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sexta-feira, 26 de março de 2010

Carta do Dia: O CARRO


Carro Encontrava-se, um dia, Apolo, sentado em seu resplandecente trono, ce
rcado dos Dias, dos Anos, das Estações, das Musas, em seu palácio, quando à sua
frente surgiu Faetonte, seu filho com a mortal Climene, uma ninfa. Faetonte lá
se dirigira para solicitar ao seu divino pai que o ajudasse a provar ao mundo qu
e ele era seu filho, já que as pessoas na Terra zombavam dele, dizendo que não s
ó sua mãe, mas também seu pai eram meros mortais.
Apolo, comovido com o sofrimento do filho e com seu pedido de ajuda, jurou-
lhe que, fosse qual fosse a forma que ele gostaria de realizar o seu pedido, ele
o ajudaria, dando-lhe sua palavra de deus. Faetonte, então, pede-lhe que o deix
e, apenas por um dia, dirigir a sua carruagem alada do sol. A expressão de Apolo
torna-se séria, angustiada e temerosa, pois bem sabe que seu filho não está cap
acitado para percorrer a imensidão dos céus, enfrentando a subida íngreme da Aur
ora, a entontecedora altura do carro quando atingia o meio do dia e, depois, a a
celerada e quase incontrolável descida rumo ao Poente. Ele mesmo, o próprio deus
, sentia-se abalado pelo medo pela altura e o veloz percurso do seu dourado carr
o. Uma vez mais, suplica bom-senso a Faetonte, dizendo-lhe que considere, também
, o fato de que ainda não tem a força e a destreza necessária para, com firmeza,
administrar e conduzir todas as manobras.
Mas Faetonte estava irredutível em seu pedido e, como Apolo lhe dera sua sa
grada palavra, foi conduzido pelo pai às estrebarias, onde se deslumbrou com a b
eleza do ouro e da prata e com o fulgor das pedras preciosas que adornavam o veí
culo. Como o alvorecer já se fazia notar no leste, e as Horas já haviam atrelado
os cavalos, Apolo cobriu o rosto do filho com um mágico unguento e deu-lhe os d
erradeiros conselhos finais, suplicando-lhe que usasse apenas as rédeas para con
duzir, evitando as esporas, que feriam e descontrolavam os animais. Pediu-lhe ta
mbém que se mantivesse afastado dos Polos Norte e Sul, e que não queimasse a Ter
ra, voando muito próximo a ela e nem a resfriasse, mantendo-se em grandes altitu
des. Enfim, que mantivesse controle e sobriedade, percorrendo o trajeto de manei
ra equilibrada, segura, constante.
Faetonte então saltou dentro do iluminado veículo e os cavalos, num salto,
começaram a sua jornada diária. Como o carro estava mais leve que de costume, os
animais começaram a vaguear rapidamente pelo céu, aproveitando a inexperiência
de seu cocheiro. O carro afastava-se cada vez mais da terra e da rota traçada. A
altura era imensa e Faetonte, enregelava-se de pavor, entorpecido com a velocid
ade, o frio e o ar rarefeito, para, no momento seguinte, em disparada, os cavalo
s se aproximarem a espantosa velocidade da Terra queimando plantas e animais, se
cando rios e fontes.
Aterrorizado, Faetonte, soltou as rédeas que guiavam os animais o que fez c
om que os cavalos, sentindo-se livres, entrassem por regiões desconhecidas dos c
éus, para no instante seguinte estarem novamente sobrevoando, a grande velocidad
e, o fogo que queimava a terra. A fumaça e as fagulhas finalmente envolveram o b
rilhante veículo e começaram a queimar os cabelos do jovem, inexperiente e prete
nsioso cocheiro, fazendo com que que ele, desesperado, caiu do carro e foi lança
do das alturas no oceano lá embaixo. Apolo, seu pai, que a tudo presenciara, ent
ristecido, baixou sua luminosa cabeça e cobriu-a com seus lamentos. Lá embaixo,
sem a presença do sol, apenas o avermelhado incêndio iluminava a escuridão.
A lenda de Faetonte exemplifica a busca de um lugar no mundo que lhe seja p
róprio, onde possa ser reconhecido por si mesmo e possa exercer a sua verdadeira
vocação. O que lhe falta, como falta a muitos de nós, é a paciência para aguard
ar o tempo certo de realizar-se, de colher os frutos e demais recompensas, sem c
air no erro de a tudo atropelar por ainda desconhecer as suas reais capacidades
e verdadeiras limitações.
Apolo, que também era o deus da previsão e da profecia, bem sabia, de antem
ão, o final trágico que sucederia por concordar e satisfazer o pedido do precipi
tado filho. Mas talvez com remorso ou culpa por pensar ter sido negligente com o
filho, recompensa-o concordando com seu infantil pedido. Isso acontece muitas v
ezes quando filhos insistem, e conseguem, “dar uma voltinha” com o carro, por ex
emplo, sem estarem plenamente habilitados, portando seus documento legais. Não é
nem uma, nem duas vezes, que ouvi pais dizerem “Ah, coitadinho! Estuda a semana
toda, quase nem se diverte. Ainda a pouco me pediu para lavar e encerar o carro
… Ele dirige tão bem! Fui eu mesmo quem ensinou. O menino dirige melhor do que e
u! Deixa ele dar uma voltinha, dar uma paquerada por aí, se exibir um pouquinho.
A garotada precisa desse voto de confiança nosso. Eu, no tempo dele, fazia igua
l com o meu falecido pai. Logo, logo ele está com a carteira de habilitação nas
mãos e daí então, ninguém vai segurar mais este rapaz! Deixa o garoto se diverti
r um pouquinho…” Normalmente esse é um caminho que conduz a momentos de muita te
nsão, sofrimento, arrependimento e dor. A fatalidade espera e se alimenta de opo
rtunidades como esta. Se o pai se sentia culpado de alguma omissão em relação ao
filho, agora ele viverá o dissabor de concordar e favorecer uma atitude inconse
quente do mesmo.
Os gregos tinham a palavra hybris, que significa orgulho, insolência, desej
o de assemelhar-se aos deuses, para definir esse processo de aprendizado que tod
os temos que enfrentar na vida, que é o de assumirmos nossas capacidades, saberm
os de antemão o quão distante podemos prosseguir, termos consciência das nossas
aptidões e, também, daquilo para o que não temos ou estamos habilitados. Ter hum
ildade em reconhecer suas próprias limitações não deve ser encarado como algo ne
gativo ou um impedimento. Ao contrário, essa é uma força libertadora que nos imp
ulsiona a nos desenvolvermos sempre e mais. Não significa ficar acomodado às sua
s limitações, desenvolvendo uma imagem de auto-piedade e também não deve induzir
ao comodismo, de aceitar-se como é, num determinado estágio, sem esforçar-se em
progredir, por pura preguiça.
O que muitas vezes ocorre é que pretendemos viver a vida dos outros, que, f
requentemente, sempre nos parece mais glamorosa, fácil e bem sucedida que a noss
a. Isso é hybris. A expressão “a grama do vizinho é sempre mais verde” a isso se
refere. Temos horror a nos vermos condenados a vidinhas comuns, onde nada nos p
arece excitante e interessante, digno da imagem que fazemos de nós ou que nos ac
hamos merecedores. O Carro simboliza uma iniciação que devemos enfrentar, a de a
madurecermos, tornando-nos adultos, encontrando o nosso lugar dentro de uma estr
utura social bastante ampla. Essa nosso rito de passagem nos revela muito de nós
mesmos, especialmente sobre nossos potenciais e limitações. É necessário que es
se nosso desenvolvimento supere a sensação de insignificância que costumamos sen
tir sobre nossa pessoa e fortaleça nossa coragem e humildade para que possamos n
os aperceber que a presunção, a ambição desmedida, a falta de preparo e de aptid
ão e, até mesmo, uma vocação definida, pode nos conduzir por caminhos bastante p
erigosos. Inúmeros são os exemplos de pessoas que perderam suas economias, endiv
idaram-se única e exclusivamente para manterem a imagem de uma personalidade, um
a situação ou um padrão de vida que não estavam aptos a sustentar, apenas para s
e sentirem importantes para si próprios e incluídos por determinados segmentos s
ociais ou grupos, numa imatura e suicida tentativa de assemelharem-se a eles.
Quando bem aspectada, numa leitura de tarot, e sempre dependendo da sua rel
ação com as cartas que se lhe avizinham, bem como da questão proposta pelo consu
lente, o Carro pode indicar uma boa chance, uma oportunidade que surge; moviment
o, destinação; viver grandes aventuras e correr riscos; um novo ciclo, uma evolu
ção, um ponto de virada; tomar as rédeas da própria vida; destino, carma, sorte;
auto-realização; auto-confiança, auto-disciplina; desenvolvimento e fortalecime
ntos de habilidades tendo por finalidade uma meta; força de vontade; conquista;
determinação; coragem; enfrentar provas e desafios; controlar o que pensa e o qu
e sente; manter-se no caminho certo; viagens mentais e físicas.
07-Major-Chariot Ligando Geburah (a Força) a Binah (a Grande Provedora) na
Árvore da Vida Cabalística, o Carro percorre o 18 caminho na busca de uma exper
iência introdutória (iniciação) ao Supremo Eu Espiritual. Em Alquimia, essa expe
riência é descrita como o processo chamado “exaltação”, onde o Alquimista se tra
nsforma na Pedra Fundamental. É o caminho pelo qual a abundância amplificada é d
istribuída sobre todas as criaturas. Na visão do profeta Ezequiel, é descrito um
a espécie de veículo constituído por figuras com quatro faces, representando os
quatro elementos, que suportavam um trono. Esse é o conceito aceito pelo pensame
nto judaico primitivo do Merkabah, ou seja, o Carro que transporta o Trono. O Ca
rro se desloca entre a Luz, centrada em Tiphareth, e a Suprema Escuridão, que se
situa no lado oculto de Kether.
O Carro representa o nosso desejo, a nossa ambição e vontade direcionada de
vencermos, o que se acontecerá desde que essa conquista seja realizada através
de planejamento elaborado, dedicação extremada e perseverança. O Carro é o nosso
veículo para evoluirmos, para nos locomovermos para patamares mais elevados.
Nesta sexta-feira, dia da semana regido por Vênus, a Lua Crescente continua
em Leão, possibilitando que nos vejamos com muita clareza e honestidade. É temp
o propício para, não só reconhecermos e nos utilizarmos dos nossos potenciais e
habilidades latentes, mas também humildemente reconhecermos nossos limites. Canc
er, o representante astrológico do Carro, simboliza o elemento Água, sendo porta
nto pura emoção. É preferível ficar sozinho, ou pelo menos menos exposto, se não
puder estar na companhia de amigos, para não correr riscos de sentir-se magoado
ou irritado com as demais pessoas.
Se houver tempo e possibilidade, procure meditar na frase do militar francê
s, herói da 1 Grande Guerra, Marechal Ferdinand Foch: “A vitória é um produto d
a vontade”, e aproveite o dia!
Um ótimo fim de semana para todos!
Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura
Arcanum)
WWW.ELEMENTOSDOTAROT.COM.BR

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