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(*) UZIEL SANTANA

UFS: uma análise reflexiva, retrospectiva e perspectiva. (VII)

“O Departamento de Direito, o NEPRIN e a suma de todas as coisas”


Enfim, chegamos ao último artigo desta série em que tentamos, como propomos desde o
o primeiro artigo, levar a sociedade sergipana e a comunidade acadêmica – dirigente e
dirigida – da Universidade Federal de Sergipe, a analisar reflexiva, restrospectiva e
perspectivamente temários da mais alta significação teórico-conceitual e político-
institucional.
Como sempre deixamos claro ao(a) leitor(a) o nosso ideário analítico, reflexivo e
proposicional sempre foi fulcrado na simples tentativa de despertamento da nossa
sociedade e comunidade acadêmica a respeito de questões emblemáticas, essenciais e
que estão “na crista da onda”, seja nas pautas governamentais federais, estaduais e
municipais, seja no contexto interno da nossa universidade federal. Pensamos que, de
algum modo, contribuimos nesse sentido. Se não o fizemos, não o foi por ausência de
determinação volitiva, mas por deficiência da intelecção que realizamos. Nossas escusas
se assim o foi.
Seja como for, neste ensaio final, queremos, em primeiro lugar, tecer algumas
considerações a respeito de um último tema, qual seja: a atual situação vivenciada pelo
Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe e seu núcleo de pesquisa e
extensão, o NEPRIN (Núcleo de Extensão e Pesquisas em Relações Internacionais). Em
segundo lugar, a partir do que vimos, ouvimos e dissemos, apresentaremos o que
entendemos ser a suma final de todas as coisas por nós, ao longo desta série, subscritas.
Mas, falemos, inicialmente, sobre o Departamento de Direito e sua atual situação.
Vejamos, então.
O Departamento de Direito da UFS foi instituído e organizado em 1968, quando houve
a instituição da Fundação Universidade Federal de Sergipe como resultante do
agrupamento das faculdades existentes no nosso Estado até então. Como dissemos, em
um dos artigos desta série, no momento da formação e consecução da nossa
universidade federal as então faculdades de Direito e Medicina eram as mais
prestigiadas, exatamente, por agregar no seu corpo discente e docente a elite política,
econômica, intelectual e cultural de Sergipe. Fato esse que levou, inicialmente, a uma
certa – embora tímida e insuficiente – resistência.
A Faculdade de Direito de Sergipe, já naquele momento, orgulhava-se de ter, em seus
quadros constitutivos, docentes, intelectuais, de nível e renome nacionais, com destaque
e atuação no cenário político sergipano e brasileiro em geral. Exemplos dessa assertiva
são: Orlando Dantas, Carvalho Neto, Luiz Garcia, José Fernandes Prado Vasconcelos,
Luiz Carlos Fontes de Alencar, Artur Oscar de Oliveira Déda e tantos outros.
Mais que isso a Faculdade de Direito de Sergipe orgulhava-se e vivia sob a égide de um
passado heróico e de uma herança cultural, jusfilosófica e política incomensuráveis,
dado que importantes nomes do ideário jurídico sergipano faziam escola e circulavam
em tendências vanguardistas no cenário internacional e nacional. Estamos a falar do
legado dos nossos grandes juristas Tobias Barreto, Sílvio Romero, Fausto Cardoso e
Gumercindo Bessa. Até hoje, por exemplo, a Faculdade de Direito do Recife –
incorporada, semelhantemente à nossa, à Universidade Federal de Pernambuco –
reverencia a obra e a atuação jurídica e política de Tobias Barreto e Sílvio Romero.
Conforme tivemos oportunidade de ver e ouvir, quando lá estávamos concluindo os
estudos em nível de mestrado, ainda hoje, a Faculdade de Direito do Recife é conhecida
no meio acadêmico e social em geral como “A Casa de Tobias”.
Depois disso, o nosso Departamento de Direito legou ao nosso país grandes outros
intelectuais e autores jurídicos de nomeada, como José Luciano Góis de Oliveira –
também adotado e acolhido com reverências na Faculdade de Direito da UFPE – Carlos
Ayres Britto, hoje, pela primeira vez na história do Poder Judiciário nacional, um
sergipano, nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, entre outros.
Mas, inobstante tudo isso, como se encontra o nosso Departamento de Direito hoje?
Será que a herança cultural e jurídica que recebemos, tal como no texto do Evangelho
de Mateus onde Jesus Cristo nos conta a parábola dos talentos e nos ensina que alguns
dos que receberam os talentos, simplesmente, os enterraram e não os desenvolveram,
assim o fizemos? Não tenho dúvidas de que, infelizmente, a resposta para essa
indagação é afirmativa. Mais que isso: enterramos, temos enterrado e, se assim
permanecer, enterraremos, “ad infinitum”.
Hoje, no Departamento de Direito da UFS, não temos dúvida alguma em afirmar que,
do ponto de vista administrativo, a situação beira ao caos. Tudo isso capitaneado e
encabeçado por uma “Chefia” que pensa os espaços públicos como espaço de promoção
pessoal, de modo que “importa que os meus interesses acadêmicos e profissionais
prevaleçam”. Aliás, para muitos, pertencer ao Departamento de Direito da UFS
significa, tão-somente, a possibilidade de participar, exatamente, como um boneco(a)
estático de uma vitrine que marcou e marca época na sociedade sergipana. Mas que
marca não pelo presente que é, mas pelo passado, muito remoto, que o foi.
O DDi, hoje, agoniza e respira, tão-somente, porque ainda existe um ou outro professor
que não se rendeu diante dos meandros provocados pela incompetência administrativa
dos que estão ali à frente. O DDi, hoje, ainda respira porque existem docentes e
discentes que formam núcleos como o NEPRIN e que se doam, física, espiritual e
materialmente a fim de que o corpo discente e a sociedade sergipana não sejam ainda
mais prejudicados com a letargia, leniência e desídia administrativa ali implantadas e
regadas nos últimos anos.
Não há dúvida de que o Departamento de Direito da UFS precisa ser repensado,
redimensionado e, até mesmo, refundado, porque, se assim continuar, o legado histórico
e a herança jurídica que recebemos restarão sendo, apenas, os nossos únicos motivos de
orgulho para a formação de uma sergipanidade jurídica.
Por fim, como conclusão deste artigo e desta série, de tudo o que ouvimos, vimos,
dissemos e subscrevemos, a suma é: importa ao cientista, ao intelectual, ao pensador ou
a quem quer que seja que assuma, legitimamente, esta posição, realizar as suas
intelecções, livremente, sem se importar em agradar a “gregos” ou “troianos”, a
“amigos” ou “inimigos”, porque, no campo da produção do conhecimento científico,
não há espaço para subterfúgios, não há espaço para cordialidades, nem “jeitinhos”. Na
ciência, por seu alto grau de contingencialidade e falibilidade, só há espaço para a mente
aberta em busca da verdade, pela verdade e para a verdade. Parafraseando Descartes,
nós diríamos: “Nunca prometi dar-lhes sempre longas respostas, mas somente
confessar com muita franqueza meus erros, se os reconhecer, ou então, se não os puder
perceber, dizer simplesmente o que achei para a defesa daquilo que escrevi”.
(*) Advogado. Professor da UFS – (ussant@ufs.br).

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