You are on page 1of 11

O HERÓI COGNITIVO

E A INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PERSONAGENS NOS


FILMES AMERICANOS.
.

Josiass Pereira 1 - erdfilmes@uol.com.br

Categoria de Apresentação: Comunicação Oral

1
Mestre em tecnologia educacional, professor e pesquisador da FACNOPAR, roteirista, diretor de TV,
cinema e vídeo

1
Resumo: Este trabalho tem como objetivo levantar um debate, sobre o modo que
o cinema americano cria seus heróis e como esta subjetividade foi criada. Como a
sociologia e a psicologia social contribuíram na formação da sociedade americana
e influenciaram roteiristas e diretores. Assim, influenciando na maneira de se
fazer cinema neste país. Usaremos os pressupostos destas áreas para
compreender a linguagens cinematográfica atual.

Palavra Chave – Psicologia Social, Sociologia, cinema, TV e vídeo

Introdução
Nossa sociedade contemporânea vem passando por diversas mudanças
e uma delas é no campo social, aonde o advento de novas tecnologias vem
diminuindo barreiras e criando novas maneiras de raciocínio e cognição 2 . Na
Antiguidade e Idade Média a filosofia, que Pitágoras teria afirmado que é a
sabedoria plena e completa dominou o modo de pensar e ver a vida. A filosofia
respondia, ou tentava responder o mundo. Porém, com as mudanças políticas e
sociais do século XVIII como a revolução industrial e a revolução Francesa, surgiu
a necessidade de outro tipo de explicação que a filosofia não comportava.
Deixando aberto os caminhos para o surgimento, no século XIX, da sociologia,
uma ciência que teria como principal função estudar o comportamento humano.
Pensadores como Saint-Simon, Auguste Comte, Emile Durkheim e Max Weber
contribuem para a fortalecer e fixar a nova ciência.

A sociologia explica como os grupos interagem e como devem agir, mas


não explica o ser humano, como ele pensa e nem como é criado o subjetivismo de
cada um. Assim, surge à psicologia para tentar achar respostas. A psicologia
surgiu então com o objetivo de evidenciar a interação do ser humano enquanto
ser que se adapta ao meio. Já a sociologia procura definir as regras que existem
na sociedade, ou seja, os padrões decorrentes da vida social que determinam a
ação e que são observáveis pela recorrência do relacionamento entre as pessoas.
Esta estuda o meio e os padrões sociais enquanto aquela estuda como o ser
internaliza e se estrutura neste meio.
Analisaremos como estas duas áreas do conhecimento contribuíram para
modificar e criar um modo de pensar, um modelo mental, esquema mental, que
indiretamente será usado e repassado pelos meios de comunicação e pelo
cinema, através da interação dos roteiristas, diretores e produtores que foram
influenciados pelo meio circundante.

Sociologia
Originalmente a sociologia surge como derivação da filosofia com as
mudanças sociais advindas no século XIX . Com a revolução industrial, surge o
proletariado, pessoas que saíram do campo e foram morar nas cidades. E agora
passam a residir em um espaço físico pequeno, começam a se interagirem de

2
usaremos a definição de cognição como o fenômeno básico que ocorre no processamento
simbólico de informação, velocidade de raciocino, adaptação, apreensão dos dados e do
conhecimento.

2
modo como dantes não havia. O esforço físico em demasia, mais de 12 horas de
trabalho, mulheres e crianças trabalhando geraram sentimentos de revolta na
população, que foi traduzido na forma de destruição de máquinas, sabotagens,
explosão de oficinas, roubos e outros crimes.
A Sociologia surgiu como resposta aos desafios da modernidade, com o
surgimento de grupos interagindo próximos. Os sociólogos tentavam compreender
os grupos sociais que nasciam da revolução industrial e os seus caminhos.
Entendendo a “massa” o grupo, seria mais fácil, entender seus passos futuros, se
adaptando ou corrigindo futuros erros, o que para a elite seria interessante, alem
de ser uma forma de diminuir os futuros distúrbios.

Alguns pesquisadores defendem que a sociologia nasce com Auguste


Conte e sua sociologia tipicamente positivista. Conte acreditava que toda a vida
humana tinha atravessado as mesmas fases históricas e que se pudéssemos
compreender este progresso, poderíamos evitar alguns erros. Contradições a
parte, alguns sociólogos contemporâneos como Luckmann, Norbert Elias e
Anthony Giddens tentam explicar o modo de ser do”ser humano”, seja através da
socialização primaria, da teoria da estruturação, das teorias sociais ou redes
sociais.

Anthony Giddens relata o sentido da sociedade em que vivemos, apresenta


o terreno da auto-identidade, procurando analisar de que forma a
contemporaneidade se relaciona com os aspectos mais íntimos da vida pessoal.
Em seu livro “Modernidade e identidade” , o autor analisa a transformação na
concepção de identidade a partir do rompimento com a ordem tradicional.

Já os sociólogos Berger e Luckmann (2005) criam a idéia da socialização


primaria e secundária. Para os autores o individuo não nasce fazendo parte da
sociedade, ele precisa passar por vários “processos de socialização” que
acontecem sucessivamente ao longo da vida, mas que se dividem, basicamente,
em dois momentos que o autor define como “socialização primaria” e “secundária”.
Para Luckmann a socialização primaria é única e imprescindível na vida do
indivíduo, acontece na interiorização de valores que surge na infância com
apreensão ou interpretação das primeiras coisas do mundo com que a criança tem
contato. Segundo os autores é no processo de socialização, de interiorização,
compreensão, interpretação e adequação que a criança passa para fazer parte
da sociedade, o indivíduo passa a ter consciência de si próprio, dos outros e do
mundo. Geralmente é apresentado pelos pais e outros “seres” com os quais ela se
relaciona. Para o autor, esta fase e transmitida por laços emocionais, por isso
que dentre eles damos destaque as NTIC´s que outros sociólogos não a
contemplam como socialização, mas em pesquisas que realizo não só a
considero como um modo de socialização, mas diria que a mesma ainda esta no
grupo da socialização primaria, pois trabalha com a afetividade. Segundo alguns
autores como Ferres (2000) e Silva (2007) a televisão não trabalha apenas o
cognitivo, mas o emocional também.

3
Quando analisamos o cinema, basicamente o americano, que tem uma
grande influencia em vários paises chegando a mais de 70% de exibição em
alguns, vemos que o mesmo também se apresenta como um grande produtor de
ideologias do Séc. XX. Para Canevacci, (1990) o destino da ideologia será o de
não ser jamais completamente verdadeira nem completamente falsa.

O Esquema mental 3
Segundo Piaget (1996) os esquemas são estruturas mentais, ou cognitivas,
pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio, eles
estão em constante desenvolvimento, o que permitem que o indivíduo se adapte
aos desafios do meio. Os esquemas mentais não são rígidos, são adaptados
através da experiência do individuo. Cheng e Holyoak, Apud Ana Andrade
Cordeiro – 2006, defendem a idéia de que as pessoas raciocinam utilizando
regras aprendidas indutivamente com o objetivo de tomar decisões e prever
eventos futuros. O modelo mental seria uma maneira da mente agir,
reproduzindo o que já foi vivenciado, analisado ou visto. Apreendendo o espaço e
os acontecimentos a mente fica “livre” de futuras surpresas, sabendo como agir
dentro de uma situação. Exemplo. Quando você sai de casa de carro e vai a um
bairro pela primeira vez, e não sabe o caminho fica mais “ligado” no que esta
fazendo e para onde deve ir. Depois que consegue chegar, fica mais tranqüilo. E
na terceira ou quarta vez que você for ao mesmo bairro, vai mais tranqüilo, pois a
mente já “decorou” o caminho e você pode ficar livre pra pensar outras coisas.
A socialização nos dias de hoje é muito mais do que apenas a família,
amigos, escola, igreja, colegas de trabalho, pessoas da cidade e do país em que
vivemos. A TV e o Cinema também contribuem para “moldarem” nossas crenças
e valores de modo inconsciente. O audiovisual também nos influencia por meio da
linguagem e da estrutura do sub texto 4 , do que apreendemos da historia narrada.
Se sairmos do pressuposto que em um dialogo com amigos estamos modificando,
criando ou apreendendo novos modelos mentais. As NITCs (novas tecnologias
de informação e comunicação) que na verdade são apenas suportes, meios, que
contribuem para que novos modelos mentais, pré-estabelecidos por profissionais
de mídia sejam processados pelo espectador.
Por ter acesso a modelos mentais, não significa que o espectador ira
modificar os seus, apenas abre possibilidade de conhecer novas realidades que
podem ser incorporadas aos seus. Não estou dando todo poder aos meios de
comunicação e falando que o espectador é um papel vazio que a mídia ira
persuadi-lo com informações, claro que não, sabemos que as pessoas tem suas
visões de vida, sua subjetividade e que a interação com o meio dependera de
como cada um ira internalizar o apreendido. Estamos levantando a hipótese de
que a mídia apenas ira criar um contraponto ou reafirmar seus esquemas
mentais. O mesmo acontece quando dialogamos com amigos, pedimos conselhos

3
Usaremos a definição de Esquemas mentais como representações práticas de partes da realidade. São
como modelos em pequena escala da realidade
4
Sub texto é a idéia que esta atrás do texto e não apenas o texto literal. “oi tudo bem?” pode ser uma
expressão de cordialidade ou de amor, dependendo do modo que é expresso pelo enunciador e o que se
deseja passar ao enunciatario.

4
ou lemos um livro. Construímos nossos modelos mentais, transmitindo-os ou
tendo acesso aos de outras pessoas, por isso, a TV e o cinema podem estar
contribuindo para a criação de um padrão mental comum para alguns grupos
sociais. com a exibição de padrões, de modelos de vida que podem ser
assimilados. Vide a industria cultural e as novelas, roupas e o pop rock.

Segundo Eisenck e Keane, (1994), os modelos mentais e as imagens são


representações de alto nível, essenciais para o entendimento da cognição
humana. Um modelo mental é uma representação interna de informações que
corresponde analogamente com aquilo que está sendo representado. Ou seja, se
estou vendo um filme romântico, as ações da personagem me fazem repensar os
meus modelos de vida, o que eu faria naquela situação, como eu iria agir? Este
pensar ou imaginar conscientemente, pode modificar ou reestruturar os meus
esquemas mentais, criando novas cognições, modificando minha subjetividade e
modificando o meu ser.
Então, saímos do pressuposto psicológico de que a interação entre dois
indivíduos constitui a interação entre dois modelos mentais. Se pertencerem ao
mesmo grupo social, uma grande parcela de seus modelos será equivalente, com
muitas crenças, signos, símbolos, capital cultural e valores comuns, o que por um
lado gera conforto. Talvez, por isso, que conviver com pessoas muito diferentes,
com esquema mental e capital cultural diferente gera certos “conflitos”. E as
vezes não sabemos nem como agir. Neste ponto o cinema e o audiovisual
contribuem apresentando modelos de vida diferentes e algumas possíveis ações
ou reações.
As NTICs na verdade são apenas o meio, um suporte entre o que pensa ou
o modo de pensar de um grupo de diretores, editores, roteiristas para um outro
grupo, o espectador? Não estamos dando força ou poder a comunicação de
massa, pensando que o expectador absorve tudo que é transmitido, pelo contrario,
o que defendemos é que os meios de comunicação de massa representam uma
forma de transmissão de conhecimento e comportamento. O espectador ira
assistir e assimilar o que lhe interessar (assimilação e acomodação – Piaget 5 ). A
mediação é feita pelos meios de comunicação, mas o processo de modelo mental
é o mesmo, podemos aceitar ou não. Outro ponto a se debater é quando ativamos
inconsciente um trauma. Exemplo, ao ver um filme que uma mãe não trata bem
um filho, e se o espectador tem um trauma com a mãe neste sentido. Ele pode
“ativar” inconscientemente este trauma. E ao chegar em casa começa a tratar a
mãe de modo ríspido sem saber o motivo consciente. Claro que o mesmo
mecanismo de aceitação ou ativação do trauma depende de muitas combinações
que vai variar de ser para ser; eis o milagre do ser humano ser único.

Como espectadores ao assistir uma obra audiovisual, pensamos no que


faríamos naquele momento, fazendo assim, uma representação mental do que
estou assistindo e como “eu” agiria. Johnsoh-Laird sugere que as pessoas

5
Segundo Piaget a incorporação de um elemento do meio é assimilado e depois acomodado, surgindo a
adaptação e o equilíbrio.

5
raciocinam com modelos mentais. Que são como blocos de construção cognitivos
que podem ser combinados e recombinados conforme necessário. Segundo o
autor, estes modelos representam o objeto ou situação em si. Para Laird, ao invés
de uma lógica mental, as pessoas usam modelos mentais para raciocinar; por
isso, estamos levantando a hipótese de que os meios de comunicação
contribuem para a criação de modelos mentais, sua força é indireta e inconsciente.

Para Hampson e Morris, apud Marco Moreira 1997, A lógica que aparece
em algum lugar não está na construção de modelos e sim na “testagem” das
conclusões, pois esta implica que o sujeito saiba apreciar a importância lógica de
falsear uma conclusão, e não apenas buscar evidência positiva que a apóie. Vejo,
compreendo, realizo, funciona, repito. Por isso os meios de comunicação de
massa contribuem para criar, modificar um modelo mental, apresentar uma
situação onde passo a passo o personagem ira interagindo fazendo com que o
espectador mude ou adapte o seu modelo mental, faça inferências e questione a
vida do personagem e a sua própria. Vivenciando e se conhecendo. Isto é uma
interação com o meio e uma nova forma de conhecer limites do grupo e ao mesmo
tempo uma forma de conhecer entender a subjetividade da personagem e
também a própria.

Segundo Hampson existem três maneiras de formar modelos mentais. A


primeira é por meio das percepções captadas por nossos órgãos sensoriais: ao
ouvir o que nos dizem, assistir a um vídeo, uma peça, um filme etc. A segunda
decorre de nossa capacidade de raciocínio aplicada sobre essas percepções e a
terceira, refere-se à imaginação. Eu vejo algo (primeira forma) , penso sobre ele (
segunda forma) e imagino a solução ( terceira forma). É o que realizamos a todo
momento conversando com amigos ou interagindo com os meios de comunicação
de massa. Que são apenas suportes para comunicação direta para idéias de
outrem.

Festinger, apud Isabella Vasconcelos (2008), apresenta a idéia de


dissonância cognitiva que é a forma como é construído em determinado momento
uma nova informação recebida. Pois quando ela não é coerente com o nosso
modelo mental, ele entrará em colapso, obrigando-nos a repensar o que sabemos
ou imaginamos sobre aquele assunto ou, simplesmente, levando-nos a descartar
a informação recém-chegada. Achamos que o pensamento da dissonância
cognitiva, vai de encontro com o pensamento de Piaget sobre acomodação e
assimilação.
Para Festinger, os seres humanos se sentem tão desconfortáveis em
sustentar ações e pensamentos contraditórios com seus modelos mentais, que
são capazes de tentar qualquer coisa para recuperar sua coerência interior:
concordam de imediato, pedem um tempo para pensar ate chegar a um acordo
com seu novo modelo mental. Ou se a mudança for muito grande, preferem o
antigo esquema mental que dara a ela a segurança e tranqüilidade de antes, por
isso que é mais fácil perdoar um namorado que traiu, pois ele por um lado da a
segurança, já o conheço, do que terminar e encontrar outro que não conheço e

6
aprender o novo que sempre “nos da medo”, pela insegurança do que pode
acontecer, ate criarmos um esquema mental.

A Psicologia social e as NTIC´s


Aroldo Rodrigues 6 define a psicologia social como a área do conhecimento
humano que estuda as manifestações comportamentais suscitadas pela interação
de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação. A
integração social, a interdependência entre os indivíduos, o encontro social são os
objetos investigados por essa área da Psicologia. E podemos dizer que é
basicamente o que o cinema e a TV indiretamente fazem. Cria uma interação,
uma mediação entre o que é transmitido e quem recebe. Por outro lado o sinal
irradiado passa a ilusão de que todos sabem a mesma coisa, unificando o saber e
a informação. São informados da mesma forma. Acreditamos que a psicologia
social vai de encontro com a linguagem audiovisual e principalmente o cinema.
Você já viu o filme X? Você já assistiu o filme Y? Quem já não ouviu esta
pergunta de amigos ou conhecidos? Pois eles acham que você tem o que
aprender, ou se divertir com aquele filme como ele.
Sabemos que cada indivíduo percebe o mundo de forma diferente,
dependendo de sua interação com o mesmo. E o cinema e os meios de
comunicação de massa estão, de fato, contribuindo para uma socialização, uma
interação com o mundo cada vez mais globalizado e na formação de novos
esquemas mentais. Foucault (1981), por exemplo, considera o homem enquanto
resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de
intervenções de poder. A individualização social é equivalente a des-socialização
do individuo, ao mesmo tempo, que as NTIC´s contribuem para uma
socialização, ela contribui para um isolamento, onde o virtual perpassa o “ser”
real.

Psicologia social americana e os Filmes de Hollywood

Na Europa a “construção” da psicologia social é diferente da versão


americana. Tentaremos abordar esta questão tendo como base os trabalhos
desenvolvidos pelo psicólogo inglês Robert Farr. No livro “ As raízes da
psicologia Social Moderna”. Farr demarcar os efeitos de uma psicologia social
predominantemente americana, diferenciando-a de uma psicologia social
eminentemente européia, que teria representado um movimento de resistência
contra o positivismo da psicologia social norte-americana. Para o autor a
psicologia social moderna é um fenômeno predominantemente americano. Com
este objetivo em vista, ele procura demonstrar que este predomínio da psicologia
social norte-americana tem origem inicialmente na II Guerra Mundial.
Para o autor a psicologia social tem seu desenvolvimento comprometido
com os objetivos da sociedade norte-americana do pós-guerra, que precisava de
conhecimentos e de instrumentos que possibilitassem a intervenção na realidade,

6
Psicólogo brasileiro, professor da California State University suas pesquisas versam basicamente sobre o
comportamento social humano

7
de forma a obter resultados imediatos, com a intenção de recuperar uma nação,
garantindo o aumento da produtividade econômica. Para Farr não é para menos
que os temas mais desenvolvidos foram à comunicação persuasiva, a mudança
de atitudes, a dinâmica grupal etc., voltados sempre para a procura de "fórmulas
de ajustamento e adequação de comportamentos individuais ao contexto social".
Ate em função da grande imigração sofrida pelo povo americano, sentiam uma
necessidade de “ajustar” as pessoas a uma ordem comum. Assim, enquanto a
sociologia estudava o grupo e a interação entre eles, o psicologia social estudaria
o ser e sua psique com um viés mais cognitivo

Segundo Farr(2004) foi através de Gordon Allport que a disciplina de


psicologia social foi apresentada a uma geração de pós-graduandos o que o
autor chama de era moderna na psicologia social. Assim, para o autor:
“os psicólogos da Gestalt não se tinham defrontado com o behaviorismo ate
que chegassem ao novo mundo. Foi desse conflito entre duas filosofias rivais, mas
incompatíveis, isto é , a fenomenologia de um lado e positivismo de outro que a
psicologia social emergiu na América, na forma especifica como se deu logo no
inicio do período moderno.” (Farr 2004 p 26)

Os psicólogos sociais na América eram teóricos cognitivistas, numa época


que isso não era moda, isto é , no auge do behaviorismo. O autor explica que a
ciência cognitiva surgiu da colaboração, durante a guerra, entre psicólogos ,
engenheiros de telecomunicação e cientistas da computação. O que faz a
psicologia social americana diferente, ela é mais ligada à cognição do que ao
social, ou seja o cognitivo influenciando a subjetividade e não tanto o meio. Está
diferença foi construindo na sociedade o ideal de um ser humano onde a “criação”
da subjetividade esta ligada a superação mental, a cognição, e não a sociedade,
ou em função da mesma. O meio perde em importância para a mente que reina
como o principal elo de superação da vida. Nasce assim, a grande diferença
entre a psicologia social americana e a européia do pos guerra, pois o
behaviorismo clássico, de Watson, não negava o processo mental, mas dava
ênfase ao comportamento e ao estimulo do ambiente, diferentemente da
psicologia cognitiva que tem como ênfase o processo mental.

Para o autor, a psicologia social é, normalmente , transmitida de uma


geração de estudantes a seguinte através de um programa de doutoramento. Os
manuais desempenham um papel central na formação de pós-graduação da
maioria dos psicólogos sociais. Para Ferr (2004 – 27p)
“O Behaviorismo poderia estar trocando uma ciência, isto é a ciência da
mente, por uma tecnologia. Após a segunda guerra mundial , eles trocaram uma
tecnologia, isto é o behaviorismo, por outra, isto é, a ciência cognitiva.”

Estes mesmo pós-graduandos que estudaram a psicologia social americana


que não tem o viés da sociologia e sim da cognição contribuíram para disseminar
na sociedade americana a visão da psicologia social e a importância da mente na
construção do ser. Esta nova visão da vida chega à sociedade e aos futuros
roteiristas e diretores de Hollywood através das escolas e universidades. Assim

8
este aluno, futuro roteirista e diretor, ira apresentar, representar, nos seus
trabalhos o seu modo de ver a vida, um modo onde o importante não é o meio
influenciando o ser, mas o ser se superando graças a seu cognitivo. Criando um
super herói, uma pessoa / personagem, que apresenta uma cognição superior aos
outros. E este elo começa a se disseminando na sociedade.
Este modo de vida americano, ligado a cognição superior pode ter sido
influenciado pela psicologia social, pois passa a mente a ser o mais importante e
não o meio que é apenas uma conseqüência do que a mente cria.

Para exemplificar se analisarmos filmes como Bem hur (1959), Spartacus


(1960) Mad Max (1979), Touro indomável (1980), Conan, o Bárbaro (1982),
Rambo, (1982), Karate Kid (1986), Duro de matar (1988), Os imperdoáveis
(1992), Missão impossível(1996), , Matrix (1999), Minority Report (2002), dentre
outros, tem em comum a apresentação de um personagem que supera as suas
dificuldades, não em função do meio, mas por ele possuir uma cognição superior
aos outros, um poder especial, uma força única, e por isso poder liderar, liberar
realizar o que os outros não conseguem. Ele modifica o meio, por ter um intelecto,
uma cognição superior.

Conclusão
Apenas desejamos com este trabalho levantar um debate no meio
acadêmico, sobre a inclusão da psicologia social e da sociologia não apenas
para entender a sociedade e o ser humano, mas como estas áreas do
conhecimento influenciam diretamente as pessoas que produzem, criam e usam
as NTIC´s. E como roteiristas, editores, repórteres de certa forma estão usando
estas áreas do conhecimento sem saber. Talvez com uma nova visão destas
áreas no meio de comunicação, ou apenas sua ampliação poderemos estar
produzindo profissionais melhores e mais capacitados.

A psicologia social americana que difere da européia contribui na criação


de filmes diferenciados onde o personagem principal é em geral diferente dos
outros, é um ser superior. E isto é levado à população como uma “socialização
primaria inconsciente”. Será que alguns problemas americanos como jovens que
vão a escolas e matam amigos e professores não é uma resposta a esse modelo
de ver o mundo e as cobranças que ele cria na sociedade? De que ele tem que
ser superior. Tem que ter uma cognição melhor que outros e o fato de não ter o
faz “infeliz?”
São apenas suposições, apenas mas uma luz na complexa formação do
ser, mas não podemos deixar de pensar que o cinema americano contribui de
alguma forma para mudanças sociais e ideológicas que vivemos.

Já os filmes europeus tem um viés mais social, por isso, ate a narrativa é
mais lenta, para mostrar uma briga que não existe é necessário cortar a imagem
para criar a ilusão de continuidade, já no filme europeu onde apresenta o

9
personagem e suas reflexões, não há necessidade de cortar 7 tanto a imagem.
Defendemos a hipótese de que por ter uma psicologia social voltada a
sociologia, os filmes europeus estão mais voltados ao âmbito social, como o
social contribui para mudanças do personagem. Pois foi assim que os roteiristas e
diretores europeus aprenderam, o meio influenciando o homem. Diretores como
Bergman, Antonioni, Bertolucci, Truffaut e Fellini dentre outros, são exemplos
desta afirmação. Acredito que a narrativa dos filmes europeus são mais lentos do
que o americano também em função disto, por usar um viés social em vês de
cognitivo. Pois a narrativa lenta e poucos cortes da ênfase a contemplação, a
entender o roteiro. Já o corte rápido ira dar ênfase à ação, deixando de lado o
conteúdo, roteiro.
Queremos levantar um pensamento que a psicologia social nos cursos de
pós-graduação contribuiu para levar a sociedade americana um novo modo de
ver e pensar. Será que no Brasil os cursos de pós-graduação estão cumprindo seu
papel social? Na área técnica vemos as mudanças sociais principalmente na
agroindústria, mas e na área social? Quantos doutores em educação nos temos e
por que a educação no Brasil tem índices tão ruins? Será apenas em função das
políticas publicas? Ou os doutores e doutorandos no Brasil, muitas vezes
formados com dinheiro publico não estão cumprindo o seu papel social?
São apenas divagações que espero sejam analisadas e repensadas por outros
pesquisadores.

Bibliografia
BERGER, Peter L; LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade . Ed vozes, Rio
de Janeiro 2005

BOSI, E. O tempo vivo da memória. 1ª edição, São Paulo, Ateliê, 2003.

CANEVACCI, Massimo. Antropologia do Cinema. 1990. Ed. Brasiliense, São Paulo, SP.

CAPUZZO, Heitor. O Cinema Além da Imaginação. 1990. Ed. Fundação Ceciliano Abel de
Almeida, UFES.

CHENG, Patrícia, Holyoak, Keith J.."Pragmatic reasoning schemas."

CORDEIRO, Ana Andrade; BORGES Maria Bompastor. A teoria da lógica mental e as teorias
competitivas.Revista interamericana de psicologia. N. 003. Porto alegre 2006

EISENCK, M.W. e KEANE, M.T. Psicologia cognitiva: um manual introdutório. Artes Médicas.
Porto Alegre, RS: 1994

FARR, R. Raízes da Psicologia Social Moderna. Petrópolis: Vozes, 1998.


FERRES, Joan. Vídeo e educação. Ed Artes. Medicas sul. 20000

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber, RJ: Forense, 1987.

7
corte é a passagem de um plano para outro, visão de outro ponto de vista da ação
cinematográfica.

10
GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora ÛSP, 1996.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Jorge Zahar Editor, RJ, 2002

MOREIRA, Marco Antonio. MODELOS MENTAIS. Trabalho apresentado no Encontro sobre


Teoria e Pesquisa em Ensino de Ciências - Linguagem, Cultura e Cognição, Faculdade de
Educação da UFMG, Belo Horizonte, 1997.

PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. ·

PEPITONE, A. (1981). Lessons from the history of social psychology. American Psychologist,
SILVA, A. & Pinto, J. Uma visão global sobre as ciências sociais. Metodologia das Ciências
Sociais . Porto: Edições Afrontamento. 1986

SILVA, J. P. Se a TV é o espelho da sociedade, a escola seria o que? A sombra da sociedade?


Ou o anti-reflexo da TV? www.erdfilmes.com retirado do site no dia 10 de Junho de 2008

VASCONCELOS, Isabella Freitas Gouveia de. A (Des)Construção Social da Identidade:


Mudanças no Trabalho e suas Implicações para a Identidade do “Trabalhador Reflexivo”. EAESP-
FGV e UNINOVE – retirado do site
http://www.fgvsp.br/iberoamerican/Papers/0347_Desconstrucao%20da%20Identidade%20-
%20IBERO2003.pdf dia 10 Junho 2008

11

You might also like