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ANDERSON ESPINOSA

Uma publicação da Aver Editora - 1º à 15 de Maio de 2009 - Ano I Nº 2 R$ 5,00

Pags. 6 e 7
Açorianos e Tibicuera
JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC

E agora,
Prêmio revela os destaques do teatro gaúcho

CLIX FOTOGRAFIA
Rouanet ?
Ministro da Cultura, Juca Ferreira, acompanha as
discussões sobre o futuro da Lei
Pags. 15 e 16 Obrigatório
Pag. 9

Impressões de quem registrou o Festival de Curitiba

MANIFESTO GERA CONTRATAÇÃO


NOS TEATROS DO RIO Pag. 18

ESCOLAS INVESTEM EM
FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA
MUSICAIS Pag. 19

RESTAURANTE: O PONTO
DE ENCONTRO DEPOIS DO
ESPETÁCULO Pag. 20

REPRODUÇÃO
KITY FÉO
DIVULGAÇÃO

Teatro de Revista
O gênero que transitou entre o ousado e
o ingênuo Pag. 22
CLARA MUSCHIETTI

REPORTAGEM ENTREVISTA
Ator, cantor, poeta, dramaturgo: Internacional
Quando o palco é o morro A argentina rua Florida abriga muitos
Gero Camilo!
Pags. 12 e 13 Pags. 10 e 11 artistas e poucas flores Pags. 23
2 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro 1º até 15 de Maio de 2009 3
Editorial

ANDERSON ESPINOSA
ÍNDICE Luz vermelha que acendeu tarde
No fechamento desta edição, chegaram a nossa redação os ecos do mo-
vimento dos funcionários da Rede Municipal de Teatro da Prefeitura do Rio,
que estão há mais de dois meses sem receber salários. É lamentável que uma
das maiores redes do país esteja enfrentando este colapso. É um reflexo claro
do que foi a lamentável mistura do público e privado ocorrida na gestão do
prefeito Cesar Maia.
Por várias vezes o alcaide carioca foi alertado pessoalmente sobre esta pro-
míscua relação, que fazia que espetáculos montados com o mecenato muni-
cipal migrasse, depois de curtas temporadas em palcos públicos, para palcos
privados, sem que a prefeitura fosse ressarcida de um único centavo. Nem
espaço para divulgar o turismo do Rio, com a projeção de comerciais de vídeos
da cidade nas excursões nacionais destas peças, houve. Isto seria uma contra-
partida mínima.
Produções milionárias foram montadas na rede pública municipal e todo o
acervo da produção passava, depois, para as mãos dos seus produtores, muitas
vezes acumulando o cargo de diretores dos próprios teatros. A prefeitura não
virou sócia destes empreendimentos, que bancou até o ultimo botão. Por ou-
tro lado, a rede pública foi omissa ao permitir que palcos tradicionais, como o
Café Teatro Arena e o antigo Opinião, fossem fechados. Este virou juizado de
PRÊMIO............................................................ 6 e 7 pequenas causas e o governo municipal cruzou os braços.
Um outro efeito nefasto foi os das bilheterias a R$ 7,50, criando uma con-
Açorianos e Tibicuera corrência desleal com os espaços privados. O preço mínimo de R$ 15, trans-
Noite de premiação para os destaques do teatro gaúcho formado na metade pelos descontos para a terceira idade, estudantes, profes-
sores e servidores municipais, tiveram um impacto na saúde das produções
em 2008 cariocas, que fugiam da orgia com as verbas públicas.
O que ocorre hoje é resultado da falta de uma gestão que priorizasse a sus-
tentabilidade da rede municipal do Rio. Uma rede que teria tudo para procurar
TÉCNICA................................................................. 8 uma rota de auto-suficiência na cobertura dos seus custos. Depois dos mandos
e desmandos na rede municipal, no qual as responsabilidades dos Mais, Maciei-
Felipe Helfer ras e Falabellas não podem ser riscadas do mapa, o que assistimos é o colapso
Cenógrafo revela os segredos de um cenário ideal de um sistema que morre de inanição por estar a prefeitura muito mais falida
do que se esperava.
A sucata deixada pela administração anterior atingiu em cheio áreas impor-
tantes como a saúde e também a cultura. O prefeito Eduardo Paes herdou de-
zenas de bombas relógios. Algumas delas estão sendo habilmente desarmadas.
ENTREVISTA.............................................. 10 e 11 O que a secretária municipal de Cultura Jandira Feghali herdou foi uma caixa
de Pandora, que aberta está prejudicando a população com a falta de uma pro-
Gero Camilo gramação decente e, lamentavelmente, um corpo técnico da rede municipal
“Não há em arte nenhuma forma, gênero, estilo superior à que sempre se desdobrou para que a máquina funcionasse e agora é penalizado
com a falta de salário.
outra” O Rio tem sido, há décadas, a capital cultural do país. Só que a prefeitura
esquece que o teatro é um dos baluartes do turismo cultural. Cada vez que um
turista assiste um espetáculo, ele pernoita na cidade, gerando receita na hotela-
DANÇA...................................................................... 14 ria, no comércio e nos restaurantes.
A rede municipal nunca poderia estar neste estado de penúria. Deveria ser
Festival de Dança de Joinville um equipamento vivo e democrático da cidade, permitindo o acesso de pro-
Tudo pronto para a 27ª edição do maior festival de dança duções escolhidas pelos seus méritos e não apenas para fazer a fortuna pessoal
dos seus produtores, que durante anos mamaram nas tetas da municipalidade
do mundo sem lhe dar nada em troca. Se o TCM (Tribunal de Contas dos Município)
tivesse ficado alerta para o que ocorreu neste campo minado, boa parte dos
problemas teriam sido evitados e parte do mecenato a fundo perdido já teria
VIDA E OBRA......................................................... 21 sido devolvido aos cofres públicos, permitindo o pagamento dos salários que
agora estão vergonhosamente atrasados.
Cleyde Yaconis
Mais de 50 anos de sucesso nos palcos
Cláudio Magnavita
Presidente da Aver Editora

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4 1º à 15 de Maio Jornal de Teatro

Bastidores Folha apresenta leitura de “Travesties”,


IV Mostra Latino-americana de Teatro de Grupo texto inédito no Brasil
Chega à quarta edição a Mostra Latino-Americana de Teatro O jornal Folha de S.Paulo juntam a personagens de “A
de Grupo, dessa vez reunindo 12 companhias que representam as promoveu em seu auditório Importância de Ser Prudente”,
artes cênicas de seis países, entre os quais o Brasil, com sete com- segunda-feira dia 16 de abril, a obra de Oscar Wilde.
panhias regionais. O evento ocupa os espaços do Centro Cultural leitura dramática da peça “Tra- “O texto é uma grande
São Paulo, na capital paulista, entre 4 e 10 de maio, de segunda a vesties”, inédita no Brasil. O farsa que discute a função do
domingo. Todas as apresentações são gratuitas. texto do escritor e dramaturgo artista e da política na arte con-
Sob o tema Tradição e Atualidade, a Mostra recebe grupos que inglês Tom Stoppard teve dire- temporânea, além do papel da
estão entre os mais antigos do movimento como o Galpão, de Mi- ção de Caetano Vilela e ence- revolução nas artes”, explica
nas Gerais; o Yuyachkani, do Peru e o El Galpón, do Uruguai - que nação da Cia. de Ópera Seca. A Caetano Vilela, que assina a
completa 60 anos de trajetória. Outros são bem jovens, como o tradução é de Marco Antônio direção da leitura. O trabalho
Concreto, de Brasília; e A Tropa do Balacobaco, de Pernambuco. Pâmio. marca a primeira vez que a Cia.
Pela primeira vez, a cidade de São Paulo é representada por um Escrita nos anos 1970, a co- de Ópera Seca é comandada
grupo, o Brava, um dos ganhadores do Prêmio da Cooperativa Pau- média se passa em 1917 --du- por outro diretor que não Ge-
lista de Teatro. Todos os espetáculos são inéditos, com exceção de rante a Revolução Russa--, na rald Thomas.
“Volta ao Dia”, da Cia. Brasileira de Teatro de Curitiba, que teve cidade suíça de Zurique, e reú- A leitura de “Travesties”
uma mini-temporada na cidade em março de 2004, e de “A Brava”, ne personagens reais e fictícios. reuniu os atores Fabiana Gugli,
da Brava Companhia, de São Paulo, apresentada no ano passado. Marco Antônio Pâmio, Sabrina
No palco, o escritor James
Além das peças, todas as companhias farão uma demonstração Greve, Anette Naiman, Laerte
Joyce, o poeta Tristan
de trabalho, apresentando para o público e demais grupos, de for- Mello, Germano Melo, Mauro
ma prática, seus processos de criação. Tzara e o líder político Vla-
dimir Lênin (1870-1924) se Wrona e Theodoro Cochrane.

Noite de festa para a música lírica


O XII Prêmio Carlos Go- dro II, que não participará do
mes de Ópera e Música Eru- processo de indicação e de
dita será entregue aos artistas votação.
ou organizações culturais que O nome dos vencedores
mais se destacaram por suas será divulgado durante a festa
realizações em 2008. Serão de premiação que acontecerá
12 categorias: Solista Instru- na Sala São Paulo em 11 de
mental, Regente, Conjunto de maio, às 21hs, com a parti-
Câmara, Orquestra Sinfônica,
Cantor Solista, Cantora Solista, cipação do soprano Rosana
Regente de Ópera, Direção de Lamosa, do tenor Marcello
Cena, Figurino, Cenário, Ilumi- Vannucci e da Orquestra Sin-
nação e Espetáculo de Ópera. fônica de Campinas, regida
Ainda há o Troféu Guarany, por Ligia Amadio. A entra-
em reconhecimento do con- da será franca e é necessário
junto da obra de seu ganhador, confirmar presença pelo site
e o prêmio aos incentivadores do http://www.premiocarlos-
da música, além do Troféu Pe- gomes.com.br

Caio Fernando Abreu ganha mostra em São Paulo


A Mostra Caio Fernando Abreu ocorre até o dia 28 de Junho,
no Casarão do Belverde, em São Paulo. Os espetáculos aconte-
cem de terça a sábado e a programação completa está disponível
no site www.casaraodobelvedere.com.br
Outra oportunidade para ver a Cia Corpos Nômades
Foi prorrogada até 31 de de Conde de Lautréamont para
maio, a temporada do espetá- escrever Os Cantos de Maldo- SERVIÇO
culo Hotel Lautréamont – Os ror (escrito entre 1868 e 1869).
Bruscos Buracos do Silêncio, Hotel Lautréamont
Nascido no Uruguai, o autor Os Bruscos Buracos do Silêncio
que acontece na sede da Cia.
Corpos Nômades, localizada morreu misteriosamente em
na Rua Augusta 325 – Centro, 1870, desconhecido, aos 24 Rua Augusta, 325
São Paulo. anos, em Paris. Esse projeto São Paulo - SP
João Andreazzi e a Cia. foi contemplado pelo 4º Pro-
Corpos Nômades se inspira- grama Municipal de Fomento à Sábados às 21h PROGRAMAÇÃO
ram na obra de Isidore Ducas- Dança, com coreografia e dire- Domingos às 20h30
Quarta-Feira (06/05) “O dia Sábado (09/05) “Réquiem
se, que adotou o pseudônimo ção de João Andreazzi. para um rapaz triste” às 21h
que Júpiter encontrou Satur-
no” às 21h Direção Ivania Davi
Direção Paulo Goya. De 09/05 a 30/05
De 06/05 a 24/06
Terça-Feira (12/05) “Uma
Quinta-Feira (07/05) “Pode História de Borboletas” às 21h
ser que seja só o leiteiro lá Direção Gabriela Eiras
fora” às 21h De 12/05 a 23/06
ERRATA Direção Thiago Kozonoi
Na edição número 01 do Jornal De 07/05 a 25/06
de Teatro, na página 10, a foto
ao lado foi legendada com o Sexta-Feira (08/05) “Epifa- 06, 07 e 08 de junho – Os
nome errado dos atores. Trata- nias” às 21h Dragões (sábados – 21h e
se de Rômulo Braga e Cláudio Direção Rodolfo Lima 23h59; domingos - 18h e
Dias, da cia. Luna Lunera. De 08/05 a 26/06 20h30 e segundas - 21h)
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio 5
Bastidores
“Letras em Cena” retorna aos palcos com homenagem a
Ferreira Gullar
Completando três anos de progra- Nogueira. Outros atores presentes na
mação contínua, o projeto retomou programação são Marcos Caruso, Juca
as atividades no dia 30 de março, com de Oliveira, Lauro César Muniz, Fauzi
evento para apresentação da programa- Arap e José Rubens Siqueira.
ção e homenagem ao poeta e escritor O projeto acontece às segundas-fei-
Ferreira Gullar. ras, às 19h30, no Grande Auditório do
Desde 2006, o Letras em Cena re- MASP, em São Paulo. A entrada é gra-
alizou a leitura de 108 peças e contou tuita e as senhas podem ser reservadas
com a participação de aproximadamen- no site www.letrasemcena.art.br ou re-
te 1.300 artistas entre autores, poetas, tiradas meia hora antes das leituras, na
diretores, atores e atrizes. Este ano, a bilheteria do museu. No mês de maio,
programação acontecerá em seis mó- estão previstas as leituras dos textos
dulos distribuídos ao longo de 2009. “Adeus Vida”, de José Rubens Siqueira e
O primeiro teve início dia 6 de abril direção de Chiquinho Medeiros; e “Sinal
Sabrina Greve, Theodoro Cochrane, Fabiana Gugli e o diretor Caetano Vilella com a leitura de “Ventania”, de Alcides de Vida”, de Lauro César Muniz.

Festival Amazonas de Ópera


Até o dia 31 de maio, Manaus será – Confira a programação:
mais uma vez – a capital lírica do País. O
XIII Festival Amazonas de Ópera está Dia 02 - 20h
entre os 10 mais importantes festivais ”Cycle de Melodies Françaises – Recitais de canto
líricos do mundo, sendo o maior evento
do gênero da América Latina. e piano”
O destaque deste ano é a presença Concertos Bradesco
de obras de grandes mestres franceses. Local: Teatro Amazonas
A mostra apresenta “Os Troianos”, de Dia 03 e dia 10 - 19h
Hector Berlioz, “Sansão e Dalila”, de “Les Iluminations et Apollon Musagéte” (As
Camille Saint-Saëns, “A Vida Parisien- Iluminações e Apollon Musagete)
se... em Manaus”, adaptação da obra de Orquestra de Câmara e Cia de Dança do
Jacques Offenbach, “La Vie Parisienne”,
e “Carmen”, de Georges Bizet. O Fes-
Amazonas
tival faz parte da programação do “Ano Local: Teatro Amazonas
da França no Brasil”.
Os ingressos para o Festival Ama- Dia 24, 26 e 28 - 18h
zonas de Opera já estão à venda na bi- “Les Troyens” (Os Troianos)
lheteria do Teatro Amazonas. Os preços Hector Berlioz
variam de R$ 5 a R$ 80,00. Local: Teatro Amazonas

Encontro com Cisne Negro


A Cisne Negro Cia de Dança se que os bailarinos da companhia contam,
apresenta no Teatro de Dança, em São cantando e dançando, a história da dan-
Paulo, nos dias 7 e 8 de maio, com o es- ça através dos tempos. Numa das cenas,
petáculo “Vem Dançar”. Concebido por os bailarinos encenam um encontro de
Hulda Bittencourt (direção), Fabio Na- vanguarda: Nijinsky (o grande bailari-
matame (figurinos) e Fabio Cardia (mú- no) e Stravinsky (o grande compositor)
sica) sobre pesquisa de Cássia Navas, o rodeados por alguns cenários de Pablo
espetáculo é resultado de dois anos de Picasso, no Ballets Russes, em Paris, no
trabalho da Cisne Negro Cia. de Dança, início do século XX. Com um estilo que
que estreou a coreografia em 2000. Des- vai do clássico ao popular, o espetáculo
de então, a obra já foi vista por mais de faz citações das mais conhecidas obras
100 mil pessoas no Brasil todo. de artistas consagrados como Isadora
“O objetivo com o Vem Dançar é o Duncan, Marta Graham, Maurice Be-
de contribuir para que a dança cumpra
járt, Merce Cunningham e outros.
seu papel artístico, didático e social no
desenvolvimento da cultura do País. O Como atividades complementares e
espetáculo foi concebido com o intuito gratuitas às apresentações, haverá uma
de se dançar a História da Dança com conversa com a professora Cássia Na-
elementos da própria dança, da música e vas sobre a História da Dança - como
do trabalho de importantes artistas que construir uma pesquisa para um espe-
fizeram esta história”, explica Hulda táculo, uma palestra com Sergio An-
Bittencourt, diretora artística da com- dreucci sobre As profissões da Arte e
panhia. um workshop Corpo, Expressão, Dança
“Vem Dançar” é um dinâmico mu- com os integrantes da Cisne Negro Cia.
sical, didático, histórico e cultural em de Dança.
6 Maio de 2009 Jornal de Teatro

Prêmios

i a n o s
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A uera o r
T i b i c
e
Texto por Adriana Machado
Fotos por Anderson Espinosa

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Os palhaços do Circo Girassol (com participação do grupo
m fenômeno atí- de profissão, ele ressaltou a im- ao receber seu terceiro Aço- Médicos do Sorriso) fizeram do palco do Renascença um
pico se confirmou portância do reconhecimento. rianos de Teatro, o segundo grande picadeiro, em evento que contou com a cenografia
na noite de entrega “É a primeira vez que ganho. como melhor ator coadju- de Felipe Helfer, figurinos com supervisão de Daniel Lion,
dos prêmios Açorianos de Te- Com certeza, isto vai abrir no- vante em “A Comédia dos iluminação de Fernando Ochoa, arte em computação de Fred
Messias, direção musical de Yanto Laitano e direção-geral de
atro e Dança e o Tibicuera de vos caminhos”, disse. Erros. “O prêmio é funda- Dilmar Messias
Teatro Infantil, pela Secretaria As comissões julgadoras da mental, afinal são muitos
Municipal da Cultura, a artis- dança e do teatro retomaram ensaios e pesquisas em um
tas e espetáculos destaques em uma categoria extra, a de re- ano de trabalho”, afirmou.
2008. A tradicional cerimônia, velação, concedida para o bai- Das 16 indicações, a peça foi
ocorrida no Teatro Renascen- larino Cauan Rossoni, por “La uma das grandes premiadas
ça, no dia 2 de abril, em Porto Chronic” e às atrizes da peça da noite, com cinco estatue-
Alegre, revelou uma safra de “As Bufa”, Aline Marques e Si- tas (espetáculo, direção, ator
novos talentos. Jovens não só mone de Dordi. A última come- e atriz coadjuvante e trilha).
de idade, mas que também tra- çou a atuar aos 13 anos e hoje, Outros vencedores da
zem um novo “respiro” para a com 25, orgulha-se por ter re- noite foram “Édipo”, com
categoria, com propostas ino- cebido o prêmio em Porto Ale- quatro prêmios (melhor ator,
vadoras e linguagem atraente a gre, já que ela e Aline atuam no ator coadjuvante, figurino
adultos e crianças. interior do Estado. Outro que e iluminação). No in-
Exemplo de versatilidade, era pura empolgação:Rodrigo fantil, confirmou-se o favo-
Daniel Colin já não tinha mais Mello, indicado pela primeira ritismo de “Encantadores
como segurar tantos troféus. vez como melhor ator com a de Histórias”, com cinco
Ganhou o prêmio de melhor peça “A Comédia dos Erros”. estatuetas (espetáculo, atriz,
dramaturgia por “A vida Sexual figurino, iluminação e pro-
dos macacos”, e o Tibicuera de OUTROS VENCEDORES dução), seguido por “Jogo
teatro infantil com melhor dra- DA NOITE da Memória” (direção, ator
maturgia, direção, melhor ator Figura conhecida do públi- coadjuvante, cenografia, dra-
coadjuvante e consagração do co porto-alegrense nos seus 27 maturgia e júri popular). Já o
júri popular pelo espetáculo “O anos de carreira, Lauro Rama- Prêmio Açorianos de Dança O secretário municipal de cultura, Sérgius Gonzaga (foto acima,
jogo da Memória”. Emociona- lho mais uma vez confirmou apresentou nove categorias, de terno claro) e o prefeito da capital, José Fogaça (foto abaixo),
do e aplaudido pelos colegas seu talento entre a categoria, às quais concorreram 11 es- estiveram presentes na cerimônia, em Porto Alegre
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 7

Concorreram aos prêmios Açorianos e Tibicuera 17 espetáculos


petáculos. teatrais adultos e oito infantis, num total de 12 categorias
Os mais indicados foram
“Re-Sintos” (sete indicações),
e “Mulheres Fortes em Corpos Prêmio Açorianos de Teatro 2008
Frágeis” (cinco indicações).
No entanto, os prêmios se dis- Melhor Espetáculo: “A Comédia dos Erros”
Melhor Direção: Adriane Mottola por, “A Comédia dos Erros”
siparam: o primeiro conquis- “Melhor ator: Heinz Limaverde por, “A Megera Domada” e “O Gordo e o
tou duas estatuetas (cenogra- Magro
fia e produção) assim como o vão para o céu”; Marcelo Adams por, “ Édipo” e “O médico à Força”
segundo espetáculo, melhor Melhor atriz: Sandra Possani por, “A megera domada”
figurino e iluminação. Porém o Melhor Ator Coadjuvante: Carlos Cunha por, “Édipo” e Lauro Ramalho por,
destaque da noite ficou com as “A comédia dos Erros”
meninas do Tablao, com a con- Melhor Atriz Coadjuvante: Sofia Salvatori por, “A comédia dos Erros”
sagração de melhor espetáculo Melhor figurino: Rô Cortinhas por, “Édipo” e “O médico à Força”
Figura conhecida do público porto-alegrense, Lauro Ramalho Melhor cenografia: Luis Marasca por, “Uno no Duo”
de dança de 2008, bailarina e Melhor iluminação: Cláudia de Bem por, “Édipo”
Prêmio RBS Cultura através de recebeu seu terceiro Açorianos de Teatro. Daniel Colin, por sua
vez, já não tinha mais como segurar tantos troféus Melhor trilha: Mônica Tomasi por, “A Comédia dos Erros”
votação direta do público pela Melhor dramaturgia: Felipe Vieira de Galisteo e Daniel Colin por, “A Vida
internet. Gonzaga, e o prefeito da cida- Neca Machado, Roger Lerina, Sexual dos Macacos”
de, José Fogaça, presentes na Susana França e Tatiana Miel- Melhor produção: Luciano Alabarse por, “Édipo”
HOMENAGENS E cerimônia e responsáveis por czarski. Prêmio Revelação: Aline Marques e Simone de Dordi, atrizes do espetáculo
MANIFESTAÇÕES anunciar a institucionalização Os jurados do prêmio Ti- “As Bufa”
Alguns empates entre os da Usina das Artes. “Precisa- bicuera de Teatro Infantil: Eli-
competidores causaram sur-
presas, alegrias e certa dose de
mos de políticas públicas de
cultura duradouras e de pro-
za Pierim, Fábio Prikladnicki,
Newton Silva e Sandra Lourei-
Prêmio Açorianos de Dança 2008
confusão na leitura do script e jetos consistentes de apoio à ro. Melhor espetáculo de dança: “Tablao”
dos envelopes com os nomes montagem e circulação dos Melhor coreografia: Carol Laner, Juliana Vicari e Thaís Alves por, “A3”
dos vencedores na cerimônia espetáculos”, disse o diretor te- UMA HISTÓRIA Melhor bailarino: Mariano Neto por, “Mulheres Falam Sobre Homens que
de entrega do prêmio. A noite atral Dilmar Messias. Aplausos PONTUADA POR Dançam”
para ele. Melhor bailarina: Juliana Prestes, por Tablao
ainda ficou reservada às ho- RECONHECIMENTOS
Melhor cenografia: Juliano Rossi e Rudinei Morales por, “Re-Sintos”
menagens especiais, entre elas Concorreram todos os es- Criado pela Prefeitura de Melhor figurino: Milena Vasconcellos e Amanda Pinheiro por, “La Magia Del
para a professora Maria Lúcia petáculos de teatro, dança e Porto Alegre, o Prêmio Aço- Tango” e Lourdes Dall´Onder por, “Mulheres Fortes em Corpos Frágeis
Raimundo, a “Lucinha”, e o teatro infantil apresentados ao rianos é um importante refe- (Lado
dramaturgo e professor Ivo público porto-alegrense, du- rencial da programação artísti- B)”
Bender, com sua obra de mar- rante a temporada anual, inde- ca da cidade. A premiação para Melhor iluminação: Liliane Vieira por, “Mulheres Fortes em Corpos Frágeis”
co definitivo e envolto nas pai- pendente e inscrição. São três o teatro adulto foi instituída na Melhor trilha sonora: Guenther Andréas por, “Beatriz, a beleza e a tristeza”
xões humanas e terríveis, sen- comissões julgadoras constitu- década de 70, através do de- Melhor produção: Regina Tanski por, “Re-sintos”
ídas por representantes da co- Prêmio Revelação: Cauan Rossoni, bailarino do espetáculo “La Chronic”
do considerado um profundo creto nº 5876/77. Em 1979,
conhecedor do teatro grego. munidade cultural: foi a vez do Prêmio Tibicuera
Também não poderiam fal- Os jurados do Prêmio Aço- de Teatro Infantil e, em 1988, Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil 2008
tar os protestos referentes aos rianos de Teatro: Breno Ketzer houve a alteração do decreto,
cachês simbólicos e a falta de Saul, Celina Alcântara, Giselle incluindo a premiação para a Melhor espetáculo: “Encantadores de Histórias”
apoio na categoria. Um reca- Cecchini e Laura Medina. dança. Os premiados recebem Melhor direção: Daniel Colin por, “Jogo da Memória”
do explícito para o secretário Os jurados do Prêmio Aço- troféu, criado em 1993, por Melhor ator: Vinicius Meneguzzi por, “Dois Idiotas”
rianos de Dança: Débora Leal, um dos maiores artistas plásti- Melhor atriz: Carolina Garcia por, “Encantadores de Histórias”
municipal da Cultura, Sérgius
Melhor ator coadjuvante: Daniel Colin por, “Jogo da Memória”
cos do Brasil contemporâneo, Melhor atriz coadjuvante: Vera Mesquita por, “Dogs – a Cachorrada”
o gaúcho Vasco Prado. Edi- Melhor figurino: Maíra Coelho por, “Encantadores de Histórias”
tado anualmente pela Secre- Melhor cenografia: Grupo Teatro Sarcáustico por, “Jogo da Memória”
taria Municipal da Cultura, o Melhor iluminação: Bathista Freire e Rafael Rossa por, “Encantadores de
Prêmio Açorianos de Teatro e Histórias”
Dança e o Prêmio Tibicuera de Melhor trilha: Gustavo Finkler por, “Ouvindo Coisas”
Teatro Infantil homenageiam Melhor dramaturgia: Daniel Colin por, “Jogo da Memória”
Melhor produção: Carolina Garcia por, “Encantadores de Histórias”
os artistas locais e constituem a
memória dos profissionais das
artes cênicas. São os únicos na Outros
área que destacam os melho-
res da cidade e propiciam aos Prêmio RBS Cultura – Júri Popular (votação direta, pela internet)
artistas o reconhecimento de Melhor espetáculo de dança: “Tablao”
seu trabalho e à comunidade Prêmio Açorianos do Júri Popular de melhor espetáculo de teatro adulto:
gaúcha uma referência da pro- “O Médico à Força”
Prêmio Açorianos do Júri Popular de melhor espetáculo de teatro infantil:
Homenagem: Por sua marcante trajetória no teatro gaúcho, o dução de teatro e dança e seus “O Jogo da Memória”
dramaturgo Ivo Bender recebeu o Prêmio Açorianos Especial expoentes.
8 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Técnica
Em cena, a experiência de um olhar criativo
grandes cenógrafos nada mais Europa Setentrional do iní- pre tentar fazer mais com me- em algo incrível é o ideal.
Por Anderson Espinosa eram do que artistas plásticos, cio do século, criando as mais nos. Se eu conseguir encantar
pessoas sensíveis e atentas ao diversas conexões entre pla- com um fio de lã pendurado JT: Como é a relação dos
fenômeno teatral. nos de conhecimento. Minha no meio do palco apenas, acho cenógrafos com os produto-
Natural de Santa Cruz do condição profissional faz com que consegui chegar onde gos- res?
Sul, o gaúcho Felipe Helfer se JT: Em que difere pensar que eu agregue esses conheci- taria, na essencialidade. FH: O equilíbrio das re-
divide entre os sets de TV, ci- um espaço arquitetônico de um mentos. Um vestido tem um lações deve ser estabelecido
nema (como espectador tam- cenário para teatro e dança? significado, uma porta tem um JT: Qual seria o cenário e o cenógrafo tem um papel
bém), montagem de grandes FH: Em meu ponto de vis- significado e assim por diante. ideal? fundamental. Acho que para
eventos e, é claro, no teatro. ta não há diferença. A verdade Acho sempre que, no caso do FH: Acho que o bom ce- isso deve-se ter um pouco de
Admite, porém, que todo seu é que se está constituindo es- teatro e do cinema, o cenógra- nário é aquele onde as pessoas técnica sim, a fim de entender
conhecimento e experiência paço para uma função, que vai fo fica a mercê da ideia de um viram uma obra do conjunto os limites da produção e tam-
de mais de 20 anos como ce- seguir um roteiro ou a habita- diretor. Eu tento muito conhe- em que, de alguma maneira, foi bém seus próprios limites. A
nógrafo auxilia para que atue ção de uma família. O papel do cer a vontade daquele que me
em outras áreas. Mestre em possível conseguir um equilí- produção também tem a sua
cenógrafo é o de criar ou tri- rege, por estar a serviço dele e, brio. Mas no mundo inteiro, demanda e a suas limitações.
arquitetura moderna, Helfer dimensionalizar uma área para consequentemente, do texto.
realiza pesquisas em outros hoje, a cenografia também é O cenógrafo tem de ter a sa-
acontecer algum fato. Isso é Articular repertórios é funda-
campos, como, por exemplo, a um megaespetáculo, interagin- bedoria de conseguir conciliar
pura arquitetura. Do ponto de mental no jogo da construção
arquitetura efêmera, disciplina do, muitas vezes, com os ato- várias demandas. Cenografia é
vista filosófico, não há diferen- da ideia, mas não só isso. É co-
ministrada por ele em nível de ça. Evidentemente que é muito res. Mas sem dúvida nenhuma, um trabalho de equipe. Acho
nhecer bem a história da arte,
pós-graduação. Entre os vários melhor fazer cenografia, por- da luz, de música e materiais, fazer com que algo extrema- muito injusto quando falam o
prêmios de seu currículo, cons- que é onde eu me sinto brin- ou seja, tudo que se tem dentro mente simples se transforme cenógrafo.
tam os espetáculos “A Lenda cando de Deus. Basta apenas da mochila.

ANDERSON ESPINOSA
do Rei Arthur” e “Por um Pu- ter talento para conseguir or-
nhado de Jujubas”. Na entre- ganizar os signos. Já na arqui- JT: Que materiais você cos-
vista abaixo, o cenógrafo dá tetura civil, o profissional fica tuma usar e, destes, qual te en-
dicas importantes para quem a mercê de um contexto muito canta mais?
deseja alcançar o sucesso nessa menos controlável. FH: Acho que os cenários
profissão. virtuais estão ficando muito
JT: De que maneira se dá interessantes, criando possibi-
Jornal de Teatro: Para ser o processo de criação de cená- lidades de enganar muito boas.
cenógrafo é obrigatório estu- rios? Você segue uma metodo- Evidentemente que se olhando
dar arquitetura para ter uma logia? ainda para os telões renascen-
carreira de sucesso? FH: A cada história a cria- tistas e das obras clássicas, onde
Felipe Helfer: Não. Na ção me dispara de uma manei- o artista plástico pintava uma
arquitetura, o profissional se ra e isso é o mais fascinante, floresta, quando se abria uma
comunica através de plantas porque, ou eu posso estar tra- cortina era possível se sentir na
baixas e outros recursos. Mas balhando em um universo dos própria floresta. Eu tenho um Felipe Helfer: “O teatro no Rio Grande do Sul te obriga a ser
a história prova que alguns anos 70 de Nova York, ou na desafio comigo que é o de sem- carpinteiro, escultor e negociador”.

Estreia o Instituto de Tecnologia Teatral


da Redação ais, programas de teatro, apos-
JARBAS HOMEM DE MELLO

tilas e um respeitável banco de


imagens, tornando-se uma das
O Teatro do Ator, em São maiores bibliotecas brasileiras
Paulo, teve sua lotação esgota- sobre o assunto. O IBTT tam-
da na noite de segunda-feira, 6 bém pretende atuar na área de
de abril. A produção do even- formação profissional, “pois
to utilizou–se do teatro Studio conta em seus quadros com
184, ao lado, e com transmis- inúmeros docentes de várias
são simultânea, acomodou o universidades brasileiras e estes
público extra. Com duas casas discutem, hoje, a implementa-
cheias na noite, foi criado o ção de um curso de ensino à
IBTT (Instituto Brasileiro de distância para tecnologia tea-
Tecnologia Teatral). A mesa tral”. Depois de um intervalo,
de cerimônia foi assistida por teve início o seminário sobre
246 pessoas e dirigida pelo di- “Iluminação e Trilha Sonora
retor teatral paulista Jamil Dias. para Espetáculos”. Sob a me-
Através de leitura de carta de Sergio Pinto (Sesc SP) , Renato Mussa (Prefeitura da Cidade de São Paulo / Secretaria Municipal de diação do iluminador paulista
intenções, ele relatou um pouco Cultura), Mariza Porto (Senac SP), Jamil Dias, Sergio de Azevedo (Fundação das Artes de São Caeta- Milton Bonfante, os artistas
da história do IBTT, que teve no do Sul), Ligia de Paula (Sated SP) e Mauro Martorelli (Funarte SP) paranaenses Beto Bruel e Guto
início “na feira ExpoMusic de e realizações estivesse o I Con- chegou “à mesma feira Expo- da área de interesse e atuação Gevaerd descreveram seus mé-
2004, na cidade de São Paulo, gresso Brasileiro de Iluminação Music, mas agora já estávamos do grupo e “em dezembro de todos de trabalho, dificuldades
com uma mesa redonda orga- e soluções técnicas para a cria-
Cênica em setembro de 2005, em setembro de 2008 e as me- 2008 foi criado o fórum de dis-
nizada por um grupo de ilu- ção respectivamente da ilumi-
na Fascs, em São Caetano do sas redondas trouxeram pro- cussão do IBTT, na internet”.
minadores”. O grupo cresceu nação e trilha sonora dos espe-
rapidamente e gerou um grupo Sul.” Dias lembrou também fissionais de todo o Brasil. Ali, Além do fórum de discussão, táculos “Não Sobre o Amor” e
para estudo, pesquisa e história que além de cursos, palestras, foram lançadas as bases de um nesses quatro meses, o grupo “Avenida Dropsie”, ambos da
da iluminação cênica. Inevitá- publicações e encontros pú- trabalho conjunto sobre tecno- recolheu acervo de revistas, Sutil Companhia de Teatro, di-
vel que “entre suas conquistas blicos este grupo de pessoas logia teatral”. Com a ampliação livros, teses acadêmicas, manu- rigida por Felipe Hirsch.
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 9
O APLAUSO DO Festivais
FOTÓGRAFO

SANTO
Por Rodigoh Bueno

Os destaques do Festival de Curitiba 2009 já foram

LOUCO
eleitos pelos principais veículos de mídia do País. Se você
quiser conferir, basta vasculhar os arquivos do seu jornal
preferido. A proposta do Jornal de Teatro é recolher
algumas impressões de quem mais esteve atento aos
detalhes de cada peça. No caso, o Clix Fotografia, agência
que registrou 97% dos quase 300 espetáculos do festival.
Acostumados a terem suas fotos legendadas, os fotógrafos
da agência revelam suas impressões em legendas simples e
objetivas, como um clique.
APAVORANTE

SUSPENSE
OBRIGADO ENOJANTE
HOSPITALEIRO

DESOLADOR
IRRITANTE

Grupos locais ainda podem se inscrever no


“Porto Alegre Em Cena”
um DVD com o espetáculo na
Por Felipe Prestes
íntegra e clipagem com arti-
gos e notas publicadas sobre o
A 16a. edição do “Porto espetáculo para o endereço da
Alegre Em Cena”, a ser rea- organização do Porto Alegre
lizada entre os dias 8 e 21 de Em Cena (Travessa Paraíso, 71.
setembro, já está em fase de Santa Teresa, Porto Alegre-RS
Sobre o Clix: seleção e de inscrição. O prazo CEP 90850-190).
A agência de fotografias criada por Daniel para grupos nacionais se can- Desde 1994, 31 países e 12
Sorrentino tem seis anos e atua na área de didatarem se encerrou no últi- estados brasileiros integraram
teatro, moda, arquitetura e publicidade. Fotografa mo dia 31 de março. Agora, o a grade de programação, com
o Festival de Curitiba desde 2006. “A foto de coordenador-geral do festival,
teatro tem que captar a essência do momento.
692 espetáculos de teatro, dan-
Luciano Alabarse, está anali- ça e música, com um público
Se houver drama, ela tem que ser dramática. Se sando as obras inscritas.
houver alegria, tem que ser alegre. A agilidade de de aproximadamente 700 mil
Para os grupos de Porto pessoas. Os espetáculos ocor-
um palhaço fazendo piruetas requer a velocidade Alegre, o período de inscrições
e reflexos do fotógrafo para reram em mais de 40 locais
teve início no último dia 20 de diferentes, entre teatros, sho-
captar o momento certo” conta Daniel, que contou abril e se estendeu até o dia 22
com equipe de 20 Fotógrafos e dois Editores de ppings, espaços alternativos e
de maio. É necessário enviar bairros da capital gaúcha.
Fotografia na última edição do Festival.
fotos, release, rider técnico,
10 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

“O instante não
é de conter,como
não é de
desperdiçar”
Influências,
propostas e
idéias de
Gero Camilo

Por Rodrigoh Bueno

U
m dos mais daçado”, “Cronicamente Inviá-
completos ato- vel”, “Domésticas”, “Bicho de
res da atualida- Sete Cabeças” (que lhe rendeu
de lança agora o prêmio de melhor ator coad-
seu primeiro CD, somando à juvante no 33º Festival de Bra-
bem sucedida carreira de ator, sília do Cinema Brasileiro e no
dramaturgo e poeta; o título de Festival de Cinema de Recife,
cantor. Gero Camilo é forma- ambos em 2001), “Narradores
do pela Escola de Arte Dra- de Javé”, “Man On Fire”, ao
mática da USP e escreveu es- lado de Denzel Washington e
petáculos como “A Procissão”, o inédito “Hotel Atlântico” de
“Aldeotas”, “Café com Torra- Suzana Amaral.
das” e “Cleide, Eló e as Pêras”, Em televisão, participou dos
além de ter atuado em outras episódios “As aventuras de Chi-
montagens como “Navalha co Norato contra o boto vinga-
na Carne”, de Plínio Marcos, tivo” e “Hoje É Dia de Maria”,
“Tartufo, ou o Impostor”, de com direção de Luis Fernando
Molière; “Aquele que diz sim, Carvalho na TV Globo. Atual-
aquele que diz não”, de Bertold mente, Gero Camilo acaba de
Brecht, entre outros. lançar o CD “Canções de In-
No cinema, atuou em pro- vento” e concluiu as gravações
duções recentes como “Ca- da série “Som e Fúria” dirigida
FOTO: ZECA CALDEIRA

randiru”, “Cidade de Deus”, por Fernando Meirelles na TV


“Madame Satã”, “Abril Despe- Globo.

“Cleide, Eló e as Pêras”


Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 11

THEO CRAVEIRO
Não há
em arte
nenhuma
forma,
gênero,
estilo
superior
à outra.

KITY FÉO
Jornal de Teatro: Para GC: Escrevi meu primeiro trace a estética. (Ps. Entenda-se
você, qual é a importância de verso de caneta Bic. Depois o forma e estética aqui como li-
trabalhar como dramaturgo, poema era uma xilogravura da vre arbítrio).
cantor e compositor, somado minha impressão digital, numa
ao trabalho de ator? máquina datilografia Olivet- JT: Suas parcerias com Rubi
Gero Camilo: Não achar ti que meu irmão me deu. E e Celso Sim, por exemplo, que
que em arte a categorização e a agora se faz num quadro fos- são pessoas que já trabalham
profissionalização são maiores forescente onde muitas vezes com a música intimamente li-
que a experiência. A experiên- enquanto o verso está sendo gada ao teatro, são recentes?
cia é a vivência; o estado em feito, eu entro em um estado Onde e como se deu esse en-
que está ou se é, é arte. Alguns de músico nesse teclado de contro?
chamam de rito, outros de es- computador. Quando falo da GC: Primeiro vi o Celso
petáculo e sempre haverá mais poesia ser mãe nessa experiên- Sim em cena no teatro Oficina,
a se dizer, porque é experiên- cia, é porque literatura e gesto e depois nos encontramos no
cia, contato. se recompõem à dança. Não há filme Carandiru. Ele abençoa o
Para mim, tanto Chaplin, em arte nenhuma forma, gêne- casamento da Lady com o Sem

ZECA CALDEIRA
Gene Kelly e Patativa do As- ro, estilo superior à outra. Chance. Fez uma composição
saré revolucionaram meu olhar linda, que não está no filme,
pra vida. Todos esses me uni- JT: O que você gosta de ver para o amor dos dois. Amo seu
ficaram de alguma forma no no teatro? Recorda de algum trabalho, e mais ainda sua en-
estado de preparar-me para a espetáculo que viu recente- trega a ele. Rubi quem me apre-
experiência. E claro, ainda mui- mente e considerou marcante? sentou foi a Ceumar e a Tata
tos outros, porque é uma gira, GC: O Espetáculo Rainhas, Fernandes. É impressionante.
é um compêndio. Escolhe-se direção da Cibele Forjaz, com Não tenho palavras. Rubi é
sempre. E sempre haveremos a Isabel Teixeira e a Georgette a experiência que nos tira do
de nos surpreender. O instan- Fadel. Uma grande experiência tempo comum para o instante
te não é de conter como não teatral. Inesquecível. poético. Esses dois são grandes
é de desperdiçar. Muito menos parceiros que agradeço em mi-
de reverenciar o contrito funil JT: O tempo de protestos nha vida.
global das aparências. Quan- em Fortaleza deu lugar a mani-
do se celebra nos confins a festações no palco? Os anseios JT: O lançamento de “Can-
liberdade da criação frente ao críticos são uma preocupação ções de Invento” é um projeto
mercado, isso é cultura, a troca em seus textos e composições? antigo?
“ilícita” mas feita em si da mais GC: Sim. Cheguei a fazer GC: Sim, desejei muito
fiel experiência de poder com- um espetáculo no Theatro José esse disco. Quem faz a dire-
partilhar sua abrangência sem de Alencar, em Fortaleza, cha- ção musical é o Luis Gayotto,
se conter a um só espaço ou mado “Simulacro - Uma His- fundamental nesse trabalho.
palco social. E o mercado há tória Sequestrada” que tratava Unificando todos nós nessa
de nos comer sempre, e sem- do golpe militar e das consequ- experiência inventiva e musical.
pre estaremos a compor tem- ências desse absurdo. Mas isso Fomos para o estúdio Terrero
peros próprios pra comida que sempre com arte, e não panfle- Du Passo do Alfredo Bello, e
ofertamos. tária - sempre em contato com com ele estudamos o que que-
o momento atual. Comecei a ríamos e chamamos outros
JT: Em outras entrevistas, fazer arte em movimentos so- músicos: Estavan Sinkovitz,
você já disse que considera “a ciais que refletiam e celebra- Simone Julian, Simone Soul,
poesia a mãe de todas as artes” vam criticamente meu contex- Tata Fernandes, Nina Blauth,
e isso fica muito claro em suas to e condição social, por isso é Lirinha, Ceumar, Rubi, Celso
músicas e textos teatrais. A dra- estranho pensar a arte apartada Sim... Muitos amigos passaram
maturgia e a música têm perdi- da minha reflexão política. Isso por lá, é um trabalho que tem a
do essa referência? não cria peso à forma. Embora criação do todo.
12 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

AfroReggae: muita alegria nos encontros

A arte que vem do morro


Trupe de Teatro do AfroReggae e Nós do Morro mostram ao mundo a resistência e a cultura da periferia carioca

Por Douglas de Barros do Alemão ao Sesc do local. se). O moradores, claro, tinham
Joyce explica que tanto ela medo de tiroteios e, por isso,
como os outros dois integran- transferimos a oficina de teatro

A realidade nas peri- tes do grupo vindos do Com- para a sede do Sesc”, afirma.
ferias brasileiras pa- plexo (André Luiz, 21 anos e Johayne explicou ainda que,
rece não ser muito Daiane Barros, 22 anos) tinham no início, os adolescentes iam
diferente. Pobreza, violência e um certo receio em participar aos ensaios morrendo de medo
principalmente o preconceito das atividades do grupo. “ Para por causa do duelo de facções.
marcam o noticiário das comu- chegar no local das aulas, eu ti- Com o tempo, porém, essas
nidades carentes nas principais nha que ir andando pela estra- barreiras foram caindo. “Nós
capitais do País. No Rio de da do Itararé pelo lado do meu queremos dizer com tudo isso
Janeiro, essa percepção é am- bairro (Alemão) e atravessar que não temos facção e que
pliada devido não só à impor- somente quando chegasse no passamos uma mensagem de
tância da cidade mas também Sesc devido à guerra de facções integração. Não de separação”,
à ousadia e poder de fogo do rivais”, conta a jovem atriz. revela.
tráfico de drogas. Dentro desse De acordo com Johayne
contexto, mas em busca de um Hildefonso, diretor da trupe, COMO TUDO COMEÇOU
caminho mais nobre, muitos o trabalho no Alemão foi fei- A história do AfroReggae
jovens encontram na arte um to após um convite do pró- já revela toda a resistência do
caminho para mudar essa situ- prio Sesc, que não conseguia povo da comunidade, que so-
ação. se comunicar com os jovens. freu com uma das chacinas
Joyce Alves, de 21 anos, “Foi então que começamos a mais violentas de que se tem
conheceu a Trupe de Teatro dar aulas de teatro para os jo- notícia no Brasil. Em 29 de
do AfroReggae através de um vens do Complexo. As aulas agosto de 1993, um grupo de
projeto realizado em parceria aconteciam em uma quadra no extermínio formado por de
com o Sesc (Serviço Social do interior da favela, em um local mais de cinqüenta homens en-
Comércio) de Ramos, na zona onde nem os pais deixavam capuzados e armados arromba-
Norte do Rio de Janeiro. O pro- seus filhos devido à presença ram casas e executaram vinte e
grama visava integrar os jovens constante do caveirão (veículo um moradores da comunidade
da comunidade do Complexo blindado da polícia fluminen- de Vigário Geral. Cena de montagem de Nós do Morro: saber lidar com os recursos
Jornal de Teatro
Na época, houve relatos de que a
chacina teria tido sua origem na morte
1º à 15 de Maio de 2009
países. Alguns deles de lugares que estão
frequentemente em guerra, como Nepal
13
de quatro policiais militares no dia ante- e Palestina.
rior. As mortes foram atribuídas a trafi- “Nesse momento percebemos que
cantes daquela região e a matança ocor- muitos desses grupos tinham uma re-
reu como forma de represália policial, alidade ainda mais dura, como os pa-
apesar de nenhuma das vítimas possuir lestinos por exemplo. Eles levaram um
envolvimento com o tráfico. Alguns me- espetáculo bem amador. Já o grupo de
ses após o crime, 13 policiais militares Liverpool levou algo com muita tecno-
foram expulsos da corporação. Mesmo logia, algo bem diferente da realidade de
assim, apenas seis dos 52 PMs acusados muitos ali, o que causou um centranto
foram condenados (dois cumprem pena interessante”, explica Raphael Rodri-
e quatro estão soltos). Desses, cinco gues, 23 anos.
morreram e um está foragido. Os outros Etilaine Andrade, 22, conta que o
foram absolvidos por falta de provas. grupo abriu o festival e apresentou uma
A partir daí, surgiu o AfroReggae, peça em português. “Mesmo sem enten-
inicialmente em torno do jornal Afro der direito o que era falado, a plateia
Reggae Notícias, um veículo de infor- pôde interagir com o atores e o resultado
mação que visava a valorização e a divul- foi muito bom. O grupo não só prendeu
gação da cultura negra, voltado sobretu- a atenção dos espectadores, como os le-
do para jovens ligados em ritmos como vou a participar conosco”, diz.
reggae, soul, hip-hop, etc. Em seguida, Entre os exercícios desse festival, fo- Arte e expressão: Força de resistência da comunidade
com o surgimento dos grupos musicais ram criadas duplas e companhias que se
que mesclam percussão e batidas ele- correspondiam. Uma das tarefas era en-
trônicas com muito funk, rock, samba viar uma caixa com objetos que falavam Favela, que ainda não começou a ser fil- que viver arte, nós vivemos cidadania,
e black music. ou representavam algo sobre a história e mado. solidariedade e disciplina”, conta Fraga
Em 1997, com a ONG já bastante cotidiano de cada grupo. O AfroReggae que, ao lado dos diretores Luiz Paulo
conhecida, uma dupla de especialistas ficou com um grupo de Manchester, In- NÓS DO MORRO, O PIONEIRO Corrêa e Castro, Zezé Silva e Fred Pi-
em saúde pública (José Marmo e Marco glaterra. Os grupos interagiam por Fa- Na estrada desde 1986, o grupo ca- nheiro, coordena as as 21 oficinas ofere-
Antônio) juntou um grupo de adoles- cebook e, por meio desses objetos, que rioca Nós do Morro surgiu como um cidas no Casarão de mil m2 que o Nós
centes para realizar esquetes com o ob- serviam de base para os textos, tinham centro para a formação de atores e técni- do Morro mantém no Vidigal. Atual-
jetivo de informar a população sobre os que produzir a sua arte. cos de artes cênicas dentro do Morro do mente, a entidade reúne 30 professores
riscos da Aids e outras DST’s. Da ideia “Entre as coisas que queríamos man- Vidigal, na zona Sul carioca. O objetivo e 480 alunos.
surgiu a Trupe da Saúde, que passou a dar, tivemos a ideia de enviar uma cap- no início era levar acesso à arte e à cultu-
visitar escolas, hospitais e praças, entre sula de fuzil. Pedimos isso a um rapaz ra para uma comunidade que não sabia NA TELONA
o que era produzir e consumir bens cul- Mais recente do que o Teatro, o
turais. Após 22 anos de atuação, a trupe núcleo audiovisual nasceu em 1995
contabiliza 19 espetáculos profissionais - apadrinhado pelos diretores Rosane
e seis curta-metragens. A principal con- Svartman e Vinícius Reis, e vem se con-
tribuição, porém, foi transformar o Vi- solidando em diferentes frentes. Seja na
digal em um dos mais importantes pólos produção de roteiros, clipes, filmes de
culturais da cidade do Rio, quebrando ficção, documentários de longa e cur-
ta-metragem ou no fortalecimento de
estereótipos e preconceitos.
importantes parcerias com produtoras
Patrocinado pela Petrobras desde
como Diller Trindade, Rio Vermelho,
2001, o Grupo já atendeu mais de 1.600
Raccord e Copacabana Filmes, o setor
crianças, jovens e adultos com oficinas é responsável pela inserção no mercado
de formação de atores e técnicos. Entre de trabalho de vários dos seus técnicos
eles Thiago Martins, Jonatahan Haagen- e artistas.
sen, Mary Sheyla de Paula, Roberta Ro- “Outro ponto muito legal é o cará-
drigues, Babu Santana e Roberta Santia- ter multiplicador do nosso serviço, que
go, figuras já bastante conhecidas na TV hoje atende também a população do
e no Cinema Nacional. interior do estado. Já estamos realizan-
Guti Fraga, diretor e idealizador do trabalhos em Saquarema, Itaocara,
do Grupo, acredita que o sucesso veio Japeri e Nova Iguaçu”, enumera Guti,
por causa da busca pela qualidade, que acrescentando que fortificar a atuação
marca seus trabalhos desde o início das nessas cidades, construindo uma sede e
Nós do Morro: Desde 1986 colocando gente no palco atividades culturais. “Só ela é capaz de um teatro em cada um delas, é o grande
construir algo positivo. Aqui, mais do desafio dos próximos anos.
outros espaços para falar de assuntos do movimento. Ele disse que não tinha,
ligados à saúde (dengue, drogas, leuce- mas que era para esperar. Bastava uns
mia, câncer de mama, gravidez na ado- tiros e nos arrumava. Foi aí que nos de-
lescência, etc).
O grupo se transformou em Trupe
sesperamos e pedimos para ele não fazer
isso e que não precisava. O interessante
Principais Realizações
de Teatro AfroReggae em 2001 com a foi que, mesmo assim, o rapaz arrumou Encontros Abalou - Um Musical Funk
entrada do atual diretor Johayne Hilde- o projétil e ficou feliz em participar de Torturas de um Coração É Proibido Brincar
fonso. Como a proposta passou a ser alguma forma do grupo.” conta Lívia Os Dois ou O Inglês Maquinista Noites do Vidigal
falar sobre qualquer assunto, não tinha Gaspar, 23 anos. Biroska Burro sem rabo, ou...
mais sentido o nome original. Johayne contou que ficou muito Hoje é Dia de Rock Sonho de uma noite de verão – uma
A maturidade veio com a mudança preocupado quando eles contaram isso: Show das Cinco intromissão do Nós do Morro no mundo de
de nome e a presença de um profissio- “foi loucura, pedi para nunca mais faze- Show das Sete Shakespeare
nal de teatro. Segundo Flávia Soares, rem isso, mas de certa forma serviu para Machadiando – Três Histórias de Machado Carmem de Tal
22 anos, Johayne deu ao grupo uma mostrar aos ingleses um pouco da nossa de Assis: Lição de Botânica; Hoje Avental, Os Dois Cavalheiros de Verona
linguagem mais seca, com peças cada realidade”. Amanhã Luva; Antes da Missa Machado a 3x4
vez mais faladas. “Foi difícil fazer essa Atualmente, a Trupe de Teatro do Hamlet
transição porque perdemos aquele tom AfroReggae pretende estrear, ainda
de ingenuidade e amadorismo para o nesse ano, o seu mais novo trabalho, o
surgimento de algo mais profissional”, espetáculo “Urucubaca”, com texto de
disse Flávia, que está no grupo desde o jorge Mautner e Malú Cotrin. Esse novo
início e completa: “hoje estamos viven- trabalho ainda está em fase de produção. Prêmios
do um momento muito novo e muito Mesmo assim, já foi apresentado na In-
especial”. glaterra e em Brasília. O grupo recebeu, Prêmio Shell na Categoria Especial
recentemente, um convite para atuar em Prêmio Mambembe, Categoria Especial
um festival em São Paulo, no Itaú Cul- Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem, Categoria Especial
COLHENDO OS FRUTOS
tural. Prêmio Orgulho Carioca
Não é para menos. No início do Menção Honrosa da ONU/UNESCO
ano, a Trupe de Teatro participou de Além de Urucubaca, alguns integran-
Prêmio Shell de Melhor Direção Musical (Gabriel Moura)
um um festival de teatro em Liverpool, tes do grupo estão participando da fase
Prêmio de Melhor Curta do Júri Oficial do 37º Festival de Cinema de Brasília
na Inglaterra. O evento contou com a de testes e preparação do novo projeto Mérito Carioca de Direitos Humanos 2005 – Secretaria Municipal de Assistência Social/RJ
participação de 12 grupos de diferentes de Cacá Diegues chamado Cinco Vezes
14 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Dança

Bailarinos e amantes da dança


vindos do Brasil e exterior fazem
ALCEU BETT

o espetáculo em Joinville.

Expectativas para o 27º Festival de Dança de Joinville


CRESCIMENTO PALCO DE HISTÓRIAS OPORTUNIDADES
O encontro registrou em 2009 um crescimento O evento obteve aumento O Festival de Dança de Desde 2008, o público do
de 20,3% no número de coreografias inscritas de 20,3%, em relação à edição Joinville, desde sua estreia, foi festival de dança tem a opor-
passada, no número de coreo- também palco de dificuldades tunidade de conhecer os ca-
para seletiva em relação a 27ª edição marins, a montagem e toda a
grafias inscritas para a seletiva e superações. Tudo começou
da mostra competitiva, meia estrutura dos espetáculos, por
munitários, palestras e debates, em 1983, quando uma plateia
ponta e palcos abertos. No meio do projeto “Visitando os
entre outras ações. A programa- lotava o auditório da Socie- Bastidores”. Os grupos que se
Por Adoniran Peres total, foram inscritos mais de dade Harmonia Lyra, palco
ção oficial conta, ainda, com as duas mil coreografias de 1.544 inscreverem gratuitamente no

E
tradicionais noites de abertura da primeira edição. Joinville balcão de informações da Feira
m sua 27ª edição, o grupos de todo o País e da Ar-
e de gala, que reúnem grandes passava por um dos seus pio- da Sapatilha poderão visitar o
Festival de Dança gentina, dos EUA, da Inglater-
de Joinville, que será expoentes da dança brasileira ra e do Paraguai. Somente do res períodos de cheias, o que evento acompanhados de um
realizado de 15 a 25 de julho, e mundial. Outro evento é a exterior, foram 30 trabalhos. complicava o deslocamento guia. O projeto ocorrerá entre
já entra no ritmo para trans- Feira da Sapatilha, a maior do em todo Estado. Para surpresa os dias 16 e 25 de julho, das
Entre os destaques, estão as
formar a Cidade das Flores em setor no Brasil, que apresenta dos organizadores, 40 grupos 14h às 18h.
inscrições para o meia ponta,
um grande palco de diferen- produtos, artigos e acessórios que aumentaram em 97%. A se inscreveram, reunindo cer-
te espetáculos. Apontado, em de dança e reúne mais de 70 seleção dos trabalhos para con- ca de 600 estudantes de dança.
2005, pelo “Guinness Book” Foram cinco dias de apresenta-

ALCEU BETT
expositores. Mantido com o correr no festival será realizada
como o maior festival de dan- apoio de patrocinadores e pro- de 18 a 25 de maio. A escolha ções, com espetáculos de clás-
ça do mundo, o evento, que é será feita pelos integrantes do sico, moderno, jazz e folclore.
movido pelo Instituto Festival
também referência nacional Conselho Artístico do Festival,
de Dança de Joinville, o festi- Na segunda edição, em 1984,
e internacional para quem vi- formado atualmente por Airton
vencia a arte, estima reunir 4,8 val, dentro ou fora do palco, é o sucesso continuou. Mais de
consolidado pela tradição, pelo Tomazzoni (RS), Eliana Cami- mil estudantes, representando
mil participantes, entre estu-
profissionalismo e pela plurali- nada (RJ), Sandra Meyer (SC) e 62 escolas, tomaram Joinville.
dantes e profissionais de dan-
ças, e atrair ainda um público dade dos participantes. Em 11 Sueli Machado (MG). Também Para atender a esse crescimen-
superior a 200 mil pessoas em participam jurados convidados, to, o festival foi para o ginásio
dias de espetáculos, bailarinos
220 horas de espetáculos. As como a pesquisadora e crítica Ivan Rodrigues e a duração
e amantes da dança chegarão a
apresentações ocorrerão no especializada em dança, Suzana
Joinville vindos de todo o País passou para sete dias. O desta-
Centreventos Cau Hansen, tea- Braga, e o ensaiador artístico
e do exterior, com diferentes que daquele ano foi a apresen-
tro Juarez Machado, em palcos do Ballet do Theatro Municipal
objetivos: concorrer na mos- do Rio de Janeiro, João Wlamir tação da primeira montagem
abertos e espaços alternativos, de “O Grande Circo Místico”,
além de englobar a realização tra competitiva, apresentar-se (Clássico), ambos do Rio de Ja-
de cursos e oficinas com fins no meia ponta ou nos palcos neiro; a bailarina e coreógrafa do Ballet Teatro Guaíra. O fes-
de aperfeiçoamento profissio- abertos nas praças, bairros, Bia Mattar (Sapateado), de SC; tival começava a desenhar um
nal, workshops gratuitos para shoppings e fábricas, ou com e o coreógrafo e pesquisador modelo que iria além da com-
os coreógrafos inscritos, semi- um foco voltado a atividade Carlos Nunes (Dança de Rua), petição e que passava a lhe dar
nários de dança, projetos co- didática. do Rio Grande do Sul. projeção nacional.
1º lugar, em 2008, Balé Clássico
Conjunto Avançado Conservatório.

A estimativa é
que o evento
receba 200 mil
pessoas em 220
horas de espetá-
culos.
ALCEU BETT AMIR SFAIR FILHO
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 15
Política Cultural
Mudanças necessárias,
mas repletas de polêmicas
Projeto para alteração da Lei Rouanet levanta discussões entre artistas e
representantes da classe
res de Teatro do Rio de Janeiro),

JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC


Eduardo Barata afirmou, durante
Por Felipe Sil o encontro com o ministro, que
o teatro não pode abrir mão dos
100% de renúncia fiscal e ques-
Em 2006, a atriz Débora Oli- tionou se essa é a melhor medida
vieri produziu uma peça em ho- em um momento de crise econô-
menagem a sua tia: Ida Gomes. mica. Dados do MinC (Ministé-
Após ter a peça aprovada pela Lei rio da Cultura) sobre o assunto,
Rouanet, porém, não conseguiu porém, são alarmantes. O inves-
encontrar empresas privadas que timento via renúncia fiscal, em
se interessassem pelo trabalho e Rondônia, é de apenas R$ 0,58
acabou por desistir de ser produ- ano per capita. Ainda assim, é o
tora. Casos como o da renomada Estado em terceira melhor situa-
atriz, infelizmente, não são ra- ção no Norte. No Pará, o investi-
ros. Geralmente, as instituições mento é de apenas R$ 0,14, e, no
privadas que recebem o benefí- Amapá, de R$ 0,6 por ano. Ape-
cio de 100% de abatimento fis- nas 3% dos recursos nacionais
cal procuram peças nas quais o via Rouanet passam por toda a
marketing possa ser explorado, região Norte. O ministro Juca
o que, consequentemente, acaba Ferreira costuma afirmar que, em
por levar ao predomínio de cer- 18 anos de vigor da Lei Rouanet,
tos eventos que contam com a só 4% do universo das empresas
presença de famosos. Exemplos que podem contribuir com a lei Eduardo Barata, Juca Ferreira, Flávio Arns e Sidney Sanches debatem mudanças na Lei Rouanet
como o de Débora levaram o mi- contribuem. A consequência,
nistro da Cultura, Juca Ferreira, a segundo ele, é o uso de 90% de
dinheiro público e só 10% de di- da federação (80% dos recursos). Débora Olivieri, que se considera difícil acompanhar as constantes
apoiar, de maneira efusiva, uma Ainda de acordo com o ministro, prejudicada pela Lei Rouanet da reviravoltas do debate em torno
nova lei de incentivo à cultura. nheiro privado. Em seu discurso
no Teatro Leblon, Juca argumen- 3% dos proponentes de projetos maneira atual, mostrou-se favo- da Lei Rouanet. “São tantas as
As propostas para a mudança, no
tou, ainda, que o projeto de mu- culturais ficam com mais da me- rável a mudanças. “Continuar do notícias e tantas opiniões joga-
entanto, têm suscitado discussões
dança é oportuno porque a crise tade do dinheiro. “Precisamos de jeito que está é que não dá mais. das em público que o debate aca-
na classe. No dia 13 de abril, no
econômica, segundo ele, inviabi- um projeto generoso com todas As grandes empresas preferem ba sendo prejudicado. Acho que
Rio, o ministro se reuniu com
cerca de 400 artistas, no Teatro liza o financiamento de projetos as linguagens, todos os Estados. gastar R$9 milhões em um só todo esforço para investimentos
do Leblon, para debater algumas por parte das empresas, mesmo Não podemos ter uma visão mes- evento ao invés de distribuir R$ 1 na cultura é válido. Acredito que
ideias para a reforma. No encon- com renúncia fiscal de 100%. “O quinha de que, como a farinha é milhão em nove obras. Acho que a melhor solução seria algo que
tro, Juca Ferreira afirmou que, a importante é destacar que este é pouca, o meu pirão vem primeiro. essa lei não tem ajudado a clas- una a manutenção dos 100% de
pedidos da classe, vai incluir no um projeto que, em vez de dimi- Não há cultura sem artistas que se de maneira eficiente”, critica. renúncia fiscal para as empresas
anteprojeto de lei os critérios que nuir, aumenta as oportunidades inovem e desenvolvam lingua- Já a atriz Alessandra Maestrini, privadas e um aumento da verba
a Cnic (Comissão Nacional de de fomento à cultura.” Sobre a gens. A Rouanet não conseguiu a Bozena de “Toma Lá Dá Cá”, do governo para os projetos”, co-
Incentivo à Cultura) irá utilizar polêmica do fortalecimento do dar conta disso”, criticou. A atriz admite que, até para os artistas, é menta.
para analisar os projetos que se FNC, o presidente da Comissão
JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC

candidatarem a receber dinheiro de Direito Autoral da OAB-RJ


da renúncia fiscal ou do Fundo (Ordem dos Advogados do Bra-
sil), Sidney Sanches, afirmou
Precisamos
Nacional de Cultura. Muitos ar-
tistas já haviam se queixado da que o acréscimo da expressão de um projeto
“relevância cultural” e a retirada
generoso
ausência desses critérios, que
estavam para ser estabelecidos da expressão “análise objetiva”
só após a regulamentação da lei.
O projeto, porém, também con-
cria dúvidas e insegurança no
setor artístico. Assim como ele, com todas as
ta com diversas outras polêmi-
cas. Talvez a principal dela seja
muitos artistas já demonstraram
na imprensa temor quanto ao po-
linguagens, todos
a de que a renúncia fiscal perde der que o governo ganharia com
tais mudanças. O ministro, no
os Estados. Não
o fôlego no corpo da proposta
de lei. Outra proposta bastante entanto, negou que o projeto da podemos ter uma
nova lei abra brechas para possi-
discutida é o fortalecimento do
FNC (Fundo Nacional de Cul- bilidades de dirigismo. “Nós não visão mesquinha
tura), desdobrando-se em diver-
sos setores, o que promete ser
trabalhamos com entrelinhas.
Tudo que temos feito é dito às de que, como a
benéfico para clientes incomuns
da Lei Rouanet, como os grupos
claras”. Os argumentos dados
por Juca Ferreira para o fortale-
farinha é pouca,
de cultura popular. Os projetos cimento do FNC, que passaria o meu pirão vem
passariam, então, a ser julgados a contar com novos fundos se-
por comissão paritária formada toriais, são baseados no fato de primeiro.
por representantes do governo e que o eixo Rio-São Paulo, hoje,
da sociedade civil. Presidente da recebe mais investimentos em
APTR (Associação de Produto- cultura do que outras unidades Juca Ferreira, ministro da cultura.
16 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC

JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC


Juca Ferreira, entre Eduardo Barata e Flávio Arns, apresenta novas propostas de incentivo à cultura Público ouve atentamente o debate no Teatro Leblon, no Rio

Nem todo debate, entretan- Para o governo, o próximo o presidente da Funarte, Sérgio

JÚLIO CÉSAR / DIVULGAÇÃO MINC


to, tem sido pacífico e cordial. passo é travar um debate em tor- Mamberti, defende o anteprojeto
No início de abril, cerca de 200 no das regulações da legislação. de lei. “É uma ótima notícia para
atores, dramaturgos, diretores e Pelo nova lei, devem ser criados todos os artistas e para mim, que
produtores de teatro ocuparam a comitês gestores setoriais, com assumi a Funarte para colocá-la
sede da Funarte (Fundação Na- participação igual da sociedade à altura de seus desafios. Desde
cional de Artes), em São Paulo, civil e do governo, para gerir os então, percorremos o País em
em protesto contra a política cul- cinco fundos a serem criados: busca de sugestões, num diálogo
tural do governo. O grupo, cha- Fundo Setorial da Memória e que será permanente, com artis-
mado Movimento 27 de Março, Patrimônio Cultural Brasileiro; tas e produtores”, disse.
pedia a supressão da renúncia Fundo Setorial das Artes (que Quem quiser analisar o pro-
fiscal e a destinação de 2% do abrange teatro, dança, circo, ar- jeto que trata das mudanças na
orçamento da União para a área tes visuais e música), Fundo Se- Lei Rouanet, basta acessar os
cultural. Outro grupo, o Movi- torial da Cidadania, Identidade e site www.cultura.gov.br/refor-
mento Redemoinho, que une Diversidade; Fundo Setorial do madaleirouanet, aberto para con-
grupos teatrais de 14 Estados do Livro e da Leitura e Fundo Glo- sulta popular. Após essa etapa, o
País, chegou a divulgar a Carta bal de Equalização. texto será reelaborado e enviado
de Salvador, que pede a reformu- Em artigo no jornal “O Glo- ao Congresso Nacional para vo- Cerca de 400 artistas do setor estiveram presentes para debater
lação do projeto de lei. bo”, publicado no dia 14 de abril, tação. propostas com ministro

HISTÓRICO DO DEBATE SOBRE UMA NOVA LEI DE INCENTIVO À CULTURA


29 de agosto de 2008 Mista em Defesa da Cultura. Durante o encontro, foi apresentada aos presentes
O então ministro da Cultura Gilberto Gil passa o “bastão” para Juca Ferreira em a prpposta de Nova Rouanet.
cerimônia no auditório da Funarte.
23 de março de 2009
9 de outubro de 2008 É anunciada oficialmente, à imprensa nacional, as linhas gerais da proposta.
O MinC dá início à série Diálogos Culturais. Nela, Juca Ferreira apresenta os prin-
cipais avanços e desafios das políticas públicas para a área. Um dos destaques
da primeira discussão foi a modernização da Lei Rouanet (nº 8.313/91).
27 de março de 2009
Um grupo de artistas teatrais ocupa a sede da Funarte, em São Paulo, e entrega
um manifesto ao MinC, em que pedem o fim total da renúncia fiscal (que na
15 de novembro de 2008 nova Lei de Fomento apresentada pelo MinC muda de 100% ou 30% para mais
Após a apresentação das linhas gerais propostas pelo Ministério da Cultura para quatro faixas).
remodelar a lei, associações, companhias e sindicatos de artistas apresentaram
um manifesto de apoio à proposta. Entre eles, a Cooperativa Paulista de Teatro,
o Fórum Permanente de Cultura Popular, a APTI (Associação dos Produtores de
4 de abril de 2009
É assimilada a primeira alteração da proposta de Lei de Fomento à Cultura. As
Teatro Independente), a União Brasileira de Circos Itinerantes, o Centro Cine-
áreas jurídicas da Casa Civil e Ministério da Cultura, em comum acordo, enten-
clubista de São Paulo e a ABD (Associação Brasileira de Documentaristas).
deram que o projeto não cria uma renúncia fiscal nova, mas apenas altera o
sistema atualmente existente da lei. Com isso, a Nova Rouanet não terá de ser
28 de novembro de 2008 submetida à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) do ano passado, que deter-
O ministro Juca Ferreira participou do 1º FIPC (Fórum de Investidores Privados mina prazo máximo de cinco anos para novas renúncias fiscais. A proposta foi
em Cultura), em que estiveram representantes de empresas, institutos e funda- alterada justamente após apreensão no meio cultural com a possibilidade de ter
ções. No evento, apresentou as linhas gerais da proposta de alteração da Lei de renovar o mecanismo de renúncia cinco anos após a aprovação da nova lei.
Rouanet.
9 de abril de 2009
10 de dezembro de 2008 O governo anuncia que vai enviar ao Congresso Nacional, até o final deste mês,
Aproximadamente 60 empresas, institutos e fundações de origem privada uma série de propostas voltadas para o setor após encontro do ministro Juca
que investem em cultura apresentaram suas contribuições à reforma da lei ao Ferreira com o presidente da Câmara, Michel Temer. O objetivo da reunião foi
MinC. pedir maior agilidade na votação das matérias.

3 de março de 2009 13 de abril de 2009


O ministro da Cultura interino, Alfredo Manevy, esteve no lançamento do pro- O ministro Juca Ferreira se reúne com cerca de 400 artistas e produtores cul-
grama Rumos, do Instituto Cultural Itaú. Em seu discurso, foi muito aplaudido turais, como Marco Nanini, Edwin Luisi, Flávio Marinho e Ney Latorraca, para
ao ressaltar que faz parte da reformulação da Lei Federal de Incentivo à Cultura conversar e tirar dúvidas sobre a reforma da Lei Rouanet. O encontro durou qua-
a criação do Vale Cultura e a manutenção da renúncia fiscal. tro horas, o mais longo desde o início da peregrinação do MinC em todo o País
para discutir o tema. O ponto alto do encontro foi o compromisso público as-
5 de março de 2009 sumido por Juca Ferreira de incluir no anteprojeto de lei os critérios que a Cnic
O Ministério da Cultura realiza uma reunião de seus secretários com secretários irá utilizar para analisar os projetos que se candidatarem, pela nova Rouanet, a
e dirigentes estaduais de Cultura, além de deputados da Frente Parlamentar receber dinheiro da renúncia fiscal ou do Fundo Nacional de Cultura.
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 17
Opinião
GERSON STEVES

Pensamentos Insignificantes sobre a Lei Rouanet

P ediram um artigo so-


bre a Lei Rouanet. E
tudo que eu conseguia pensar
Outro dia, sem ter o que
fazer além de separar uma
montanha de papel e plástico,
mesmo jeito que acontece com
uma pedra que a gente joga
numa lagoa. Num momento
a imensidão da lagoa que con-
tinua sempre igual. Mas só na
superfície, porque no fundo vai
sos e com data certa pra acabar.
É um grande negócio, mesmo
que não dê bilheteria. Tem a
era noutro artigo que eu tinha, pensei numa historinha em que ela está na mão da gente e tem tendo cada vez mais um mon- tal da contrapartida social, mas
sobre uma conversa com o fa- meu amigo seria o protagonis- lá a sua importância de pedra. te de outras e novas porcarias. como isso ninguém confere,
xineiro do meu prédio. Essa ta. E coloquei a pequena pará- Na hora justinha que a gente Igual a aliança... quando ela cai bastam algumas palestras ou
mania que eu tenho de reciclar bola na boca dele. Ficaria mais joga a pedra na lagoa, ela deixa na merda, deixa de existir e o aulas abertas e pronto: o pro-
lixo acabou me aproximando ou menos assim: de ter algum valor, foi parar no que passa a valer é a merda que duto volta a ser lucrativo! Lu-
de pessoas jamais imaginadas. “Um sujeito me propôs o fundo, junto com um monte de está em volta.” crativo, sim! Afinal, o público
O que é ótimo. Ele me disse seguinte... ele me mostrou uma outras porcarias. Mesmo quan- Mas o artigo tinha que ser paga duas vezes, pela isenção
a seguinte frase: “Tem gen- aliança, pequenina... de ouro do a gente joga a pedrinha pra sobre a Lei Rouanet. Logo eu, do imposto devido do patroci-
te que acha que só porque a bem vagabundo e disse: ‘hei, ela quicar na água. Sabe aquele escrever sobre algo que desco- nador e por meio da entrada –
gente mexe com lixo, a gente é lixeiro – eu deixei ele achar que jeito que a gente joga pra ela nheço profundamente. Sempre que na maioria das vezes é sal-
lixo.” Eu, pessoalmente, gosto eu era um lixeiro –, você quer sair pulando até afundar? A me mantive afastado, nunca gadíssima. Há exceções? Claro
isso aqui?’ E eu disse que que- gente faz aquilo pra só pra ver produzi nada com dinheiro que sim, pra tudo há – e elas
muito dos momentos em que
ria. Eu queria a aliança que o tal uma coisa dura (que é a pedra) advindo dessa ou de qualquer que me perdoem. Por essas e
estou separando o meu lixo.
sujeito estava me oferecendo... resistir a uma coisa mole (que outra lei. Talvez por isso, você, por outras que fico no meu
Faço isso porque gosto. Juro daí ele disse: ‘então vou jogar é a água), pra ver uma coisa leitor, nem saiba quem eu seja. canto, separando o meu lixo.
que gosto. O lixo me ajuda a aqui neste latão cheio de merda pesada ficar por cima da coi- Como autor, diretor ou produ- Algumas vezes penso se vale a
pensar, sabe? A organizar as e você recolhe.’ Fiquei fulo! Só sa leve, só pra variar. Mas uma tor, o meu teatro nunca inte- pena colocar a mão nessa lata
ideias. O pensamento fica todo porque eu aceitei, ele resolveu hora a pedra afunda, ela para ressou a patrocinadores, nem em troca uma aliançazinha de
separadinho: vidro no lugar de jogar na merda? Ele insistiu de quicar e afunda. Vai parar sequer trabalhei com estrelas ouro lá no fundo!
vidro, plástico no lugar de plás- que se eu quisesse mesmo a tal no fundo da lagoa, junto com capazes de atrair multidões.
tico, papel no lugar de papel. aliança ia ter que meter a mão um monte de outras porcarias. Faço “a minha sujeirinha no
Aprendi com ele que existem na merda até aqui, ó! (e indica E é nesse instante que se dá meu cantinho” e depois limpo
outros jeitos de arrumar o lixo para cima dos cotovelos) Disse um negócio muito engraçado tudo, reciclo tudo. Gerson Steves tem 25 anos de
– cada um arruma como qui- que não queria meter a mão na com a gente. Na horinha exata Entretanto, sempre achei atividades teatrais na cidade
ser, o lixo é seu! – mas esse é o merda pra ficar com a aliança. que a pedra afunda, ela deixa que deveria ser o máximo es- de São Paulo, tendo atuado
mais fácil do lixo deixar de ser E o cara disse, então, que ia fi- de existir, deixa de ser impor- trear com o “produto” pago. como diretor, dramaturgo, ator,
lixo e voltar a ser coisa. car sem. É mais ou menos do tante e o que passa a contar é Sem dívidas, sem compromis- produtor e professor.

NANY SEMICEK

Conceitos anacrônicos para a Cultura brasileira

H á 19 anos surgiu a Lei


Roaunet como uma
das únicas ferramentas de fi-
sobretudo, em torno do Pro-
grama de Fomento e Incentivo
à Cultura (Profic) apresentado
proposta, é possível visualizar
alguns efeitos positivos desta
movimentação. Ela incentivou
tação dos procedimentos apre-
sentados; defesa da escolha de
projetos a partir de avaliação
por uma legislação temporária
com duração de cinco anos,
além de apresentar argumentos
nanciamento à cultura do Bra- pelo Ministério da Cultura, uma articulação da sociedade duvidosa (pois não há exposi- vagos e demonizar a única fon-
sil e, alguns anos depois, a Lei diante do qual é quase impos- civil e, até então, não-articulada ção dos critérios) de relevân- te de financiamento que pos-
do Audiovisual. Estes mecanis- sível se manter isento. de cultura. Somos um País con- cia cultural; proposta de evitar suímos para manter a máquina
mos foram oficializados muito Há aqueles que ficaram al- tinental, a comunicação entre a descentralização de acesso, andando. Mudanças precisam
recentemente, após muita luta gumas noites sem dormir ten- as redes regionais é escassa e porém com critérios que po- ser feitas? Não há duvida da
da sociedade civil organizada e tando desvendar possibilidades por vezes contraditória, porém dem vir a provocar o arbítrio classe sobre isso, porém, o que
da classe artística. São conquis- de não mexerem no seu queijo, a discussão em torno do que estatal. No entanto, há também questionamos é o fato de fazê-
tas de uma classe que se desen- outros, festejaram a pseudoque- gostaríamos de fazer para a po- propostas lúcidas como o Vale las no momento crítico que o
volveu e se profissionalizou nas da da ideologia calcada numa lítica pública deste nosso rico Cultura, fortalecimento do FI- País está passando. A insegu-
últimas duas décadas apesar de política voltada apenas para o País nos mobilizou, nos forçou CART e criação de uma loteria rança reside no temor de que
apoiada em políticas públicas mercado, outros, de cima do a organizarmo-nos em menos da Cultura. Mas o ponto prin- as consequências disso possam
frágeis ou ausentes. muro, arriscaram palpites ale- de 45 dias (o prazo final é dia cipal desta discussão é que, em vir a gerar um apagão cultural
O mercado se profissiona- atórios. Mas é fato a intensa 6 de maio) e obrigou a todos um momento em que todos os nos próximos anos. Quem pa-
lizou, a economia da cultura movimentação provocada pela a parar para refletir sobre seus setores da sociedade clamam gará a conta da Cultura até lá?
gerou recursos, novos profis- exposição para consulta públi- formatos de gestão. por incentivos governamen-
sionais surgiram e o empresa- ca da proposta: nos obrigou a Há alguns pontos principais tais para amenizar os efeitos da
riado achou uma nova catego- pararmos para refletir sobre a desta discussão que deveriam crise, recebemos como respos-
Nany Semicek é Gestora de
ria de investimento indireto. forma de se produzir cultura manter todos em alerta: a infra- ta do Ministério da Cultura –
Cultura e Sócia-Diretora da
Atualmente, a política pública neste nosso Brasil, em plena ção de legislação existente (di- além do aumento de impostos
Agência Encantaria – Cultura
de cultura do nosso País é mo- crise econômica mundial. reito autoral); abstracionismos do setor - uma proposta que feita à Mão.
tivo de turbulentas discussões, Além dos absurdos da no que se refere à regulamen- visa substituir a Lei Rouanet
18 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Sindicais
Funcionários de teatro da Prefeitura do Rio regularizam contratos
Depois de manifesto em carta, o município assinou as carteiras. Porém, o problema continua

maior”, ele afirma. principalmente porque, como


Por Ive Andrade

ROGÉRIO SANTANA
O encontro aconteceria nas cita a carta, alguns deles moram
escadas da Câmara dos Vere- longe e não tem nem como ir
Um grupo de funcionários adores, o início de uma greve ao trabalho.
da rede de Teatros da Prefeitu- citada na carta que seria “por Uma segunda carta solici-
ra do Rio de Janeiro divulgou tempo indeterminado”. Mas o tou uma reunião com a secre-
uma carta na quinta-feira (23) anúncio da mobilização teve tária Jandira Feghali para pedir
à classe artística, convocando efeito imediato na Prefeitura
do Rio de Janeiro que se ma- esclarecimentos sobre os paga-
todos a participar de uma para-
lisação “de todas as atividades nifestou contratando todos os mentos. Mesmo assim nada foi
culturais dos teatros e centros funcionários que trabalharam acertado e falta transparência
culturais da rede” na quarta- sem contrato e carteira assina- nas relações entre funcionários
feira (29), contra o atraso de da nos últimos meses. A regu- e os representantes responsá-
dois meses nos pagamentos larização dos empregos, entre- veis pelas verbas destinadas à
e a situação irregular, sem tanto, não resolve o problema cultura. Com isso, foi marcado
contrato, dos empregados do dos salários atrasados. As car- um encontro na data que acon-
município.“Moral e intelectu- teiras assinadas e contratos po- teceria a paralisação, às 10 da
almente, o sindicato dá apoio dem ser vistos, inclusive, como manhã, para que os funcioná-
total à paralisação”, afirma o uma forma de pressão da Se- rios e outras pessoas da classe
presidente do Sated/RJ, Jorge cretaria, já que agora contrata- possam conversar sobre a situ-
Coutinho. “A greve é um di- dos, os funcionários terão que ação e decidir o que será feito,
reito, mas é lamentável que a trabalhar sem a certeza de que
irão ser pagos por isso, ou ao qual é a melhor forma de agir.
situação chegue a esse ponto.
A categoria está unida contra menos serem pagos pelos me- Até o fechamento dessa
o descaso em relação à cultura ses já servidos. Existem apenas edição (28), não havia certeza
no Rio de Janeiro, o município previsões vagas de quando esse de que os pagamentos ou que
começou agora essa movimen- dinheiro chegará às mãos dos uma nova paralisação ocorre- O Teatro Municipal do Rio de Janeiro já foi palco de muitas manifes-
funcionários. E isso não basta, ria. tações da classe
tação, no Estado isso já é ainda

Sated / RJ busca sua volta à cena


Atores denunciam: “A máquina do estado está toda paralisada e ninguém toma qualquer providência”
Por Daniel Pinton de ter sido chapa única. Quan- ria de Cultura da Cidade do Rio a maioria vem de São Pau- que o dobro do número de
do você assume a presidência é de Janeiro diminuiu a distância lo. O Rio ficou sem uma cara quando assumiu seu mandato,
que você toma ciência de algu- do governo com a classe artís- cultural. No Fashion Rio, por em 2007, o presidente Jorge
Quem vê o entra-e-sai do mas coisas erradas e você tenta tica carioca. O dirigente aponta exemplo, não desfila modelo Coutinho enfrenta um eleva-
cinema pornográfico da Rua endireitar. Hoje, 95% da cate- o sucateamento cultural do Rio carioca. A Jandira tomou posse do número de sindicalizados
Alcindo Guanabara, no cora- goria não está trabalhando ou de Janeiro como a principal e até agora não nos falamos. É inadimplentes da taxa mensal
ção da Cinelândia, não imagina porque é velho ou porque os causa de a grande parte da ca- minha amiga, é nomeada pelo de pouco mais de R$ 10. A
que ali do lado, no 18º andar teatros estão fechados. A má- tegoria estar inativa. “A cultura PMDB, partido do qual sou principal causa, a seu ver, é a
do número 17, se encontra o quina do Estado está toda pa- no Rio está muito abandonada, um dos fundadores, e não hou- falta de empregos para os ar-
principal sindicato dos artistas ralisada e ninguém toma qual- distante, não existe na verdade. ve qualquer contato. Gostaria tistas do Rio de Janeiro. Diante
do Rio de Janeiro. Fundado quer providência”, denuncia. Há uma invasão no ritmo pelos até de ajudá-la, mas só posso deste quadro, Coutinho planeja
há 90 anos, o Sated/RJ (Sin- Segundo Coutinho, nem a baianos, que tomaram conta de se ela quiser”, explica. ações em conjunto com o poder
dicato dos Artistas e Técnicos nomeação de sua amiga pessoal tudo, e, na arte de representar, Apesar de hoje contar com público para criar novas opor-
em Espetáculos de Diversões Jandira Feghali para a Secreta- os atores daqui não trabalham, quase 30 mil associados, mais tunidades de trabalho.“Falta o
do Estado do Rio de Janeiro), governo entrar de sola na cul-
até 1964 atrelado ao Sindicato tura que está sucateada. Na Ci-
DANIEL PINTON

da Casa dos Artistas, surgiu da dade da Música, por exemplo,


necessidade de defesa dos di- é impossível que não tenha um
reitos políticos da classe artísti- espaço para fazer alguma coisa.
ca. Independente e apartidário, Falta vontade política, alguém
hoje o Sated funciona princi- que entenda botar ordem”, in-
palmente como intermediário dica.
da categoria com o patronato. Administrativamente, no
O atual presidente, o ator entanto, o Sated vive um mo-
Jorge Coutinho, tem como mento positivo. Mudanças in-
principal bandeira de sua ges- ternas, como a de seu estatuto,
tão a criação de novas oportu- favorecem o vislumbramento
nidades de trabalho para a clas- de dias melhores para a cena
se artística sindicalizada que carioca. “Já fizemos muitas
atualmente se encontra em sua coisas. Hoje o sindicato tem
grande maioria desempregada. mais sócios e é muito mais res-
“Sou do sindicato desde 76, peitado. Estou muito conten-
mas só fui me envolver quando te porque quando assumi em
Maurício do Valle, ator e meu 2007 tínhamos quase 12 mil as-
amigo, morreu e ninguém to- sociados e hoje temos quase 30
mou qualquer providência. Até mil, número que chegaremos
que o Stepan Nercessian foi com certeza até o final do meu
eleito presidente do sindicato e mandato, em 2010. O porquê
fui seu tesoureiro. Agora entrei eu não sei, mas que o sindicato
no lugar dele, por sinal com é muito badalado, ele é”, finali-
uma votação muito boa, apesar Presidente do Sated, Jorge Coutinho za o presidente.
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 19
Formação

A MAGIA
DOS
MUSICAIS
Um dos gêneros teatrais que mais
cresce no País exige dedicação
extra do ator

Por Ive Andrade

O mercado para pe-


ças musicais cres-
ceu significativa-
mente no Brasil nos últimos
anos. Com a ascensão vieram
atores. Em São Paulo, come-
çamos a encontrar problemas
em achar espaços apropriados
para montar as peças, um grave
problema da cidade”, explica
opiniões divergem pouco em
um ponto decisivo. Existem os
que acreditam em vocação ou
apenas talento, mas o consenso
é de que o profissional que se
da com Ana, mas frisa que o
mercado procura atores mais
completos. “Não buscamos
um cantor, um ator ou um bai-
larino. Tem que ser um mix dos
musical, é necessário buscar
cursos, workshops e aulas que
apresentem diferentes tipos de
dança, professores de canto e
ensinamentos sobre interpre-
os cursos específicos para essa o diretor artístico da Escola dedica sempre tem chances de três para ser bom na área”, ex- tação focada em musicais. “A
prática teatral, o preconceito de Atores Wolf Maia, Hudson participar, basta ter um míni- plica. “Os atores reclamam que diferença fundamental com
por parte de alguns profissio- Glauber. “Não temos espa- mo de afinação e força de von- são sempre os mesmos artistas escolas que abordam o método
nais da área e as dificuldades ço para produções de grande tade. “O ator ideal para fazer que fazem os grandes musicais. teatral normal é que em musi-
para montar uma peça de qua- porte, a produção tem que se musicais é o ‘dedicado’. Porque Isso só acontece porque quem cais o texto é cantado. Portan-
lidade no País. Instituições que adaptar a teatros precários, o o ator de musical precisa de já tem experiência torna-se to, é necessário formar a voz
oferecem programações so- que é um inferno. Não falta ta- muito empenho para traba- cada vez mais preparado, mas deste artista. Outra diferença é
mente para formação de mu- lento de equipe, faltam lugares lhar. É como se ele fosse fazer quem estuda muito terá seu que existe um foco importante
sicais crescem e veem na ativi- para as montagens”, completa uma peça, um show e dançar espaço, o fundamental é traba- na dança para a preparação do
dade um forte caminho para o Fernanda. um espetáculo de ballet, tudo lhar com gente boa”, acrescen- corpo do ator de musicais. O
teatro brasileiro. ao mesmo tempo, ganhando ta Fernanda. ator regular recebe formação
É o caso da professora, co- ATUAR, CANTAR um único salário. Ou seja, não A formação para trabalhar corporal mais difusa, porém,
reógrafa e diretora, Fernanda E DANÇAR é para qualquer um”, define a em musical varia para cada sem muito foco na dança”, ex-
Chama. “São nos musicais bra- SIMULTANEAMENTE professora Mareliz Rodriguez. ator, mas alguns primeiros pas-
plica Taglianetti.
sileiros que se concentram os A preparação para um ator Preparar-se para atuar, can- sos são fundamentais não só
que se interessa por esse ramo Para os atores que estão
melhores salários para atores. A tar e dançar ao mesmo tempo neste tipo de peça, mas para
tendência é esse fenômeno au- artístico segue diversas etapas. é o principal desafio dos atores apenas começando na ativida-
qualquer artista. “Um ator de
mentar. Porém, é preciso muito É preciso formar um profissio- que trabalham em musicais. musicais deve receber forma- de, “o conselho” é procurar
preparo, porque a concorrência nal que saiba cantar e dançar ao Transmitir a emoção da histó- ção em interpretação teatral, uma escola com a qual se iden-
cresce cada vez mais”, frisa. mesmo tempo, enquanto atua. ria, em forma de canto e dan- canto e dança. Mas, acima de tifique e se dedicar”, diz Hud-
Produções grandiosas, ge- Tarefa difícil, mas não impossí- ça, exige completo controle do tudo, devem ser despertadas son. Além disso, os veteranos
ralmente, são a marca desse vel. “A princípio não exigimos corpo e da voz. Dona da Casa sua curiosidade e criatividade. na área também indicam uma
tipo de espetáculo, o que tor- nada dos alunos que vêm es- de Artes OperÁria, Ana Taglia- O ator completo se forma as- preparação corporal e vocal
na os custos altos, sempre um tudar no curso para musicais, netti, acredita que ainda faltam sim. Aliás, essa é a formação bastante extensa, paixão pelo
desafio. “O que fez o musical apenas dedicação e vontade, atores. “São poucos os que que qualquer ator deve receber, gênero. “O segredo é estudar
crescer no Brasil foi a qualida- algo fundamental para qual- podemos chamar de atores. O não apenas o de musicais”, ex- sem parar e trabalhar com di-
de das peças, que aumentou quer ator”, afirma Glauber. mercado ainda é dominado pe- plica Ana. ferentes profissionais para en-
muito. Além disso, a magia dos Quanto aos pré-requisitos las belas vozes”. Quando o foco se concen- contrar seu caminho”, finaliza
musicais atrai o público e os do ator de gênero musical, as Fernanda Chama concor- tra apenas na formação para Fernanda Chama.

CURSOS ESPECÍFICOS
A procura por cursos que tratem de preparação para musicais tem crescido
muito. Mas aulas de canto, dança e teatro exigem dedicação especial. “As
aulas dos módulos de musical são muito puxadas, então só fazemos uma por
dia, com duração de duas horas”, explica Hudson, da Escola de Atores Wolf
Maia.
Outra escola que oferece os cursos de teatro, canto e dança para formação
de musicais em São Paulo, a Casa de Artes OperÁria, tem como preparação
mínima aulas particulares de canto, com uma hora de duração, aulas de dan-
ça, com duas horas, e teatro, com três horas. Todas acontecem uma vez por
semana.
A preparação é diferente, mas os preços dos cursos regulares de teatro e
os de teatro musical não diferem muito, segundo as escolas.

Saiba mais:
Casa de Artes OperÁria - (11) 2618-5540
Escola de Atores Wolf Maia - Telefone: (11) 3472-2444
Montagem de conclusão de curso da OperÁria: South American Way
20 1º à 15 de Maio de 2008 Jornal de Teatro

Gastronomia
Os restaurantes que alimentam a arte no Rio de Janeiro
Points de artistas, restaurantes no Rio são destinos muito apreciados. Também pelos paparazzi.
Além de apoiar as peças Cervantes. Fundado em 1953, panhol Candido Carvalho Pe- Primeiro porque tem uma loca-
Por Daniel Pinton que estão em cartaz (é comum em Copacabana, o restaurante é rez, sócio do Cervantes desde lização extraordinária, segundo
o encontro dos elencos depois ponto de encontro não apenas sua fundação. por conta da forte tradição da
dos espetáculos), o restaurante da classe artística, mas também Point atual dos artistas, a Pi- casa. Uma das primeiras coisas
“A gente não quer só comi- inovou com um cardápio que é de políticos de outros estados zzaria Guanabara, no Leblon, é que ouvi falar quando cheguei
da. A gente quer comida, diver- um verdadeiro jornalzinho da aliciados pela fama nacional do o principal alvo dos paparazzi no Brasil foi sobre a Pizzaria
são e arte”. A letra imortalizada temporada teatral carioca. A local. “Além de artistas de tea- hoje em dia, no Rio de Janei- Guanabara. Ser alvo dos pa-
pelo Titãs resume muito bem gerência de relações publicas tro e novela, Aécio Neves todo ro, dada a grande frequência parazzi tem as suas vantagens
o espírito cultural de três dos da casa é de Djalma Limon- sábado está aqui. O Roberto das celebridades que procuram e desvantagens. Para a casa é
principais restaurantes do Rio ji, renomado diretor de teatro Requião também já veio com uma boa pizza ao final de uma bom porque gera publicidade,
de Janeiro. Ponto de encontro e de cinema descobridor de a sua família. Não precisamos peça teatral, sessão de cinema mas também tem a parte nega-
da classe artística de hoje e de grandes talentos, o que dá uma oferecer cortesia, as pessoas ou mesmo de uma noitada. “As tiva porque eles podem afugen-
ontem, os restaurantes La Fio- ar de intimidade aos freqüenta- tar alguns clientes. Para isso,
dores da casa. vêm aqui porque gostam daqui. vezes está calmo e as quatro da
rentina, Cervantes e Pizzaria Quem faz a nossa propaganda manhã enche. As pessoas saem nós temos uma sala reservada
Guanabara têm como pano de O La Fiorentina é um ver- para o pessoal que quer ficar
dadeiro restaurante temático e é o nosso cliente”, explica o es- das discotecas e vêm para cá.
fundo a boa comida que ofere- resguardado”, conta o portu-
cem o espírito cultural carioca. renasceu das cinzas através do guês Paulo Guimarães, o mais

DIVULGAÇÃO
A estátua de Ary Barroso empenho do empresário Omar novo gerente do restaurante.
logo na entrada do La Fiorenti- (Catito) Peres, ex-secretario de Seja para o cidadão comum ou
na, no bairro do Leme, já dá in- Itamar Franco e empresário de
comunicação de Juiz de Fora. para o artista, a ordem da casa
dícios da ligação do local com Ser convidado para assinar em é prezar pelo bom atendimento
a arte e dentro do restaurante uma das colunas do restauran- principalmente à clientela fiel,
esta simbiose só é reafirmada. te é quase um rito de passagem mesmo que esta algumas vezes
Fotos de artistas espalhadas para a notoriedade. esta tenha que aguardar do lado
pelo salão principal e pratos A alguns metros dali, o ci- de fora na lista de espera. “Aos
com nomes em homenagem dadão desavisado que procura frequentadores mais assíduos
a grandes artistas que ali fre- um suculento sanduíche pode e pessoas bastante conhecidas
quentaram são a prova de que, se surpreender ao deparar-se, damos uma certa cortesia, al-
mais do que em qualquer lugar, de repente, com Maria Bethâ- guns tem 50% de desconto.
o local foi o principal reduto da nia, Chico Buarque, Cauby Mas não temos uma oferta di-
classe artística na áurea época Peixoto, Angela Maria, Beth rigida a nenhuma classe especí-
cultural do Rio de Janeiro. Carvalho ou Jerry Adriani no Salão reservado da Pizzaria Guanabara fica”, afirma Guimarães.

O espetáculo continua nos restaurantes do centro paulistano


São Paulo, a capital da gastronomia também tem points da classe
PABLO RIBERA
tistas e profissionais do teatro alguns dos atores que frequen-
Por Pablo Ribera brasileiro vieram aqui no res- tam o local. “Muitos políticos,
taurante”. radialistas, jornalistas, atores e
Um dos maiores frequenta- atrizes aparecem por aqui. E
dores do restaurante foi o es- são todos muito humildes, não
Em uma cidade como São critor Plínio Marcos, autor de pedem descontos ou coisas do
Paulo, três restaurantes conse- inúmeras peças de teatro, fale- tipo”, disse Martins.
guem se destacar e fazem mui- cido em 1999. “Ele dizia que O restaurante italiano
to sucesso entre os artistas bra- aqui era seu escritório”, afir- D’amico Piolim, que fica na
sileiros. O Gigetto, o Planeta’s mou Ana Paula, que também rua Augusta, também atribui o
e D’amico Piolim ficam na re- lembrou que outros grandes sucesso entre os famosos pela
gião central da capital paulista, personagens do teatro e da te- localização. Mas, além disso,
repleta de teatros como o Bibi levisão brasileira costumavam e credita a fama ao público que
Ferreira, o Cultura Artística, o ainda costumam ir ao estabele- gosta de teatro. “Os atores cos-
Theatro Municipal de São Pau- cimento, como Tarcísio Meira, tumam vir aqui também porque
lo, o Teatro Procópio Ferreira, Glória Menezes, Nicette Bru- sabem que o público vem ao
dentre outros. no e Raul Cortez. “Foi passan- restaurante para encontrá-los”,
O Gigetto, localizado na do de geração para geração. Os afirmou o gerente do D’amico
rua Avanhandava, no bairro antigos artistas vinham aqui, Piolom, Severino Ramos, que
da Bela Vista, completou 70 depois seus filhos e netos”.
Já o restaurante Planeta’s, trabalha há 22 anos no estabe-
anos recentemente e, por antes que se encontra na rua Mar- lecimento.
se localizar próximo à sede da tinho Prado, atribui o sucesso Segundo Ramos, a classe
antiga TV Excelsior, foi ponto do estabelecimento entre os artística, ao terminar uma apre-
de encontro de muitos atores, famosos pelo seu local estra- sentação teatral, vai ao restau-
atrizes, jornalistas, radialistas, tégico. “Nossa localização nos rante para saber o que os fãs
dentre outras personalidades privilegia, além, claro, do hábi- acharam do espetáculo. “Eles
e profissionais da época. “O to desses artistas, que sempre gostam dessa troca de ideias
restaurante ficava na rua Nes- vieram ao nosso restaurante”, com os fãs, ver como a peça foi
tor Pestana, bem perto à antiga afirmou Armênio Martins, um avaliada”, disse o gerente
emissora. Ou seja, caminha- dos donos do Planeta’s. O restaurante D’amico Pio-
mos praticamente juntos com Por ficar em uma região lim tem 40 anos de tradição e
a história da TV e também do próxima a muitos teatros, o sempre esteve na mesma rua,
teatro”, disse uma das proprie- restaurante tem sido um pon- apesar de ter mudado de ende-
tárias do Gigetto, Ana Paula to de encontro desses artistas. reço três vezes. Artistas como
Lenci. “Por ficar no centro da Antônio Fagundes, Matheus Nuno Leal Maia, Marcos Ca-
cidade, o restaurante acabou Nachtergaele, Paulo Betti, ruso, Marco Ricca e Adriana
sendo um ponto de referência Juca de Oliveira, Juliana Paes, Esteves são alguns dos ilustres
para atores e atrizes. Muitos ar- Marcelo Faria e Suzi Rêgo são clientes do empreendimento. Mural de fotografia do Gigetto: “queridinho” da classe
Jornal de Teatro 1º à 15 de Maio de 2009 21
Vida e Obra JOÃO CALDAS
JOÃO CALDAS

REPRODUÇÃO / TELEHISTORIA.COM.BR
JOÃO CALDAS

A INTENSIDADE DE UMA DAMA


Os espetáculos que fazem parte da história de Cleyde Yáconis.
produtora – que já exercia no Gonçalves Dias, novamente de Assis; “Pega Fogo”, de Ju- Inocentes”, “Ovelha Negra”,
Por Rodrigoh Bueno grupo, o trabalho como atriz. sob a direção de Adolfo Celii. les Renard; “Maria Stuart”, de “Um Dia o Amor”, “Aritana”,
No mesmo ano, já era es- Ainda pelo TBC participa de Schiller; “Santa Marta Fabril “Gaivotas”, “Um Homem

A
calada por Ziembinski para o “Santa Marta Fabril S.A., de S.A”, de Abílio Pereira de Al- Muito Especial”, “Ninho da
carreira de Cleyde espetáculo “Pega Fogo”, de Ju- Abílio Pereira de Almeira; e meida; “Os Perigos da Pureza”, Serpente”, “Rainha da Suca-
Yáconis pode ter les Renard. Em 1951 esteve em Volpone, de Bem Jonson. Ao de Hugh Mills; “A Dama das ta”, “Vamp”, “Olho no Olho”,
iniciado por acaso, “Seis Personagens à procura de lado da irmã Cacilda Becker Camélias”, de Alexandre Du- “Os Ossos do Barão”, “Torre
mas depois de mais de 50 anos um Autor”, de Luigi Pirandello encena Maria Stuart, de Schi- mas Filho e “Auto da Compa- de Babel”, “As Filhas da Mãe”,
de carreira, ela provou que, por sob a direção de Adolfo Celi. ler, em 1955 e no ano seguinte decida”, de Ariano Suassuna. “Um Só Coração”, “Cidadão
mais que a estréia fosse adiada, Em seguida vieram as peças “Eurydice”, de Jean Anoui- De volta ao TBC, integra Brasileiro” e “Eterna Magia”,
era inevitável. Aos 86 anos de “Convite ao Baile”, de Jean lh, direção de Gianni Ratto; e os elencos de “A Semente”, em diferentes emissoras.
idade e com mais de 90 peças, Anouih; “O Grito na Lareira”, “Manouche”, de André Bira- de Gianfrancesco Guarnieri No cinema, atuou em “Cé-
Cleyde se destaca em “O Ca- de Charles Dickens e direção beau. “A Rainha e os Rebel- (1961); “A Morte do Caixei- lia & Rosita” (2000), “Jogo
minho para Meca”, espetáculo de Ziembiski; “Ralé” de Gorki; des”, de Ugo Betti, sob direção ro Viajante”, de Arthur Miller Duro” (1985), “Dora Dorali-
que novamente mostra a força “Diálogo de Surdos”, de Clô de Maurice Vaneau, marca o (1962);“Yema”, de Federico na” (1982), “Parada 88 - O Li-
Prado e direção de Flaminio fim de da primeira fase da atriz García Lorca; e “Vereda as Sal- mite de Alerta” (1977), “Beto
e dramaticidade característica
Bollini; “Para Onde a Terra no TBC. vação”, de Jorge Andrade, sob Rockfeller” (1970), “A Madona
de seus papéis. Cresce”, de Edgard da Rocha direção de Antunes, em 1964 de Cedro” (1968) e “Na Senda
O primeiro deles foi em Miranda; “Vá Com Deus”, de TEATRO CACILDA – espetáculo considerado o úl- do Crime” (1954).
1950 no espetáculo “O Anjo de Murray-Allen Boretz; e “Rela- BECKER E A VOLTA AO timo de uma das companhias A carreira intensa da atriz
Pedra”, de Tennessee Williams. ções Internacionais”, de Noel TBC mais importantes do país. reflete a paixão que cultiva
Sob a direção de Luciano Salce, Coward. Em dezembro de 1957, pelo teatro, e mais que isso, pe-
Cleyde surpreendeu os amigos Em 1953 atuou em “Assim Cleyde Yáconis, Walmor Cha- TELEVISÃO E CINEMA los personagens. Em diferentes
do Teatro Brasileiro de Comé- É.. (Se lhe Parece), de Piran- gas, sua esposa Cacilda Becker, A estréia de Cleyde na tele- entrevistas é comum perceber
dia (TBC), inclusive a irmã Ca- dello. E no ano seguinte em Ziembisnki e Fredi Kleemann visão foi em “Os Diabólicos”, o envolvimento de Cleyde du-
cilda Becker, ao anunciar que “Mortos Sem Sepultura”, de fundam o Teatro Cacilda Be- no ano de 1968. Participou rante a construção do perso-
substituiria Nydia Licia que fi- Jean-Paul Sartre; “Um Pedido cker. Entre os espetáculos ainda das novelas “A Mura- nagem, “primeiro sentindo a
cara doente repentinamente. A de Casamento”, de Tchekhov; produzidos pelo grupo estão lha”, “Mais Forte que o Ódio”, personalidade, para depois dar
partir daí, somou às funções de e “Leonor de Mendonça”, de “O Protocolo”, de Machado “Mulheres de Areia”, “Os forma ao novo indivíduo”.
22

IMAGENS: REPRODUÇÃO
1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

História

Teatro de Revista: Acima, Mara Rúbia: uma das maiores estrelas do Teatro de
Revista. Ao lado, as extravagâncias do figurino de 1924, em
“Comidas , Meu Santo”

Por Alysson Cardinali Neto


uma era inesquecível
O
REPRODUÇÃO
scarito, Grande Otelo, de Revista revelou não só bel-
Bibi Ferreira e Dercy dades (Peta Ruiz, Aracy Cortes,
Gonçalves; Mara Rúbia, Virgí- Renata Fronzi e Virgínia Lane,
nia Lane, Renata Fronzi e Can- entre outras), mas grandes
deias; Chiquinha Gonzaga, Ary compositores e músicos popu-
Barroso e Lamartine Babo... lares, em um período no qual
Foi com este “timaço”, que o principal mercado de traba-
jogava por música, literalmen- lho era o teatro, os cabarés e os
te, que o Teatro de Revista fez cafés dançantes. “Pixinguinha,
um gol de placa em solo brasi- Ary Barroso, Sinhô e Lamar-
leiro, no início do século XX. tine Babo eram a essência da
Craques na arte de interpretar, música no Teatro de Revis-
cantar e criar, eles transforma- ta”, avalia Neyde Veneziano,
ram este gênero da dramaturgia professora de Artes Cênicas
– criado em Portugal, no fim da Universidade Estadual de
do século XIX –, em um dos Campinas (Unicamp), e autora
ícones da cultura tupiniquim e dos livros O Teatro de Revista
precursor de muita coisa boa no Brasil: Dramaturgia e Con-
que assistimos nos dias de hoje, venções, Não Adianta Chorar:
seja no teatro ou na televisão. Teatro de Revista no Brasil.
A tática deste time era, através Oba!, e A Cena de Dario Fo: o
de números musicais, empol- Exercício da Imaginação.
gar a “galera”, com encenações
populares, engraçadas e (quase ESTRELA
sempre) sensuais, mas sem dei- A música, aliás, era não Espetáculo “Nem Te Ligo”, de Walter Pinto, 1946
xar de lado as críticas sociais só elemento fundamental e ca, que tem que ser especial”, FIM E NOSTALGIA
e políticas sobre episódios da grande ponto de sustentação disse Daisy Paiva, vedete, atriz Mas o talento desse time CURIOSIDADES
época. deste tipo de espetáculo, mas e cantora (filha do maestro e na arte de interpretar, cantar e
Aliás, a sensualidade das fa- utilizava-se sempre de alegria
mosas vedetes – atrizes, canto- compositor Vicente Paiva e criar não impediu, após mais de
e graciosidade, com estribilhos 100 anos de história, a derrota O gênero e sua identidade - O
ras e bailarinas, que com suas irmã do maestro Décio Paiva). Teatro de Revista era marcado
jocosos e árias risonhas e bre- “A música deveria descrever o do Teatro de Revista, por volta
plumas, paetês e pouca roupa por elementos recorrentes na
hipnotizavam a plateia –, en- jeiras. Seus autores acreditavam que estava sendo apresentado”, da década de 1960. Adversários
cena. Veja o que não podia
trosava-se perfeitamente com que falar sobre a realidade co- acrescentou, ao ser entrevista- mais fortes, como o cinema, a faltar
as músicas tocadas durante as tidiana, com o auxílio da músi- da por Maximiano Marques, televisão e crises financeiras jo-
peças, que tinham na dança ca, facilitava a transmissão das para a revista “Pense: Música”. garam para escanteio a magia Coplas
outro forte atrativo na busca mensagens e tornava o espetá- Exemplo maior do peso da de um dos gêneros mais im- Eram números musicais
pela atenção da classe média de culo mais agradável. “Podemos música no Teatro de Revista é portantes da história da drama- cômicos realizados em dupla
cidades como Rio de Janeiro e dizer que no Teatro de Revis- o fato de clássicos como O Ta- turgia brasileira. “Vários fato-
São Paulo. Fato é que o Teatro ta a grande ‘estrela’ é a músi- res contribuíram para o fim do Nu artístico
buleiro da Baiana, No Rancho
Teatro de Revista, que acabou Tratava-se, na verdade, da
Fundo e Baixa do Sapateiro, praticamente ao mesmo tempo grande sensualidade de
REPRODUÇÃO

entre outras (todas criadas por em todas as partes do mundo. algumas cenas, devido às
Ary Barroso) terem sido feitas A censura, o aperto econômico pernas descobertas das
especialmente para este gênero (eram espetáculos caros), a te- vedetes
teatral. levisão, que absorveu o públi-
“O primeiro grande perí- co popular, o período da Dita- Compère (compadre)
odo é o das Revistas de Ano dura Militar no Brasil, em que Era quem conduzia a narrativa
(cujo maior autor foi Arthur fez-se necessário um teatro de e unia os números musicais
Azevedo), de 1877 a 1911. O resistência, como o Arena e o
segundo grande período é o Tipificação
Oficina, são alguns deles”, enu- Por influência da commedia
das décadas de 1920 a 1930, o mera Neyde Veneziano, que, dell’arte, sempre havia
período das Revistas Carnava- no entanto, não aponta “culpa- personagens fixos e
lescas. O terceiro grande perí- dos” pelo fim de uma era. “O caricaturados nas histórias,
odo é o de Walter Pinto (luxo gênero se tornou ingênuo dian- como o malandro, a mulata, o
e escadarias), na década de te das exigências ideológicas do caipira e o português.
Estrelas do musical de Pascoal Segreto mundo atual”, resume.
1940”, relembra Neyde.
Jornal de Teatro 23
Internacional

CLARA MUSCHIETTI

FLORIDA: A rua sem flores tudo, um verdadeiro caos, dig- do continente – essas que sa- em troca de uma alimentação por épocas, segundo a sorte de
Texto por Rodrigo Villarruel
no da cidade de Buenos Aires. botaram a terra, a repartiram de ego, dos cômicos atores que cada país e do mundo.
Revista Mutis X El Foro É, à parte da rua de pedestres entre elas, mataram aborígenes seguem gritando para os casais Florida é terra de todos de

A
mais importante da Argentina, e venderam aos que ficaram vi- que saem do espetáculo “espe- dia e deserto acéfalo à noite.
cidade, como cenário um vitral muito significativo. vos – a rua Florida era passare- ro que todas as habitações es- É esquizofrênica. Sabe tanto
e elemento gerador Todos correndo, desesperados, la de elegantes senhoras e car- tejam ocupadas!”, um punhado de amor quanto de ódio e de
de sentido, oferece ao criador sem olhar aos cantos e sem ros. A Europa da América teve de garotos que observam um amabilidade quanto de grosse-
mais cauteloso um sem-fim de cautela. Até onde? seu epicentro estético e social jogo de futebol através de es- ria. É amante quando o sol a
espaços povoados de estéticas. Os poucos rostos de felici- ao redor da praça San Martin, tantes de vidro de lojas de ele- governa e prostituta quando
Mutis X El Foro percorreu um dade que se observam são de onde o final do fraque da nossa trodomésticos, um menino que a lua a convence. É argentina,
lugar aonde desfilam protago- cinco músicos na intersecção rua de pedestres, quase na ave- pinta azulejos com os dedos como o ônibus que te deixa a
nistas de possíveis histórias, com a Diagonal Norte que, a nida Santa Fé, conta seu passa- dos pés e faz maravilhas, um pé, como o tomate pelo céu.
um lugar em que se cruzam, a batida de tambores e choros de do mais esnobe. homem jogado no chão, sem Contém tudo: livros, roupas,
cada passo, atores desconheci- saxofones, manuseiam os valio- Um século e tanto depois, pernas e sem um braço, pe- casas de câmbio, de esportes,
dos por si mesmos. sos minutos dos trabalhadores logo quando a crise de 2001 a dindo moedas, senhoras bem de computadores e câmeras de
Todos caminham em gran- que lá passam. inundou de pedintes e meni- vestidas saindo das Galerías fotos, restaurantes e pizzarias,
de velocidade, como esperma- A história conta que em nos descalços, a Associação de Pacífico, sentindo saudades da milhares de cartazes lumino-
tozóides sem rumo, tratando 1734, o governador Miguel Amigos da Rua Florida, uma abertura e remodelação da loja sos, atores principais de histó-
de chegar a destinos antes que de Salcedo batizou a rua pela organização sem fins lucrativos Harrods, El imperio de la ele- rias sem querer, artistas de rua
o vizinho eventual. Quase não primeira vez com o nome San formada por “um grupo de gancia, que ameaçou em 2003 e amigos do alheio. Tudo está
se olham e não se conhecem, José. Suas mudanças de identi- destacados homens de empre- voltar com sua vida social, sen- aí. Só um detalhe não aparece
mas se percebem. dade, a partir de então, foram sas e profissionais”, como eles tindo saudades do antigo hall na rua Florida e, possivelmen-
Enquanto se esquivam de várias: Del Correo, Empedra- se definem, segue tendo como das lojas Gath & Chávez com te, seja o que a faz tão atrativa,
vendedores, artistas de rua e te- do, Unquera, de la Florida, Del objetivo “melhorar os aspec- sua fachada de mármore de interessante e contraditória:
lefones públicos, alguns fogem Perú e, finalmente: Florida. Foi tos estéticos, culturais e edifí- Carrara. Todos ali, todos jun- flores.
como peixes da grande corren- apenas para pedestres em al- cios da rua, dando ênfase ao tos, convivendo, deslocando-se Tradução: Pablo Ribera
te, pelos canais que se arqueiam guns trechos desde 1913 e, em se manter o alto nível de bom
em cada esquina. Outros mi- 1971, transformou-se no que gosto e elegância que são tradi-

CLARA MUSCHIETTI
lhares continuam sua marcha se conhece hoje: a maior rua ção em Florida”.
acelerada, de vida enlatada. comercial e para pedestres do É difícil encontrar na cida-
Vítimas ocasionais da ofer- país argentino; o local onde, a de um exemplo mais pós-mo-
ta ambulante, todos se esqui- cada passo, atores desconhe- derno que esta rua, um lugar
vam da mão publicitária que cidos por si mesmos desfilam onde tantas identidades cultu-
oferece um volante de “reativa- sem respiro sobre possíveis rais convivem, tantos discursos
ção de celulares” e observam, histórias teatrais. fragmentados, tanta informa-
ainda que seja por um instante, ção em somente dez quartei-
ao conjunto de músicos que, CHAMAM-ME RUA rões.
amontoados sobre uma vidrei- Em alguma época, no final Estátuas vivas petrificadas
ra vazia, oferecem canções de de 1800, quando o país era go- sobre um palanque de pedra,
Silvio Rodriguez ou Ricardo vernado pelas elites proprietá- um cigano escandaloso que
Arjona com igual paciência. rias de terras mais poderosas crava pregos no próprio nariz
A rua Florida é, antes de

NOTAS
Montagem baseada em “Shrek” inicia turnê “Ruined” vence o Prêmio Pulitzer de melhor Peças afegãs em Londres trazem lições para
americana em 2010 drama os dias de hoje
Sucesso de bilheteria da produtora de animação O drama de Lynn Nottage, “Ruined”, sobre um grupo de Uma ambiciosa série de 12 novas peças sobre o Afe-
DreamWorks, “Shrek” tornou-se um musical tão bem mulheres no meio de uma guerra civil no Congo, ganhou o ganistão estreou em Londres, no Tricycle Stage, teatro com
sucedido quanto o filme, atualmente em cartaz na Broadway. Pulitzer 2009 para texto teatral. A peça é uma co-produção forte reputação política.
O papel do verde ogro na produção é feito pelo ator Brian do “Manhattan Theatre Club” e o “Goodman Theatre of Chi- O diretor do espaço, Nicolas Kent, disse que já era tem-
cago”, em cartaz nos Estados Unidos até dia 10 de maio. po de a Inglaterra, que tem um passado longo e difícil com o
d’Arcy James.
Os outros finalistas foram o Becky Shan, de Gina Gion- Afeganistão, dar atenção ao assunto.
O produtor Bill Damaschke disse que a peça realizará friddo e In the heights, de Lin-Manuel Miranda e Quiara Ale- “Quando eu fui fazer essa viagem (para o Afeganistão)
uma turnê, a partir de junho de 2010, a partir da cidade de gria Hudes. Os jurados deste ano foram o crítico o Dominic eu pensei ‘Estamos aqui no meio da guerra e fizemos diver-
Chicago, nos Estados Unidos. Paptola, John M. Clum, Jim Hebert, o roteirista David Henry sas peças sobre o Iraque... (e) tem pouquíssima cobertura
O elenco ainda não foi anunciado, mas a produção do Hwang e Linda Weiner. O prêmio inclui US$10,000 e cobre a sobre o Afeganistão”, afirmou Kent. Para ele, as peças com-
espetáculo fica por conta das letras de David Lindsay-Abaire produção das inaugurações nos Estados Unidos entre janeiro binam entretenimento, provocação de pensamento e uma
e música de Jeanine Tesori. Ive Andrade e dezembro. Ive Andrade lição histórica sobre o país. Ive Andrade
24 1º à 15 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

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