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IDEIAS CHARLES R. BOXER


5 DF MARÇO DF 'OU'1 . 2 C I' i) , r; "J O SEMANARIO

EMBORAa minha correspondência com o Pro- sidade de Lisboa (1952) e condecorações da


fessor Charles Boxer se inicie em 1977- e CHARlES R. BOXER (8/3/1904-27/4/2000) . Ordem de Santiagoda Espada e com a
estive pela primeira vez na sua casa-biblio- Grande Cruz da Ordem do Infante Dom
teca de Ringshall End (Hertfordshire) em Hemique (1962),a partir de 1963a sua obra
1979-, foram as suas obras publicadas que
me inspiraram na fase de jovem investiga-
dor. Historiador, seria proscrita. Charles Boxer tornou-se
persona nongrata em Portugal. A situação
só mudou após a morte de Salazar.Charles
Foram de particular importância neste
sentido a sua grande síntese histórica, The
Portuguese Seaborne Empire, 1415-1825
(l-Iutcrunson ofLondon, 1969)e algunsdos
Mest're Boxervoltou a Portugal em '973, isto é, du-
rante o regime de Marcelo Caetano, e furam
publicadas versões portuguesas de algumas
das suas obras, tais corno O Império Marí-
seus numerosos artigos como ')\ tentative timo Português, RelaçõesRaciais no Impé-
check-list of Indo-Portuguese Imprints,
1556-1674"(Panjim, Goa, Boletim do Insti-
tuto Vasco da Gama, n.o 73, 1956) oU"A
Glimpse of the Goa Archives" (Londres,
BulIetin of the School of Oriental and Afri-
e Amigo )~ ,
rio Colonial Português, A Igreja e aExpan-
são Ibérica e A Mulher na Expansão
Ultramarina Ibérica somente depois de 25
de Abril. -
Enquanto Charles Boxer eravisto como
can Studies, XIV (1952),publicado logo Em 8 de Março. (ie',1'?O4,co.mpletaria Io.o.ano.s de II. "traidor" pelo Estado Novo, Boxer via a
após o seu primeiro contacto directo com ",I,:. .~ conversão de Armando Cortesão à política
Goa em Setembro-Outubro de 195',para o do Estado Novo em 1952com grande per-
qual beneficiou e reconheceu com grati- vida o.histo.riado.r lnglê{, Ch!!;{lef R. Bo.xer que, mai~ plexidade e como falta de coerência ou co-
dão o patrocínio do ministro do Ultramar,
M. Sarmento Rodrigues, e da hospitalida-
do. que ninguéTn;dtvulgo.u : dignifico.u no. mundo. ragem moral. Dos seus 20 anos em exílio
(desde 1932),Armando Cortesão viveu em
de em Goa do governador-geral, coman- anglo.-saxónico., e não. só, .asifaçanhas históricas da grande parte (1935-46)em Londres, com
dante F.de Quintanilha e Mendonça Dias. apoios académjco e frnanceiro de Charles
Estive em Portugal pela primeira vez Boxer, segundo um estudo de investigação
expansão.po.rt';lguesa no.imu1:fdo.. A Slf,a carreira de
durante quase meio ano antes do 25deAbril recentemente publicado por].S. Cummins
para consultar os arquivos. Portugal estava histo.riado.r-investigado.r duro.u quas! mais'de meio. , e L.de Sousa Rebelo na revista inglesa Por-
ainda com relações cortadas com a Índia tuguese Studies, vol. 17(zoo,), utilizando a
após a ocupação de Goa, mas, por inter- século.. É um dever de ,gratidão. ,eamizade lembrar-se correspondência trocada entr~ Armando
médio do co-jesuíta c grande amigo, Padre Cortesão e a esposa de Charles Boxer em
Doutor Bacelare Oliveira,eu conseguiraob- de alguém que entra na no.ssa vida ç no.s ajuda a ' '945 e outras fontes citadas no mesmo en-
ter das autoridades portuh",esasum visto es- saio.
pecial. apro.veitá-Ia melho.r. É co.m este sentimento. de deve; Boxcr encontrava-se envolvido nessa
Depois da pré-revolução abortada e altura na Grande Guerra como agente se-
quando já pairava no ar a chegada da Revo- que quero. deixar aqui um registo. daquilo. que o. creto dos ingleses. Foi ferido e ficou detido
lução dos Cravos, fui aconselhado a deixar pelos japoneses após a ocupação de Hong-

arquivos em Madrid e Paris. Quis visitar


~--
o País. Continuei as minhas pesquisas nos histo.riado.r Charl!f llQ.,ierf2!p'at:,a- mi'!t:. ~dJ
-~-'- ...-. !ive~s~, Kong. Lê-se no citado artigo que, numa das
cartas de Armando Cortesão, datada de 18
Londres e encontrar-mecom o ProfessorBo- que resumir este meu sentimento. 'e evo.car em duas de Março, ele decla.rava-se"firme defensor
xer, mas com um passaporte indiano não foi da verdadeira democracia, no melhor sen-
possívelobter um visto dentro do tempo dis- palavras a memória que guardo. de Charles Bo.xer, tido da palavra".
ponivel na altura. Quando a família Boxer pôde voltar a
A obra de Charles Boxer convenceu- diria que foi um "mestre amigo.", não. muito. diferente reunir-se no Reino Unido após o fim da
-me que o público necessita de sínteses, Guerra, Armando Cortesão era um visitan-
mas que tais sínteses podem ter um valor de guru-sishya para um indiano.. te frequente da família e foi uma vez con-
quase-perene somente quando assentam vidado pelo Professor Boxer,em Dezembro
numa investigação séria e paciente nos ar- de 1950,para fazer uma conferência no seu
quivoseonde for necessário ir buscar a evi- tavaa escrita da história em Portugal e fez les Boxer manteve a sua opinião apesar de Departamento em King's College. Arman-
dência. O citado guia analítico de Charles regularmentee publicouos seusbalançoscrí- Gilberto Freyre ter-lhe dedicado (junta- do Cortesão declarava nesta ocasião que
Boxer para os arquivos de Goa, e outros ticosda historiografiaportuguesa. Nãopac- mente com Anlérico Castro e Roger Cail- Boxer era um dos historiadores britânicos
guias e apontamentos que ele publicou so- tuava com a instrumentalização do passa- lois),em 1961,o seu IivroThe Portuguese and que estudou os Descobrimentos portugue-
bre as fontes para a história dos portugue- do, nem para o glorificar,nem para o denegrir the Tropics. Charles Boxer tentou ser sem- ses com "impa.rcialidade e justiça".
ses no Oriente, na África e no Brasil, con- como estratégia para justificar ou condenar pre moderado e manter equilfbrio na sua Quando Armando Cortesão passaraa ser
tinuam a ser de utilidade para investigadores as opções políticas da actualidade. apreciação da historiografia portuguesa. um firme defensor de Salazar,ele teria con-
até aos nossos dias. Foi uma decisão muito Embora não tenho dados parademons- Soube apreciar os trabalhos desenvolvidos fessado publicamente emMrican Realities
feliz da Fundação Oriente investir na ree- trarque tivessemarúfesto interesse especial por Gago Coutinho, Visconde de Lagoa, and Delusions (Lisboa,AgênciaGeral do Ul-
dição de toda a obra do Professor Charles pelo funcionamento da Academia Portu- Armando Cortesão, Orlando Ribeiro, Tei- tramar, 1962,p. n) e num discurso que pro-
Boxer, mas, apesar desta nobre iniciativa, guesade História, admirava e apreciava aI- xeira de Mota e Luís de Albuquerque, todos nunciou no mesmo ano na Sociedade de
muita obra vai continuar a não ter versões guns dos seus sócios.Manifestou sentimen- eles ligados às instituições da Marinha e Geografia de Lisboa, que era impossível re-
portuguesas e continuar a ser pouco apro- tos de respeito e apreciação pela obra de aos centros universitários de Portugal. Te- jeitar o nobre apelo do Chefe do Estado
veitada pela grande maioria dos portugue- Virgínia Rau, Marcelo Caetano e António ve divergênciassobre o luso-tropicalismo de português, e não imita.r o exemplo do ho-
ses,que,pelarealidadequeeu conheço e con- da SilvaRego, embora todos elesservissem alguns deles, mas soube apreciar a sua eru- mem que, na sua avançada idade, enfrenta-
sidero representatiya, não sente grande nas instituições públicas do Estado Novo. dição positivista nas áreas de navegação e va com muita dificuldade os adversários do
vontade de ler obras escritas em inglês.Per- Diogo Ramada Curto, a quem aFunda- geografia que dominavam muito bem. património português no ultramar, o patri-
gunto-me amim quantos terão lido em Por- ção Oriente incumbiu o projecto dareedi- Só com Armando Cortesão as relações mónio colectivo de todos os portugueses,
tugal a biografia em 616páginas de grande ção das obras completas de Charles Boxer, de amizade sofreram uma crise séria após a sem discriminação de crenças políticas e
formato publicada por Dauril AJden em afirma e bem na Introdução ao 3.0volume publicação de Race Relations in the Portu- religiosas, e sem distinção da cor das peles.
2001, tanlbém com o apoio da Fundação da edição de Opera Minora (Lisboa, Fun- guese Colonial Empire, ,815-1825(Oxford, Tanlbém Charles Boxer tinha tido a sua
Oriente? Resultado de muita pesquisa nas dação Oriente, 2002) que o historiador in- CIarendon Press, 1963),em que Charles Bo- conversão. Os anos que viveu na sociedade'
instituições onde Charles Boxerviveu e tra- glês demarcou-se dos "preconceitos" 1deo- xer punha em questão a tese luso-tropica- colonial em Hong- Kong e a experiência da
balhou durante a sua vida, esta ,biografia lógicos de alguns ensaístas e historiadores lista e algumas declarações de Salazar e do guerra convenceram Charles Boxer que os
permitecompreenderoespíriJoiÍuearúma- portugueses conhecidos pela sua clara fi- seu governo sobre o "respeito' com que dias dos impérios estavam contados Isso
va este historiador e que lhe permitiu pro- ~ liação republicana e democrática, como pretendiam ter tratado as populações das levou-o a insurgir-se contra a superioridade
duzir uma obra de grande fôlego em'termos ! António Sérgio e VitorinoMagalhães Go- suas colónias a.fricanas.Cha.rlesBoxer não imperial e contra a atitude de superiorida-
de ãmbito geográficoe cronológico,utilizan- .dinho. Mas conheço textos em que não os achava correcta a pactuação dos historiado- de e paternalismo europeu nas colónias.
do fontes a.rquivísticas em várias Únguas t de~decitarpelosseusaspectosestimuJan- res portugueses, e especialmente de Ar- Em '946, recusou a alta condecoração MBE
europeias e japonesa, e cobtindo bupos I tes e pela sua utilização e leitura crítica de mando Cortesão, com os seus políticos na do governo britânico, e voltaria a recusa.ra
sociais e aspectos que tinJ1am meêecido ' fontes.Foicapaztambémdesugeriremal- hofa da verdade, quando os povos coloni- condecoração CBE em '975. Muito recen-
pouca atenção na história colonialportugue- t; guns dos seus estudos que a paixão que Gil- . zados daÁfrica tinharniníciado a guerra pe- temente. e após a sua morte, estas recusas
sa e holandesa. . berto Fte)'!e manifestou pelo luso-tropica- la sua independência. foram interpretadas por um HyweI Wtl-
Se até então o Estado Novo fizera apro- liarns,no jornal Guardian de Londres (24de
," O tempo eIl?queÇh""les R. Bdxer vi-llismo na \ua narrativa de viagem pelo
'r'veu e praticou Oofício de hiStodad6r coin-, Império pO~tuguês,publicada como AveIi- veitamento dos estudos e da fama de Cha.r- Fevereiro), como motivadas pela consciên-
cidiu em grande parte com 8Estado Novo rura e Rotina (Rio de Janeiro, 1953),expri- les Boxer para glorificação dos Descobri- cia culpada de ter traÍdo os seus colegas
em Portugal. Charles Boxer acompanhou mia antes un\a preocupação pela realidade mentos portugueses e o agraciara com um presos pelos japoneses, denunciando a uti-
com particular atenção a política que a.fec- que reflecnaexactarnente o contrário. Char- doutoramento honoris causa pela Univer- lizaçãode un1transmissoI:Insinuavaque Bo-
CHARLES
R.
"." BOXER I IDEIAS
CAD'""OSEMANÁRIO'SDEMARÇOOE2001 mI. 'C

xer tinha recebido em troca um tratamento das por Charles Boxer foram os prefácios pa- feito. Desejava que me tratassem como um sa: António da Silva Rego, José Pereira da
preferencial. Foram publicadas no mesmo ra a versão portuguesa dos meus livros Goa novo Fernão Mendes Pinto, sem nutrir sen- Costa, Luísde Albuqoerque, LuísFilipeTho-
jornal várias e fortes contestações desta inter- Medieval (Lisboa, Editorial Estampa, 1993)e timentos negativos, e referia-se ao Jesuíta maz. Outros do estrangeiro incllÚam Char-
pretação e em defesa de Charles Boxer. O tra- Goa to Me (Nova Deli,1994),um livro-adeus Maffei, que entrevistou Fernão Mendes Pin- les Boxer,G.V Scammell e Pierre Yves-Man-
tamento preferencial era devido à rara habi- quando decidi sair de Goa e recuperar a na- to antes de ele morrer. Numa outra carta do guino Silva Rego e Boxer voltavam a
lidade que Charles Boxer tinha demonstrado cionalidade portuguesa. Como referi na in- dia de São Pedro e São Paulo, avisava-!l'eso- encontrar-se em Goa depois do seu primei-
em comunicar-se com os japoneses na sua trodução, o título desse livro foi inspirado bre a política do presente Papa de dificultar ro encontro nos arquivos de Goa em 1951.
língua e respeitaras seus costumes. Como se por China to Me, de Emily Hahn. a concessão de dispensa aos padres para se ca- Escrevia-me o Professor Charles Boxer a
pode ler na autobiografia parcial de Emily Embora já o tenha dito implicitamente, sarem. Descrevia a burocracia doVaticanoco- seguir a esse 1.°encontro dos Seminários de
Hahn (mãe da sua filha Carola e mais tarde a maior parte da correspondência do Profes- mo muito lenta nessas matérias, salvo em ca- História Indo-Portuguesa [realizou-se em
sua esposa), intitulada China to Me (.944), sor Charles Boxer é-me dirigida durante a sos privilegiados, como o da bigamia ou 21-25de Setembro último em Goa o 11.°en-
Oda e Hattori, oficiais dos negócios estran- minha vivênciana Companhia deJesus (.967- relações de incesto de D. Pedro II de Portu- contro, completando 25 anos de trabalhos
geiros japoneses estacionados em Hong- 1994).É sobejamente conhecida a admiração gal com a sua cunhada francesa em 1667-68. de colaboração verdadeiranlente internacio-
Kongdurante o período da ocupação japone- que Charles Boxer sempre nutriu pela Com- E acabava o resto da carta em português: nal]:"Gostei imenso do evento em Goa e es-
sa, nutriam uma grande admiração por Charles panhiadeJesus. Explica-sepelos seus conhe- "Paciência, pois que não há outro remédio." pero que haja outro igual em breve.
Boxer, e o último governador japonês de cimentos e pela sua contribuição para a his- Servi-me destas breves passagens na corres- Achei que as duas melhores comunicações
Hong-Kong, general Suginami, já tinha conhe- tória do Japão e de Macau. A sua obra The pondência para ilustrar o interesse e preocu- eram de Ashin Das Gupta e de Pierre-Yves
cido Boxer no Reino Unido. Charles Boxer Christian Century of Japan (1951)tornarao pações humanas do Professor Charles Bo- Manguin. A terceira melhor era a de Teotá-
não precisava de fazer qualquer jogo sujo. mundialmente conhecido, e a Companhia xer pelos seus amigos. Correspondem à sua nio de Souza. Não estou de acordo com a
Não há dúvidas que Boxer alargara o âm- de Jesus sentiu-se endividada para com ele. maneira de fechar a maioria das cartas que me crítica que Scanlmel teceu, e acho que a sua
bito das suas investigações. De historiador re- Desenvolveu outras pesquisassobre a Or- dirigia "com um abraço apertado do amigo e foi a contribuição mais original. Palavra!"
gionalista, e algo amador até então, passara dem no Oriente e na América Latina. Char- admirador fideIíssimo". Quando recebeu o exemplar da minha
a ser um historiador do império. É quando co- les Boxer mantinha contactos pessoais e ad- Na correspondência que cobre o período tese de doutoramento, escrevia:'~cabei de fa-
meça a dcspender mais tempo nos arquivos mirava as pesquisasdos historiadores jeslÚtas, 1977-1993,eu estava sempre informado acer- zer uma recensão do seu excelente livro Goa
internacionais. Já se nota este novo papel na como Schurhammer, w,cki, Sebes, Schutte, ca dos projectos, conferências e viagens do Medieval.Já entreguei o textO para dactilo-
sua obra The GoldenAge ofBrazil (.960), on- todos eles pertencentes ao Instituto Histó- Professor Charles Boxer. Procurava sempre grafar. Segue em breve para a revista Indi-
de aparecem os prenúncios da crítica, que rico dosJesuítas em Roma, e autores I edito- ter o mesmo tipo de informações acerca das ca." [XVII, n.o I, 1980,pp. 87-89] Dizia nu-
reaparece na sua pré-síntese Four Centuries res de montes de documentação sobre osle- minhas actividades. Há referências às publi- ma outra carta: "Goa Medieval tem um
ofPortuguese Expansion, 1415-1825 (1961), e suítas no Oriente. Para Boxer a Companhia cações importantes que tivessem saído e da- aspecto inovador: Trata pela primeira vez de
que ganha força e consistência na polémica deJesus representava o que o Padmado por- va a sua apreciação delas. Sempre quc tinha aspectos da sociedade local que até agora es-
obra Race Relations, em 1963. tuguês tinha introduzido de melhore dequa- uma oportunidade e descobria talento e se- tiveram ausentes na historiogra/ia indopor-
Boxer recusava aceitar as declarações po- lidade no Oriente. RefIectem-se estes senti- riedade de esforços, tinha uma palavra de en- tuguesa."
líticas que não correspondessem à realidade mentos na correspondência que guardo. Era corajamento. Não tolerava era qualquer tipo A carta de 9 de Setembro de 1979trazia
histórica das colônias portuguesas. uma admiração pela instituição, mas nem de pretensões. o seu convite para visitá-Ia no decurso da mi-
Enquanto não tinha havido reacções ofi- por isso falhou na sua amizade pessoal quan- Não posso deixar de registar aqui a orga- nha viagem para Lisboa: "Fico contente em
ciais às publicações anteriores que também se do lhe manifestei a minha decisão para sairda nização em Goa (27-30de Novembro de 1978) saber que vai passar por aqui em Outubro.
referiam ao mesmo assunto, desta vez foi a re- Companhia deJesus. de um seoúnário que juntou pela primeira Quero que reserve um dia para estar comigo
ferência a Salazar logo no primeiro parágrafo Escrevia-me no dia de Santa Úrsula e as vez, depois da restauração das relações di- e ver os meus manuscritos sobre Ásia portu-
do livro que fez toda a diferença. -Iàm bém o Onze Mil Virgens (com raras excepções, era plomáticas entre Portugal e Índia (1974),os guesa e algunslivrosraros da minha colecção.
último parágrafo não deixava de ser provoca- seu hábito utilizaro calendáriolitúrgico na sua historiadores dos dois países, e de muitos ou- Pode ser em 11ou 12de Outubro. Ligue-me
dor: "Os opositores de toda a vida do Dr. Sa- correspondênciapara comigo):"I certainlywilI tros, para fazerem um ponto da situação e ini- quando chegara Londres para 044-284-2219.
!azar, como o Df. Armando Cortesão, alinham remain your firrnfriend and admirer,whether ciar um processo de actualização da historio- Há comboios de (e para) Euston com inter-
com ele no que respeita à permanência de you remain in or out of the Society" [Conti- grafia indo-portuguesa. Foi uma iniciativa valos de meia hora. É fácilchegar aqui". Des-
Portugal em África. Apesar do que quer que nuarei a ser seo amigo dedicado e admira- do PadreJohn Correia-Afonso,Jesuítagoês de então até 1994,passar um dia em casa de
possam sentir os trabalhadores e camponeses dor, seja dentro da Companhia, seja fora de- da Província de Bombaim. Fui seu colabora- Charles Boxer, sempre que eu passasse por
portugueses acercado passado, do presente e la]. Mas revela noutras cartas as suas dor priricipal na organização desse seoúnário Londres, com sherry e almoço de trabalho à
do futuro de Portugal como poder colonial, a preocupações, desejando que os jesuítas de e também um participante activo com uma espera, e com oportunidade de actualizar os
grande maioria das classes cultas tem orgulllO .Goa continuem a aproveitar-se dos meus ser- comunicação. Estiveram presentes algumas meus conhecimentos, era a melhor parte das
do passado histórico e das realizações pre- viços e apreciar a contribuição que eu tinha figuras distintas da historiografia portugue- minhas excursões internacionais.
sentes no ultramar, e estão resolvidas a não ab- Houve troca de muitas cartas quando eu
dicarvoluntariamente no futuro previsível." decidi publicarem Goa,João de Barros: Por-
Para além da troca de nomes pouco corteses tuguese Humanist and Historian of Ásia (No-
e outros galhardetes no Diário Popular de va Deli, 1981),uma das suasúltimas obras que
Lisboa, em Dezembro:1aneiro de 1963-1964, o próprio Boxer considerava importante, e
o governo de Salazar pediu ao governo britâ- assim o con/irrnao seu biógrafo Alden Dau-
nico a exclusão de Boxer da Comissão Con- ru. Para Charles Boxer,João de Barrosera um
junta Anglo-Lusa. Quando isto não foi acei- modelo para a sua inspiração pessoal, não só
te pelo governo britânico, Portugal decidiu como um historiador "seguro"nautilizaçãodas
suspender a Comissão, que só voltaria a reu- fontes, mas principalmente um escritOrcapaz
nir-se após a morte de Salazar- Apesar de tu- de informar sobre o vasto império português
do o que acontecera, quando Boxer fez sair a desde o Maranhão até às Malucas. Asua car-
segunda edição de Fidalgos in the Far East, em ta do dia de São Mateus ApóstOlo mostra-se
1968, ele manteve a dedicação da obra a Ar- contente com a excelente recensão feita por
mando e Carlota Cortesão! Mas dez anos mais A. Coimbra Manins na revista Portugal
tarde Armando Cortesão reeditava a sua Su- Hoje, de 4 de Setembro de 1981.Refere
ma Oriental omitindo a dedicatória a Char- também à impressão muito positiva de Pina
lesBoxer, "a quem a história dos portugueses Martins.
no Oriente deve tanto" na primeira edição! Mas Para prestar a melhor homenagem que eu
entre os portugueses, Carlos Estorninho e Charles Boxer acompanhou com particular atenção podia ao meu mestre-amigo historiador por
Carlos deAzevedo mantiveram-se manifesta ocasiãoda comemoração do centenário do seu
e incondicionalmente fiéis amigos de Charles a política que afectava a escrita da história em nascimento, decidi antecipar o evento com
Boxer durante a tempestade, enquanto al- a publicação da 1.'versão portuguesa da obra
guns outros, como António da Silva Rego, Portugal efez regularmente epublicou os seus que acabei de mencionar. João de Barros:
Luís Ferrand deAlmeida, Manuel Lopes deA!- Humanista Português e Historiador da Ásia
meida, assumiram uma postura critica, mas res- balanços críticos da historiografia portuguesa. foi lançado na Sociedade de Geografia de
peitosa. LisboaemJaneiro de 2002 com a chancela do
Querendo voltar para o aspecto pessoal Não pactuava com a instrumentalização do passado, Centro Português de Estudos do Sudeste
desta minha evocação, além de memórias Asiático (CEPESA) e com o apoio da Funda-
pessoais de vários encontros com o Professor nem para o glorificar, nem para o denegrir como ção CaIouste Gulbenkian.1
Charlés Boxer em sua casa de Ringshall End;
"I,
que não distava muito da residência da minha estratégia para Justificar ou 'condenar 'as opções: Professor Doutor Teotónio R. de Soir:'a
irmã, casada e estabelecida em Dunstable . [Universidade Lusófona
(Luron) há 25 anos, guardo algumas dezenas
de cartas recebidas do Professor Charles Bo-
políticas da actualidade. de Humanidades e Tecnologias]
Sócio Correspondente
xer. Agrande parte da correspondência é dos da Academia Portuguesa de História
anos 1979-1985, mas continuou até 1995. As Sócio Efectivo da Sociedade
últimas missivas escritas à máquina e assina- de Geografia de LIsboa

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