You are on page 1of 8

O Jornal das Boas Notícias

20010122

Não é fácil escrever um jornal de boas notícias.


O mundo que nos rodeia está cheio de coisas boas, mas a mentalidade que nos assedia
permanentemente destaca o lado negativo da realidade, provavelmente com um propósito louvável de
denúncia do que está mal, mas sem nunca dar o passo que leva a uma contribuição positiva.
Um jornal de boas notícias passa, por isso, também, por ajudar a fazer um juízo sobre a realidade que a
todos interessa. E um juízo tem que avaliar o que se passa. Avaliar positiva ou negativamente, mas
sempre com a capacidade de discernimento que nos recomenda S. Paulo “Avaliai tudo e ficai com o
que é bom”.

Pedro Aguiar Pinto

The conventional view serves to protect us from the painful job of thinking
John Kenneth Galbraith
ultrapassa em muito a fraude que alguns
contribuintes fazem nas suas declarações de
Evasão orçamental __________________ 1 impostos. Por isso, o Estado é quem mais engana
O FMI e a educação em Portugal_______ 2 o fisco.
Os Santos do Ano Santo ______________ 4 Além disso, esta fraude é muito mais grave que a
das empresas. Porque, apesar de o Governo falar
Educação, Família e Estado ___________ 4 muito de fuga aos impostos e de reforma fiscal, o
O fim da vergonha __________________ 6 problema orçamental, em Portugal, não é a falta
de receita, mas o excesso da despesa pública.
Papa nomeia dois cardeais portugueses __ 6
Os métodos que o Executivo usa para aldrabar o
Objectivos _________________________ 7
seu próprio Orçamento são, segundo essa análise,
Luanda: 425 anos ___________________ 7 múltiplos e muito criativos. Artifícios
contabilísticos, fundações e empresas públicas
In: DN, 2001.01.22 fictícias, contratos de leasing e contabilização
João César das Neves directa na dívida pública, entre muitos outros
truques. Dos expedientes mais elementares aos
esquemas mais sofisticados, tudo serve. Podemos
Evasão orçamental mesmo dizer que a prática recente reduziu a
A evasão fiscal é um grave problema, em contabilidade pública à condição de ciência
Portugal. E a entidade que mais a pratica é o oculta.
Estado. Estas são as conclusões do recente estudo O paralelo entre este comportamento e a evasão
da Fundação Richard Zwentzerg sobre o nosso fiscal praticada pelos contribuintes é, segundo o
país, a que o DN teve acesso. Esta fundação (que relatório, evidente. Primeiro, a finalidade é a
não publica os seus textos) fez uma análise da mesma. O que o Estado pretende, tal como os
situação das nossas finanças públicas, com faltosos, é gastar dinheiro a que não tem direito.
atenção especial ao fenómeno do incumprimento Os propósitos declarados, tal como nos
da lei, problema que considera grave e endémico, contribuintes, são muito meritórios. O Governo
em Portugal. A prova disso, segundo o livro, é quer contratar funcionários, criar institutos e
que quem menos cumpre a lei fiscal é o próprio programas de apoio, participar em empresas.
Governo. Tudo para fazer bem ao País. Infelizmente, as
O montante de despesa pública não declarada no contas públicas, com a sua insensibilidade
Orçamento de Estado é, segundo o estudo, aritmética, colocam limites demasiado apertados,
"astronómico. Embora de difícil cálculo, pela sua que a evasão ultrapassa. Este raciocínio é
própria natureza, os gastos disfarçados e ausentes precisamente o mesmo que seguem muitos
do Orçamento têm vindo a crescer e atingem já empresários, preocupados com os seus negócios,
um nível que só pode ser considerado como quando preenchem a declaração de impostos.
escandaloso", afirma o texto. Esta evasão
O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 1
Em segundo lugar, há o mesmo desprezo pela presença estatal em múltiplos sectores, invertendo
legalidade. O contribuinte acha que a lei fiscal é as privatizações. É já o principal accionista do
má, os funcionários das Finanças são bárbaros e maior banco privado, o BCP. Não é possível uma
só ele, empresário privado, sabe aquilo que tal prodigalidade sem esconder as contas.
realmente é necessário ao desenvolvimento do
País. Por seu lado, os ministros pensam que os Nos últimos tempos, chega-se a pensar que a
deputados da oposição e o Tribunal de Contas são primeira preocupação política do Ministério das
inimigos públicos e a lei fiscal espartilha os seus Finanças, mais do que espremer os contribuintes,
ministérios. São eles, pelo contrário, quem é a de determinar qual é o máximo de despesa que
conhece a realidade portuguesa e a melhora consegue fazer sem ser descoberto.
gastando o dinheiro dos cidadãos.
E temos de dizer que, nessa linha, o êxito é
A evolução cíclica de ambas as evasões foi visível. As Finanças têm grande sucesso a
também muito parecida. Diz o texto: "O primeiro enganar-se a si mesmas."
grande surto moderno de evasão orçamental deu- O estudo termina notando as diferenças entre a
se durante os acordos com o FMI em 1977-79 e evasão fiscal dos particulares e a das Finanças. As
1983-85. Nessa altura, a vigilância externa sobre quais, curiosamente, reproduzem hábitos
as contas do Estado era bastante apertada. Então, seculares da sociedade portuguesa: "Os
o virtuosismo dos departamentos das Finanças a contribuintes, na sua prática fiscal, continuam a
enganar o Orçamento foi notável, muito mais velha tradição plebeia de defesa contra a pilhagem
elegante e elaborado que os métodos de quaisquer dos nobres. Só que, hoje, numa sociedade
contrabandistas. Os quais, então, também democrática, essa atitude constitui uma criminosa
prosperavam na evasão. falta de civismo. Mas, por outro lado, o nevoeiro
do Orçamento perpetua os abusos da antiga
Depois, tal como com os contribuintes, as coisas nobreza. Hoje, como na Idade Média, domina a
acalmaram. Ao entrar na CEE, o Orçamento foi arrogância dos iluminados, que julgam ser eles a
corrigido. O processo de adesão à moeda única saber do que o País precisa. E pensam estar acima
exigia disciplina pública e Portugal foi dos países da lei para o conseguirem."
que mais se esforçaram para aconseguir. Fomos
mesmo, nos dez anos até 1998, o Estado
exemplar, que a Comissão Europeia usava para O FMI e a educação em
ralhar com a Grécia, a Itália, etc.
Portugal
Até que entrámos na moeda única. A partir de VALADARES TAVARES*
meados de 1998, aprovado no "exame da UEM", Esta cultura de não avaliação da eficiência
Portugal sentiu-se aliviado e começou o com que se utilizam recursos
descalabro. Nos últimos dois anos, a evasão (maioritariamente públicos) atrasa o país, pois
orçamental disparou. A Comissão começou por geram-se vultuosos desperdícios, caros em si
não perceber o que se passava, de tal forma a próprios, mas mais ainda pelos seus custos
inversão foi súbita. Nos últimos tempos, já tem de oportunidades. E agrava seriamente as
ralhado em privado. Em breve, tornará públicas as desigualdades sociais, pois são sempre os
alunos provenientes de famílias menos
suas críticas", assegura o relatório.
esclarecidas ou com menores rendimentos
O texto nota também uma diferença fundamental que acabam por ficar cativos das escolas ou
dos cursos piores.
entre a evasão orçamental dos primeiros dez anos
após 1974 e a dos últimos dois. É que na época do
FMI viviam-se tempos de austeridade, a que os O TEMA proibido.
governos pretendiam escapar com a sua evasão.
Agora, a economia está a crescer bem, os Recentemente o FMI elaborou um interessante
impostos aumentam aceleradamente e a despesa estudo sobre a (in)eficiência do sistema educativo
pública declarada explode em consonância. português incidindo especialmente sobre o
Apesar disso, os organismos do Estado ainda sistema básico e secundário. Muito embora este
gastam mais, mascarando essas despesas. tipo de análises seja sempre passível de críticas e
de melhorias, é pertinente a conclusão de que o
"Os funcionários públicos (e os carros) nível global de eficiência na utilização dos
multiplicam-se, os organismos subdividem-se, as recursos não excederá os 60%. É também
câmaras municipais compram todos os edifícios interessante referir que as minhas análises
de que se lembram, o Governo aumenta a desenvolvidas segundo metodologia sistémica

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 2


afim, para o caso do Ensino Superior, permitem «underground» só tolerável quando o primeiro é
obter resultados não muito afastados. insuficiente. Em consequência, o primeiro é
necessariamente bom pelo que as comparações e
Todavia, o mais importante deste trabalho não é o as análises sobre a sua eficiência não são
resultado, mas sim o tema, a Eficiência do convenientes e muito menos se contiverem o risco
Sistema Educativo. Porquê? Pela simples razão de concluirmos que, quer no público quer no
que este tema tem estado banido da agenda privado, existem excelentes e péssimos exemplos
política da República Portuguesa. Ou seja, é de eficiência.
politicamente correcto não discutir este tema. E
assim se compreende que o conceito de Ilustração factual recente é a nova lei sobre o
«eficiência» surja quando se discutem outros ensino superior que parece ser mais orientada para
serviços como o turismo ou o desporto e resolver problemas do passado do que do futuro e
indústrias como a dos automóveis ou a dos têxteis, que estabelece de forma transparente este
mas não quando se discute a educação. princípio (ao que creio, em desacordo com a
actual Constituição).
Na verdade, é surpreendente verificar que nas
inúmeras intervenções públicas, ou conferências, C - A Desmotivação
ou sessões mais ou menos majestáticas realizadas
em âmbitos tão distintos como as Presidências Durante os últimos anos, Portugal tem participado
Abertas, o Conselho Nacional de Educação ou a menos em comparações internacionais sobre os
Fundação Calouste Gulbenkian, este tema não níveis reais de conhecimento dos seus alunos ou
existe. E, como é óbvio, também não consta do adultos, o que obviamente dificulta análises
léxico dos nossos recentes governantes da comparativas («benchmarking»), tendo em conta
educação. níveis qualitativos do ensino existente. Um dos
motivos mais citados corresponde ao risco de se
Creio que é especialmente interessante reflectir obterem resultados fracos e de assim contribuir
sobre os principais argumentos que impedem a para reduzir a auto-estima dos professores. Ou
inclusão da temática de eficiência no debate sobre seja, é melhor quebrar o termómetro se se recear
educação em Portugal, embora já no início do estar com febre.
terceiro milénio.
D - A Incomparabilidade
AS RAZÕES DE ESTADO
Esta linha de reflexão baseia-se na hipótese de
As principais razões são agrupáveis em quatro que não há duas actividades comparáveis em
linhas fundamentais de argumentação. educação pelo que qualquer comparação,
«ranking» ou «benchmarking» é grave delito, só
A - O Economicismo representando desconhecimento sobre a
verdadeira natureza do que é a educação.
Segundo esta atitude, falar de eficiência
corresponderá a uma cultura de tudo querer Ilustração factual recente é a generalidade dos
monetarizar, esquecendo a importância processos de avaliação de cursos do ensino
transcendente de educação e que todos os meios a universitário onde, em geral, não se inclui
ela dedicados serão sempre escassos para tão qualquer análise comparativa interescola,
nobre missão. Ilustração factual recente foram as designadamente sobre os modelos de utilização ou
críticas feitas aos recentes e oportunos potenciação dos recursos consumidos.
comentários feitos por Belmiro de Azevedo sobre
o ensino superior. OS MALEFÍCIOS

Em suma, como a educação é muito importante A minha vida de professor leva-me a acreditar que
não se deverá procurar potenciar da melhor forma existem escolas, grupos e profissionais de ensino
cada unidade de recurso a ela atribuído(!). com nível excelente em todos os escalões e
âmbitos do sistema educativo.
B - A Doutrina Pública
Todavia, a ausência de processos sistemáticos de
Segundo esta corrente doutrinária, o sistema avaliação, incluindo análises comparativas,
educativo deve ser público, remetendo-se o designadamente sobre a eficiência com que se
restante para uma espécie de cultura de utilizam os recursos disponibilizados, está a evitar

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 3


que se ajude a corrigir e a melhorar os casos pela importância que elas têm para o mundo. Dos
menos exemplares. destaques daqueles que foram elevados às honras
dos altares, o prelado português, refere ainda as
Esta cultura de não avaliação da eficiência com personalidades dos Papas João XXIII e Pio IX.
que se utilizam recursos (maioritariamente Duas figuras cuja canonização gerou uma
públicos) atrasa o país, pois geram-se vultuosos polémica, que D. José Saraiva Martins considera
desperdícios, caros em si próprios, mas mais ainda “historicamente infundada” dado que “João XXII
pelos seus custos de oportunidades. E agrava foi sempre um admirador de Pio IX”, afirma o
seriamente as desigualdades sociais, pois são Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.
sempre os alunos provenientes de famílias menos Ao referir-se à universalidade das figuras
esclarecidas ou com menores rendimentos que beatificadas e canonizadas, D. José Saraiva refere
acabam por ficar cativos das escolas ou dos cursos que “a santidade não conhece fronteiras
piores, já que os restantes têm maiores facilidades geográficas nem culturais”. Os santos e beatos
de escolha evitando a infelicidade com que a deste ano provêm dos quatro continente. Daí que
variância do nosso sistema educativo os o bispo português, no Vaticano, considere que “a
contemplou. santidade tem um elevado valor ecuménico e é
chamada a dar o seu contributo no caminho da
Na verdade, enquanto não se considerarem como unidade dos cristãos”.
naturais e desejáveis as práticas de selecção pela Para D. José Saraiva Martins este jubileu teve,
excelência, de «rating» ou de «benchmarking» tão ainda, uma dimensão particular: a dimensão
essenciais à cultura dos tempos modernos teremos Mariana. Esta dimensão traduz-se, por um lado,
um sistema educativo mais pertencente ao na vinda do Papa a Fátima para a beatificação dos
passado do que ao futuro. pastorinhos e a entrega do seu anel a Nossa
Senhora, e por outro, a consagração do mundo ao
O que impede, cada vez mais, o desenvolvimento coração Imaculado de Maria e a comemoração
do nosso país. dos cinquenta anos da proclamação do dogma da
Assunção de Nossa Senhora.
*Professor catedrático do IST
[10-01-2001 18:28:42] [Internacional] [2008 caracteres]
[Grátis] [ Imelda Monteiro ]
Os Santos do Ano Santo
Balanço do Jubileu pelo Prefeito da
Congregação para a Causa dos Santos, D.
José Saraiva Martins
Educação, Família e
Estado
Imelda Monteiro Por MÁRIO PINTO
In: Agência Ecclesia In: Público
Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001
Balanço do Jubileu pelo Prefeito da
Congregação para a Causa dos Santos, Há quinze dias, prometi completar a minha
D. José Saraiva Martins exposição, em correspondência do artigo do prof.
Reis Monteiro divulgado no PÚBLICO de 28-12-
“Este ano foi realmente um Ano Santo”. As 2000. É o que faço hoje: sobre os direitos e
palavras são de D. José Saraiva Martins, e deveres dos pais (e do Estado) em matéria de
referem-se ao balanço do Ano Jubilar na educação. Não é uma questão secundária,
perspectiva da Congregação para a Causa dos pedagógica ou tecnocrática: trata-se de uma
Santos. Em entrevista à AGÊNCIA ECCLESIA, o questão de direitos fundamentais e de cidadania.
Bispo português que, no Vaticano, está à frente
desta Congregação afirmou que “este foi um ano Lembrarei que o prof. Reis Monteiro discordou da
muito rico”. O motivo reside na beatificação e tese que eu tinha enunciado assim: "Pode o
canonização de 207 servos de Deus. Um Governo definir e impor 'projectos educativos'
verdadeiro recorde. Foram canonizados 156 para todo o sistema nacional escolar? Eu não
beatos e beatificados 56 servos de Deus. As creio." De seguida, desenvolveu as suas
beatificações de Francisco e Jacinta Marto são considerações para tentar refutar, ou pelo menos
para D. José Saraiva Martins aquelas que enfraquecer, a argumentação que (aliás
marcaram mais este ano. Não só pelo facto de ser correctamente) me atribui: "Que a liberdade de
um português a imitir esta opinião, mas também

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 4


ensino exige paridade financeira e paralelismo A nossa Constituição consagra esta prioridade de
entre a escola pública e a escola privada." os pais educarem (e criarem) os seus filhos no nº 5
do artigo 36º: "Os pais têm o direito e o dever de
A certa altura, o prof. Reis Monteiro escreve: "Os educação e manutenção dos filhos." Este princípio
devedores do direito à educação são vários. A é objecto de uma importante garantia, constante
família é, naturalmente, o primeiro, mas o do nº 6 do mesmo artigo, a saber: "Os filhos não
principal é o Estado..." E, na argumentação podem ser separados dos pais, salvo quando estes
subsequente, procura mostrar que, ao fim e ao não cumpram os seus deveres fundamentais para
cabo, o "principal" (isto é, o Estado) está antes do com eles e sempre mediante decisão judicial."
que o "primeiro" (isto é, a família). Defende
inequivocamente a escola do Estado; e (pelo Esta prioridade dos pais fica ainda mais reforçada
menos) duvida de que a escola privada possa pelos deveres impostos ao Estado de apoiar a
prestar o serviço da educação. Chega a dizer: "A família. Diz o artigo 68º da Constituição: "Os pais
educação está, pois, na mira da privatização, e as mães têm direito à protecção da sociedade e
como se ela fosse um serviço como os outros." do Estado na realização da sua insubstituível
acção em relação aos filhos, nomeadamente
Ora eu defendo que, em matéria de educação das quanto à sua educação..."
crianças e jovens, a família não só é a primeira
titular, como deve ser também a principal - e quer Não é claríssimo? Contudo, nós não temos esta
se trate da educação familiar, quer se trate da "política de família"!
educação escolar. Ao Estado compete,
precisamente, criar as condições concretas para O que temos é um sistema público escolar com
que isto seja de facto assim - em vez de se financiamento exclusivo. Perante ele, fica em
substituir aos cidadãos e famílias, com um sistema causa a liberdade de os pais escolherem a escola,
escolar estatal que, mais do que principal, é único porque a escola pública é gratuita e a escola
(monopolista). privada é paga. Através desta diferença, o sistema
como que "separa" os filhos do direito de os pais
Nesta defesa da prioridade do direito dos pais, escolherem a escola.
tenho comigo (além de outros) a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e a Isto digo eu. Mas é também o que está consagrado
Constituição Portuguesa. E quase não preciso de na Lei, desde 1979 - e admira que o prof. Reis
argumentar. Vejamos. Monteiro não preste atenção nem à Constituição
nem à Lei. Citarei apenas o texto do nº 2 do artigo
Diz assim a Declaração Universal dos Direitos do 1º da Lei de Bases do Ensino Particular e
Homem (nº 3 do art. 26º): "Aos pais pertence a Cooperativo, que é o seguinte: "Ao Estado
prioridade do direito de escolher o género de incumbe criar condições que possibilitem o acesso
educação a dar aos filhos." Note-se que esta de todos à educação e à cultura e que permitam
velhíssima tese provém da ideia de que a igualdade de oportunidades no exercício da livre
educação é algo inseparável da criação: quem escolha entre pluralidade de vias educativas e de
cria, educa; educar é ainda criar. A palavra condições de ensino." É o que eu defendo, palavra
"educação" tem, aliás, este exacto sentido por palavra: igualdade de oportunidades no
etimológico: criar. E não está aqui em causa uma exercício da livre escolha entre pluralidade de vias
ideia apenas biológica; está aqui em causa uma educativas e de condições de ensino!
ideia humana integral.
Porque é que então não cumprimos este princípio
O Pacto Internacional dos Direitos Económicos, consagrado na lei desde 1979, em vez de o
Sociais e Culturais (art. 13º) estabelece a doutrina querermos revogar pelo esquecimento?
de que os Estados signatários (entre os quais
Portugal) se comprometem a respeitar a liberdade Uma reflexão final. Nenhum Estado conseguiu
de os pais (ou, se for caso disso, os tutores legais) jamais substituir por serviços públicos as funções
escolherem para os seus filhos outras escolas que socializadoras, educativas e culturais das famílias.
não as públicas; e, além disso, a garantir a Onde as famílias enfraqueceram, sempre a
educação religiosa e moral que os pais, sociedade civil enfraqueceu e houve retrocesso
conformemente às suas próprias convicções, económico, social e cultural. Nos casos em que os
escolhem para os seus filhos. Estados tentaram substituir as famílias, nem o
próprio Estado se conseguiu manter a si próprio, e
as sociedades civis ficaram pobres de cultura de

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 5


valores e de responsabilidade - é ilusório pensar por leões, gladiadores a matar-se, cegos
que um Estado se mantém apenas por meios miseráveis a lutar por um pedaço de comida,
políticos, contra ou apesar da sociedade civil. Há pretensas bruxas a arder, criminosos a serem
exemplos bem recentes, que estão à vista. É um enforcados, judeus a serem espancados nas ruas e
erro preferir o Estado às famílias naquilo que é enviados para campos de concentração. Todas
função das famílias, implicitamente preferindo estas cenas bárbaras foram, em épocas diferentes,
uma sociedade civil sem "auto- espectáculos de grande audiência e felizmente
responsabilização", em nome do Estado- estamos longe desses tempos. Mas deveremos ter
providência. Sem capital social (um conceito a cultura e civilização suficiente para saber que o
sobre que um dia voltarei), nem há cultura, nem bem e o mal coexistem em cada um de nós e no
há coesão social, nem há ordem, nem segurança. nosso ser colectivo e que tanto um como outro
A função essencial de um Estado social não é podem ser exacerbados. E que a liberdade não
substituir a sociedade civil; é criar as condições pode ser irrestrita porque está ela própria sujeita a
necessárias para que os cidadãos exercitem a sua conflitos de valores e a limitações de ordem
cidadania em maior liberdade, em maior moral.
solidariedade e em maior responsabilidade - assim
se gerando uma sociedade civil mais autónoma, Sabe-se que o argumento oposto a este parte do
mais culta e mais coesa. princípio de que ninguém pode decidir o que é o
bem e o mal, uma vez que isso depende de uma
perspectiva individual. Os valores e a moral
ficam, deste modo, sujeitos ao mercado, à lei da
O fim da vergonha maioria, como se o certo e o errado fossem
Henrique Monteiro equivalentes e dependessem meramente de uma
In: Expresso, 20010122 escolha. Mas é óbvio que este argumento é iníquo.
Se a maioria escolher o que é errado ninguém
Se a maioria escolher o que é errado ninguém
poderá ser obrigado a segui-la. Mais: quem o fizer
poderá ser obrigado a segui-la. Mais: quem o fizer
torna-se pessoalmente responsável por um erro. A torna-se pessoalmente responsável por um erro.
questão não está, pois, no que o público quer, mas
em quem está disposto a satisfazer-lhe os A questão não está, pois, no que o público quer,
caprichos, ainda que pérfidos. Ou seja, qual é o
limite, a barreira moral, de cada indivíduo. No plano
mas em quem está disposto a satisfazer-lhe os
individual não há desculpas colectivas. caprichos, ainda que pérfidos. Ou seja, qual é o
limite, a barreira moral, de cada indivíduo. No
HÁ UM provérbio (seria melhor dizer havia?) que plano individual não há desculpas colectivas.
reza assim: vergonha é não ter vergonha. Significa
que o mais vergonhoso é não ter consciência de Mas seria injusto pensar que este tipo de
que um determinado acto é impróprio. problemas apenas existe na televisão. Veja-se
Infelizmente, em muitos casos, boa parte da como alguém na Câmara de Lisboa, por exemplo,
sociedade portuguesa parece ter chegado a este aceitou a inscrição de equipas com os sugestivos
extremo. Já não há vergonha. nomes de «Organização Terrorista dos Olivais»
ou «Vândalos do Lote 58» num torneio desportivo
Não existe, desde logo, em programas de para jovens organizado pela autarquia. Estes dois
televisão. Veja-se o «Big Brother» (ou o que se «clubes» viram-se envolvidos numa onda de
espera dos «Acorrentados»). São espectáculos, violência de que resultaram ferimentos graves
pode pensar-se que não vem dali mal ao mundo. num outro jovem. Coincidência? Não,
Trata-se, porém, de espectáculos degradantes, que seguramente. Apenas a ideia de que «Terrorista»
não potenciam o que há de melhor em cada um ou «Vândalo» são nomes como quaisquer outros.
(como concursos que aferem conhecimentos ou Ao fim e ao cabo resulta nisto a doutrina tão
memória), mas precisamente o contrário. São popular segundo a qual ninguém pode decidir o
hinos ao «voyeurismo» e ao fim da privacidade. que está certo e errado...
São hinos à falta de vergonha.

Argumenta-se com audiências, «é o que o público Papa nomeia dois cardeais


quer». É certo, basta olhar para a ascensão da TVI
à custa do «Big Brother». Mas a vontade de um portugueses
público maioritário não pode ser (nem nunca foi) Público
critério de escolha entre o que está certo e errado. Sociedade 21-01-2001 - 12h14
Já foi vontade do público ver cristãos devorados

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 6


Vaticano revelou hoje 37 novos conselheiros de Honduras, Chile, Costa do Marfim, França,
João Paulo II Venezuela, Peru e Espanha.

O Papa João Paulo II nomeou hoje 37 novos


cardeais, naquela que poderá ser uma das suas
Objectivos
últimas decisões a marcar o futuro da Igreja In: DN, 20000121
Católica Romana. Entre os nomes a serem Vasco Pulido Valente
indigitados constam o actual patriarca de Lisboa, O sr. António José Seguro foi designado pelo
D. José Policarpo, e o arcebispo Saraiva Martins, Parlamento Europeu para apreciação das
prefeito da Congregação para as Causas dos conclusões da Cimeira de Nice. Com todo o
Santos. respeito, gostaria de o remeter para alguns textos
Os cardeais são a elite da Igreja Católica e os clássicos sobre o assunto.
conselheiros mais próximos do Papa em Roma e
no mundo. São também estes representantes que 1. "...Precisamos de criar uma associação
decidem entre eles quem é nomeado Papa depois económica na Europa Central, através de tratados
da morte de um Pontífice. aduaneiros, que incluam a França, a Bélgica, a
A cerimónia para a elevação a cardeal - o Holanda, a Dinamarca, a Áustria, a Hungria, a
Consistório - vai realizar-se a 21 de Fevereiro. Polónia e talvez também a Itália, a Suécia e a
Nessa altura, o Colégio dos Cardeais totalizará Noruega. Esta associação não terá nenhuma
178 elementos, dos quais 129 - com idades suprema autoridade constitucional comum:... os
inferiores a 80 anos - são elegíveis para suceder seus membros serão formalmente iguais, mas na
João Paulo II. prática estarão submetidos à influência alemã e
José Policarpo e Saraiva Martins indigitados devem estabilizar o domínio económico da
pelo Papa Alemanha sobre a Mitteleuropa."
Portugal tem duas nomeações: o Arcebispo José
Saraiva Martins e D. José da Cruz Policarpo, 2. Eventualmente, até se podem admitir nesta
patriarca de Lisboa. comunidade a Espanha, Portugal, a Suíça, a
O arcebispo José Saraiva Martins, agora Roménia, a Bulgária e a Turquia.
indigitado para cardeal, nasceu a 6 de Janeiro de
1932, em Gagos do Jarmelo, no distrito da 3. "As fronteiras da Rússia devem recuar tanto
Guarda, em Portugal. Ordenado sacerdote a 16 de quanto possível para leste da fronteira alemã" e o
Março de 1957, foi consagrado bispo a 2 de Julho "domínio da Rússia sobre os seus povos vassalos"
de 1988. deve acabar. É admissível que as províncias
É doutor em Filosofia e Teologia e doutor bálticas se tornem independentes.
"honoris causa" em Filosofia e Letras pela
Universidade Fu Jen Catholic University de 4. A associação aduaneira pode eventualmente
Taipei, China e frequentou cursos de evoluir para uma espécie de Estados Unidos da
especialização em Filosofia e Teologia na Europa, de maneira a enfrentar os "recursos
Universidade Católica de Lovaina, Bélgica. produtivos do mundo transatlântico" e combater a
Recentemente, o Papa nomeou-o como o único "supremacia económica" e "política" da América.
membro da Cúria, Membro do Conselho pós-
sinodal para Europa. Quem escreveu esta prosa profética? Jean Monet?
D. José Policarpo, 64 anos, é natural do lugar de Um eurocrata inspirado? Nem pensar. O chanceler
Pego, concelho das Caldas da Rainha, onde do II Reich, Bethmann Hollweg, o comandante-
nasceu a 26 de Fevereiro 1936. em-chefe do exército alemão, Moltke, o próprio
É Patriarca de Lisboa desde 24 de Março de 1998, Kaiser, Guilherme II, e alguns conselheiros. Em
um ano depois de ter sido nomeado arcebispo Setembro de 1914. E não, não queriam apresentar
coadjutor patriarcal de Lisboa, na sequência da uma proposta para Nice; queriam definir os
morte de D. António Ribeiro. objectivos da Alemanha na I Grande Guerra.
Concluiu a licenciatura em Teologia Dogmática
em 1968 e foi nomeado 20 anos depois para reitor
da Universidade Católica Portuguesa, cargo que
Luanda: 425 anos
desempenhou até 1996. In: CM, 20010120
Entre os indigitados contam-se também por João Caniço
representantes dos EUA, Reino Unido, Equador,
Brasil, Índia, Colômbia, Irlanda, Lituânia, A cidade de Luanda celebra 425 anos de
existência, na próxima quinta-feira.

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 7


O seu Presidente da Câmara (Governador Aníbal
Rocha) solicitou do Senhor Cardeal-Arcebispo de
Luanda, a celebração de uma Missa Solene de
Acção de Graças, em praça pública, às 9 horas
desse Dia da Cidade, na qual participariam as
forças vivas da Autarquia e ainda algumas do
Governo. Estão a ser mobilizados todos os
católicos para corresponderem em massa a este
pedido, que pode parecer surpreendente e
inesperado, mas que, na hora presente, se afigura
"politicamente correcto"...

Sempre se supôs que Luanda teria sido fundada


em 25 de Janeiro de 1576, sendo seu fundador
Paulo Dias de Novais. Os colonos portugueses
também celebraram sempre esta data. No entanto,
há documentos, citados por Historiadores (críticos
e bem documentados) que atestam que, em 1575,
já cá viviam os missionários jesuítas, sendo eles
os primeiros habitantes (fundadores) de Luanda.
Eles próprios deram as boas-vindas ao
Governador Paulo Dias de Novais, que, por sua
vez, baptizou o lugar com o nome cristão de "Vila
de São Paulo" (por ele se chamar Paulo).

Passou-se isto entre 29 de Junho e 20 de Outubro


de 1575. De facto, um documento de 29 de Junho
de 1575 diz que estava a Comunidade dos quatro
jesuítas (dois padres e dois irmãos) em terra firme
e tinham construído a sua habitação e uma
pequena igreja, à quais se juntaram outras
"choupanas" de portugueses e de cristãos nativos.
Um outro documento, que narra a recepção
honrosa a Paulo Dias de Novais - pelos jesuítas e
pela população, na sua igreja - e que cita já o
nome da povoação, tem a data de 20 de Outubro
de 1575.

Assim, parece mais seguro afirmar que Luanda foi


fundada em 1575 (há 426 anos), certamente
algumas semanas antes de 29 de Junho, e que
acolheu o seu primeiro Governador , de quem
recebeu o nome de "Vila de São Paulo", ainda
antes de 20 de Outubro. A data de 25 de Janeiro,
dia da Conversão de São Paulo, carece de
fundamento histórico rigoroso. Parece não passar
de uma piedosa evocação, mas que deve ter sido a
"culpada" da fixação do ano da fundação em
1576, o ano imediato...

O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 8

You might also like