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‘Ab, quanta vez, na hora suave Em que me esquego, ‘Vejo passar um voo de ave Eme entristego! Porque ¢ ligeiro, leve, certo No ar de amavio? Por que vai sob 0 céu aberto Sem um desvio? Porque ter asas simboliza Aliberdade Que a vida nega ea alma precisa? Sei que me invade Um horror de me ter que cobre Como uma cheia Meu coragao, e entorna sobre Minh’ alma alheia Um desejo, nao de ser ave, Mas de poder Ter nao sei qué do voo suave Dentro em meu ser. Fernando Pessoa, Poesias (1918-1930), Assirio & Alvim, 2 2. Mostre, atendendo as trés interrogagées retdricas w. 5a), donde advém a tristeza do sujeito liric. 3. Identifique, justificando com o texto, o desejo ou sonho que se evidencia. = 4. Explicite um dos valores expressivos da aliteragao em “v" que predomina no poema. Lote axcinanicrie; © seyunns Keates A censura do Lépis azul é 0 processo inerente a legitimicade dos regimes despéticos e da titania. F cor tada a palavra que escapa aos ditames do tirano, qualquer que seja o nome que ele se atribui. F a censura do dizer, do enunciado, que se abate sobre o direito & vida efvica ou mesmo biolégica do enunciador censurado. 5 Acensura dominante nos regimes democraticos ¢ aparentemente mais subtil.£ a censura que obriga a dizer, a confessar os sentimentos, ¢ a censura que obriga a suportar a tagarelice interminavel que encontra. mos hoje em todos os meios de propaganda do poder e se derrama capilarmente pelo tecido social, nomea- damente através dos meios de comunicagdo de massa. Esta censura tem sobretudo horror ao siléncio. Para o Estado Novo, era a palavra que era de facto perigosa; para o Estado democratico € o siléncio que 6 inquietante, perturbador, na medida em que representa o risco de deixar proliferar margens incontrola- das pelas massas, pelas maiorias. ‘Adlano Duarte Rodrigues, “Pguras das maquinas censurantes modermas; in Revista de Comunicagae e Linguagens 1, marco de 1985 1. Atente na sequéncia “para o Estado democratico ¢ 0 siléncio que 6 inquietante, perturbador, na medida em que representa o risco de deixar proliferar margens incontroladas pelas massas, pelas maiorias”. Reescreva as frases, substituindo “na medida em que” pela conjungao subordinativa consecutiva “que” (antecedida de tal, tanto, t&o, de tal maneira, de tal modo), procedendo a todas as alteracdes que consi- Hara nanacedriae 2. De entre as afirmagées segt corresponde a opeao correta. 'es, escolha, identificando-a através da alinea respetiva, a hipétese que 2.1, Na frase “A censura dominante nos regimes democraticos 6 aparentemente mais subtil.” 5), a expressao sublinhada desempenha a fungdo sintatica de (A) complemento direto. {C) predicativo do sujeito. {B) sujeito. (D) complemento agente da passiva. 2.2. Na frase “E cortada a palavra que escapa aos ditames do tirano” #.1-2), a expressao sublinhada desempenha a funcdo sintatica de (A) complemento direto. (C) predicativo do sujeito. (8) sujeito. {D) complemento agente da passiva. 2.3. A oragdo sublinhada na sequéncia “a palavra que escapa aos ditames do tirano” 1.2) & (A) subordinada substantiva completiva. (C) subordinada agjetiva relativa explicativa. (B) subordinada adjetiva relativa restritiva. (D) subordinada adverbial causal 2.4, Na sequéncia “a tagarelice interminavel que encontramos hoje em todos os meios de propaganda do poder” #1. 6-7, a palavra sublinhada é um (A) advérbio de frase, (C) advérbio de predicado. {B) advérbio conectivo. (D) advérbio de inclusao e exclusao. 2.5. Na sequéncia “que encontramos hoje em todos os meios de propaganda”, 0 elemento sublinhado éum(a) (A) conjungao, (C) advérbio de predicado. {B) locucao prepositiva. {D) preposigao simples. 3. Responda de forma correta aos itens apresentados. 3.1, Identifique o antecedente do pronome sublinhado na expresso “o nome que ele se atribui” 1.2 3.2. Indique o valor do adjetivo na expresso “regimes despdticos” i». 3.3. Classifique sintaticamente o elemento sublinhado na expresso “que era de facto perigosa” 1. 9). 3.4, Indique qual a modalidade presente no segmento “A censura dominante nos regimes democriticos aparentemente mais subtil.” (.5) Grupo !l-A |. Asimagense ideas sugeridas pelo voo de ave sao de leveza e ‘de certeza, de harmonia ou de encanto e de liberdade. Aleveza nota-se no voo “ligeiro, leve”; a certeza é percetivel no apenas na referéncia @ “certo” (v. 5), mas também quando vai “sob o céu aberto / Sem um desvio"; a harmonia e 0 encanto estéo ndo sé nesta levezae certeza, mas também no “ar de amavio’, ou sea, no ar de encantamento, harmonioso. Quanto a liberdade, ¢ o proprio poema a referr que “ter asassimboiza/ A liberate" (vv. 9-10). 1. 0 sujeito lirico, ao fazer as trés interrogagdes, fica fescinado com a ave e com a sua liberdade. Sente, porém, que “a vida ‘nega, isto é, percebe que a vida concreta nao permite usufruir da liberdade de que “a alma precisa’. }. Invadido por um “horror’, o sujeito lirico deseja “Ter ndo sei qué ddoveo suave Dentro emimeu ser. Apesat da consciéncia da im- possibilidade de “ser ave" e de ter a sua liberdade, sente dentro de sium indefinivel anseio de se libertar. |. Aaliteracéo em“v": ~ serve para intensificar o ritmo e provocar uma certa harmo- tia expressva ou imitativa 20 poema; = pode sugerir a imagem ondulante do voo da ave; — pode associar-se ao som do bater das asas; Grupo Il 1. “para o Estado democratic 0 sléncio que é de tal modo inqu tante, perturbador, que representa o risco de deixar prolife ‘margens incontrolades pelas massas, pelas maiorias.” 2. 21. (C) pre 22. (@) sujet 2.3, (B) subordinada adjetive relative restritive. 2.4. (Q) advérbio de prediicado. 2.5, (D) preposicao simples. 3. 3.1.Thano, 3.2. (Valor) restritivo, 3.3. Prelicativo do suai, 3.4, Modalidade apreciativa. Grupo Ill Exemplo de dissertacio Se assumirmos como verdadeira a afirmacio de Fernan Pessoa, segundo a qual, quando Deus quer e o Homem sonh “a obra nasce’, entéo € naturalmente verdade que "sempre que u hhomem sonha / 0 mundo pula e avanca”. Mais ainda: segund poema de Gededo, o mundo nao se limita s6 a pular ea avang mas consegue fazé-o com a leveza ea beleza de uma “bola co rida entre as mdos de uma crianga*. De facto, sinénimo de deseio. de ideal. “o sonho comanda tivo do sujeito.

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