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PRA QUE(M)?
ÍNDICE
É banal: certamente
Não é o paciente
Que acumula capital.
Esta é uma crise do sistema capitalista, uma crise que, apesar das suas
especificidades, é típica do modo de produção capitalista e que ocorre em
decorrência da própria dinâmica do sistema. Não é um problema de credibilidade,
ou porque alguém emprestou dinheiro a quem não podia pagar, ou porque existem
banqueiros “maus-caráter” que nos levam todos a sofrer. Pensar assim é acreditar
que as crises existem por causa do caráter das pessoas e que o sistema capitalista,
caracterizado pelas relações de exploração, não tem nada de ruim, desde que seja
gerenciado por pessoas “boas”.
Para fugir deste destino, quando esta tendência de queda da taxa de lucro
aparece, uma parcela dos capitalistas começa a transferir parte cada vez maior do
seu capital para o mercado financeiro, para tentar absorver valores criados na esfera
produtiva por meio de juros e especulação. No início, todo mundo acha interessante,
mas esse mercado financeiro começa a aumentar tanto o seu valor que este não tem
mais correspondência com o valor real criado pelos trabalhadores na esfera
produtiva. Aí começam a se manifestar os sintomas da crise.
Além disso, como todos podem conferir na grande mídia, os Bancos Centrais e
os governos do mundo todo e do Brasil, já gastaram centenas de bilhões de dólares
para salvar empresas e bancos. Não nos enganemos, este Estado, com ou sem bolsa-
família, ainda serve a uma minoria da população.
Como dissemos, o sistema capitalista entra em crise porque no seu modo de agir
vive uma contradição que não será resolvida, ou seja, a produção coletiva do valor
pelo trabalho e a sua apropriação privada pelo capital. Agora é importante ressaltar
porque a crise ocorreu neste momento.
O fato é que nos dias de hoje existem condições objetivas, dadas pelo
desenvolvimento dos meios de produção, para o desenvolvimento máximo do
potencial de cada um, mas esta possibilidade é limitada pelas necessidades das
classes dominantes. Hoje temos máquinas capazes de perfurar rochas e que não
exponham os trabalhadores de forma intensa à inalação da poeira de sílica. Mas por
uma questão econômica, na abertura de túneis, estradas e mineração, persistem os
processos primitivos, expondo os trabalhadores a lesões irreversíveis nos pulmões.
Sabe-se, ainda, através de estudos, que o exame clínico da mama, ou mesmo o auto-
exame, não tem impacto nos índices de mortalidade e sobrevida das pacientes com
câncer de mama, por detectar nódulos em estágios avançados. Sabe-se também que
aquele exame que tem impacto na sobrevida destas mulheres é a mamografia.
Porém, no Brasil, cerca de 90% dos mamógrafos encontram-se à disposição
daqueles que podem consumi-lo, daqueles que podem pagá-lo. E apenas 10% dos
mamógrafos encontram-se disponíveis para aqueles que dependem do Estado.
I. Considerações iniciais
Pode-se afirmar, assim, que nenhuma mudança efetiva foi adotada para impedir
o progressivo desmanche da assistência à saúde gratuita universal, igualitária. Sabe-
se, ainda, que os Hospitais Universitários possuem papel privilegiado na assistência
à Saúde de alta densidade tecnológica, que necessitam de assistência mais
demorada, como os transplantes, pacientes com câncer, medicamentos excepcionais,
pacientes com Aids etc. Estes procedimentos pouco interessam ao setor privado,
como os planos de saúde, já que são pouco rentáveis. Assim, toda população acaba
por usar os serviços destes hospitais com financiamento público, podendo ou não
consumir um plano de saúde. Sabidamente, há décadas, o respaldo à qualidade da
assistência à saúde vem da integração entre ensino-pesquisa e assistência de várias
áreas.
Ademais, quando o lucro não é o esperado pelas empresas, sabemos quem paga
a conta com a socialização dos prejuízos. Foi o que aconteceu com a Fundação que
se apoiava no HC-USP, Fundação Zerbini, cuja dívida socializada com os
trabalhadores chegava a 200 milhões de reais em 2006, ano em que estas
informações chegaram até a grande mídia.
De modo geral, o Plano Diretor pregava: (1) o ajustamento fiscal duradouro; (2)
reformas econômicas orientadas para o mercado, que, acompanhadas de uma
política industrial e tecnológica, garantam a concorrência interna e criem as
condições para o enfrentamento da competição internacional; (3) a reforma da
previdência social; (4) a inovação dos instrumentos de política social,
proporcionando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os serviços
sociais; e (5) a reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua
governança, ou seja, sua capacidade de implementar de forma eficiente políticas
públicas.
No estado de São Paulo temos um laboratório para estudar os impactos das OSs,
já que sucessivos governos têm implementado uma política ofensiva de privatização
do patrimônio público. Somando-se o ajuste fiscal para pagamento da dívida pública
e o arrocho das políticas sociais temos um tripé que sustenta a política dos governos
no último período, caracterizada pela entrega do patrimônio público para o capital
privado.
Ainda, há a questão trabalhista que não pode ser afastada, na medida em que as
questões atinentes à terceirização, dentro das Organizações Sociais, ocasionam
graves prejuízos às condições de trabalho, caracterizados por desvio de função,
sobrecarga de serviços e alta rotatividade quanto às empresas terceirizadas.
Todavia, quando o capital imprime sua lógica para a totalidade da vida social
também o Estado tem de ser contra-reformado para que as instituições e as políticas
sociais que garantem os direitos dos trabalhadores se transmutem em negócios que
promoverão lucratividade para o capital.
O projeto de lei permite que cada fundação, como ente autônomo, tenha seu
plano próprio plano de cargos, carreiras e salários. Além da segmentação da base
sindical e da fragilização da organização dos trabalhadores, para os gestores é
também um problema administrar pessoal cujos salários são diferenciados para a
mesma função.
A Fundação Estatal estará vincula ao órgão ou entidade para qual finalidade foi
criada, submetendo-se à esfera de governo que a criou: Poder Federal, Estadual ou
Municipal. A FEDP é a personificação de um patrimônio público segundo as regras
do direito privado para prestar serviço de interesse social. Há, portanto,
transferência de patrimônio público para pessoa jurídica de direito privado. Ocorre
ainda, transferência de recursos públicos por meio de Contrato de Gestão, sendo que
a fundação poderá obter recursos a partir da prestação de serviços em sua área de
atuação.
Como a FEDP não compõem o Orçamento Geral da União, não obedece à Lei de
Execução Orçamentária. Ou seja, a receita pública que recebe pode ser utilizada da
maneira que bem entender sua administração, não havendo destinação definida.
Ademais, as Fundações Estatais devem obedecer à Lei de Licitações. No entanto, a
licitação na Fundação Estatal não se dá da mesma forma que na Administração
Direta, havendo regimento próprio para a licitação nas Fundações Estatais, podendo
cada uma ter regimento diferente.
O estatuto jurídico das fundações estatais de direito privado impede que seja
exercido o controle público da forma plena. Vejamos: “O Conselho Curador (ou de
Administração) é o órgão de direção superior, controle e fiscalização da Fundação
Estatal. É órgão colegiado, com representação majoritária do governo, sendo
presidido pelo titular do órgão. Conta entre seus membros com a participação de
representantes da sociedade civil e dos empregados. Seus membros podem ou não
ser remunerados, de acordo com o que dispuser a lei ou os estatutos”.
Uma análise mais minuciosa nos mostra que todos pagam para que alguns
possam consumir. Segundo dados do Ministério do Planejamento (2006), no ano de
2005, o Estado deixou de arrecadar através de deduções e renúncia fiscal o
equivalente a quase 3 bilhões de reais, que representa quase 7% do montante de
dinheiro movimentado pelos planos de saúde. Isso sem contar os mais 1 bilhão de
reais, também em 2005, que o Estado deixou de arrecadar, também através de
deduções e renúncia fiscal, daquelas empresas médicas de baixa tecnologia,
chamadas eufemisticamente hospitais filantrópicos (Santas Casas de Misericórdia).
Entretanto, há de se considerar que nem tudo são rosas para aqueles que
consomem os planos de Saúde. Objetivando o lucro, estas empresas impõem uma
série de restrições na assistência à saúde, colocando em riso a sobrevivência do
paciente e prejudicando os trabalhadores em saúde. Como caso drástico, usaremos o
exemplo do documentário “Sicko”, escrito e dirigido pelo cineasta Michel Moore,
que retrata a situação do Sistema de Saúde nos EUA, em que a saúde consolida-se,
através dos planos de saúde, como espaço essencial de acumulação de capital:
“Meu nome é Linda Pino. Estou aqui, primeiramente, hoje para fazer uma
confissão pública. Na primavera de 1987, como uma médica, eu neguei a um
homem uma operação necessária para salvar sua vida e isso que causou sua morte.
Nenhuma pessoa e nenhum grupo me culparam por isso, porque, de fato, o que
eu fiz foi salvar US$500.000,00. E ainda, por este ato em particular, garantiu
minha reputação como uma boa diretora médica e assegurou meu contínuo avanço
no campo do plano de saúde.
Eu deixei de ganhar uns centavos de dólares por semana como uma revisora
médica, para ter uma renda de 6 dígitos como uma médica executiva. E eu tinha um
objetivo principal que era usar meu conhecimento médico para o benefício
financeiro da organização em que eu trabalhava.
E me diziam repetitivamente que eu não estava negando cuidado, eu estava
negando pagamento. Eu sei como os planos de saúde machucam e matam
pacientes. Então estou aqui para dizer sobre o trabalho sujo dos planos de saúde e
eu sou assombrada pelos milhares de papel no qual eu escrevi em uma palavra
mortal: NEGADO.
Obrigada”.
Para finalizar, cabe tecer algumas considerações sobre a ANS, responsável pela
regulação da saúde suplementar. O arcabouço teórico da criação destas agências
também se encontra no Plano Diretor de Reforma do Estado, alinhado com o
preconizado pelos organismos multilaterais, ou seja, com as grandes corporações: o
Estado possuía em sua estrutura setores estratégicos e exclusivos, que deveriam ser
de controle estatal; setores não exclusivos, que são de dever do Estado mas que
podem ser compartilhados com a iniciativa privada; e os setores para produção para
o mercado, que deveriam ser privatizados.