Professional Documents
Culture Documents
20010122
The conventional view serves to protect us from the painful job of thinking
John Kenneth Galbraith
ultrapassa em muito a fraude que alguns
contribuintes fazem nas suas declarações de
Evasão orçamental __________________ 1 impostos. Por isso, o Estado é quem mais engana
O FMI e a educação em Portugal_______ 2 o fisco.
Os Santos do Ano Santo ______________ 4 Além disso, esta fraude é muito mais grave que a
das empresas. Porque, apesar de o Governo falar
Educação, Família e Estado ___________ 4 muito de fuga aos impostos e de reforma fiscal, o
O fim da vergonha __________________ 6 problema orçamental, em Portugal, não é a falta
de receita, mas o excesso da despesa pública.
Papa nomeia dois cardeais portugueses __ 6
Os métodos que o Executivo usa para aldrabar o
Objectivos _________________________ 7
seu próprio Orçamento são, segundo essa análise,
Luanda: 425 anos ___________________ 7 múltiplos e muito criativos. Artifícios
contabilísticos, fundações e empresas públicas
In: DN, 2001.01.22 fictícias, contratos de leasing e contabilização
João César das Neves directa na dívida pública, entre muitos outros
truques. Dos expedientes mais elementares aos
esquemas mais sofisticados, tudo serve. Podemos
Evasão orçamental mesmo dizer que a prática recente reduziu a
A evasão fiscal é um grave problema, em contabilidade pública à condição de ciência
Portugal. E a entidade que mais a pratica é o oculta.
Estado. Estas são as conclusões do recente estudo O paralelo entre este comportamento e a evasão
da Fundação Richard Zwentzerg sobre o nosso fiscal praticada pelos contribuintes é, segundo o
país, a que o DN teve acesso. Esta fundação (que relatório, evidente. Primeiro, a finalidade é a
não publica os seus textos) fez uma análise da mesma. O que o Estado pretende, tal como os
situação das nossas finanças públicas, com faltosos, é gastar dinheiro a que não tem direito.
atenção especial ao fenómeno do incumprimento Os propósitos declarados, tal como nos
da lei, problema que considera grave e endémico, contribuintes, são muito meritórios. O Governo
em Portugal. A prova disso, segundo o livro, é quer contratar funcionários, criar institutos e
que quem menos cumpre a lei fiscal é o próprio programas de apoio, participar em empresas.
Governo. Tudo para fazer bem ao País. Infelizmente, as
O montante de despesa pública não declarada no contas públicas, com a sua insensibilidade
Orçamento de Estado é, segundo o estudo, aritmética, colocam limites demasiado apertados,
"astronómico. Embora de difícil cálculo, pela sua que a evasão ultrapassa. Este raciocínio é
própria natureza, os gastos disfarçados e ausentes precisamente o mesmo que seguem muitos
do Orçamento têm vindo a crescer e atingem já empresários, preocupados com os seus negócios,
um nível que só pode ser considerado como quando preenchem a declaração de impostos.
escandaloso", afirma o texto. Esta evasão
O Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2001 pág. 1
Em segundo lugar, há o mesmo desprezo pela presença estatal em múltiplos sectores, invertendo
legalidade. O contribuinte acha que a lei fiscal é as privatizações. É já o principal accionista do
má, os funcionários das Finanças são bárbaros e maior banco privado, o BCP. Não é possível uma
só ele, empresário privado, sabe aquilo que tal prodigalidade sem esconder as contas.
realmente é necessário ao desenvolvimento do
País. Por seu lado, os ministros pensam que os Nos últimos tempos, chega-se a pensar que a
deputados da oposição e o Tribunal de Contas são primeira preocupação política do Ministério das
inimigos públicos e a lei fiscal espartilha os seus Finanças, mais do que espremer os contribuintes,
ministérios. São eles, pelo contrário, quem é a de determinar qual é o máximo de despesa que
conhece a realidade portuguesa e a melhora consegue fazer sem ser descoberto.
gastando o dinheiro dos cidadãos.
E temos de dizer que, nessa linha, o êxito é
A evolução cíclica de ambas as evasões foi visível. As Finanças têm grande sucesso a
também muito parecida. Diz o texto: "O primeiro enganar-se a si mesmas."
grande surto moderno de evasão orçamental deu- O estudo termina notando as diferenças entre a
se durante os acordos com o FMI em 1977-79 e evasão fiscal dos particulares e a das Finanças. As
1983-85. Nessa altura, a vigilância externa sobre quais, curiosamente, reproduzem hábitos
as contas do Estado era bastante apertada. Então, seculares da sociedade portuguesa: "Os
o virtuosismo dos departamentos das Finanças a contribuintes, na sua prática fiscal, continuam a
enganar o Orçamento foi notável, muito mais velha tradição plebeia de defesa contra a pilhagem
elegante e elaborado que os métodos de quaisquer dos nobres. Só que, hoje, numa sociedade
contrabandistas. Os quais, então, também democrática, essa atitude constitui uma criminosa
prosperavam na evasão. falta de civismo. Mas, por outro lado, o nevoeiro
do Orçamento perpetua os abusos da antiga
Depois, tal como com os contribuintes, as coisas nobreza. Hoje, como na Idade Média, domina a
acalmaram. Ao entrar na CEE, o Orçamento foi arrogância dos iluminados, que julgam ser eles a
corrigido. O processo de adesão à moeda única saber do que o País precisa. E pensam estar acima
exigia disciplina pública e Portugal foi dos países da lei para o conseguirem."
que mais se esforçaram para aconseguir. Fomos
mesmo, nos dez anos até 1998, o Estado
exemplar, que a Comissão Europeia usava para O FMI e a educação em
ralhar com a Grécia, a Itália, etc.
Portugal
Até que entrámos na moeda única. A partir de VALADARES TAVARES*
meados de 1998, aprovado no "exame da UEM", Esta cultura de não avaliação da eficiência
Portugal sentiu-se aliviado e começou o com que se utilizam recursos
descalabro. Nos últimos dois anos, a evasão (maioritariamente públicos) atrasa o país, pois
orçamental disparou. A Comissão começou por geram-se vultuosos desperdícios, caros em si
não perceber o que se passava, de tal forma a próprios, mas mais ainda pelos seus custos
inversão foi súbita. Nos últimos tempos, já tem de oportunidades. E agrava seriamente as
ralhado em privado. Em breve, tornará públicas as desigualdades sociais, pois são sempre os
alunos provenientes de famílias menos
suas críticas", assegura o relatório.
esclarecidas ou com menores rendimentos
O texto nota também uma diferença fundamental que acabam por ficar cativos das escolas ou
dos cursos piores.
entre a evasão orçamental dos primeiros dez anos
após 1974 e a dos últimos dois. É que na época do
FMI viviam-se tempos de austeridade, a que os O TEMA proibido.
governos pretendiam escapar com a sua evasão.
Agora, a economia está a crescer bem, os Recentemente o FMI elaborou um interessante
impostos aumentam aceleradamente e a despesa estudo sobre a (in)eficiência do sistema educativo
pública declarada explode em consonância. português incidindo especialmente sobre o
Apesar disso, os organismos do Estado ainda sistema básico e secundário. Muito embora este
gastam mais, mascarando essas despesas. tipo de análises seja sempre passível de críticas e
de melhorias, é pertinente a conclusão de que o
"Os funcionários públicos (e os carros) nível global de eficiência na utilização dos
multiplicam-se, os organismos subdividem-se, as recursos não excederá os 60%. É também
câmaras municipais compram todos os edifícios interessante referir que as minhas análises
de que se lembram, o Governo aumenta a desenvolvidas segundo metodologia sistémica
Em suma, como a educação é muito importante A minha vida de professor leva-me a acreditar que
não se deverá procurar potenciar da melhor forma existem escolas, grupos e profissionais de ensino
cada unidade de recurso a ela atribuído(!). com nível excelente em todos os escalões e
âmbitos do sistema educativo.
B - A Doutrina Pública
Todavia, a ausência de processos sistemáticos de
Segundo esta corrente doutrinária, o sistema avaliação, incluindo análises comparativas,
educativo deve ser público, remetendo-se o designadamente sobre a eficiência com que se
restante para uma espécie de cultura de utilizam os recursos disponibilizados, está a evitar