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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

CARTA MENSAL DE CONJUNTURA


ECONÔMICA MARANHENSE
GACE – GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA ECONÔMICA

Apresentação
A Carta que apresentamos é uma iniciativa do Grupo de Análise de Conjuntura Econômica da UFMA (GACE-UFMA)
e visa chamar a atenção da comunidade acadêmica e do público em geral para o exercício da análise e discussão da
conjuntura econômica nacional e regional. A experiência de vários centros de graduação e pós-graduação em
Ciências Econômicas no Brasil mostra que a prática da análise de conjuntura econômica constitui uma atividade
que contribui de maneira efetiva para o aprofundamento da compreensão sobre a realidade nacional e regional,
tanto pelos professores e alunos envolvidos, como por parte do público mais amplo que participa dos debates e lê
as análises. Assim, nossa Carta Mensal vem a somar como mais um veículo de informação para a ampliação do
conhecimento sobre a realidade econômica brasileira e maranhense através da pesquisa sistemática sobre os
indicadores existentes, de sua crítica metodológica, da proposição e construção de novos indicadores, e da
elaboração de análises tempestivas que coloquem em perspectiva as principais linhas de transformação
vivenciadas na economia, principalmente, a do Maranhão no período atual.

Toda Carta terá um tema principal que guiará as seções. Esta, como não poderia deixar de ser, tem como mote o
impacto da crise mundial na economia maranhense e brasileira. Discutimos aqui, como a Crise de Setembro de
2008 vem impactando a nossa economia. Como o Maranhão, um estado primário-exportador, com uma pauta
concentrada nos complexos soja, minério de ferro e alumínio, commodities cujos preços e quantum declinaram no
final do ano passado e nos primeiros meses desse ano, está reagindo à atual crise?

Para nos ajudar a discutir a economia maranhense e brasileira diante da crise, selecionamos alguns indicadores
importantes, que mostram a evolução da atividade econômica no curto prazo e que, a partir de seus dados,
projetamos para o médio e longo prazo. Esta Carta, portanto, compõe-se dos seguintes indicadores: Nível de
Atividades – Agricultura, Indústria, Comércio –; Comércio Exterior; Mercado de Trabalho; e Finanças Públicas.

Cenário Econômico
Perspectivas para a Economia Mundial tímida retomada das bolsas, das encomendas de bens
duráveis e da confiança do consumidor. Nas palavras
As projeções mais recentes do FMI apontam que
de Timothy Geithner, o Secretário do Tesouro dos
a economia global deve registrar queda de 1,8% em
EUA, o processo de recuperação deverá ser “lento e
2009, enquanto que o conjunto das economias
desigual”, dada a permanência de enormes passivos
industrializadas deve retroceder 4,0%, de longe o pior
financeiros que travam o financiamento à produção.
desempenho no período Pós-Guerra. No caso da
economia norte-americana, o indicador do PIB do 1º Economia brasileira em perspectiva
trimestre do ano registrou uma queda anualizada de Um balanço dos impactos da crise financeira
5,7%, e o desemprego atingiu em maio 9,4% da força internacional sobre o Brasil mostra que a contração do
de trabalho, o maior índice em 25 anos. Outros crédito, o encolhimento do comércio internacional e a
indicadores divulgados durante o mês de maio, deterioração das expectativas combinaram-se de
entretanto, apontam para o que já está sendo forma bastante perversa para produzir, no último
considerado um início de recuperação, a exemplo da trimestre de 2008, uma queda no Produto Interno

1 GACE -Grupo de Análise de Conjuntura Econômica Universidade Federal do Maranhão


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Bruto (PIB) de 3,6% em relação ao trimestre anterior crises de 1998/99 e 2002/03 a desvalorização cambial
(com ajuste sazonal). No primeiro trimestre de 2009, a decorrente da deterioração das contas externas fazia
gradual recuperação do crédito, as medidas de elevar perigosamente dívida pública, na crise atual a
estímulo fiscal e a retomada dos fluxos externos vêm posição credora do governo em dólares (em função da
possibilitando uma recuperação nos indicadores de expansão das reservas internacionais e da diminuição
atividade. Os indicadores da produção industrial do da dívida mobiliária pública indexada ao dólar)
período mostram uma pequena recuperação em permitiu uma melhora da posição fiscal que abriu
março para a indústria geral (feito o ajuste sazonal), espaço para as políticas de estímulo mencionadas.
embora o indicador ainda esteja 14% abaixo do Outro aspecto importante é que a própria redução da
primeiro trimestre de 2008. taxa de juros e a inflação em queda mantém um
espaço para a continuidade da redução da Over-Selic,
Juros, câmbio e inflação
a taxa básica de juros da economia.
Após o corte anunciado de 0,5 ponto percentual
O aspecto negativo a ser mencionado é que a
em 29 de abril último, a taxa Over-Selic, atingiu o
forte expansão dos gastos correntes do governo
patamar de 10,25% ao ano, o menor nível desde a
federal no período recente, na qual se destaca a
implantação do Comitê de Política Monetária, em
elevação de 18,2% nos gastos de pessoal e de 44% nas
junho de 1996. Diante da provável trajetória de
despesas de custeio no primeiro trimestre de 2009
continuidade de queda dos índices de inflação nos
contra o mesmo período em 2008 (corrigido pelo
próximos meses, as perspectivas são de que haja a
IPCA), em comparação com a queda de 4,9% na receita
realização de mais um ou dois movimentos de corte na
total e de 21,7% nas transferências a Estados e
Over-Selic, levando a mesma ao patamar de 9,00% no
Municípios. É claro que tal desempenho deixa menos
terceiro trimestre. Um patamar de 9,00% levaria a taxa
espaço para a modalidade de gastos que é mais eficaz
real de juros brasileira a um patamar inferior a 5,0% ao
nas políticas anti-cíclicas, que são os gastos não
ano, o menor nível desde a implantação do Plano Real.
continuados em investimentos capazes de estimular o
No que se refere ao câmbio, nas semanas emprego e a arrecadação tributária. Neste sentido, o
recentes a moeda brasileira voltou a valorizar-se, plano de estímulos ao setor habitacional, em que
rompendo o patamar de R$ 2,00 por dólar. Mais do pesem os problemas de execução apontados pelos
que o ajuste da balança comercial, no qual a contração analistas do setor, vai claramente na direção correta.
dos preços e quantidades importadas foi
determinante, o fator que vem impulsionando as Carta mensal de Conjuntura
cotações do Real é a retomada dos fluxos de capitais Vol. 1 no 1 Maio de 2009
para o país, tanto o investimento direto quanto no que GACE - Grupo de Análise de Conjuntura Econômica
se refere às bolsas de valores e títulos públicos. Neste da UFMA

sentido é importante notar que o diferencial de juros Coordenação


Prof. Msc. Alan Vasconcelos Santos
do Brasil em relação às demais economias
Prof. Msc. Felipe de Holanda
industrializadas permanece ainda extremamente Prof. Dr. Ricardo Zimbrão Affonso de Paula
elevado. Colaboradores
Eduardo Henrique Santos Pereira
Equação fiscal: um diferencial brasileiro Johnatan Sousa
nesta crise Leilivania Lima e Silva
Marcello A. Duailibe Barros
Talvez a mais importante novidade colocada Paulo E. Pacheco Ronchi
nesta crise seja a possibilidade do governo brasileiro, Paulo Ricardo Lima
especialmente no plano federal, poder adotar políticas Rodrigo Botão
anticíclicas de combate à crise. Enquanto que nas Vitor Atan

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Nível de Atividades
Agricultura
Culturas voltadas para o mercado interno se destacam, mas chuvas trazem
preocupação

O levantamento sistemático da produção agrícola Já quando se considera os produtos básicos (Arroz,


(LSPA – abril de 2009) demonstrou uma queda na Feijão, Milho e Mandioca) na alimentação das famílias
produção brasileira de Soja (3,88%), Milho (13,5%) e brasileiras, o Maranhão apresentou ganhos em relação
Algodão (19,65%) na comparação com a safra de 2008. a safra de 2008, com exceção da mandioca, que
Levando em consideração os produtos que tiveram um apresentou uma retração na produtividade de 0,48% no
aumento na estimativa de produção tem-se o Feijão mês de abril.
(10,41%), o Arroz (6,23%), a Mandioca (3,88%) e a Cana-
O milho apresentou um ganho de produtividade
de-açúcar (3,46%) na mesma base de comparação.
expressivo, de 17,46% no Maranhão, sendo importante
Estimativa de Área Plantada, Colhida, Produção e apontar um efeito contrário na produção nacional de
Rendimento Médio no Maranhão e Produção Total milho, o qual se estima uma queda na produção de
Brasileira - Abril de 2009 13,15%, já o arroz e o feijão apresentaram ganho médio
Área (mil ha) Produção do Rendimento Produção
Produto Maranhão
Plantada Colhida
Maranhão (mil
ton)
médio
(Kg/ha)
Brasileira
(mil ton)
de 3,6% na quantidade produzida acompanhando a
Soja
2008
abr/09
421
390
421
390
1.263
1.086
2.996
2.782
59.917
57.592
tendência nacional de crescimento dessas culturas. A
Var. % -7,38 -7,38 -13,98 -7,14 -3,88 cana-de-açúcar, por outro lado, registrou uma queda na
2008 353 353 482 1.364 59.018
Milho abr/09 373 373 566 1.516 51.255 área plantada e colhida de 1,49% e 3,58%,
Var. % 5,68 5,68 17,46 11,14 -13,15
2008 88 88 40 450 3.461 respectivamente, enquanto a produção registrou queda
Feijão abr/09 91 91 41 455 3.821
Var. % 2,81 2,81 3,94 1,11 10,41 de 3,9% no LSPA de abril, isto aconteceu provavelmente
2008 477 477 697 1.460 12.100
Arroz abr/09 479 479 720 1.504 12.853 devido a postergação de investimentos planejados para
Var. % 0,23 0,23 3,26 3,01 6,23
2008 12 12 41 3.355 3.971 a criação de usinas produtoras de álcool e açúcar,
Algodão abr/09 13 13 42 3.303 3.191
Var. % 4,28 4,38 2,75 -1,55 -19,65
enquanto no plano nacional se percebe um aumento na
Mandioca
2008
abr/09
418
421
213
213
1.758
1.750
8.268
8.226
25.878
26.881
previsão da quantidade de produzida.
Var. % 0,82 0,06 -0,48 -0,51 3,88
Cana-de-
2008 53 49 3.012 61.867 648.921 A dúvida que fica é o quanto o excesso de chuvas no
abr/09 52 47 2.895 61.665 671.370
açúcar
Var. % -1,49 -3,58 -3,90 -0,33 3,46 Maranhão afetou a produção das culturas mencionadas
Fonte: IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola - Abril de 2009
acima, principalmente em culturas que o excesso de
O LSPA (abril de 2009) demonstrou que o Maranhão, água acarreta em menor produtividade, e a contradição
assim como o Brasil, apresentou estimativa menor de vista na produção do milho no Maranhão e no Brasil.
produção da Soja, uma redução na área plantada e Acreditamos que a concorrência entre o milho e a soja,
colhida de 7,4%, e a produção com queda de 14%, ou diante dos preços e dos custos possa ter influenciado os
seja, uma queda na produtividade de 7,1% em produtores a migrarem parte da produção de soja para
comparação a última safra. Isto decorre do maior custo a produção de milho, e portanto, explicando a queda na
de fertilizantes no final do ano de 2008 e da dificuldade área plantada de soja, associado a um menor nível de
de obter financiamentos, tendo em vista que cerca de defensivos agrícolas devido as restrições de crédito
30% da produção de soja é financiada por tradings que mencionadas anteriormente que se evidencia na queda
se utilizam de recursos externos. de produtividade no estado do Maranhão.

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Indústria
Resultados do primeiro trimestre mostram que o setor de bens de capital foi o
mais afetado pela crise

Através dos dados de março da indústria para o Brasil é Produção Física Industrial e por Categorias de
possível observar uma leve recuperação na margem, Uso no Brasil - Mar09 (%)
apesar do crescimento de apenas 0,7% em relação a Var. Var. Mês
Var. Tri. ano
Mensal ano ant.
fevereiro e do pior resultado trimestral desde 1990 de - Categorias
(mar08/f (mar09/m
ant. jan-mar
(09/08)
13,2% na comparação com o 1º trimestre do ano ev08) ar08)
anterior. A recuperação de 0,7 % em relação ao mês Indústria Geral 0,71 -13,27 -14,01
Indústria Extrativa 2,45 -9,86 -14,64
anterior foi em grande parte devido ao crescimento da
Indústria de Transf. 0,06 -13,73 -13,66
produção de automóveis em 7%, influenciado pela
Bens de Capital -6,32 -28,14 -21,22
redução da alíquota do IPI (Imposto sobre produtos Bens Intermediários 0,32 -15,64 -16,93
industrializados) a partir de dezembro. A Indústria Bens de Consumo 1,31 -6,46 -7,94
extrativa sofreu a maior queda (-14,6%), na comparação Bens de Cons. Duráveis 1,70 -20,60 -23,30
contra o 1º trimestre do ano anterior dado à diminuição Semi-duráveis e não duráveis 0,74 -2,32 -3,34

brusca no preço das commodities internacionais a partir Fonte:IBGE

de outubro do ano passado. Mas o que realmente nuição de 943 pessoas no seu quadro de funcionários,
preocupa é o forte resultado negativo (-28,1%) na refletindo numa queda elevada da indústria de
comparação contra o mesmo mês do ano anterior para transformação no mês de abril (setor de maior peso na
o setor de bens de capital, que é a taxa de investimento composição da indústria do nosso estado). A previsão é
corrente no país. E não foi somente a indústria nacional que a indústria maranhense volte a mostrar sinais de
que recuou, as importações de bens de capital caíram recuperação no começo do 3º trimestre influenciada
5,7% em abril na comparação ao mesmo período do ano pelo ajuste das políticas anti-cíclicas do governo federal
passado, apontando para uma maior lentidão na e do cenário externo mais favorável.
recuperação do setor industrial nos próximos meses. Saldo do Emprego Formal Líquido no
No Maranhão, utilizamos os dados do CAGED de Maranhão* (Pessoas)
mercado de trabalho como proxie do setor industrial, Setores/Grupos de
jan-09 fev-09 mar-09 abr-09
visto que não temos uma pesquisa industrial consistente Atividade/Atividades
Total -3.756 -2.258 -1.650 -3.788
para o Estado. Observando os dados da tabela de saldo Extrativa mineral -50 -19 1 -18
do emprego formal liquido no Maranhão vemos uma Indust transform -510 -363 -481 -960
leve recuperação no ultimo mês nos setores de Prod min nao met -35 -22 -63 27
Metalurgica -43 -288 -434 -191
metalurgia e minerais não metálicos, destacando a
Mecanica 8 -1 -40 -202
expansão forte na área de produtos químicos. O Mat eletric comun 2 -6 6 -2
Maranhão vinha nos anos anteriores à crise sustentando Mater transporte 2 3 -71 -1
um elevado nível de crescimento industrial favorecido Mad e mobiliario -191 -72 34 -7
Pap,papelao,edit -19 -7 16 -9
pela expansão do crédito e do cenário externo favorável Bor, fumo,couros -28 18 1 19
que impulsionaram o crescimento do setor mínero- Quim,pr farm, vet -7 1 -92 358
metalúrgico e o agronegócio. Com a retração da Textil,vestuario -18 -34 7 -9
Calcados 2 1 -2 0
demanda mundial devido à crise, os setores de
Prod aliment,beb -183 44 157 -943
transformação mineral e metal-mecânico sofreram forte Ind. Transf. Outros -41 9 -50 7
queda no ano, destacando também a forte retração dos Fonte: CAGED/MTE
* subtração do saldo do mês pelo mesmo mês do ano
produtos alimentícios e bebidas que registrou uma dimi-
anterior

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Comércio
Dificuldades no comércio desde a explosão da crise financeira mundial

No plano nacional o comércio varejista registrou alta pesquisa, apenas duas atividades dentre as dez
no volume de vendas de 0,3% em março de 2009 com cobertas não obtiveram resultado positivo em março:
relação ao mês anterior (ajustada sazonalmente), Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Tal bebidas e fumo (não registrou variação) e Moveis e
resultado significa um arrefecimento em comparação eletrodomésticos (taxa negativa de 2,2%). A
com a taxa de crescimento média dos dois primeiros inadimplência de abril em relação a março de 2009
meses do ano, que foi da ordem de 1,0%. Da mesma assinalou alta de 0,2% (totalizando 5,2%), o maior nível
forma, a expansão de 3,8% registrada no primeiro desde outubro de 2000, segundo o Instituto para
trimestre de 2009 contra o mesmo período do ano Desenvolvimento do Varejo (considerando os atrasos
anterior torna evidente a desaceleração, uma vez que a superiores a 90 dias). O maior responsável por esse
média de crescimento do indicador em 2008 foi resultado foi o segmento de pessoas jurídicas, uma vez
superior a 10% nos três primeiros trimestres e igual a que o segmento de pessoas físicas registrou certa
6% no último trimestre do ano. Desagregando-se a estabilidade.

Os efeitos da crise sobre o comércio maranhense

O volume de vendas físicas do comércio varejista insuficientes diante dos impactos perversos da crise
maranhense ensaiava uma recuperação nos meses de financeira externa. Já no que concerne aos cheques sem
janeiro e fevereiro de 2009 (11,00% e 1,40%, fundos, convém destacar que após a deflagração da
respectivamente, numa comparação com o mês
crise internacional houve um tímido crescimento dos
anterior – ajustada sazonalmente). Entretanto, os dados
de março (-7,00%, na mesma base de comparação) indicadores para o Nordeste e Brasil e uma explosão no
apontam que esse segmento voltou a apresentar uma caso do Maranhão (de 10,9% em set08 para 21,7% em
tendência de desaceleração, ainda mais se mar09). Assim, os indicadores acumulados até abril de
considerarmos que março de 2009 teve 22 dias úteis, 2009 assinalaram um ponto de inflexão da
comparado com apenas 20 dias úteis em março de inadimplência em todas as esferas (Brasil, Nordeste e
2008. Maranhão). Destaque para o Maranhão, que totalizou
um nível de 20,5% de cheques devolvidos em relação
Volume de vendas no Varejo MA
Dessazonalizado Jan05 a Mar09 (Média de 2003 = 100) valor total emitido no mês de abril de 2009.
220,0

200,0
Dessa forma, o setor terciário apresenta um quadro
de dificuldades desde a explosão da crise financeira
180,0
mundial. Nos últimos meses de 2008, esse setor
160,0 apresentou resultados negativos, principalmente nos
140,0 segmentos dependentes do crédito, uma vez que a crise
120,0 culminou num cenário de retração de crédito e
elevação dos custos. A partir de janeiro, observou-se
uma retomada parcial desses indicadores à medida que
Fonte: IBGE
o comércio implementou medidas defensivas (preservar
Sendo assim, medidas como promoções do comércio e, o crédito e ampliar promoções) e contou com a ajuda
tributárias do governo federal (redução do IPI – de um mercado consumidor interno sustentando por
automóveis, eletroeletrônicos e materiais de uma massa de rendimentos reais (apesar de uma
construção), embora importantes, ainda são redução do emprego – messes de finais de 2008 e

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jan09), assim como, obteve ajuda também do Governo ações através de políticas mais efetivas voltadas a
(isenções de IPI e reduções do ICMS) a fim de minimizar oferta de crédito e redução da taxa de juros para que
os efeitos da crise sobre os consumidores. tenhamos um processo de reativação desse setor na
economia.
O mês de março trouxe um resultado alarmante, pois é
Evolução Mensal do Comércio*
visível que o setor tenha apresentado uma out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09
desaceleração mesmo com as ações dos agentes -2,29 6,13 -3,36 11,01 1,41 -7,00
Fonte: IBGE
econômicos em questão. Contudo, esse quadro poderia
* Compração contra o mês anterior, com ajuste sazonal
ser melhor caso as autoridades aprofundassem suas

Um modelo de projeção de PIB para o Maranhão


O modelo de simulações do GACE aponta um As simulações foram feitas com base nas seguintes
crescimento de 1% no PIB do Maranhão em 2009 e variáveis: consumo de energia elétrica industrial;
3,5% em 2010. Este resultado decorre da perda de consumo de energia elétrica comercial; evolução das
dinamismo da economia maranhense diante dos receitas públicas estaduais e evolução do valor real das
impactos causados pela crise financeira internacional. exportações.

PIB maranhense deve expandir-se cerca de 1,0% em 2009

O modelo elaborado pelo GACE aponta para uma Taxa de Crescimento PIB-MA Nova
diminuição da atividade agropecuária provocada pelos
10,0
Metodologia X Projeção (% a.a.)
efeitos da crise financeira internacional (restrição do
crédito e diminuição na produção e exportações de 8,0
soja, além da virtual paralisação das atividades do
6,0
segmento de produção de carvão vegetal), assim como
pelos efeitos decorrentes do excesso de pluviosidade 4,0
(possíveis quebras de safras das demais culturas). No 2,0
setor Industrial, a Indústria de Transformação,
0,0
fortemente impactada pelas quedas nas atividades
metalúrgica e mecânica, deverá levar o agregado para
baixo, apesar dos indicadores da Construção Civil PIB-MA IBGE PIB Calc
Fonte: GACE/UFMA
apresentarem um desempenho compensatório devido
a expansão do crédito imobiliário e aos Programas
governamentais (PAC e “Minha Casa, minha vida”). compensatório em 2009 e, por conta disso, podemos
Já o setor Terciário, menos afetado pela crise observar um resultado de produção bruta ainda
inicialmente, deverá apresentar um desempenho positivo para o ano de 2009.

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Comércio Exterior
Recessão Européia afeta exportações Maranhenses

A balança comercial maranhense vinha obtendo que como se percebe no gráfico desde 2007, vem
ganhos significativos no período 2004 a 2008, apresentando déficits crescentes e registrou saldo de
apresentando crescimento médio anual de 23% nas US$ 120 milhões no acumulado até abril de 2009.
exportações e de 54% nas importações.
As exportações maranhenses por destino
Diante da crise financeira internacional, percebe-se
uma rápida deterioração tanto nos níveis de apresentaram frustração de divisas quando
exportação quanto de importação, e isto afetou considerado o somatório das exportações para a Ásia,
principalmente o setor guseiro que correspondia a 29% Europa (UE + AELC) e Demais Blocos, de cerca de 165
das exportações do Estado no ano de 2008 impactando milhões de dólares FOB no primeiro quadrimestre do
no emprego e renda nas regiões em que as indústrias ano de 2009, o que corresponde a 31% do valor das
de ferro gusa se encontram. exportações no mesmo período de 2008, ou ainda 36%
Balança Comercial do Maranhão (em milhões de US$ do valor das exportações do primeiro quadrimestre
FOB, 2004 a 2008 e jan/abr08 a jan/abr09) deste ano.
4.500

Há de se apontar o crescimento das exportações para


3.500
os EUA (inclusive Porto Rico), no primeiro
2.500 quadrimestre de 2009, de 49%, em decorrência da
migração das exportações do Complexo Ferro. Essa
1.500
migração se expressa na elevação da participação das
500 exportações do Complexo de Ferro para os EUA, saindo
-500
de 42% no ano de 2008 para 70% no ano de 2009,
enquanto a China e a União européia recuaram na sua
-1.500
participação, de 19% e 21%, respectivamente, para 8%
Exportação Importação Saldo
e 12% no ano de 2009.

Um ponto a ser mencionado a respeito da balança Maranhão - Exportações por Destino


comercial maranhense é que o nível de exportações (Blocos Econômicos em mil US$ FOB e Part. %)
2008 (jan/abr) (B) 2009 (jan/abr) (A) Var. %
Bloco Econômico
caiu menos que o das importações, sendo que as US$ FOB Part. % US$ FOB Part. % (A)/(B)
Estados Unidos (inclusive Porto
exportações apresentaram queda de 13,9% no valor no 141.671 27,2 210.718 46,5 48,74
Rico)
Associação Europeia de Livre
primeiro quadrimestre de 2009 em relação ao mesmo Comércio - AELC
33.041 6,3 80.436 17,7 143,45

período do ano anterior e as importações registraram Ásia (exclusive Oriente Médio) 85.616 16,4 68.549 15,1 -19,93

queda de 72% no valor no mesmo período. União Europeia 144.566 27,7 48.106 10,6 -66,72
ALADI (exclusive Mercosul) 35.998 6,9 15.487 3,4 -56,98
Demais Blocos 80.970 15,5 30.267 6,7 -62,62
Isso ocorreu em virtude de o Maranhão possuir uma Total 521.861 100,0 453.563 100,0 -13,09
Fonte: Mdic
pauta de importações e exportações muito
concentrada, o qual se concentra basicamente em Em suma, a crise financeira sob a ótica da balança
commodities agrícolas e minerais, sendo que o comercial acabou contribuindo para uma melhora no
Complexo Alumínio, Ferro e Soja corresponderam a saldo, o que gerou até um resultado superavitário no
97% das exportações enquanto Combustíveis e primeiro quadrimestre. No entanto, a queda das
Lubrificantes correspondeu a 80% das importações no exportações teve forte impacto sobre o nível de
ano de 2008. Essa queda maior no nível de emprego dos setores exportadores o que acabou
importações melhorou o Saldo da balança comercial, contaminando a economia do Estado como um todo.

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Mercado de Trabalho
Brasil
de dezembro possui uma sazonalidade negativa devido
Apesar da persistência de incertezas no cenário principalmente aos seguintes fatores: entressafra
econômico, o mercado de trabalho brasileiro vem agrícola, termino do ciclo escolar, esgotamento da
apresentando sinais de recuperação desde fevereiro. bolha de consumo no final do ano e fatores climáticos,
Ainda assim, o quadro de empregos formais no país no que permeia quase todos os subsetores de atividade
primeiro quadrimestre de 2009 registrou a demissão econômica. Além disso, o comportamento do emprego
líquida de 800.508 postos de trabalho.Em setembro, no mês de dezembro também é alimentado por fatores
antes de estourar a crise, o mercado vinha com um conjunturais que amenizam ou acentuam a
crescimento de admissões significativo, foram 4.165 sazonalidade negativa presente no referido mês.
novos postos de trabalho, representando 1,27% do
Já a partir do inicio do ano o quadro econômico do
estoque de empregos formais. Se compararmos o
país vem apresentando melhora, de acordo com os
período de jan-set/ 2008 com o mesmo período de
dados do CAGED, abril teve o melhor resultado mensal
2007 foram criados 479.578 novos postos de trabalho.
para 2009 e o terceiro mês consecutivo de expansão,
A partir de outubro as contratações começam a
foram gerados 106.205 que empregos, o que
diminuir e depois passa a apresentar saldos negativos,
representou um crescimento de 0,33% em relação ao
chegando a um declínio em dezembro de 2,11%
estoque do mês anterior (porém se compararmos com
(quantos postos de trabalho?), em relação ao estoque
o mesmo mês em 2008, houve uma queda de 36% no
do mês anterior. Todavia isso não é, necessariamente,
total de empregos gerados). Os setores que mais
efeito da crise, isso porque tradicionalmente, segundo
contribuíram para esse resultado foram os serviços, a
os dados do CAGED, o mês
agricultura e a construção civil.
Maranhão
As estatísticas do CAGED a partir do mês de foco de instabilidade, com a demissão de 2,5 mil
novembro de 2008, permitem perceber de forma pessoas no bimestre novembro-dezembro (2,1 mil
dramática o impacto da crise financeira internacional empregos perdidos acima do mesmo período do ano
sobre o mercado de trabalho maranhense: no bimestre anterior). Os setores com o maior número de
novembro-dezembro de 2008 foram perdidos no demissões líquidas na Indústria de Transformação no
Estado cerca de 6,3 mil empregos, sendo que os último bimestre de 2008 foram o de Alimentos e
setores mais afetados inicialmente foram os Bebidas (1,1 mil demissões), Metalurgia (580
segmentos primário-exportadores, sob influência demissões) e Madeira e Mobiliário (384 demissões). Já
combinada da retração da demanda externa e do os setores de Comércio e Serviços (222 demissões
encolhimento do crédito à produção agrícola, líquidas em conjunto), registraram no bimestre um
especialmente no sul do Estado. Enquanto o segmento número menor de demissões com os maus resultados
de Agricultura e Silvicultura despedia 4,5 mil pessoas concentrados no segmento de Atividades financeiras e
(3,5 mil a mais que no mesmo período de 2007), a Imobiliárias (491 demissões) e de Transportes e
Indústria de Transformação converteu-se em outro Comunicações (191 demissões).

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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

Saldo do Emprego Formal Líquido no Maranhão jan08 a abr09


(Pessoas)
jan08- Nov08- jan09-
nov-08 dez-08 jan-09 fev-09 mar-09 abr-09
Out08 dez08 abr09
Total -919 -5.711 -3.202 -1.243 -402 -879 25.974 -6.630 -5.726
Extrativa mineral -201 -52 -31 14 22 -3 148 -253 2
Indust transform -1.428 -1.036 -727 -471 197 108 4.756 -2.464 -893
Metalurgica -239 -343 -45 -258 -444 -257 100 -582 -1.004
Quim,pr farm, vet -1 -42 -232 -17 -18 379 1.081 -43 112
Prod aliment,beb -822 -277 -225 -38 822 15 1.883 -1.099 574
Serv ind ut pub -34 -29 34 60 28 29 -101 -63 151
Construcao civil 851 -72 -1.409 -866 94 -662 9.371 779 -2.843
Comercio 863 -247 -187 -55 15 -95 4.752 616 -322
Servicos 405 -1243 -654 -100 -23 144 5.593 -838 -633
Adm imov tec pr -149 -342 -84 -123 -107 -68 1.427 -491 -382
Transp e comunic 7 -92 -302 -391 -265 -240 1.240 -85 -1.198
Aloj alim r manut 441 -565 -269 172 218 362 1.361 -124 483
Ensino 50 -273 -89 211 131 37 497 -223 290
Adm publica -22 -6 -5 -10 230 1 176 -28 216
Agric, silvicult -1353 -3026 -223 185 -965 -401 1.279 -4.379 -1.404
Fonte: CAGED/MTE

Entre janeiro e abril de 2009, as estatísticas Variação do Emprego Formal em Municípios


disponíveis apontam para uma suavização da crise no
Escolhidos no Estado do Maranhão*
mercado de trabalho maranhense, com o número de MUNICIPIO ADM DESL SALDO VAR REL %
demissões líquidas passando de 3,2 mil em janeiro SÃO JOSE DE RIBAMAR 210 114 96 1,61
para 879 em abril. Neste movimento os destaques da CHAPADINHA 51 20 31 1,98
recuperação foram a Indústria de Alimentos e Bebidas, ITAPECURUMIRIM 51 23 28 1,08
os Serviços de Alojamento e Alimentação (218 CODÓ 94 71 23 0,61
BARREIRINHAS 24 9 15 2,04
contratações) e o setor público (230). Já na Indústria
GRAJAU 31 101 -70 -3,59
Metalúrgica (1.004 demissões líquidas no
BARRA DOCORDA 53 145 -92 -4,97
quadrimestre) e nas Atividades Agrícolas (-1.404 IMPERATRIZ 915 1.107 -192 -0,56
demissões), centradas nas atividades exportadoras, o AÇAILANDIA 707 935 -228 -1,96
quadro continua preocupante. SÃO LUIS 4.749 5.555 -806 -0,48
Fonte: Caged
Internamente os municípios que tiveram piores * 5 maiores adminissões líquidas e 5 maiores demissões líquidas
resultados são, exatamente, os que dependem, em
maior grau, da pecuária, lavoura, extração vegetal,
fabricação do gusa e construção civil. região para o porto de Itaqui, principal via de
escoamento da produção do Estado. Ainda temos o
O mercado de trabalho vem sofrendo também com fato de que plantações inteiras de arroz e de milho
os fatores climáticos, que desestruturaram foram completamente perdidas, apesar de ainda não
completamente vários municípios, que estão com suas termos a mensuração total dessas perdas. Por outro
atividades econômicas completamente paradas. lado, passado o susto, o mercado de trabalho tende a
Entretanto, ainda não foi possível contabilizar as melhorar, principalmente num setor que teve fortes
perdas causadas pelas chuvas porque não há condições quedas de emprego, o de obras de infra-estrutura
de trafego nas áreas mais atingidas. O quadro só não é (enquadrado na construção civil), isso porque será
mais grave porque a região sul, onde fica um preciso reconstruir a infra-estrutura afetada pelas
importante pólo de produção de grãos não sofreu enchentes. A Secretaria da Infraestrutura estima que
tanto com as chuvas, embora seja preocupante já que serão necessários R$ 180 milhões para recuperar
não há condições de escoamento da soja já colhida na emergencialmente as rodovias estaduais danificadas.

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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

Finanças Públicas
Brasil

A crise financeira mundial tem causado impactos anticíclicas. O resultado, portanto, de receitas x
danosos às finanças públicas da maioria dos países. No despesas no trimestre, foi superavitário em R$ 9,3
Brasil não foi diferente. O país vem sofrendo com a bilhões, contra R$ 31,2 bilhões no mesmo período de
queda nos níveis de arrecadação, principalmente, 2008. Em relação ao resultado abaixo da linha, houve
como consequência da redução da atividade uma forte deterioração da dívida líquida do setor
econômica. Segundo o Tesouro Nacional, no primeiro público em 2009. Assim, apesar de relutar, o governo
trimestre do ano houve uma redução de 1% nas federal diminuiu a meta de superávit primário, ainda
receitas líquidas, que chegaram a 137,5 bilhões de com o intuito de combater os efeitos da crise a partir
reais. Cabe destacar, para esse resultado, fatores de medidas anticíclicas. Outro fator determinante é a
como: queda na produção industrial, que impacta questão política, ou seja, manter coesa a base de
diretamente na arrecadação do IPI (onde o governo partidos políticos aliados, visando as eleições em 2010.
atuou baixando alíquotas de vários produtos para
estimular o consumo); queda na arrecadação do IRPJ, Resultado Primário do Governo Central
resultado de uma menor lucratividade por parte das (em milhões de reais correntes)
jan-abr08 jan-abr09
empresas; e compensação de débitos de COFINS e Descrição (A) (B)
B/A

(R$ MM) (R$ MM) (%)


PIS/PASEP. RECEITA TOTAL 233.908 229.979 -1,68
Receitas do Tesouro 185.467 175.852 -5,18
Receitas da Previdência Social 47.910 53.500 11,67
É Importante também notar que as transferências Receitas do Banco Central
TRANSFERÊNCIAS A ESTADOS E MUNICÍPIOS
531
41.902
627
38.914
17,93
-7,13
federais a estados e municípios, ligadas basicamente à RECEITA LÍQUIDA TOTAL
DESPESA TOTAL
192.006
144.099
191.065
171.570
-0,49
19,06
arrecadação de IPI e IR, recuaram no primeiro Despesas do Tesouro
Pessoal e Encargos Sociais
82.990
40.184
102.115
49.921
23,04
24,23
trimestre de 2009, R$ 1,9 bilhão (6,0%), quando Custeio e Capital
Outras Despesas de Custeio
42.559
25.690
51.840
31.650
21,81
23,20
comparadas com o mesmo trimestre de 2008. Por Investimento
Despesas da Previdência Social (Benefícios)
5.374
60.449
6.761
68.655
25,81
13,57
outro lado, as despesas aumentaram em 19%, para RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL
Tesouro Nacional
47.907
60.575
19.495
34.823
-59,31
-42,51
128,2 bilhões de reais. Esse aumento deve-se ao maior Previdência Social (RGPS)
RESULTADO PRIMÁRIO/PIB (em %)
-12.539
2,50%*
-15.155
1,90%*
20,86
...

gasto com pessoal e com despesas relativas às medidas Fonte: Banco Central
* Referente a março de 2009

Finanças Públicas Estaduais

Contração das receitas federais transferidas mica - impactaram de forma contundente as contas
exigirá priorização das despesas nos próximos meses estaduais. A elevação de 9,0% das transferências via
FUNDEB tem pouca relevância, dado que resultou de
O Estado do Maranhão apresenta elevado grau de uma concentração daqueles repasses em março, que
dependência de transferências de recursos do governo não deverá se repetir nos meses seguintes, além do
federal (60% das receitas), o que o deixa bastante fato do FUNDEB compor apenas 17% do total de
vulnerável às oscilações na instância superior. transferências constitucionais para o Estado. Já o FPE,
que representa 80% dos repasses federais, apresentou
A redução de alíquotas do IPI (imposto que integra uma redução de mais de 12%. Desta forma, o
juntamente com o IR o Fundo de Participação dos montante de transferências declinou quase 10%, como
Estados - FPE), somada à desaceleração na arrecadação mostra a Tabela a seguir:
federal - decorrente da redução da atividade econô-

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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

Transferências Constitucionais Federais para o expandindo o número de famílias beneficiárias no


Estado do Maranhão (ajustado pelo IPCA de Maranhão (750 mil em dezembro de 2008) e houve um
mar09, em R$ mil) ajuste real nos benefícios médios este ano.
Total das
Mês FPE FUNDEB Arrecadação de ICMS a preços de março de
transf.
jan/08 252.449 40.846 307.383
2009 (corrigido pelo IPCA, em R$ mil)
fev/08 276.108 45.630 324.639 2008 2009 Var. %
Mês/Ano
mar/08 216.438 39.491 264.100 (A) (B) (B/A)
1°Tri08 744.995 125.966 896.122 Jan 221.141 218.319 -1,3
jan/09 245.032 35.764 290.991 Fev 199.469 195.843 -1,8
fev/09 227.184 41.490 272.333 Mar 178.145 186.530 4,7
mar/09 181.252 60.109 244.553 1°Tri 598.755 600.691 0,3
1°Tri09 653.468 137.363 807.878
Fonte: CONFAZ
Part. % no 1°
80,9 17,0 100,0
tri09
1°Tri 09 / No que se refere à dinâmica das despesas, os dados
(12,3) 9,0 (9,8) relacionados ao 1º trimestre de 2009 apontam para
1° Tri 08 (%)
Fonte: STN um significativo aumento (44,5% em termos reais),
determinado por uma expressiva elevação nas
Seguindo com a comparação trimestral, o ICMS, que Despesas Correntes (R$$ 220 milhões), nas Outras
representa mais de 90% das receitas próprias (e cerca Despesas Correntes (R$ 160 milhões) e também nas
de 35% da receita total), registrou crescimento quase despesas de Investimento (R$ 202 milhões). A
nulo no primeiro trimestre do ano (Tabela abaixo). elevação de gastos contabilizada, até o momento,
consumiu grande parte do superávit de caixa herdado
As chamadas transferências voluntárias deverão do ano anterior (R$ 1.128 milhões), o que implicará,
exercer um papel compensatório em 2009 e 2010. No mais à frente, em menor liberdade para execução de
caso do Programa Bolsa Família, este continua política fiscal anticíclica.

Despesas Escolhidas do Governo do Estado do Maranhão a


preços de Março de 2009 (R$ mil, inflacionado pelo IPCA )
Juros e Transferen-
Despesas Pessoal e Investi- Despesas
Mês encargos cias aos
correntes encargos mento Totais
da divida municipios
jan/08 182.494 171.809 0 3.159 0 182.494
fev/08 341.330 135.682 62.391 114.387 3 394.433
mar/08 385.223 240.156 43.032 53.714 15.772 418.065
1°Tri08 909.046 547.647 105.422 171.261 15.775 994.992
jan/09 275.578 180.544 37.112 52.094 0 307.955
fev/09 300.507 193.763 38.830 22.015 252 331.010
mar/09 553.096 216.644 42.336 112.191 217.194 798.274
1°Tri09 1.129.180 590.952 118.277 186.300 217.446 1.437.239
1°Tri 09 /
24,2 7,9 12,2 8,8 1.278,5 44,4
1° Tri 08 (%)
Fonte: SIAFEM

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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

A teoria Keynesiana aponta a importância do gasto real dos gastos nas chamadas atividades-fim, como
público como elemento fundamental para a educação (90%), assistência social (87%), saúde (29%) e
sustentação do emprego e da renda em situações de segurança pública (20%), embora as atividades como
crise. Principalmente quando os gastos são orientados Ciência e Tecnologia (-68%) e Cultura (-20%), dentre
para atividades não recorrentes e fortemente outras, tenham sofrido cortes expressivos.
geradoras de emprego e de impostos. Deste ponto de
vista, a elevação do investimento em 1.278,46% na Entretanto, o aumento das despesas sob a rubrica
comparação do 1º trimestre de 2009 com o 1º de Administração (35%) faz um contrapeso significativo
2008, tem certamente um papel positivo, embora em relação à qualidade do redirecionamento citado
tenha sido influenciada decisivamente pela transição acima. Está em aberto o que ocorrerá sob a nova
política vivida no Estado. administração, em uma situação de piora progressiva
A análise da distribuição das despesas por função na arrecadação de receitas próprias e transferidas, da
na comparação do 1º bimestre de 2009 com o 1º de necessidade de gastos emergenciais para enfrentar os
2008 (Tabela 4), embora ainda sujeita a importantes estragos causados pelas fortes chuvas e tendo em vista
modificações ao longo do ano, mostra um a drástica redução do saldo do governo herdado de
redirecionamento dos gastos. Houve uma ampliação 2008.

Finanças Públicas Municipais

A queda de atividades na economia caiu sobre a ano. As perspectivas de continuidade da retração da


arrecadação federal e estadual impactando os repasses produção industrial e a possível renovação dos cortes
aos municípios, sendo que estes dependem em de IPI deverão manter a pressão.
primeiro lugar dessas transferências, que representam
cerca de 95% das receitas municipais. Com a esperada
Evolução das Transferências Federais Constitucionais aos
frustração de receita, chamamos atenção para a
Municípios do Maranhão
necessidade de um maior controle sobre as despesas. (Valores Constantes de Abril de 09, Corrigidos Pelo INPC)
Período FPM FUNDEB Outras Total
Receitas Peso na média do 1
o
56,8 42,7 0,5 100,0
quadri09
O FPM, que representou 56,8% das transferências 2008/2007 29,9 10,7 -39,0 19,1
federais aos municípios maranhenses no primeiro dez08/dez07 31,1 - 824,6 -20,1
Jan09/jan08 -3,9 -20,2 -30,8 -11,7
quadrimestre de 2009, exibiu uma queda em termos fev09/fev08 -18,1 -8,9 818,9 -13,8
reais de 13,3% no primeiro quadrimestre do ano e de mar09/mar08 -16,9 43,4 -63,5 10,8
abr09/abr08 -14,3 -100,0 -80,8 -52,7
14,3% no mês abril em relação ao mesmo período de 1o tri09/1o tri08 -12,9 3,1 -32,4 -5,8
2008 mês do ano anterior. 1°quadri09/
1°quadri08 -13,3 3,1 -53,1 -17,4
No total de transferências aos municípios a queda Fonte: STN
no primeiro quadrimestre do ano elevou-se a 17,4%,
pressionado pelo não repasse dos recursos do FUNDEB
Despesas
naquele mês. A forte queda no valor das
transferências constitucionais é resultado da
Em relação às despesas dos municípios
combinação da retração da atividade econômica e
maranhenses, levantamento feito pelo Tesouro
também dos cortes na alíquota de IPI para incentivar o
Nacional com os indicadores de 2007 mostra que as
consumo de bens duráveis de consumo e de material
despesas correntes atingiram naquele ano em média
de construção implementados a partir de janeiro deste
88,2% das despesas totais, enquanto que os

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GACE - Carta Mensal de Conjuntura Maio de 2009

investimentos atingiram apenas 10,4% em média. Uma de 50% da Receita Corrente Líquida imposto pela Lei
atenção redobrada deve ser tomada na rubrica das de Responsabilidade Fiscal. Já no que diz respeito ao
despesas com pessoal e encargos pelo cenário atual gasto por funções, nos chamados setores-fins (saúde e
das receitas e pelo fato de ser um gasto recorrente. Em educação) temos em média 59,8% sobre os gastos
média os municípios analisados gastam 44,1% do total totais, 27,3% referente à saúde e os outros 32,4% a
com aquela rubrica e percebe-se que em um cenário educação, com uma dispersão bastante grande,
de continuidade da queda das receitas correntes, entretanto.
vários municípios do Estado poderão romper o limite

Composição das Despesas dos Muncípios Maranhenses Escolhidos - R$ Mil e


em % da Despesa Total - 2007
Em % da Despesa Total
População Ranking Despesa Total
Município Despesas Pessoal e investi-
2006 da pop (R$ MIL) capital saúde educação
Correntes Encargos mentos
São Luís 998.385 1 1.030.365.374 92,7 40,6 7,3 6,3 21,1 19,1
Imperatriz 232.560 2 183.091.971 94,2 42,0 5,8 5,5 33,9 27,5
Timon 146.139 3 126.458.738 91,5 49,2 8,5 6,9 23,4 32,8
Caxias 144.387 4 133.912.103 84,5 50,0 15,5 13,1 33,0 28,2
São José de Ribamar 134.593 5 71.230.191 79,1 39,6 20,9 18,8 24,7 29,2
Codó 115.098 6 78.807.044 89,8 49,6 10,2 7,2 28,0 34,5
Açailândia 106.357 7 100.110.147 79,6 33,7 20,4 18,6 22,8 26,3
Paço do Lumiar 101.554 8 39.975.219 85,4 45,4 14,6 13,2 27,5 25,4
Balsas 73.848 13 79.303.938 84,8 38,5 15,2 14,9 25,2 23,5
Zé Doca 51.966 19 36.064.869 94,3 49,1 5,7 4,1 34,9 36,6
Itapecuru Mirim 51.338 20 41.773.864 85,4 48,2 14,6 14,4 20,9 35,5
Viana 45.925 21 27.555.598 96,5 32,1 3,5 3,5 31,5 40,8
Barreirinhas 45.804 22 38.836.786 89,8 52,4 10,2 10,2 25,9 49,3
Pedreiras 43.519 25 27.460.565 94,6 37,7 5,4 4,9 37,1 25,3
Penalva 31.047 46 24.417.002 94,7 44,9 5,3 4,3 20,9 50,6
Estreito 25.520 58 19.815.884 91,8 47,5 8,2 5,9 25,8 38,5
Mirinzal 13.857 124 11.732.941 83,3 44,2 16,7 14,8 28,2 27,0
Benedito Leite 5.590 202 5.396.631 75,0 49,0 25,0 21,5 27,2 33,7
Média 88,2 44,1 11,8 10,4 27,3 32,4
Fonte: STN

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