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2008
E nova ação?
Mauricio Andrade de Paula
Algumas possibilidades para a resposta: Há muita teoria sobre inovação, mas poucas infor-
mações sobre como transformá-la em uma prática corporativa. Há muitas opiniões, discussões,
histórias, casos de sucesso e de fracasso, artigos, resumos de eventos etc. Todo esse monstruoso volume
de informação foi apresentado em menos de 1 segundo. Sem dúvida, vivemos na era da velocidade,
em que muito deve ser feito em pouquíssimo tempo. Além disso, no passado, a quantidade de referências
era muito menor sobre esse tema. Hoje são muitas. No futuro, quantas serão?
Será que há incertezas demais, tornando impossível uma resposta plausível para esta pergunta? E como
será que está a aplicabilidade de toda essa informação? Será que estamos sendo hábeis e velozes o sufi-
ciente para transformar volumes cada vez maiores de informação em conhecimento, que gera diferenciais
competitivos nas organizações? Talvez, mudando um pouco a busca, seja possível encontrar a resposta:
Na melhor das hipóteses apresentadas na tabela, observa-se uma redução de mais de 4,5 vezes na
quantidade de conteúdos e de informações. No pior caso, percebe-se uma redução de mais de 23 vezes na
quantidade de referências disponíveis para consulta e análise. O que se pode concluir com tudo isso?
Há informação demais e ações inovadoras de menos! Isso mesmo. As organizações e seus
gestores estão perdidos no meio de tantas possibilidades e não conseguem enxergar claramente que
ações estratégicas serão capazes de levá-los aos objetivos almejados.
Você pode estar, neste exato momento, balançando a cabeça e pensando: Como falta ação? Temos feito
muitas e muitas coisas, trabalhado cada vez mais na empresa para entregar os resultados desejados.
Talvez você esteja com a razão, mas será que toda essa ação (ou melhor, execução) está acompanhada
de um plano de ação que deveria estar acompanhado de uma rigorosa análise do mercado e do negócio,
que deveria estar acompanhada do estabelecimento das metas e de todo planejamento estratégico? A
culpa não é sua, mas da fragmentação observada na própria literatura e nos cursos de pós-graduação e
MBA, onde os assuntos são tratados de forma estanque, sem a devida ligação necessária entre eles.
Falta método! Em grego, a soma das palavras meta e hódos. Meta é o resultado a ser atingido, e
hódos, o caminho para atingi-lo. Os gestores buscam resultados e, sabendo o caminho, farão uma gestão
muito melhor. Mas como agir, se o caminho não é claro?
2008
O professor Vicente Falconi, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), tem inúmeros artigos
publicados no site do instituto (www.indg.com.br); são leituras simples e muito prazerosas, para aqueles
que têm paixão pelo assunto excelência da gestão.
Conforme tratado pelo professor Falconi no número 69 da revista HSM Management de julho-agosto
de 2008, a estratégia inovadora das empresas deve se apoiar em um método também, porque tudo o que
se faz, toda a ação, precisa de método. O problema é que as organizações usam as ferramentas de gestão
e de inovação sem usar um método, com isso todo o trabalho se perde e a caminhada é infrutífera.
O discurso sobre o método, por vezes traduzido como discurso do método – ou ainda discurso
sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência, é um tratado
matemático e filosófico de René Descartes, publicado em francês, em Leiden, em 1637. Nele há a afir-
mação de que a filosofia produzida na época era uma coleção de opiniões e, para não basear decisões
em opiniões, Descartes resolveu sair do conforto de seu quarto aquecido e caminhar pela fria Europa para
conhecer a verdade. O método é um só: constitui a busca e o conhecimento da verdade, a fim de que seja
possível tomar decisões baseadas na verdade, entender e continuar rumo aos objetivos.
A verdade nas organizações deveria ser conseguida com a análise dos dados e fatos, mas infelizmente
a maioria das organizações ainda insiste em trabalhar e tomar decisões baseadas apenas em opiniões.
Nem tudo são más notícias. Recentemente, pôde-se observar um movimento cada vez maior de
empresas que desejam conhecer a verdade e têm buscado formas de materializar essa vontade, com a
criação de setores, departamentos ou unidades de Inteligência de Mercado/Negócios.
Inteligência de Mercado/Negócios pode ser definida como um conjunto de técnicas e ferramentas
para coletar, organizar, analisar, monitorar e compartilhar informações e recomendações que ofereçam
suporte à gestão da empresa, de seus produtos e serviços, trabalhando em parceria com os gestores para
a melhor tomada de decisão e controle dos resultados obtidos. Ou seja, trabalhar com a verdade!
Segundo o professor Falconi, o método deve ser iniciado com o levantamento de fatos e dados,
cruzamento e análise de todas essas informações e discussão com várias pessoas, de diferentes níveis e
setores da organização, a fim de que se possa estabelecer claramente a meta a ser alcançada. Nesta fase,
há espaço para a criatividade e para a intuição baseada nas experiências já vivenciadas.
Na seqüência, deve ser criado o plano de ação que determinará o que e como deve ser feito. Além
do plano, alguns controles adicionais devem ser criados para que os responsáveis possam acompanhar
continuamente o que está sendo realizado, ação por ação, se foram devidamente implantadas e como foram
implantadas. Ao final, deve ser possível avaliar se o resultado projetado inicialmente foi alcançado.
Se a meta foi atingida, ainda não é hora de descansar, como a maioria faz. Inicia-se outra fase do
método, cujo objetivo principal é padronizar, ou seja, treinar à exaustão as pessoas relacionadas com
aquilo que está sendo feito (o novo conhecimento adquirido) e deixar o registro desse novo processo, a
fim de que ele seja automaticamente incorporado pelas próximas gerações de colaboradores.
Se a meta não foi atingida, se faz necessário, com muita humildade, rever toda a seqüência, para se des-
cobrir o que deu errado. É hora de perguntar por que a meta não foi atingida e analisar tudo novamente.
Se realmente deseja INOVAR, ao entrar em AÇÃO tenha por perto o seguinte esquema/checklist:
Início Ação!
Plano de ação
Parâmetros que serão avaliados ETAPA OK?
Periodicidade e métricas da avaliação
Em Física, velocidade é a medida da rapidez com a qual um corpo altera sua posição. No meio
corporativo, representa a capacidade das organizações de sobreviver frente às mudanças constantes dos
mercados e dos consumidores. Todas as empresas devem saber como surfar no tsunami que está tragando
muitos negócios e estressando a vida de muita gente.
Busca-se responder a uma questão vital: a cultura do mais rápido, do “quero já”, da disponibilidade
permanente (24 horas por dia) para quase tudo, está nos devorando vivos ou nos libertando?
Hoje, desejamos e necessitamos da velocidade e podemos obtê-la, tudo em um nível jamais experi-
mentado. Houve uma época em que a meta do ser humano era superar a velocidade do som – que é de
aproximadamente 1.249 km/h ao nível do mar –, mas hoje já estamos muito longe da barreira do som;
com o uso da Internet, estamos nos valendo praticamente da velocidade da luz, que é de 300 mil km/s!
2008
Podemos usar o correio eletrônico, carregar músicas no computador quase instantaneamente, ter notícias
do outro lado do planeta em tempo real etc.
A competição entre organizações se caracteriza não apenas por agir ou não agir, mas também por agir
ou agir imediatamente! Sair na frente é fundamental, se o desejo é vencer. Imploramos pela velocidade
e não ficamos satisfeitos até conseguirmos o nosso intento. Nossa tolerância à lentidão tem diminuído
com a mesma intensidade que a ânsia pela velocidade tem aumentado.
Não é por acaso que o tempo de espera e o tempo ocioso são considerados, por muitos, como con-
dições inaceitáveis. Ninguém quer perder tempo em filas ou em congestionamentos, pois isso desperdiça
o nosso bem mais valioso: o tempo. As pessoas querem desesperadamente economizar tempo, mesmo
que sejam poucos segundos, em alguma atividade.
Na conhecida história “A Tartaruga e a Lebre”, o papel da velocidade na fábula é exagerar a lição.
É ilustrar que, mesmo com uma radical vantagem natural (no caso da lebre, a velocidade), o compe-
tidor deve se manter focado e evitar subestimar o concorrente. Essa lição vale para todas as empresas
e para seus gestores. É preciso agir com velocidade, de forma sistemática e com foco, sempre ante-
nado aos movimentos da concorrência, mesmo que ela esteja distante ou que algum tipo de reação
pareça improvável.
Conforme foi crescendo a nossa expectativa de obtermos tudo mais rápido, a expectativa das outras
pessoas e dos clientes para que façamos tudo mais rápido também foi aumentando. Dessa forma, a
maioria de nós está sentindo a pressão de uma expectativa aparentemente repentina de fazer mais, fazer
rápido e fazer já.
Quando se está em um ambiente que requer velocidade, é preciso adotá-la. Se ela for adotada, é
preciso saber o que realmente conduz ao sucesso em alta velocidade, para se evitar a colisão (lembre-se
do método!).
Antecipar-se à velocidade significa preparar-se ativamente para as demandas do novo ambiente, isto
é: recepcionar a velocidade na porta de seu negócio, em vez de se esconder atrás da mesa enquanto ela
põe a porta abaixo.
Sabemos que a velocidade vem chegando, estamos pedindo para ela vir, portanto, devemos nos
preparar para recebê-la e descobrir como colocar em uso, adequadamente, a sua energia.
Se não aprendermos a nos antecipar à velocidade agora, as conseqüências se agravarão cada vez
mais com o passar do tempo, porque a demanda por velocidade só continuará a crescer.
Todo dia, para um número cada vez maior de pessoas, a velocidade tem se tornado uma expectativa. Se
encontrarmos acesso à Internet em um café ou hotel, esperamos que seja de banda larga e gratuita. Quando
adquirimos algum serviço novo, esperamos ter opções de pagamento automático para agilizar a tarefa de
pagar as contas. Esperamos acessar as informações com menos cliques no mouse. O desejo de velocidade
transformou-se em expectativa de velocidade em mais e mais áreas da nossa vida, todos os dias.
A diferença entre expectativa e desejo é sutil, mas importante – principalmente em relação às
conseqüências enfrentadas quando nos antecipamos, ou deixamos de nos antecipar, tanto à expectativa
quanto ao desejo.
2008
O futuro é o intervalo de tempo que se inicia após o presente e não tem um fim definido. É referente
a algo que irá acontecer.
Segundo Vijay Govindarajan, um dos maiores especialistas em estratégia e autor de inúmeros livros
sobre o assunto, se desejamos inovar é preciso que a estratégia seja fonte de criação do futuro. Isso
só será possível se deixarmos de lado a “gestão do presente”, substituindo-a pela “gestão das ações
presentes para competir pelo futuro”, ou seja, esquecer seletivamente o passado, buscando criar o futuro
observando-se a tecnologia e os seus avanços, novos mercados consumidores, novas demografias, novos
competidores, novas potências etc.
O futuro deixou de ser território exclusivo da ficção científica e da literatura fantástica, do mero
exercício de imaginação e das profecias. Futurologia é uma realidade, uma especialidade, e das mais
exigentes. Não é qualquer um que pode ser futurólogo: a descrição dessa atividade exige um olhar ousado,
sem preconceitos, criativo e muito bem informado, ou seja, um futuro possível é delineado a partir das
informações que temos à disposição atualmente.
O futurólogo Paul Saffo, diretor de uma das mais célebres usinas do futuro da atualidade, o Institute
for the Future (http://www.iftf.org/), ensina que o modo eficaz de pensar o futuro é prestar atenção na
maneira como as tendências ocultas no presente apontam, com mais ou menos força, para a direção
futura. Segundo Paul, “o objetivo é identificar um amplo leque de possibilidades, e não um conjunto
limitado de certezas ilusórias. É mapear a incerteza, pois, em um mundo em que nossas ações presentes
influenciam o futuro, a incerteza é uma oportunidade”.
Na hora de pensar o futuro, há sete regras que não devem ser esquecidas:
“Cartas loucas” – a primeira regra é que não se pode subestimar o impacto de fatos de baixa pro-
babilidade e de alto impacto que ampliam o universo que está sendo analisado, ao incluir o fator surpresa
– conceito similar ao dos “cisnes negros”, a que se refere Nassim Nicholas Taleb. Ignorar o imponderável
pode até ser perigoso em um contexto turbulento, porque, repentino, inesperado e único, um fato desse
tipo pode transformar-se em um ponto de inflexão na evolução de uma tendência ou sistema.
“Não linearidade” – a regra de número dois consiste em entender que a mudança nunca é linear e,
portanto, difere de nossas expectativas, que o são. Lenta e progressiva no início, a mudança pode vaguear
indecisa e em silêncio durante um tempo e, então, explodir de repente. Por isso, não se deve cometer o
erro freqüente de supervalorizar a mudança no curto prazo e subestimá-la no longo.
“O futuro é já” – a terceira regra é resumida pela frase “O futuro já chegou; só não está ainda unifor-
memente distribuído”, de autoria do escritor de ficção científica William Ford Gibson. Nunca ignore ou des-
mereça aquilo que parece fora de lugar; pode ser um sinal fraco de algo que começa a ganhar espaço.
“Retrovisor”– a regra de número quatro diz que, para aprender a enxergar para frente, é preciso saber
olhar para trás. E, se o horizonte futuro com que se trabalha é de uma década, a visão retrospectiva tem
de cobrir 20 anos, no mínimo. Uma relação não está em fatos, mas em padrões que modelam fatos. E
isso só é observável em intervalos de tempo grandes.
“Factível” – a quinta regra basicamente é não confundir aquilo que é desejado com o que é possível.
“Erro” – a regra de número seis também é bem simples e direta: não devemos hesitar em supor que
estamos equivocados em nossas previsões.
“Vivenciar” – para encerar, a última regra fala em fazer o exercício constante de trazer o futuro para
hoje, para agora, antecipá-lo e experimentá-lo com máxima freqüência.
Uma vez que o futuro tenha sido imaginado, como a empresa estará inserida nele? Que produtos ou
serviços atendem a essa nova realidade? Que produtos ou serviços precisarão ser criados para atender
às novas demandas? Como estamos hoje, construindo esse amanhã?
Será que estamos fazendo adequadamente o exercício de prever o futuro? Diante das previsões e do
cenário criado, estamos atuando e realizando as ações certas, na velocidade certa?
As ações verdadeiramente inovadoras encontram-se no cruzamento de todos os assuntos tratados
neste artigo, como pode ser observado na figura a seguir:
2008
método futuro
ações
inovadoras
muitas ações
veloCidade diferentes,visando
o futuro, mas que se
tornarão insustentáveis
ações imediatistas, devido à falta de base
gestão do agora, sem metodológica (dados,
preocupar-se com acompanhamento,
os rumos do negócio realimentação)
Há três tipos de gestores: os que não querem agir e são atropelados; os que querem agir, mas não
sabem como e também são atropelados; e os que querem agir, sabem como e agem! Estes últimos são
os únicos que entrarão para a história, pois não serão parte dela, e sim seus autores! (entendeu agora a
importância de preencher os espaços a agir, a fim de que tais conteúdos se tornem realidade? Boa sorte,
sucesso, seja feliz!).
2008
O Bibliografia
PRESCOTT, John. Miller, Stephen h. Inteligência Competitiva na Prática. Editora Campus, 2002.
KOTLER, Philip. KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. Editora Prentice Hall, 2005.
TALEB, Nassim Nicholas. A Lógica do Cisne Negro. Editora Best-seller, 2008.
POSCENTE, Vince. A era da velocidade. Editora DVS, 2008.
DAVILA, Tony. As regras da inovação / Tony Davila, Marc J. Epstein, Robert Shelton; tradução Raul
Rubenich – Porto Alegre: Bookman, 2007.
TIDD, Joe; BESSANT, John; PAVITT, Keith. Gestão da Inovação. Editora Bookman, 2008.
ZUFFO, João Antonio. Flagrantes da vida no futuro. Editora Saraiva, 2007.
The Institute for the Future (IFTF) - http://www.iftf.org/
Wikipédia: a enciclopédia livre - http://pt.wikipedia.org/
Instituto de Desenvolvimento Gerencial - http://www.indg.com.br/