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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

O Brasil
na Missão Continental
“O ardor missionário dará à Igreja um dinamismo próprio, caracterizado pelo
espírito de abertura, universalidade, diálogo ecumênico, itinerância, serviço e
radicalidade cristã”.
Texto e fotos de Jaime Carlos Patias Respondendo ao que havia sido partir desse mandato as diversas Igrejas
determinado em Aparecida, a Grande particulares começaram a articulação

O
Missão foi lançada oficialmente, em para implantar a Missão em cada país.
Brasil na Missão Continental nível continental, no encerramento do 3º A Comissão para a Missão Continental
é o novo Projeto Nacional Congresso Americano e 8º Congresso no Brasil elaborou o projeto que, apesar
de Evangelização (Doc. 88 Latino-Americano (CAM 3 – Comla 8), de já estar em curso em algumas dio-
da CNBB). Com o lema: em Quito, Equador, no dia 17 de agosto ceses, será lançado oficialmente na 47ª
“A alegria de ser discípulo de 2008. Na ocasião, representantes Assembleia Geral da CNBB a realizar-se,
missionário”, o projeto nasce das diversas Conferências Episcopais em Itaici – Indaiatuba, SP, de 22 de abril
inspirado na Conferência de Aparecida do continente receberam do arcebispo a 1 de maio do corrente ano.
e foi assumido pelas novas Diretrizes de Aparecida e presidente do Conselho O projeto “o Brasil na Missão Con-
Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja Episcopal Latino-Americano, CELAM, tinental” está em plena comunhão com
no Brasil (DGAE, Doc. 87 da CNBB) dom Raymundo Damasceno Assis, uma todas as Igrejas particulares da América
aprovadas na 46ª Assembleia Geral Bíblia e a Capelinha (Tríptico) do Cristo Latina e do Caribe e tem por objetivo
da CNBB, em abril de 2008. da Missão, dois símbolos do projeto. A “abrir-se ao impulso do Espírito Santo e

Dom Sérgio Castriani, dom Dimas Lara, dom Pedro Brito e dom Maria José Pinheiro durante lançamento oficial da Missão Continental, Quito, Equador.

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incentivar, nas comunidades e em cada pessoas e na história, são alguns dos envia 8.193, a América Latina recebe
batizado, o processo de conversão pes- objetivos específicos do projeto. Nesse 12.011 missionários e envia apenas
soal e pastoral ao estado permanente de sentido a Missão Continental se torna um 5.785. Diante desses números, de fato
Missão, para a Vida plena”. Proporcionar grande projeto de Animação Missionária no continente americano a missão Ad
a experiência do discipulado, no encontro que desperta os cristãos, discípulos Extra é essencial se quisermos que a
com Cristo; promover a formação em missionários no continente para a missão Missão Continental se converta num
todos os níveis para sustentar a con- Ad Gentes, Ad Extra, além-fronteiras. É compromisso sério. Eis o maior desafio do
versão pessoal e pastoral do discípulo bom lembrar que o continente america- projeto “O Brasil na Missão Continental”
missionário; repensar as estruturas de no, com 46 países e uma população de que deverá se desenvolver nas paróquias
nossa Ação Evangelizadora para um 910.000.000, entre os quais 490.000.000 e dioceses, visando uma renovação das
compromisso de ir e atingir a quem católicos (48% dos católicos no mundo) comunidades e uma contribuição efetiva
normalmente não atingimos; favorecer deixa a desejar quando se trata de com a missão universal. A missão Ad
o acesso de todos, a partir dos pobres, contribuir com o envio de missionários Gentes é parte constitutiva da própria
à “atrativa oferta da vida mais digna em e missionárias, sacerdotes, religiosos, natureza da Igreja.
Cristo” (cf.DA 361); aprofundar a Missão religiosas, diáconos, leigos e leigas para
como serviço à humanidade; e discernir os demais continentes. Se a América Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões,
os sinais do Espírito Santo na vida das do Norte recebe 1.645 missionários e mestre em comunicação.

Capelinha Missionária
O Tríptico do Cristo da Missão ou Capelinha Missionária é um dos símbolos da Grande Missão
Continental. Obra de Eduardo Velásquez, artista peruano, o Tríptico foi um presente do papa Bento
XVI à Conferência de Aparecida. (cf. DA, pág. 284).
Bento XVI deixou aos países da
América Latina e do Caribe o presente
de sua presença, de sua oração, de suas
palavras vivificantes e valentes. Junto 9
a isso está o dom deste Tríptico que
representa o “Cristo do envio”. O povo
crente o irá recebendo não só como uma
ilustração de verdades. Talvez o faça
seu e o transforme, pela oração, em
8
um ícone de sua devoção fervorosa e
confiante, em uma parábola iconográfica
2
na qual se unem o credo da fé com a
pessoa do Sucessor de Pedro.
1
A Igreja Latino-Americana e do
Caribe considera como marco inicial
de sua evangelização um ícone: a
figura mestiça de Maria de Guadalupe,
representada no manto de São João
Diego. Bento XVI retomou esta tradição
e entregou aos bispos participantes
3
do Encontro de Aparecida um Tríptico
evangelizador e devocional.
Nele estão contidos a espiritualidade
e o programa pastoral característicos
que propõe o lema da V Conferência:
“Discípulos missionários de Jesus Cristo,
para que nossos povos Nele tenham
vida”. “Eu sou o Caminho, a Verdade
4
e a Vida” (Jo 14, 6). O Tríptico flui da
tradição da arte cuzquenha (de Cusco,
cidade peruana). Com ele se encontra
simbolicamente, em Aparecida, a cul-
tura andina que partilham os países do
Oceano Pacífico com o mundo de língua

16 Abril 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
portuguesa das costas do Atlântico, e o solene encargo da Mãe do Senhor comunhão do Espírito Santo. Variedade
ao qual pertence o Santuário Nacional à sua Igreja. de carismas. Só pelo vigor divino que o
mariano do Brasil. 2. À luz do milagre de Caná se Paráclito lhes concede podem assumir
O programa iconográfico se abre assinala catequeticamente o imperativo a missão recomendada.
interiormente em oito quadros e em pastoral de mobilizar o amor dos fiéis a 7. Os discípulos de Jesus evan-
outras imagens menores: Maria e a uma obediência irrestrita ao gelizam. Sucede agora. Os discípulos
querer de Jesus “façam o que Ele vos entram na vida de “nossos povos”. A
1. O motivo central é ocupado por disser”. A figura dos esposos destaca a evangelização ocorre no diálogo co-
uma representação do Cristo Ressus- grandeza do sacramento do matrimônio. tidiano. Os discípulos e missionários
citado na hora do envio missionário As talhas de vinho expressam a alegria do século XXI prolongam o amor e o
dos discípulos. A radiante figura de dos discípulos que, pela manifestação compromisso de São João Diego de
Jesus preside a totalidade do Tríptico de glória, creram nele. Guadalupe, com a Bíblia na mão. No
com a auréola de uma serena vitorio- 3. Vocação dos primeiros: Pedro e seu manto vai impresso pelo céu, a
sidade. Nos rostos dos enviados se André, Tiago e João são chamados. As imagem da Virgem Maria, discípula
manifesta a plural riqueza do palavras de eleição de Jesus perfeita e sábia educadora dos eleitos
povo de Deus. Há homens e têm uma réplica humilde de por Jesus para evangelizar.
mulheres. Alguns têm pele Pedro que se sente indigno 8. O Pai Eterno e o Espírito Santo.
branca. Outros rostos são para seguir a vocação de Coroa o Tríptico uma imagem do Pai
de mulatos, indígenas ou de apóstolo. Desde então serão de Jesus Cristo, que se mostra unido
mestiços. Ao fundo se vê a pescadores de homens. Os ao Espírito e ao Senhor Ressuscitado.
cena do Calvário e dois anjos. quatro escolhidos aceitam Com este detalhe, todo o ícone logra
Na legenda se reproduz a remar mar adentro e lançar um marcado caráter trinitário, tal como
autodefinição do Messias, as as redes só “em teu nome”. era usual nas imagens da primeira
palavras do envio discipular: O resultado é uma abun- evangelização. Indica-se, assim, qual é
“vão e façam discípulos a dância milagrosa. Deixam a fonte e o destino da história humana.
todos os povos” (Mt 28, 19) tudo. Começam a trilha do Assim, o Deus Uno e Trino é proposto
seguimento discipular. como a suprema realidade de amor, na
4. A multiplicação dos pães. O qual se sustentam e inspiram todas as
verde da erva recorda que o fato ocorreu formas de comunhão e solidariedade
na primavera. Cristo desprega o poder que brotam do Evangelho.
de sua misericórdia fazendo abundante 9. Nas esquinas superiores dos
9 o escasso alimento inicial. Mas não é
Ele quem entrega o pão à multidão –
painéis laterais abertos, aparecem dois
santos emblemáticos do primeiro século
“dai-lhes vós mesmos de comer”. Os do cristianismo. Um é o grande missio-
discípulos têm o encargo de atender aos nário vindo da Espanha, São Toríbio
necessitados. Ressoa aqui uma urgência de Mogrovejo: o bispo místico realizou
inadiável. É o imperativo da Igreja Latino- uma gigantesca obra evangelizadora a
Americana e do Caribe de atender aos partir de sua sede limenha. A outra figura
5 pobres e esquecidos, “seja no socorro é Santa Rosa de Lima: representa a
de suas necessidades mais urgentes, recepção do Evangelho por parte dos
como também na defesa de seus direitos” nativos americanos; esta leiga, nascida
(Homilia aos bispos, 11/05). de uma família de origem dominicana,
5. Encontro com os discípulos de chegou a um alto cume de intimidade
Emaús. Esta cena mostra como Jesus esposal com Cristo e de heroica cari-
mesmo entra no dinamismo peregrinante dade para com os pobres.
da Igreja. Durante o caminho Ele explica 10. Quando o Tríptico está fecha-
6 as Escrituras. Na mesa, o Ressuscitado
parte e partilha o pão. Iconograficamente,
do, aparece o escudo papal de Bento
XVI e se vê a sua dedicatória com a
a atenção se foca na centralidade da Pa- exortação que assinala para o futuro:
lavra e da Eucaristia. O texto da legenda “Sejam discípulos e missionários de
registra a intensidade do encontro do Jesus Cristo, para que nossos povos
discípulo com seu Mestre. É um ardor tenham vida. Aparecida, 13 de maio
contemplativo que leva ao novo trajeto de 2007”. O selo final é a imagem de
missionário para Jerusalém. Nossa Senhora Aparecida. Em torno
6. A vinda do Espírito Santo. É dela se congrega um cacho misturado
7 o nascimento da Igreja. Os apóstolos com diversos rostos dos povos que ela
se congregam em torno de Maria Mãe. protege e guia por estas latitudes.
Pedro tem as chaves como símbolo
de seu encargo específico no Colégio Joaquín Alliende Luco, sacerdote da
Apostólico. “Todos ficaram cheios do Academia Chilena de Línguas.
Espírito Santo”. Aparecem as mulheres; Fonte: www.celam.org
delas fala o livro dos Atos. Unidade na Tradução: Júlio César Caldeira, revista Missões.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Metodologia
O Projeto da Missão Continental visa
Símbolos da Missão
Continental
1. Bíblia
A leitura orante da Palavra de Deus como expressão da Missão Continental
unir, na fé e no ardor missionário, os favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo e o envio missionário.
povos latino-americanos e caribenhos. 2. Capelinha missionária (Tríptico)
“No processo de formação do discípulo Esse foi um presente de Bento XVI à Conferência de Aparecida
missionário aparecem cinco aspectos (ver o texto explicativo pags. 16-17).
fundamentais: 3. A oração da Missão Continental
• o encontro com Jesus Cristo, 4. Logomarca da V Conferência
mediante o querigma, fio condutor de 5. Padroeiros(as), a critério dos Regionais e das Dioceses.
um processo que culmina na maturidade 6. Coleção de cantos missionários (a ser publicada)
do discípulo e deve renovar-se cons-
tantemente pelo testemunho pessoal,
pelo anúncio e pela ação missionária
da comunidade; vida cristã fora da comunidade: nas fa- alegria feita com Jesus Cristo; a Missão
• a conversão, resposta inicial de mílias, nas paróquias, nas comunidades deve acompanhar todo o processo, em-
quem crê em Jesus Cristo e busca de vida consagrada, nas comunidades bora diversamente, conforme a própria
segui-lo conscientemente; de base, nas outras pequenas comuni- vocação e o grau de amadurecimento
• o discipulado, como amadure- dades e movimentos, tal como acontecia humano e cristão de cada um, tendo
cimento constante no conhecimento, entre os primeiros cristãos; a comunhão Maria como modelo perfeito do discípulo
amor e seguimento de Jesus Mestre, na fé, na esperança e no amor deve missionário” (DGAE 92).
quando também se aprofunda o mis- estender-se também aos irmãos e irmãs
tério de sua pessoa, de seu exemplo de outras tradições cristãs; A diocese
e de sua doutrina, graças à catequese • a Missão, que nasce do impulso Segundo o Projeto “a diocese, em
permanente e à vida sacramental; de compartilhar a própria experiência de todas as suas comunidades e estru-
• a comunhão, pois não pode existir salvação com outros, de plenitude e de turas, é chamada a ser comunidade
missionária” (DA 168) e, portanto, o
sujeito da Missão. Ela deverá:
• Revisar o Plano Pastoral à luz de
Aparecida e das Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora, a fim de dar-lhe
grande renovação missionária que
contemple, como sinal de maturidade,
a Missão Ad Gentes.
• Criar ou reforçar uma comissão
central com a finalidade de animar a
Missão diocesana (COMIDI).
• Elaborar subsídios para a formação
de agentes de pastoral e de evange-
lizadores, em vista da realização do
Painéis representando os cinco continentes, CAM 3 - Comla 8, agosto 2008, Quito, Equador. Projeto missionário.
• Oferecer uma proposta de cursos

Comissão episcopal para


de preparação e de retiros populares
para os agentes de pastoral e os evan-
gelizadores.
• Realizar trabalho conjunto com

a Missão Continental no Brasil as dioceses vizinhas, em âmbito de


Províncias Eclesiásticas ou de Regional,
com o sentido de comunhão eclesial
Dom Sérgio Arthur Braschi (presidente) (COMIREs).
Dom Pedro Brito Guimarães • Oportunizar experiências missio-
Dom Adriano Ciocca Vasino nárias que estimulem as pessoas a
Dom Jaime Pedro Kohl inserir-se na Igreja particular.
Dom José Lanza Neto • Incentivar os Regionais para que
Pe. José Altevir da Silva, CSSp (assessor) sirvam de apoio para as dioceses e
Pe. Ademar Agostinho Sauthier (assessor) paróquias. (O Brasil na Missão Conti-
nental, pags. 18 -19) 

18 Abril 2009 -

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