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Desta forma, e como elucida a legislação pátria, faz jus ao adicional de periculosidade o
trabalhador que no seu labor atua no exercício de atividade ou operações perigosas, que por sua
natureza ou procedimento impliquem contato permanente com inflamáveis ou explosivos, tendo
direito ao recebimento deste adicional enquanto perdurar a exposição ao risco à sua saúde ou à
sua integridade física.
No caso específico das atividades perigosas, o art. 193 da CLT diz que “são consideradas
atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do
Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato
permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado”.
A regulamentação que o art. 193, acima transcrito, se refere é aquela estabelecida pela Portaria
nº 3214, de 08.06.1978, e modificações posteriores, que estabeleceu as Normas
Regulamentadoras – NR, contudo, tal legislação não classificou como atividades ou operações
perigosas aquelas que são exercidas em contato ou em condições de risco de contato com a
eletricidade.
Quando da edição da Lei 6.514/77 e da Portaria 3.214/78, já existia um Projeto de Lei para
estabelecer uma remuneração adicional para os trabalhadores do setor de energia elétrica.
Entretanto, apenas em 1985, este Projeto ganhou forma na Lei nº 7.369, editada em 20 de
setembro do mesmo ano. A matéria passou, então, a ter uma lei específica, fora do conjunto da
legislação de segurança e medicina do trabalho.
No mesmo ano, da edição da Lei n. 7.369/85, em 26 de dezembro, ela foi regulamentada pelo
Decreto nº 92.212. Entretanto, menos de um ano depois, a lei ganhou nova regulamentação com
a edição do Decreto 93.412, de 14 de outubro de 1986, que revogou o anterior, tendo como
diferença fundamental entre esses dois instrumentos regulamentadores, a proporcionalidade e a
exigência de perícia.
O Decreto n. 93.412/86 regulamentou a Lei n. 7.369/85, onde se estatuiu salário adicional para
empregados do setor de energia elétrica, em condições de periculosidade, na média de 30%
sobre o conjunto de parcelas de natureza salarial, conforme atual Orientação Jurisprudencial da
SDI-I do TST n. 279.
A legislação apontada garantiu o direito ao adicional de 30%, para “o empregado que exerce
atividade no setor de energia elétrica...” (art. 1º da Lei 7.369/85), sendo que posteriormente, o
Decreto 93.412/86, ao regulamentar esta matéria, em seu anexo (quadro de atividades) limitou tal
adicional aos empregados que exercem atividades no chamado “sistema elétrico de potência”,
bem como jurisprudência laboral e decisões do Tribunal Superior do Trabalho.
Deve-se lembrar que o princípio da primazia da realidade, da verdade real, determina que não é o
nome do cargo ou da categoria que garante direitos ao empregado, mas sim as atividades por ele
realizadas. No caso do leiturista, este não entra em contato com sistema elétrico de potência,
como poderia então a justiça laboral conceder tal direito a quem não faz jus, posto que tal medida
seria uma afronta à concretização da verdadeira justiça.
Em virtude do art. 195 da CLT referir-se às normas do Ministério do Trabalho e não a outros
instrumentos jurídicos, o Decreto 93.412/86 em seu § 1º, art. 4º, deixa incontroversa a exigência
da perícia, o que leva ao entendimento de que o quadro de atividades e áreas de risco,
apresentado como anexo ao Decreto 93.412/86, não é auto aplicável, para concessão da
remuneração adicional, posto que tal matéria é estritamente técnica, há esta exigência legal
(artigo 195, caput, da CLT), ratificada pelo texto do Decreto 93.412/86 é prevista no Código de
Processo Civil, ao estabelecer em seu artigo 145:
“Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será
asssistido por perito, segundo o disposto no artigo 421.
Art. 421, caput – O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo”.
Para comprovar a existência ou não de risco, faz-se necessário, sendo exigência legal esboçada
no art. 195, § 2º da CLT, a realização de perícia técnica, já que é o único tipo de prova hábil para
comprovar a existência ou não da periculosidade, sendo constatado o contato com o sistema de
potência, que demonstre risco de morte, não importando a função que exerça, é direito do
trabalhador o recebimento do adicional de periculosidade.
O perito é responsável por levantar o real enquadramento do trabalhador nas atividades e áreas
de risco presentes no quadro anexo ao Decreto 93.412/86, confirmando se a exposição ocorre
efetivamente em condições de periculosidade, conforme definido no artigo 2º, § 2º do referido
Decreto:
“Art. 2º, § 2º São equipamentos ou instalações elétricas em situação de risco aquelas de cujo
contato físico ou exposição aos efeitos da eletricidade possam resultar incapacitação, invalidez
permanente ou morte”.
Diante disso, inúmeros casos, em todo o território nacional, vêm abarrotando os Tribunais do
Trabalho com pedidos de adicional de periculosidade para os “leituristas”, trabalhadores estes,
geralmente contratados por empresas terceirizadas, que possuem contrato específico para leitura
de medidores e entrega de contas. Tais trabalhadores são contratados para a realização de
leitura de medidor de energia de baixa tensão em construções da área urbana a qual estão
vinculados.
Medidor de energia elétrica é o equipamento utilizado para saber com precisão o consumo de
energia elétrica em consumidores residenciais, comerciais e industriais, sendo projetados para
garantir confiabilidade e precisão na medição de energia elétrica, utilizados para medidas de
energia Monofásica, Bifásica e Trifásica, para leitura direta ou através de transformadores de
corrente ou transformadores de Potencial.
Os medidores de baixa tensão são aqueles presentes nas residências, onde os leituristas
realizam seu trabalho de leitura, desenvolvendo sua função, geralmente, não entrando
diretamente em contato com qualquer equipamento energizado que represente risco de morte,
realizando seu labor de forma rápida e de forma visual, a tarefa de leitura dos medidores.
Jurisprudência laboral diverge a respeito do pagamento deste adicional aos leituristas, contudo,
em diferentes regiões, juízos a quo e ad quem vêm sentenciando pela não concessão do
adicional de periculosidade aos leituristas, deste acervo, aponta-se algumas dessas decisões:
...
“O Juízo de primeiro grau deferiu o adicional em questão de acordo com a conclusão do laudo
pericial. Diz a recorrente, em poucas palavras, que o autor, como leiturista, não faz jus ao
adicional de periculosidade ao argumento de que não havia nem mesmo necessidade de contato
com o medidor.
Com razão.
De início, não é demais frisar que o Juízo, nos termos do art. 436, do CPC, “[...] não está adstrito
ao laudo pericial, podendo formar o seu convencimento com outros elementos ou fatos provados
nos autos.”
O laudo pericial encontra-se às fls. 240/247, com a conclusão de que a atividade do obreiro está
enquadrada no Decreto nº 93.412/96 e, via de conseqüência, faz jus ao adicional respectivo
porque em “[...] contato habitual com o risco de choque elétrico [...]”.
Dentro das atividades declinadas pelo obreiro, segundo o Sr. Perito, estão as de: ordenar a rota
onde executa a leitura dos medidores; aferir as condições de uso do coletor de leitura; conferir os
dados do endereço junto ao medidor; efetuar a leitura no medidores de energia e registrar os
dados no coletor e outras tarefas afins e correlatas (dentro destas não há qualquer
esclarecimentos de quais seriam – fl. 242).
Dentro desse contexto, pode-se inferir que o leiturista não tem qualquer contato direto com o
agente perigoso (energia) e sua função precípua é de mera leitura, não havendo nem mesmo
necessidade de contato com o medidor.
Qualquer leigo, mesmo dentro da percepção como consumidor, pode aferir que os leituristas
seguem determinado padrão para o procedimento, sabendo-se que, via de regra, os “relógios”
são lacrados e o simples fato de apresentarem eventual danificação, não altera a função do
obreiro – simples leitor.
...
O Sr. Perito, para enquadrar o obreiro, na atividade de risco, tomou por base o Decreto nº
93.412/86, art. 2º, § 2º que define o que são os equipamentos ou instalações elétricas em
situação de risco. Todavia, o respectivo Anexo desse Decreto é que faz o enquadramento de
cada atividade e suas áreas de risco. No item 1.8, de forma clara, inclui a leitura em
consumidores de alta tensão como de risco, mas a área de atuação é diversa à do obreiro.
No item 3 há até uma indicação de que atividade de medição estaria inserida como de risco, mas
a área de atuação também é diversa, em nada indicando medidores residenciais.
O item 4.1, da mesma sorte, faz menção a medição mas em área de atuação, como por exemplo,
“Pátios e salas de operações de subestações, inclusive consumidoras”.
Nada diz acerca de áreas como as de consumidores residenciais. Assim, por qualquer ângulo,
não se pode concluir que a atividade de leiturista esteja enquadrada dentro daquelas inseridas no
Anexo do Decreto 93.412/86. Em sendo assim, não há se falar em atividade de risco, razão pela
qual dá-se provimento ao recurso para se excluir o adicional de periculosidade da condenação.
(...)”.
Em todo o território nacional, acórdãos dos TRT’s e do TST têm garantido o verdadeiro direito,
conforme o anexo do Decreto 93.412/86, que seria a concessão do adicional de periculosidade
somente aos empregados que exercem suas atividades em contato com “sistema elétrico de
potência”.
Autor:
Frederico Santos Paiva
fredericosantospaiva@gmail.com
Advogado formado pela Universidade Federal do Amazonas, militante na cidade de Manaus/Am,
pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Gama Filho, e pós-graduando em Direito
Civil e Processual Civil pelo Centro Integrado de Ensino Superior do Amazonas - CIESA.
Fonte: (www.artigos.com)