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16 de todos (Cenpec)
Propaganda brasileira – Francisco Gracioso e
HISTÓRIA DE ALMANAQUE
J.Roberto Whitaker Penteado (São Paulo: Mauro
“Foi assim”
Ivan Marketing Editorial, 2004)
18
Convite à Filosofia – Marilena Chauí (São Paulo,
O QUE VEM POR AÍ Ática, 1994)
19 Agradecimentos
Memorial da Propaganda do Mercado Central de
Fortaleza – CE
Escola superior de Propaganda e Marketing ESPM
Contato com a redação
TEXTO VENCEDOR Rua Dante Carraro,68 – São Paulo – SP
CEP 05422-060 – Telefone: 0800-7719310
“Da lamparina à luz elétrica”
E-mail: programaescrevendofuturo@cenpec.org.br
20
COISAS DEALMANAQUE
21
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
E d iittori
oriaal
Uma Mensagem
Reter e guardar o tempo do Cenpec
Em recente artigo publicado na revista
científica Nature, uma das mais prestigiadas
do mundo, cientistas norte-americanos divul-
garam que para cada lembrança específica
A valorização da memória
de um ser humano, é possível que exista um como ferramenta de trabalho não
neurônio responsável por ela. Como cada propõe a volta a um passado crista-
um de nós tem bilhões dessas minúsculas
células no cérebro, talvez isso explique nos-
lizado e acabado, muito menos
sa capacidade de armazenar uma infinidade constitui uma tentativa de priorizar
de lembranças. costumes, tradições e valores de
E o tema principal da segunda edição do
outros tempos.
Na ponta do lápis é a criação de textos de
memória. Crianças de todo o Brasil recolhe- A articulação do passado e do
ram histórias, descobriram antigas novidades
e as mantiveram vivas por meio dos textos presente por meio da memória de
1
que elaboraram. Dessa maneira, fizeram aqui- sujeitos anônimos, protagonistas de
lo que é a própria definição de memória, se-
gundo a professora Marilena Chauí: “a capa-
um mundo que nos diz respeito, pre-
cidade humana de reter e guardar o tempo tende criar um diálogo em que cos-
que se foi para salvá-lo da perda total”.
tumes e valores que fazem parte de
Propondo aos professores o trabalho com
nossa história sejam reconhecidos
esse gênero de texto, o Programa Escreven-
do o Futuro quer aliar práticas de ensino da como integrantes da trajetória pes-
escrita a ações que estimulem a cidadania e soal de cada um. Trata-se de viver
a identidade com o local em que se vive. “É
uma ação humanizadora”, nos disse Ecléa em um espaço de pertencimento, de
Bosi, professora do Instituto de Psicologia da sentir-se enraizado, apropriando-se
Universidade de São Paulo e especialista em
narrativas de memória, em entrevista espe- da herança das gerações anteriores,
cial publicada nesta edição. Outro convida- de modo a reelaborá-la.
do que trata do tema é o escritor Bartolomeu
Campos Queirós, que escreveu história ex- É um olhar diferente sobre nossa
clusiva para a Página Literária, seção das mais realidade, relacionado a um passa-
apreciadas por nossos leitores.
do que nos diz respeito, e que per-
E para os professores que desejarem tra-
balhar com seus alunos esse gênero de tex- mite destacar tempos distintos e cul-
to, as seções De olho na Prática e Tirando turas diversas convivendo, muitas
de Letra trazem indicações e orientações de
especialistas com base nas produções dos vezes, no mesmo espaço. São mani-
estudantes para o Programa Escrevendo o festações vivas, de raízes profundas,
Futuro.
diretamente ligadas aos múltiplos
Também queremos agradecer às dezenas
de cartas recebidas, parabenizando-nos pelo modos de ser hoje.
lançamento do almanaque e indicando novos
conteúdos que serão pensados pela equipe.
Esse intercâmbio com os leitores é a razão Maria Alice Setubal
de ser da publicação. Continuem enviando Presidente do Cenpec – Centro de
suas sugestões, impressões e experiências. Estudos e Pesquisas em Educação Cultura
A todos um bom trabalho e boa leitura. e Ação Comunitária
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
“
rava perto da rua Oscar Freire e es- ouvinte, compro-
tudava nos Campos Elíseos, ia e vol-
Escutar uma misso com o nar-
tava a pé. Nessas caminhadas, meus narrativa desencadeia rador. Mais ainda,
companheirinhos pediam que eu um compromisso
contasse histórias, para abreviar o
em você, ouvinte, com a própria ci-
tempo. Quando escrevi Memória e compromisso com o dade em que a
sociedade: lembranças de velhos, narrativa floresceu.
uma tese defendida em 1978, co-
narrador. Mais ainda, um Você é responsá-
meçou em toda parte uma onda de compromisso com a vel. Por exemplo,
no meu caso, eu
pesquisas sobre memória e esses pes- própria cidade em que a
quisadores diziam haver se inspira-
do nesse trabalho. Penso que a ins- narrativa floresceu. Você “ entrevisto pessoas
muito idosas e
piração veio para mim e para os ou- é responsável. sensíveis às trans-
formações urbanas.
tros pesquisadores da necessidade
de um encontro com o passado mais Isso desencadeia um
próximo de nosso tempo. compromisso com o
plano diretor da cidade. Em
Como pensar a história a partir da dia em que o Papa morreu e a terra uma pesquisa que fiz, verifiquei, por
memória de velhos? tremeu.” Sabe-se que nem o Papa exemplo, que a maioria dos idosos
A memória de velhos é diferen- tinha morrido, nem a terra tremido. acidentados na seção de ortopedia
te da história oficial. Os depoimen- Acontece que nenhuma outra nar- do Hospital das Clínicas de São Pau-
tos são cheios de lacunas, diferentes rativa mostra a emoção que se sen- lo não era um caso de médico, mas
da história que se lê nos livros. Você tiu, pessoas se atiraram do viaduto caso de advogado, por causa das
ouve um depoimento de alguém que achando que era o fim do mundo, calçadas da cidade, das casas po-
assistiu a um desastre, a narrativa houve uma convulsão social tão pulares mal construídas...
“
lares. Deseja-se que o ido-
beça do ouvinte como na
cabeça do narrador. A his-
Fazer com que a so ajude a lavar louça, a to-
tória se completa em nós criança procure o tio mar conta dos pequenos,
faça trabalhos por vezes
mesmos e para você regis- idoso, o avô, o velho pesados. Mas se ele quiser
trar uma história de vida
seria preciso um escutador de asilo que ninguém dar um conselho para um
adolescente sobre compor-
infinito. Todos os depoi- mais visita e que se tamento, a escola, a educa-
mentos são bons e mere-
cem o mesmo respeito.
sente banido, ção e o uso do tempo do
Eles não são motivos de
nostalgia, mas de luta para
é uma experiência
“ neto, ele é convidado a se
calar. Do idoso se deseja o
quem merece escutá-los.
humanizadora. braço servil, mas não o con- 3
selho. Ele tem experiência,
Que sugestões e conselhos a tem memória, discernimento
senhora daria aos professores e tudo o que é necessário para
que estão trabalhando o gênero dar um conselho. Por isso fazer
memórias? tá-lo. Estamos recebendo um alento com que a criança procure o tio
Essa pergunta me foi feita tantas da pessoa, as horas, seu tempo de idoso, o avô, o velho de asilo que
e tantas vezes, que eu escrevi no li- vida, ela está nos dando uma coisa ninguém mais visita e que se sente
vro O tempo vivo da memória um preciosíssima. Somos tão responsá- banido, é uma experiência huma-
capítulo sobre isso. O estudioso da veis por ela quanto um amigo é res- nizadora. Embora se fale muito
memória deve ser uma pessoa pre- ponsável pelo outro. dos direitos da terceira idade, o
parada para isso, não basta que co- que acontece é que nós vivemos na
nheça metodologia de pesquisa. Ele No Programa Escrevendo o Futuro época do descartável, do consumo
precisa compreender o depoimento as crianças são pesquisadores da e tal época não é favorável ao ofe-
como um trabalho do idoso, ele não memória e, orientadas por seus recimento da memória, da expe-
pode registrar sem que o idoso te- professores, procuram os idosos riência. Fazer com que a criança
nha conhecimento da narrativa. Por em suas comunidades, ouvem se volte precocemente para a his-
mais simples que seja, esse idoso tem suas histórias e as reescrevem. tória oral contada pelos mais velhos
o direito de reler aquilo que falou e Que importância a senhora vê é uma experiência das mais impor-
ver se está de acordo. É uma ques- nisso? Como avalia esse tipo de tantes. É uma valorização pública
tão ética. Entre todos os conselhos trabalho? do idoso.
de método que eu dou, o mais im- Eu acho que as crianças estão
portante é a responsabilidade pelo praticando a verdadeira cultura que Entrevistadores: Luiz Henrique
outro, porque dada a natureza da é a inserção do passado no presen- Gurgel, Maria Antonieta de
pessoa idosa que faz o depoimento te, as pesquisas das crianças são Oliveira e Cida Laginestra.
Entre as obras de Ecléa Bosi estão Velhos amigos, O tempo vivo Ecléa Bosi e o marido Alfredo
da memória e Memória e sociedade. Bosi
OS DEPOIMENTOS NÃO SÃO MOTIVOS DE NOSTALGIA, MAS DE LUTA PARA QUEM MERECE ESCUTÁ-LOS.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
RECADO DO LEITOR
Carta Enigmática
N+ – rinho – de
Questão de Gênero
TRAZER DE NOVO AO CORAÇÃO ALGO QUE TENHA FICADO ESQUECIDO EM ALGUM LUGAR DA MEMÓRIA.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
Página LITERÁRIA
E la entrava na escola abraçando os nossos E como Dona Maria Campos sabia! Para
cadernos “Avante”. (A sala tinha cheiro de rou- tudo ela tinha uma resposta ou uma outra per-
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pa lavada. Tudo limpo como água de mina e o gunta na ponta da língua. Dava aulas como se
mundo ficava mudo para escutá-la. Sobre a sua estivesse recitando uma poesia feita de água,
mesa pousava uma jarra sempre com flores do névoa ou nuvem. Eu achava minha professora
mato que os alunos colhiam pelo caminho). Ao mais bonita que os poemas. E não era difícil
abraçar os cadernos era como se a professora decorar os versos e repeti-los depois, no escu-
me apertasse sobre seu coração, me perdoan- ro do meu quarto. Guardava tudo de cor sem
do, com antecedência, os meus erros e acer- esforço.
tos. Eu ainda não lia ou escrevia de “carreiri- E quando ela pegava no giz branco e passa-
nha”. Mas seu olhar foi o meu primeiro livro! Ela va o ponto, no quadro negro, eu mordia a pon-
me acariciava com seus olhos e derramava so- ta da língua esforçando-me para imitar a sua
bre mim uma luz mansa de luar, capaz de alve- escrita. Ela fazia as letras tão bonitas que não
jar meu desejo obscuro de aprender. Seus olhos me bastava apenas copiar: eu desejava apren-
me permitiam a liberdade. Sua presença inteira der também a sua letra. E como me emociona-
me trazia uma paz azul e uma certeza de que o va aqueles “as” redondinhos, aqueles “emes”
futuro era possível. como cobrinhas, aqueles “eles” como orelha de
É que Dona Maria Campos levava nossas coelho espantado.
composições, ditados, cópias, para corrigir em Em meus momentos de calma eu enchia
casa. Eu morria de inveja do meu caderno por páginas e outras páginas com seu nome, o nome
saber que ele conhecia onde a professora vivia. de minha mãe, de meu pai, de minha escola.
Seu lápis, metade azul e metade vermelho, bor- Era minha maneira de ter sempre a Dona Ma-
dava em nossos trabalhos as notas que iam de 0 ria Campos ao meu lado.
a 10. E trazia sempre uma observação: “muito
bom”, “parabéns”, “ótimo”, “mais atenção”, “é E quando escolhido para passar o ditado no
preciso estudar mais”. Eu recebia meu caderno quadro, para os colegas corrigirem o deles, mais
com o coração descontrolado. Parecia que uma eu caprichava na letra.
borboleta tinha vindo morar em meu peito. Ti- O difícil era o quadro não ter linha, pois
nha medo de não corresponder aos seus ensi- seguir em linha reta, sem estrada, dependia tam-
namentos. Não queria que a professora dei- bém do olhar. Mas para alegrar a professora toda
xasse de me amar. dificuldade era pouca. Se ela me elogiava eu
UMA LUZ MANSA DE LUAR, CAPAZ DE ALVEJAR MEU DESEJO OBSCURO DE APRENDER.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
baixava a cabeça. Por fora muita vergonha e canto. O mundo ficava maior e minha vontade
por dentro um herói. era não morrer nunca para conhecer o mundo
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Nas horas de leitura em voz alta eu não inteiro e saber muito, como a professora sabia.
media esforços. Cada menino lia um pedaço. O livro me abria caminhos, me ensinava a es-
E a professora escolhia alternado. Ninguém colher o destino.
sabia sua hora. Eu acompanhava as linhas do Eu pedia o livro emprestado, depois que
livro com o dedo. Cheio de medo e desejo Dona Maria terminava. Levava para casa e
esperava minha vez. Lia devagar cada palavra, brincava de escola com meus irmãos menores.
obedecendo a pontuação, Assentava com o livro, com
controlando o fôlego. Dona pose de professor, e lia para
Maria Campos dizia que nas eles. Era difícil guardar tan-
vírgulas a gente respirava
e no ponto final dava uma
paradinha.
“ a
Mas para alegrar
professora toda
ta beleza só para mim.
Não sei se gostavam da lei-
tura ou se imaginavam, um
Mas o melhor era quan- dificuldade era pouca. dia, serem alunos da minha
escola.
do ela nos mandava guardar
os objetos. A gente fechava
Se ela me elogiava Meu pai, assentado na
o caderno, guardava o lá- eu baixava a cabeça. escada da casa, prestava
pis e a borracha dentro do atenção na minha leitura,
estojo e esperava com os Por fora muita de maneira despistada.
braços cruzados sobre a car- vergonha e por De noite, antes de dormir,
teira. Assim, ela continuava curioso, ele queria que eu
dentro um herói.
mais um pedaço da histó-
ria. Parecia com a Sant’Ana
da capela com o livro no
” adiantasse um pouco mais
da história. Mas eu não
contava. Sabia que imaginar
colo. Eu não acreditava que fazia parte da leitura.
podia existir outro céu além da nossa sala de
aula. Bartolomeu Campos de Queirós é escritor.
Recebeu os prêmios Jabuti, APCA,
Ficava intrigado como num livro tão peque- Bienal de São Paulo, Fundação do Livro Infantil e
no cabia tanta história, tanta viagem, tanto en- Juvenil entre outros.
FICAVA INTRIGADO COMO NUM LIVRO TÃO PEQUENO CABIA TANTA HISTÓRIA, TANTA VIAGEM, TANTO ENCANTO.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
ESPECIAL
A Professora Conceição Cabrini analisa as atividades vivenciadas
pelos alunos e os textos produzidos nas oficinas sobre o gênero Memórias,
destacando os conceitos históricos presentes
Viver para contar no fascículo Se bem me lem- das, compararam o presente
bro (Kit Itaú de Criação de Tex- ao passado. A partir desses re-
to) em que os alunos aprende- latos as crianças escreveram
uma viagem “naquele tem ças do passado, segundo ele ‘afofa o banco’.”
a antiga estação ferroviária e o
‘rabicho’ – espécie de trilho espe
an
Depois de reviver as lems bra escreverem as Aluno: Amâncio José de Lima Neto, 10 anos,
4a série – Cidade: Três Lagoas – MS
onde o trem manobrava para co
convide seus aluno subir a serra. A demora na subid
dores entrevistados. Entrevistado: Manuel José de Souza, 91 anos
serra da Várzea Grande era tanta
memórias de um dos mora contando algumas pessoas preferiam subi
Professor, escreva-nos e depois pegar o trem novament
sua experiência. Aluna: Justine Prinstrop, 11 anos, 5a
Cidade: Gramado – RS
Entrevistada: Selmida Fischer, 90 an
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Fogão a lenha, café no bule
“Onde eu morava, tinha uma cozinha de
madeira, um fogão a lenha com chaminé,
sempre aceso, com bule de café quentinho
sobre a chapa. Que saudades tenho do barulho
dos carros de boi passando pelas ruas de terra.
Às vezes, vinham carregados do nosso ‘ouro
verde’, o café, que até hoje impera na nossa cidade.”
Aluno: Guilherme A.
Chagas Silva, 12 anos,
5a série
Cidade: Itamogi – MG
Entrevistado: Vitor Pedro
da Silva, 70 anos
Cinema sem
pipoca e com
bolo de fubá
“(...) no cinema
montado pela
família Zampronha,
na frente da vendinha de ferragens,
não sei o que era melhor, se a tela
de pano molhado para não
incendiar com o calor do refletor
que ficava atrás dela, se o
achocolatado e o bolo de fubá
servido nos intervalos.“
Aluna: Moniele Cristina
dos Santos, 11 anos,
5a série - Cidade:
Nova Granada – SP
Os dengo-dengo Entrevistado:
Cezar Monteiro,
de Santa Catarina 86 anos
“Os habitantes eram,
curiosamente, chamados de
ecial ‘dengo-dengo’ porque na igreja matriz
onseguir tinha um sino que fazia um barulho
da da parecido com dengo-dengo-dengo.
a que Até hoje as pessoas mais
ir a pé antigas nos chamam assim.”
te.” Aluna: Isabela Caroline dos Santos, 9 anos,
a
série 4a série - Cidade: Navegantes – SC
Entrevistada: Adélia de Souza Fernandes,
nos 89 anos
No tempo de dantes
Um dos grandes desafios que o professor Em 1929, um bonde trafega pela
rua Catumbi, no bairro do Belém,
enfrenta em sua prática é ajudar seus alunos a em São Paulo (SP), quando um ele-
escreverem textos de qualidade. O primeiro fante fugido de um circo aparece
no meio da pista. Para espantar o
passo para o êxito desse trabalho é conhecer bicho, o motorneiro aumenta a ve-
locidade e toca forte a campainha.
bem o gênero que se vai ensinar. Sentindo-se ameaçado, o elefan-
Por isso, propomos um desafio: o que você sabe te mete a tromba no bonde, bate a
cabeça na lataria e desmaia. A par-
sobre o gênero Memórias? tir de então a palavra “trombada”
passou a ser usada como sinôni-
mo de acidente, colisões.
Memórias versus memória...
Você conhece palavras, expres-
1 - O gênero Memórias... sões que marcam o tempo passa-
a - explora o ambiente em que o aluno vive. do? Você pode imaginar o que
b - traz uma abordagem nostágica da cidade. significam? Então dê a “definição”
das palavras abaixo. Não vale con-
c - ajuda o indivíduo a planejar mudanças na cidade onde vive. sultar o dicionário.
12 d - é um meio de articular o passado ao presente – a história de cada
indivíduo traz em si a memória do grupo social a que pertence. Dantes Oitão
Ramona Tramela
2 - Resgatar as lembranças das pessoas mais velhas relaciona- Coreto Ceroula
das ao lugar onde vivem é muito importante para: Janota Anágua
a - conhecer suas opiniões. Pracinha
b - constituir o sentimento de pertencer ao lugar onde vive.
c - saber com exatidão os acontecimentos ocorridos no lugar. Resposta na página 21
Se bem me lembro...
Fazendo o teste da página 12, você ativou seus conhecimentos sobre o gênero Memó-
rias. É hora de colocá-los em prática. Leia alguns trechos escritos pelos alunos e descu-
bra por que se distanciam dos critérios de avaliação apresentados no fascículo de Me-
mórias do kit Itaú de Criação de Textos.
TEXTO 1 TEXTO 2 TEXTO 3
Título: O lugar onde eu moro Título: O lugar onde vivo Título: Samambaia do Leste
“(...) O lugar onde moro é muito “(...) Moro numa cidade pequena. “(...) Moro em um povoado chama-
legal, a minha vida é só brincar. Antigamente esse lugar era mais do Samambaia do Leste que foi fun-
Quando eu era pequena todo tranqüilo e as pessoas não ficavam dado por um alemão chamado Dr.
mundo gostava de mim principal- preocupadas com os assaltos. Todo Alberto Fritz no ano de 1956. Ele
mente o meu pai e minha mãe. mundo se conhecia e não tinha foi um batalhador por Samambaia
Agora tenho 10 anos e estou fican- violência. As ruas eram de terra e do Leste, criando inclusive a coo-
do grande, moro com minha famí- as crianças podiam brincar de perativa Companhia do Café Alto
lia no sítio. Tenho muitos amigos. amarelinha, mãe-da-rua, pular cor- Noroeste (CCAN). Anos depois, em
Gosto de brincar de correr e de da sem medo. Os mais velhos sen- sua homenagem, a cidade passou
jogar bola com eles. (...)” tem saudade do lugar. (...)” a se chamar Alberlândia. (...)”
13
Se você não conseguir recuperar na memória os critérios de avaliação, leia as observações e
identifique nos lembretes quais correspondem a cada texto analisado.
o ma
e é ——
ess——
que—— is adeq—— ——ao
uado ——
Po r —— —— ——
Um dedo d—— pro
e —— sa
————————
—— ——
nosso objetivo? ————————————
—————————— ——————————
pr op or o de—————— cas próprias
Em——
——
la de
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Qu ais as característi
——————————
——————————
pa——ra seu s ——
de tex
o —— to—— ——
traba
—— —— lho
—— de——pro——duçã—— —— desse gênero? ————————————
——————————
cisa—— conh er be
ec—— m cular ? Em que
aluno
—— ——s,——o pro——
sor——
fes—— pre—— —— ——
On de o texto vai cir——
——————————
————————
za ——
re—— da ——
ém—— ter—— cla blicado?
o gê ne——ro ——e ta—— mb—— —— portador será pu——————————
——
—— ——
lev a
ar————ca bo ——————————
ação de——pro——duçã—— o.—— Para—— ——
situ—— ——
Ao pé da letra
—— sor
fes——
é pre
, —— o qu
cis—— e o——pro——
e tra——
ess——
——
balho—— —— ——
——no
co ——r
de—— rre gênero Memória
comp art—— -o co
ilhe—— —— m——sua—— turma —— E você, já trabalhou com o
—— —— com sua turma?
das——oficin as : —————————————— contam histórias
—— —— ——
e —— Leu para os alunos textos que
que—— estam——os
esc endo
rev—— ——est——
do passado, organizou exposiç
ão de fotos,
Po
—— —— r —— —— ——
? Pes quisou fatos
finali da——de?—————— documentos, obje tos anti gos
to? Co que——
m —— ——
——tex—— —— ——
interessantes do lugar? Ent
rev u antigos
isto
em ——vamo s esc rev er? Quem
—————————— interessantes?
Pa
—— —— ra—— qu—— —— moradores? Criou ativ idad es
ore——
s leit—— s? ———————— esc rita , con vido u seu s alunos a se
ão sso——
no—— E na hora da
——ser
—— —— rev ista do e retomou
os——be——m o—— assun ou————
to—— colocarem no lugar do ent
Co
—— —— nh—— ecem
—— ——
com eles a situ açã o de pro duç ão?
mais——
r —— orm——
inf—— açõe—— s? experiência.
am—— busca
os —— Escreva-nos contando sua
——pre——cis —— ——
..
du zir——um—— to do
tex—— ——
nero.
gê—— ——
Va—— mo ——s pro
—— ——
——
REPORTAGEM
Professoras Onélia e
Afria contaram
histórias de Campos
Novos
TIRANDO DE LETRA
Superando obstáculos
Com poucos recursos e muita força de vontade, professora do Pará conta como
envolveu e motivou seus alunos a pesquisarem e produzirem textos de memórias.
Maria do Socorro Braga Reis*
Q uando li na revista Nova rar o grupo para a entrevista. Sem
Escola o quadro que falava do recursos para as gravações, divi-
Prêmio Escrevendo o Futuro, fi- di com os alunos a responsabili-
quei interessada em participar. dade de anotar as respostas dos
Queria encontrar respostas para entrevistados.
reverter a situação de minha tur-
Colher as memórias não foi
ma de 5ª série: um grupo de alu-
fácil, pois as pessoas escolhidas
nos com inúmeras dificuldades
pelo grupo não queriam se des-
em leitura e produção de texto.
locar até a escola. Depois de al-
16 Contei aos alunos que havia gum esforço conseguimos entre-
feito a inscrição no Prêmio Es- vistar três pessoas: o Sr. Nestor
crevendo o Futuro. Mostrei o Gato, de 73 anos, a Sra. Joana
material e expliquei à turma Mecena, de 65 anos, e a Sra.
cada gênero textual. Depois de Faustina, de 71 anos.
uma longa conversa, optamos
O primeiro entrevistado – Sr.
por “memórias”. Propus a pri-
Nestor Gato – brincava muito,
meira oficina. Começava assim
contava piadas, não era o que
um novo jeito de trabalhar. Mes-
Dona Faustina da Silva queríamos. Dona Joana só con-
mo com novos alunos chegan-
Rosário, 71 anos. tava fatos do presente, embora
do e outros faltando (para aju-
houvesse bastante insistência por
dar os pais na roça ou na maré)
parte das crianças. Já Dona Faus-
as oficinas iam fluindo. Eu insis-
tina (Tia Fausta como é conheci-
tia para que não faltassem.
da) nos contagiou desde o pri-
Pedi aos alunos que escolhes- meiro momento, quando come-
sem um dos depoimentos colhi- çou a falar do bairro de Nova
dos na pesquisa e, com base nes- Olinda.
ses dados, se colocassem no lu-
De volta à sala de aula, orga-
gar do entrevistado e escrevessem
nizamos todas as informações.
o primeiro texto de memórias.
Pedi aos alunos que se colocas-
Dando continuidade ao tra- sem no lugar da entrevistada e
balho, lemos o texto da Zélia assim todos viraram “Faustinhas”,
Gattai (solicitei ajuda de algumas escrevendo suas memórias.
pessoas para reproduzir os tex-
tos que foram entregues aos alu- Passei o domingo corrigindo
nos). Também estudamos, nos os textos. Notei que alguns ain-
textos de memória – os que es- da apresentavam dificuldades em
tão ao final do fascículo Se bem empregar os tempos verbais. Fiz
me lembro... – o uso dos verbos as intervenções necessárias e, na
“Faustinhas” escrevendo suas seqüência das oficinas, fui per-
no pretérito perfeito e imperfei-
memórias. cebendo o avanço dos alunos
to e as expressões que indicam
o tempo e a comparação entre (participando mais das aulas, se
acontecimentos do passado e do alunos desconheciam a história colocando no lugar de pesquisa-
presente. e a escola não dispunha de ví- dores, assumindo a preocupação
deo, levei-os até minha casa, de revisar até mesmo os peque-
Contei à turma que há outras
para uma sessão de cinema im- nos textos). Na atividade final de
formas de registrar as memórias.
provisada. reescrita do texto, constatei o
Perguntei se assistiram ao filme
quanto eles aprenderam.
Titanic, cujo roteiro foi elabora- E assim foram acontecendo as
do a partir do relato de memórias oficinas. Mimeografei algumas * Semifinalista em 2004,
de uma velha senhora. Como os dicas com o objetivo de prepa- Augusto Corrêa, PA.
O título sugestivo
Ontem alegria, hoje solidão
————————————————————————
convida à leitura.
————————————————————————
Naqueles tempos a vida passava devagar,
————————————————————————
era um sossego, tudo era tranqüilo, tínhamos
————————————————————————
a alegria, aliás alegria era comum.
————————————————————————
Levantávamos cedo para encher água na cabeceira, depois
———————————————————————————————
íamos lavar as roupas e tomar banho no rio.
——————————————————————————————— 17
O carro não vinha até aqui, ficava na parada Zé
———————————————————————————————
Expressões e Castor. Para ir até Bragança ou tinha que andar muito
———————————————————————————————
verbos no ou ir a pano (canoa) atravessar as maresias.
———————————————————————————————
pretérito
imperfeito
Notícias eram tão distantes de nós, a não ser as do
———————————————————————————————
marcam povoado: uma mulher que paria, uma moça que fugia.
———————————————————————————————
o tempo Os anos passavam devagar e nós aproveitávamos o luar, as
———————————————————————————————
passado,
tempo de
brincadeiras de roda, lembranças do bombaqueiro, sapatinho
———————————————————————————————
relembrar. branco, brincadeira do anel, tudo girava em torno da alegria.
———————————————————————————————
A comida era farta, muito peixe, caranguejo, ostra, Experiências
——————————————————————————————— relatadas na
Adjetivos e siri. Podíamos escolher do tamanho desejado. A vida
——————————————————————————————— primeira pessoa
advérbios corria livre, sem grandes barulhos, a não ser os músicos do
——————————————————————————————— do plural mostram
enriquecem Sereno, que nos faziam correr pulando numa grande dança. o sentimento de
——————————————————————————————— pertença à
a descrição.
A maré enchia, a maré vazava e nós sempre tomando
——————————————————————————————— comunidade.
banho no rio, às vezes ouvíamos um ralho, um cipó que
——————————————————————————————— A primeira pessoa
do singular traz a
O autor evoca teimava em nos marcar.
——————————————————————————————— voz e marca a
emoções e Como era simples viver sem correrias, ouvindo os
——————————————————————————————— história pessoal
sentimentos
do tempo pássaros, os gritos da Matinta-Pereira. Os grandes
———————————————————————————————
do entrevistado.
vivido, que morcegos rasga-mortalha faziam-nos tremer de medo nas
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envolvem noites escuras.
o leitor. ———————————————————————————————
Em Nova Olinda era assim. Hoje com a chegada do
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A comparação
ônibus as coisas não são as mesmas, a energia elétrica
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do tempo transformou as pessoas, nem se brinca mais, todos assistem
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antigo com à televisão, é uma correria das motos e os meninos estão
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o atual
evidencia cada vez mais malcriados. A alegria deu lugar à solidão.
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diferenças e Somos ainda uma comunidade pequena, no entanto existem
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mudanças tantas mudanças que parece que o tempo é outro. Não se
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ocorridas
no lugar. conversa mais, todos estão ocupados demais em suas casas.
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Da minha porta sentada fico pensando, por que tantas
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mudanças? Isso era para ser exclusividade dos camaleões.
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Sem netos para alegrar os meus dias, sinto-me cada vez
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mais só, solitária com as minhas lembranças.
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HISTÓRIA DE ALMANAQUE
Foi assim...
Era uma manhã fria do mês de agosto. Abri a janela do
meu quarto e olhei para uma quaresmeira da praça. Lembrei-
me da minha infância, quando havia muitos prédios que com o
passar do tempo foram demolidos. Não ouvíamos músicas pela televisão, nem
18 pelo rádio. Havia um coreto no largo da praça onde, aos sábados e domin-
gos, lindas músicas eram tocadas. Os casais iam lá “trocar olhares” (naquela
época era namorar). Quantos olhares troquei. Os ciprestes da praça eram
cortados em formato de instrumentos musicais. Havia um canteiro de flores
com as iniciais J.S., do Prefeito José Sureti e com o nome da cidade Nova
Resende, destruído pela rivalidade política. Aranhas e Caranguejos eram
partidos políticos rivais da época. Um banquinho era o símbolo da vitória
política: quando colocado do lado de cima da praça, vitória dos Aranhas;
do lado debaixo, vitória dos Caranguejos.
Recordo-me do dia da inauguração da luz. Era uma manhã ensolarada.
Um morador antigo, o Quincas Neto, ficou encarregado de hospedar em
sua casa a banda da Ventania, vinda da cidade vizinha com o mesmo nome.
A banda executava as canções, quando os políticos da situação, os Ara-
nhas, resolveram subir até a rua dos políticos derrotados, os Caranguejos,
para a inauguração da Casa da Luz.
Naquela época a cidade era dividida mais ou menos ao meio: da casa do
senhor Rosendo Gonçalves de Rezende para cima, eram eleitores e políticos
dos Caranguejos. Dali para baixo, dos Aranhas.
Recordo-me como se fosse hoje, apesar de esse fato ter ocorrido há mais
ou menos 75 anos. A banda, junto com os Aranhas, percorria um pequeno
trajeto até a Casa da Luz. Quando iam se aproximando, a banda foi
interrompida por um grito do senhor João Gaspar (caranguejo) que estava
acompanhado por outros amigos.
— Daqui para cima não passam!
Nesta hora o senhor Tonico Araújo respondeu:
— A banda da Ventania não passa, mas eu passo!
Dona Zota, uma moradora da cidade, vendo a confusão, tentou
impedir. Quando o primeiro tiro foi disparado, acertou a perna dela.
ARANHAS E CARANGUEJOS ERAM PARTIDOS RIVAIS DA ÉPOCA.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
Beatriz Cristina B. Cardoso tem 10 anos e participou do Programa Escrevendo o Futuro em 2004, sendo orientada por sua 19
professora Eneida Evangelista Silva Pereira na 4a série da E.E. Padre Luiz Moreno, em Nova Rezende – MG.
Seu texto foi escrito a partir da entrevista com dona Edite Sales, de 84 anos e moradora à praça Santa Rita, em Nova Rezende.
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