Porque que opomos tanta resistncia a parar e a conceder-nos formas de
descanso que nos restituam a ns prprios? Por uma razo simples: o movimento parece-nos mais fcil de viver. O movimento preenche o tempo, mantm-nos ocupados nas suas voltas vertiginosas, enquanto o repouso inicia-se muitas vezes com a sensao de um esvaziamento, surpreendente, incmodo, difcil de gerir. Por isso fugimos do repouso verdadeiro, no qual o encontro connosco prprios inevitvel. o que com frequncia acontece s pessoas superatarefadas que finalmente decidem dar-se um tempo de pausa ou de retiro. No raro que a sua primeira experincia seja o desejo de escapar, enquanto pensam que o retiro foi uma m deciso: a princpio percecionam uma sensao de abandono, como se inesperadamente se encontrassem a combater sozinhos com a sua noite. Thomas Merton, um mestre que necessrio redescobrir, escreve: O caminho da quietude nem sequer chega a ser um caminho, e quem o percorre no encontra nada. Soa estranho, no verdade? Aprender a repousar tambm aprender a libertar-se do imediatismo das nossas expetativas e dos nossos desejos excessivamente idealizados. Repousar dizer-se, no fundo do corao: Estou aqui, espera de nada. Jos Tolentino Mendona In "Avvenire" Trad.: Rui Jorge Martins Publicado em 04.01.2017