo, da elaboração e aperfeiçoamento de
métodos e técnicas de pesquisa, bem como de raciocínios teóricos próprios.
■■ Identificar a consciência como objeto de estudo da ciência psicológica.
■■ Explicar a diversidade de teorias psicológicas a partir da relação sujeito/
objeto na construção do conhecimento psicológico.
■■ Analisar a Psicologia da Educação como área que contribui para as
práticas pedagógicas a partir dos conhecimentos sobre desenvolvimento e
aprendizagem.
■■ Identificar na prática pedagógica docente as principais correntes teóricas da
Psicologia.
■■ Compreender a diversidade teórica como constitutiva da Psicologia da
Educação.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Aspectos históricos da construção da Psicologia e de sua relação
com a Educação
Prezado cursista
Desde o final do Século XIX até os dias atuais, a área de
conhecimento denominada Psicologia da Educação vem se construindo
progressivamente a fim de responder à necessidade de fazer um elo entre
conhecimentos advindos da ciência psicológica e a teoria e a prática
educacionais.
Ao longo desse processo construtivo, diferentes tentativas se
sucederam: pesquisas foram realizadas, teorias elaboradas e práticas
repensadas, tendo em vista contribuir para as necessidades formativas
de professores e educadores, para que estes venham, ao atuarem na
educação, melhor compreender e intervir em situações complexas com
as quais se deparam dia após dia.
Contudo, ao nos confrontarmos com as questões educacionais, não
devemos imaginar que a Psicologia da Educação possa assegurar respostas
prontas ou soluções imediatas para o campo da prática educativa. A ação
educacional é de natureza interdisciplinar, o que supõe que a Psicologia
da Educação nunca estará sozinha na compreensão da Educação, pois
partilha responsabilidades com outras áreas de conhecimento, como, por
exemplo, a Sociologia, a História, a Economia, a Filosofia, a Política, a
Didática, a Metodologia, entre outras.
Além disso, a Psicologia da Educação abrange um amplo campo
de contribuições teóricas sobre diferentes objetos de estudo, que ora
convergem, ora divergem, exigindo o estudo constante, a reflexão
aprofundada e o desenvolvimento de uma condição crítica que respeite
as diferentes perspectivas e esteja atenta para as alternativas disponíveis,
indagando, investigando conflitos, procurando respostas e perguntando
sempre sobre as possibilidades de melhorar o que já existe.
É com esse intuito que, ao iniciarmos o estudo desta unidade – A
relação Psicologia e Educação: aspectos históricos, campos de contribuição
e a diversidade de enfoques - visamos trazer a você, futuro professor,
conteúdos importantes para seus estudos e reflexões.
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unidade 1
Psicologia da Educação
seção 1
Aspectos históricos da construção da
Psicologia e de sua relação com a Educação
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 1
Psicologia da Educação
(FRANCISCO FILHO, 2002).
Locke não admitia a existência de idéias inatas, pois, para ele,
todo conhecimento tem base empírica, ou seja, é adquirido por meio
da experiência. Ele distinguia dois tipos de experiências: uma derivada
da sensação e outra da reflexão. O primeiro tipo – a sensação - vem
da estimulação direta causada pelos objetos exteriores, que causam
impressões sensoriais simples. O segundo tipo – a reflexão – supõe que a
mente também age sobre as sensações que recebe, gerando idéias. Todavia,
para Locke a reflexão depende sempre de idéias já experimentadas através
dos sentidos.
Locke também fazia distinção entre idéias simples e complexas.
As idéias simples podem se originar nas sensações ou nas reflexões,
mas serão sempre recebidas de maneira passiva pela mente. As idéias
complexas são formadas pela combinação das idéias simples e podem ser
decompostas em unidades menores para serem analisadas.
Tais contribuições de Locke viriam, mais tarde, a compor a base das
teorias associacionistas da Psicologia. Segundo Schultz e Schultz (1998,
p.46),
A associação é um nome mais antigo para o
processo que viria a ser chamado de aprendizagem.
A redução, ou análise da vida mental a elementos
ou idéias simples e a associação desses elementos
para compor idéias complexas formaram o núcleo
da nova psicologia científica.
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 1
Psicologia da Educação
Wilhelm Wundt (1832-1920)
Wundt é considerado o fundador da Psicologia como uma disciplina
acadêmica formal. Para estudar cientificamente os processos mentais, ele
criou o primeiro laboratório de Psicologia Experimental na Universidade
de Leipzig, Alemanha. Influenciado pelas idéias dos empiristas e também
pelo trabalho dos fisiologistas e dos físicos, Wundt dedicou-se aos estudos
sobre a experiência consciente e seus elementos.
Uma vez iniciada, por Wundt, a construção de uma identidade Wundt definiu a
própria para a Psicologia, a evolução do conhecimento na área passou consciência como
objeto de estudo
a depender do desenvolvimento de maneiras cada vez mais precisas e da Psicologia.
rigorosas para tratar do seu objeto de estudo. A partir daí, a Psicologia Para estudá-
la utilizou-se
caminhou no sentido de desenvolver cada vez mais métodos e técnicas do método da
de pesquisa, bem como raciocínios teóricos próprios. introspecção, em
que os sujeitos
participantes dos
1.3. A Psicologia e a constituição do sujeito experimentos
descreviam suas
Conforme já vimos, a Psicologia, desde os seus primeiros momentos, experiências
sempre procurou entender o que faz o homem ser o que ele é. Em outras interiores. Um de
seus alunos em
palavras, a pergunta básica que guiou a elaboração de todo o pensamento Leipzig, Titchener
na Psicologia reside na questão: (1867-1927), viria
a desenvolver
pesquisas nessa
Como nos constituímos sujeitos? mesma direção
nos Estados
Foi na tentativa de responder a essa pergunta básica que os estudiosos Unidos.
de Psicologia construíram hipóteses, formularam teorias, criaram métodos
e técnicas de investigação. Alguns levantaram suposições de que é a nossa
natureza que oferece as possibilidades para a constituição do sujeito,
passando a pesquisar e formular teorias que colocaram a ênfase em
fatores internos como a hereditariedade e a maturação biológica. Outros
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Universidade Aberta do Brasil
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Psicologia da Educação
“Na Índia, onde os casos de meninos-lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920,
duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e
meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham
nada de humano, e o seu comportamento era exatamente semelhante àquele dos seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e
sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé. Só
se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para
a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas
e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como
lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se
lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um
vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que
cuidaram dela e às outras com as quais conviveu.
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras
de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.” (Texto extraído de DAVIS e
OLIVEIRA, 1990, p.16)
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Universidade Aberta do Brasil
ORGANISMO MEIO
NATUREZA CULTURA
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Psicologia da Educação
Após a leitura da Seção 1, faça as seguintes atividades no espaço reservado para as suas anotações:
1. Responda:
a) Podemos dizer que a Psicologia remonta aos antigos filósofos? Por quê?
c) Que tipo de perguntas os homens fizeram desde os seus primórdios, que estão na base do
conhecimento de psicologia?
d) Wundt é considerado o fundador da Psicologia Científica. Faça uma síntese sobre ele e suas
idéias.
2. No quadro abaixo, complete com as idéias centrais dos filósofos que influenciaram o nascimento da
Psicologia:
DESCARTES LOCKE KANT
3. Faça um relato do caso de Amala e Kamala com suas palavras, explicando a importância do convívio
social para os seres humanos.
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Universidade Aberta do Brasil
seção 2
Campos de contribuição da Psicologia na
Educação
SUJEITO SUJEITO
SUJEITO OBJETO DO CONHECIMENTO
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Psicologia da Educação
Dizemos que a Educação é uma prática social multifacetada porque a prática educacional é um espaço
contraditório, atravessado por condicionantes históricos, sociais, culturais, políticos, individuais. Sendo
assim, situamos a Psicologia como um recurso para nossas reflexões e tomadas de decisões. Isso
requer que ultrapassemos a visão simplista que acredita ser possível aplicar linearmente teorias e
técnicas emanadas da ciência psicológica na prática educacional cotidiana como se isso, por si só,
garantisse o alcance de determinados resultados.
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Psicologia da Educação
Sendo assim, uma questão fundamental interessa aos educadores e
pode ser traduzida na seguinte pergunta: - Como podemos favorecer, por
meio da nossa ação educativa, o processo de desenvolvimento de funções
psicológicas superiores?
Ao formularmos esta questão, compreendemos que o processo
de desenvolvimento humano está fortemente inter-relacionado com os
processos educativos.
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Psicologia da Educação
Após a leitura da Seção 2, faça as seguintes atividades no espaço reservado para as suas anotações:
seção 3
A diversidade de enfoques da Psicologia na
Educação e o uso do critério epistemológico
para sua análise
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Psicologia da Educação
Alguns estudiosos designam as teorias de acordo com as dimensões
do humano com as quais as teorias operam. Por exemplo, teorias
cognitivistas são aquelas teorias cujo objeto situa-se no âmbito da
cognição (intelecto); teorias comportamentalistas possuem objetos de
estudo situados na dimensão do comportamento humano.
Então, podemos utilizar variadas maneiras para designar as teorias
psicológicas. Cada uma dessas maneiras representa um critério que foi
tomado por alguém para classificá-las. Neste fascículo, tomamos o critério
epistemológico e das relações homem-sociedade para proceder a uma
classificação das teorias que mais adiante você vai estudar. Passemos,
agora, a tentar compreender este tipo de critério.
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Psicologia da Educação
As teorias interacionistas partem do pressuposto de que os fatores
internos ao sujeito e a realidade do objeto, tanto como o homem e a
sociedade, se influenciam mutuamente. Essa interação traz mudanças
para ambos. O interacionismo diverge então do subjetivismo porque este
não considera o papel do ambiente sobre o sujeito. Da mesma maneira
diverge do objetivismo pela desconsideração deste quanto ao papel do
sujeito e de suas estruturas biológicas.
Para os interacionistas, aprendizagem e desenvolvimento são
processos construídos durante toda a vida. Isso supõe que nenhum
indivíduo está pronto ao nascer, ou seja, totalmente submisso às pressões
externas exercidas pelo meio. É por isso que dizemos que a postura
interacionista se apresenta como superação das demais, especialmente
se considerarmos que estas concepções trazem implicações para o modo
como vemos e assumimos a prática pedagógica.
Nesta unidade, você estudou a respeito da construção da Psicologia e suas relações com
a Educação. Constatou que mesmo antes de a Psicologia se constituir como ciência, os filósofos já
faziam questionamentos acerca da natureza e da conduta humana. Mas, somente no Século XIX,
Wundt possibilitou à Psicologia ser reconhecida como ciência. Para isso, foi necessária a formulação
de teorias e de métodos de investigação científicos.
A Psicologia evoluiu como a ciência da consciência humana, sempre procurando entender o
que faz o homem ser o que ele é. Para responder a essa questão, formulou diferentes explicações que
ora se situavam na natureza humana, ora na cultura, evoluindo progressivamente para uma perspectiva
de interação entre natureza e cultura, sujeito e objeto, homem e sociedade.
Em seu processo construtivo, a Psicologia formulou uma pluralidade de teorias, cada qual se
debruçando sobre dado objeto de estudo para entender o humano.
As teorias da Psicologia são imprescindíveis para compreender a Educação, uma vez que a
prática educativa vivenciada no complexo cotidiano das escolas não pode abrir mão das contribuições
da Psicologia para compreender as relações sujeito-sujeito e sujeito-objeto do conhecimento. Nesse
sentido ganham importância os conhecimentos sobre Aprendizagem e Desenvolvimento.
Aprendemos juntos, portanto, que a Psicologia da Educação é uma área de conhecimento
que utiliza conclusões obtidas pela ciência psicológica em assuntos que interessam à intervenção e à
pesquisa de questões relacionadas às pessoas em situações educativas.
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Após a leitura da Seção 3, faça as seguintes atividades no espaço reservado para as suas anotações:
1.Analise se a afirmação abaixo está certa ou errada. Em seguida, traga argumentos que justifiquem
sua resposta:
“A Psicologia da Educação é um campo homogêneo de conhecimentos, caracterizado pela unidade
teórica”.
2.Tomando por base o critério epistemológico e das relações homem-sociedade, responda qual a idéia
principal que caracteriza:
a) as concepções subjetivistas:
b) as concepções objetivistas:
c) as concepções interacionistas:
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Psicologia da Educação
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UNIDADE II
Psicologia da Educação
O Desenvolvimento e a
Aprendizagem: Teorias que
Enfatizam o Sujeito e Teorias
que Enfatizam o Objeto
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Caracterizar as implicações pedagógicas da teoria comportamentalista no
trabalho docente.
professor/aluno.
abordagem inatista.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O Comportamentalismo na Psicologia, sua ênfase no mundo
implicações educacionais
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Psicologia da Educação
seção 1
O Comportamentalismo na Psicologia, sua
ênfase no mundo exterior ao sujeito e suas
implicações educacionais
BEHAVIOR = COMPORTAMENTO
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Psicologia da Educação
a comida era apresentada, a campainha tocava. Após várias repetições
dessa apresentação conjunta do alimento e campainha, Pavlov observou
que a saliva do cão escorria simplesmente quando este ouvia o som da
campainha, verificando-se, portanto, que o som substituiu o efeito do
estímulo natural (comida), tornando-se capaz de produzir a salivação,
que passou a ser, então, uma resposta condicionada.
Podemos definir
condicionamento reflexo
como aquele que abrange
reações naturais do
organismo frente a estímulos
específicos; ou seja, respostas
são provocadas frente a
determinados estímulos.
Os fatores que influem para o condicionamento reflexo são a
simultaneidade (do estímulo natural e estímulo artificial) e a repetição
dessa apresentação. As respostas que passarão a ser dadas diante do
estímulo artificial são as respostas condicionadas.
Na perspectiva do Condicionamento Reflexo, a aprendizagem é
a “aquisição de uma reação pela substituição de estímulos naturais por
estímulos neutros, que se tornam condicionados, pela sua ocorrência
simultânea ou contígua aos primeiros (CAMPOS, 1986, p.187).
Embora entendida como aprendizagem pelos behavioristas, e
estendida da psicologia animal para a psicologia humana, podemos notar
que a aquisição da reação reflexa condicionada nada mais é que uma
forma cega de mudança de comportamento, que difere substancialmente
de uma aprendizagem voluntária que se dá mediante a atividade mental
do aprendiz.
Contudo, percebemos que, em nossa vida cotidiana, adquirimos
muitos condicionamentos. Por exemplo: uma criança toma uma injeção
dolorosa dada por uma enfermeira vestida de branco e passa a chorar
sempre que vê alguém vestido de branco. A criança que ouve a mãe dizer
“não” quando se aproxima do fogão tende a evitar aproximar-se do mesmo.
De igual maneira, muitas das nossas atitudes, gostos, repugnâncias,
hábitos e sentimentos que vivenciamos como adultos são adquiridos pela
via do condicionamento reflexo.
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 2
Psicologia da Educação
Ou seja, o elogio foi um estímulo posterior à resposta de fazer os deveres
e aumentou a probabilidade de essa criança fazê-los. Esse estímulo
posterior à resposta foi chamado por Skinner de reforço.
Podemos, então, conceituar reforço como: evento que segue à resposta e aumenta a probabilidade
de sua ocorrência.
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Universidade Aberta do Brasil
Na
Assim, na perspectiva ambientalista a aprendizagem é a modificação
perspectiva do do comportamento observável em função da experiência, considerando-se
condicionamento
operante, a
importante analisar rigorosamente a relação entre os estímulos presentes
aprendizagem e as contingências do meio sobre a conduta humana, de modo a permitir
é definida como
uma mudança no
a previsão e o controle do comportamento (GUERRA: 1998).
comportamento
observável, ou seja,
uma modificação nas
Implicações educacionais
respostas dadas pelo A abordagem skinneriana do ensino compreende uma tecnologia Contingência é
indivíduo. a relação entre o
educacional condizente e com objetivos comportamentais claramente comportamento e
definidos. os acontecimentos
ambientais que
Do ponto de vista do processo educacional, tal concepção leva a uma influenciam esse
grande valorização dos aspectos técnicos no planejamento, organização comportamento.
e avaliação do ensino e, também, do papel diretivo do professor. Nesse
sentido, o processo de ensino implica o arranjo de contingências de reforço,
pelo professor, eficazes para controlar as respostas a serem dadas pelos
estudantes, levando-os a exercitar ou treinar as habilidades desejadas
e a excluir as indesejadas, através de uma programação minuciosa de
atividades educacionais.
Uma das formas de aplicação do condicionamento operante nas
práticas escolares que teve grande repercussão em nossa educação é a
Instrução Programada.
Veja, a seguir, o que diz Campos (1986, p.197) sobre a
Instrução Programada:
“A instrução programada é um sistema de ensino e
aprendizagem, no qual a matéria preestabelecida
é subdividida em etapas reduzidas, discretas e
cuidadosamente organizadas em uma seqüência
lógica, que pode ser prontamente aprendida
pelos estudantes. Cada etapa organiza-se,
deliberadamente, baseada na que a precedeu.
O aprendiz pode evoluir através da seqüência
de etapas, em seu ritmo peculiar, e é reforçado,
imediatamente, depois de cada etapa; ou se
lhe oferece a resposta correta ou se lhe permite
avançar para a etapa seguinte, depois de registrar
a resposta correta.”
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Psicologia da Educação
Moreira (1983, p.17) esclarece acerca dos princípios básicos que
regem a tecnologia da Instrução Programada. Estes princípios são os
seguintes:
1. Pequenas etapas: a informação é apresentada através de um grande
número de pequenas e fáceis etapas. O uso de pequenas etapas facilita
a emissão de respostas a serem reforçadas e diminui a probabilidade de
cometer erros (segundo Skinner, o erro cometido é aprendido e, portanto,
os erros devem ser minimizados e os acertos maximizados).
2. Resposta ativa: o aluno aprende melhor se participa ativamente
da aprendizagem.
3. Verificação imediata: o aluno apreende melhor quando verifica
sua resposta imediatamente.
4. Ritmo próprio: cada aluno pode trabalhar tão rápida ou lentamente
quanto desejar.
5. Testagem do programa: testagem através da atuação do aluno. Se
a apresentação de algum quadro (frame) não estiver clara, isto se refletirá
nas respostas do estudante.
Os princípios do condicionamento operante tiveram e ainda têm
grande influência nas práticas educacionais, especialmente nas escolas.
O que observamos é que os professores utilizam os princípios do
condicionamento operante mesmo sem ter consciência deles, o que nos
leva a concluir que o condicionamento é uma realidade no interior de
nossas salas de aula.
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Leia com atenção este pequeno texto de Francisco Filho (2002, p.20) sobre o Behaviorismo.
“O Behaviorismo surge nos Estados Unidos com J. B. Watson (1878-1959), considerado fundador
dessa Escola. Propôs abandonar o método introspectivo e dar ênfase ao conteúdo da consciência;
[...]. A preocupação agora passou a ser o comportamento e não os fenômenos mentais. Os cinco
sentidos voltaram a ter importância e os dados observáveis também ficaram em posição privilegiada.
O comportamento podia ser condicionado, criando hábito, através de reforços para fixar o que era
esperado. Até o uso da linguagem foi considerado susceptível de ser condicionado e todos os dados
podiam ser mensurados. A idéia principal era modelar o comportamento, começando por animais em
laboratórios até chegar ao homem.
Do outro lado do mundo, o russo Ivan Pavlov (1849-1936) realizava experiências semelhantes
e suas teorias acabaram sendo a palavra de ordem durante longo período do stalinismo. Pavlov havia
sido agraciado com o prêmio Nobel em 1904 pelos seus trabalhos sobre a fisiologia da digestão. Depois
passou a pesquisar reflexos condicionados. A tarefa de condicionar comportamentos pelos estímulos
deu origem ao chamado Condicionamento Clássico.
Enquanto isso nos EUA, Skinner realizava semelhante trabalho de condicionamento, que
ficou conhecido por Condicionamento Operante.
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No Brasil, o Behaviorismo chegou para ficar durante os governos militares (1964-1985);
através de convênios, os técnicos da USAID aqui estiveram para pregar e implantar a nova teoria. Nestas
terras, a nova teoria foi chamada de tecnicista e as descobertas de Skinner e de Pavlov tornaram-se a
palavra oficial do Ministério da Educação, influenciando, inclusive, as principais leis sobre a educação
brasileira. Lei 5.540/68 para o ensino superior e Lei 5.692/71 para os antigos 1º e 2º. graus.”
Leia também: CAMARA ZACHARIAS, Vera Lúcia. Skinner e o behaviorismo. Centro de Referência
Educacional [online]. Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br acessado em
23/09/2008.
seção 2
A Psicologia Humanista de Carl Rogers: uma
concepção idealista do sujeito e suas implicações
educacionais
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Universidade Aberta do Brasil
Rogers supôs que não podemos ensinar algo diretamente a alguém, podemos apenas facilitar-lhe a
aprendizagem mediante condições e recursos externos. A aprendizagem, então, é um processo auto-
apropriado, que se dá mediante experiências significativas, pessoais, que não podem ser comunicadas
aos outros. Para Rogers, o homem é o arquiteto de si. (LA PUENTE, 1980)
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Psicologia da Educação
• O professor apenas propõe ao aluno estruturas de trabalho
em termos de métodos de estudo, esquemas cognitivos, orientação de
trabalho, etc.
• Essas propostas são apresentadas, porém, como algo falível,
possibilitando uma atividade mais autêntica do aluno.
• O aluno pode solicitar, aceitar, transformar ou recusar as estruturas
indicadas pelo professor.
• O professor ajudará o aluno a encontrar, na sua própria experiência,
o significado do que lhe foi apresentado.
As conseqüências metodológicas que derivam dessa perspectiva
partem do princípio de que métodos e técnicas educacionais devem ser
pensados em favor do mundo pessoal de cada aluno, sem imposições
e dispondo de variedade e riqueza de recursos materiais como livros,
mapas, laboratórios, oficinas e outros, a serem colocados à disposição dos
estudantes.
O uso de técnicas não:
Algumas técnicas não-diretivas são bastante importantes para os
professores quando se visa ao desenvolvimento da responsabilidade
pessoal e da iniciativa do aluno perante seu processo de aprendizagem.
Vejamos algumas:
• O uso de contratos:
O sistema de trabalho por contratos é uma das mais importantes
implicações educacionais da visão rogeriana. O contrato nada mais é
que uma “combinação” entre os alunos e o professor acerca do trabalho
pedagógico a ser desenvolvido e dos níveis de aproveitamento pretendidos.
Para Faria (1987, p.16), o contrato é “uma técnica estruturante da
atividade do aluno, na qual este e o professor entram em um acordo sobre
os conteúdos a serem estudados, o método de trabalho e o sistema de
avaliação”.
• A auto-avaliação:
A auto-avaliação é indicada para desenvolver o sentido de
responsabilidade no aluno perante o seu aproveitamento na aprendizagem.
Ela supõe que o próprio aluno avalie até que ponto alcançou os objetivos
que foram estabelecidos no contrato de trabalho com o professor e se
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Psicologia da Educação
estudantes organizam-se para dramatizar e sentir mais de perto processos
de tomada de decisão, recebimento de informações, dificuldades de
comunicação, relações interpessoais, etc.
• A instrução programada:
Essa técnica tem suas bases no Behaviorismo, porém Rogers
admitia utilizar as instruções programadas para atender a interesses
restritos como, por exemplo, para aprender a utilizar um equipamento. Nos
casos de aprendizagens que exigem criatividade e maior elaboração do
pensamento, Rogers não recomendava o uso da instrução programada.
Outras técnicas como jogos humanistas, treinamentos de
sensibilidade também eram recomendadas por Rogers para facilitar a
aprendizagem.
Métodos não empregados
A psicologia educacional rogeriana tende a refutar os métodos
que não levam em conta os desejos e interesses dos alunos. Assim,
um método tradicional, como é o caso da realização de provas, só será
aceito se os alunos o desejarem. Rogers (1971), citado por Faria (1987),
exemplificou os seguintes métodos comumente não empregados em sua
visão educacional. São eles:
• tarefas de casa;
• aulas expositivas sem solicitação espontânea do grupo de alunos;
• avaliações ou críticas a menos que o aluno o deseje;
• realização de provas obrigatórias;
• responsabilidade exclusiva do professor pela nota do aluno.
51
unidade 2
Universidade Aberta do Brasil
52
unidade 2
Psicologia da Educação
Todavia, não devemos cair no erro de ignorar sua contribuição,
principalmente em referência à recondução para o centro do processo
educativo de quem, verdadeiramente, deve ocupar este lugar: o aluno.
• Leia a obra “Liberdade para aprender”, que é, provavelmente, a mais difundida obra de
Rogers no Brasil. ROGERS, C. R. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1972.
Para conhecer uma biografia de Carl Rogers.
• Acesse http://www.rogeriana.com/biografia.htm publicado na Revista de Estudos Rogerianos
“A Pessoa como Centro”, nº. 3, Primavera-Maio 1999.
• Em 2004 foi publicado na Revista Escola um artigo interessante sobre Carl Rogers e a
Educação. Acesse: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0172/aberto/mt_87186.shtml
Mediante as questões apresentadas sobre Rogers, explique qual a atitude do professor rogeriano.
seção 3
A ênfase nos fatores biológicos: o inatismo na
Psicologia e suas implicações educacionais
53
unidade 2
Universidade Aberta do Brasil
Segundo Fontana e Cruz (1998), verificamos a Idade Mental (IM) pelo número de tarefas de um teste
que o sujeito consegue fazer. Há tarefas atribuídas, por exemplo, às crianças que têm dez anos. Quando
uma criança consegue resolvê-las todas, diz-se que tem IM de dez anos, independentemente da
verdadeira idade. A obtenção do Quociente de Inteligência (QI) se dá pela divisão entre IM multiplicada
por 100 e Idade Cronológica (IC). Quando a IM for igual à IC o resultado será sempre 100. Deste modo,
100 é o número que faz o limite entre um QI abaixo da média (menor que 100) e um QI acima da média
(maior que 100).
54
unidade 2
Psicologia da Educação
Análise crítica do inatismo
Do ponto de vista crítico, podemos dizer que o cálculo da idade
mental e do quociente de inteligência, através de testes psicológicos,
propiciou o entendimento equivocado de que a inteligência era um
atributo fixo, geneticamente determinado. Com isso, restava à educação
pouco ou nada a fazer, diante do que já estava dado biologicamente ao
sujeito. À Psicologia caberia quantificar e classificar os indivíduos de
acordo com esses atributos inatos. A educação, em decorrência, devia ser
oferecida de modo condizente às capacidades mentais e aptidões naturais
de cada indivíduo. Diz Guerra (1998, p. 34): “Como se acreditava na
predestinação das capacidades, entendia-se que pouco ou nada poderia
ser modificado pela ação educativa”.
Patto (1987) dirigiu algumas críticas a essa psicologia, explicando
que o sucesso obtido, em virtude da mensuração das capacidades humanas,
não foi casual, pois realizava o sonho da sociedade industrial capitalista de
selecionar os mais aptos, distinguindo-os dos menos aptos, em relação às
necessidades produtivas dessa mesma sociedade. A psicologia, sob essas
premissas, converteu-se em ideologia, pois propiciou o aval científico
capaz de explicar o sucesso de uns e o fracasso de outros, no interior de
uma sociedade que se ergueu com base na premissa da igualdade de
oportunidades.
Guerra (1998, p.34) explica que:
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unidade 2
Universidade Aberta do Brasil
Nesta unidade você estudou as concepções objetivistas, que enfatizam o objeto (realidade),
por entenderem que o indivíduo é determinado pelo meio ambiente, e que são representadas pelas
teorias comportamentais, cujo expoente foi Skinner.
Também estudou concepções subjetivistas, aquelas que priorizam o sujeito e que podem apresentar-
se com um caráter mais idealista, mais filosófico, como na teoria de Carl Rogers, ou com um caráter
inatista, como é o caso da perspectiva de Binet.
Ao fazer uma análise crítica dessas duas tendências epistemológicas (subjetivista e objetivista),
compreendemos que ambas promovem abstrações, ora isolando o sujeito do mundo exterior, ora
priorizando o mundo exterior como se o sujeito em nada contribuísse para a sua constituição.
É necessário, contudo, que você compreenda que essas abordagens são produtos sociais,
historicamente determinados, sendo importante superá-las, mas não ignorá-las, uma vez que estão
enraizadas nos ideários e práticas pedagógicas, bem como nas representações dos educadores sobre
o aluno, o meio e o papel que cabe à escola e à educação.
1. Caro aluno, com base no que você estudou, diga qual o papel da educação na perspectiva inatista.
AUTO-AVALIAÇÃO
2. Organize um quadro e destaque as contribuições e críticas da abordagem rogeriana na educação.
CONTRIBUIÇÕES CRÍTICAS
56
unidade 2
Psicologia da Educação
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unidade 2
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Universidade Aberta do Brasil
unidade 2
UNIDADE III
Psicologia da Educação
Epistemologia Genética:
uma Concepção
Interacionista e suas
Implicações Educacionais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Identificar os conceitos fundamentais da epistemologia genética
piagetiana.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Piaget e sua epistemologia genética
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Psicologia da Educação
seção 1
Piaget e sua epistemologia genética
Piaget significa para a inteligência o que Freud
representa para a afetividade. (DOLLE, 1981,
p.09)
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Universidade Aberta do Brasil
62
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Psicologia da Educação
tornam cada vez mais complexas (PIAGET, 1973c).
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Universidade Aberta do Brasil
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Psicologia da Educação
A partir das atividades reflexas, o sujeito irá formar estruturas
mentais para organizar suas sensações e experiências. Fará isso, ao longo
do processo de desenvolvimento, organizando e reconstruindo seus
esquemas.
Como os esquemas e estruturas
mentais são organizados?
A noção de esquema implica,
segundo Delval (1997, p.101): “[...]
uma sucessão de ações, materiais ou
interiorizadas, que têm uma organização
e que são suscetíveis de repetição em
situações semelhantes”. Isso significa
que, ao longo de sua vida, o sujeito exercita
ações através das experiências e, nessa medida, constrói estruturas que
consistem em coordenações ou combinações de esquemas. Dessa forma,
podemos entender os esquemas como unidades básicas da conduta, que
têm um caráter de totalidade e dinamismo, pois se relacionam entre si
formando estruturas – ou seja, formas cognitivas mais estáveis.
A maturação do
a) A maturação refere-se à dimensão orgânica, neurológica, que sistema nervoso
abre novas possibilidades para o desenvolvimento ao acessar novas limita-se a abrir
possibilidades,
estruturas que são desenvolvidas com estas possibilidades. excluídas até certos
Significa que a maturação é uma condição necessária ao surgimento níveis de idade, mas
é preciso atualizá-las,
de certas condutas, porém precisa contar com o reforço do exercício e do o que supõe outras
funcionamento. condições, das quais
a mais imediata é o
Para Piaget exercício funcional
[...] a maturação, no que diz respeito às funções
ligado às ações.
cognitivas – conhecimento – simplesmente
(PIAGET, 1970,
determina a extensão das possibilidades em um
p.37-38)
estágio específico. Não causa a atualização das
estruturas. A maturação simplesmente indica se
65
unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
66
unidade 3
Psicologia da Educação
correspondentes a determinados estágios de desenvolvimento seriam
esperadas. Configura-se como um fator educativo, no sentido amplo.
Segundo o autor, o meio social provoca acomodações ativas dos
esquemas de ação por meio da linguagem, dos conteúdos expressos por
essa linguagem e pelas regras de pensamento que evoluem no decorrer
das trocas com o outro.
Piaget (1973b, p.30) explica que [...] para que uma transmissão seja possível entre o adulto e a
criança ou entre o meio social e a criança educada, é necessário haver assimilação pela criança do
que lhe procuram inculcar do exterior. Ora, essa assimilação é sempre condicionada pelas leis desse
desenvolvimento [...].
Este fator, de processo biológico, faz com que o sujeito regule suas
trocas com o meio e garanta sua sobrevivência. Existindo os outros três
fatores, é necessário que se equilibrem entre si. Para Piaget a palavra
67
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 3
Psicologia da Educação
seção 2
A construção do conhecimento
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unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
No início, a criança não diferencia o próprio eu do mundo exterior. Com a interação com o meio, irá
ocorrer, aos poucos, um processo de diferenciação que a levará a perceber-se como um ser entre
outros seres e objetos que existem ao seu redor. Por volta de um ano, por exemplo, a criança já será
capaz de perceber que um objeto continua a existir para além do seu campo visual. Essa noção é a
permanência do objeto. Outras noções básicas também são construídas neste período: a construção do
espaço, pois passa a perceber que existem outros espaços, além do imediato; a construção da noção
de tempo, percebendo que existem séries temporais, que alguns acontecimentos se sucedem com
regularidade; a construção da noção de causalidade, através da qual percebe relações entre eventos-
causa e eventos-efeito.
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unidade 3
Psicologia da Educação
relações com o meio, anunciando um novo estágio de desenvolvimento:
o estágio pré-operatório.
2) Pré-operatório - O período pré-operatório corresponde
aproximadamente à faixa etária dos 2 aos 7 anos. Inicia-se com a
conquista da linguagem oral e da capacidade representativa, através da
qual a criança forma os primeiros esquemas simbólicos que lhe permitirão
representar uma coisa por outra. Ela usa, por exemplo, uma pequena caixa
“como se fosse” um caminhãozinho. Tudo isso, junto com a construção
da inteligência prática na fase anterior, possibilitará o desenvolvimento
lento e gradual do pensamento (PIAGET, 1973c).
Todavia, durante esta fase, seu pensamento é ainda caracterizado por
uma tendência lúdica e uma certa confusão entre realidade e fantasia. Isso
acontece porque a criança ainda não desenvolveu esquemas conceituais
lógicos e continua bastante egocêntrica em suas ações.
Rappaport (1981, p.68-69) define o egocentrismo
como: “[...] uma visão da realidade que parte
do próprio eu, isto é, a criança não concebe um
mundo, uma situação da qual não faça parte,
confunde-se com objetos e pessoas, no sentido
de atribuir a eles seus próprios pensamentos,
sentimentos, etc.”
O egocentrismo é a principal qualidade do pensamento da criança
nesta fase e podemos verificá-lo através das explicações que ela dá para
fenômenos ou situações.
O animismo é uma manifestação egocêntrica pela
qual a criança atribui características humanas
a seres inanimados. Assim, ela se queixa ao pai
que “a porta é má”, pois lhe prendeu o dedinho.
Atribuiu, então, à porta a intenção de machucá-
la.
Em todas as áreas da vivência da criança, o egocentrismo se
manifestará: social, intelectual, moral, afetiva e na linguagem.
Os esquemas intelectuais da criança no período pré-operatório são
denominados de pré-conceitos. Como a criança ainda não desenvolveu
esquemas conceituais verdadeiros, seu julgamento sobre as coisas
existentes no mundo ainda está preso às suas percepções imediatas e,
com isso, sujeito a vários erros.
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unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
Em suma, esses pré-conceitos e pré-relações ficam a meio caminho entre o esquema de ação e o
conceito, por não se dominar com bastante distanciamento a situação imediata e presente, como
deveria ser o caso da representação em contraste com a ação. Esse apego duradouro à ação, com o
que envolve de conexões em parte indiferenciadas entre o sujeito e os objetos, reencontra-se então
na causalidade desse nível, o qual permanece essencialmente psicomórfico: os objetos são espécie
de seres vivos dotados de não importa que poderes calcados sobre os da própria ação, como os de
empurrar, puxar, atrair, lançar, etc., e tanto à distância quanto em contato, sem se preocupar com a
direção das forças ou com uma direção exclusiva que é a do agente independente dos pontos de
impacto sobre os objetos passivos. (PIAGET, 2002, p.24)
73
unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
É por isso que, na adolescência, [...] o sujeito será então capaz de formar esquemas conceituais
abstratos (conceituar termos como amor, fantasia, justiça, esquema, democracia) e realizar com eles
operações mentais que seguem os princípios da lógica formal, o que lhe dará, sem dúvida, uma riqueza
imensa em termos de conteúdo e de flexibilidade de pensamento. Com isso, adquire capacidade para
criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta; discute os valores morais de seus pais
e constrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia); torna-se capaz de aceitar suposições
pelo gosto da discussão; faz sucessão de hipóteses que expressa em proposições para depois testá-
las; procura propriedades gerais que permitam dar definições exaustivas, declarar leis gerais e ver
significação comum em material verbal; os seus conceitos espaciais podem ir além do tangível finito e
conhecido para conceber o infinitamente grande ou infinitamente pequeno; torna-se consciente de seu
próprio pensamento, refletindo sobre ele a fim de oferecer justificações lógicas para os julgamentos que
faz; lida com relações entre relações, etc. (RAPPAPORT,1981, p.74)
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unidade 3
Psicologia da Educação
SEÇÃO 3
O desenvolvimento afetivo, social e moral
75
unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 3
Psicologia da Educação
análise que deveria distinguir o que provém do
conteúdo das regras e o que provém da criança
pelos seus próprios pais.
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unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 3
Psicologia da Educação
Isto significa que, para ele, educar é mais que transmitir conteúdos,
passar informações, consiste em dar possibilidades a cada pessoa de
desenvolver ao máximo suas potencialidades, transformando-as em
realizações efetivas e produtivas.
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unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
Sugerimos que você assista ao documentário “Os transformadores” (Episódio Piaget), programa
apresentado pela TV Cultura.
Leia também:
BECKER, F. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003.
BRENELLI, R. P. Piaget e a afetividade. In: SISTO, F. et al. Leituras de psicologia para formação de
professores. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2000. p. 105-
116.
PIAGET, J. As formas elementares da dialética. Trad. Fernanda Mendes Luiz. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1996. (Coleção Lino de Macedo)
PIAGET, J. INHELDER, B. Psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
PIAGET, J. e SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. Trad. Christiano Monteiro Oiticica.
2.ed. Rio de Janeiro: Zahar; Brasília: INL, 1975.
PIAGET, et al. Abstração reflexionante: Relações lógico-aritméticas e ordem das relações espaciais.
Trad. Fernando Becker e Petronilha Beatriz Gonçalves da Silva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
WADSWORTH, Barry J. Piaget para o professor da pré-escola e 1º Grau. Trad. Maria Zanella Sanvicente.
3 ed. São Paulo: Pioneira, 1989.
Nesta unidade vimos que Jean Piaget passou a vida toda pesquisando para responder às
seguintes questões: Como o ser humano elabora seus conhecimentos? Como aumentam e se ampliam
os nossos conhecimentos?
Tais questões o levaram a indagar sobre como nascem os conhecimentos, quais são os
seus instrumentos e como estes se constituem. Por isso, sua teoria chama-se Epistemologia Genética.
Epistemologia significa o estudo do conhecimento e Genética, termo que ele próprio aplicou, refere-se à
busca das origens e dos processos de formação do pensamento e do conhecimento pelo ser humano.
Para conhecer o sujeito epistêmico, que é aquele que constrói o conhecimento, Piaget recorreu
à psicologia, enquanto campo de pesquisa. Para ele, o conhecimento é o resultado de uma construção
pessoal, de um processo interno de pensamento que permite ao sujeito coordenar diferentes noções
entre si, dando-lhes um significado, organizando-as, relacionando-as com outras já existentes.
A partir de atividades reflexas, o sujeito forma estruturas mentais organizando suas sensações
e experiências, ao longo do desenvolvimento. Organiza e reconstrói esquemas, os quais permitirão
assimilar e compreender a realidade, enquanto as estruturas permitirão organizar os esquemas numa
totalidade.
Para Piaget, todos os organismos vivos procuram se manter adaptados em suas relações
com o meio. Rompendo-se o equilíbrio, em face de perturbações do meio ambiente, gera-se um
desequilíbrio e a necessidade de buscar novas formas de pensamento e ação. Os estágios constituem-
se em formas particulares de equilíbrio.
Além da equilibração, outros fatores são também responsáveis pelo desenvolvimento
cognitivo: a maturação, as experiências com o objeto de conhecimento e a transmissão ou interação
social.
Piaget explica que a afetividade e a cognição são dois processos que acontecem interligados,
que são mesmo inseparáveis. Explica também que a vida social transforma a inteligência por meio da
linguagem, pelas trocas realizadas com o grupo social e pelas regras impostas ao pensamento.
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unidade 3
Psicologia da Educação
Conforme Piaget, o desenvolvimento é um processo direcionado à totalidade das estruturas
do conhecimento. Portanto, é um processo de funcionamento interno; já a aprendizagem é provocada
por situações externas.
1- Você deve ter observado duas questões que são fundamentais nos estudos de Piaget: o sujeito
epistêmico e a posição interacionista do desenvolvimento humano. Como você pode defini-las?
4- Copie o quadro e complete os dados que faltam, de cada estágio, segundo Piaget.
ESTÁGIO FAIXA ETÁRIA CARACTERÍSTICAS
Sensório-motor
2 a 7 anos
As operações mentais
necessitam da
sustentação das ações
concretas.
12 em diante
AUTO-AVALIAÇÃO
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unidade 3
Universidade Aberta do Brasil
Na próxima unidade, você irá estudar na concepção interacionista as idéias de Vygotsky acerca do
desenvolvimento e da aprendizagem.
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unidade 3
Psicologia da Educação
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unidade 3
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Universidade Aberta do Brasil
unidade 3
UNIDADE IV
Psicologia da Educação
Concepção Sócio-Histórica
de Vygotsky e suas
Implicações Educacionais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Estabelecer as relações entre os conceitos e as implicações pedagógicas na
abordagem vygotskyana.
aprendizagem do aluno.
Vygotsky.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - A formação social da mente: conceitos vygotskyanos
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unidade 1
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 4
Psicologia da Educação
SEÇÃO 1
A formação social da mente: conceitos
vygotskyanos
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unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
Segundo OLIVEIRA (1993, p.23), há três pilares básicos que são centrais no pensamento de
Vygotsky:
• As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral.
• O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior,
as quais se desenvolvem num processo histórico.
• A relação homem/mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
88
unidade 4
Psicologia da Educação
O processo pelo qual Vygotsky explica a apropriação ativa da cultura
é o processo de internalização. Para Vygotsky,
os fatores
orgânicos têm
preponderância
apenas no
início da vida
da criança;
ao longo do
Veja como ele explica o processo de internalização: desenvolvimento,
O processo de internalização envolve transformações. Vygotsky (1989) citou as seguintes: são as interações
- uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer socioculturais que
interferem mais.
internamente;
- um processo interpessoal (entre pessoas/ interpsicológico/ social) é transformado num processo
intrapessoal (no interior da pessoa/ intrapsicológico/ individual);
- tais transformações são produzidas mediante uma série de eventos ao longo do desenvolvimento e,
mesmo sendo transformado, o processo continua a existir e a mudar por um longo período, antes de se
dar a interiorização definitiva.
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unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
Veja o que dizem Davis e Oliveira (1990, p.50) sobre o papel da interação no desenvolvimento cognitivo
do sujeito:
... gradativamente, as interações sociais com adultos ou com
companheiros mais experientes governam o desenvolvimento
e o próprio comportamento da criança.
A forma como a fala é utilizada na interação social com
adultos e colegas mais velhos desempenha, portanto, um
papel importante na formação e organização do pensamento
complexo e abstrato, em nível individual. Há uma interiorização
progressiva das direções verbais fornecidas à criança pelos
membros mais experientes disponíveis no ambiente social. À
medida que as crianças crescem, elas internalizam a ajuda
externa que vai-se tornando desnecessária. O pensamento
infantil, amplamente guiado pela fala e pelo comportamento dos
mais experientes, gradativamente adquire a capacidade de se
auto-regular. Por exemplo, quando a mãe mostra a uma criança
de dois anos um objeto e diz “a faca corta e dói”, o fato de ela
apontar para o objeto e de assim descrevê-lo provavelmente
provocará uma modificação na percepção e no conhecimento
da criança. O gesto e a fala maternos servem como sinais
externos que interferem no modo pelo qual o menino ou a
menina age sobre o seu ambiente.
SEÇÃO 2
A linguagem e seu papel na aprendizagem e
desenvolvimento
90
unidade 4
Psicologia da Educação
1993). Foi para ampliar suas possibilidades de interferir na natureza que
o homem criou os instrumentos ou ferramentas de trabalho.
A partir dessa perspectiva, Vygotsky distinguiu funções diferentes para os instrumentos e os signos.
Vejamos suas palavras (1989, p.62) a esse respeito:
A função do instrumento é servir como um condutor da
influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado
externamente; deve necessariamente levar a mudanças
nos objetos; constitui um meio pelo qual a atividade humana
externa é dirigida para o controle e domínio da natureza;
o signo, por outro lado, não modifica em nada o objeto da
operação psicológica; constitui um meio da atividade interna
dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é orientado
internamente.
91
unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
gestos, desenhos que nos lembram algo. Por exemplo: anotar aniversários
ou compromissos em agendas, fazer lista de compras, executar uma
melodia seguindo uma partitura, virar o relógio para lembrar de fazer
uma atividade, desenhar o projeto de uma casa, etc.
Originalmente, os signos surgiram como marcas exteriores
utilizadas pelos homens para controlar a memória e a atenção, funcionando
como representações da realidade referidas a pessoas, coisas e situações
ausentes no espaço e no tempo. Muito antes da existência dos sistemas
de numeração, por exemplo, os homens primitivos já representavam
quantidades através de pequenos riscos no chão ou nas paredes de grutas,
ou nós em cordas, de modo que podiam recuperar, sem se perder, quantos
animais ou quantos feixes de trigo possuíam para trocar com outros
homens. Essas marcas exteriores exerciam a função de representação das
coisas existentes na realidade, de modo a auxiliar a memória, sempre que
necessário.
O processo de
mediação através de Ao longo da evolução histórica do homem, como também ao longo
signos possibilitou ao
homem controlar e do desenvolvimento ontogenético de cada um de nós, ocorrem, então,
dominar o seu próprio duas mudanças qualitativas quanto ao uso de signos: 1º) através da
comportamento,
tornando a atividade internalização, as marcas externas vão se transformando em signos
psicológica muito internos, isto é, em representações mentais da realidade exterior;
mais sofisticada, pois
os sinais exteriores 2º) desenvolvem-se sistemas simbólicos (organização dos signos em
forneceram um suporte estruturas complexas e articuladas) (OLIVEIRA, 1993).
concreto para sua
relação com o mundo. Entre os sistemas simbólicos, a linguagem figura como forma básica
92
unidade 4
Psicologia da Educação
de os grupos humanos se comunicarem e aprimorarem as interações
sociais. A mediação da linguagem possibilita, aos novos indivíduos de
um dado grupo social, a apropriação, desde cedo, das formas de perceber
e organizar o mundo, como um filtro interposto entre o homem e a
realidade. Tal fato significa que a linguagem não tem apenas a função
de comunicar nossos pensamentos, sentimentos e desejos. Ela também
carrega uma outra função que é a de servir para o domínio de si como
reguladora da própria conduta.
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 4
Psicologia da Educação
zona de desenvolvimento proximal vão se consolidar, transformando-se
em funções reais que, de ora em diante, já não mais exigem a ajuda de
outras pessoas para a resolução de problemas.
Vemos, portanto, que a zona proximal é um domínio psicológico A mediação que
propicia um bom
dinâmico, em constante transformação, em face da mediação de pessoas aprendizado
propicia também
mais experientes. Esta maneira de conceber o desenvolvimento remete, a ampliação do
desenvolvimento
pois, à importância significativa dos mediadores no desenvolvimento real do sujeito,
individual. Como diz Oliveira (1993, p.60): “É como se um processo do domínio das
funções mentais,
de desenvolvimento progredisse mais lentamente que o processo de ao mesmo
tempo em que
aprendizado; o aprendizado desperta processos de desenvolvimento que, lhe abre novas
possibilidades ou
aos poucos, vão tornar-se parte das funções psicológicas consolidadas do novas zonas de
desenvolvimento
indivíduo.” proximal.
A concepção vygotskyana coloca, portanto, o aprendizado “na
frente” do processo de desenvolvimento, exercendo o papel de puxá-lo, de
fazê-lo acontecer. Ora, a implicação pedagógica dessa concepção, como
vemos, é imediata, pois remete à importância que a escolarização tem
na vida dos indivíduos, supondo que os professores, como mediadores,
devem propiciar os suportes concretos e a interferência adequada para
que os alunos transformem as funções mentais que hoje estão na zona
proximal em funções consolidadas, adquirindo, assim, autonomia.
95
unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
só.
De acordo com Fontana e Cruz (1998, p.64), a zona de
“desenvolvimento proximal como desenvolvimento em elaboração
possibilita a participação do adulto no processo de aprendizagem da
criança. Para consolidar e dominar autonomamente as atividades e
operações culturais, a criança necessita da mediação do outro”. Essas
autoras consideram que o simples contato que o aluno tem com o
objeto de conhecimento não garante a aprendizagem, nem promove o
desenvolvimento. Há necessidade da intervenção do professor, de forma
questionadora, desafiadora, intencional e planejada. É desse modo que
o aluno pode organizar, ressignificar tudo aquilo que está aprendendo
e desenvolvendo. Em suma, a participação do professor no processo de
ensino e aprendizagem é fundamental, numa conduta de parceria, dando
assistência, orientando e instruindo o aluno de maneira sistemática e
constante.
De tudo o que vimos, cabe destacar que a escola, os professores,
os membros mais experientes da cultura, assim como todo tipo de
ambiente de aprendizagem, têm um papel fundamental na promoção do
desenvolvimento psicológico dos indivíduos.
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Psicologia da Educação
SEÇÃO 3
A formação de conceitos
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(A criança na fase inicial da escrita. Ana L. B. Smolka. São Paulo: Cortez; Campinas: Ed. da Unicamp,
1988.)
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Psicologia da Educação
No referencial vygotskyano diz-se que a mediação é SEMIÓTICA –
ou seja, embora se dê pela participação de um outro na relação, ela acontece
através da palavra – a qual é carregada de significados culturalmente
constituídos. É através das mediações que as pessoas mais experientes
do ambiente da criança lhe ensinam os nomes dos objetos, a utilidade
das coisas, os significados de certos comportamentos.
Vamos analisar alguns exemplos de situações que aparecem
numa pesquisa de Mestrado feita por Mônica Salles Gentil, da FE/
UNICAMP, Campinas, 1997. Neles podemos perceber como as palavras
vão funcionando numa rede de significações, na qual as noções vão se
constituindo a partir de indicadores dados no processo de mediação e na
própria vivência das palavras.
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(em cima: marco espacial / serve para localização; hora: marco temporal / não
existe fisicamente)
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Psicologia da Educação
aglutinam em sua mente. Então, designa-se um objeto, dando a ele um
nome, muitas vezes pelo acaso, outras vezes porque existe proximidade
espacial (um objeto está perto de outro) e outras vezes mesmo porque
está apenas experimentando, num processo de ensaio e erro.
2º) A fase do pensamento por complexos – Aqui já é uma fase mais
adiantada. No complexo, os objetos associam-se na mente do sujeito não
apenas por causa de suas impressões subjetivas, mas devido às relações
que de fato existem entre esses objetos. Vygotsky diz que o pensamento
por complexos é como se o sujeito agrupasse os objetos em famílias.
No pensamento por complexos, as palavras tendem a referir-se aos
objetos e seus contextos reais, quer dizer, as ligações são factuais, isto é,
concretas. Qualquer nova ligação que aparecer na realidade pode levar a
criança a incluir um objeto dentro de uma dada categoria. Um exemplo de
pensamento por complexos é analisado por FONTANA (1996). A autora
mostra a professora trabalhando com o conceito de cultura, depois de
uma visita dos alunos ao museu. O complexo fica caracterizado neste caso
porque o conceito de cultura aparece estreitamente ligado ao contexto da
visita ao museu. Então, tendo a professora perguntado para os alunos o
que é cultura, apareceram respostas assim:
Car: - “Cultura é coisa de museu.”
Zil. – “é coisa que a gente olha, mas não pode pôr a mão” (regra do
museu).
Leo. – “é umas coisas muito velha.”
Osv. - “É coisa que se põe a mão cai de tão velha que ta.”
Algumas crianças simplesmente repetiram frases que ouviram da
coordenadora do museu:
“Cultura é criatividade.”
“Cultura é coisa que deve ser preservada.”
101
unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
102
unidade 4
Psicologia da Educação
Quer dizer, na escola, mesmo a criança que não tem um cão ou
nunca viu um cão pode adquirir a idéia de cão através da interferência
dos conceitos científicos.
Para Vygotsky, o aprendizado de conceitos científicos na escola
é uma força poderosa no desenvolvimento infantil, que determina
o destino do desenvolvimento mental do aluno. Mas, para que isto
aconteça, deve haver uma inter-relação entre os conceitos espontâneos e
os conceitos científicos. Quer dizer, o desenvolvimento de um deve buscar
o desenvolvimento de outro.
Este ponto é muito importante para nós professores porque nos mostra que não devemos
separar a experiência da criança, as coisas que ela já conhece do seu cotidiano, de sua experiência
cultural e pessoal, dos novos conceitos que trabalhamos com ela na escola. Para que possamos atuar
no processo de formação de conceitos científicos de modo bem sucedido, precisamos compreender o
seguinte:
a) Os conceitos espontâneos são ricos de experiência pessoal, por isso são mais concretos.
No entanto, mesmo já tendo o conceito, o sujeito pode não ter consciência dele, nem saber utilizá-lo
de forma deliberada. Os conceitos espontâneos não estão organizados num sistema hierárquico na
mente. Vygotsky diz: “Ao operar com conceitos espontâneos, a criança não está consciente deles,
pois sua atenção está sempre centrada no objeto ao qual o conceito se refere, nunca no próprio ato de
pensamento.” (VYGOTSKY, 1989, p.79)
b) Os conceitos científicos são transmitidos em situações formais, portanto precisam ser
mediados face ao caráter abstrato do objeto. Desenvolvem-se a partir de definições verbais, não-
espontâneas.
c) O desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente, enquanto o desenvolvimento
dos conceitos científicos é descendente. Apesar disto, os dois processos são inter-relacionados.
103
unidade 4
Universidade Aberta do Brasil
Para refletir sobre a importância da mediação, recomendamos que você assista aos filmes: “O enigma
de Kaspar Hauser”, direção de Werner Herzog e “Mister Holland, meu adorável professor”, de Richard
Dreyfus.
Há também um documentário intitulado “As borboletas de Zagorski”, série “Os transformadores”, da TV
Cultura de São Paulo.
104
unidade 4
Psicologia da Educação
Nesta Unidade, procuramos explicar a você, as idéias de Vygotsky sobre desenvolvimento e
aprendizagem. Para ele, as funções psicológicas são de origem sociocultural e emergem de processos
psicológicos elementares, de origem biológica, através da interação que a criança realiza com os
membros mais experientes de sua sociedade.
Os processos psicológicos superiores são produzidos por uma linha de desenvolvimento
cultural, a partir da internalização de práticas históricas e sociais, sob a base das operações com
signos. O signo modifica a forma de agir, pensar, sentir e querer, é orientado internamente e o sujeito o
utiliza para seu próprio controle.
O psicólogo russo chama de zona de desenvolvimento proximal a distância entre o nível
de desenvolvimento real, determinado através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, que é determinado através da solução de problemas sob a orientação de
adultos ou em colaboração com companheiros mais capazes ou outras crianças mais experientes.
Uma operação de início é uma atividade externa, que reconstruída, ocorre internamente. Um
processo interpessoal se torna intrapessoal como resultado de uma longa série de eventos ocorridos
no desenvolvimento.
O processo de formação de conceitos em nosso pensamento passa por três momentos:
uma fase sincrética, uma fase de pensamento por complexos até chegar ao conceito propriamente
dito. A escolarização tem uma importância imensa no processo de aquisição de conceitos científicos,
razão pela qual podemos dizer que a escola é fundamental para que os sujeitos pensem de modo mais
elaborado.
AUTO-AVALIAÇÃO
1. Nesta atividade de verdadeiro (V) ou falso (F), você pode avaliar a sua compreensão sobre algumas
idéias básicas de Vygotsky e colaboradores, acerca do desenvolvimento e aprendizagem do ser
humano.
2. Faça no espaço destinado às anotações um pequeno texto sobre o papel da escola em relação a
formação dos conceitos científicos.
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unidade 4
106
Universidade Aberta do Brasil
unidade 4
UNIDADE V
Psicologia da Educação
A Construção Da Pessoa:
Abordagem Walloniana E
Implicações Educacionais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Estabelecer as relações entre os conceitos e as implicações pedagógicas na
abordagem walloniana.
desenvolvimento da pessoa.
perspectiva de Wallon.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 – Idéias básicas de Henri Wallon
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unidade 1
Universidade Aberta do Brasil
108
unidade 5
Psicologia da Educação
SEÇÃO 1
Idéias básicas de Henri Wallon
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unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
Galvão (1995, p.29) descreve a relação entre o orgânico e o social, na teoria de Wallon, da seguinte
maneira:
Entre os fatores de natureza orgânica e os de natureza social as
fronteiras são tênues, é uma complexa relação de determinação
recíproca. O homem é determinado fisiológica e socialmente,
sujeito, portanto, a uma dupla história, a de suas disposições
internas e a das situações exteriores que encontra ao longo de
sua existência.
110
unidade 5
Psicologia da Educação
SEÇÃO 2
Emoção e afeto: o papel do outro no
desenvolvimento
111
unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
lúcidos. Nesse sentido, podemos dizer que a emoção faz a transição entre
o orgânico e o cognitivo, por meio da mediação cultural.
Vejamos como Wallon classificou dois tipos de emoções:
Quanto ao efeito que produzem no corpo: a) Hipotônicas são
aquelas que produzem redução do tônus muscular, como o amolecimento
corporal que existe em sustos e depressões. b) Hipertônicas são as
emoções que geram tônus muscular, como o endurecimento corporal que
observamos ou sentimos na cólera, raiva e ansiedade. O ideal para o ser
humano é que se estabeleça um fluxo tônico que leve a emoção a se
produzir e se escoar imediatamente através de movimentos expressivos,
como é o caso da alegria, razão pela qual ela nos é prazerosa.
Quanto à origem e natureza das alterações emocionais: a)
Emoções produzidas por agentes químicos (ex: efeitos de drogas, como o
álcool); b) Emoções produzidas por componentes mecânico-musculares
(ex: atividades rítmicas intensas); c) Emoções de natureza abstrato-
representacional (ex: diante de reflexões suscitadas por um poema, uma
música). (DANTAS, 1992)
Estudando as características da vida emocional, Wallon concluiu
que a emoção se origina de sensibilidades orgânicas e primitivas:
sensibilidade visceral que permite sentir seus órgãos e proprioceptiva
que permite à criança sentir o estado de seus músculos. Segundo Dantas
(1992, p.87): “A toda alteração emocional corresponde uma flutuação
tônica”, de modo que a emoção provoca manifestações corporais visíveis
para as outras pessoas. Wallon chamou tais manifestações de “atividade
proprioplástica”, uma vez que a emoção imprime certas formas ao
corpo. Essas manifestações podem ser percebidas, ainda que de forma
inconsciente, pelas pessoas que estão ao redor do sujeito. Tal aspecto
mostra, também, o caráter contagioso ou epidêmico da emoção, pois ela
tende a transmitir-se para os outros por meio de uma espécie de diálogo
tônico, uma forma de comunicação primitiva, permitida pelas alterações
da tonicidade muscular das pessoas. Vejamos, agora, características do
comportamento emocional, para que você possa reconhecê-lo:
112
unidade 5
Psicologia da Educação
tende a reduzir o funcionamento cognitivo, pois emoção e razão
são dimensões antagônicas;
o grau de emoção será tanto mais forte quanto maior for a inaptidão
ou a imperícia da pessoa perante dada necessidade;
provoca uma revolução orgânica, capaz de concentrar no corpo
toda a sensibilidade do sujeito e diminuir sua capacidade de perceber o
que realmente se passa no mundo exterior;
manifesta-se corporalmente e é visível para as outras pessoas;
passa para os outros através de um diálogo tônico postural.
113
unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
COM A INTELIGÊNCIA
1ª. FASE: - a afetividade reduz-se às
AFETIVIDADE manifestações somáticas; é pura
EMOCIONAL-TÔNICA emoção;
- as trocas afetivas dependem
inteiramente da presença concreta
de outras pessoas através do contato
tônico- epidérmico;
2ª. FASE: - incorpora a linguagem (primeiro
AFETIVIDADE SIMBÓLICA oral, depois escrita);
- a nutrição afetiva acrescenta o toque
e a entonação da voz;
3ª. FASE: - as relações afetivas passam a se
AFETIVIDADE CATEGORIAL submeter a exigências racionais,
através de categorias como respeito,
justiça, igualdade.
Ao explicar a dimensão afetiva da constituição da pessoa, conforme Wallon, Dér (2004, p.61-62) diz o
seguinte:
A afetividade é um conceito amplo que, além de envolver um componente orgânico, corporal, motor e
plástico, que é a emoção, apresenta também um componente cognitivo, representacional, que são os
sentimentos e a paixão. O primeiro componente a se diferenciar é a emoção, que assume o comando
do desenvolvimento logo nos primeiros meses de vida; posteriormente, diferenciam-se os sentimentos
e, logo a seguir, a paixão.
A afetividade é o conjunto funcional que responde pelos estados de bem-estar e mal-
estar, quando o homem é atingido e afeta o mundo que o rodeia. Ela se origina nas sensibilidades
orgânicas e primitivas, denominadas sensibilidades interoceptivas e proprioceptivas que, juntamente
com os automatismos, são vistas por Wallon como os recursos que a criança tem para se comunicar e
sobreviver.
A sensibilidade interoceptiva é uma sensibilidade visceral que permite à criança sentir como estão os
seus órgãos, como estômago, intestino, etc.; e a sensibilidade proprioceptiva é uma sensibilidade tônica
ou postural que está relacionada às sensações ligadas ao equilíbrio, às atitudes e aos movimentos, e
possibilita à criança sentir como está o estado de seus músculos. Ambas as sensibilidades provêm
do próprio corpo, mas, enquanto a sensibilidade interoceptiva se reporta aos órgãos internos, a
proprioceptiva se distingue dela, pois os seus estimulantes, em vez de se situar nas vísceras, se
localizam nos tendões, articulações e nos próprios músculos.
114
unidade 5
Psicologia da Educação
A abordagem walloniana do desenvolvimento dá especial destaque
ao lugar do outro na constituição do eu. Gulassa (2004) explica que o
par dialético “eu-outro” passará gradativamente a constituir o mundo
psíquico de cada pessoa de modo que um não pode viver sem o outro e
ambos dialogam e debatem.
Para Gulassa (2004, p.96):
115
unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
116
unidade 5
Psicologia da Educação
SEÇÃO 3
As fases do desenvolvimento
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unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
Você agora vai observar no quadro que se segue os estágios propostos por Wallon e que foram
reorganizados por Galvão (1995, p.43-46). A autora coloca que, para Wallon, a pessoa se desenvolve
progressivamente, através de fases onde há predominância ora afetiva, ora cognitiva, mas esses
aspectos ocorrem sempre inter-relacionados.
118
unidade 5
Psicologia da Educação
PERSONALISMO dos três Acontece a formação da personalidade e a
aos seis consciência de si, que resulta das trocas que faz
anos com outras pessoas, na diferenciação do eu-
outro. “[...] é pela expulsão do que há de alheio
dentro de si que se fabrica o Eu”. (DANTAS,
1990, p.94). Aí aparece primeiro a oposição ao
outro, quando busca se firmar contradizendo e
confrontando as outras pessoas; surge então a
sedução ou idade da graça, como chama Wallon.
A criança quer ser admirada, apreciada pelos
outros. Depois surge a imitação, pela qual ela cria
personagens representando pessoas que admira,
representando papéis para realizar isso. Nessa
fase há o predomínio da afetividade sobre a
cognição.
CATEGORIAL dos seis Dá-se a consolidação da função simbólica e
aos onze diferenciação da personalidade, iniciada no
anos estágio anterior. A criança volta-se para o mundo,
tentando conquistá-lo. Isso acontece junto com o
processo de escolarização, quando as exigências
da família e da escola fazem com que a criança
desempenhe papéis variados. Nessa fase há o
predomínio da cognição, e o desenvolvimento da
inteligência infantil é enorme.
PUBERDADE E dos Ocorrem as modificações fisiológicas provocadas
ADOLESCÊNCIA onze aos pelo amadurecimento sexual, bem como
dezesseis mudanças psicológicas, trazendo à tona questões
anos pessoais, morais e existenciais. As transformações
do corpo acentuam as diferenças entre os dois
sexos, e é necessário que o esquema corporal
seja reorganizado pelos jovens. Passa a ser
afetivo o predomínio dessa fase. No processo
de desenvolvimento a pessoa deverá, por meio
de seu potencial intelectual, reconhecer um eu
diferenciado e, ao mesmo tempo, integrado.
119
unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
De etapa em etapa, a psicogênese da criança mostra, através da complexidade dos fatores e das funções,
através da diversidade e da oposição das crises que a assinalam, uma espécie de unidade solidária,
tanto em cada uma como entre todas elas. Em cada idade ela constitui um conjunto indissociável e
original. Na sucessão de idades, ela é um único e mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita de
contradições e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais suscetível de desenvolvimento e de
novidades. (WALLON, 1998, p.214).
120
unidade 5
Psicologia da Educação
SEÇÃO 4
Implicações educacionais
121
unidade 5
Universidade Aberta do Brasil
Leia também:
DANTAS, Heloysa. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri
Wallon. São Paulo: Manole, 1990.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento. ALMEIDA, Laurinda
Ramalho. Ser professor: um diálogo com Henri Wallon. In: MAHONEY, Abigail A. e ALMEIDA,
Laurinda Ramalho. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Loyola,
2004. p.119-140.
Destaque duas idéias de Wallon que possam ajudar sua prática pedagógica.
122
unidade 5
Psicologia da Educação
Nesta unidade, você estudou as idéias de Wallon a respeito do desenvolvimento
humano. Constatou que ele fez sua análise adotando a perspectiva filosófica dialética, fundada
no materialismo histórico de Marx.
Para Wallon, cada atividade da criança resulta da integração do cognitivo com o afetivo
e o motor. No processo de desenvolvimento da pessoa, ele considera que os fatores orgânicos
são mais determinantes no início do desenvolvimento, cedendo, depois, lugar aos fatores
sociais.
São estágios propostos por ele: Impulsivo-emocional; o Sensório-motor e Projetivo;
Personalismo; Categorial; o da Puberdade e Adolescência.
Wallon apresenta como princípios do desenvolvimento: a predominância funcional, a alternância
funcional e a integração funcional.
Ainda, propõe que cada educador procure considerar a pessoa do aluno, para auxiliá-lo a se
desenvolver, adequando as atividades escolares às suas necessidades e possibilidades.
AUTO-AVALIAÇÃO
2) Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, identificando o que acontece em cada
fase:
123
unidade 5
124
Universidade Aberta do Brasil
unidade 5
UNIDADE VI
Psicologia da Educação
A Inclusão nas Escolas e
o Papel da Psicologia da
Educação
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Reconhecer que todas as pessoas têm condições de aprender e de se
desenvolver, e que são as diferenças entre elas que possibilitam que isso
aconteça.
■■ Refletir sobre seu papel como educador frente ao aluno com necessidades
especiais.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O que é inclusão?
necessidades especiais
125
unidade 1
Universidade Aberta do Brasil
126
unidade 6
Psicologia da Educação
SEÇÃO 1
O que é inclusão?
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unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
O movimento de inclusão social começou incipiente na segunda metade dos anos 80 nos
países mais desenvolvidos, tomou impulso na década de 90 também em países em desenvolvimento e
vai se desenvolver fortemente nos primeiros dez anos do século 21 envolvendo todos os países.
Este movimento tem por objetivo a construção de uma sociedade realmente para todas as
pessoas, sob a inspiração dos seguintes princípios, dentre os quais se destacam: celebração das
diferenças; direito de pertencer; valorização da diversidade humana; solidariedade humanitária; igual
importância das minorias; cidadania com qualidade de vida. (SASSAKI, 1997, p.17).
128
unidade 6
Psicologia da Educação
Relembrando que a educação é um direito fundamental de todos, mulheres, homens, de
todas as idades, no mundo inteiro;
Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais
sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social,
econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional;
Sabendo que a educação, embora não seja suficiente, é de importância fundamental para o
progresso pessoal e social;
Reconhecendo que o conhecimento tradicional e o patrimônio cultural têm utilidade e valor
próprios, assim como a capacidade de definir e promover o desenvolvimento;
Admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é ministrada apresenta graves deficiências, que
se faz necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade, e que ela deve estar universalmente
disponível;
Reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os níveis
superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte, para
alcançar um desenvolvimento autônomo, e
Reconhecendo a necessidade de proporcionar às gerações presentes e futuras uma visão
abrangente de educação básica e um renovado compromisso, a favor dela, para enfrentar a amplitude e
a complexidade do desafio, proclamamos a seguinte: Declaração Mundial sobre Educação para todos:
satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. (DECLARAÇÃO MUNDIAL, 1990, p.1-2).
129
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
SEÇÃO 2
Diferenças: o desafio nas escolas
130
unidade 6
Psicologia da Educação
crianças que vivem nas ruas e que trabalham,
crianças de populações distantes ou nômades,
crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou
culturais e crianças de outros grupos ou zonas
desfavorecidas ou marginalizadas. (CORDE,
1994, p.17-18).
Compreendemos que as escolas devem adequar o currículo para uma coisa é clara: as
escolas e o sistema
atenderem as necessidades de toda sua clientela, bem como a preparação
educacional não
dos professores deve ser levada em conta. funcionam de modo
isolado. O que acontece
Sendo assim, acreditamos que o processo inclusivo traz em seu bojo
na escola é reflexo
a idéia de que, para que se concretize a inclusão, devemos possibilitar ao da sociedade em que
elas funcionam. Os
professor uma preparação apropriada para isso, bem como garantir que
valores, as crenças e as
seu desenvolvimento profissional seja contínuo, isto é, abranja toda sua prioridades da sociedade
permearão a vida e o
vida (MITTLER, 2003).
trabalho nas escolas
Acreditamos que essa mudança deve ser iniciada na vida familiar, [...]”.(MITTLER, 2003,
p.24)
mas que a escola não pode deixar de lado essa incumbência, cumprindo
131
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
132
unidade 6
Psicologia da Educação
Verificamos que, para atender a esta proposta, a escola inclusiva
deverá implementar um estilo diferente de ensino, bem como desenvolver
ações educativas próprias que tenham como objetivo central garantir
a todas as pessoas o acesso a uma educação de qualidade. O objetivo
é comum, promover a transformação da realidade servindo-se do
conhecimento disponível, e através dele garantir as mudanças necessárias
para que isso seja concretizado.
Entendemos que educar é uma via de duas mãos, ou seja, ela acontece na interação do sujeito com o
objeto do conhecimento, com outros sujeitos e com o meio. Portanto, as influências das transformações
e modificações devem acontecer em todas estas instâncias. Assim, quando deparamos com um sistema
educacional cristalizado, inflexível às mudanças, percebemos visivelmente que as possibilidades
de fracasso e exclusão do aluno na escola são maiores. É preciso ressaltar que não cabe à escola
apenas ensinar, é necessário que ela viabilize novas estratégias, procedimentos e, sobretudo, práticas
pedagógicas que possibilitem a aprendizagem de todos os seus alunos. (MENDONÇA e MORO, 2006,
p.23).
133
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 6
Psicologia da Educação
Inclusão, numa sociedade de excluídos, passa a ser palavra-chave para se alcançar a verdadeira
democracia. A cidadania se estabelece pela igualdade dos direitos e deveres e pela oportunidade
de poder exercê-los plenamente. Vamos discutir a inclusão do ponto de vista educacional, embora
este movimento seja muito mais amplo, norteando, também, todas as ações que emanam dos direitos
sociais, políticos e civis.
Nossa preocupação é com relação aos portadores de deficiência, porque fazem parte das chamadas
minorias excluídas, como os negros, pobres e miseráveis, analfabetos e desempregados. Precisamos,
então, atender à premente necessidade de uma “educação para todos”. Diante do paradigma da
inclusão precisamos pensar na educação dos portadores de deficiência, desde a educação infantil até
a superior. (GODOFREDO, 1999, p.67)
135
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
SEÇÃO 3
As idéias de Piaget e de Vygotsky a respeito das
pessoas com necessidades especiais
136
unidade 6
Psicologia da Educação
um quadro que não evidencia o déficit, mas também um quadro positivo
do funcionamento, de suas possibilidades de adaptação e de utilização de
ajudas externas”. (PIAGET, 1971 apud AJURIAGUERRA, 1987, p.135)
A autora, ainda, explica que os estudos piagetianos
fundamentaram propostas inovadoras e arrojadas para o ensino das
pessoas com déficit mental. A idéia que difundem é a seguinte:
Isto significa que, para Piaget, são as escolas que devem se adequar
aos alunos inclusos, oferecendo reais oportunidades para que essas
pessoas possam se desenvolver e viver bem.
137
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
138
unidade 6
Psicologia da Educação
Vygotsky visualizou o desenvolvimento das pessoas com
necessidades especiais procurando enxergar apenas os aspectos qualitativos
de suas diversidades, das potencialidades, de seu relacionamento social.
Ele tenta ver os aspectos favoráveis de seu desenvolvimento, acreditando
que podem se desenvolver de outra maneira.
Ele explica que todas as crianças podem atingir a plenitude
de seu desenvolvimento, e que aquelas que têm necessidades especiais
farão isso através do que chama de “rotas alternativas”, que lhes darão
energia para realizar isso. Ele explica também que os princípios do
desenvolvimento são os mesmos para todas as pessoas, e que são as
limitações que servem de impulso, de motivação, para a busca desses
caminhos alternativos (VYGOTSKI, 1989).
Podemos entender que, para ele, a pessoa com necessidades
especiais, ao encontrar situações que a estimulem, pode interagir,
relacionar-se e, até mesmo, competir com as outras pessoas utilizando
outros recursos que sua capacidade de adaptação e reorganização lhe
proporcionam, quando lhe são dadas condições de igualdade.
[...] Luria ressalta que, diferentemente de muitos pesquisadores que estudavam a criança deficiente,
Vygotsky concentrou sua atenção nas habilidades que tais crianças possuíam, habilidades que poderiam
formar a base para o desenvolvimento de suas capacidades integrais. Assim, interessava-se mais por
suas forças do que por suas faltas, e rejeitava as descrições simplesmente qualitativas, em termos de
traços psicológicos, refletidos nos testes psicológicos, porque estes instrumentos apenas indicavam
uma visão incompleta ou unidimensional sobre a criança. Preferia, então, confiar nas descrições
qualitativas da organização de seus comportamentos. (MONTEIRO, 1998, p.74)
139
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
140
unidade 6
Psicologia da Educação
determinar isso, mas sim como ele é visto pela sociedade. Diz:
o defeito por si só não decide o destino da
pessoa, mas as conseqüências sociais e sua
realização sociopsicológica. [...] para o psicólogo
se faz indispensável a compreensão de cada ato
psicológico, não só em relação ao passado, mas
também com o futuro da pessoa. (Vygotski, 1989,
p.29, tradução nossa).
Uma das grandes preocupações de Vygotsky foi a da segregação das
crianças com necessidades especiais dentro de instituições e separadas do
mundo real. Ele questionou: “Como pode progredir o desenvolvimento se
a criança é segregada do mundo?” (Frase retirada do vídeo: As borboletas
de Zagorski). Vemos então que Vygotsky era favorável ao processo de
inclusão, supondo que todas as pessoas, não importando as diferenças,
devem conviver realizando trocas, uma possibilitando o desenvolvimento
da outra.
Por intermédio de suas idéias podemos, portanto, alimentar a
esperança da participação de todas as pessoas num mesmo contexto
social, com as escolas sendo organizadas e estruturadas para esse fim. É
um grande desafio, mas devemos nos mobilizar para isso, pois assim essa
realidade poderá se concretizar.
Veja o documentário intitulado “As borboletas de Zagorski”, Série “Os transformadores”, da TV Cultura
de São Paulo.
Você deve consultar as seguintes obras:
MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,
2006.
MANTOAN, Maria Teresa Égler (Org.). O desafio das diferenças nas escolas. Petrópolis: Vozes, 2008.
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos et al. (orgs.). INCLUSÃO: compartilhando saberes. Petrópolis:
Vozes, 2006.
STAINBACK, Susan e STAINBACK, William. INCLUSÃO: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999.
2 [...] el defecto por si solo no decide el destino de la personalidade, sino las consecuen-
cias sociales y su realización sociopsicológica. [...] para o psicólogo se hace indispensa-
ble la compreensioón de cada acto psicológico no solo em relación com el pasado, sino
también com el futuro dela personalidade. (VYGOTSKI, 1989, p.29)
141
unidade 6
Universidade Aberta do Brasil
Caro cursista, agora que você já leu esta unidade, releia-a com atenção e faça as atividades
propostas:
2 - Todas as pessoas devem ser sujeitos e promotores de seu desenvolvimento porque todas têm valor.
Como você, futuro educador, poderá auxiliar a concretizar isso?
3- Destaque três idéias de cada um dos seguintes documentos: Declaração Mundial e Declaração de
Salamanca, e diga por que escolheu estas idéias.
4- Explique o que entendeu das idéias defendidas por Piaget sobre pessoas deficientes.
5- Explique qual deve ser o papel da escola no processo de desenvolvimento das pessoas com
necessidades especiais, segundo Vygotsky.
Você estudou nesta unidade que a inclusão é um processo pelo qual a sociedade se adapta
para inserir, dentro de seus sistemas, as pessoas com necessidades especiais.
Todos os sistemas sociais, de habitação, transporte, serviços, saúde, recreação, educação,
entre outros, devem trabalhar intensamente para que sejam removidas as barreiras que impedem as
pessoas com necessidades especiais de participarem plenamente da vida cidadã.
Em 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para todos: satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem, realizada de 05 a 09 de março, na cidade de Jontiem, na Tailândia, iniciando
um amplo movimento mundial para concretização desse direito.
A Declaração de Salamanca (1994) enfatiza que todas as crianças devem ser acolhidas
pela escola, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou
lingüísticas.
Como no Brasil, a idéia e a prática da educação inclusiva é recente, é importante que a
formação dos professores abrace este desafio, preparando-se para realizá-lo com qualidade.
As contribuições de Piaget e de Vygotsky sobre as possibilidades das pessoas com necessidades
especiais vêm ao encontro da inclusão. A pesquisa piagetiana vem mostrando que a deficiência mental
é semelhante a uma construção inacabada, sendo importante que as escolas ofereçam condições
estimuladoras, que levem a criança com déficit mental à conquista da autonomia.
Vygotsky, em sua época, já trabalhava com crianças com necessidades especiais, entendendo
que todas elas tinham possibilidades de aprender e se desenvolver, desde que não ficassem isoladas
do convívio social.
Quem aceita o processo de inclusão também acredita que todas as pessoas com deficiência
têm possibilidade de se desenvolver no convívio com as outras pessoas. A escola inclusiva deve não
só acolher todas essas pessoas, mas dar-lhes oportunidade de ter uma educação verdadeiramente de
qualidade.
142
unidade 6
Psicologia da Educação
AUTO-AVALIAÇÃO
2 - Explique o que entendeu a respeito das escolas de qualidade propostas por Mantoan.
3 - Nesta atividade de verdadeiro (V) ou falso (F), você pode avaliar a sua compreensão sobre as idéias
de Piaget e de Vygotsky acerca do desenvolvimento das pessoas com necessidades especiais:
( ) A contribuição de Piaget está relacionada à área das pessoas com déficit mental: acredita que
se forem dadas condições favoráveis a tais pessoas, se elas forem estimuladas a se adequarem à
realidade, corresponderão ao que delas se espera.
( ) Para Piaget, são as escolas que devem se adequar aos alunos inclusos, oferecendo reais
oportunidades para que eles possam se desenvolver e viver bem.
( ) A questão, segundo Piaget, é saber se os alunos deficientes mentais necessitam de programas e
serviços educacionais especiais, diferentes.
( ) Vygotsky concluiu que os princípios fundamentais do desenvolvimento são idênticos para as
crianças com e sem deficiências.
( ) Vygosky acreditou que o defeito, ou a diferença, não pode limitar o desenvolvimento, ao contrário,
deve mostrar possibilidades, ser motivo de força de vontade, perseverança, busca, sempre tendo uma
conotação positiva.
( ) As idéias de Vygotsky para o trabalho educativo com as pessoas com necessidades especiais não
foram consideradas suficientes.
Parabéns!
Você completou o estudo da sexta unidade. Na próxima unidade você será introduzido no estudo da
adolescência para vir a compreender melhor seu futuro aluno dos anos finais do ensino fundamental e
do ensino médio.
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unidade 6
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Universidade Aberta do Brasil
unidade 6
UNIDADE VII
Psicologia da Educação
Adolescência:
Desenvolvimento
Biopsicossocial e Cultural
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Compreender o significado evolutivo da adolescência e seu caráter
biopsicossocial e cultural.
teóricos.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Significado evolutivo da adolescência e seu caráter biopsicossocial
e cultural
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unidade 1
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
Portanto, torna-se importante compreender os adolescentes para
ajudá-los a enfrentar as tarefas evolutivas que lhes cabem nessa etapa da
vida e assumir posturas educacionais conscientes e claras, que facilitem
o convívio harmônico das gerações, ou seja, entre você, futuro professor,
e seus alunos adolescentes.
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
SEÇÃO 1
Significado evolutivo da adolescência e seu
caráter biopsicossocial e cultural
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unidade 7
Psicologia da Educação
modificações biológicas dessa faixa etária em que há transformação
do corpo infantil em um corpo adulto, capacitado para a reprodução, e
adolescência às transformações psicossociais que as acompanham.
A adolescência, embora seja também um fenômeno universal, é um A puberdade é
um fenômeno
fato psicossocial e tem características peculiares conforme o ambiente biológico universal
para todos os
sociocultural do indivíduo. membros de nossa
espécie, e seu
Considera-se concluída a puberdade e com ela o crescimento físico início cronológico
coincide em
e o amadurecimento gonadal em torno dos 18 anos, coincidindo com a todos os povos
soltura das cartilagens de conjugação das epífises dos ossos longos, o que e latitudes,
com raríssimas
determina o fim do crescimento esquelético. O término da adolescência, exceções, como no
caso dos pigmeus.
assim como o seu início, é bem mais difícil de determinar porque obedece
a uma série de fatores socioculturais.
Numa tentativa de discriminar os elementos mais universais, na
atualidade, que possibilitariam assinalar o término da adolescência,
Osório (1992, p.12) relaciona as seguintes condições:
• estabelecimento de uma identidade sexual e
possibilidade de estabelecer relações afetivas estáveis;
• capacidade de assumir compromissos profissionais
e ter independência econômica;
• relação de reciprocidade com a geração precedente,
sobretudo os pais;
• aquisição de um sistema de valores pessoais, “moral
própria”.
Em termos etários, isso ocorre por volta dos 25 anos na classe média
brasileira, com variações para mais ou para menos, conforme as condições
socioeconômicas da família de origem do adolescente.
Adolescência hoje
O interesse pelo estudo da adolescência decorreu, segundo Osório
(1992), de duas circunstâncias principais:
1- A explosão demográfica de pós-guerra, da qual resultou o
significativo aumento percentual da população jovem mundial.
2- A ampliação da faixa etária com as características da
adolescência. Se antes era tida como etapa de transição entre a infância
e a idade adulta, que coincidia com os limites biológicos da puberdade,
atualmente a adolescência é fortemente influenciada pelas contingências
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
A violência contra crianças e adolescentes não é um fenômeno
recente na história de nosso país, (nem se limita a ele), mas remonta
à própria colonização do Brasil. No que se refere à violência familiar,
conforme explicam Lavoratti e Costa (2007, p.208), a família ficou por
muito tempo presa às relações privadas, sem uma intervenção sistemática
do poder público na busca de conter os abusos dos adultos sobre crianças
e adolescentes. Estudos e pesquisa realizados por Sagaz e Berger (2008),
sobre crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e o processo de
resiliência, constataram a ausência de projetos e ações educativas nas
escolas para o desenvolvimento da resiliência, bem como para a prevenção,
detecção e proteção à violência intrafamiliar.
Atualmente se busca construir um sistema de informações sobre
violação de direitos na área da infância e juventude, alimentados a partir dos
Conselhos Tutelares e sistematizados pelo Ministério da Justiça, através
da Secretaria Especial de Direitos Humanos e do Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente. Em muitos casos a violência
intrafamiliar, em qualquer de suas modalidades (física, psicológica,
negligência), traz conseqüências para a vida das crianças e adolescentes
e condiciona outros problemas sociais, tais como: a utilização de drogas,
exploração sexual, envolvimento de adolescentes com infrações, e a fuga
de crianças para as ruas.
Na próxima seção, você irá conhecer as contribuições teóricas sobre
o fenômeno da adolescência, que lhe serão úteis para compreender esse
período evolutivo.
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
SEÇÃO 2
A adolescência sob a perspectiva de diversos
teóricos
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unidade 7
Psicologia da Educação
Submissão Rebeldia
Exaltação Indiferença
Ascetismo Hedonismo
Atividade Passividade
Isolamento Agrupamento
Egoísmo Generosidade
e altruísmo
Otimismo Pessimismo
Apego ao
material Desapego
Se pensarmos no que há de essencial na adolescência, naquilo que seria seu signo, diríamos
que é a necessidade de entrar no mundo adulto. A modificação corporal, essência da puberdade,
e o desenvolvimento dos órgãos sexuais e da capacidade de reprodução são vividos pelo
adolescente como uma irrupção de um novo papel, que modifica sua posição frente ao mundo e
que também o compromete em todos os planos da convivência. (ABERASTURY, A. 1990, p.227)
153
unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
Segundo Erik H. Erikson (1987), assim como para a criança é
fundamental o sentido de confiança, o sentimento de fé no mundo
que a cerca e cuida dela, pois só assim pode sobreviver e enfrentar as
vicissitudes trazidas pelo desenvolvimento da personalidade infantil,
no caso do adolescente é o sentido de identidade que leva à adoção de
decisões que lhe permitirão inserir-se no mundo adulto. O jovem não se
pergunta tanto quem é, mas sim o que é, e em que contexto pode vir a ser,
questiona-se mais sobre o futuro.
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
Estas duas dinâmicas podem ser aplicadas entre os próprios cursistas e posteriormente aos alunos
adolescentes.
Objetivos:
Dinâmica 1: Promover relaxamento e quietude interior, ampliar a consciência corporal e oportunizar a
liberação de memórias de vida.
Dinâmica 2: Identificar, na linha da vida, fatos e situações que marcaram de modo positivo e negativo a
história pessoal tendo por parâmetro os itens quando, onde, o que, com quem. Futurizar e exercitar-se
como sujeito da própria vida.
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unidade 7
Psicologia da Educação
SEÇÃO 3
Características do desenvolvimento físico,
cognitivo, afetivo e social e as questões
relativas à sexualidade, escolha profissional e as
drogas
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
(2002, p.204). O medo dos demais e a falta de auto-estima e de aceitação
de nosso corpo podem bloquear essa comunicação até o ponto de torná-la
impenetrável.
A formação do corpo depende de fatores como a capacidade
de formar vínculos de amor – aprendida no início da vida mediante a
relação com os adultos mais significativos (mãe, pai). Conforme explicam
os pesquisadores do GTPS (1995), fica registrada no corpo da pessoa a
vivência do prazer de ser amada e seu reconhecimento de que é digna
de sê-lo. Se, no começo de sua existência, a criança é sistematicamente
frustrada nos anseios afetivos, se atravessa fases de insegurança
emocional, pode desenvolver expectativas de rejeição e uma descrença
na possibilidade de formar vínculos afetivos estáveis e satisfatórios.
Nosso corpo sexuado inicia a construção de sua identidade feminina ou
masculina através do desejo, da memória, e das marcas inscritas em cada
um de nós.
DICAS PARA A SALA DE AULA
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
Os mecanismos hormonais responsáveis pela maturação sexual
são:
Gônadas
Sexuais Produzem hormônios sexuais:
Testículos Testosterona.
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
- Para incentivar o desenvolvimento de uma relação positiva entre o corpo e a mente e a auto-
expressão do adolescente, sugere-se ao pré-adolescente a escrita de um diário cuja elaboração auxilia
na autocompreensão.
- O desenho de auto-retratos com uma ênfase particular no corpo é um tipo de atividade que inspira as
meninas e os meninos a desafiar e a mudar a tirania das expectativas sociais e estereótipos transmitidos
pelos meios de comunicação.
- Estimular os estudantes a discutir, de maneira crítica, termos dicotômicos como masculino/feminino,
gordo/magro, bom/mau, auxilia o desenvolvimento da compreensão intra e interpessoal.
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unidade 7
Psicologia da Educação
3.1.2 - Maturação sexual
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
A masturbação, além de propiciar a descarga das tensões genitais, também prepara o corpo
do adolescente para o intercurso sexual. Não só na adolescência como já a partir da infância
é uma verdadeira preparação para a vida genital adulta. Crianças e adolescentes que nunca se
masturbam nem revelam maiores curiosidades sobre como funcionam seus órgãos sexuais, ou
não buscam tocá-los e experimentar as sensações que despertam, serão provavelmente adultos
com marcadas inibições e dificuldades na vida sexual. (OSÓRIO,1992, p.78)
A primeira menstruação pode gerar algumas reações negativas entre as adolescentes, sobretudo entre
aquelas que tenham sido pouco informadas sobre esse acontecimento e que podem vivenciar sua
chegada com medo e angústia. Sem esquecer as influências culturais, pois, enquanto em algumas
culturas a primeira menstruação é recebida com rituais que levam a menina a se sentir orgulhosa
de seu novo status de mulher, em nossa sociedade, com freqüência, são destacados os aspectos
negativos relacionados ao incômodo ou à falta de higiene.
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unidade 7
Psicologia da Educação
É que esta criatura adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!
Machado de Assis
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
De acordo com o Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (1995), é importante explicitar
o respeito ao direito de espera para se ter a primeira relação sexual.
É importante, também, que o adolescente e a adolescente tenham autonomia de decisão quanto ao
seu momento para iniciar a vida sexual. Não precisa ser igual ao dos colegas, parentes ou qualquer
outra pessoa. Para isso, a discussão do tema deve garantir a compreensão dos fatores de risco e de
proteção. Sugere-se a seguinte atividade:
Expectativas
1. Todos os adolescentes escrevem como imaginam a primeira relação sexual, sem se identificar;
2. Colocam-se todos os papéis no centro da roda e misturam-se;
3. O educador os retira ao acaso e pergunta se o texto é de um adolescente masculino ou feminino.
Deixa a polêmica acontecer e pontua as diferenças.
O objetivo dessas discussões é ajudar o aluno a refletir em nível real, sem pensamentos mágicos.
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unidade 7
Psicologia da Educação
• Outra alternativa de debate é a dramatização de situações conflitivas, envolvendo as influências
sociais. As cenas seriam criadas pelos jovens ou montadas com o auxílio do professor. Exemplo: Os
conflitos da adolescente em ter ou não o filho, as pressões que sofre por parte do rapaz, as reações da
família, as conversas com as amigas mais próximas, os motivos que levaram à gravidez – expectativas,
medos e angústias vividos pela adolescente, o papel dos rapazes adolescentes.
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Universidade Aberta do Brasil
A afirmação de que o sujeito subordina o real ao possível significa - segundo Piaget e como
conseqüência de sua teoria dos estados de equilíbrio -, por um lado, que o adolescente, frente a uma
determinada situação, não considera unicamente as relações que de fato observa, mas, além disso,
procura, desde o princípio, situá-las no contexto de todas as relações possíveis.
Dessa forma, estaria minimizando a possibilidade de cair em contradição no desenrolar
do exame dos fatos – o possível, agora, deixa de significar um simples prolongamento do real para
denotar forças que se contrabalançam num sistema de equilíbrio. Por outro lado, do ponto de vista
do observador, este, para explicar determinadas situações, também utiliza uma série de operações
cujas transformações deduz logicamente. Ou seja, aplica todo um sistema de transformações virtuais.
Com isso, Piaget nos quer dizer que em cada situação, para que seja exeqüível conceber os casos
possíveis, é necessário que o sujeito disponha de operações virtuais, operações estas que estão além
das operações atuais, isto é, efetuadas de fato, e que são necessárias para que se possa manter o
equilíbrio do sistema cognitivo. [...] Piaget considera que o equilíbrio alcançado pelo adolescente na
última etapa do desenvolvimento das operações formais é a forma final das estruturas elaboradas
e permite explicar todas as conquistas, inclusive da vida adulta, como também os raciocínios mais
abstratos conhecidos pelo homem. (SISTO, F. 2000, p.103)
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unidade 7
Psicologia da Educação
É preciso considerar, segundo Coll, Marchesi e Palácios (2004,
p.329), que o próprio Piaget (1970) introduziu algumas modificações em
sua teoria ao destacar diferenças de idade na aquisição das operações
formais pelos adolescentes, afirmando, por exemplo, que os sujeitos
provavelmente alcançavam o pensamento formal pelo menos entre 15
e 20 anos, em vez de 11 e 15 anos. Além disso, Piaget sugeriu que, nos
casos em que a situação experimental não correspondesse às aptidões ou
aos interesses do sujeito, poderia ocorrer que este utilizasse um raciocínio
característico do estágio anterior (operações concretas). Mas se o sujeito
se depara com situações que estão dentro de sua especialidade ou domínio
particular, então seu pensamento expressará seu nível operacional formal.
O raciocínio do adolescente, provavelmente igual ao do adulto, é regido
por critérios pragmáticos em vez de critérios estritamente científicos,
como Piaget pretendia em sua caracterização original do pensamento
formal.
Contudo, nem sempre uma capacidade lógica abstrata garante uma
mudança conceitual, pois, para que tal mudança ocorra, é necessária a
combinação de certas habilidades de raciocínio com suficiente informação
sobre os fatos que procuram explicar e, sobretudo, com um modelo de
relações no qual os diversos elementos do problema se conectem entre si
em um esquema explicativo coerente.
Para raciocinar com base em critérios pragmáticos, não basta, então,
somente aprender termos científicos, saber as definições, conhecer as
fórmulas; também é preciso entender, dotar de significado, relacionar,
conectar com outros conhecimentos, e tudo isso de forma não superficial
e verbalista, mas como um saber construído e elaborado.
De acordo com Griffa e Moreno (2001, p.69), embora o adolescente
tenha aptidão para o pensamento hipotético-dedutivo, utiliza-o pouco
em sua vida prática ou emprega modelos sem validade lógica e organiza
induções apressadas. Em muitos casos, o raciocínio do adolescente
se alimenta de crenças que não são bem fundamentadas, afirma sem
verificar e adota atitudes preconcebidas que assimila do grupo de pares.
Suas técnicas racionais de debate tendem mais a causar impacto no outro
do que a comprovar suas hipóteses. O adolescente se compraz em utilizar
esse novo poder de manipular idéias, embora, em muitos casos, sem se
comprometer com nenhuma delas. Em geral, não tem intenção de adotar
algumas idéias de forma permanente.
169
unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
170
unidade 7
Psicologia da Educação
dos contextos terá importância e proporcionará informações ao jovem sobre
sua imagem, exercendo uma influência diferente segundo o que se espera
dele: os pais podem pedir obediência, respeito e amabilidade; os amigos
esperam lealdade, amizade; o namorado ou namorada espera ternura
e compromisso; a escola, esforço e disciplina. Todas essas expectativas
podem provocar no adolescente um certo mal-estar ou confusão, o que
poderia explicar algumas atitudes e comportamentos incoerentes que
com freqüência são observados na adolescência.
A popularidade entre os colegas adquire um significado especial para
a maioria dos adolescentes, por isso a competência social e a valorização
e aceitação pelos amigos contribui para a auto-estima. Contudo, uma
ênfase excessiva no grupo também pode ter conseqüências negativas, já
que ao estar tão centrado em conseguir aprovação do grupo, o adolescente
pode não se esforçar o suficiente no desempenho escolar e nas relações
familiares.
As mudanças cognitivas que ocorrem nessa fase afetam a forma
como pensam sobre si mesmos e sobre os demais, bem como as normas
Você já parou
para pensar e regulamentos familiares, chegando a questioná-las. Além disso, como
o quanto a
desenvolvem a capacidade para diferenciar o real do hipotético, passam
identidade e a
autonomia são a criar alternativas para o funcionamento da própria família, apresentar
construídas
argumentos mais sólidos e convincentes em suas discussões familiares,
no período da
adolescência? o que significa um claro questionamento da autoridade dos pais e dos
professores.
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unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
b) Homossexualidade
A homossexualidade se relaciona com as construções sociais dos
padrões de gênero; com características biológicas; com os costumes e
rituais criados pelas culturas; com os caminhos percorridos por cada
indivíduo, com os dramas e tramas familiares. Todos esses fatores integram
um complexo sistema de elos ainda não decifrados, o que suscita mais
questões do que conduz a respostas.
Existem algumas hipóteses levantadas por diferentes áreas do
conhecimento que tentam oferecer alguma luz sobre a homossexualidade.
De acordo com o Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual
– GTPOS (1995), há autores alinhados ao determinismo biológico,
para quem a homossexualidade resultaria de uma formação específica
do cérebro ou de uma predisposição genética. Uma segunda hipótese
baseia-se no trabalho do fundador da Psicanálise, Sigmund Freud. Em
seus estudos sobre sexualidade infantil, ele apontou quatro razões para
ocorrer a homossexualidade:
a)a fixação em uma etapa anterior do desenvolvimento;
b)o medo de castração diante do desejo pela própria mãe;
c)o narcisismo que leva o indivíduo a procurar alguém igual a si;
d)a identificação da menina com o pai e do menino com a mãe.
Freud mostrou que, nas suas relações de amor e de ódio, a família
pode desencadear conflitos que acabam por dar origem a diferentes
caminhos, dentre eles a homossexualidade.
Ressalte-se que a teoria freudiana teve como referência original
uma sociedade burguesa determinada no tempo e espaço, na qual a
família era de tipo preponderantemente nuclear – pai, mãe e filhos. As
conclusões de Freud podem não se aplicar a outros tipos de estrutura
econômica e familiar com as quais nos deparamos em nosso cotidiano.
Outra contribuição é das áreas da Sociologia e Antropologia que
estudam diferentes formas de vida de grupos humanos. A sociedade
capitalista ocidental apresenta rigidez nos papéis de gênero, na maneira
como se é homem ou mulher, e uma fobia à homossexualidade. Diferentes
modos de entender a homossexualidade e relacionar-se com ela podem
ser identificados em diferentes culturas, embora predomine alguma forma
de exclusão ou discriminação.
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unidade 7
Psicologia da Educação
Algumas informações para discutir
A relação sexual entre pessoas do mesmo sexo sempre existiu e
sempre existirá, pois essa é uma das formas possíveis para homens e
mulheres viverem seu prazer. A atração sexual homo ou hetero não é
objeto de escolha. O homossexual não pode ser culpado por sua atração
pelo mesmo sexo e é no mínimo injusto reprová-lo por esse fato.
A homossexualidade não é uma doença e portanto não se pode
pensar em cura e muito menos em transmissão. Essa é a posição da
Organização Mundial da Saúde há alguns anos.
Os homossexuais diferem dos heterossexuais tão somente na
questão da atração sexual. São antes de mais nada seres humanos
com direitos iguais aos outros e merecem nosso respeito. Há entre eles
pessoas criativas, bondosas, inteligentes, honestas, neuróticas, inseguras,
maldosas. Há aqueles com aparência efeminada e aquelas com aparência
masculinizada; porém, há o homem homossexual forte e viril e a mulher
homossexual, ou lésbica, meiga e feminina.
Após a discussão dos subgrupos, a partir das conclusões que forem levantadas, será possível
problematizar as questões e suas respostas, não para chegar a conclusões definitivas, mas para
explicitar melhor os preconceitos e poder combatê-los. É importante que os alunos saibam que não há
conclusões definitivas sobre a gênese da homossexualidade, que as teorias existentes não abarcam a
complexidade do fenômeno e que a compreensão e a aceitação da homossexualidade como expressão
da sexualidade vêm avançando continuamente na sociedade moderna.
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
3.5 - A escolha profissional – ocupacional
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Universidade Aberta do Brasil
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unidade 7
Psicologia da Educação
desmontam a imagem romântica de nosso imaginário de que os jovens
são contestadores, rebeldes e politicamente engajados. Na verdade,
o que o jovem quer mesmo, ou disse querer, é emprego e trabalho.
Nesse aspecto, seus maiores sonhos são apenas materiais. Sonham
viver uma vida materialmente melhor da que nós, adultos, estamos lhes
proporcionando. Em síntese, a pesquisa revelou que os jovens já não
estão mais politicamente comprometidos com as transformações sociais.
Será que vivemos iludidos com o mito de uma juventude inevitavelmente rebelde, questionadora e
revolucionária?
177
unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
Acesse www.saúde.gov.br
Secretaria Nacional Antidrogas: www.senad.gov.br
Comunidades Terapêuticas no Brasil: www.diganaoasdrogas.com.br
178
unidade 7
Psicologia da Educação
Nesta unidade vimos que a adolescência é influenciada por fatores individuais, sociais e
culturais, e seu estudo adquiriu importância a partir do pós-guerra, em razão do aumento da população
mundial jovem, bem como pela ampliação da faixa etária com características da adolescência.
Vimos também que a puberdade refere-se ao período de modificações biológicas, e à
adolescência atribuem-se as transformações psicossociais e culturais que a acompanham.
Há várias teorias que nos ajudam a compreender a adolescência como um “segundo
nascimento” - Stanley Hall; período de transformações somáticas que dão origem a mudanças
psicológicas profundas, as quais se expressam em tendências que se contrapõem, oscilando entre
submissão e rebeldia, egoísmo e generosidade, otimismo e pessimismo, exaltação e indiferença,
apego ao material e desapego – Ana Freud; crise gerada pela necessidade de inserir-se no mundo
adulto - Aberastury; síndrome normal de desequilíbrios e instabilidade - Knobel; período de moratória
psicossocial – Erikson.
A adolescência se processa em fases nas quais ocorre a gradativa modificação do
comportamento em relação ao corpo, identidade, relações familiares, amizades, sentido de vida,
escolha de profissão, responsabilidade com o próprio futuro. As mudanças físicas, desencadeadas
por mecanismos hormonais, provocam complexas interações entre os níveis biológico, psicológico e
sociocultural. Há aumento súbito no ritmo de crescimento da estatura, alterações de peso e maturação
sexual. A menarca ou primeira menstruação na menina e a primeira ejaculação ou emissão de esperma
no menino, indícios exteriores da capacitação biológica para as funções de procriação, ocorrem por
volta dos 12 aos 15 anos. A orientação sexual bem como as informações sobre métodos contraceptivos,
valores e modelos que os jovens obtêm no decorrer dos anos podem evitar a gravidez precoce e as
doenças sexualmente transmissíveis.
Não apenas o corpo, mas a mente e o cérebro passam por reorganização funcional nessa
fase. As alterações mais importantes ocorrem no córtex pré-frontal, responsável pela capacidade de
planejar a longo prazo e controlar as emoções. Desenvolve-se o que Piaget chamou de pensamento
lógico-formal ou hipotético-dedutivo, isto é, o adolescente passa a raciocinar, prevendo todas as
situações e reações causais possíveis entre os elementos, ultrapassando o tempo presente.
Desse modo, o real está subordinado ao possível. Torna-se capaz de proceder a
generalizações e diferenciações, bem como estabelecer relações lógicas entre aspectos contraditórios
e aparentemente desvinculados. Contudo, nem sempre essa capacidade lógica abstrata garante uma
mudança conceitual. Não basta aprender termos científicos, conhecer as fórmulas; é preciso entender,
dotar de significado, saber relacionar com outros conhecimentos, de modo construído e elaborado.
O desenvolvimento social e da personalidade durante a adolescência consiste na busca de
identidade e autonomia, as quais se efetivam à medida que o adolescente passa a aceitar o próprio
corpo; consolida o papel de gênero; estabelece relações mais maduras com pessoas de ambos os
sexos; torna-se independente emocionalmente dos pais; prepara-se para a carreira profissional e a vida
de casal e família; orienta o comportamento mediante valores e princípios éticos e morais.
Novos códigos de relacionamento, sem rituais de cortejo e sem compromisso, acabaram
por gerar uma crise de confiança entre as pessoas que se relacionam, provocando baixa auto-estima
e confusão emocional. A escolha profissional também é um fator de ansiedade para o adolescente,
porque implica conhecer seus interesses, expectativas e aptidões, obter informação sobre as profissões
e analisar as condições do mercado de trabalho. Frente ao problema das drogas, prevenir é melhor do
que remediar. São vários os fatores que influenciam o adolescente a começar a utilizar droga, dos quais
os mais relevantes são: as características pessoais, o meio em que vive, o grupo, a escola e os locais
que freqüenta.
O papel dos educadores perante os adolescentes consiste em conquistar confiança e
respeito, prestar informações, orientar e ajudá-los a descobrir o sentido da vida frente às modas culturais
que atribuem ao jovem uma atitude passiva e hedonista. Despertá-los para utilizar a criatividade e
o idealismo, tendo em vista a construção de uma sociedade mais humana, solidária e tolerante em
relação às diferenças culturais e étnicas.
179
unidade 7
Universidade Aberta do Brasil
3. Quais são os aspectos que diferem a puberdade e a adolescência? É possível determinar o término
dessas fases?
6. Quais são as condições, propostas por Osório, que assinalam o término da adolescência?
9. Quais são as mudanças físicas que decorrem da ativação e funcionamento hormonal nessa fase?
11. Converse com um adolescente sobre os desafios da busca de identidade e autonomia. Relate, no
caderno, qual das tarefas evolutivas propostas por Havighurst esse adolescente considera a mais difícil
de ser conquistada.
12. Respondendo ao recado dos adolescentes, quais estratégias os professores poderiam utilizar para
tornar as aulas motivadoras e atraentes? Registre suas sugestões no caderno.
15. Reúna um grupo de quatro colegas e elaborem um instrumento de pesquisa com as seguintes
questões: a) Como você, jovem, reagiria ao convite para experimentar drogas? b) Que razões levam
um adolescente a fazer uso de drogas? c) Dê uma sugestão sobre como prevenir o uso de drogas entre
os adolescentes? Após a aplicação desse instrumento entre um grupo de adolescentes, tabulem os
dados, procedam à análise dos resultados e reflitam sobre o papel da escola e dos educadores frente
a essa questão.
180
unidade 7
Psicologia da Educação
AUTO AVALIAÇÃO
Após o estudo desta unidade, verifique o que você conseguiu aprender, respondendo às questões:
1. Quais são os aspectos que caracterizam a adolescência?
3. Faça a correspondência entre os autores e suas idéias sobre o fenômeno da adolescência que você
estudou na Seção 2.
( )A vida psíquica dos adolescentes é caracterizada pelos opostos, oscilan-
( 1 ) Aberastury do entre tendências que se contrapõem.
181
unidade 7
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profissional.
182
unidade 7
Psicologia da Educação
183
unidade 7
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Universidade Aberta do Brasil
unidade 7
Psicologia da Educação
PALAVRAS FINAIS
Prezado Aluno:
185
PALAVRAS FINAIS
das concepções e práticas de ensino e aprendizagem, no encaminhamento
de alternativas metodológicas e na condução geral de seu trabalho
docente na escola.
Nossas últimas palavras são de estímulo para que você siga
sempre em frente em seu processo de desenvolvimento profissional na
educação.
Um grande abraço das professoras:
Maria Odete Vieira Tenreiro
Maria Virgínia Bernardi Berger
Neiva de Oliveira Moro
Priscila Larocca
Psicologia da Educação
REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Maria Bahia et. alii. Psicologias: uma introdução ao estudo de
psicologia. São Paulo, Saraiva, 1988.
BUCHER,R. Drogas, o que é preciso saber para prevenir. Governo de São Paulo,
São Paulo, 1993.
187
REFERÊNCIAS
Universidade Aberta do Brasil
DANTAS, Pedro da Silva. Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética. São
Paulo: Brasiliense, 1983.
Declaração Mundial sobre Educação para todos: plano de ação para satisfazer
as necessidades básicas de aprendizagem. (Declaração de Jontien – Tailândia)
Anais Eletrônicos. Disponível em: http://www.unesco.org.br/publicacao/copy_
of_pdf/decjontien Acesso em: 18/07/2006.
FONSECA, Vitor da. Educação especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
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REFERÊNCIAS
Psicologia da Educação
FONTANA, Roseli e CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São
Paulo: Atual, 1998.
GODOFREDO, Vera Lucia Flor Senéchal de. Como formar professores para uma
escola inclusiva. In: Salto para o futuro: Educação especial: tendências atuais.
Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999. p.67-72.
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MANTOAN, Maria Teresa Égler (Org.). O desafio das diferenças nas escolas.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MENDONÇA, Ida Regina Moro Milléo de; MORO, Neiva de Oliveira. A escola
democrática e inclusiva. Capítulo livro Fundamentos da Educação. (No prelo).
O’BRIEN, John e O’BRIEN, Connie Lyle. A inclusão como força para a renovação
da escola. In: STAINBACK, Susan e STAINBACK, William. Inclusão: um guia
para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. p.48-68. Cap. 3.
190
REFERÊNCIAS
Psicologia da Educação
PATTO, Maria H. S. Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à psicologia
escolar. São Paulo: Queiroz, 1987.
__________ Para onde vai a educação? Trad. Ivette Braga. Rio de Janeiro, RJ:
José Olympio, 1973d.
___________ O Juízo Moral na criança. Trad. Elzon Lenardon. Sãaaao Pauo, SP:
Summus, 1994.
PISANI, Elaine et. alii. Psicologia Geral. 5 ed. Porto Alegre: Vozes, 1985.
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REFERÊNCIAS
Universidade Aberta do Brasil
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REFERÊNCIAS
Psicologia da Educação
______. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
______ . A formação social da mente. 3. ed. bras. São Paulo: Martins Fontes,
1989.
193
REFERÊNCIAS
Psicologia da Educação
Anexos
UNIDADE II
3) Organize um quadro e destaque as contribuições e críticas da
abordagem rogeriana na educação.
Verifique na Seção 2 o que existe a este respeito.
UNIDADE III
AUTO-AVALIAÇÃO
1- Teste seu conhecimento sobre os mecanismos invariantes
do processo de desenvolvimento da inteligência na perspectiva de
Piaget, numerando a segunda coluna de acordo com o conceito e seu
significado:
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AUTORAS
Psicologia da Educação
UNIDADE IV
AUTO-AVALIAÇÃO
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AUTORAS
Psicologia da Educação
UNIDADE V
AUTO-AVALIAÇÃO
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AUTORAS
Psicologia da Educação
UNIDADE VI
AUTO-AVALIAÇÃO
(V) A contribuição de Piaget está relacionada à área das pessoas com déficit
mental: acredita que se forem dadas condições favoráveis a tais pessoas,
se elas forem estimuladas a se adequarem à realidade, corresponderão ao
que delas se espera.
(V) Para Piaget, são as escolas que devem se adequar aos alunos inclusos,
oferecendo reais oportunidades para que eles possam se desenvolver e
viver bem.
(F) A questão, segundo Piaget, é saber se os alunos deficientes mentais
necessitam de programas e serviços educacionais especiais, diferentes.
(V) Vygotsky concluiu que os princípios fundamentais do desenvolvimento
são idênticos para as crianças com e sem deficiências.
(V) Vygotsky acreditou que o defeito, ou a diferença, não pode limitar o
desenvolvimento, ao contrário, deve mostrar possibilidades, ser motivo
de força de vontade, perseverança, busca, sempre tendo uma conotação
positiva.
(F) As idéias de Vygotsky para o trabalho educativo com as pessoas com
necessidades especiais não foram consideradas suficientes.
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AUTORAS
Psicologia da Educação
UNIDADE VII
AUTO-AVALIAÇÃO
4) Respostas da cruzadinha
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AUTORAS
Psicologia da Educação
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AUTORAS
Psicologia da Educação
NOTAS SOBRE AS AUTORAS
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AUTORAS
Psicologia da Educação
Priscila Larocca
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas –
UNICAMP, onde fez também seu Mestrado em Educação, é autora de
várias obras e artigos científicos nas áreas da Educação, da Psicologia
Educacional e da Formação de Professores. É professora efetiva da UEPG
- Universidade Estadual de Ponta Grossa, desde 1988, atuando nas
Licenciaturas e no Curso de Pedagogia. Desde 2002, exerce atividades de
pesquisadora e docente no Programa de Pós-Graduação - Mestrado em
Educação da UEPG, onde lidera o GEPEP – Grupo de Estudos e Pesquisas
em Psicologia e Educação. É pesquisadora da UNICAMP, integrada ao PES
– Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Educação Superior.
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AUTORAS