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PESTALOZZI E PAULO FREIRE: CAMINHOS QUE SE CRUZAM NA

PRÁXIS EDUCATIVA POPULAR1

RESUMO

A relação entre a práxis de dois educadores distantes no tempo, mas próximos em


princípios pedagógicos é a linha mestra deste trabalho. Johann Heinrich Pestalozzi,
educador do século XIX é aqui apresentado não como autor engessado tal qual aparece
em parte dos estudos de História da Educação, mas como educador preocupado com a
educação do povo. Atuou diretamente com crianças e jovens do campo, crianças vítimas
da guerra e da pobreza e desenvolveu uma proposta educacional pautada no
aperfeiçoamento intelectual, físico, social e moral do indivíduo. Em Paulo Freire,
educador atuante desde metade do século XX, também encontramos alguém dedicado à
prática de uma educação popular, reconhecido mundialmente por seus livros e atuações
pedagógicas. Apresentar os caminhos em que ambos se cruzam em suas práxis
pedagógicas é o objetivo deste trabalho que tem como pano de fundo a discussão sobre
as atuações de ambos educadores no campo da Educação Popular.

Palavras-chave: Paulo Freire – Pestalozzi - Educação Popular


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INTRODUÇÃO
Pensar em educação significa nos remeter a algo intrínseco às relações humanas
e sociais. Acrescentando o termo popular temos uma educação voltada para o povo, que
atenda as suas necessidades e promova sua vocação ontológica de ser mais.
Paulo Freire representou muito bem o papel de um educador defensor e
disseminador de uma educação popular. Em seu livro Pedagogia do Oprimido, o autor
propõe um processo educativo destinado “aos esfarrapados do mundo”. O objetivo da
educação é justamente buscar a constituição de uma sociedade mais justa e essa busca
se dá na constante tentativa de libertação do oprimido e do opressor a partir da ação e
reflexão dos seres engajados no mundo.
Para Freire, a verdadeira educação não é a bancária que se vê comumente, em
que os professores e escolas fazem terrorismo intelectual com os alunos. Educar é
prática de liberdade, é buscar a autonomia do ser, é o desenvolvimento da criticidade e
da reflexão do indivíduo, é nos tornarmos seres ativos no mundo.

1
Trabalho apresentado no 19º EPENN - Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste
– realizado de 05 à 08 de julho em João Pessoa, PB.
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O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade


curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que
dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de
quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém
como sujeito de ocorrências. (FREIRE, 1996, p. 76-77)
Esses princípios foram fortemente utilizados por Paulo Freire, mas seus sinais já
podiam ser encontrados nos princípios de outro educador - Johann Heinrich Pestalozzi -
suíço do século XIX que dedicou sua vida à educação das crianças pobres, sendo
considerado o Pai da escola popular. Desenvolveu princípios de sua proposta
educacional teorizando a partir de sua prática e trazendo inúmeras inovações no
contexto educacional Europeu.
A educação brasileira também foi de certa forma, inspirada pelas práticas
pestalozzianas através de um movimento que chegou ao Brasil não apenas para
combater a perspectiva da educação tradicional, mas para renovar a educação e as
escolas brasileiras: a Escola Nova.
O pensamento escolanovista causou diversas influências na educação brasileira
dentre elas citamos a obrigatoriedade do Estado oferecer escola laica, única, obrigatória
e gratuita para todos; a formação superior dos professores como condição necessária a
qualificação profissional e resolução dos problemas educacionais vigentes; a
preocupação com o método de ensino partindo do concreto para o abstrato, do simples
para o geral, do conhecido para o desconhecido; a busca por clareza dos objetivos da
educação e da função social da escola como essenciais para reforma no ensino. Estas e
outras considerações refletem as idéias do Movimento Escola Nova no Brasil que por
sua vez foi influenciado pela práxis de Pestalozzi.
Desde a adolescência Pestalozzi manifestava seu interesse em ajudar os homens
do campo, ou seja, os menos favorecidos pela sociedade. Vivenciou muitas experiências
pedagógicas como em uma fazenda em Neuhof, e em Stans quando cuidou sozinho de
80 crianças órfãs vítimas da guerra e da miséria.

Confiante nas faculdades da natureza humana, que Deus colocou


também nas crianças mais pobres e mais desprezadas, eu não
tinha apenas aprendido em experiências anteriores que essa
natureza desdobra as mais formosas potencialidades e
capacidades em meio ao lodo da rudeza, do embrutecimento e da
ruína, mas via, nas minhas próprias crianças, irromper essa força
viva, mesmo em meio a toda a sua brutalidade. (PESTALOZZI in
INCONTRI, 1997, p. 90)
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Contudo, foi no Instituto de Yverdon, em 1804, no cantão de Vaud, na Suíça que


Pestalozzi chegou à culminância de sua experiência enquanto educador. Um dos sonhos
de Pestalozzi foi ter uma escola para os pobres, para aqueles a quem era negada a
educação por falta de recursos e oportunidades, por isso, quis que o Instituto de
Yverdon fosse uma escola para todos, onde os mais ricos pagavam para que os mais
pobres pudessem estudar. Lá estudavam crianças e jovens de toda a parte da Europa:
França, Inglaterra, Itália, Alemanha e Rússia. Além disso, chegavam professores de toda
a parte que se ofereciam para ajudar e aprender ao lado do mestre Pestalozzi.
Observando a trajetória e os princípios do educador Pestalozzi no século XIX e
os de Paulo Freire já no século XX nos questionamos: Até que ponto há relação entre os
objetivos pedagógicos desses dois educadores? É possível encontrar pontos
convergentes entre ambos educadores no que se refere a uma proposta de educação
popular? Qual a atualidade do pensamento de ambos?
Desta forma, o objetivo central a que nos propomos neste trabalho é observar e
comparar dois pontos distantes no tempo, porém próximos em termos de práxis
pedagógicas. Pestalozzi está no início de um caminho que mais tarde também seria
percorrido por Paulo Freire. Aquele está inserido no contexto iluminista, o qual suas
propostas influenciaram diretamente o movimento escolanovista, ou seja, uma tendência
pedagógica liberal e este pode ser considerado herdeiro dessa tendência pedagógica,
mas que está inserido numa tendência progressista. Contudo, o desafio pretendido é
apresentar o elo entre suas proposta, especialmente na busca por uma educação popular.

PESTALOZZI E PAULO FREIRE: CAMINHOS DE DESCOBERTA

No final do século XIX e começo do século XX iniciou-se um grande


movimento para reorganização da escola em que educadores como Pestalozzi foram
grandes inspiradores. As escolas com perspectivas inovadoras se multiplicaram pelo
mundo, todas elas assumindo tendências renovadoras. Com o mesmo objetivo, no
Brasil, no período republicano, o educador Caetano de Campos se refere a Pestalozzi
como modelo de mudanças educacionais brasileiras e incentivava a adoção do método
Pestalozziano a exemplo de países como Suíça, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos,
assim ele dizia:
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Os da nossa geração tiveram a felicidade de vir depois de


Pestalozzi. O que fez este sublime reformador do ensino, ajudado
pelo mesmo vigoroso espírito, pela mesma luminosa
clarividência, é obra tão grandiosa, que para dar-lhe a medida
basta dizer que todas as nações cultas deixaram-se seduzir por ele.
(BIGHETO, 2006, p. 138)

O enaltecimento da obra de Pestalozzi e o desejo em firmá-la no Brasil revela


não apenas interesses pedagógicos - sociais, mas indica a confiança que a proposta
pestalozziana inspirava aos educadores, fruto da relevância de seu trabalho reconhecido
mundialmente.
Contudo, apesar de tantas citações os educadores brasileiros tinham (e têm) um
conhecimento muito restrito sobre a figura de Pestalozzi. Em seu livro Pestalozzi,
Educação e Ética, Dora Incontri esclarece que as influências deste educador no Brasil
ocorrem de forma indireta, posto que nenhum de seus textos foram traduzidos de forma
integral para o português, nenhum de seus discípulos diretos veio ao Brasil, nenhum
intelectual ou escola brasileira se inspirou nas suas idéias com profundo conhecimento
de sua proposta. Sobre a relevância do pensamento pestalozziano e seu pouco
conhecimento no Brasil, Bigheto acrescenta:

A proposta educacional de Pestalozzi serviu de inspiração para


escolas das mais diferentes tendências: escolas libertárias (Tolstoi
e Proudhon); socialistas (Owen) e até as de tendências comunistas
(Makarenko). (...) Aliás, as abordagens a respeito de Pestalozzi
são inúmeras. Há análises marxistas, idealistas, até psicanalíticas.
Como demonstra Incontri, Pestalozzi é um universo, com mais de
12 mil títulos de estudos, teses e ensaios sobre sua filosofia, sobre
sua prática e influência. (BIGHETO, 2006, p. 137)

No Brasil a Escola Nova buscou soluções de uma educação para o povo,


especialmente em meio às defesas da escola pública com a ação dos reformadores como
Anísio Teixeiras e Fernando Azevedo, dentre outros. Da mesma forma, Paulo Freire
defendia a proposta de uma educação construída com o povo, mas que se somava ao
esforço de superação da sociedade capitalista. Em Freire, a educação só pode ser
adjetivada de popular, se tiver compromissos éticos, políticos e culturais vinculados à
transformação da sociedade.
Paulo Freire defendeu a educação com o homem, denunciando a então vigente
educação para o homem, ou conta ele. Defendeu a substituição da aula expositiva pela
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discussão. Demonstrou preocupação com metodologias e, principalmente, com o lugar


social, político, educacional e de autoridade a ser assumido pelo educador e educando.
(FREIRE; BETO, 1985, p.11)
Da mesma forma, Pestalozzi foi um dos grandes educadores que não apenas
idealizou, mas concretizou uma pedagogia diferenciada, com o objetivo de desenvolver
o que há de melhor no ser humano, com foco no educando, objetivando desenvolver
suas capacidades físicas, intelectuais e morais.

QUANDO OS CAMINHOS SE CRUZAM

Fazendo uma relação direta entre a obra de Paulo Freire, especificamente


Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança e Pedagogia da Autonomia e os
princípios pestalozzianos analisados a partir da obra de Dora Incontri, Pestalozzi –
Educação e Ética e a obra de Pestalozzi em espanhol Como enseña Gertrudis a sus
hijos, buscaremos o entrelace dos caminhos de ambos autores estudados.

Ensinar é instigar a produção de conhecimento


Paulo Freire defendia a idéia de que o educando é o foco do processo de ensino e
aprendizagem. Freire afirmava que o educador precisa “saber que ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a
sua construção”. (1996, p.47)
Freire lutava contra a educação bancária, vigente desde as mais remotas práticas
pedagógicas e que ainda hoje vigoram. É uma afirmação simples, mas que requer uma
total mudança de postura do educador e da escola e ainda uma mudança no foco do
processo pedagógico que sai do professor e passa ao aluno, visto que, educar significa
estimular a produção de conhecimento do educando.
Pestalozzi adotava o mesmo princípio dizendo que “a atividade é uma lei da
meninice. Acostumais os meninos a fazer – educai a mão; [...] Começai pelos sentidos e
nunca ensineis um menino o que pode descobrir por si.” (Apud, INCONTRI, 1997,
p.130)
Ele adotava uma educação ativa, em que os educandos participavam ativamente
do processo de aprendizagem através de atividades práticas. O foco de sua atuação
pedagógica também é o educando e não o educador. Jullien descreve suas impressões ao
visitar a obra pedagógica mais frutífera de Pestalozzi, o Instituto de Yverdon.
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O processo geral dos estudos compreende um grande número de


assuntos; mas sua própria variedade serve para dar certo descanso
agradável ao espírito e deixa às crianças a liberdade de escolher o
que tem mais analogia com suas disposições naturais. (...) Seu
princípio é acompanhar a criança, deixando-a agir e se manifestar
tal qual ela é, para melhor conhecer suas inclinações. (in
INCONTRI, Op. Cit,, p. 173)

O ensino parte da percepção da realidade


Como destacamos anteriormente, Pestalozzi não praticava o ensino passivo, ele
estimulava a aprendizagem a partir da investigação do educando dentro de sua
realidade. Incontri destaca que na prática pestalozziana:

Parte-se de intuições, percepções, observações diretas da


realidade [...] e pela posse da linguagem, conquista-se o poder de
análise, detalhamento, classificação, organização e drenagem das
percepções; finalmente, o pensamento avança para a síntese, para
a extensão dos conceitos. (INCONTRI, Op. Cit,, pp. 143-144)

Ou seja, percebemos que de forma alguma o educador apresenta um conteúdo


pronto, ele instiga o educando que através de ações e exercício do raciocínio lógico vai
construindo seu conhecimento. Pestalozzi afirmava: “Procedei do conhecido para o
desconhecido; do particular para o geral; do concreto para o abstrato; do mais simples
para o mais complicado.” (Apud, INCONTRI, Op. Cit,, p.130)
Em Paulo Freire observamos prática semelhante. Ele atuava diretamente na
alfabetização de jovens e adultos na cidade e no campo, estava em constante contato
com os movimentos sociais e com os educadores que atuavam em diferentes espaços
educativos, escolares e não-escolares. Para que essa atuação se configurasse como
práxis emancipatória era necessário partir do conhecimento que seus educandos já
tinham do mundo. Freire defendia que essa prática deveria ser constante em todo espaço
educacional, pois o educando possui conhecimentos do mundo e é desses
conhecimentos que se deve partir o processo pedagógico. Em seu livro Pedagogia da
Esperança o autor relata uma experiência que teve com agricultores em que fez um jogo
de perguntas e respostas para constatar quem sabia mais. Quando Paulo Freire fez
perguntas referentes à realidade acadêmica os agricultores não souberam responder; em
contrapartida, Freire também não conseguiu responder acertadamente as questões
formuladas pelos agricultores, provando assim, que conhecimento todos nós temos,
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porém, sabemos mais que uns ou outros nesta ou naquela área, mas não como um todo.
Não há saber absoluto, assim como não há ignorância absoluta. Os saberes devem se
relacionar dialogicamente. Conhecer o ponto de partida de cada educando é condição
para o diálogo e para a aquisição de novos conhecimentos. O processo ensino
aprendizagem deve ser informado pelos conhecimentos prévios e deve se firmar no
respeito e reconhecimento da legitimidade dos mesmos.

Educação como meio de transformação do mundo


Este é um dos objetivos principais de Freire, pois para ele educar é contribuir na
transformação da sociedade e o papel do educando é se tornar um ser atuante, capaz de
intervir conscientemente no mundo. Para Freire “a capacidade de aprender é não apenas
para nos adaptar, mas, sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir,
recriando-a.” (1996, p. 68)
Freire afirmava que “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de
intervenção no mundo.” (1996, p. 98) E essa intervenção é papel tanto do educando
quanto do educador consciente de seu papel em atuar de toda forma que possa contribuir
para a construção de uma sociedade melhor.
Desta forma, para realizar tal afirmação Freire possuía a certeza de que tal
mudança é possível e por isso ele destaca:

É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível,


que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não
importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de
alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de
evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica. (FREIRE,
1996, p. 79)

Em relação a Pestalozzi, ele também trabalhava a partir da realidade e do


contexto de seus educandos, desta forma seu objetivo era formar o educando capaz de
dar continuidade autonomamente no seu processo de aprendizagem. Pestalozzi
pretendia formar cidadãos e homens de bem, educando a partir da realidade para a vida,
afirmando que “cada lição deve ter um fito, quer imediato, quer remoto.” (Apud,
INCONTRI, 1997, p.130)
No Instituto de Yverdon, disciplinas como geografia, biologia ou física, não se
consignavam às paredes de uma sala. Elaboravam cartas e mapas geográficos após a
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observação da natureza, ou punham em prática o que aprendiam, no cultivo de produtos


hortícolas que consumiam no próprio Instituto.
Além de se preocupar com a atuação das aprendizagens escolares, Pestalozzi se
preocupava com a atuação de princípios morais.
Devemos nos convencer de que o objetivo final da educação não é
o de aperfeiçoar as noções escolares, mas sim o de preparar para a
vida; não de dar o hábito da obediência cega e da diligência
comandada, mas de preparar para oagir autônomo.
(PESTALOZZI in INCONTRI, 1997, p.96)

Educação para o ser ético e moral


Nas obras de Freire constatamos o quão valoroso é a ética e a moral para o autor
dentro do processo educativo. Educar também é se preocupar com a formação do ser
ético e moral e, além disso, se preocupar com a coerência da ação do educador dentro e
fora de sala. Não basta ter um discurso convincente se as atitudes do educador são
contraditórias. Para Freire, educar é não apenas observar o progresso no outro, mas em
si mesmo. Vejamos a passagem a seguir:

Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes


de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de
romper, por tudo isso nos fizemos seres éticos. Estar sendo é a
condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres
humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar
longe, ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma
transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa
em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de
fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter
formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos
conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.
(FREIRE, 1996, p. 33)

A preocupação com a formação moral, que não corresponde a moralismo,


mas ao desenvolvimento de uma dimensão fundamental do humano, é mais uma
semelhança que encontramos entre esse autor e Pestalozzi. Como já foi afirmado,
Pestalozzi destacou como principal desafio da educação o despertar do ser moral para
que ele empreenda sua autoconstrução, sendo assim, para que esse despertar possa
ocorrer, o educador enfatizou a vivência do amor no processo pedagógico e esse amor
ele chamou de “força elementar da moralidade”.
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Assim, deixar o educando seguir autonomamente e realizar ações com as


próprias mãos e a partir de seus interesses é para Pestalozzi não apenas um ato
pedagógico, mas um ato de amor. Esse amor é o tempero fundamental do método
pestalozziano. O ambiente de convívio do Instituto de Yverdon, por exemplo, era de
paz, de união e de amor. Não existia uma figura autoritária que mandasse nas atividades
e nos métodos, existiam instrutores, preceptores que auxiliavam e orientavam uns aos
outros embasados na figura amável do diretor e educador Pestalozzi.

CONCLUSÃO

A partir das reflexões e comparações aqui lançadas concluímos acerca da


aproximação de princípios e propostas de ambos educadores aqui analisados além da
comunhão de objetivos educacionais.
Ambos trabalharam na educação do povo, no desenvolvimento do ser autônomo,
se preocuparam com questões políticas, sociais, culturais, físicas e morais que envolvem
o processo pedagógico. Em um contexto histórico constatamos inclusive o início das
idéias escolanovistas em Pestalozzi e a herança delas em Paulo Freire. É perceptível
também no primeiro o esforço no trabalho de uma educação popular, bem como
percebemos a efetivação dessa proposta no segundo.
Portanto, concluímos que em ambos os autores trabalhar com base numa
educação popular significa adotar princípios de liberdade, justiça, igualdade e
felicidade. Significa a formação de seres éticos e morais, conscientes da sua
possibilidade de atuação e transformação do mundo e esses princípios continuam atuais,
demonstrando o quanto podemos sentir ainda os reflexos das idéias de ambos
educadores, posto que, suas práxis não se estagnaram no tempo, continuam dentro das
preocupações de nossa educação atual.
O resgate de valores essenciais a condição humana que vai além de perspectivas
materiais permeiam toda a práxis dos autores aqui destacados. A contemplação do ser
em seus múltiplos aspectos ampliando o olhar que o educador tem do educando para
além do ensino intelectual, passando por dimensões afetivas, valores éticos e morais
retratam a contribuição de Pestalozzi e Paulo Freire para a construção de uma dimensão
espiritual da educação.
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A distância entre ambos está apenas relacionada à condição temporal, mas na


condição de educadores preocupados com a formação pedagógica, cultural, social e
(porque não) espiritual do povo estão intimamente ligados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIGHETO, Alessandro César. Eurípedes Barsanulfo, um educador de vanguarda na


Primeira República. 1. Ed. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 2006. 256p.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz & Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

FREIRE, Paulo; FREIRE, Ana Maria Araujo. Pedagogia da esperança: um reencontro


com a pedagogia do oprimido. 13.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

_______.; Frei Beto. Essa Escola Chamada Vida. Depoimentos ao repórter Ricardo
Kotscho. São Paulo: Ed. Ática, 1985

INCONTRI, Dora. Pestalozzi: Educação e Ética. São Paulo: Editora Scipione, 1997.

PESTALOZZI, Juan Enrique. Como Gertrudis enseña a sus hijos. Tradução Luis
Fernandes G. Mexico: [s.n], 1959. 299p. Ensayos Pedagogicos.

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