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kocH , Ingoow 6n Ld, Nik daeq . TRAVAGLig, wis. Gat os. 6. 6d - - Se yee as Capitulo 4 COERENCIA: DE QUE DEPENDE, COMO SE ESTABELECE 4.1. Consideragdes gerais ee eee aC ree ort | ecu uids a mane eee ee aselinet ee el ee eee iat cas aa ee ee Siodsc es sea ect seinen Rosie oot hueeaee ds aaa os | came are Os enue 8e scree oan ease || tote pomeranian see Sansa ta pares a nee Seis Talal mae salaionan alan cea eaten ees ‘sua organizagéio em uma cadeia lingiifstica e como ¢ ‘onde cada elemento se encixa nesta eadeia, isto é, 0 contexto lingiiistico; b) do conhecimento de mundo (largamente explorado pela semantica cognitiva e/o | procedural), bem como o grau em que esse cortheci- ‘mento é partithado pelo(s) produtor(es) e receptor(es) do texto, 0 que se reflete na estrutura informacional 47 do texto, entendida como a distribuigso da informa- nove e dada nas enunciados e no texto, em fungao de fatores diversos; ¢) de fatores pragmdticos e intera- cionais, tais como 0 contexto situacional, os interlo- ccutores em si, suas crengas e intengGes comunicativas, ‘8 funga0 comunicativa do texto, Evidentemente, cada um destes fatores se relacio- nna com outros fatores. Assim, o conhecimento de mun- do teré a ver, na interpretacio, com a construgio de tum mundo textual © sua adequago aos modelos de mundo do produtor e receptor do texto, Essa constru- ‘gio do mundo textual vai depender largamente das inferéncias que interpretador faz. ou pode fazer. Em nivel semantico, tal conhecimento de mundo terd # ver com 0 estabelecimento de uma unidade/continui- dade de sentido, um sentido Gnico para o todo. Ligada ainda a0 conhecimento de mundo, temos a questo dda informatividade, que diz respeito & previsibilidade/ imprevisibilidade da informagio dentro do mundo textual © contexto situacional se relaciona tanto com 0 nivel semfntico e 0 conhecimento de mundo, como, por ‘exemplo, na identificagdo de referentes deiticamente indicados, quanto com 0 nivel pragmético, quando, é por exemplo, s6 se pode identificar que ato de f executado por um enunciado por saber situacion: ‘mente que temos um patréo falando com o empregado hhuma Fabrica, Retornaremos a estas questées no item sobre situacionalidade Pragmaticamente, principios conversacionais, co- mo os de Grice (1975), podem afetar 0 estabele mento di coeréneia. Grice estabelece, como postulado 46 bésico que rege a comunicagio humana, © Principio da Cooperagéo (“Faga sua contribuigio’ conversacio- ral tal como & requerida no momento em que ocorre pelo propésito ou direcio do intercambio em que esté Mé fengajado”) do qual decorrem quatro méximas: xima da Quantidade ("Faga que sua contribuigéo tio informativa quanto for requerido para 0 pro corrente da conversagio; no a faga mals informativa do que © requerido”); b) Maxima da Qualidade (“Nao diga 0 que acredita ser falso; nfo diga sondo aquilo para o que voc’ possa fornecer evidéncia adequada”); ©) Méxima da Relacdo ("Seja relevante”, pertinente d) Maxima do Modo ("Seja claro”). Charolles e Franck apresentam 0 principio da cooperago como bésico no processo de interpretagio ue leva ao estabelecimento da coeréncia: os usuérios sempre se assumem mutuamente como cooperatives e, pportanto, eréem que a seqiléncia linglistica a ser inter- pretada foi produzida para ser um texto coerente, quer (8 sinais de coeréncia se manifestem diretamente na lingistica ou nfo, Isto se explica por meio \de que abordamos em 4.8., fa saber, a intencionalidade ¢ aceitabilidade. Charolles (1987) enfatiza que a coeréncia é estreitamente depen- dente do interpretador que recebe 0 texto & busca terpreté-lo, usando seus conhecimentos.lingil de mundo ete. Nos textos conversacionais orais, elementos para- Tingiisticos também stuam no estabelecimento da coeréneia: olhar, movimentos do corpo (Goodwin, 1981), expresatio facial, posturas corporais, interagio corporal (proximidade, toques ete.), gestos (deiticos ou 49 fnfo) podem dar o sentido ou modificar totalmente o sentido do que se enuncia, afetando, pois, a coeréneia, Van Dijk (1981) apresenta a seguinte lista: movimen- tos deiticos, outros gestos, expressiio facial, movi- ‘mentos do corpo e interago corporal, como afetando a identificago de atos de fala realizados através dos fenuneiades. Sabemos que, em muitos casos, tais ele- ‘mentos afetam o enunciado também no que respeita a seu sentido ndo-pragmético, proposicional, Outros elementos que afetam 0 céleulo do sentido e, portanto, @ coeréncia, apenas no oral, si0 a entonagio © fatores prosédicos em geral, como velocidade e ritmo de fala Diferengas da coeréncia no oral e no escrito ainda apresentadas nas segGes 2.4, 4.2. € 4.7. A coeréncia depende também da observagiio de certas convengées sociais de como se devem realizar certos atos de fala. Assim, por exemplo, a fala do doente mental nio se preacupa com o significado social das ligagdes que faz e, por isso, soa incoerente. Charolles (1978) prope quatro meta-regras de coeréncia: repeticdo, progressio, ndo-contradigao ¢ relacdo. Segundo a meta-regra de repetigio, um texto, para ser coerente, deve conter, em seu desenvolvimento linear, elementos de recorréncia estrita. A meta-rogra de progressio diz que, para que um texto seja coe rente, & preciso haver no seu desenvolvimento uma contribuigio seméntien constantemente renovada. gue se depreende dessas duas regras é que, em todo texto, deve haver retomadas de elementos ja enuncia dos e, no mesmo tempo, acréscimo de informago. Séo estas idas © vindas que permitem construir textual- mente a coeréncia. As retomadas so feitas, em grande 50 parte, por meio dos mecanismos de coco referencia Ere progres, exer papel importante of, me mismos de coesfo sequencial (ef, Koch, 1989). 150 €, t coctéacia manifesto parcalmente no texto através dow mecanismos coesivon, Segundo « metaopra de rao-ontradigdo, para o texto ser coerente, "6 precio {ue no sou desenvolvimento nio se introdza nena Clemontosemintico que contradign in conteudo posto fu pressporto por ima ocorénei anterior, ou ded vel et por Inia J pel metaven dol 0 texto str coorente se "or fatos que 36 denotam fo mundo representado etejam telacionndos”. Poste ormente, Chaoles (1979) prope aerécimo da Ireterepra de macroestrutura, tmada do empréstio van Dik Podersein acescntar uma meta-egra de “super estruura™, que tera a ver‘com a estrutura cada tipo de_texor descrtve, naraivo,disertaivo ot Isto corrobors ¢ que propusemos om 2.4. reiteramos ha seg sobre intrtextualidade quanto 2 relasfo entre tipos de texto cowrncla, Para Charles (1978), a6 mmoteregras tram da vonstuigao da cadet de repre Soniaydessemdnticase suas rlagdes de conexidads que Constituom 0 tonto, As metaegras estabelecem “um ero ndnero de condgdes ue um texto deve saiste fer para ser reconheeldo como bem formado por um dead receptor, numa dada situsyio", Ors, a intodugdo do recoptor ed stuapiotraz tone a queso da inter Tocupto'e deisn claro que tals meteregan stfo aul tas nopecton da situagdo de comunieaslo © nos por sr eufienes para expliar ae condigdes qe un texto deve atender para ser bem formado 31 Antes de passarmos wo comentario, de forma mais particularizada, da relagao da coeréneia com os fatores aqui levantados, gostariamos ainda de registrar as colo. jeages de Franck (1980) sobre seqincias jortemente © fracamente coerentes Franck (1980) propde a incluso, na andlise da conversagio, da nolo de relevancia da teoria dos atos de fala, afirmando que a fala de um interlocutor € feerente com a fala do antecessor, no sentido mais amplo do termo, quando ela retém’ um aspecto signi ficativo, ainda que secundévio, da fala anterior, SO em continuagées optimais, as pressuposicdes © a estru ‘tra temética dos enunciados anteriotes sé totalmente fassumidas suas preferencias de continuagéo atendi das, Para Franck, neste caso, temos uma contribuigao (fala) fortemente coerente, porque seu aspecto signif cativo essencial se liga ao aspecto significative essen. cial da contribuicdo (Fala) anterior. No outro caso, em ue © aspecto significativo essencial do segundo taro se orienta para um aspecto no essencial do primeiro, Qu vice-versa, temos uma fala fracamente coerente, seguinte exemplo:, (11) (A ~ 0 Se. desja falas com meu mario? 0 interpeldo pode prosseguir com uma das soguintes fata (2) B — sim, por favor, se nlo for incomodéto, prezada senhors (5) B— Por que? A senhors & espose de. Wilt Maller? (4) B — No fal asim tho cheia de si eu.» conbeso de antigamente, Lis. () 8 — Pat ndo fale to allo, Ninguéoy deve nos Para Franck, (2) é fortemente coerente com (1), © (5) a GS) so fracamente coerentes. Franck afirma que falas fracamente coerentes podem perturbar a eval ‘sfo harménica de uma conversacdo ou irritar 0 par- cio, ofendendo-o. Isto ocorre porque 0 receptor con- sidera que © outro ndo coopera adequadamente, des- viando © rumo da conversagio. Para nds, quando a coertncia 6 forte, estabelece- se facilmente a relagfo entre as falas, ocorrendo 0 ‘posto no easo da coeréncia fraca, Nas segdes seguintes, buscaremos explicitar como cada tipo de fator e/ou cada fator em particular con- corre para o estabelecimento da coeréncia 2. Conhecimento Hingis Todos os estudiosos s80 undnimes em admitir que 5 elementos lingifsticos tém grande importancia para © estabelecimento da coeréncia, embora Brown ¢ Yule (1983) afiemem que ¢ ilusto pensar que entendemos 0 significado de uma mensagem com base apenas nas palavras e na sintaxe. Buscando evidenciar que a com: preenstio depende de nosso conhecimento de mundo de fatores pragmsticos, do exemplos de mensagens lin- aiiisticas que no tém a forma de frase, semelhantes a0 exemplo (12). ante ao de Brown © Yale é 0 do aviso tuanscrto abaixe e affsado no quadto de avises junto {Ventre de bibliotece de uma insisigso. que se ‘dedica 20 estudo da linguagem (12) Bxemplo se 55 Cotdquios 0 discurso narrative dos mitoe fadigenas Prof. Dr. Joao da Silva 5? fete, 2010-1988 18 horas ‘dito 11 ‘A compreensio deste aviso, cujos elementos lin- alifsticos ndo chegam a constituir uma frase, depende pelo menos dos seguintes conhecimentos do produtor © receptor do texto, no presentes no aviso: a) que os coléquios sao reunides de professores e alunos da ins- tituigho e outros interessados em que um pesquisedor (da instituigao ou nio) expe um trabalho seu em an- damento ou concluide, seguindo-se & exposico dis- ‘cussGes sobre 0 assunto; b) que o assunto é de lingiis- ticas €) quem € 0 Professor e quais suas qualificagses; ed) onde € 0 Auditério IIL Vimos que é a coeréncia que determina, em dltima instincia, que elementos vo constituir a estrutura su perficial lingiiistica do texto e como eles vio estar encadeados na seqiigncia linglistica superficial, e isto 6 suficiente para deixar claro que a recuperacdo desta coeréneia passa pelas- marcas ingifsticas. Muitos autores inclusive chamam a atengio pata a relagdo do lingiistico com 0 conceitual-cognitive (conhecimento de mundo) © com 0 pragmético, o que reforca ainda ‘mais a importéncia das marcas lingifsticas como pistas para o efleulo do sentido e, portanto, da coeténcia do texto, Vejamos algumas destas colocasSee. Beaugrande e Dressler (1981) dizem que ha rela es (um certo paralelismo) entre o nivel gramatical 54 ¢ 0 concital do texto, mas que a cadsia gramatial 36 se estende por pequenas pastes do texto, enguanto 8 fedeia conceitual abrange 0 texto todo. Beaugrande (4980) mostra € exemple alguns candidatos taro eis pare conslasdo preferencil ents 08 ive. gra Imaal e conceitul, Um dor exemplor que le Daralelismo pode ser esquematizado como em (13) Nivel conceal agente — para — e580 ‘Sbjeto— para — estado Into quer dizer que, quando temos, no nivel gramatical, time errutora que flaciona um sujet comm verbo, no nivel conceitual a prefertncia € para que o suelo Seja um agente se o verbo for de apao, e para que © tujeto seja um objeto (um ser Visto como pacients ot nibeagenit) © 0 verbo Tor de estado, como em (14) e5): seit (14) © monino agente abriv a porta (9580) sujelto (13) A sla objeto esta suja (estado) Tanto a preferéncia € esta que outras relagSes so pos- sfveis, mas, com frequéncia, sdo vistas como resultado de alteragaes (podemos dizer transformagécs) da forma bisica, como em (16), onde a passiva 6 vista como uma transformacio da ativa (16) A porta Sbjeto foi aberte (ago) pelo menino (gente) 35 Prince (1981) © Yule (1981) deixam clara a relax 0 das formas lingtisticas com a estrututa inform: ional, © gue seria mais um papel dessas formas no estabelecimento da coeréneia. Fillmore (1981) mostra que a pragmética das ex: presses € nevesséria para explicar certos fatos que Scorrem no emprego das mesmas que as condicbes pragméticas para a Trase permitem saber suas post lidades de interpretagdo e, portanto, permitem perce. ber/estabelecer sua coeréneia, Fillmore exemplifica, utilizando a pragmética dos verbos ir e vir em frases que adaptamos para o port sgués nos exemplos (17) a (20). Para facilitar a percep. ‘io das diferengas pragméticas entre as frases, Fillmore Utilize 0 recurso de imaginar que elas slo roteiro cinematogréfico e como seria a ‘que cada frase descreve e como ficaria a cena em ter. mos de elementos presentes, posigao da cimara. etc Usamos aqui o mesmo recurso. Assim, pode-se perce. ber que as frases, para serem aceitas como bem sequen. ciadas, requerem um contexto em que os eventos Possam ser obsetvados na ordem determinada pelas seqiléncias que os descrevem (17) A porta ds lanchonete de Henrique ab homens vieram para, dent. = cimara (observadon) dont da lanchonete = supSe gue um dos homens, ov os dois ‘porta — S6iNG dfs homens (18) A porta da tanchonete de Henrique abriy © dois ‘homens foram para deste —‘chmara (observador) fora gem dentro bri a porta © dois vam 56 — pode aver mais de dois homens, mas s6 dois entram ou hi um efose na porta © se véem dois homens entrrem (sto porgue temos “dole ho mens” © no"or dois homens") (19) Dois homens aproximaram-se da lanchonete de Her que, abritam & porte foram para dentro = elimara (observadon) fora = pode ou nio haver mais de dois homens em ena — com cerieza, foram os dals homens que abriam porte (20) Dois hofiens aproximaramse da lanchon rigue, abriram © porta e vieram pera deni. — stimara (observador) dentro, mas tm de haver ‘ums janela ou porta de vidro ot alga que permite ' observagio dor eventos na ordem ein que 0 Aescrtor — pode ou nfo aver mais de dois homens em — com certza foram os dois homens que abriram 5 pons No que respeita & relacio do lingiistico com 0 Pragmético, também Van Dijk (1981:233-6) mostra 8 importincia dos tracos lingufsticos do enunciado, em todos os niveis (fonético/fonolégico, morfolégico/iexi- cal, sintético © seméntico) para aprender os alos de fala realizados e, portanto, estabelecer a coesio prag- matica, Para Fillmore (1981), a tarefa mais importante da sramitica do discurso é caracterizar, com base no ma- terial lingitistico contido no discurso sob exame, © conjunto de mundos em que o discureo pode represen tar um papel ¢ daf a importincia da contextualizacao, ue as formas lingifsticas permitem. Fillmore no esté 37 falando de contexto linguistico (contexte), mas de con- texto de situagao. Fillmore também mostra a relagéo das formas lingiisticas com o tipo de texto, 0 que tem a ver com 4 ligagdo entre intertextualidade e coeréncia e relacio- nna-se com o dliscutido em 2.4. Usa come exemplo 0 caso do texto narrativo onisciente seletiva do ponto de vista de um personagem, mostrando como 0 tipo do texto afeta 0 uso de elementos tais como pronomes, nomes pessoais, SNs definidos, tempos, palavras deiticas, re- gras de seqtienciamento e 0 uso de itens lexicais episté- ‘micos, avaliativos © de experincia psicoldgica. Se 0 tipo de texto estabelece privilégios e restrigdes expeciais 40 uso de elementos lingiisticos, evidentemente vi influir na possibilidade de interpretagio © perce dda coeréncia, Franck (1986), falando das sentengas com “dupa ligagio sintética”” que ocorrem na conversagéo, mostra que em alguns casos elas tm uma fungao ligada a questo da tomada © manutenco do turno ¢ outea li gada & questo da coeréncia e da relevineia da fala pre- sente em face dos enunciados imediatamente preceden- tes, Sentengas ou frases com dupla ligacéo sintética so aquelas que contém um termo ou expresso que tem a possibilidade de formar seqtigncia sintética tanto com © que vem antes como com © que vem depois, Nas mé- sicas € comum 0 uso desse recurso para sugestio de duplo sentido. Nestes casos, a dupla ligagao sintética se evidencia pela forma de cantar com uma certa divi- das frases pelo ritmo e pausas da misica, Um bom exemplo é encontrado no trecho da miisica “Voe8 no ‘entende de nada” de Chico Buarque de Holanda e Cae- 38 tano Veloso, transcrito em (21), em que 0 termo “voce” € cantado entre duas pausas relativamente longas, po- dendo, por iss0, ser percebido tanto como objeto do verbo comer quanto como sujeito de “td entendendo”” (21) Voed & to bonita. Voot tz a Cose-Cola ev tomo oo’ bote a mesa’ eu come, eu como, et como, ev Week| io td entendendo quase nada do que eu digo Ea quero é leme ombora Bu quero é dar 0 fora E-quero que voct venha comig. [As sentengas com dupla ligagio sintética sfo apenas um ‘exemplo de como o texto oral pode usar tipos de pistas lingifsticas diferentes daquelas do escrito para obter cooréncia, ou, por outra, para que o ouvinte possa pet- ceber o texto como coerente. Para finalizar este comentitio da relagio de ele- _mentos ¢ estruturas lingifsticas com a coeréncia, gosta- ramos de apenas clencar uma boa parte (a lista no & cexaustiva) dos fatores de natureza lingtifstica cujo fun- cionamento textual © papel no estabelecimento da coe- réncia jé foi, de alguma forma, enfocado. S80 cles: a ‘anéfora (pronominal — retomadas pronominais, no- ‘minal, déitica, possessiva); as descrig6es definidas (com ‘© mesmo referente); 0 uso dos artigos; as conjungoes, 0s conectores interfrésicos; marcas de temporalidade; tempos verbsis (sucesséo, concordancia); a repetigio (de signos, estruturas ete.); a elipse; modalidades; ento- ago; subordinacéo ¢ coordenaclo; substituigao sino- nimica; ocorréncia de signos do mesmo campo Ik ‘ordem de palavras; marcadores conversacionais; 0 com- 59 ponente lexical © os conceitos e mundos que se defla- ‘Bram no texto; fendmenos de recuperagio pressuposi- cional; fenémenos de tematizagio: temarema, tépico ‘comentério e marcas de tematiza¢o; fenémenos de im- plicaglo; orientagdes argumentativas de elementos do Xéxico da lingua; componentes de signifiends' de itens 4.3. Conhecimento de mundo Se 0 conhecimento lingtifstico é nevessério para 0 céleulo da coeréncia, todos os estudiosos so undinimes em afirmar que tal conhecimento & apenas parte do que lusamos para interpretar um texto e, portanto, para estabelecer sua coeréncia. O estabelecimento do sentido de um texto depende em grande parte do conhecimento dde mundo dos seus usudrios, porque & s6 este conheci ‘mento que vai permitir a realizaglo de processos eri ciais para s compreensio, a saber: ) a construgio de um mundo textual. A esse ‘mundo se ligam crengas sobre mundos possiveis na con- cepsdo dos ususrios, o que passa pelo mado como 0 receptor vé o texto: falando de um mundo real? de ficedo? ete. Isto influencia decisivamente se cle vi ver © texto como coerente ou incoerente, Além disso, ara haver compreensio ¢ preciso que o mundo textual do emissor e do reveptor tenham um certo grau de simi laridade. ‘© mundo textual, a representagio do mundo pelo texto, nunca coincide exatamente com o “mundo real”, porque hé sempre a mediaco dos conhecimentos de mundo (que podem ser mais ou menos amplos), dos 60 interesses e dos objetivos de quem produz (fala, esere- ve) 0 texto e de quem o recebe (outve, 1é) e interpreta, buscando seu sentido. Para que a coeréncia do texto possa ser estabelecida & preciso haver correspondéncia, 80 menos parcial, entre os conhecimentos ativados partir do texto e o conhecimento de mundo do receptor, armazenado em sua meméria de longo termo; ) © relacionamento de elementos do texto (frases, partes do texto), aparentemente sem relagio, através de inferéneias; ©) © estabelecimento da continuidade de sentido, através do conhecimento ativado pelas expresses do texto na forma de conceitos e modelos cognitivos; ) a construgdo da macroestrutura. Occonhecimento de mundo é visto como uma espé- cie de dicionério enciclopédica do mundo e da cultura arguivado na memoria, Vérios estudos tratam da me- ‘méria falando em meméria semdntica © episédica ou fem meméria de longo termo (ou permanente), de médio termo (ou operacional) e de curto termo (ou tempord- ria). As memérias semantica © episédica podem ser encaixadas na meméria de longo termo. Por isso vamos caracterizar apenas as trés iltimas, utilizando princi palmente as formulagées de Kato (1986). A memér temporéria € 0 lugar onde podemos armazenar seqtién- cias de nimeros ou de palavras e tem uma capacidade de armazenagem limitada, conforme alguns estudos, a sete itens. A meméria operacional 6 o lugar onde 0 con- teGdo proposicional & armazenado, no tendo limitago quantitativa, Nela ocorre recodificagao dos elementos dda meméria temporéria com uma abstragio da forma, através da associagio de seu conteddo proposicional a 61 uma informagao prévia do individuo. Os conceitos s80 af ativados como unidades de sentido, A meméria per- manente & 0 espago de armazenagem e organizagio de todo 0 nosso conhecimento de mundo, ineluinde 0 co- thecimento lingiistico, conceitos, modelos cognitivos slobais, fatos generalizados e epis6dios particulares pro- venientes da experiéncia de cada individu, Normalmente os estudiosos dividem © conheci- mento em dois tipos: ) conhecimento enciclopédico (“background knowledge”) que representa tudo 0 que se conhece e que esté arquivado na meméria de longo termo; ') conhecimento ativado (foreground know- ledge") que é trazido & meméria presente (operacional e/ou temporaria). Esse conhecimento pode ser comum, resultado da cotidiana, ou cientifico. A diferenga entre (0s dois pode afetar a compreensio e criar problemas de coeréncia, principalmente porque © cientifico %6 € ati vado em circunstancias particulares, fora das quais 0 lexto se processa pelo conhecimento comum. Vejamos tum exemplo. Embora cientificamente 0 “tomate” seja uma “frata”,o conhecimento comum niio 0 coloca nesta classe, mas em outra classe: dos “legumes”; assim, diante de uma seqUéncia como (22) abaixo, as pessoas acham-na problemética © imaginam que seu produtor se tenha enganado ou no uso da palavra fruta ou da palavra tomate ou, por nio verem uma relagao direta entre as duas frases, vo tentar imaginar uma situagio fem que ela faga sentido, caleulando-the a coeréncia, (22) Meu fio trouxe-me ume eaixa de tomates, As frutas ‘stavam_podres 62 Finalmente, é preciso lembrar gue o conhecimento de mundo resulta de aspectos socioculturais estereoth pads, ‘A compreensio do texto vai ser vista como um processamento da informagio, do conhecimento na me- ‘méria. s estudos tém revelado que 0 conhecimento de mundo se estabelece ¢ se armazena na meméria no isoladamente, mas que se organiza e representa na men- te em conjuntos, em blocos, como unidades completas de conhecimento estereotipico, chamadas de conceitos © modelos cognitivos globais, dos quais passamos a fa- lar. As teorias seménticas que propéem a compreensao do texto através do processamento de conhecimento na ia sfo chamadas normalmente de construtivistas, cognitivas ou procedurais. Para Beaugrande e Dressler (1981), 0 conceito é tum bloco de instrugSes para operages cognitivas e co- municativas, € uma configuracio de conhecimentos es- truturados em uma unidade consistente, mas ndo mono- litica ou estanque. Dividem os conceitos em primétios (objetos, situagdes, eventos, agdes) © secundaios (esta do, agente, entidade afetada, relaglo, atributo, locali zag, tempo etc.) © propsem um modelo de funciona ‘mento dos conceitos no proceso de compreensio do texto, Neste modelo, os conceitos primérios seriam os candidatos mais provaveis a centros de controle no texto, a partir dos quais se pode processé-lo na cons- trugéo da continuidade de sentido que estabelece a coeréncis, ‘Segundo Garrafa (1987), os modelos cognitivos {globais “'sio blocos completos de conhecimentos rela- tivos a conceitos intensamente utilizados na interacao 63 humana, Sio ext i utr cognitvas que organizam nosso foshecimentoconvencional de mundo Sn eens bem nterigndos" Ente os modelos cogntives global, o8 “ames, ‘gueras, plans e“serits” vem senda itade, ete turn como ot tips bites que slo linear ee sessment cognitive dos texibe com vss fae re prendo- Ao do des, parece en cnr e defo ments, Alguns deses modsioe foram prooeai oee estudos de inteligéncia artificial ¢ oe ‘ fan na rage nk, eur mn een (Seer Se tao etm won tle pera item mame none =n ingen Hi urs ico fans Sees de mae ma Foe on os ae julgamos necessérios. . Tran odes Gott go watt» os sts Conta gi cat oe » em principio, so componentes de um estabelecem entre eles uma ordem ou Seqtiéncia (ldgica ou temporal)". 28 esquemas diferem dos “frames”, porque “sto rdenados numa progres- 64 ¢ » causlidade,sendo, pois, os eaquemas provisiveis © Sricnadoe" Excimplos, Comer em um restarants, por tim caro em movimento, Um tipo particular de esque- thas sdo ao superestrturas ou enema textuais (Van Dill) de que trateremos em 4.10. Te anes obo medion globals do acnincimstton © estadoe que condizem uma mtn pretndida. Além de terem todor elementos numa oréem previsvl, tovam a um fim planejado”, Exemplo: num texto de inntrasdes para montagem de um apareiho “Serpe sto "planes estabilizas, i insane pas pear, pes dos particpantes ea agdes doles enperada. Biterem dos panos por conterem ume rosin prestabe- Ici Trae dem rod seqnsado de mania Srersotipada, incisive em tonmos de Tinguagem, ot Seja, como se age verbelmente numa sltuagio". Exem- pios: corimonia religioes e svil de casamento, cortas partes de uma sesfo de jr, um rial religlono qual- Eucr (misa,batizado ote), seqléncias de eumprimento Condrio, segundo Sanford Garrod (1981), 6 0 “dominio estendido de referencia” que &usado na in. terprcagio de textos, “desde que alguéo pode pensar ho'conhecinento de ambients« situgSes como const tuindo o cenério interprtativo atrds de um texto". O fenirio € expecitico de uma situaglo (00 cinema, no festaurante ee). © que ets autores chamam de cea Flo €incufdo por outros na noo de exqemas, ine” ete Johoson-Laird (1981) acha que intorpretapo de sentensas depend do conhecimento d= mundo © que a represenagao mental de uma sentenga pode tomat & forma de um modelo interno do estado de coses carac- 65 ferizado pla trae ¢ que ele cham de modelo mental lota a semantica procedural porgus do interes 6 conte fnomenoligice ot subjetio do modelo mene a mas sun estratura © 0 fato de que possuince pone dimentes para consiitto, manipulace ¢ invcteras Muitos dos procedimentos tomam como garentdce sro, base comm de conneciment, inclusive Tatoy scbieng mundo, a lingua © as convengoes que governom econ versasfo. Como se. percebe, os modclor mena raamente& propia do consrgso do mands (ee Finalmente, temos a macroeruturas, que ale so models cogitivos, mas so esrtura glans fundamenas pas comprecnta do tet, A maces = foi proposta por Van Dijk (1981) pare wines bretato cosent de um texto Tatas data expec estruturaprofunda semen do texto, sue epee ventadn por uma macroproposisto bia através de sional ds sentient se BoP organiza seu conteddo em termes de hisrendine AA muacroestruture €definida no nivel de oor semdntica global do texto. A macrocseutune eae Correlatopsicolgico um esquema eogulive see denn, Mina © planejamento, execuga, comprecnaba seman ‘namento ¢ reprodugio do texto. A macroestruttra tem. se revelado como 9 elemento do lex ave melhor y tnispermancntemene¢reordado, Come te pale yon determina a macrorsiutra dem texto € eeabioey, frase que expen a mctorature chad eee de “macroproposicao textual”. eae 66. 4.4, Conhecimento partllado Jé que © conhecimento do mundo & importante para o procesto de compreensio do texto, emissor e receptor tém.de ter conhecimentos de mundo com um certo grau de similaridade. Isto vai constituir © conke- cimento partithado que determina a estrutura informa- ional do texto em termos do que se convencionow chamar de dado © novo. ‘Classicamente se considera nova a informago que © falante apresenta como nio sendo recuperdvel a partir do texto precedente e como dada aquela que o € (Hall day). A nogio de dado e novo tem apresentado flutus- ‘gGes nd correr do tempo. Prince (1981) discute as prin- cipais propostas e, a partir da visio de texto como um_ ‘onjunto de instrupées de um falante para um ouvinte sobre como construir um modelo de diseurso particular, contendo entidades, atributos e ligagGes entre entidades prope uma escala de “familiaridade assumida” e uma taxinomia de diferentes tipos de dados e novo, a saber: } eed EE Cada tipo de entidade desta escala pode ser de rnido como segue. Nova é a entidade que esté sendo intreduzida no discurso pela primeira vez. © pode ser de dois tipos: totalmente nova, quando o falante precisa “erié-la” a partir do texto (exemplo 22) out ndo-usada, quando se supse que ela j4 6 familiar ao ouvinte (exem- plo 23), (22) Um disco voutor sobnevoou w edad, 25) Pelé hoje & eomentarata spore, 67 ‘As entidades cotatment , limente novas podem ser ancoradas {exemple 24) ou ndo-ancoradas (exemplo 22), conforine stejam ou nao relacionadas a alguma outra entideds Por meio de um SN propriamnie con introduz a entidade. aa ate (24 Um profesor que eu contepo dase gue a ‘tia ma existe de extenterrsten 8“ SN de ancora IM eintidedes inferves padem set de des tipo: ax Ineriveis ndo-ontides, que sto aquelas qe © tolance ‘supde serem deduiveis, pelo ouvinte, de cutiss canes les evocadas ou inferivels, vin racocinis logy on Plausivel(exemplo 25); as lnfrivetscontidas eae soe, aaqelas em que entidade a parti da qual kiteesns (25) Subi no tbsi © 6 motorista no Sab a quis me tevar ao (28) Ua desta cosas sek vendide, As eldadsevocadastembém podem se de des ion 8s evocadastextuanente qu ho taaces das no texto (exemplo 27) as erode mente que representa participants 0 dn {Faeos salientes do contexto extralingtistico (exemple (27 acontet © marido de Dora. Ble me com ‘estava viajando, eae (28) Por favor, voet pode me exlareer utna divide? 68 Essa escala funciona dentro do seguinte principio de conversasdo: “os ouvintes nao gostam de introduzir novas entidades, quando as velhas séo suficientes para 0 propésito comunicativo; e o8 falantes, se sio coopera- tivos, formam scus enuinciados de modo a possibilitar ao ouvinte fazer uso maximo de entidades velhas”. Ora, isto tem tudo a ver com a possibilidade do receptor do texto de calcular o seu sentido e, portanto, estabelecer sua coeréncia, Prince acha que tudo isto leva a uni fendmeno talvez vélido para 0 discurso em geral: a tendéneia para usar SNs que sejam to altos na escala de familiaridade quanto possivel. Hé também um outro fenémeno rela cionado a este que parece especialmente pertinente para © discurso da conversacao informal: uma tendéncia para o uso de construgGes sintéticas em que no ocor- rem, na posigio de sujeito, SNs baixos na escala. Para Prince, uma taxinomia de familiaridade assumida per iia estudar mais profundamente a relagio entre forma e compreensio. Isto tem a ver com elementos jé apresentados nesta seco © com pontos Ievantados em 42. Van Dijk (1981) mostra que 0 t6pico da sentenga, que é um conceito semfntico-pragmitico, tem a yer com 2 estrutura informacional do texto e se manifesta na estrutura de superficie por diversos meios: ordem de palavras, sintagmas ou morfemas especfficos, entonagio, acento etc. A importineia do conhecimento partithado para 0 leulo do sentido e, portant, para o estabelecimento dda coeréncia, revela'se em seqléneias conversacionais do tipo pergunta/resposta em que esta ngo tem ligagio 69 lingtiistica ow de contetido explicita com aquela, como no exemplo (29). (29) — Vocé vat & aula emenha? = 06 énibus estarso em reve 4.5. Inferéncias uta fator importante para a compreenso ¢ 0 estabeleimento de’ oorencia de um tie ipa as Soneimento de mundo, sto as inferencias,Belesocy te se entende por inferénoa aqulo gus Se wa nen estabelcer ume relasto,ndo erp mo tases Cae dis slmenton dene nie Beaugrande © Dresler (1981) dizem que inert cin €w opera que conse tm supercon ae gee resoavels pare preencher lctnas (ease Se, ‘ontnidaes wut mundo total Pate ce, oaks. renciamento busca, poi, sompre esl ua gy de continuidade de sentido. tr Para Brown e Yule (1983), inferéacias sao one- tes que a5 pesoee atm uande totem ese tna interpreasdo do auc em os oust ae Proce través do qual Isto (ou oui) oxeeeus Cepia, apart do stgniicads teal do nee Cores gu doo que 6 esetor lane) prone sete: ‘A ifeinca sempre visa como uns Narang He lor, to €, que etabeles time raagde ent de idéias do discurso, reas Como surgem as inerésis? Evidentemente de um nscesdade eo comhecment de ane de ies ou ouvinte, Charoles (19878) die que 6 pees ae 70 ‘Bncltslingisticamente fundadas das nfo tings ser feitas (60) Jofo fem um Seort -> Joso tem carteira de motorist ©) contextuais: que variam com o contexto. G1) Vect sabia que 0 Joto parou de fumar? substancil- Joao fumava antes, Contentual: Pode haver uma reprovagdo nessa per ‘unt, se cla € felta com o propéaito de fensurar o interlocutor que m0 quer prac de fumar. Esse tipo de inferéneia & que ocorre nos atos de fala indiretos. (52) Vocé pode me pasear sal? —> Ele quer oe n se treaties para is: st ws gue o fzem sobre.o tendo de um tera ou expresso a pair de algo dito posteriormente, 2 ae (35) Peo tom um gras) Alimonao toto das ‘ia 2) Nao sabe se @ mamorada gota dele. a rescore. ct Ea Dt ee Sesmee's Maite as mon Seen reece Sa NT et ere Alguns meos que execuaiam es dif aaa de limitar as inferéntiasseriams ree 2) @ content, us pds we 0 comet lingo (ou covtete) © 0 conaxto de situagao (contents see cola, ceunstanca. A stage do Sota 2 tionada por Brown e Yule (1983), que dizem que os ‘elementos do contexio lingiistico nao dao base a0 ana- lista para determinar as inferéncias que realmente so feitas, porque a ago de inferir fica como um processo que & dependenie do contexto especifico do texto e loca: Tizado no leitor (ou ouvinte) individual; b) a cooperapdo retérica, em termos de aceitagio de argumentos: ©) a forga ilocueiondria do enunciado e a tareja do ‘ouvinte (ou leitor); 4d) a focalizardo, a que Charolles (1987) se refere ‘como “filtragem pelo alto”. (Sobre focalizacio, cf. 4.9.) Diante da dificuldade de limitacio das inferéncias, poderse-ia considerer ideal que se construissem textos ue exigissem poucas (ou nenhuma) inferéncias para sua compreensio. Como bem observam Brown e Yule (1983), “tais textos requereriam muito espago para vei- cular pouquissima informagio, se bem que no exigi- riam por parte do leitor (ouvinte) muito trabalho inter pretativo via inferéncia. Todavia, os textos reais nfo So assim: cles mostram uma quantidade mfnima de ccoesio formal, assumem quantidades massivas de co- nhecimento ‘backgrounded’ existente © normalmente requetem que o leitor (ouvinte) faca, sejam quais forem as inferénelas, que ele sinta como querendo operar para obter uma compreensio do que esté sendo veiculad Finalmente 6 preciso lembrar que, freatientemente, © produtor do texto deseja que as inferéncias no sejam limitdveis, que o texto abra muitas linhas de possiveis inferénelas. B 0 caso do texto dubio (como muita falas politicas e textos de humor e propaganda) ou polissé- ‘ico (como na literatura) B 4.6. Fatores pragmiticas 14. dove tend lar de doo qe fo dito et saul ue‘ eabaocnan de cee tte a tte de ars pragmatics oe eee tnt pends tpt pri bes some Ho we de Tao conc de Sangean e ee E Stet, fora locttonteineoase Seca cartcortoas ¢ renga de’ pre = oma. ‘Siento venom «infu So poss Segundo Brown © Yule (1985), ts axpecoss80 constitutivos do processo de intorpretagio de texans capa undo emo tr conten Sociocultural gral s determina se mieeennn ee fete. Comentando a quetio da fanglo conusionen do tex, diam que acoerénea se beige Go ene os enuclads, as ents sede ato G erunciados (coerncl pragmateay oes de fala na imrogao. Dentro da Tungie coowners, abordam, sind, questo de stun ce ama flcamentsdoterminndas, com convener para que imeragio se realize © dle thee cremate Suesio da “aula, rometende ao ends ie eer ee claire Coulthard. Outosexemplos dese ne Grains Ges sera D0 restaurants, ponent eet Consults médica, anembisie de mone de wea {ug unis dminstenivas Van Dijk (1981) diz que, 20 lado 4 90 Jado da macroestu- ‘ura semdnden de um texto, que df sua courncla mintia, temos uma mecroesirutura pragmatic, ase 4 ua coeréneia pragmdtiea. Essa macrosstruturs prog, ™ mética seria um macroato de fala a0 qual se subordi natiam, hierarquicamente, todos 0s atos de fala reali- zados por subpartes e frases do texto. Esse macroato Gobtido através de macrorregras (generalizacto, apaga- ‘mento ¢ construgo) do mesmo tipo daquelas que dio forigem @ macroproposicio semantic © seria também tum construto fundamental para 0 processamento do) texto tanto na produgio como na compreensio. Van Dijk deixa claro que © processo de compreensio do texto obedece a regras de interpretaglo pragmética e, portanto, a coeréncia do texto nilo se estabelece sem Tevar em conta a interagio © as erencas, desejos, qu teres, preferéneias, normas e valores dos interlocutores: Estuda, ainda, « relagio entre atos de fala e “frames”, conclusindo que a verificagso do preenchimento ou néo ‘das condigées necessirias para que o ato de fala seja apropriade deve ser feita pelo nosso conhecimento do rmindo e sua organizagao em “frames”. Isto serve para hos mostrar como os elementos ou fatores atuantes no processo de produgio e compreensio de textos e, por- tanto, de sua coeréncia, atuam de forma interligada. Evidéncia dessa interligaco seriam também os elemen- tos do texto que Marcuschi (1938) ¢ Févero © Koch (1985) chamam de “‘contextualizadores”. Esses elemen- tos seriam de dois tipos: a) contextualizadores propris- mente ditos, que ajudam a ancorar o texto na situagso comunicativa: assinatura, local, data e elementos grati- cos; b) perspeetivos, que contribuem para fazer avancar cexpectativas a respeito do texto: titulo, inicio do texto, autor, estilo de época, corrente cientifica, filos6tica, roligiosa a que pertence. Elementos como assinatura, indicagae de local, data e autor mostram a relagao do ico com fatores pragméticos do contexto de si- 5 tuagdo; 0 titulo teré muito @ ver com focalizasSo; as implicagées, na interpretagdo do texto, do estilo de épo- ca, corrente cientifica, filos6fica ou religiosa que se filia 0 autor s6 podem ser dadas pelo conhecimento de mundo. Diretamente ligado a questo pragmétice temos o fator da situacionalidade, que abordamos a seguir, 4.7, Situacionalidade Para Beaugrande ¢ Dressler (1981), a situsciona- lidade refere-se ao conjunta de fatores que tornam umn texto relevante para dada situago de comunieagao cor. rente ou passivel de ser reconstituida. Bastos (1985) afirma que a coeréncia se estabelece pelo nivel de insergio do texto numa determinada situagéo de comunicagio. Somos de opiniio que, s a condicao de situacionalidade no ocorre, 0 texto tende 4 parecer incoerente, porque o eéleulo de seu sentido se torna dificil ou impossivel. Foi a ndo-situacionatidade que, em grande parte, evou muitos estudiosos a dizerem ‘Que certos textos cram incoerentes, propondo, com base nisso, uma gramética de texto de um tipo que incorpo. tava algo semelhante & gramaticalidade/agramatica. lidade das frases para os textos. Depois verificou-se que textos ditos incoerentes eram perfeitamente coerentes, € faziam sentido, desde que os imagindssemos num situasdo X, com determinadas caracteristicas, como jd foi exemplificado. ‘Seria interessante lembrar aqui 0 que se comentou no item 4.5 sobre 0 efeito do contexto de situagio na 76 limitagdo das inferéncias que se deve ou pode fazer na interpretagio de um dado texto. ‘Van Dijk (1981) dé toda uma relagio dos elemen- tos que devemes observar na anélise contextual e como fazé-lo. Ele liga este contexto & identificagio e produ 40 dos atos de fala, ou seja, & coeréncia pragmética do texto. Para ele, o contexto também seria uma abstragio em que s6 se levam em conta os elementos da situagao pertinentes para a produgio e compreensio. Em resummo, nna andlise contextual, que ocorre durante a compre: ensfo pragmética, 0 usuério da lingua levaria em conta fs seguintes informagGes sobre © contexto social em ‘questo: seu titulo especifico, o “frame” do contexto releyante no momento, as propriedades/relagSes das posigdes sociais, funcdes e individuos que as preenchem, bbem como as convencies (regras, les, princi Contexts slo dintimiees, por liso, sun andi € um processo permanente no qual pesioas contri os fragor rlevantes do content Persames ce cont de sunio we ft fo 16 no pragmétio, como quer Van Di, mar também to somatic, Eydéncia dio sori © cro doe Glin Cra expeiicdade do tgafieado doe homéniton, oe fcrtct tmadoe ‘am seid © nto nous deride & focalzago importa no Testo pela stung em que ele € produzigo. Cumpee registrar que, no orl, pelo menor nam certo sentido, cosrncia depende mito mais do con- texto stuacionel do que no escrito, porque no oral ce elementos da situapao eooperam no extabelesimento das n relagdes entre os elementos do texto em mais alto graut do que no escrito, sobretudo por haver muitas entidades evocadas situacionalmente por ser decisiva a influéncia da situago no célculo do sentido. Uma evidéncia dessa dependéncia é a dificuldade que se encontra para inter- pretar fala gravada. Todavia, ha casos de textos esctitos ‘muaito dependentes da situacdo, como placas indicativas uigdes diversas ete © que, inlusie, foram chamadas, pea tora lingstice traditonsl, de frases de situagi, E preciso lembra,porém, come o fazem Beaugran: de e Dressler, que a rslagto textosituaio se enabeloce em dois sentdos: da sitio para o texto ¢ do text Para a situagio. Isto significa que se, por um ado, 8 Situagéo comunicaiva interfere na manera como 0 texte € constituid, 0 texto, por sua vee, tem referee s0bre a situate, jf que ext 6 intrdurida no texto via Me. diagao. A mediagio € aqui entendida ome extensio em que as pessoas intoduizem, cm sev modelo da sia. G40 comunteativa (do "mundo real), sas erenss, com VieeSes, objetvos, perspectives, Assim, © texto jams serd um espelho do mundo reel, visto que a stuagso acaba senda reorada plo teato staves dessa medtagio © que a evidéncia disponivel na situagdo é introjetada no modelo de mando funtamente com o conhectmento Drévo eas expectativs que ve tm sobte © modo coma "mundo rat” so encontra organizadoy Até Meso no Caso de descrigdes aparentemante cbjiivas, 0 textos ples "reagiex” soe “catimulos™ da cea ia Ys gu i ease in pie tbc Sobre que merece ser observadoregistrada, © que ‘ou nfo digno de nota, a ate 78 4.8. Intencionalidade e aceitabilidade Beaugrande e Dressler afirmam que, “para que ‘uma manifestacio lingiistica constitua um texto, € ne- ccessirio que haja 2 intengo do emissor de apresenté-la 2a dos receptares de accité-la como tal”. As nogses de intencionalidade e aceitabilidade sio introduzidas para dar conta, respectivamente, das intengSes dos emissores f das atitudes dos receptores. Cada uma delas pode ser tomada em dois sentidos: tum restrto e um amplo. Em sentido restrito, a intencionalidade trata “da intengio do emissor de produzir uma manifestacao lin- Bilistica cocsiva e cocrente, ainda que essa intengao nem sempre se realize integralmente, podendo mesmo ocor- ret casos em que o emissor afrouxa deliberadamente cocréncia com o intuito de produzir efeitos expecificos”. Exemplo destes tiltimos seria uma situagio em que 0 falante produzisse um texto desconexo para passar a impressio de que esta bébado, louco ou desmemoriado, Jé a aceitabilidade diz respeito a atitude dos receptores “de aceitarem a manifestagio Tingiifstica como um texto coesivo e coerente, que tenha para eles alguma utilidade ou relevancia”. Tanto Charolles (1987a) como Grosz (1981), bem como Brown e Yule (1983) consideram essa intencionalidade e accitabilidade em sentido res- trito, ao dizerem que os falantes sempre agem como 8 © texto fosse coerente, numa espécie de atitude coope- rativa: um quer sempre produzir um texto que faga sentido © © outro sempre vé a produgéo do primeiro ‘como algo que ele fez para ter sentido e agem em fungao disso, pois, como diz Charolles, 0 interpretador faz tudo para calcular 0 sentido do texto © encontrar sua coeréneia. Grosz acrescenta ainda que esse cooperati- 9 vismo age também em termos de focalizacao: no dilogo, 68 interlocutores supdem sempre que esto agindo num campo comum, Em sentido amplo, “a intencionalidade abrange todas as manciras como os emissores usam textos para perseguir ¢ realizar suas intengdes comunicativas”, enquanto a aceitabilidade “inclui a aceitagao como dis. posicio ativa de participar de um discurso © compar- tithar um propésito” comunicative. Em sentido amplo essas duas nogdes tém a ver com 0 que se vem chaman- do, na literatura lingtifstica, de argumentatividade. Sub- jacente aos aspectos cognitivos do uso lingifstico, existe uma atividade basica: a argumentagio. E através dessa atividade que os conhecimentos sio selecionados e estru- turados em textos”. Koch (1984) diz que a atividade de interpretagdo fundamenta-se, exatamente, na convie- Gio de que quem produz um texto (falando ou esereven- do) “tem determinadas inteng6es, consistindo a intelec- 0 na captagdo dessas infencdes, 0 que leva a prever. or conseguinte, uma pluralidade de interpretacces”. Como se pode perceber, a intencionslidade e acet tabilidade, sobretudo em sentido restrto, so as duas faces constitutivas do principio de cooperagfo e, neste sentido, definitGrias da coeréncia no sentido aqui pro- posto, de um prinefpio de interpretacio segundo 0 qual sempre se julga que o texto faz sentido, é coerente se faz tudo para calcular esse sentido, 4.9. Informatividade Para Beaugrande © Dressler (1981), a informati- vidade designa em que medide a informagto contida 80 no texto é esperada/nfo-esperada, previsivel /imprevist- ‘vel. Os autores do 20 termo informatividade a acepgio que ele tem na Teoria da Informacdo. Assim, 0 texto sera tanto menos informativo, quanto maior a previsi- bilidade; ¢ tanto mais informativo, quanto menor a pre- visibilidade. Se um texto contiver apenas informagso ‘esperada/previstvel dentro do contexto, teré um grau de informatividade baixo (grau 1); se, a par da infor: magi esperada/previsivel em dado contexto, 0 texto contiver informagio imprevisivel/nao-esperada, teré um grau médio de informatividade (grau 2). Finalmente, se toda a informacio do texto for inesperada/imprevi sivel, o texto poderd, a primeira vista, parecer incoc- rente, exigindo do receptor um esforgo maior para calcularthe o sentido (grau 3 de informatividade), jé ‘que textos com taxa muito alta de informago nova sfio de dificil compreensio. A informatividade exerce, assim, importante papel na selecdo ¢ arranjo de alternativas no texto, podendo facilitar ou dificultar o estabeleci- ‘mento da coeréncia 4.10. Rocatizaso Grosz (1981), num trabalho cujo objetivo era con tribuir pera a montagem de sistemas computacionais capazes de processar lingua natural, propde o conceito de focalizagio, que consideramos um aspecto importan- te da producdo e compreensio de um texto. Embora Grosz comente a focalizagio apenas no dislogo oral, coremos que suas colocagées so vilidas para qualquer texto oral escrito. A focalizaio tem relago diteta at com a questo do conhecimento de mundo e do conhe: ‘cimento partilhado. ‘Segundo Grosz, falante © ouvinte, no didlogo, fo: calizam sua atencio em pequena parte do que sabem acreditam, ¢ a enfatizam. Assim, certas entidades {objetos e reiagdes) sfio centrais para 0 diflogo e no s6 isto, mas também elas sio usadas e vistas através de certas perspectivas que afetam tanto 0 que o falante diz quanto como o ouvinte interpreta. Grosz exempl fica: a) uma construgdo pode ser vista de diferentes perspectivas: como uma maravilha da arquitetura, uma casa, um lar ou, podemos acrescentar, um pat histérico cultural, um empecilho a um emprees etc.; b) certo evento pode ser visto como uma compra, uma venda, uma transag#o comercial etc. Para Grosz, hé um relacionamento em dois sentidos centre a lingua e a focalizagio: 0 que é dito influencia 8 focalizagao e vice-versa, Todavia, as pistas que o falante fornece ao ouvinte sobre o que esti focalizando podem ser lingUisticas ou de conhecimento partilhado TingUstico € nfo-lingtistico (0 que véem por exemplo). © ouvinte depende das crengas compartilhadas sobre © que esté sendo focalizado para interpretar as palavras ‘num sentido apropriado. Os falantes agem como se est vvessem focalizados semelhantemente, quer estejam ou no (principio de cooperagio), ¢ tendem a estabelecer lum campo comum. Caso nio estejam focalizados seme- thantemente, as diferencas de focalizagio causam pro- blemas de compreensto que s6 sio detectados se ocorre- rem problemas maiores de compatibilidade, Para Grosz, a focalizagio nio 6 torna a comuni- ccazdo mais eficiente, como, na verdade, a torna posstvel. Evidentemente, tudo isto afeta a capacidade © a possi- 82 bilidade do ouvinte de estabelecer a coeréncia de um texto, interprotando-o convenientemente. ‘Além do que se disse acima sobre a relagéo da focalizacio com o lingiistico, Grosz afirma que as des- cerig6es definidas so um dos meios-chaves pelo qual se ‘manifesta a influéncia da focalizacdo no didlogo; © que ‘8 focalizaglo e 0 uso das formas linglisticas adequadas para expressé-la sio necessfrios para a identificagao do referente adequado, 0 que mostra a importancia da focalizacio para gerare interpretar deserigSes definidas Isto é facilmente percoptivel no texto “No aeroporto”, de Carlos Drummond de Andrade, transerito absixo. NO AEROPORTO carlos Drummond de Andrade Visjou meu amigo Pedro. Foi levélo 20 Galeto, onde esperamos te horas o seu quadrimotor. Dureate tore tempo, no fallow asun.o para nos entetermos, embo- fa ao falésemos da vie numerosa matéelaatual Sempre Hivemos muito assunto, © no deixamos de explorilo a undo, Embors Pedro soje extremamenteparco de palavras {a bem dizer, nfo we digne pronunciar nenhma. Quando ‘to, emitesilabas; 0 mals conversa de gestos © expres ‘lee, polos quis se faz entender admicavelmente. Eo set ‘Puasou dole meses ¢ meio em now cata, o fol hée pede ameno. Soria para os moradores, com ou sem m0- tivo plausivel. Era a sua arma, nfo dive seereta, porgue ‘tensive, A. vista-da pessoa humana Ihe di prazer. Sou Sotreo foi logo consideredo scrrso espectal,revelador de intengSes para como mundo oxidental © 0 ‘orrvo (eneantador, apesar da falta de dentes), abonam 1 clasificngo. 83 84 Devo admit que Pedro, como visitante, not dou trabalho: tinha hordtios especais,comidas especial, rou- pes especias, sabonetes especins, ciados especial. Mas fe simples prestngs e seu srrizocompensariam provie Snclas © privlégios malores, Recebla tudo com natu lidade, sabendo-ee merscedor dev distagie, « nlnguém se lembraria de aché-lo egoista ou Importune. Suss horas e sono — e Ihe apraz dormir alo s6 a nolte como prin- Clpalmente de dla cram respoladas como rilor sacra, ‘ ponto de nfo ousarmos ergocr a vor pera nio acondélo. ‘Acorderia sorindo, como de costume, alo se zangaria ‘om a gente, porém ade mestos & que alo nos perdoerla: ‘mar o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, L2™ ratamente sols tém noyio de tempo. mas eles ttm nogto de Rovio gu tudo tem hors cles tém nosfo de atacadoe ou 295 no atrradonisca) u Se buztaa... mais brabemente ene § por ave etd wtanedo a t 12 C dinto © porque sem querer cu you 300.” fpitando mis porque. tm que evantor Litem gue vet or dois, sto peaueniaos ‘ Pea c 12s tenho quo me verti... porgue ambos so peawenos.- onto le nao acetam ‘nuito apa né para Shs aide nao & sim peje & arumadeia nas sos 0) U2 uor dsr nko 646 no vive em fangso eles tas de mania. nw fans dela 6 me ajudar com eles... mas eles nto sceltam o menino porque... quer fazer {do sozinho... no que cu procuro dei- sat... 6 a menine porque qUer que 510 mame) que fora ne? entao sou eu que! tenho que le fazer et cetera et extra ‘depots o cafés! em cas o café € muito ‘domorado.. multo camplicado quer dizer fntio ts cles comerom todas as cosas que facem,.. parte do café eles demo::ram ‘um briga com 0 outro = divsio tem que 515 ser Alizolutamente exat.. porque 6° Um liver mais do que o out sai um monte de brige na realdade no scebam tomando tudo no comendo tudo que tem Lt (eles tem) 520 L2 mas preCISA TER IGUAL oe t 12 basta ser igual... pode sobrar tudo mas sivisgo tem que sor igual. Unguditon* $60, Projeto NRC/SP in CASTILHO, Atala ‘Telia dee PRETI, Dino. A inguager fold culty na (ilade de Sa0 Paulo, Vo. Ut Didlogos entre dol infcrmantas. ‘Slo Pesto, 7. A- Queiror/PAPESP, 1987, pp. 143 © 144) (68) Sempre a pat com Delmiz, Lio notava © modo de Canto —"a cara avermelhada, em quadro na cigola branes, de fino trangado, ¢enfltada até com angie — que de distnciaviglavaes, como que séio de clime. (© Persambo entoara, pouco adiante, uma trova de tots vorsos. Aquole reselado rendia fonge,seguindo on todos volteice da vereda. Mas, Delizo, © que ele feria mesmo era falar de si, seus projtos, de sus falva de no poder prosperar, de ter de remar como pobre vaqueito.— "Sabo, meu pal foi boisdeiro de fenome, e meu avd dano de fezends, pompesnot” Ele, Delmiro, sinds havia de se fazer, Hideva nesse 99 100 caminho,nio buixava 0 topete por nada nenhum, no fe entregaval O quo carecia era de um comego de ‘boda, pare masctear,revender gador; amour, jf taka olto contos-deéin, a juros, com ‘Astéglo, em Arnos. FE proteglo de gent isto sim, € que ers importante, Alnda espera tins dois anos, ¢ entio ia para outro lager — pra Mato-Growso, ou, agora se disia que o melhor era Parand, quem sabe. De nervoso, pegava a fuse, ‘dedo\no nariz, A mote, porguntando.& Lilo: que planos que tinha? Létio se atalhava, nfo slguma coisa em Delmiro, a gents podia gosta dele: © era seu amigo. Mas fezla mal aquela sua farla fe tengso, © companhelre recordava idsia de um thaleirio que ferveste, © fervura fazendo plat tampa; este cobiar este ronco interior, de gana encor rentada, chega cheiraya a brew, sceava cs espii a gente dava até sede. — "Eo J’sé J6xjo?” — perguntou, por descon- versa. — Bugre, de dlabo..." "=~ E 0 Pleidino?” "Ara, coltado. Tita. Delmire respond abru- ‘ado, como se esivesse dando s0co no amigo, Agora, ‘quando se exquentara nagueles pensamentoe, patecla ‘omar raiva de todo © auindo. Mie f im sem, principal, zangado no instante, por Lélio ter tapado se easunfos, Tanto, que, voltando rasto, emendava’ —"sVseJério € compasheiro vorseto, homem ie If achow os desgosos da vida... Placido também bom rapaz, nunca fez mal » ninguém...”” loga ‘ormava a alarno le antes. Que 0 prigo era a gente s2 embeigar por uma mocinha sertanes, surgi caste mento, um se prendendo e inutzande para todo © resto da vida, Casa, 96 com uma fezendelra vidva, ‘uma vitiva ainda bom contervada. Mesino ali no Ge- ‘ais a gente campeava algumas, que valee vallam, Ai fra 0 que Léllo também devia de fer emt cautela ae filha de vaquera, exe ameaga TE all nha, por dior? — Lelio porgum ‘a Ab, bontas, em alguma condiglo, tinhs 86 tes Mariioha e Biluea, filhas de LorindSo; © Manela — lem de Macia Jlia, mulher de Soussouza. Com ets, Bilucs, jf noiva do Marga, filho do Arist, e vaqusiro tambéin, que agora estava no retiro do’ Sto Bento, porque depots de eaador sles dois queriam mora I, vnas horas de foige cle mesmo in levantando sus fasinha. Marsal ere 0 melhor do todos, alegre © since, Lélio fa ver (ROSA, Joio Guimaries. No Urubuquogud, no Pinkims [Corre de Editors, 1978, pp- 143 2 146.) ale}. Rio de Jenene, Livate Tose Olio tot CONCLUSAO Como se pode perceber, propusemos aqui um mo- elo de coeréncia textual que envolve todos os fatores que, de alguma forma, afetam o sentide que os ustiirios constroem no/a partir do texto. A coeréncia é vista, pois, como um principio de interpretabilidade do texto, num processo cooperativo entre produtor e receptor. Dai decorre # estrita correlagio entre os fenémenos da coeréneia e da compreensio: ocorrendo, na interagao texto-usuirios, a construgio de um sentido (ou de uma ccontinuidade de sehtidos na conversagéo ou em textos mais longos), haveré compreensio, Do contrério, or mais organizado que esteja o texto do ponto de vista estritamente lingiistico, a compreensio nao se dard e, para o receptor, ele se apresentardé como destituide de coeréneia. Ao contrario da coeréncia que, como vimos, depende de uma intrincada rede de fatores de ordem lingifstica, semAntica, cognitiva, pragmética e intera- ccional, a compreensio é apenas tim proceso cognitivo. ‘Conyém lembrar que, embora tenhamos examinado os fatores de coeréncia isoladamente, no texto eles fun- cionam em eonjunto e, ao mesmo tempo, de maneira que no € possivel isolé-ios, como fizemos ao focalizar lum ou outro neste estudo, 102 ConnsaRS tinggietso, Preditor “partinago. ‘nferinciae Fates pragmatics Situactonalided | Intenconaidede| ow, w0a1609 wformatividede Focalzagia icertextided| 103

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