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> mstoma sociorotinica pa uncua ronrucuesa <> principalmente a partir da Constituicdo de Cadiz, de 1812, que instituiu, por breve periodo, uma monarquia constitucional na Espanha. Em geral, estas primeiras Constituigdes nao trataram especificamente de ques- tes linguisticas. A primeira a fazé-lo foi a da Noruega (1814), que restringiu os cargos publicos a cidadiios que falassem a “lingua do pais”, nos termos do artigo 92: “Para cargos oficiais superiores do Estado sd podem ser indicados cidaddos noruegueses, homens ou mulheres, que falem a lingua do pais”. Nao se usava ai a expressao lingua oficial, mas lingua do pats, que, de certa forma, esta mais proxima da expresso lingua nacional. A Constituigaio da Confederagao Helvética, de 1848, foi a proxima a tratar de questdes linguisticas. Nao o fazia, porém, estabelecendo restrigdes. Seu texto declarava multilingue o pais, listando as suas linguas nacionais. Seu artigo CIX, dizia: “As trés linguas correntes da Suica —o alemao, o francés ¢ o italiano — sdo as linguas nacionais da Unido’. No ano seguinte, a Constituigdo do Império Austro-Hingaro (que nao chegou a vigorar porque o imperador Francisco José comecou, ja em seguida, a governar como um mondfréa absolutista) dizia, em seu artigo V: “Todas as nacionalidades sdo iguais ¢ cada nacionalidade tem o direito inaliendvel de preservar e promo- ver sua nacionalidade e sua lingua”. A Constituigéo austro-hingara de 1867 (de carater liberal), em.seu artigo, 19, repetiu esse principio, ampliando-o: 1, Todas as nacionalidades sao iguais e cada nacionalidade tem o direito inaliena- vel de preservar e promover sua nacionatidade e sua lingua. 2. A igualdade de todas as linguas usadas correntemente numa regiao particular nas areas da educacdo, administracdo e vida pilblica é garantida pelo Estado. Em regides em que varias nacionalidades vivem juntas, deve ser assegurado que as instituicées educacionais do Estado sejam organizadas de tal modo que cada uma dessas nacionalidades seja instruida em sua propria lingua, sob ne- nhuma pressao para aprender uma segunda lingua regional. Fazia-se ai, num Estado multiétnico ¢ multilingue, um esforco para delinear uma politica das nacionalidades, buscando garantir um caminho igualitario que evitasse os conflitos entre elas, conflitos que pairavam como continua ameaga A unidade do Império Habsburgo. Diferentemente do vizinho Império Otomano, igualmente multiétnico e multi- lingue, mas que nao se reconheceu como tal e declarou o turco lingua oficial, o Império Austro-Hungaro nao definiu constitucionalmente uma lingua oficial, reconhecendo antes todas as linguas do Império em cada uma das suas regiées. D> rucromua <> E mais: garantiu, em regides em que varias nacionalidades ¢ linguas conviviam, © direito A educacao na lingua de cada uma, sem que houvesse pressio para o aprendizado de uma segunda lingua regional. Apesar de tudo isso, nao se conseguiu, de fato, evitar os conflitos ¢ as tensdes entre os interesses da populacao de fala alema (que dominava o centro do Im- pério) e os interesses das outras nacionalidades e mesmo os interesses destas, umas em relagdo as outras (cf. Schjerver, 2003), 0 que serve para ilustrar como so complexas as questdes politico-linguisticas. De qualquer forma, o constitucionalismo do século XIX foi progressivamente incorporando questées linguisticas nos textos constitucionais. E as primeiras Constituigdes a fazé-lo j delimitaram, de certo modo, algumas das grandes questdes de politica linguistica que os séculos seguintes continuaram tendo de enfrentar: reconhecer (ou nfio) 0 multilinguismo; definir (ow nao) uma lingua oficial; restringir (ou nao) o exercicio de certos direitos a falantes de determi- nada lingua’. Nada dessa histéria toda e desse conceitual estava presente no século XIII. Assim, falar em lingua oficial naquele contexto é, claramente, um juizo anacr6- nico. Para nao cairmos em anacronismos, é importante evitar qualificar eventos do século XIII pelas lentes de conceitos criados muitos séculos depois. O historiador portugués José Mattoso, na monumental Historia de Portugal (1993, vol. I: 153-155), obra de que é organizador, nao trata a generalizacdo pela Chancelaria Real do uso da lingua romanica vernacula (que ele chama de “portugués”) como um evento isolado. Considera-a como parte de uma politica geral de nacionalizagdo praticada por D. Dinis — politica que englobaria a rigorosa delimitagio das fronteiras do reino, 0 reforgo ¢ organizagao militar, 0 controle das ordens militares, retirando-as da sujeigdo castelhana, ea findagao do Estudo Geral (Universidade). Talvez melhor que xacionalizagdo (um termo que, de novo, sugere anacronis- mo, se considerarmos os argumentos de Hobsbawm (1990) de que a agrega¢io do sentido de corpo politico 4 palavra nagdo tenha ocorrido apenas no século XVIII), seja o caso de se atribuir a D. Dinis uma politica geral de reforgo da singularizacdo ou da individualizacdo de seu senhorio diante de Castela. Curiosamente, a Franca, que tanto agitou as questées linguisticas no século XVIII, lancan- do as bases do jacobinismo linguistico, s6 veio a definir 0 francés como “Iingua da Repiiblica” (note-se que a expressio lingua oficial no @ usada) pela lei constitucional 92-554, de 25 de junho de 1992, que introduziu emendas & Constituigo de 1958, entre as quais a inclusio, no artigo 2°, do enunciado: “A lingua da Repiibliea & 0 francés”. ‘48> stoma sociorotinea pa uincua ponrucvesa Essa variedade centro-meridional, pelas vicissitudes da historia, ganhara progressivamente ascendéncia sobre os falares setentrionais, se tornara base de uma norma que seré posteriormente identificada como a norma de refe- réncia de Portugal, acabara por receber novo nome (em meados do século XV) e conhecerd, a partir desse mesmo século, uma expansio para fora do continente europeu. Nesse sentido, se da Reconquista resultou a expansao da base territorial do roman¢o do noroeste ibérico, resultou também, como efeito tardio da criagdo ¢ estabilizacao do reino de Portugal, uma relativa clivagem linguistica da faixa ocidental da Peninsula entre o norte e o centro-sul. O deslocamento das fronteiras do Condado Portucalense origindrio cada vez mais para o sul, a constituigdo do novo reino (que acabou por se estender do Minho ao Algarve), a fixacSio da corte no centro-sul (primeiro em Coimbra e, depois, a partir de 1250, em Lisboa), as mudangas demograficas ¢ politicas dos fins do século XIV ¢ XV € 0 inicio da gramatizagao dos falares centro- -meridionais no século XVI (processo que nao alcangou os falares da Galiza) — tudo isso — somado A permanencia da regio ao norte do rio Minho (a Galiza) sob © dominio de Le&o e Castela, a posterior derrocada da nobreza galega e & castelhanizacao da regio (fins do século XV e comegos do XVI) — concorreu para quebrar, em parte, a relativa unidade linguistica medieval, dando origem As duas linguas modernas conhecidas hoje pelos nomes de galego e portugués"®. A linguista portuguesa Esperanga Cardeira (1999; 10) comenta assim 0 pro- gressivo afastamento linguistico do norte e do centro-sul: Nao & de somenos importancia que o centro linguistico de Portugal se constitua neste eixo meridional. Norte e Sul opunham-se j, em consequéncia das estra- tégias da Reconquista e do Repovoamento: um Norte-Noroeste estavel e densa- mente povoado, romanico, de organizacdo antiga, demarcava-se do Centro-Sul mogarake, reconquistado e colonizado, de populacao rarefeita. 0 falar dos recon- quistadores, com as formas tipicas do norte, tinha-se imposto ao sul do Tejo, mas a colonizacao de uma regiao cuja configuraco geografica — menos montanhosa que a norte — propiciava as intercomunicacées, estabeleceu uma intrincada con- vivéncia entre populacdes de origens e falares variados que conduziu a um nive- tamento linguistico. “ Ivo Castro-(2008b: 76) considera que esta separag&o se intensificou a partir de meados do século XIV em meio a eventos que redundaram em profundas 3 Cf. Monteagudo (2012b) para um estudo das convergéncias e divergéncias diactnicas do galego e do portugues ao longo dos séculos. #8) nisroata soctopouirica DA LINGUA PorTUcLESA <5 mudancas demograficas e politicas da sociedade portuguesa. Cita ele os efeitos da peste negra, que dizimou parte da populagao adulta, provocando um salto de geragdes. E lembra a significativa inversio no quadro politico de Portugal como resultado da guerra com Castela e da “revolugao” do Mestre de Avis, que veio a ser o rei D, Jodo I (rei de 1385 a 1433). A nobreza tradicional (de raizes setentrionais), que se aliou a Castela, perdeu a guerra e o poder, sendo substitufda por uma nobreza nova, composta de burgueses nobilitados ou de filhos segundos das casas nobres, que recebe- ram terras e poder econémico no centro e no sul do reino, onde também se estabeleceu mais permanentemente a corte e onde se encontravam a Uni- versidade ¢ os dois maiores mosteiros do reino — Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaga —, possuidores de bibliotecas e de scriptoria ativissimos (Castro, 2008b: 153). Foi também o periodo em que os grupos urbanos do centro-sul tiveram, pela primeira vez, um papel politico determi- nante, crescendo em importancia. Paralelamente a essa conjuntura, Ivo Castro (2008b: 76) identifica um conjunto de niudangas linguisticas que progressivamente afastou as variedades centro- -meridionais da matriz medieval (as variedades setentrionais). Essas mudangas foram estudadas mais detalhadamente na extensa andlise documental (textos escritos entre 1375 e 1475) que Esperanca Cardeira fez em sua tese de doutora- mento (Cardeira, 1999), sob orientagio de Ivo Castro. 4 Trata-se de mudangas de ordem gramatical (“inconscientes, mas numerosas ¢ extensas’; ef. Castro, 2008b: 77; e também Monteagudo, 2012b: 59-64), tais como, entre outras: (@) a queda do -d- intervocalico na desinéncia da 2* pessoa do plural dos ver- bos (amades > amaes, vendedes > nendees) seguida da resolugao do encon- tro vocalico assim criado por meio de uma ditongagao (amais, vendeis); (b) a unificacao em -ao das antigas terminagdes nasais -d ¢ -d de substantivos singulares e de verbos provenientes de varios sufixos latinos (cd > cao, viso > visdo, estam(a) > estao); (©) 0 desaparecimento dos participios passados terminados em -udo, substitui- dos pelos terminados em -ido (emudo > temido); (d) a substituigo do possessivo sa por sua (© acliminagao de irregularidades no radical dos verbos (ardeo >arco > ardo; jaci > jago >jazo) e de variagdes de género dos nomes (0 linhagem > a li- nhagem); ¢ a regularizagio da correspondéncia -or (masculino) com -ora (feminino) como em 0 sewhor/a senhor > 0 senhor/a senhora. mistonia <> A estas, Rosa Virginia (Silva, 2008: 19ss.) acrescentou varios outros processos de danca que foram delineando, entre os séculos XIII/XIV e XVI, a passagem de ses mais antigas da lingua para o portugués moderno. Destaca, entre varios, a bstituicaéo de ser por estar nas estruturas atributivas semanticamente transito- ea vitria de ter sobre haver nas estruturas possessivas. Diz ela (p. 22): Quanto a substituicao de ser por estar (...) nas estruturas atributivas semantica- mente transitérias, posso dizer que do século Xill até meados do século XVI ocor- reu, em sintese, 0 seguinte: enquanto no século XIll ser [+transitério] alcanca 76% nas locativas e 93% nas descritivas, nos meados do século XVI ser decresce para 5% nas locativas e para 11% nas descritivas. Quanto a substituigéo de haver por ter nas estruturas possessivas (...), haver, na posse de atributos materiais, alcanca 70% no século Xill e, nos meados do século XVI, cai para 0%; na posse inerente, haver atinge 100%, no século Xill, enquanto ter, 100% nos meados do século XVI. -se também, ainda segundo Ivo Castro, de mudangas de carter deliberado, no “a relatinizacao do léxico ou a adopgato do castelhano como segunda lingua sréria do pais, qualquer delas vista como processo modernizador” (p. 77). tro (p. 150) considera que este processo de claboragio da lingua, em sua lidade culta, teria sido impulsionado pela geragio capitaneada pelos fi- s de D. Jodo I (ele mesmo um erudito) — D. Duarte, D. Pedro e D. Henri- —, todos intelectuais refinados ¢ ativos, que liam, escreviam e traduziam as obras tiveram, segundo Ivo Castro, um impacto cultural ¢ linguistico a desprezivel. © lembram Saraiva & Lopes (s.d.: 105), “a cultura e a producio do livro nvolvem-se na corte portuguesa do século XV. Os principes coleccionam li- . empreendem iniciativas como a redaccao daquilo que podemos chamar a nica Geral do Reino, fazem traducées e abalancam-se até a escrever pessoal- obras originais” — como Leal Conselheiro, de D. Duarte (1438) e Virtuo- itoria, de D. Pedro (c. 1433), sem esquecer que o proprio rei D. Joao I 0 Livro da montaria. sentido, teriam estes principes intelectuais contribuido com seu labor ico para preparar o terreno para o que viria a ser, no plano culto, o ado portugués cléssico, denominacio que cobre, nas obras de historia da © periodo que vai do século XVI ao XVIII. eadios para o fim do século XV, portanto, parece que foi se acentuando a em linguistica da faixa ocidental da Peninsula, consolidando a quebra da linguistica originaria. 488)> wisrOria sociopotirica DA LINGUA PoRTUGUESA Dois testemunhos de época podem ilustrar a percepgao dessa clivagem linguis- tica: o pedido de reforma dos forais feito nas Cortes de 1495 e 0 prologo do livro Vidas e paixdes dos apéstolos (1502). Segundo Nuno J. Espinosa Gomes da Silva, em sua Histéria do direito portu- gués (p. 214), D. Manuel I, to logo subiu ao trono, convocou uma reunio das Cortes, que foi realizada em Montemor-o-Novo em 1495. Nessa oportunidade, © rei recebeu a solicitagdo para que fossem reformados 08 forais"” porque, por serem alguns em latim e outros em “desacostumada linguagem” (ou seja, em linguagem arcaica), eram motivo de grandes discérdias quanto a seu sentido (cf. Tus Lusitaniae, Universidade Nova de Lisboa): Por ser coussa, em que geeralmente recebiam grandes opressoins, e descordias antre elles, e nossos Officiais ou as pessoas, que de nos tinham os Direitos Reaes, assi per serem alguns em Latim, e outros em desacostumada linguagem. O rei acolheu o pedido e, por carta régia de 22 de novembro de 1497, determi- nou que todos os forais fossem reexaminados de modo a “toruallos a tall forma e estilo que se nosam bem entender e compor”. Logo no inicio do século XVI, ha — conforme Monteagudo (2010: 1838s.) — outra manifestagéo ainda mais explicita da percepgdo da clivagem linguistica. Trata-se do livro Vidas e paixdes dos apdstolos, publicado em 1502 — uma das primeiras tradugdes que apareceram em Portugal na forma impressa. No prélogo, o impressor, dirigindo-se 4 rainha, afirma: Porque neste livro vam muitas palavras do falar antigo que mais parecem galegas que portuguesas, nao ponha Vossa Alteza culpa ao impressor, porque como sabe Vossa Real Senhoria, que a El rei Nosso Senhor aprouve, em vossa presenca, que nom fossem mudados os vocablos antigos em modernos, o que todo tenho feito. Monteagudo considera especial este prélogo por dois motivos. Primeiro, por revelar uma intervengio do préprio rei em questdes de lingua, ndo s6 dando estimulo a tradugdes ¢ impressdes de livros, mas também impondo suas preferéncias estilisticas (conservadoras). E, segundo, por expressar a percepgo da correlagdo que se fazia A época entre galego e antigo, ¢ portu- gués e moderno. A manifestagao dessa percepgao ser uma constante durante todo o periodo quinhentista. Diz Monteagudo (p. 184): ¥ Os forais eram textos legais, emitidos pelo rei, regulando a administragao local e dispondo sobre a cobranca de tributos € outros privilégios. 28> msroma E> No século XVI, en que se afirma o portugués renacentista, o galego xa era sentido como idioma arcaico e ristico (...) Determinados riscos lingilisticos que caracteri- zaban non s6 0 galego, senén as falas septentrionais de Portugal, eran contempla- dos como signo de rudeza. E esse juizo de valor também aparece, por exemplo, em pegas de teatro na fala de personagens risticos ou em comentérios sobre ela, “4 maneira do que no teatro espanhol se fazia ent@o com o leonés” (Saraiva & Lopes, s.d.: 22). Esse periodo encontrara sua culminancia nas reflexdes de Duarte Nunes de Leo (15302-1608), jurista, historiador ¢ destacado estudioso da lingua. Nes- ta tiltima condigo, escreveu ele obras pioneiras como um manual ortografico (Orthografia da Lingoa Portuguesa), publicado em 1576, ¢ o primeiro estudo sobre a historia da lingua (Origem da Lingoa Portuguesa), publicado em 1606. Neste segundo trabalho, mostrou uma compreensio muito perspicaz das mu- dancas das linguas no tempo, explicando-as pelo carater arbitrario das palavras e pela agio do povo (“assi sad ellas [as palavras] varias, & mudaveis, como cousa arbitraria, & em que 0 povo tem jurdigad” — p. 2-3). Exp6s também com clareza a origem latina dos romangos ibéricos e o papel dos povos germanicos em sua constituigao. Especificamente sobre o galego e 0 portugués, Nunes de Ledo, depois de dizer que eram ambas antigamente “quasi hia mesma” (p. 32), comenta o processo que as afastou, num trecho sempre muito citado (p. 32): Da qual lingoa Gallega a Portuguesa se aventajou tanto, quato na copia & na elegacia della vemos. 0 que se causou por em Portugal haver Reis, & corte que he officina onde os vocabulos se forja6, & pulem, & donde mango pera os outros homés, 0 que nunca houve en Galliza. Nunes de Ledo reconhecia, portanto, a origem comum do galego e do portu- gués (ambas'erad antigamente quasi liza mesma”) e, ao mesmo tempo, apresen- tava sua hipotese de por que ambas tinham se afastado. Entendia ele (em clara inspiragao ciceroniana) que a lingua portuguesa passara por um processo de elaboracao (“se aventajou... na copia ¢ na elegacia” — ou seja, na abundancia lexical e na adequacao estilistica) decorrente do fato de Portugal ter se tornado um reino independente e ter tido uma corte que serviu de fonte do “ “polimento” da lingua. E isso, segundo ele, faltara 4 Galiza. Em certo sentido, Nunes de Le&o resume assim, no inicio do século XVII, um Jongo e complexo processo histérico do qual resultou o progressivo surgimento de duas linguas modernas, muito préximas em termos léxico-gramaticais, a #8) wisronia soctopotitica DA Lincua poRTUcUESA em feudos, com parte da populagao sem mobilidade espacial e com a de instrumentos de pressio unificadores, as forgas centrifugas da ¢> HISTORIA SOCIOPOLITICA DA LINGUA PORTUGUESA sro TT Saber quando a lingua romanica ao sul do rio Minho passou a ser chamada de portugués ou linguagem/lingua portuguesa (em contraste com galego ou linguagem/lingua galega) é, por falta de suficientes testemunhos de época, uma questao aberta. Antes de avangar na discussdo, é preciso lembrar que o recorte e a nominagio de uma lingua histérica (ou seja, 0 recorte de determinado conjunto de varieda- des linguisticas agrupadas sob um nome singular — portugués, galego, inglés, chinés etc.) sio fendmenos fundamentalmente socioculturais ¢ politicos. Uma lingua histérica é, assim, uma instituicéo sociocultural muito mais do que apenas linguistica. Como diz Monteagudo (2010: 89), “na constitucién de tal institucién, os datos estrictamente ‘lingiiisticos’ podem moi ben ser menos rele- vantes cds factores politicos ou as tradiciéns literdrias”. Exemplos contempora- neos sao, nesse sentido, bastante expressivos como a distingao mais politica do que linguistica do romeno e do moldavo, do sérvio e do croata, do catalio e do valenciano e assim por diante. Justamente por isso, Monteagudo (2010: 88) recomenda uma prudéncia episte- molégica elementar: nao assumir como dados, na anilise sécio-histérica, con- ceitos como “lingua galega”, ou “lingua portuguesa”, ou “lingua castelhana” etc. A referéncia as variedades romanicas, durante boa parte do medievo, nao era feita por meio de nomes ou de qualificativos especificos que as individualizas- sem como se veio a fazer posteriormente. Nos documentos escritos da época, aparecem designacées genéricas como vulgar, romanco/romance, linguagem, nossa linguagem para referir-se a elas diretamente ou em oposigdo ao latim (este, algumas vezes, chamado também de grammatica)". A denominagag das linguas romanicas derivada do acréscimo de qualificativos aos termos genéricos foi, de novo, um processo de longo curso. Tem seus ante- cedentes mais remotos no surgimento de uma consciéncia de que o latim e as variedades roménicas nfo constitulam mais a mesma lingua. Quando essa consciéneia se consolidou € ainda um tema controverso. O linguis- ta austriaco Michael Metzeltin, conhecido romanista, considera que ela ja esta- va desenvolvida na Peninsula Thérica em meados do século XII (cf. Metzeltin, 2004), Sustenta seu argumento com dados da Chronica Adefonsi Imperatoris, ™ Gf. o verbete linguagem no Dicionario de dicionarios do galego medieval (Seoane et al.) ~ disponivel em versao digital no endereco sli.uvigo.es/DDGM/, acesso: 04/01/2016. nusroata sociopouitica DA tincua PonTUcuESA mistoRIA sociopouitica DA LINGUA PoRTUCUESA “i Ha, claro, a ocorréncia da expressio “linguagem ladinha portuguez”, presente no titulo LXXXXIIL, livro Il, das Ordenagdes Afonsinas — a grande compilagao de leis do Reino iniciada por D. Duarte ¢ concluida ao tempo de D, Afonso V (c. 1450). O teferido titulo dispde sobre “como os tabelides dos judeus hdo de fazer suas escrituras”, Na primeira parte, aparece transcrita a lei de D. Jodo I que obri- gou os tabeligies das comunas dos judeus a escrever seus documentos (*Carta, Estormento, Escriptura”) no mais em hebraico, como era tradi¢éo, mas em “linguagem ladinha portuguez’, estipulando a pena de morte para os que néo cumprissem a determinacio. Na segunda parte, D. Afonso V reiterou a lei, abrandando, porém, a pena por considera-la excessiva, conforme j4 tivemos a oportunidade de comentar. Nao se pode, porém, tirar uma conclusiio apressada da ocorréncia da expres- sio “linguagem ladinha portuguez” na referida lei. Primeiro, porque nao é co- nhecido o manuscrito original da lei de D. Jodo I, mas apenas sua transcri¢ao nas Ordenacées Afonsinas. Ha uma distancia de aproximadamente meio século entre a sua transcrigéo nas Ordenacées ¢ a data original da lei — que deveria ser provavelmente dos primeiros anos do século XV, considerando, segundo a opiniao do fildlogo José Pedro Machado (1983), nao ter o rei usado 0 titulo de “Senhor de Ceuta” que agregou depois de 1415. Segundo, porque nao resta nenhum vestigio do manuscrito original das pré- prias Ordenacées Afonsinas, mas apenas cOpias posteriores sta compilacao. E, terceiro, porque nem sempre os compiladores das Ordenagées Afonsinas re- produziram os textos antigos na sua forma exata, menos ainda os copistas. Em 1792, apareceu a primeira versao impressa dessas Ordenacées. Nova edigao s6 foi publicada em 1984. Na nota de apresentagao desta nova edicao, Mario Jillio de Almeida Costa informa que foi reproduzido o texto de 1792 porque “nenhum vestigio resta do original” (p. 9). E reproduz comentario de Correia da Silva, responsavel pela edic&o do século XVIII, que diz: “Entre 0s manuscritos conhecidos nao estava o original auténtico, revelando as vdrias cépias omissdes e erros considerdveis, alguns dos quais comuns a todas elas” (p. 8). E Marcelo Caetano (1985: 530), a0 comentar as Ordenacées Afonsinas em sua Hist6ria do direito portugués, reproduz outra afirmacao de Correia da Silva, de particular interesse aqui: A licao que se conserva em todos fos manuscritos] é quase sempre a mesma, mas a linguagem € as vezes diferente, achando-se vocdbulos mais antigos em uns do que em outros, o que talvez procederia de os copistas posteriores na mesma ocasiao ei wistoma de os transcrever irem substituindo os que em seu tempo se usavam Aqueles que thes pareciam antiquados. Tendo isso tudo em vista, é possivel supor que o qualificativo (“ladinha por- tuguez”) tenha sido acrescentado pelos compiladores ou copistas posteriores, num tempo em que ja comegava a ser costumeiro chamar a “linguagem” ou a “nossa linguagem” de portugués. Reforca essa suposi¢aio a existéncia de outra lei do mesmo D. Joao I, redigida em 1426 (bem depois, portanto, da lei sobre os tabeliaes judeus), que determi- nava a existéncia na Camara do Concelho de Lisboa de dois livros com as leis em latim e com as glosas de Aciirsio e Bartolo, acompanhadas com anotagdes “em linguagem” (sem qualquer qualificativoy®. Assim, independentemente de a expresso estar no texto original ou ter sido acrescentada pelos compiladores ou copistas, no muda nossa hipotese de que a lingua recebeu em Portugal seu nome moderno apenas no século XV — logo no inicio ou nas primeiras décadas”. Como vimos, o pais vivia um momento histérico muito particular em decorrén- cia dos rearranjos sociopoliticos causados pela crise (ou “revolugao") de 1383. Em resposta a crise sucesséria de D. Fernando, a invasdo castelhana e ao pro- longado periodo de quase trinta anos (1383-1411) de conflitos com o reino vizinho, houve um reagrupamento das forcas sociais que se opunham a Castela; ocorreu a emergéncia de uma “nova nobreza” composta de “filhos segundos, bas- tardos ou individuos originariamente pertencentes a linhagens secundérias da nobreza, algumas delas a conhecerem entdo uma forte mobilidade ascendente” (Sousa, 2010: 141) em razo de sua Iealdade a nova dinastia em contraste com a “velha nobreza” que tomara o partido de D. Leonor Telles e, portanto, de Cas- tela. Paralelamente, outra mudanga significativa comegava a ocorrer: 0 mundo urbano ganhava peso social e politico. Trata-se, ha interpretacdo de Sousa (2010: 147-148), de um momento de vira- gem na histéria de Portugal: ¥ O manuscrito original desta lei é conhecido e esta disponivel digitalmente no site do Arqui- vo Municipal de Lisboa (http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/; acesso: 04/01/2016) ou em: www.em-lisboa.pt, classificado PT/AMLSB/CMLSB/ADMG ~ E/09/304; acesso:'04/01/2016. % Situagio muito similar se encontra na Cronica do Mouro Rasis, O texto foi mandado traduzir do arabe por D. Dinis (¢. 1287). © manuscrito original desta tradugdo esta perdido. Conhece-se apenas uma versio castelhana do século XV. No prologo desta, aparece o seguinte texto: “E nos, maestre Mahomad, e Gil Peres, clerigo de don Peynos Porcel, por mandado del muy noble rrey don Dinis, por la gracia de Dios rrey de Portogal, trasladamos este libro de arabigo en lenguaje porto- gales” (cf. Catalan & Andrés, 1975: 10). Diante do histérico que levantamos, a hipétese mais pro- vavel € que o qualificativo “portogales” foi acrescentado por quem fez a traducdo para o castelhano.

misroria Foi Principe de grande conselho, prudente, e de viva memoria, e foi bem latinado € assaz mistico em sciencias e doutrinas de letras, e dado muito ao estudo; elle tirou de latim em linguagem o regimento de Principes, que Frei Gil Correado com- poz, € assi tirou o livro dos Officios de Tullio, e Vegencio de Re Militari, e compoz 0 livro que se diz da Virtuosa Bemfeitoria (..). O mesmo Ruy de Pina, ja nesse inicio do século XVI, usou também a expressao “fala Portuguez” na Chronica d'El-Rei D. Diniz (1912: 85): “El-Rei D. Diniz (...) foi Principe mui prudente, ¢ de mui singular concelho, ¢ na fala Portuguez de seu tempo assaz copioso, e de muita graca, (...)”. No entanto, o termo linguagem, sem qualquer qualificativo, para fazer referén- cia a lingua romanica vernacula, apareceu ainda bem a frente no século XVI. Marcocci & Paiva (2013: 87) mencionam um processo da Inquisi¢ao de Lisboa, em 1542, em que (grifo nosso): um cavaleiro da ordem de Santiago relatava que em Coimbra, conversando com mestre Jorge, cristéo-novo, fisico do bispo da cidade, este dissera que os inquisi- dores estavam a mandar recolher todas as “Biblias em linguagem” por receio que as pessoas thes dessem o entendimento verdadeiro. E possivel que o termo, neste caso especifico, estivesse sendo usado como equi- valente de “lingua verndcula” em geral (e nao apenas a portuguesa) em contraste com a Biblia em latim. Era jd o tempo da reforma religiosa, que teve a tradugio do texto biblico para as linguas modernas como um de seus pontos basilares, na medida em que se considerava que todo o crente deveria ter acesso direto as Escrituras. O proprio Lutero coneluira sua tradugdo do Novo Testamento para o alemao em 1522, que foi logo seguida por tradugdes para o holandes, o francés, o inglés ete. Esta interpretacaio encontra respaldo no fato de que, ao se fazer a tradugdo para © portugiiés das dez regras do Index Librorum Prohibitorum (Indice dos livros proibidos) publicado pelo Concilio de Trento em 1564, usow-se linguagem e linguagem vulgar para traduzir as expressdes vulgari lingua ¢ idiomate vulgari (cegra IV) e vulgari idiomate, vulgari lingua e vulgari sermone (regra V1), cuja referéncia era, no texto original, genérica. Assim (grifos nossos): ,.« Regula IV Cum experimento manifestum sit, si Sacra Biblia vulgari lingua, passim sine discri mine permittantur, plus inde ob hominum temeritatem detrimenti quam utilitatis oriri, hac in parte iudicio Episcopi, aut inquisitoris stetur, ut cum consilio Parochi vel confessarii Bibliorum a catholicis auctoribus versorum lectionem in vulgari 28> wisroRia sociopouirica DA Lincua PoRTUGuESA <6 lingua eis concedere possint, quos intellexerint ex huius modi lectione non da- mnum, sed fidei atque pietatis augmentum capere posse; quam facultatem in ; scriptis habeant. ey Bibliopolae vero, qui praedictam facultatem non habenti Biblia idiomate vulgari conscripta vendiderint, vel alio quouis modo concesserint, librorum pretium, in usus pios ab Episcopo convertendum, amittant; (...) Quarta Regra Sabendo nos claramente 0 muito dano & pouco fruito que se segue de se permitir a Biblia em linguagem, pola liviandade & temeridade dos homens: deixamos aos Bispos & Inquisidores, ordenem nesta parte o que thes parecer milhor: que de consetho do Cura ou confessor catholicos, que a dita Biblia declararem em lingua- gem, concedam ter ticam della a aquelles somente que certo souberem, que da tal tigam the nam vir dano, antes proveito & augmento da fee & de virtudes: a qual ticenga tenham por escrito & assinada. (ee E 0 livreiro que sem a dita licenca vender ou der Biblia em qualquer linguagem vulgartque seja, perdera o preco do livro, o qual o Bispo aplicara a obras pias. Regula VI Libri vulgari idiomate de controversiis inter catholicos, & haereticos nostri tem- poris, differentes, non passim permittantur, sed idem de iis servetur, quod de Bibliis vulgari lingua scriptis statutum est. Qui vero de ratione bene vivendi, contemplandi, confitendi, ac similibus argumen- tis vulgari sermone conscripti sunt, si sanam doctrinam contineant, non est cur prohibeantur, sicut nec sermones populares, vulgari lingua prohibiti. t) Sexta Regra Os livros em lingoagem que tratao das controversias entre os Catholicos & os herejes deste tempo, nao se permitirdo a todos, mas somente a aquelles a quem dissemos que a Biblia em linguagem se podia permitir: & os que tambem em linguagem trato de bem viver, ou de contemplacam ou comfissam, ou outras doctrinas semethantes se sam catholicos, & nao contem cousa alguma contra a verdadeira doctrina, nao se devem prohibir: nem menos os sermGes que se fazem a0 povo, se alguem os tiver escritos em lingoagem. Contudo, no titulo do livro em portugués (publicado em 1564) aparece a infor- macao de que as regras foram mandadas traduzir pelo Inquisidor Geral em lin- guagem vulgar (Rol dos livros que neste reyno se prohibem (...). Com as Regras do outro Rol geral que veo do sancto Concilio, trasladadas em linguagem vulgar por mandado do dito Senhor pera proveito daquelles que carecem da lingua Latina). Bp aston Aqui a expresso nao tem, obviamente, sentido geral, mas especifico. Talvez, nesse caso, 0 uso de linguagem ou linguagem vulgar para fazer referéncia a lin- gua portuguesa, ja bem depois da metade do século XVI (vinte e alguns anos depois de as gramaticas da lingua jé ostentarem, em seus titulos, as expresses linguagem/lingua portuguesa), fosse exclusiva de textos do ambito religioso. Neste o latim era ainda a lingua dominante e as eventuais traducdes eram feitas em linguagem ou em linguagem vulgar. De qualquer forma, esses textos mostram que a consolidagéo da identificagaio da lingua pelo adjetivo portuguesa ou pelo nome portugués foi um processo longo. Eo batismo da lingua galega? Sobre o nome galego, Monteagudo (2010) registra sua presenca mais antiga num autor de fora da faixa ocidental da Peninsula Ibérica. Ele aparece no texto Regles de Trobar, do catalao Jofre de Foixa (?-1300), escrito em occitano, em 1290, na corte da Sicilia, inspirado no primeiro desses tratados medievais — Las Razos de Trobar — escrito em 1210 pelo também catalio Ramon Vidal de Besali (1196-1252). Eram — como comenta a fildloga galega Mercedes Brea (2007: 141) — manuais escritos para ensinar “la dreicha maniera de trobar” (expressio de Besalti). Com- binavam informagdes gramaticais sobre os romangos occitanos e preceitos para a produgao poética. Resultaram, segundo ainda Mercedes Brea, do enorme pres- tigio literério que a lingua romanica vernacula da regio provengal tinha alean- cado muito além de suas fronteiras e da necessidade de se estabelecerem “regras” que facilitassem seu aprendizado a trovadores de outras regides que desejassem compor em occitano, ou desejassem apenas ler as cangdes trovadorescas. E resume Mercedes Brea (p. 141): Tanto'las Razos y sus refundiciones (las Regles de Trobar de Jofre de Foixa y la Doc- trina d’Acort de Terramagnino da Pisa), como el Donats Proensals de Uc Faidit (det que se hicieron también versones latinas), tienen el mérito innegable de haber sido capaces de adaptar — con ciertas dificultades, para dar cuenta de los cambios acon- tecidos — las reglas de las gramaticas latinas (adviértase el titulo del tittinto tratado) @ una variedad romango, pero, sobre todo, el de considerar por vez primera que un “vulgat” (ilustre, sin duda) es susceptible de ser sometido a reglas (grammatica era sinénimo de ‘latin’), y de hacerlo empleando diretamente ese mismo vulgar. Em suas Regles, Foixa mencionava as linguas romAnicas que tinham adquirido fama gracas a seu cultivo na poesia lirica trovadoresca: 0 francés, provengal, 0 $8G]> nistontA socioPOLiTiCA DA LINGUA PORTUGUESA siciliano ¢ o galego. E recomendava aos poetas que procurassem aleangar a mé- xima homogeneidade na lingua em que escrevessem, conforme se [é (em versio em galego) no trecho abaixo transcrito de Monteagudo (2010: 120): Hai que coidar a tinguaxe, pois se quixeres facer un cantar en francés, non debes mesturar nel provenzal, nin sicitiano nin galego nin outra linguaxe que sexa es- trafa a aquel. A referéncia ai ao galego leva Monteagudo a fazer o seguinte comentario (p. 120): Por certo, que este texto testemufia que a denominacién que recebia a lingua dos cancioneiros, cando menos nos ambientes eruditos e trobadorescos en que se movia Jofre, era a de galego, e convidanos a cuestionar a moderna denomi- nacién xurdida nos ambientes filoloxicos lusitanos de finais do século XIX, de galego-portugués. Afora essa referéncia, denominagdes que denotam uma consciéncia mais clara da individualidade linguistica do galego — segundo ainda Monteagudo — s6 serdo registradas em textos do século XIV e inicio do século XV, como, por exemplo, nos Milagres de Santiago em que aparece a expressio lingoajem galego. Nesse sentido, é sempre lembrada também a carta que 0 Marqués de Santillana (litigo Lopez de Mendonga) escreveu, por volta de 1446, ao principe D. Pedro (1429-1466) — sobrinho do rei D. Duarte e filho do Prinvipe Regente D. Pedro, que o nomeara Condestavel de Portugal em 1443. - Nessa carta, 0 Marqués faz uma longa ¢ erudita reflexdo sobre o que € a poesia ¢ traga um panorama da producao poética medieval (“mds acerca de nuestros tempos”) nas linguas romanicas Diz o Marqués na carta: Y después hatlaron esta arte que ‘mayor’ se llama y el arte comiin, creo, en tos reinos de Galicia y de Portugal, donde no es de dudar que el ejercicio de estas ciencias mas que en ningunas otras regiones y provincias de la Espafia se acostum- bro en tanto grado que no ha mucho tiempo cualesquier decidores y trovadores de estas partes, ahora fuesen castellanos, andaluces o de la Extremadura, todas sus obras componian en lengua gallega o portuguesa. Embora se possa discutir, tomado o trecho isoladamente, se a conjungao ow tem ai um sentido inclusivo-explicativo (compunham numa lingua que atende pelo nome de galego ou portugués) ou exclusive (compunham numa ou noutra lingua — galego e portugués), Monteagudo (1994: 174, nota 12) assume que a mais coerente com 0 todo do texto é a segunda interpretacao, ja que o Marqués wustona <> distingue um pouco antes os dois reinos (Galiza ¢ Portugal) e um pouco adiante no texto fala de “serranas e dezires portugueses e gallegos”. Contribui também para esta leitura 0 fato de que a carta teria sido escrita por vol- ta de 1446, época em que, como vimos, jd apareciam as duas linguas nominadas, em seus préprios espagos geograficos, respectivamente de galego e portugués.

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