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DANIELA LEMOS DA CRUZ

BALANÇO DO NEOLIBERALISMO

CURITIBA
2009
NEOLIBERALISMO

Os fundamentos basilares que deram respaldo à formação do


pensamento neoliberal deitam raízes, à maneira do que ocorria com o liberalismo,
nos princípios de liberdade, principalmente liberdade político-econômica.
A tradição liberal européia, em sua vertente econômica, foi decorrente do
Iluminismo. Ao passo que o neoliberalismo tem como um de seus pilares,
possivelmente o mais importante, o Sistema Capitalista. Com base nesse
entendimento, o conceito de tradição liberal identificado na obra de Adam Smith,
por exemplo, é retomado e atualizado. Se por um lado, constitui-se de uma série
de idéias, que perpassam todo o espectro econômico da Inglaterra do século XVIII
e XIX, por outro, torna-se ideologia justificatória do neoliberalismo, então vigente
por ocasião do modelo capitalista. Como sempre, a Inglaterra se mostrou
pioneiras nas mais decisivas situações sócio-político-econômicas.
As características do conflito econômico e político já no sistema liberalista
são notórias no desenrolar da história, principalmente após a disseminação
industrial, mas evidentemente, foram acentuadas com o avanço impetuoso das
revoluções industriais e consequentemente do capitalismo.
Hofstadter identifica o que há de contínuo nestas tradições político-
econômicas, a saber, liberalismo e neoliberalismo, que seguem os moldes
ingleses:

However much at odds on specific issues, the major political traditions


have shared a belief in the rights of property, the philosophy of economic
individualism, the value of competition; they have accepted the economic
virtues of capitalistic culture as necessary qualities of man.1

Embora entrassem muito em conflito em assuntos específicos, as


tradições políticas principais compartilharam uma convicção nos direitos
de propriedade, a filosofia de individualismo econômico, o valor de
competição; eles aceitaram as virtudes econômicas de cultura capitalista
como qualidades necessárias de homem.

Isso significa que nos países industrializados, o Estado não interfere


diretamente na política, mas as leis postuladas para regê-lo abarcam a economia
1
HOFSTADTER, Richard. The American Political Tradition, And The Man Who Made It. New York:
Vintage Books, 1974.
de uma forma muito singular, resguardando-a, pois disso advém a estabilidade
econômica do país, quer dizer, da adequada administração de suas riquezas.
Essa tendência tem sido perpetuada ao longo do tempo, e isso corrobora
a realidade com forte tendência hegemônica de que desfrutamos desde o século
XIX. Mas a contraparte do poderio do Estado sobre a economia é sua negação
veemente, vislumbrada desde o liberalismo político e sacramentada pela sistema
ideológico Neoliberal. Eis em que se pauta o Neoliberalismo.
Desse modo, o neoliberalismo, que surgiu sob o jargão de “O caminho da
Servidão”, de Friedrick Hayek, foi, em primeira instância, um contra-movimento a
qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, os quais
eram considerados verdadeiras ameaças à liberdade, não apenas econômica,
mas também política.
Ao que parece, as boas intenções da chamada social-democracia
moderada inglesa, havia na época se degenerado em privilégios arbitrários. à A
degeneração mencionada incide sobre os chamados direitos iguais, e inexistência
de hierarquia, pois alguns em detrimento de outros passam a ter benefícios
incomuns em sistemas que supostamente atribuíam as mesmas condições de vida
a todos, isso passa a caracterizar uma espécie de servidão. Evidentemente, trata-
se de uma alegoria. No entanto, nos sistemas reais e vigentes na sociedade a
situação se configurava como nessa ilustração.
De certa forma, “O caminho da Servidão”, bem como o próprio termo
neoliberalismo, ao pé da letra, fazem alusão a um novo liberalismo e por extensão,
a muitos princípios que fundamentaram esse movimento. Nada tinham a ver com
a tutela do governo para a inexistência de hierarquia social e sobre a concernente
autonomia econômica.
Analogamente a Friedrick Hayek, em “A Riqueza das Nações” Adam
Smith, enfatiza a propriedade privada, a livre iniciativa, e sobre uma economia de
mercado com livre concorrência e incentivos ao livre comércio. Riqueza das
nações é geralmente considerada a afirmação clássica das virtudes do laissez-
faire. Enfatiza o teórico que em uma economia de mercado, a livre iniciativa e a
concorrência deveriam funcionar livremente, sem serem molestadas por
arbitrariedades do Império. Só dessa maneira poderia ser atingido o grau máximo
de produção e lucratividade.
Portanto, é possível contextualizar a implementação do sistema neoliberal
nos Estados com a necessidade de atribuir liberdade a um capitalismo
estabelecido sobre novas bases, a saber, as bases da autonomia, que repousa
sobre a estabilidade monetária.
O neoliberalismo não se manifestou em sua plenitude do dia para noite.
Apesar de um processo de amadurecimento relativamente longo, somente no final
da década de 70, foi efetivamente reconhecido.
A Inglaterra foi o primeiro país em regime de capitalismo a contemporizar
empiricamente o sistema neoliberal, e outros países das Américas e da Europa a
acompanharam sucessivamente.
Essa retomada conceitual em Adam Smith presidiu à ascensão do paradigma
neoclássico que, em sua vertente marshalliana, passaria a refletir a nova hegemonia
teórica na Inglaterra. Assim, de tempos em tempos, os conceitos da economia
presentes na obra de Smith foram, ora esquecidos, ora retomados, de tal sorte que em
1926, ano do sesquicentenário da Riqueza das Nações, uma nova apreciação do
legado smithiano transpareceu nos discursos e nos textos comemorativos, refletindo
uma profunda mudança na ótica mediante a qual foram realizadas as leituras
subsequentes.
A implementação desse sistema ideológico nos Estados, de forma
adaptada à realidade contemporânea do Pós-guerra ocorreu através de algumas
medidas, entre as quais a elevação das taxas de juros, redução drástica dos
impostos sobre rendimentos altos, a abolição do controle sobre os fluxos
financeiros, criação massiva dos níveis de desemprego, aplastação de greve,
imposição de uma legislação anti-sindical, corte dos gastos sociais, e por
derradeiro, o lançamento de um amplo programa de privatização, a iniciar pela
habitação pública e pelas indústrias básicas (aço, eletricidade, petróleo, gás e
água).
No entanto, nem sempre esses pressupostos foram seguidos à risca. No
governo de Reagan, por exemplo, não foi respeitada a disciplina orçamentária,
pelo contrário, esse presidente lançou uma corrida armamentista nunca antes
presenciada, que culminou com um déficit público sem precedentes na história da
América do Norte. Já na Europa, houve uma disciplina maior no orçamento e nas
reformas fiscais, ambas se sobrepondo aos cortes brutais de gastos sociais.
No que se refere à articulação entre o Modelo de Estado Social e Modelo
de Estado Neoliberal, simplesmente não acontecem, até porque, essas políticas
estão diametralmente opostas, já que o modelo de Estado Social é politicamente
conservador. Esse modelo fundamenta-se em regras que sustenta um controle
social excessivo, segundo o qual postula-se o bem-estar geral, através de
transferência de pagamento generosos desligados de critérios, de esforço ou de
méritos, facilidades que destroem a moralidade básica do trabalho e a noção de
responsabilidade individual. Além disso, a proteção burocrática é excessiva.
Em contrapartida, o anticomunismo seria a marca registrada do
neoliberalismo, e bem como a repressão dos movimentos operários e populares,
que contrastavam diretamente, por exemplo, com as linhas reacionários dos
governos de Reagan, Thatcher, entre outros. No entanto, neoliberalismo
prevaleceu, e sua ideologia tornou-se hegemônica.
Cumpre salientar que, o modelo neoliberal decepcionou sobre alguns
aspectos. Vamos observar porque:
Considerando-se que a finalidade precípua do neoliberalismo era deter a
inflação dos anos 70, pode-se dizer que esse modelo foi, até certo ponto, bem-
sucedido, pois corroborou a deflação, o aumento da taxa de lucro. O aumento do
grau de desigualdade é, também, considerado outro objetivo importante do
neoliberalismo, atingido, entre outros benefícios.
No entanto, o capitalismo restaurou taxas altas e estáveis de crescimento,
tal como ocorria antes da crise dos anos 70, e isso decepcionou muitos adeptos
do modelo em questão, já que dos anos 70 aos 80 não houve mudança alguma na
taxa de crescimento, que permaneceu baixa nos países da OCDE. A taxa de
acumulação não apenas cresceu durante os anos 80, como caiu em relação a
seus níveis médios correspondentes aos anos 70, e essa situação é
surpreendente e contraditória. De forma mais objetiva, esse paradoxo decorrente
do aumento dos gastos sociais com o desemprego, que deu um prejuízo de
milhões ao estado; paralelamente ocorreu o aumento demográfico dos
aposentados na população, de modo que o Estado foi obrigado a pagar Bilhões
em pensões. A dívida pública de quase todos os países ocidentais atingiu índices
inimagináveis, os mais altos desde a II Guerra Mundial.
Não obstante todas essas situações imprevisíveis, o neoliberalismo
apresenta uma aceitação muito boa, já que os países da América do Sul entre
outros que não haviam ainda sido integrados nesse sistema, hoje orgulham-se
disso. Isso significa que o dinamismo neoliberal permaneceu incólume, à revelia
de todos os contratempos.
O que se observa de forma muito clara é que democracia nunca foi um
valor de grande relevância para o neoliberalismo. Embora tenha fracassado do
ponto de vista econômico, socialmente atingiu muitos de seus objetivos, já que as
sociedades estão cada vez mais desiguais, política e ideologicamente falando. De
certa forma, não há equilíbrio nas relações político econômicas até então
estudadas, todas têm utopicamente aspectos positivos, mas na prática se
degeneram e se tornam arbitrárias. Naturalmente fracassam, atingindo, muitas
vezes, resultados paradoxais, muito aquém dos desejados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOFSTADTER, Richard. The American Political Tradition, And The Man Who
Made It. New York: Vintage Books, 1974.

SMITH, Adam. 1987. Correspondence of Adam Smith. Eds. E. C. Mossner e I.


S. Ross. Indianapolis: Liberty Fund [reimpressão em fac-símile do volume VI de
“The Glasgow Edition of the Works and Correspondence of Adam Smith”, Oxford:
Oxford Univ. Press, 1987].

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