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EMENTA - Certidão de antecedentes criminais apócrifa.

Ausência de
validade jurídica. A certidão de antecedentes criminais apócrifa não possui
qualquer valor jurídico e, em respeito ao princípio constitucional de
presunção de não-culpabilidade o réu deverá ser considerado primário e de
bons antecedentes.

Provimento parcial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 401.833-


1 da Comarca de MONTES CLAROS, sendo Apelante (s): ALEXANDRE
MENDES DA SILVA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 12 de agosto de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO
O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Montes Claros, Alexandre Mendes da Silva como incurso nas sanções
do art. 155, caput, c/c art. 14, II, ambos do CP, por ter, em 19 de abril de
2002, por volta das 12h30, tentado subtrair um aparelho de som CD
instalado no veículo de propriedade da vítima Karem Dayana Rodrigues
Silva.

A sentença monocrática às f. 60 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 3 (três) anos, 7 (sete) meses e 10 (dez) dias de reclusão
em regime fechado e ao pagamento de 107 (cento e sete) dias-multa com
valor unitário mínimo. Não lhe foi concedida a substituição da pena
corporal por restritiva de direitos.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.68 e seg., nas


quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, pela aplicação da pena
no mínimo legal.

As contra-razões ministeriais às f.75 e seg. são pelo provimento parcial do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.81 e seg.,


manifestou-se pelo provimento parcial do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitiva estão sobejamente comprovadas nos


autos, inclusive pela confissão do acusado.

Não obstante o magnífico trabalho de defesa apresentado pela Dra. Maíza


Rodrigues Silva em suas alegações finais às f. 52 e seg., não há falar em
aplicação analógica do art. 34 da Lei 9.249/95, nos termos julgados em
casos semelhantes pelo brilhante Des. Amílton Bueno de Carvalho do
TJRS.

No presente caso, a vítima sofreu um efetivo prejuízo, pois o vidro


dianteiro direito de seu automóvel foi quebrado para que o aparelho de som
pudesse ser subtraído.

Assim, não há falar em aplicação analógica in bonam partem do art. 34 da


Lei 9.249/95, como quer a defesa, pois para tanto seria necessária a
comprovação de que o agente restituiu todo o prejuízo causado à vítima.

Por outro lado, assiste inteira razão ao nobre Defensor Público Wellison
Carlos Fonseca Cambuí, subscritor das razões do apelo, ao afirmar que a
pena foi excessivamente fixada.

É que as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP são todas comuns aos


crimes da espécie e, portanto, elementos constitutivos do próprio tipo
penal, em nada demonstrando uma maior reprovação da conduta.

Assim, fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 1 (um) ano de reclusão.

A certidão de antecedentes criminais às f. 24 e seg. não está assinada, razão


pela qual não tem qualquer valor jurídico.

Não se pode considerar informação computadorizada apócrifa como


documento hábil para se comprovar antecedentes criminais.

Assim, não levarei em conta a reincidência na fixação da reprimenda.

Em razão de a pena-base ter sido fixada no mínimo legal, deixo de


considerar em favor do réu a atenuante da confissão espontânea, aplicando
ao caso a súmula 231 do STJ.

Reduzo-lhe a pena pela tentativa em apenas 1/3 (um terço) tendo em vista
que o iter criminis foi percorrido em quase sua totalidade.

Fixo-lhe a pena definitiva em 8 (oito) meses de reclusão em regime aberto,


em face da ausência da comprovação por documento legal da reincidência.

Fixo-lhe a pena pecuniária em 10 (dez) dias-multa com valor unitário


mínimo.

Ainda pela ausência da prova de reincidência e em respeito ao princípio


constitucional da presunção de não-culpabilidade, substituo a pena
corporal fixada por uma restritiva de direitos, a ser designada pelo juízo da
execução e na prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo à vítima
como forma de reparar-lhe o dano causado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 401.833-1 - 12/8/2003
MONTES CLAROS

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 401.833-1 - 12/8/2003


MONTES CLAROS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA - Apelação. Recolhimento à prisão. Princípio da ampla defesa.
Conhecimento. Ainda que o réu não tenha se recolhido à prisão, seu
recurso deve ser conhecido e apreciado, pois a Constituição Federal de
1988 consagrou os princípios da ampla defesa e do duplo grau de
jurisdição que não podem ser condicionados ao recolhimento do réu ao
cárcere para apelar.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 397.764-


0 da Comarca de VARGINHA, sendo Apelante (s): 1º) GENIVALDO
FRANCISCO; 2º) JOSÉ MARIA BRUNO FILHO e Apelado (a) (os) (as):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, CONHECER DOS RECURSOS. DAR
PROVIMENTO PARCIAL AOS RECURSOS, E, DE OFÍCIO, JULGAR
EXTINTA A PUNIBILIDADE DE GENIVALDO FRANCISCO.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 1º de julho de 2003.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Varginha, José Maria Bruno Filho e Genivaldo Francisco, como
incursos nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do CP, por terem, em 28 de
novembro de 1995, por volta das 21h00, subtraído cinco caixas de azulejos
pertencentes à vítima Alessandro Martins.

A sentença monocrática às f. 57 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou José Maria Bruno Filho a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de
reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa
com valor unitário mínimo. Genivaldo Francisco foi condenado a 2 (dois)
anos de reclusão em regime aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-
multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 69 e seg.,


nas quais pugna pela absolvição pelo princípio da insignificância ou,
alternativamente, pela conversão da pena em restritiva de direitos.

As contra-razões ministeriais às f.72 e seg. são pelo provimento parcial do


recurso.
A decisão à f. 88 negou seguimento à apelação interposta por José Maria
Bruno Filho, tendo em vista que o réu não se recolheu à prisão para
recorrer.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 93 e seg.,


manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, substituindo-se a pena
de Genivaldo Francisco por restritiva de direitos.

Em síntese, é o relatório.

Preliminar de conhecimento do recurso de José Maria Bruno Filho:

Rogata maxima venia, entendo que o recolhimento do réu à prisão não


pode ser conditio sine qua non para o conhecimento de seu recurso de
apelação.
Isto porque a Constituição de 1988 consagrou os princípios da ampla
defesa e da presunção de não-culpabilidade, que só pode ser desfeita por
condenação transitada em julgado contra o acusado.

Ora, como impedir que um réu, que a Constituição Federal presume


inocente, possa recorrer, exercendo assim sua ampla defesa, e provar sua
inocência constitucionalmente presumida?

O art. 594 do CPP não foi, pois, recepcionado em sua totalidade pela Carta
Magna de 1988.

A este respeito aliás, temos importantes precedentes jurisprudenciais:

"A CF estabeleceu, no art. 5º, LVII, que 'ninguém será considerado


culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória'. Perdeu,
pois, força jurídica e conseqüência axiomática das condenação, como
previsto no art. 594 do CPP. A prisão do réu antes do trânsito em julgado
da condenação penal só pode ocorrer em razão de determinação
fundamentada (art.5º, LXI, da CF). Assim, não pode a sentença
condenatória negar ao réu o direito de recorrer em liberdade com
fundamento tão-só no fato de ser reincidente, sendo necessário invocar o
quadro dos requisitos previstos para a prisão preventiva, dada a norma
constitucional referida" (TACRSP - RT643/303)

Pelo exposto, em respeito ao princípio constitucional da ampla defesa,


conheço dos recursos de ambos os réus, pois presentes seus pressupostos
de admissibilidade.

Mérito:

No mérito, a materialidade e a autoria delitiva estão sobejamente


comprovadas.
A aplicação do princípio da insignificância, requerida pela defesa, não é
possível no presente caso.

Isto porque a res furtiva foi avaliada à f. 13 em R$ 75,00 (setenta e cinco


reais), valor que, apesar de pequeno, não pode ser considerado
insignificante, mormente em um país cujo salário mínimo vigente é de R$
240,00 (duzentos e quarenta reais).

Vale lembrar que os fatos se deram em 1995, época em que o salário-


mínimo era ainda menor e, portanto, jamais poder-se-ia considerar o valor
de R$ 75,00 (setenta e cinco reais) insignificante.
Mantenho, pois a condenação.

A certidão à f. 46 comprova anteriores condenações criminais contra o réu


José Maria Bruno Filho, nenhuma delas porém, por infração do art. 155 do
CP, razão pela qual substituo-lhe a pena por duas restritivas de direitos,
consistentes na prestação de serviços à comunidade em entidade a ser
designada pelo juízo da execução e na prestação pecuniária de 1 (um)
salário mínimo à vítima.

Contra o réu Genivaldo Francisco, porém, não há qualquer condenação


anterior certificada nos autos, razão pela qual entendo ser perfeitamente
aplicável a ele o disposto no art. 155, § 2º, do CP, que entendo em nada ser
incompatível com a forma qualificada do delito.

Assim, reduzo-lhe a pena em 2/3 (dois terços), fixando-a em definitivo em


8 (oito) meses de reclusão a serem cumpridos em regime aberto.

Tendo em vista o disposto no art. 109, VI, do CP, de ofício, declaro extinta
a punibilidade do agente com base na prescrição intercorrente da pena, pois
entre a data da publicação da sentença - 24 de agosto de 1999 (f. 62) - e a
data deste julgamento já se passaram mais de 2 (dois) anos.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

SAP
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 397.764-0 - 1/7/2003
VARGINHA
-7-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-

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EMENTA - CERTIDÃO DE ANTECEDENTES CONTRADITÓRIAS.
AUSÊNCIA DE VALOR JURÍDICO.

A certidão de antecedentes é documento importantíssimo em um processo


criminal e não pode conter qualquer tipo de contradição sob pena de se
tornar imprestável e ter que ser desconsiderada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 393.166-


8 da Comarca de BARBACENA, sendo Apelante (s): ANTÔNIO SÉRGIO
GOMES DE OLIVEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 27 de maio de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO
O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Barbacena, Antônio Sérgio Gomes de Oliveira como incurso nas
sanções do art. 155, § 4º, I, do CP, por ter, em 17 de janeiro de 1998,
subtraído uma televisão 14 polegadas de propriedade da vítima Damião
Bernardo Dias.

A sentença monocrática às f. 73 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime
aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo.
Não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de
direitos.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.85 e seg., nas


quais pugna pela desclassificação do delito para aquele previsto no art. 345
do CP ou, alternativamente, pela substituição da pena.

As contra-razões ministeriais às f.92 e seg. são pelo desprovimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.100 e seg.,


manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Não há falar no presente caso em exercício arbitrário das próprias razões


tendo em vista que o réu alienou a res para terceiro.

Ficou claro que o dolo do réu não era de obter o pagamento de uma dívida,
mas sim de apoderar-se de coisa alheia.

Por outro lado, entendo ser possível a substituição da pena em relação ao


réu.

É que a certidão de antecedentes criminais às f. 56-57 possui vícios que


não me permitem nela confiar.

Em relação ao processo 05695003940-6 em que o réu foi condenado por


furto, consta uma pena de 15 (anos), 5 (cinco) meses e 6 (seis) dias em
regime semi-aberto!? Não bastasse, a data de início de execução é
27/3/1986, sendo que a sentença transitou em julgado em 19/8/1997!?
Diante de tamanhas contradições, não posso negar a substituição da pena
ao acusado com base em um documento como este.

Pelo exposto, em respeito ao princípio constitucional de presunção de não-


culpabilidade, substituo a pena corporal do apelante por uma prestação
pecuniária de um salário mínimo em favor da vítima e pela prestação de
serviços à comunidade em entidade a ser designada pelo juiz da execução.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 393.166-8 - 27/5/2003
BARBACENA

-5-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 393.166-8 - 27/5/2003
BARBACENA

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA - DESPACHO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
AUSÊNCIA.

A ausência do despacho de recebimento da denúncia não anula o feito,


devendo-se contar o prazo prescricional a partir da data do despacho que
designou a citação e o interrogatório do réu.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 395.615-


4 apensada à Apelação Criminal Nº 395.613-0 da Comarca de OLIVEIRA,
sendo Apelante (s): ÂNGELA MARIA ARISTIDES e Apelado (a) (os)
(as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR. NO MÉRITO, DAR
PROVIMENTO E, DE OFÍCIO, JULGAR EXTINTA A
PUNIBILIDADE.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 27 de maio de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO
O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Oliveira, Ângela Maria Aristides como incursa nas sanções do art. 155,
caput, do CP, por ter, em 21 de dezembro de 1996, por volta das 12h30,
subtraído para si os objetos descritos à f. 5, de propriedade da vítima
Silvânia Maria do Carmo Augusto.

A sentença monocrática às f. 52 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou a ré a 1 (um) ano e 10 (dez) meses de reclusão em regime
fechado e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário
mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.58 e seg., nas


quais pugna em preliminar pela nulidade do feito pela ausência de
despacho de recebimento da denúncia e, no mérito pelo reconhecimento do
furto privilegiado.

As contra-razões ministeriais às f.62 e seg. são pelo improvimento do


apelo.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.71 e seg.,


manifestou-se pelo parcial provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade:

Não há falar em nulidade do feito simplesmente pela ausência de despacho


expresso quanto ao recebimento da denúncia.

A este respeito leia-se a seguinte decisão:

"O Código de Processo Penal não reclama explicitude ao ato de


recebimento judicial da peça acusatória. O ordenamento processual penal
brasileiro não repele, em conseqüência, a formulação, pela autoridade
judiciária, de um juízo implícito de admissibilidade da denúncia. O mero
ato processual do juiz - que designa desde logo, data para o interrogatório
do denunciado e ordena-lhe a citação - supõe o recebimento tácito da
denúncia" (STF - RT 692/343-4)

Pelo exposto, rejeito a preliminar.


Mérito:

Quanto ao mérito, a materialidade e autoria delitiva estão sobejamente


comprovadas.

Quanto à fixação da pena, de fato, procedeu com excesso de rigor o


magistrado monocrático.

Não há nos presentes autos qualquer certidão de maus antecedentes em


desfavor da apelante, razão por que, como bem lembrou o douto
Procurador de Justiça, ela deve ser tida como primária e de bons
antecedentes.

Destarte, reconheço em favor da ré o furto privilegiado e passo a dosar-lhe


nova reprimenda:

As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, são comuns aos crimes da


espécie não merecendo um maior rigor em sua reprovação.

Deixo de reconhecer em seu favor a atenuante da confissão espontânea em


virtude de a pena-base já ter sido fixada no mínimo legal.

Reduzo-lhe a reprimenda em apenas 1/3 (um terço) tendo em vista que o


valor da res furtiva não foi tão pequeno assim.

Fixo-lhe a pena definitiva em 8 (oito) meses de reclusão em regime aberto.

A pena pecuniária será de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo.

Substituo a pena corporal por prestação de serviços à comunidade em


entidade a ser designada pelo juiz da execução.

Tendo em vista que a sentença monocrática foi publicada em 30 de maio


de 2002 e que a denúncia foi recebida tacitamente em 1º de outubro de
1997 (f. 25), de ofício, julgo extinta a punibilidade da ré pela prescrição
retroativa da pena.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 395.615-4 APENSADA À APELAÇÃO
CRIMINAL Nº 395.613-0 - 27/5/2003
OLIVEIRA

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA - Agravo. Comutação. Processo em andamento. Em respeito ao
princípio constitucional da presunção de não-culpabilidade, processos em
andamento não podem ser obstáculos para a concessão de benefícios no
curso da execução penal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 399.152-8 da


Comarca de UNAÍ, sendo Agravante (s): FABRÍCIO JOSÉ DE
OLIVEIRA e Agravado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª
Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 6 de maio de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA :


Trata-se de Agravo interposto por Fabrício José de Oliveira contra a
decisão às f. 36 e seg. que lhe indeferiu a comutação de 1/4 de sua pena e a
concessão do livramento condicional.

Em suas razões às f. 40 e seg., pugna o agravante pela concessão da


comutação e do livramento condicional.

As contra-razões ministeriais às f. 45 e seg. são pelo conhecimento e


desprovimento do agravo.

A decisão agravada foi mantida pelo M.M. Juiz a quo à f. 52.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.70 e seg.,


manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A decisão agravada indeferiu os pedidos com base em um processo em


andamento contra o agravante por crime de tentativa de homicídio.

Não obstante o art. 3º, II, do Decreto 4.011/2001 vedar a concessão de


indulto e de comutação a condenado que esteja sendo processado por outro
crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, tal dispositivo
não pode ser levado em conta, pois é visivelmente inconstitucional.

O art. 5º, LVII, da Constituição Federal é expresso ao dispor que:

"ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença


penal condenatória."

A Constituição presume, pois, a inocência dos acusados em processo


criminal, inocência esta que só poderá ser descaracterizada por sentença
penal condenatória transitada em julgado.

Ora, se a Constituição Federal presume que o agravante será absolvido da


acusação que lhe fazem de tentativa de homicídio, não pode um decreto do
poder executivo vedar-lhe qualquer direito em razão deste processo em
andamento, pois o acusado - presumido pela Constituição inocente - é tão
inocente quanto aquele que nunca teve uma acusação criminal contra sua
pessoa.

As garantias constitucionais são o fundamento do Estado Democrático de


Direito e não podem ser olvidadas em nenhuma hipótese, sob pena de
arbítrio.

Por outro lado, não cabe a este tribunal a análise dos requisitos subjetivos
para a progressão de regime, sob pena de supressão de instância.

Destarte, dou provimento ao recurso, tão-somente para afastar o óbice do


processo em andamento contra o agravante para a concessão dos
benefícios, determinando ao M.M. Juiz de primeira instância que analise as
demais circunstâncias para a concessão dos benefícios.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

guicap
AGRAVO Nº 399.152-8 - 5/6/2003
UNAÍ
-2-

AGRAVO Nº «agravo_num» - «data»


«comarca»
-5-
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EMENTA - Furto. Dano. Concurso material. Impossibilidade. Não há falar
em concurso material entre o delito de furto e o crime de dano se, após
subtraída a coisa, o agente a destrói, pois o bem jurídico tutelado pelos dois
delitos é o mesmo: o patrimônio. Assim, impossível é a punição por dano,
mantendo-se tão-somente a condenação pelo crime de furto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 390.282-


5 da Comarca de BAMBUÍ, sendo Apelante (s): JOÃO PAULO
GERALDO DOS SANTOS e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL E FAZER
RECOMENDAÇÃO.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 29 de abril de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO
O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Bambuí, João Paulo Geraldo dos Santos como incurso nas sanções dos
art. 155, § 4º, IV, e 163, parágrafo único, II, todos do CP, por ter, em 13 de
dezembro de 1999, por volta de 1h00, na companhia de um menor,
subtraído o automóvel, placa WN-7649, de propriedade de Heitel Ferreira
de Carvalho e em seguida o destruindo, ateando-lhe fogo.

A sentença monocrática às f. 194 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois)anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa pelo delito
de furto e 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa pelo delito de
dano. O valor do dia-multa foi fixado no mínimo legal e o regime inicial de
cumprimento de pena foi fixado no aberto. A pena corporal não foi
substituída por restritiva de direitos.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 202(?) e


seg., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões às f. 205(?) e seg. são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 213(?) e seg.,


manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, para desclassificar-se o
delito e condenar-se o recorrente por dano simples.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Ab initio verifico que a partir de f. 73 a numeração das páginas do


processo saltou misteriosamente para a f. 174.

Determino, pois, à Secretaria que proceda à correção do equívoco ocorrido


na Secretaria do Juízo de Bambuí.

Mérito:

A alegação de que faltou aos agentes o animus rem sibi habendi não
encontra qualquer fundamento na prova dos autos.

Na verdade, quando realizaram a subtração, não sabiam ao certo o que


fazer com o veículo e, ao perceberem que não conseguiriam fazê-lo
funcionar, decidiram incendiá-lo.
Douglas assim narra o desenrolar dos fatos em suas declarações à f. 14:

"(...) lá tentaram fazer novamente a ligação direta, não conseguindo, João


Paulo deu a idéia de colocarem fogo no veículo, como portava um isqueiro,
colocou fogo nos plástico (sic) que serviam de janelas no veículo e logo
em seguida o veículo todo incendiara (...)"

Ora, o simples fato de desistirem de ter a coisa já furtada para si, não
desfaz o animus rem sibi habendi do momento da subtração.

Por outro lado, a vontade do cooperar no concurso de agentes, não


necessita ser prévia, bastando que surja no momento de execução da
subtração.

Evidentemente que, ao prestar ajuda aos menores, o apelante aderiu ao


dolo dos demais que aceitaram sua ajuda de bom grado.

Irrelevante, por outro lado, não saberem ao certo quem era a vítima, pois
tinham plena consciência de tratar-se de coisa alheia móvel e, portanto, não
agiram em erro de tipo.

Mantenho, pois, a condenação proferida pelo delito de furto.

Quanto ao crime de dano, penso não ser punível no caso.

É que tanto o delito de furto quanto o delito de dano visam a proteger o


mesmo bem jurídico: o patrimônio.

Não haveria sentido em se punir a subtração do bem (quando o agente tem


a perda patrimonial) e a destruição do bem, pois a perda patrimonial já se
consumara no momento da subtração.

Após subtraído o bem, é irrelevante se os agentes guardam-no para si,


vendem-no ou mesmo se o destroem, pois a vítima já não mais o detém.

Assim, absolvo o acusado pelas imputações do crime de dano, mantendo


na íntegra a condenação a 2 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa
pelo crime de furto.

Penso, porém, que a substituição da pena corporal seja aplicável ao caso.


Substituo, pois, a pena privativa de liberdade por duas restritivas de
direitos, sendo a primeira delas de prestação de serviços à comunidade em
entidade a ser designada no juízo da execução e a segunda, de prestação
pecuniária de 1 (um) salário mínimo à vítima.
É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.282-5 - 29/4/2003


BAMBUÍ

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.282-5 - 29/4/2003


BAMBUÍ

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-

Voltar
EMENTA - Sentença suicida. Nulidade. Nula é a sentença cuja
fundamentação encontra-se em flagrante divergência com sua conclusão.
Se em seus argumentos o magistrado reconheceu que a participação do
agente consistiu tão-somente no auxílio da venda da res furtiva, não é
possível a condenação por furto. Sentença anulada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 368.697-


9 da Comarca de ITUIUTABA, sendo Apelante (s): 1º) MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2º) ÍGOR SILVA DE
OLIVEIRA e 3º) EZEQUIEL APARECIDO DE OLIVEIRA e Apelado (a)
(os) (as): EZEQUIEL APARECIDO DE OLIVEIRA e MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR DO TERCEIRO
APELANTE E ANULAR A SENTENÇA, JULGANDO
PREJUDICADOS OS DEMAIS RECURSOS.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 29 de abril de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Ituiutaba, Ezequiel Aparecido de Oliveira e Igor Silva de Oliveira como
incursos nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do CP, por terem, em 25 de maio
de 1999, por volta das 20h00, subtraído um toca-fitas e uma fita cassete
que se encontravam no interior do veículo, placa GLR 9800, de
propriedade das vítimas José Jacob Yunes.

A sentença monocrática às f. 86 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou Ezequiel a 2 (dois) anos e 3 (três) meses de reclusão em regime
inicial semi-aberto e ao pagamento de 13 (treze) dias-multa. A pena
corporal foi substituída por uma restritiva de direitos.

Igor foi condenado a 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão em


regime inicial semi-aberto e ao pagamento de 14 (quatorze) dias-multa.
Não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de
direitos.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f.


96 e seg., nas quais pugna tão-somente pela substituição da pena corporal
de Ezequiel por duas restritivas de direitos.

Os acusados Igor e Ezequiel apelaram às f. 99 e 100 respectivamente.

A defesa de Igor apresentou suas razões às f. 107 e seg., pugnando pela


absolvição com fulcro no art. 386, IV, do CPP.

As contra-razões ministeriais às f. 111 e seg. são pelo provimento parcial


para minorar a pena privativa de liberdade fixada ao apelante Igor.

As contra-razões de Ezequiel às f. 120 e seg., em preliminar, argúem a


nulidade da sentença, e, no mérito, são pelo desprovimento do recurso
ministerial.

As razões ao apelo de Ezequiel foram apresentadas às f. 142 e seg., nas


quais, em preliminar argúem a nulidade da sentença, e, no mérito, são pela
absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 148 e seg. são pela rejeição das


preliminares e pelo não-provimento do recurso.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.134 e seg.,
manifestou-se pelo desprovimento dos recursos das defesas e pelo
provimento do apelo ministerial.

Em síntese, é o relatório.

Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de admissibilidade.

Preliminar de nulidade da sentença argüida no recurso de Ezequiel:

Penso que assiste inteira razão à culta Defensora Pública Míriam Luce
Alves de Araújo.

O M.M. Juiz a quo foi contraditório ao proferir sua decisão.

À f. 89 lê-se:

"Através das referidas declarações percebemos que há uma relação de


amizade entre os acusados, portanto, o acusado certamente sabia (face aos
antecedentes de Igor), que o aparelho na posse dele, Igor, poderia ser
produto de furto. Não obstante, o acusado nem procurou esclarecer sobre
isso, apenas ajudou Igor a se desfazer do referido aparelho (aliás, por um
preço ínfimo R$10,00) recebendo em troca doses de bebidas alcoólicas."

Ora, este parágrafo demonstra que a sentença, em sua fundamentação,


reconhece a existência de uma receptação - seja ela culposa ou dolosa -
mas jamais de um furto que consiste em "subtrair, para si ou para outrem,
coisa alheia móvel".

No final da fundamentação da sentença, às f. 93, lê-se:

"Assim não é essencial para a caracterização do delito que os dois tenham


juntos praticados a subtração do aparelho. É evidente que Igor foi quem
praticou a subtração, não restando porém, devidamente esclarecido se
Ezequiel também participou da subtração. Contudo, mesmo que não tenha
ele participado efetivamente da subtração, vimos que houve a manifesta
vontade e consciência por parte deste em concorrer na ação criminosa do
outro, ao ajudar na negociação da res furtiva, dando causa ao concurso."

É bem verdade que para haver participação, ou mesmo co-autoria, não é


necessário que o agente participe diretamente do núcleo da conduta típica.

É verdade também que não há necessidade de um prévio acordo de


vontades, pois o que importa é que haja vontade e consciência de estar
concorrendo na ação criminosa de outrem.
No entanto, é bom lembrar que o acordo de vontades tem que surgir pelo
menos simultaneamente com a prática do delito, jamais podendo nascer
após o fato consumado.

Pela leitura dos trechos da sentença citados, está claro que o M.M. Juiz
admite a hipótese do acordo de vontades só ter surgido no bar, isto é,
posteriormente à consumação do delito.

Assim, o magistrado monocrático admite ter o acusado Ezequiel praticado


o crime de receptação (art. 180 do CP), mas jamais furto (art. 155 do CP),
pois a subtração da coisa alheia móvel é anterior ao acordo de vontades.

O simples auxílio na negociação da venda da res furtiva não constitui furto,


razão por que está clara a incoerência entre a fundamentação e a parte
conclusiva da sentença.

A sentença é, de fato suicida, pois contém fundamento divergente de sua


conclusão.

Assim, solução outra não há, senão acolher a preliminar para anular a
sentença e determinar que nova decisão seja proferida.

Prejudicados os recursos dos apelantes Ígor Silva de Oliveira e do


Ministério Público.

JUIZ ERONY DA SILVA

guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 368.697-9 - 29/4/2003
ITUIUTABA

-7-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 368.697-9 - 29/4/2003


ITUIUTABA

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-8-

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EMENTA - Receptação. Dolo do agente. Inúmeras adulterações em
veículo são provas cabais de sua origem ilícita sendo absolutamente
irrelevante para caracterizar a receptação saber a espécie do crime
antecedente ou sua autoria. Negado provimento ao recurso da defesa.
Provimento ao recurso ministerial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 378.991-


5 da Comarca de CARMO DO RIO CLARO, sendo Apelante (s): 1º)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e 2º)
VALDELI FERREIRA TORRES e Apelado (a) (os) (as): OS MESMOS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AO RECURSO
MINISTERIAL E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA
DEFESA.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 25 de março de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:


O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca
de Carmo do Rio Claro, Valdeli Ferreira Torres como incurso nas sanções
do art. 180, caput, do CP, por ter, em agosto de 1993, adquirido em
proveito próprio um caminhão Mercedes, modelo L 1113/1980, sabendo
tratar-se de produto de crime.

A sentença monocrática às f. 325 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime aberto e ao
pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário de 1 (um) salário
mínimo. Não lhe foi concedida a substituição da pena por restritiva de
direitos.

Inconformados, apelaram o Ministério Público às f. 337 e a defesa às f.


344.

Em suas razões ministeriais às f. 334 e seg., pugna o douto Promotor de


Justiça pela majoração da reprimenda e pela fixação de regime inicial de
cumprimento de pena mais severo.

As razões da defesa às f. 355 e seg. são pela absolvição .

As contra-razões da defesa às f. 350 e seg. são pelo desprovimento do


apelo ministerial.

As contra-razões ministeriais às f. 374 e seg. são pelo conhecimento do


apelo e por seu desprovimento.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 386 e seg.,


manifestou-se pelo improvimento de ambos os apelos.

Em síntese, é o relatório.

Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de sua


admissibilidade.

Do recurso da defesa:

Nenhuma razão assiste à defesa.

A sentença monocrática muito bem analisou as provas de materialidade e


autoria delitiva.

O dolo do agente está sobejamente comprovado nos autos, pois não é


minimamente crível que um comerciante de caminhões não tenha o
cuidado de verificar a origem do veículo.
As inúmeras adulterações do veículo são provas cabais de sua origem
ilícita sendo absolutamente irrelevante para caracterizar a receptação saber
a espécie do crime antecedente ou sua autoria.

Impossível cogitar-se no presente caso de receptação culposa, pois, um


veículo com tamanhas fraudes não passaria despercebido nem para um
desavisado, quanto mais para um comerciante experiente.

Impossível também o reconhecimento da atenuante da menoridade relativa,


porque não está provada nos autos por documento hábil e é flagrantemente
contraditória com sua declaração na polícia.

Quanto ao recurso ministerial:

Razão assiste ao culto Promotor de Justiça.

A culpabilidade do agente é grande, tendo em vista a sofisticação dos


estratagemas usados para camuflar o objeto do crime, como desmanche e
adulteração de sinais.

A certidão às f. 299 comprova os péssimos antecedentes do réu. Em


8/12/93 transitou em julgado condenação contra ele pela contravenção do
art. 34 da LCP. Também encontra-se cumprindo pena pelo delito do art.
180 do CP. Há ainda um registro de condenação nas iras do art. 12 da Lei
6.368/76.

As circunstâncias do crime também não lhe são nada favoráveis, pois


envolveram diversas práticas em vários estados da federação.

Quanto à conduta social e personalidade nada se pode afirmar por falta de


elementos.

As conseqüências do crime são comuns à espécie.

Em virtude da grande culpabilidade do agente, de seus péssimos


antecedentes e das circunstâncias do crime, fixo-lhe a pena-base em 2
(dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão, tornando-a definitiva neste
patamar ante a ausência de agravantes, atenuantes, causas de aumento e
diminuição de pena.

Elevo sua pena pecuniária para 25 (vinte e cinco) dias-multa com valor
unitário mantido em 1 (um) salário mínimo tendo em vista o fato de o réu
ter se declarado comerciante e, portanto, ter condições financeiras bem
acima da média da grande maioria dos réus de nosso país.

O regime inicial de cumprimento da pena será o semi-aberto em razão


principalmente de sua elevada culpabilidade e de seus maus antecedentes.

Impossível a substituição da pena corporal por restritiva de direitos


também em razão das circunstâncias judiciais não lhe serem favoráveis.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 378.991-5 - 25/3/2003


CARMO DO RIO CLARO

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-

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EMENTA - Habeas corpus de ofício. Penas fixadas manifestamente acima
do patamar recomendado. Havendo manifesto erro da sentença na fixação
da pena e sendo o recurso do réu intempestivo, é perfeitamente cabível a
concessão de ordem de habeas corpus, de ofício, para ajustar a pena ao
patamar recomendado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 390.216-


1 da Comarca de IPATINGA, sendo Apelante (s): EDVALDO
MACIEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, NÃO CONHECER DO RECURSO E, EM
HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO, REDUZIR AS PENAS DO
APELANTE E DO CO-RÉU NÃO-APELANTE, MARCOS PAULO
LÚCIO RODRIGUES.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 25 de março de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO
O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Ipatinga, Marcos Paulo Lúcio Rodrigues e Edvaldo Macieira como
incursos nas sanções do art. 155, §4º, III e IV, do CP, por terem, em 2 de
janeiro de 2001, por volta das 21h00, subtraído de dentro do veículo Fiat
Uno Eletronic, placa GLO 9045, de propriedade de Meirivone da Silva,
dois alto-falantes, um super-tuíter, um macaco, um rádio/cd e um macacão
feminino.

O acórdão às f. 239 e seg. anulou a sentença monocrática às f. 176 e seg.


por inobservância do princípio constitucional da individualização das
penas.

Nova sentença foi proferida às f. 247 e seg. na qual Marcos Paulo foi
condenado a 5 (cinco) anos, 1 (um) mês e 18 (dezoito) dias de reclusão em
regime fechado e ao pagamento de 28 (vinte e oito) dias-multa com valor
unitário mínimo. Edvaldo Macieira foi condenado a 4 (quatro) anos e 1
(um) mês de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 21 (vinte
e um) dias-multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa de Edvaldo Macieira, apresentando suas


razões às f.258 e seg., nas quais pugna pela absolvição ou,
alternativamente, pela fixação da pena no mínimo legal, com sua
conversão por restritiva de direitos.

As contra razões às f.269 e seg. são pelo não-conhecimento do recurso por


intempestivo e, no mérito, por seu improvimento.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f.281, ratificou o


parecer às f. 231 e seg. no qual pugna pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Não conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua


admissibilidade.

Preliminar de intempestividade:

Conforme certificado à f. 254v. o apelante Edvaldo Macieira e seu


defensor foram intimados da sentença em 24 de junho de 2002.

A apelação de Edvaldo à f. 257 foi interposta em 5 de julho de 2002, isto é,


11 (onze) dias após a intimação.
Segundo dispõe o art. 593 do CPP, o prazo para apelar é de 5 (cinco) dias.

O recurso é, pois, absolutamente intempestivo, razão pela qual dele não


conheço.

Habeas corpus de ofício:

Por outro lado, de ofício, concedo ordem de habeas corpus por entender
que há erro manifesto no quantum das penas fixadas.

A este respeito o STF já se pronunciou:

"O habeas corpus presta-se para corrigir erro manifesto da sentença na


fixação da pena" (RHC 1712-MG-DJU de 9-3-92, p. 2.589)

Quanto ao apelante Edvaldo Macieira:

Conforme certificado à f. 79, o apelante é primário e as informações


prestadas às f. 185-186 não são suficientes para acarretarem maus
antecedentes, pois em razão do princípio constitucional da presunção de
não- culpabilidade o réu presume-se inocente até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória contra ele.

A obtenção de vantagem "fácil", por outro lado é comum a todo e qualquer


crime patrimonial e não justifica qualquer incremento de pena.

Também é regra nos crimes de furto o agente aproveitar-se da falta de


vigilância permanente da vítima que, também em geral, tem danos e
transtornos com o crime.

Se as razões acima justificassem o incremento da pena-base do acusado, a


regra seria que as penas de furto fossem de cerca de 4 anos, o equivalente à
pena mínima do roubo e, portanto, em flagrante desrespeito ao princípio
constitucional da proporcionalidade.

Por todo o exposto, entendo que o presente delito em nada se afastou da


média dos crimes de furto que são praticados no dia-a-dia e, portanto, não
merece qualquer plus de reprovação, razão pela qual fixo a pena-base de
Edvaldo Macieira no mínimo legal de 2 (dois) anos.

Na ausência de circunstâncias agravantes ou atenuantes e causas de


aumento ou diminuição de pena, torno-a definitiva em 2 (dois) anos de
reclusão em regime aberto.

Frise-se que no ordenamento jurídico brasileiro é impossível qualquer


incremento de pena em razão da segunda qualificadora.

A pena pecuniária fica reduzida para 15 (quinze) dias-multa com valor


unitário mínimo.

Substituo a pena corporal por duas restritivas de direitos, sendo a primeira


de prestação pecuniária de 1(um) salário mínimo à vítima e a segunda de
prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada no juízo
da execução.

Quanto ao co-réu não-apelante Marcos Paulo Lúcio Rodrigues:

Pelos mesmos motivos expostos anteriormente, entendo que as


circunstâncias judiciais de sua conduta em nada se afastaram da média dos
crimes de furto que são cotidianamente praticados e, portanto, não merece
qualquer plus de reprovação.

Fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 2 (dois) anos.

Em razão da certidão à f. 81 em que consta condenação anterior por crime


de furto transitada em julgado em 24/11/98, reconheço contra o réu a
agravante da reincidência, majorando-lhe a pena em 6 (seis) meses.

Ausentes outras circunstâncias agravantes e atenuantes, causas de aumento


ou diminuição de pena, torno sua reprimenda definitiva em 2 (dois) anos e
6 (seis) meses em regime semi-aberto.

Fixo-lhe a pena pecuniária em 20 (vinte) dias-multa com valor unitário


mínimo.

Impossível a substituição de sua pena em razão da reincidência específica.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.216-1 - 25/3/2003


IPATINGA

-6-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-1-

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EMENTA - Receptação. Coisa achada. Impossibilidade. Não há falar em
delito de receptação se a coisa foi achada, pois o verbo típico adquirir tem
o significado de uma aquisição contratual. Irrelevante tratar-se de contrato
escrito ou verbal, lícito ou ilícito, formal ou informal, mas imprescindível o
acordo de vontades. Em respeito ao princípio constitucional da legalidade,
a apropriação de coisa achada, produto ou não de crime, só poderá ser
punida nos termos do art. 169,II, do CP.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 389.281-


1 da Comarca de PASSOS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): VICENTE
GUSTAVO AMARAL DE OLIVEIRA e BENEDITO ANTÔNIO
GONÇALVES,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO
(Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 25 de fevereiro de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Passos, Vicente Gustavo Amaral de Oliveira e Benedito Antônio
Gonçalves como incursos nas sanções do art. 180 do CP.

Narra a denúncia que Vicente adquiriu 5 (cinco) folhas de cheque em


branco do segundo denunciado que, por sua vez, teria recebido tais folhas,
em uma praça, de menores não-identificados.

A sentença monocrática às f. 52 e seg. julgou improcedente a denúncia e


absolveu ambos os acusados das imputações da denúncia.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f.


59 e seg., nas quais pugna pela condenação nos termos da denúncia.

As contra-razões da defesa às f. 64 e seg. são pelo desprovimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 71 e seg.,


manifestou-se pelo provimento do recurso ministerial.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A prova dos autos é demasiadamente frágil para fundamentar uma


condenação por delito de receptação.

É perfeitamente possível que Vicente tenha encontrado as folhas de cheque


o que, por si só, já descaracterizaria a existência da receptação.

O verbo "adquirir" decididamente não tem o mesmo significado do verbo


"apropriar".

Vejamos as definições do verbo típico adquirir segundo os principais


dicionaristas da atualidade (ambos em sua versão eletrônica):

Aurélio: "V. t. d. (...) 2. Obter por compra; comprar: Adquiriu a casa que
alugara. (...)"
Houaiss: "1 t.d.bit. entrar na posse de algum bem, através de contrato legal
ou não; tornar-se proprietário, dono de 2 t.d.bit. obter, conseguir (bem
material) através de compra "

Ambos admitem que o verbo adquirir tem o significado de "obter por


compra".

Houaiss aceita também o significado de "entrar na posse de algum bem por


contrato legal ou não. Nesta hipótese, porém, há a necessidade de um
contrato - lícito ou ilícito - mas de um contrato.

Ora, contrato é acordo de vontades entre duas partes. Não há como se


cogitar em contrato se a coisa foi encontrada, pois falta neste caso um dos
sujeitos do contrato.

A "apropriação", por outro lado, independe de um acordo de vontades,


tanto que é o verbo típico utilizado nos arts. 168 e 169 do CP, nos quais é
evidente a impossibilidade de um contrato.

Assim, na ausência de provas de que os cheques foram realmente


"adquiridos" - seja por um contrato escrito ou verbal, lícito ou ilícito,
formal ou informal - solução outra não há senão a absolvição.

Pelo exposto, mantenho na íntegra a sentença guerreada por seus próprios


fundamentos.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 389.281-1 - 25/2/2003
PASSOS

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 389.281-1 - 25/2/2003


PASSOS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-

Voltar
EMENTA: Suspensão condicional do processo. Momento oportuno para a
revogação. Transcorrido o prazo da suspensão condicional do processo,
impossível é sua revogação posterior, mesmo que se verifique o não-
cumprimento das condições durante esse lapso de tempo. É que a extinção
da punibilidade ocorre imediatamente após o cumprimento do prazo e a
natureza jurídica da sentença que a reconhece é meramente declaratória. O
art. 89, §5º, da Lei 9.099/95 tem caráter penal e, como tal, deve ser
interpretado literalmente em respeito ao princípio constitucional da
legalidade.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 387.752-


7 da Comarca de TRÊS PONTAS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as):
JOSÉ GALVÃO CLARO,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª
Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Três Pontas, José Galvão Claro como incurso nas sanções dos art 306
do CTB c/c art. 330 do CP, por ter, em 8 de agosto de 1998, por volta das
13h00, conduzido o veículo placa GUW-7206, visivelmente embriagado.
Consta ainda que, ao ser surpreendido por policiais militares, desobedeceu
a ordem legal, não querendo sair do veículo.

A sentença monocrática às f. 56 e seg. declarou extinta a punibilidade do


réu com fulcro no art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f.


62 e seg., nas quais pugna pela reforma da sentença, a fim de que se possa
investigar se o apelado, ao longo e dentro do período de provas da
suspensão condicional do processo, deu causa à revogação do benefício.

As contra-razões da defesa às f. 79v-80 e seg. são pela manutenção da


sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 85 e seg.,


manifestou-se pelo provimento do recurso.
Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia, entendo que não assiste qualquer razão ao


Ministério Público.

Dispõe o art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95:

"expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade"

A interpretação literal da norma é cristalina:

1. SE expirado o prazo sem revogação


2. ENTÃO declarar extinta a punibilidade.

Ora, no presente caso, o prazo expirou-se sem revogação e, quanto a isto


não pairam dúvidas.

Então não há outra solução possível, senão declarar extinta a punibilidade.

Qualquer outra interpretação do dispositivo fere flagrantemente o princípio


da legalidade, pois é princípio básico de hermenêutica que as normas
penais devem ser interpretadas restritivamente.

Não pode o réu ficar esperando indefinidamente que o Estado cumpra uma
série de diligências para certificar-se de que cumpriu a suspensão, até
porque a Constituição Federal presume sua não- culpabilidade.

Assim como na prescrição a denúncia deve ser oferecida (e recebida) antes


do término do prazo prescricional, também nesta outra forma de extinção
da punibilidade, deve o Ministério Público tomar suas providências antes
de expirado o prazo.

Vale frisar ainda que a própria lei usa o termo "declarar", o que demonstra
inequivocamente o caráter de sentença declaratória da decisão que julga
extinta a punibilidade.

A punibilidade extingue-se no último dia do prazo, independentemente do


dia em que a sentença a declarar.

Assim, não haveria qualquer sentido em realizar as diligências, pois a


punibilidade já havia sido extinta, ainda que não declarada pela M.Mª.
Juíza a quo.

Por todo o exposto, mantenho a decisão monocrática por seus próprios


fundamentos.

JUIZ ERONY DA SILVA

guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 387.752- 7 - 11/2/2003
TRÊS PONTAS

-5-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 387.752-7 - 11/2/2003
TRÊS PONTAS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-

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EMENTA - Inépcia da denúncia. Nulidade. É inepta a denúncia que
mistura fatos em que já ocorreu a decadência com fatos em que foi
oferecida a representação em prazo hábil. A não-individualização da
acusação gera perplexidade na defesa que fica sem saber o real conteúdo
da incriminação, impedindo-a, assim, de articular sua defesa
satisfatoriamente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 385.635-


3 da Comarca de VISCONDE DO RIO BRANCO, sendo Apelante (s):
SILDO BRAGA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINARES, DE OFÍCIO,
ANULAR O PROCESSO A PARTIR DA DENÚNCIA E DECRETAR A
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª
Vogal).

Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
1º Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Visconde do Rio Branco, Sildo Braga, como incurso nas sanções dos
art. 138 c/c art. 141, II, do CP, por ter, através de cartas endereçadas a
autoridades locais e ao Secretário Nacional de Direitos Humanos,
imputado falsamente ao Cb. da Polícia Militar, João Carlos Alves
Palmeiras a prática de crimes de tortura, lesão corporal e ameaça de morte,
no exercício da função pública. Consta ainda que nas mesmas cartas o
acusado atribuiu ao Capitão da PM José de Anchieta Machado a prática do
crime de condescendência criminosa, insinuando estar este conivente com
as práticas delitivas atribuídas à primeira vítima.

A sentença monocrática às f.127 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 9 (nove) meses e 10 (dez) dias em regime aberto. A pena
corporal foi substituída pela prestação pecuniária de 5 (cinco) salários
mínimos em prol do Sítio da Esperança.

A decisão à f. 136 acolheu os Embargos Declaratórios do Ministério


Público e fixou nova pena em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção
em regime aberto e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-multa. A pena
corporal mais uma vez foi substituída pela prestação pecuniária de 5
(cinco) salários mínimos em prol do Sítio da Esperança.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.141 e seg.,


nas quais pugna pela absolvição, com fulcro nas alegações de defesa
acostadas à f. 125, TA.

As contra-razões ministeriais às f.143 e seg. são pelo conhecimento e


improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.152 e segs.,


manifestou-se pela rejeição da preliminar e, no mérito, pelo desprovimento
do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.


Preliminar de prescrição:

A denúncia foi recebida à f. 73 em 23 de agosto de 1999.

Assim, não há falar em prescrição nem com base na pena em abstrato, nem
com base na pena fixada em concreto em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses.

Rejeito esta preliminar.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

De acordo.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

De acordo.

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Preliminar de decadência:

A representação à f. 7, TA, está datada de 17 de novembro de 1997.

Da imensa série de documentos juntados aos autos, somente são objeto da


representação aqueles constantes à f.10, TA e f. 12, TA, que estão datados
de 9 de abril de 1997 e 2 de abril de 1997.

A defesa alega que só tomou conhecimento do conteúdo das referidas


correspondências em setembro de 1997.

Como é pacífico na jurisprudência:

"A decadência, como causa extintiva da punibilidade, não se supõe. Assim,


se não se sabe o seu termo inicial, deve-se estabelecê-lo mediante prova,
pois não cabe extrair da dúvida, em plano liminar, interdição para juízo de
mérito, meio que consagra a res justa penal" (TACRSP - RT 768/599).

Rejeito, pois esta preliminar.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

De acordo.
A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

De acordo.

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Preliminar, de ofício, de inépcia da denúncia:

Dispõe expressamente o art. 41 do CPP:

"A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas


sa suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário,
o rol de testemunhas."

Ora, a denúncia à f. 2, TA não traz a qualificação do acusado, ainda que


remeta à f. 40v. Tal vício, no entanto, por si só não ensejaria a sua inépcia.

A denúncia, porém, não individualiza qualquer das acusações, não


específica a quais cartas se refere e, muito menos, a(s) data(s) em que o(s)
fato(s) ocorreu(eram).

A inicial narra os fatos em que já ocorreu a decadência simultaneamente


com aqueles em relação aos quais a vítima representou, sem individualizar
qualquer um deles.

Por outro lado, nos Embargos Declaratórios à f. 132 o douto Promotor de


Justiça requer no item 3 do seu pedido a majoração da pena pelo crime
continuado alegando que "o réu praticou diversos atos ofensivos à honra do
ofendido", o que à f. 136v foi aceito pelo juiz que aumentou a pena no
máximo legal de 2/3 (dois terços) em razão da continuidade delitiva.

Ora, diante de tamanha confusão, me pergunto: afinal, de quais fatos o réu


está sendo acusado e foi condenado em primeira instância?

Da carta enviada em 9 de abril de 1997 ao Secretário Nacional de Direitos


Humanos ou de todas as outras anteriormente enviadas nas quais, segundo
a própria representação da vítima, já ocorreu a decadência?

A confusão da denúncia entre fatos em que ocorreu a decadência e outros


em que ela não ocorreu, foi tão decisiva no processo que a pena do réu foi
majorada em 2/3 (dois terços) pela continuidade delitiva quando, na
verdade, nos termos da representação, a acusação se refere tão-somente à
carta endereçada ao Secretário de Direitos Humanos.

Oportuna é a seguinte lição jurisprudencial:

"A denúncia obscura, omissa e confusa, é reconhecidamente inepta, pois


faz com que o acusado fique sem saber o real conteúdo da incriminação,
impedindo-o de articular sua defesa satisfatoriamente" (TACRSP -
RJTACRIM 25/106)

Pelo exposto, de ofício, anulo o processo a partir da denúncia por inépcia


da preambular acusatória.

Tendo em vista que a pena não poderá ser superior a 3 (três) anos e 4
(quatro) meses sob pena de reformatio in peius indireta; que o prazo
prescricional no caso passa a ser de 4 (quatro) anos em virtude da idade de
o réu ser de 80 (oitenta) anos; que os fatos se deram em abril de 1997,
julgo extinta a punibilidade do agente com base na prescrição da pretensão
punitiva estatal.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Salvo maior juízo, a preliminar de ofício argüida pelo Relator deve ser
acatada. Conforme bem anotou o nobre Relator, a denúncia não
individualizou os fatos criminosos, havendo uma grande confusão no
processo de documentos onde supostamente teria havido a configuração do
crime imputado ao acusado. Além disso, existe na denúncia referência a
crimes que já teriam sido alcançados pela decadência. Enfim, da forma
como foi articulada a peça inaugural, ocorreu flagrante prejuízo ao
exercício da ampla defesa pela parte, que ao final, nem sabia mais de quais
fatos estava sendo processada. Tanto isso é verdade, que até o juiz se
confundiu quando aplicou uma pena inicial de 9 meses e 10 dias ao
acusado que depois, por força de embargos de declaração, alterou para 3
anos e 4 meses de detenção, reconhecendo uma suposta continuidade
delitiva entre 3 crimes, que não se sabe ao certo quais foram dentre os
narrados na inicial.

Por todos esses motivos, é que me coloco de acordo com o douto juiz
relator em reconhecer a inépcia da inicial, anular o processo a partir da
denúncia e, por conseqüência, extiguir a punibilidade do acusado em face
da prescrição.
A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

De acordo.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 385.635-3 - 11/2/2003


VISCONDE DO RIO BRANCO

-9-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 385.635-3 - 11/2/2003


VISCONDE DO RIO BRANCO

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA - Laudo pericial. Ausência de comentários que justifiquem a
conclusão obtida. O laudo pericial cujas conclusões não estão amparadas
em comentários técnicos que as justifiquem é imprestável como prova para
fundamentar uma condenação criminal. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 386.252-


8 da Comarca de PIUMHI, sendo Apelante (s): ANTÔNIO LOPES
MOURÃO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do


Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele


participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE
VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª
Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Piumhi, Antônio Lopes Mourão como incurso nas sanções do art. 302,
parágrafo único, I e III, do Código de Trânsito Brasileiro, por ter, em 23 de
julho de 1998, por volta das 21h20, dado causa a um acidente
automobilístico que resultou na morte de Ismar Francisco Rabelo e de José
Aílton Moreira.

A sentença monocrática às f. 96 e seg. julgou parcialmente procedente a


denúncia e condenou o réu, nos termos do art. 302, parágrafo único, I, do
Código de Trânsito Brasileiro, a 3 (três) anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias
de detenção em regime aberto e proibiu-lhe de obter permissão ou
habilitação para dirigir veículos automotores. A pena corporal foi
substituída por duas restritivas de direitos.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 106 e seg.,


nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 117 e seg. são pela manutenção da


sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 128 e seg.,


manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, tão-somente para
modificar-se a pena de prestação pecuniária pela limitação de final de
semana.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Li e reli os presentes autos e sinceramente não encontrei nele provas


seguras da culpa do acusado.

É bem verdade que o Laudo Pericial às f. 52 e seg. afirma categoricamente


em suas conclusões que:

"a causa determinante, principal e de origem foi a presença do veículo 2


(trator) na via, uma vez que, não dispunha de equipamento obrigatório
(sistema luminoso traseiro), para trafegar no período noturno na rodovia"

Tal laudo, porém, não me convenceu, mormente devido ao tamanho dos


estragos no veículo do acusado, conforme visualmente constatado à f. 59.

Como é possível afirmar com certeza que o veículo não dispunha de


iluminação adequada?

O art. 160 do Código de Processo Penal estabelece que:


"os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o
que examinarem, e responderão aos quesitos formulados"

O laudo destes autos, porém, não tem qualquer descrição de como os


peritos chegaram a conclusão de que o veículo não dispunha de iluminação
adequada e - principalmente - de como isto veio a ser a causa determinante
do acidente.

Não posso fundamentar uma condenação criminal tão-somente nas


conclusões de um Laudo Pericial sem os devidos comentários técnicos que
demonstrem os elementos que levaram os peritos a uma constatação tão
importante como esta.

A jurisprudência já se pronunciou a este respeito:

"O laudo pericial destina-se ao conhecimento do juiz, que não é obrigado a


aceitá-lo se se apresenta carente de motivação." (TACRSP - RT 556/334-5)

Destarte, rejeito o presente laudo como prova nos termos do art. 182 do
Código de Processo Penal e passo à análise dos demais elementos do
conjunto probatório.

Não há testemunhas presenciais.

A ausência de habilitação é mera infração administrativa que, por si só não


gera a presunção de que o acusado deu causa ao acidente.

Do contrário, estaríamos admitindo uma verdadeira responsabilidade penal


objetiva, absolutamente incompatível com o princípio do nullum crimen
sine culpa.

Assim, diante da fragilidade das provas apresentadas, prefiro aplicar ao


presente caso o princípio do in dubio pro reo para absolver o acusado das
imputações da denúncia.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


guicap
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 386.252-8 - 11/2/2003
PIUMHI

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-

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EMENTA - Circunstâncias judiciais. Personalidade do agente. Aumento da
pena-base. Inconstitucionalidade.

A personalidade do agente não pode ser usada para aumentar a pena-base,


sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da legalidade e do devido
processo legal. Se os fatos considerados pelo juiz para julgar a
personalidade desfavorável são atípicos, a ofensa ao princípio da
legalidade é evidente pois não há pena sem prévia cominação legal. Se os
fatos são típicos, deverá o Ministério Público oferecer denúncia em relação
a eles, obedecendo ao devido processo legal, pois o réu defende-se dos
fatos narrados na denúncia e não de toda e qualquer acusação que as
testemunhas resolvam fazer contra ele.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 359.279-


2 da Comarca de PRATÁPOLIS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as):
ALAN SILVA VASCONCELOS e PETER ANDERSON MAIA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 26 de novembro de 2002.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Pratápolis, Alan Silva Vasconcelos e Peter Anderson Maia como
incursos nas sanções do art. 155, §4º, IV, do Código Penal, por terem, na
madrugada de 14 de agosto de 1999, subtraído uma caixa registradora
contendo R$18,64 (dezoito reais e sessenta e quatro centavos) e uma
carteira contendo diversos cheques pré-datados da Farmácia Santa Alice.

A sentença monocrática às f. 146 e seg. condenou os réus a 2 (dois) anos


de detenção em regime aberto e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa com
valor unitário mínimo. A pena corporal de ambos foi substituída por duas
restritivas de direitos.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f.


180 e seg., nas quais pugna pela majoração da pena.

As contra-razões das defesas às f. 194-199 e 201-206 são pela manutenção


da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f. 211 e seg., opinou


pelo conhecimento e provimento do recurso.
O acórdão às f. 218 e seg. determinou o retorno dos autos à comarca de
origem para intimação pessoal do réu Alan Silva Vasconcelos.

A diligência foi devidamente cumprida conforme certificado à f. 228.

Em síntese, é o relatório.

A sentença de primeira instância está perfeita e não merece qualquer


reparo.

A construção jurisprudencial de que o valor do salário mínimo é o


parâmetro para o reconhecimento do furto privilegiado deve ser aplicada
de acordo com o caso concreto, sob pena de instaurarmos uma verdadeira
ditadura do precedente.

A referência legal é à coisa furtada de "pequeno valor". Se em 1984,


quando da promulgação da nova parte geral, o pequeno valor confundia-se
com aquele pago a título de salário mínimo, hoje, quase 20 anos depois, é
certo que o valor do salário-mínimo está muitíssimo defasado e já não é
mais de pequeno valor: é quase insignificante.

Destarte, o pobre é atingido duas vezes pela política econômica do Estado:


se por um lado seu poder aquisitivo diminui e ele pode comprar cada vez
menos, por outro lado quando - muitas vezes em razão de sua miséria -
comete um furto, pode furtar cada vez menos também.

Não se trata aqui de valor insignificante - este sim, cada dia mais próximo
do salário mínimo - mas do pequeno valor que se atualizado
monetariamente em relação à 1984 é bem superior a um salário mínimo.

Por outro lado, cheques rasgados não podem ser considerados res furtiva,
pois é evidente que falta o elemento subjetivo do injusto que é a intenção
de subtrair a coisa para si ou para outrem.

Além do mais, não se aplica ao Direito Penal o princípio da cartulariedade


consagrado no Direito Comercial.

Isso porque, em Direito Penal é absolutamente vedado o uso da analogia e,


considerar um cheque de R$100,00 (cem reais) como se fosse exatamente a
mesma coisa que uma nota de mesmo valor é indiscutivelmente uma
analogia, pois a nota não está sujeita a ser sustada.

Mantenho, pois, o privilégio concedido corretamente em primeira


instância, mesmo porque o juiz o utilizou tão-somente para substituir a
pena de reclusão por detenção.

Quanto à análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal,


mais uma vez não assiste razão ao parquet.

O douto Promotor de Justiça pugna pela majoração da pena em razão da


personalidade dos agentes ao argumento que:

"A testemunha Marcos de Faria Morato, às f. 105/106, disse que no dia em


que foi efetuada busca na residência de Alan foi encontrado um relógio,
porém objeto de outro furto. No que se refere a Peter, afirmou que a mãe
deste já o havia procurado pedindo ajuda, pois Peter estava fazendo uso de
drogas e andando em más companhias. Segundo a testemunha, Peter esteve
preso há pouco tempo e se envolveu em um furto de cheques há três ou
quatro meses. Disse que ouviu comentários de que Peter ainda é viciado
em drogas."

A pretensão ministerial é completamente absurda, pois o aumento da pena


por este argumento equivaleria a um flagrante desrespeito aos princípios
constitucionais da legalidade, presunção de não-culpabilidade e devido
processo legal.

"Andar em más companhias" não é fato típico, antijurídico e culpável e,


portanto, nenhuma pena poderá a ele ser imputada por este motivo.

Furto e porte de drogas são crimes, mas a Constituição Federal presume a


não-culpabilidade dos acusados e, ainda que de fato houvesse provas de
que os acusados haviam praticado as condutas descritas pela testemunha,
caberia ao Ministério Público, rogata maxima venia, oferecer a denúncia
pelos crimes que supostamente cometeu, respeitando assim o devido
processo legal.

Impossível, no entanto, é aproveitar-se de um processo em andamento para


- sob o pretexto de puni-lo por sua personalidade - impor-lhe um
incremento de pena sem qualquer respeito ao devido processo legal e à
ampla defesa.

O que se está julgando nestes autos é o delito praticado em 14 de agosto de


1999. Nada mais!

As conseqüências do crime já foram consideradas desfavoráveis ao réu


pelo magistrado monocrático que, por considerar o conjunto das
circunstâncias judiciais preponderantemente favoráveis ao réu, fixou-lhe a
pena no mínimo legal.

Nada há, portanto, a se reparar na referida sentença, pois tecnicamente


muito bem fixada e, em termos de política criminal perfeita.

Frise-se que os réus são primários e de bons antecedentes e a pena


privativa de liberdade se aplicada com o rigor desejado pelo Ministério
Público em nada contribuiria para uma ressocialização dos agentes.

Não se pode admitir a banalização das penas privativas de liberdade a


ponto de considerarmos pequena uma pena de 2 (dois) anos - longos 24
(vinte e quatro) meses - de privação de liberdade para um crime cometido
sem violência ou grave ameaça à pessoa.

Se o tamanho das penas e o rigor da punição fossem, de fato, elementos


ressocializadores, não teríamos que conviver com números alarmantes
como os que nos dão conta de que, só no Estado da Califórnia, nos Estados
Unidos da América - país indiscutivelmente severo na aplicação de suas
penas - 1 (um) em cada 147 (cento e quarenta e sete) norte-americanos
estão presos.

Melhor não seria criar mais escolas e hospitais que presídios?

É por essas razões que nego provimento ao recurso.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 359.279-2 - 26/11/2002
PRATÁPOLIS

-8-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-2-
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EMENTA - Requisição de réu preso. Ausência de citação. Cerceamento de
defesa. Nulidade. A simples requisição de réu preso não supre a citação,
pois não se coaduna com os princípios constitucionais do contraditório e da
ampla defesa. O réu tem o direito a ter ciência prévia da acusação contra
ele formulada para que possa preparar com antecedência e com auxílio de
advogado a versão a ser apresentada no momento do interrogatório.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 363.403-


7 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): ADILSON
ANTÔNIO DE ARAÚJO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR DA DEFESA E
ANULAR O PROCESSO POR AUSÊNCIA DA CITAÇÃO, A PARTIR
DA REQUISIÇÃO, INCLUSIVE.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 1º de outubro de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital,


Adilson Antônio de Araújo como incurso nas sanções do art. 155, §4º, I do
Código Penal, por ter, em 21 de agosto de 2001, por volta das 9h40,
subtraído para si, mediante rompimento de obstáculo à subtração da coisa,
um aparelho de CD para veículos e um porta CD contendo doze discos
diversos, todos de propriedade de Kátia Meyer Paixão.

A sentença monocrática às f. 130 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 3 (três) anos e 3 (três) meses de reclusão em regime
fechado e ao pagamento de 23 (vinte e três) dias-multa como valor unitário
mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 154 e seg.,


nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do feito por irregularidade
na citação do apelante. No mérito, requer a desclassificação do delito para
a forma simples do furto.

As contra-razões ministeriais às f. 163 e seg. são pelo recebimento e não-


provimento do recurso, confirmando-se a sentença recorrida.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 179 e seg., opinou


pela improcedência do apelo quer em preliminar, quer no mérito,
mantendo-se a decisão recorrida.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade por vício na citação:

Entendo que a citação é um direito do réu e sua ausência é causa de


nulidade absoluta que pode ser argüida a qualquer momento.

Não se trata de mera formalidade processual, mas de um direito do réu que


deve ter ciência prévia e pormenorizada da acusação formulada e de tempo
para procurar a orientação de um advogado e preparar sua defesa.

A este respeito temos exemplar decisão jurisprudencial:

"Citação e requisição não se confundem. Coexistem em sucessão,


indicando a hierarquia da primeira, única que possibilita ao réu o direito de
defesa, a ser coordenado no tempo e no espaço, apesar de poderem surgir
integradas numa só peça. A surpresa não se coaduna com a moralidade
exigida pelo processo penal, e ela surge quando se requisita sem
citação" (TACRSP- RT 609/345).

A leitura do interrogatório às f. 83-84 é a prova mais cabal de que o réu foi


tomado de surpresa.

Sua confissão é antes de tudo fruto da falta de orientação técnica de um


advogado e de uma defesa previamente arquitetada.

Não se pode fazer letra morta da Constituição Federal de 1988 que garante
a todos os cidadãos o direito ao contraditório e à ampla defesa.

O criminoso rico pode contratar excelentes advogados, preparar sua defesa


com antecedência, planejar sua versão dos fatos.
O pobre, a que o ordenamento jurídico considera igual ao rico, tem que se
contentar com uma mera requisição à polícia, ficar sabendo da acusação na
hora de seu interrogatório e contar com a assistência de uma Defensoria
Pública a quem o Estado não fornece pessoal e recursos suficientes para
garantir uma assistência digna e personalizada para seus clientes.

Adilson é um entre tantos outros cidadãos a quem o Estado finge garantir a


ampla defesa, mas que na prática, muito pouco ou quase nada difere seu
processo judicial de um procedimento inquisitorial.

Impossível, pois desconsiderar as muito bem lançadas razões de apelação


do culto Defensor Público Giovanny Morgan e de sua estagiária Deborah
Costa Lage.

Requisição de réu preso não é citação e decididamente não se coaduna com


o princípio constitucional da ampla defesa.

É por essas razões que acolho a preliminar e anulo o processo por ausência
de citação fazendo minhas as palavras dos ilustres professores de Direito
Processual Ada Pellegrini Grinover, Antônio Scarance Fernandes e
Antônio Magalhães Gomes Filho em sua obra já clássica "As Nulidades no
Processo Penal":

"A melhor exegese do texto recomenda que o réu preso seja pessoalmente
citado no presídio em que se encontrar recolhido, segundo o modelo legal e
com antecedência necessária à preparação da defesa, pois em todas as
demais soluções alvitradas há sempre o risco de prejuízo à correta e
tempestiva informação, com irreparável dano ao contraditório pleno e
efetivo"

Assim, anulo o processo por ausência da citação, determinando o seu


retorno à comarca de origem.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 363.403-7 - 1º/10/2002
BELO HORIZONTE

-7-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-2-

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EMENTA - Homicídio culposo no trânsito. O excesso de velocidade, por
si só, não implica em culpa do agente, pois não existe responsabilidade
penal objetiva no Direito Penal Brasileiro. Somente se amparado por
outros elementos de convicção, o excesso de velocidade torna-se prova
capaz de amparar uma condenação criminal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 372.770-


2 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as):
HELVÉCIO GONÇALVES CERDEIRA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital,


Helvécio Gonçalves Cerdeira como incurso nas sanções do art. 121, § 3º,
do CP, por ter, em 21 de agosto de 1997, por volta das 16h45, atropelado a
vítima Claudionor José Maria, causando-lhe sua morte.

A sentença monocrática às f. 108 e seg. julgou improcedente a denúncia


com base no art. 386, VI, do CPP.

Inconformado, apelou o douto Promotor de Justiça, apresentando suas


razões às f. 115 e seg., nas quais pugna pela condenação.

As contra-razões da defesa às f. 122 e seg. são pela manutenção da


sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.131 e seg.,


manifestou-se pelo provimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia, nenhuma razão assiste ao Ministério Público.

A acusação deseja provar a culpa do réu tão-somente com base na


constatação de que desenvolvia velocidade de 60km/h e de que o réu não
usava suas lentes corretivas.

Ora, quem já trafegou pela Av. Nossa Senhora do Carmo sabe


perfeitamente que dificilmente se vê algum motorista respeitando este
limite de velocidade.

Não se pode condenar alguém com base numa presunção abstrata,


absolutamente fora da realidade fenomênica, de que a melhor velocidade
para a pista é de 40 km/h se a grande maioria dos motoristas trafega em
velocidade bem superior.

O fato de o motorista ter excedido a velocidade máxima de 40km/h, por si


só, não revela culpa do acusado, pois se trata de mera infração
administrativa que serve apenas como indício de culpa.

Por outro lado, é fato notório que, em uma quinta-feira às 16h45, o trânsito
no local do fato é absolutamente caótico e, por si só, exige uma atenção
muito grande dos pedestres.
Pelo princípio da confiança é natural que o motorista creia que os pedestres
não atravessarão sem certificarem-se antes da segurança da pista.

O simples excesso de velocidade não implica em culpa do agente, pois não


há falar no Direito Penal brasileiro em responsabilidade objetiva.

Por fim, a alegação de que o acusado não usava lentes corretivas é


completamente irrelevante, pois não se argüiu em momento algum que o
acusado não viu a vítima.

Tanto viu que freou e buzinou, só não obtendo êxito em evitar o acidente
em razão do inesperado da situação.

Pelo exposto, mantenho na íntegra a bem lançada sentença monocrática


que absolveu o réu das imputações da denúncia.

JUIZ ERONY DA SILVA

WAS.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 372.770-2 - 24/9/2002
BELO HORIZONTE

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-5-
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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos Infringentes na


Apelação Criminal Nº 348.495-9/01 da Comarca de BELO HORIZONTE,
sendo Embargante (s): CINÉSIO DOS SANTOS e Embargado (a) (os)
(as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado


de Minas Gerais ACOLHER OS EMBARGOS, DETERMINANDO A
EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA, SE POR AL NÃO
ESTIVER PRESO, VENCIDOS OS JUÍZES PRIMEIRA E SEGUNDO
VOGAIS.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator),
MARIA CELESTE PORTO (1ª Vogal vencida), SIDNEY ALVES
AFFONSO (2º Vogal vencido) e ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS
(3º Vogal).

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

(continuam as assinaturas...)

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


Revisor
JUÍZA MARIA CELESTE PORTO
1ª Vogal vencida

JUIZ SIDNEY ALVES AFFONSO


2º Vogal vencido

JUIZ ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS


3º Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Trata-se de Embargos Infringentes interpostos por Cinésio dos Santos com


fundamento no voto vencido do Juiz Alexandre Victor de Carvalho no
acórdão a f. 183 e seg.

Requer o douto Defensor Público a absolvição do embargante pelo


princípio da insignificância penal.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f. 212, opinou pelo


não-provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Antes de passarmos à análise da questão sub judice penso serem


necessários alguns prolegômenos.

A pena privativa de liberdade conforme a concebemos hoje - como sanção


- surge com a Revolução Industrial e tem evidente inspiração
contratualista.

ZAFFARONI e PIERANGELI narram com muita propriedade:

"Se a própria sociedade é estabelecida mediante um contrato, o homem que


pretende alcançar a riqueza por via não autorizada por aquele que viola
aquilo que o contrato preceitua. Qual é a sanção para quem viola o
contrato? Uma reparação, uma indenização. Quando um cidadão não paga
uma indenização devida como resultado da violação de um contrato, é
forçado a fazê-lo (dele é expropriado algo de valor), mas os homens da
massa criminalizada por esse controle social nada possuíam. O que deles se
expropriava? A única coisa que podiam oferecer no mercado: sua
capacidade de trabalho, sua liberdade. Daí surge a ideologia que faz da
privação da liberdade uma pena, que até então havia sido apenas uma
medida preventiva (o que hoje chamamos 'prisão preventiva') durante o
processo, pois as penas eram corporais. (...) Qual podia ser a medida da
pena? O talião, isto é, aquela necessária para reparar o mal causado com o
delito. Essa era a ideologia que se impunha e que conduzia à limitação do
poder estatal quanto ao montante da pena" (ZAFFARONI, Eugenio Raúl,
PIERANGELI, José Henrique, Manual de direito penal brasileiro: parte
geral. 2 ed. rev. atual. São Paulo: RT, 1999. p. 263)

Assim, mesmo nas teorias absolutas da pena, esta era entendida como
devolução da mesma quantidade de dor injustamente causada à vítima.

Modernamente, as teorias relativas da pena, priorizam o caráter preventivo


da sanção penal, concluindo que um dos fins do Direito Penal é garantir
aos cidadãos a chamada "segurança jurídica".

ZAFFARONI e PIERANGELI afirmam que:

"A pena, necessariamente, implica uma afetação de bens jurídicos do autor


do delito (de sua liberdade, na prisão ou reclusão; de seu patrimônio, na
multa; de seus direitos, nas penas restritivas). Esta privação de bens
jurídicos do autor deve ter por objeto garantir os bens jurídicos do resto
dos integrantes da comunidade jurídica. (..) A ingerência nos bens jurídicos
do infrator se faria necessária para motivar-se conforme as normas e
reforçar assim o sentimento de segurança jurídica, neutralizando o alarme
social do delito, mas não pode exceder deste grau de tolerância
socioculturalmente determinado e, por conseguinte, historicamente
condicio-nado, sob pena de que esta mesma ingerência cause alarme social,
isto é, afete o próprio sentimento de segurança jurídica. Isto é o que
aconteceria se o batedor de carteiras fosse penalizado com a amputação da
mão ou o falsificador com a morte. A coerção penal deve reforçar a
segurança jurídica, mas, quando ultrapassa o limite de tolerância na
ingerência aos bens jurídicos do infrator, causa mais alarme social do que o
próprio delito. Não se trata de que a pena 'retribua' nenhum mal como
outro mal, e sim de garanta os bens jurídicos sem lesar o sentimento de
segurança jurídica da comunidade" (ZAFFARONI, Eugenio Raúl,
PIERANGELI, José Henrique, Manual de direito penal brasileiro: parte
geral. 2 ed. rev. atual. São Paulo: RT, 1999. p. 94-95).

Assim, seja qual for a teoria da pena adotada, necessário se faz que se
estabeleçam critérios de proporcionalidade para alcançar a pena justa.
Pergunto-me então:

Dois aparelhos de barbear podem valer oito meses da vida de um ser


humano?

Tomando por bases as teorias absolutas da pena, forçosa se torna a resposta


negativa. Ainda que ganhasse um salário mínimo por mês trabalhado,
certamente, durante estes oito meses poderia indenizar por várias vezes o
prejuízo causado à vítima.

Se adotarmos qualquer das teorias relativas da pena, chegaremos à


conclusão de que tamanha pena para uma conduta de resultado tão
insignificante só gera alarde social e revolta no apenado.

Assim, falta um fim a esta pena. Uma verdadeira "pena perdida" para usar
a expressão de Louk Hulsman.
Destarte, o princípio da insignificância surge na feliz expressão de Claus
Roxin como:

"auxílio de interpretação para restringir formulações literais que também


abranjam comportamentos suportá-veis" (ROXIN, Claus. Política Criminal
e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 47).

Assim, entendo que a conduta narrada na denúncia é atípica tendo em vista


que não houve uma significativa afetação ao bem jurídico tutelado pela
norma penal.

Lado outro, não fosse o caso de aplicação do princípio da insignificância,


aplicar-se-ia perfeitamente o disposto no art. 17 do Código Penal.
Os supermercados, hoje em dia, são dotados de circuito interno de TV que
fazem os consumidores se sentirem participando de um verdadeiro reality
show como aqueles tão em moda nas redes de TV de todo o mundo.

Ora, admitir a possibilidade de um furto em supermercado dotado de


circuito interno de TV é o mesmo que admitir a improvável hipótese de um
furto em um reality show.
A constante vigilância das mercadorias torna impossível a subtração
através do meio escolhido.

O furto caracteriza-se pela subtração sem violência ou grave ameaça e, só


poderia ser praticado em um supermercado protegido por inúmeros
seguranças, se ninguém pudesse assistir à subtração.

Mas como praticar a subtração às escondidas se a vigilância é constante?

Jamais alguém nestas circunstâncias obteria êxito na sua conduta.


Trata-se, pois, de um crime impossível pela absoluta ineficácia dos meios
empregados.

Pelo exposto, seja em razão da aplicação do princípio da insignificância ou


do reconhecimento do crime impossível, acompanho o voto do relator da
apelação para absolver o ora embargante das imputações da denúncia.

Expeça-se imediato alvará de soltura se por al não estiver preso.

Custas pelo Estado.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

De acordo com o voto do eminente Juiz Relator e também, nos termos do


voto que proferi quando do julgamento da apelação.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Com a devida vênia do magistério do douto Relator Dr. Erony da Silva, no


brilhante voto que acaba de proferir, no qual foi secundado pelo culto
Revisor Dr. Alexandre Victor de Carvalho, ouso divergir de ambos, pois
mantenho o posicionamento exposto no voto divergente que proferi como
revisora no julgamento da Apelação nº 348.495-9, o qual prevaleceu como
voto médio.

Não obstante, peço vênia ao ilustre colega para também discordar de seu
entendimento acerca da impossibilidade de concretização do furto por
absoluta impropriedade dos meios em se tratando de estabelecimento
comercial dotado de sistema de vigilância eletrônica e câmeras de vídeo.

Tenho que o fato de o sistema de segurança pública estatal apresentar-se


frágil e impotente diante da crescente criminalidade - o que nos obriga,
contrariados, a recorrer à segurança privada - não pode ser instrumento de
impunidade...

Uma vez que se recorre à segurança privada - de elevado custo, porém


dotada de sofisticada tecnologia - considerar-se como crime impossível a
prática de subtração em estabelecimentos por tais meios vigiados é ser
excessivamente tolerante com o criminoso e com o crime, aos quais,
definitivamente, não podemos nos curvar...

Assim sendo, pedindo vênia aos cultos Juízes Relator e Revisor, na esteira
do douto parecer do órgão ministerial de cúpula, mantenho meu
entendimento e REJEITO OS PRESENTES EMBARGOS
INFRINGENTES.

É como voto.

Custas ex lege.

O SR. JUIZ SIDNEY ALVES AFFONSO:

Acompanho o voto da Dr.ª Maria Celeste Porto.

O SR. JUIZ ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS:

Estou acompanhando o eminente Juiz Relator, no que tange à absolvição


pelo princípio da insignificância e desacolhendo a parte final do voto,
quando se refere ao crime impossível.
afc
EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº
348.495-9/01
BELO HORIZONTE 27/8/2002
-11-

EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº


«embargos_num»
«comarca» «data»
-2-

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EMENTA - Perdão judicial. Namorada. Concessão. A dor que o acusado
sentiu com a morte de sua companheira não pode ser mensurada por um
registro em cartório ou por uma cerimônia religiosa de casamento. Se autor
e vítima namoravam e tinham uma filha em comum, tudo leva a crer que
possuíam afeto um pelo outro e que a morte da vítima em conseqüência de
acidente automobilístico causado pelo réu será sempre uma dura lembrança
em sua mente. A concessão de perdão judicial em casos como este é, pois,
inevitável, pois a pena perdeu completamente os fins de prevenção geral e
especial a que se destina.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 373.284-


5 da Comarca de BARBACENA, sendo Apelante (s): CARLOS
MOREIRA AUGUSTO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 6 de agosto de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Barbacena, Carlos Moreira Augusto, como incurso nas sanções do art.
302 do Código de Trânsito Brasileiro, por ter, em 13 de dezembro de 1998,
por volta das 17h50, dado causa a um acidente automobilístico que causou
a morte da vítima Márcia Helena da Glória.

A sentença monocrática às f. 75 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de detenção e suspendeu
sua habilitação para dirigir veículos automotores por 6 (seis) meses. A
pena corporal foi substituída por prestação pecuniária e prestação de
serviços à comunidade.

Inconformada, apelou a defesa às f. 93 e seg., pugnando pela concessão do


perdão judicial.

As contra-razões ministeriais às f. 101 e seg. são pelo provimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 118 e seg., opinou


pelo não-provimento do apelo.
Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Assiste inteira razão à defesa e à douta Promotora de Justiça Soraya da


Silva Guedes quanto à possibilidade de aplicação do perdão judicial.

O fato de a vítima ser ou não casada com o réu é completamente


irrelevante para a aplicação do perdão judicial.

Um casamento - seja ele um registro em cartório ou uma cerimônia


religiosa - é tão-somente um reconhecimento público perante a sociedade
de que o casal tem um forte laço afetivo e, portanto, pretendem viver
juntos.
Afeto, carinho e amor - requisitos estes necessários para a concessão do
perdão judicial - não podem ser condicionados a este reconhecimento
social, pois, muita vez, há casais que se amam profundamente e sequer
podem realizar este reconhecimento público por uma infinidade de
motivos.
Também a convivência na mesma residência não é requisito indispensável
para a concessão do perdão judicial, pois, assim como há casais que moram
na mesma residência e muita vez sequer conversam, há também aqueles
que moram em cidades distintas e se amam.

No caso dos autos, impossível é saber o tamanho do afeto que o acusado


sentia pela vítima, mas, se eram namorados, tinham uma filhinha de sete
meses em comum e viajavam a passeio juntos, é certo que havia uma
relação afetiva entre eles.

A dor que o acusado sentiu pela morte de sua companheira, no entanto, não
pode ser mensurada por suas lágrimas, por suas expressões e, muito menos,
pelo seu interrogatório, pois, como bem lembrou a defesa, ainda não
inventaram um "dormetro".

É possível até que a dor do processo penal, que por si só é uma pena
estigmatizante, seja até mesmo maior que a dor de ter perdido sua
companheira.

A dor do acusado parece, no entanto, não ter sido suficiente e a ele se


ameaça com uma pena.

Pena esta que, em um Estado Democrático de Direito, não poderia ser


retribuição da dor causada à vítima como até hoje é aplicada entre os
sistemas jurídico-penais que adotam a máxima do "olho por olho, dente por
dente".
A condenação do acusado carece de racionalidade, pois se o fim da pena
atualmente é a prevenção, não há como se cogitar em aplicá-la no presente
caso.

Do ponto de vista da prevenção geral, é improvável que as pessoas


pratiquem mais ou menos homicídios culposos contra seus companheiros
se houver ou não pena a eles cominada.

Do ponto de vista da prevenção especial, a pena também seria inócua, pois


certamente o acusado passará a dirigir com enorme atenção a partir de
agora, mormente se acompanhado de um ente querido.

E, por falar em ente querido, é impossível olvidar da filha do acusado com


a vítima.

Melhor seria para sua formação como pessoa saber que sua mãe faleceu
quando era recém-nascida em virtude de um trágico acidente em que seu
pai dirigia o veículo ou que seu pai matou sua mãe em acidente em razão
de sua imprudência?

Por fim, pergunto-me se a própria vítima gostaria de ver o pai de sua filha
com o qual namorava e - talvez - pretendesse casar, sendo condenado por
sua morte.
Penso que não.

Por todo o exposto, dou provimento ao recurso da defesa e concedo ao


apelante o perdão judicial nos precisos termos do art. 121, § 5º, do Código
Penal.
Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 373.284-5 - 6/8/2002
BARBACENA

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-7-
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EMENTA - Regressão de regime. Fuga. Descumprimento de condição
fixada para trabalho externo. Princípio da reserva legal.
A analogia não pode ser aplicada em desfavor do réu. Destarte, a conduta
de quem não retorna ao presídio após o trabalho externo não pode ser
considerada como fuga e, portanto, não justifica a regressão de regime, por
absoluta ausência de previsão legal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 368.858-2 da


Comarca de PASSOS, sendo Agravante (s): EDSON ANTÔNIO LOPES e
Agravado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MINAS GERAIS,
ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada
do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 6 de agosto de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Trata-se de agravo interposto por Edson Antônio Lopes contra a decisão do


M.M. Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Passos que
determinou sua regressão de regime prisional em virtude de não ter
retornado ao presídio em data fixada para tanto, o que foi considerado pelo
magistrado monocrático como falta grave equivalente à fuga.

Em suas razões às f. 18 e seg., a defesa argumenta que não pode ser


considerado fuga o mero descumprimento de condições, pois do contrário
estar-se-ia ferindo o princípio da reserva legal.

A contraminuta ministerial às f. 24 e seg. é pela manutenção da decisão


guerreada.

O magistrado monocrático manteve a decisão recorrida à f. 26v.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 267 e seg., opinou


pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Com razão a defesa.

O agravante encontrava-se em regime semi-aberto e a ele foi concedida


autorização para trabalho externo.

Em 16 de maio de 2001, o sentenciado não mais se recolheu ao presídio


conforme determinado pelo juiz das execuções, razão pela qual foi
expedido mandado de prisão em seu desfavor que foi cumprido em 3 de
agosto de 2001.

Ora, deixar de voltar ao presídio não pode ser considerada a mesma


conduta que fugir do presídio.

Raciocinar de outra forma é admitir que os delitos de furto e apropriação


indébita são a mesma conduta.

Não se pode admitir em Direito Penal a analogia prejudicial ao réu, pois é


princípio basilar de Direito que as normas que restringem os direitos e
garantias individuais devem ser interpretadas restritivamente.

Assim, não cometeu o acusado nenhuma das condutas previstas no art. 50


da Lei de Execuções Penais, razão pela qual é impossível a sua regressão
de regime nos termos do art. 118 da referida lei.
Evidentemente fica revogado o direito ao trabalho externo concedido ao
acusado, conforme disposto no art. 125 da Lei de Execuções Penais.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
AGRAVO Nº 368.858-2 - 6/8/2002
PASSOS
-4-

AGRAVO Nº «agravo_num» - «data»


«comarca»
-1-

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EMENTA - Furto de cheque. Desclassificação. Estelionato. O cheque
ainda que devidamente preenchido e assinado por seu legítimo titular, não
é objeto material válido para o crime de furto. Ao contrário do Direito
Comercial que, por uma ficção jurídica identifica o título com o valor que
ele representa, o Direito Penal o considera em seu sentido ôntico, isto é,
como uma folha de papel de valor patrimonial insignificante. A subtração
do cheque, por si só, não lesa qualquer bem jurídico. O patrimônio, como
bem jurídico tutelado, só será efetivamente ameaçado se houver uma
tentativa fraudulenta de se descontar ou trocar o cheque, quando
configurará delito de estelionato.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 353.969-


7 da Comarca de MONTE CARMELO, sendo Apelante (s): ELSON DOS
REIS BOAVENTURA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

Belo Horizonte, 25 de junho de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
Revisor

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Monte Carmelo, Elson dos Reis Boaventura como incurso nas sanções
do art. 155 do CP, por ter, em 6 de outubro de 2000, subtraído para si
vários cheques da vítima Ademir Inácio da Silva, sendo um deles no valor
de R$109,00 (cento e nove reais).

Consta ainda da inicial que o réu tentou efetuar uma compra de


mercadorias no Supermercado Riachão com o cheque furtado, não obtendo
êxito, pois a atendente conferiu a procedência do título, descobrindo tratar-
se de cheque furtado.

A sentença monocrática às f. 53 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime semi-aberto e ao
pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário mínimo. Não lhe foi
concedido o benefício da substituição da pena nem do sursis.

Inconformada, apelou a defesa às f. 57 e seg., pugnando pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 61 e seg. são pelo conhecimento e


improvimento do recurso.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 67 e seg.
manifestou-se pelo não-provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata venia, entendo que no presente caso não há falar em crime de furto,
mas sim em crime de tentativa de estelionato.

É que a subtração de cheque nominal é crime-meio para a prática do crime-


fim de estelionato.

Se no Direito Comercial, pelo princípio da cartulariedade, o cheque se


confunde com o próprio valor que representa, tal ficção jurídica não pode
ser admitida em Direito Penal.

O fato é que a subtração foi de uma folha de papel preenchida e assinada


que, por si só, tem valor patrimonial completamente insignificante sendo,
no entanto, instrumento valiosíssimo para a prática do delito de estelionato.

Um cheque sustado ou um cheque sem fundos não pode ser


ontologicamente considerado dinheiro, ainda que o Direito Comercial, por
uma ficção jurídica, assim o considere.

Em Direito Penal o cheque é uma folha de papel e, como tal, sem valor
patrimonial.

Seu uso fraudulento, porém, poderá constituir o crime de estelionato ou sua


tentativa.

É o que ocorreu no presente caso.

Se houve ou não a subtração, isto é completamente irrelevante, pois uma


folha de cheque tem valor patrimonial insignificante e a sua simples
subtração não afeta qualquer bem jurídico.

No momento, porém, que o agente pretende descontar ou trocar o cheque,


há um efetivo perigo de lesão patrimonial ou ao titular do cheque - se não
sustou ainda o título - ou ao comerciante - caso o cheque esteja sustado.

E é esse perigo de lesão ao patrimônio das vítimas que será punido pelo
Direito Penal como tentativa de estelionato.

Note-se que, ainda que o cheque tenha sido "achado", o crime de


estelionato persiste, uma vez que, não sendo o legítimo possuidor do
cheque, a sua troca por dinheiro seria uma obtenção de vantagem ilícita
através de meio fraudulento.

Vale frisar que a denúncia narra corretamente os fatos e que a capitulação


equivocada do crime como furto em nada prejudica a defesa, pois o réu
defende-se dos fatos narrados na preambular e não da capitulação que lhes
é dada pelo Promotor de Justiça.

Assim, não há qualquer óbice à aplicação da emendatio libelli, ainda que


em segunda instância, pois o STF já entendeu que:

"A Súmula 453 não inibe que, no juízo de apelação, independentemente de


recurso da acusação, se dê nova definição jurídica ao fato, desde que não se
aplique pena mais grave, atendidos os art. 383 e 617 do CPP" (STF - RT
601/418).

Pelo exposto, nos exatos termos do art. 383 do CPP, desclassifico o delito
para tentativa de estelionato, passando a fixar-lhe nova reprimenda:

As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP são comuns aos crimes da


espécie, razão pela qual fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 1 (um)
ano de reclusão.

O réu é reincidente conforme certificado às f. 30-31, razão pela qual lhe


majoro a pena em 6 (seis) meses.

O iter criminis já estava em estágio avançado, razão por que lhe reduzo a
pena em apenas 1/3 (um terço) pela tentativa, concretizando-a em 1 (um)
ano de reclusão.

A pena será cumprida inicialmente em regime semi-aberto em razão da


reincidência.

Fixo-lhe a pena pecuniária de 10 (dez) dias-multa com valor unitário


mínimo.

Por não ser reincidente específico, substituo-lhe a pena corporal por uma
restritiva de direitos consistente na prestação de serviços a entidade a ser
designada no juízo da execução.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Coloco-me de acordo com V.Exª, mas quero ressalvar que, a meu sentir, a
folha de cheque pode ter valor patrimonial por si só, gerando lesão ao bem
jurídico patrimônio, na medida em que ela tem mercado, não apenas para o
agente como também teria para a vítima.

Nesse sentido, penso que o furto do talonário de cheques por si só


caracteriza o crime do artigo 155 do CP. Todavia, como o furto se prestou
a uma tentativa de estelionato, pelo princípio da consunção, o crime-fim
absorve o crime-meio. Assim, coloco-me inteiramente de acordo com o
voto do eminente Juiz Relator, frisando que os efeitos do delito de furto se
exauriram no delito de estelionato tentado.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:


De acordo.

WAS.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 353.969-7 - 25/6/2002
MONTE CARMELO

-8-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-9-

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EMENTA - Furto. Sistema de vídeo em hipermercado. Crime impossível.
O furto em hipermercado dotado de sistema de segurança com
monitoramento de vídeo é impossível de ser concretizado se, antes de o
agente sair do supermercado, os agentes de segurança percebem a intenção
do autor.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 360.104-


7 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as):
SORAIA ÁLVARES SILVA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

Belo Horizonte, 25 de junho de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

JUÍZA MARIA CELESTE PORTO


Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital,


Soraia Álvares Silva como incursa nas sanções do art. 155 c/c 14 do CP,
por ter, em 31 de março de 2000, por volta das 22h00, tentado subtrair
alguns produtos de higiene pessoal do Supermercado Via Brasil.

A sentença monocrática às f. 69 e seg. absolveu a acusada por insuficiência


de provas.

O Ministério Público apelou às f. 71 e seg., pugnando pela condenação nos


termos da denúncia.

As contra-razões ministeriais às f. 78 e seg. são pela manutenção da


sentença monocrática por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 93 e seg., opinou


pelo provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Sem qualquer razão o Ministério Público.

A vigilância dos consumidores por câmeras em supermercados torna o


furto impossível de ser concretizado por absoluta ineficácia dos meios.

Os piores pesadelos do escritor George Orwell parecem se concretizar não


pelos olhos de um Big Brother estatal, mas sim pela eterna vigilância das
empresas privadas.

Os hipermercados, hoje em dia, assemelham-se em muito aos reality shows


que alcançam inacreditáveis índices de audiência no mundo todo expondo
a privacidade alheia.

Todos os atos dos consumidores são vigiados e gravados em fitas de


vídeos, tornando qualquer atitude suspeita facilmente perceptível pelos
agentes de segurança.

Um furto nestas condições só seria possível de ser concretizado por um


mágico ilusionista capaz de, com sua destreza, despistar o "Grande Irmão"
privado.

Além do mais, o valor da res furtiva se comparado ao imenso potencial


econômico do estabelecimento comercial certamente é insignificante
demais para justificar uma condenação criminal.

Pelo exposto, mantenho a absolvição, não com fundamento no inciso VI do


art. 386 do CPP, mas em seu inciso III.
Custas pelo Estado.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

De acordo.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Estou de pleno acordo com o ilustre Relator quanto à manutenção da


absolvição da recorrida. No entanto, peço vênia ao ilustre colega para
discordar de seu entendimento acerca da impossibilidade de concretização
do furto por absoluta impropriedade dos meios em se tratando de
estabelecimento comercial dotado de sistema de vigilância eletrônica e
câmeras de vídeo - no caso, o Hipermercado Via Brasil.

Tenho que o fato de o sistema de segurança pública estatal apresentar-se


frágil e impotente diante da crescente criminalidade - o que nos obriga,
contrariados, a recorrer à segurança privada - não pode ser instrumento de
impunidade...

Uma vez que se recorre à segurança privada - de elevado custo, porém


dotada de sofisticada tecnologia - considerar-se como crime impossível a
prática de subtração em estabelecimentos por tais meios vigiados é ser
excessivamente tolerante com o criminoso e com o crime, aos quais,
definitivamente, não podemos nos curvar...

Assim sendo, acompanho o voto condutor e igualmente nego provimento


ao recurso ministerial e o faço com fundamento também no inciso lll do
art. 386 do Código de Processo Penal, porém, dado o diminuto valor da res
furtiva, em caráter excepcional, tenho como melhor solução para a hipótese
dos autos a aplicação do princípio da insignificância.
WAS.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 360.104-7 - 25/6/2002
BELO HORIZONTE

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-
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EMENTA - Falsa identidade. Réu que declara identidade falsa após ser
preso. Ausência de tipicidade. Se o réu atribuiu-se identidade falsa para
minorar os efeitos de sua prisão, não há dolo específico de obter vantagem
em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem, razão pela
qual sua conduta é atípica.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 357.597-


7 da Comarca de BETIM, sendo Apelante (s): ANILSON LOPES DOS
SANTOS e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 28 de maio de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Betim, Anilson Lopes dos Santos como incurso nas sanções do 157, §2º,
I e II e art. 307 do CP, por ter, em 24 de outubro de 1999, por volta das
16h00, em concurso de agentes, subtraído para si, mediante violência e
grave ameaça com emprego de arma de fogo, a quantia de R$115,00 (cento
e quinze reais) das vítimas Felipe Eduardo de Paula e Gilmar Oliveira de
Souza.

Consta ainda da exordial que o apelante atribuiu-se, no momento em que


foi preso, falsa identidade, alegando chamar-se Fernando Barcelos de
Farias.

A sentença monocrática às f. 81 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou Anilson a 9 (nove) anos, 9 (nove) meses e 18 (dezoito) dias de
reclusão pelo roubo e a 7 (sete) meses de detenção pelo crime do art. 307
do CP. Anilson foi condenado ainda ao pagamento de 98 (noventa e oito)
dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal.

Inconformada, apelou a defesa de Anilson às f. 92 e seg., porém o douto


magistrado monocrático, à f. 123, deixou de receber o recurso em razão da
fuga do réu da penitenciária.

O acórdão desta Câmara às f. 160 e seg., em preliminar de ofício, cassou a


referida decisão, determinando o recebimento do recurso da defesa de
Anilson.

As razões da defesa técnica foram apresentadas às f. 176 e seg., nas quais


pugna pela absolvição pelo delito do art. 307 do CP e pela minoração da
pena em relação à condenação pelo roubo.

As contra-razões ministeriais às f. 179 e seg. são pelo improvimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 188 e seg.,


manifestou-se pela confirmação da sentença.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Com razão a defesa.

O apelante não praticou a conduta prevista no art. 307 do CP, pois não
havia o dolo específico de obter vantagem ou causar dano.

Ao atribuir-se falsa identidade o apelante tentou minorar os efeitos de sua


prisão, isto é, tentou evitar um prejuízo maior contra sua pessoa.
Tal conduta, no entanto, não traria nenhum benefício, lucro, ganho, em
suma, vantagem ao apelante. Apenas evitar-se-ia um prejuízo maior.

As normas penais são interpretadas restritivamente e não se pode entender


como vantagem a tentativa de se evitar um prejuízo.

Absolvo-o, pois, das imputações do art. 307 do CP.

Por outro lado, entendo que procedeu com excesso de rigor o magistrado
monocrático quando da fixação da pena do apelante, razão pela qual fixo-
lhe nova reprimenda:

Culpabilidade: comum aos crimes da espécie;

Antecedentes: serão analisados quando da apreciação da agravante da


reincidência;

Conduta social e personalidade: sem elementos de convicção nos autos,


razão pela qual entendo-as favoráveis;

Motivos, circunstâncias, conseqüências e comportamento da vítima:


também comuns aos crimes da espécie.

Entendo que nenhuma das circunstâncias judiciais indicam merecer o


apelante uma reprovação maior do que a média, razão pela qual fixo-lhe a
pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.

Presente a agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea,


compenso-as entre si e mantenho a pena fixada na primeira fase.

Em razão do disposto no art. 157, §2º, do CP, majoro-lhe a pena em 1/3


(um terço), concretizando-a em 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses em
regime inicialmente fechado em face da reincidência.

Fixo-lhe a pena pecuniária em 50 (cinqüenta) dias-multa com valor


unitário mínimo.

Impossível a substituição da pena, em razão de ter sido o crime praticado


com violência e grave ameaça.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 357.597-7 - 28/5/2002
BETIM

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-

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EMENTA - Dano. Fuga de preso. Dolo específico. Necessidade. Não há
falar em crime de dano se o agente não visa com sua conduta causar um
prejuízo ao Estado, mas tão-somente evadir-se da prisão. O dano só existe
como um fim em si mesmo e não enquanto meio para a prática de outro
fato criminoso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 354.520-


4 da Comarca de MALACACHETA, sendo Apelante (s): MURILO
TEIXEIRA MOREIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 21 de maio de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Malacacheta, Murilo Teixeira Moreira como incurso nas sanções do art.
163, parágrafo único, III, do Código Penal, por ter, em maio de 1999,
danificado a cela nº 2, da cadeia pública de Malacacheta, escavando sua
parede com uma chave de fenda e pedaços de arame.

A sentença monocrática às f. 76 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão em regime semi-
aberto e ao pagamento de 12 (doze) dias-multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 89 e seg.,


nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 93 e seg. são pelo conhecimento e


improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 102 e seg. opinou


pelo improvimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e autoria delitiva estão sobejamente provadas.

Discute-se tão-somente aqui se para caracterizar o delito de dano é ou não


necessário que haja o dolo específico do agente de causar prejuízo.

A questão é controversa tanto na doutrina como na jurisprudência e há


inúmeras decisões jurisprudenciais que consagram ambas as teses.

Entendo, porém, que o melhor entendimento é aquele que considera estar


implícito no tipo do art. 163 do Código Penal, a expressão "para prejudicar
a vítima".

Se o dano foi cometido como crime-meio para a prática da fuga, não se


pode puni-lo, pois não houve a intenção de causar prejuízo ao Estado, mas
tão-somente o desejo de alcançar a liberdade.

Neste sentido temos exemplar ensinamento jurisprudencial:

"A conduta física desenvolvida pelo preso para ganhar a liberdade não está
acompanhada do dado anímico exigido pela figura criminosa do dano. E se
a evasão não é punível desde que o agente, ao realizá-la, não usa de
violência contra a pessoa, não se compreende como a violência contra a
coisa possa traduzir-se em infração penal autônoma. O dano só existe
quando for um fim em si mesmo, não enquanto meio para a prática de
outro fato criminoso" (TACRSP - RT 63/181).

Pelo exposto, dou provimento ao recurso e absolvo o réu das imputações


da denúncia por atipicidade de sua conduta, uma vez que não há falar em
dano quando ausente o animus nocendi.

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 354.520-4 - 21/5/2002
MALACACHETA

-4-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-
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EMENTA -Furto. Erro de tipo. Elementos subjetivos do tipo. À acusação
cabe demonstrar não só os elementos objetivos do tipo, mas também seus
elementos subjetivos. Assim, se os réus confessam a subtração, porém
alegam ter julgado tratar-se de coisa abandonada, caberia à acusação
demonstrar o aspecto congnoscitivo do dolo dos agentes. Na ausência de
provas, a absolvição se impõe por erro de tipo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 354.811-


0 da Comarca de NOVA LIMA, sendo Apelante (s): WELLINGTON
BARBOSA e HEDIÊNIO FERREIRA DE ALMEIDA e Apelado (a) (os)
(as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 14 de maio de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Nova Lima, Wellington Barbosa e Hediênio Ferreira de Almeida como
incursos nas sanções do art. 155, § 4º, do CP, por terem, em março de
1998, subtraído uma placa de propaganda do tipo "outdoor".

A sentença monocrática às f. 88 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou ambos a 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 10 (dez)
dias-multa com valor unitário mínimo.

A pena corporal foi substituída por prestação pecuniária de 1 (um) salário-


mínimo à vítima.

Inconformada, apelou a defesa de ambos às f. 93 e seg., pugnando pela


absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 97 e seg. são pela manutenção da


sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 113 e seg., opinou


pelo conhecimento e improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Para que haja uma condenação criminal, a acusação deve provar nos autos
os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica.

No caso dos presentes autos, os elementos objetivos do tipo ficaram


devidamente provados, mas em nenhum momento o Ministério Público
demonstrou que os acusados sabiam que a coisa era "alheia".

O dolo é composto de um aspecto cognoscitivo - o agente conhece a


tipicidade da conduta - e de um aspecto volitivo - o agente deseja praticar a
conduta ilícita.

No presente caso, tudo indica que faltou o aspecto cognoscitivo do dolo,


pois os agentes alegam que acreditavam que a coisa era abandonada e não
alheia como a prevista no tipo do art. 155 do CP.

Wellington afirmou à f. 19:


"foram até as proximidades da rodovia MG 030 onde sabiam da existência
de três tubos fixados no chão, os quais serviam de sustentação de placa de
publicidade, cuja placa já havia sido retirada dali há muito tempo e como
referidos tubos estivessem cheios de água e abandonados, resolveram levá-
los (...)"

No mesmo sentido as declarações prestadas por Hediênio à f. 20.

Ora, é perfeitamente crível que os apelantes tenham julgado que os tubos


encontravam-se abandonados e, portanto, agido em erro de tipo, o que
exclui o dolo, nos termos do art. 20 do CP.

Foi esta a versão apresentada pelos réus tanto em seus interrogatórios no


inquérito quanto em juízo, ainda que por não serem versados em dogmática
penal não tenham se referido à expressão "erro de tipo" ou ao art. 20 do
CP.

Entendo que o interrogatório é não só meio de prova, mas também meio de


defesa, devendo, pois as teses da autodefesa serem levadas em conta.

De fato, o Ministério Público não conseguiu demonstrar a consciência que


os réus deveriam ter de a coisa ser alheia.

É bem possível que tenham acreditado tratar-se de res nullius e realizado a


subtração sem dolo de furto.

Nunca é demais lembrar, ainda, que na dúvida, em respeito ao princípio


constitucional da presunção de não-culpabilidade, a absolvição se impõe.

Pelo exposto, absolvo os réus das imputações da denúncia, nos termos do


art. 386, VI, do Digesto Processual Penal, visto não terem restado provados
os elementos subjetivos do tipo.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


WAS.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 354.811-0 - 14/5/2002
NOVA LIMA

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-7-

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EMENTA - Furto. Estelionato. Talonário de cheques. Concurso de crimes.
Absorção. Para que haja concurso material de crimes é necessário que
exista uma individualidade tanto dos elementos objetivos do tipo, quanto
dos subjetivos. Se o agente furta talonário de cheques em branco para
posterior emissão fraudulenta, ainda que haja uma individualidade em cada
uma das tipicidades objetivas o mesmo não se pode dizer dos elementos
subjetivos do tipo, pois seu dolo é único. Assim, aplica-se nos presentes
casos o princípio da consunção pelo qual o crime-meio menos grave é
absorvido pelo crime-fim mais grave, punindo-se o réu somente por este
último.

Privação de liberdade aplicada à pena inferior ou igual a 6 (seis) meses,


substituída por restritiva de direitos. Recurso provido parcialmente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 349.614-


8 da Comarca de ALFENAS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as):
APARECIDA RABÊLO DE CARVALHO,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 30 de abril de 2002.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Alfenas, Aparecida Rabêlo de Carvalho por ter, em 11 de novembro de
1998, furtado uma bolsa de propriedade de Geane Cleide Rocha Muniz,
que se encontrava no guarda-volumes da biblioteca da Universidade de
Alfenas.

Consta ainda da exordial acusatória que, de posse da bolsa, a acusada


emitiu várias folhas de cheques no comércio local, preenchidos e assinados
por ela própria.

A sentença monocrática às f. 84 e seg. julgou parcialmente procedente a


denúncia e condenou a ré a 4 (quatro) meses de reclusão em regime aberto
e ao pagamento de 3 (três) dias-multa com valor unitário mínimo.

A pena corporal foi substituída pela prestação de serviços à comunidade.

Inconformado, apelou o douto Promotor de Justiça, apresentando suas


razões às f. 91 e seg., nas quais pugna pela reforma da sentença para
condenar a ré como incursa nas sanções dos art. 155, § 2º e 171, caput,
todos do CP.

As contra-razões da defesa às f. 98 e seg. são pela manutenção da sentença


monocrática.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 106 e seg., opinou


pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Trata-se de hipótese interessante de concurso de delitos.

Luís Regis Prado ensina que:

"Dentre os sistemas propostos para a aplicação da pena nas diferentes


espécies de concurso de delitos destacam-se:
a)cúmulo material: determina a soma das penas aplicadas para cada um dos
crimes (tot poena quot delicta).

b)cúmulo jurídico: por esse sistema a pena aplicada deve ser superior às
cominadas a cada um dos crimes.
c)absorção: considera que a pena aplicada ao delito mais grave absorve a
pena do delito menos grave (poena maior absorvet minorem).

d)exasperação: prevê a aplicação da pena mais grave, aumentada de um


determinado quantum (poena maior cum exasperatione)."

Cabe então indagar qual sistema deve ser aplicado no caso de furto de
talonário de cheques em branco para posterior prática de estelionato.

Sabe-se que a tipicidade é composta de elementos objetivos e subjetivos.

Para que possa se cogitar em concurso material de delitos é necessário que


haja uma individualidade típica tanto objetiva quanto subjetiva.

Assim, no furto do talonário de cheques para a posterior prática do


estelionato, ainda que haja uma individualidade objetiva de condutas, o
mesmo não se pode dizer quanto à individualidade subjetiva.

Isto porque, ao furtar o talonário de cheques e ao realizar a emissão


fraudulenta das cártulas, o dolo do agente é uno, pois visa tão-somente à
obtenção do dinheiro da vítima que se encontra depositado no banco.

A hipótese do art. 69 encontra-se, pois, descartada.

Obviamente, também descartada fica a hipótese do art. 70 do CP, pois esta


trata de pluralidade de elementos subjetivos e unidade de elementos
objetivos, situação oposta à tratada nos presentes autos.

A hipótese do art. 71 do CP também está afastada, pois em tais casos há


pluralidade de elementos tanto objetivos quanto subjetivos que a lei, por
razões de política criminal, trata fictamente de forma diferenciada.

Resta-nos, então, a aplicação do princípio da absorção.

Trata-se de hipótese não prevista expressamente na lei, mas de construção


doutrinária e jurisprudencial consolidada.

Por este princípio, havendo unidade de desígnios, não se pune o crime


menos grave quando usado como meio para a consecução de outro delito.
Trata-se claramente da hipótese dos autos, na qual o furto - que tem pena
mínima igual a do estelionato, mas pena máxima inferior à deste - não é
punido por ser crime-meio usado pela ré para lograr êxito em praticar o
estelionato.

O bem jurídico penalmente protegido - patrimônio - não foi lesionado com


a consumação do furto dos cheques, que não assinados têm insignificante
valor econômico.

Somente com a prática do estelionato a ré obteve seu enriquecimento


ilícito e é por esta conduta que deverá ser ela punida.

O M.M. juiz monocrático, no entanto, entendeu, ao contrário, ser o


estelionato post factum impunível, o que na prática não acarretou em
nenhum prejuízo à ré ou mesmo à acusação.

Isto porque a pena-base foi fixada no mínimo legal, isto é, em 1 (um) ano
de reclusão - a mesma do estelionato.

A causa de diminuição de pena aplicada com base no art. 155, § 2º, em


razão do furto privilegiado é exatamente a mesma prevista no art. 171, §1º,
do CP.

Todavia, a sentença monocrática, fixada a pena em 4 (quatro) meses de


reclusão, regime aberto, multa de 3 (três) dias-multa com valor unitário
mínimo, cometeu um pequeno deslize quando foi substituída por prestação
de serviços à comunidade, ofendendo, assim, o princípio da legalidade à
luz do art. 46 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 9.714/98
que só permite a prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas em condenações superiores a 6 (seis) meses de privação de
liberdade.

Nesse sentido, mantenho a condenação de 4 (quatro) meses de reclusão


imposta à apelada quanto à privação de sua liberdade, porém, a substituo
por limitação de fim de semana que deve ser estabelecida pelo juízo da
execução, mantida o quanto mais a r. sentença de primeiro grau.

Custas pelo Estado.

JUIZ ERONY DA SILVA


was.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 349.614-8 - 30/4/2002
ALFENAS

-8-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-9-
Voltar
EMENTA - Reincidência. Regime aberto. Possibilidade.
A Constituição Federal de 1988 garante ao réu a individualização de sua
pena. Assim, se a norma prevê para todos os réus reincidentes o regime
inicialmente fechado, tratando igualmente situações concretas desiguais,
ela é inconstitucional.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 352.003-


0 da Comarca de PASSOS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): JULIANO
EVANGELISTA LARA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de abril de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Passos, Juliano Evangelista Lara como incurso nas sanções do art. 155
do CP, por ter, em 8 de janeiro de 1999, por volta das 18h35, subtraído um
toca-fitas e um rádio televisor do veículo da vítima José Darci Pereira.

A sentença monocrática às f. 75 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 1 (um) ano de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-
multa com valor unitário mínimo.

Apesar da reincidência, o douto juiz a quo fixou-lhe o regime aberto como


inicial para o cumprimento da pena.

Inconformado, apelou o douto Promotor de Jusitça, apresentando suas


razões às f. 82 e seg., nas quais pugna tão-somente pela alteração quanto ao
regime inicial de cumprimento de pena para semi-aberto.

As contra-razões da defesa às f. 86 e seg. são pela manutenção da sentença


guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 94 e seg., opinou


pelo conhecimento e não- provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Em princípio vale frisar que a Constituição Federal garante ao réu a


individualização de sua pena.

Se a norma é abstrata e não permite ao julgador que trate desigualmente


casos desiguais, sem dúvida, haverá uma nítida inconstitucionalidade da
lei.

Se a lei impede que em todo e qualquer caso o réu reincidente inicie o


cumprimento de sua pena em regime aberto, há uma clara ofensa ao
princípio da individualização da pena, pois a lei ordinária está
determinando que se trate igualmente casos desiguais.

Assim, a parte do art. 33, §2º, que trata da reincidência não foi
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, por ofensa direta ao
princípio de individualização da pena.

Cada caso é um caso.

Não se pode dar tratamento idêntico a situações concretas diferentes sob


pena de clara violação não só à garantia da individualização das penas, mas
também ao próprio princípio da eqüidade.
Pelo exposto, não vejo qualquer problema técnico na fixação do regime
inicialmente aberto no presente caso.

Mantenho a sentença guerreada por seus próprios fundamentos.

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 352.003-0 - 23/4/2002
PASSOS

-4-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-5-
Voltar
Ementa - Furto. Erro de tipo. Aspecto cognoscitivo do dolo ausente.
Atipicidade da conduta.
A consciência de estarem praticando uma conduta "errada" demonstra a
culpabilidade dos agentes, mas não exclui a possibilidade de estarem
agindo em erro de tipo. Uma condenação criminal deve fundamentar-se em
provas não só do tipo objetivo, mas também do tipo subjetivo. Se não se
provou que os acusados conheciam o fato da res ser de propriedade alheia,
não há falar em dolo e, como não há previsão de furto culposo, a
absolvição se impõe.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 335.931-


5 da Comarca de PRATÁPOLIS, sendo Apelante (s): JOSÉ ROBERTO
MARTINS e EMERSON DE PÁDUA PEREIRA e Apelado (a) (os) (as):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de abril de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Pratápolis, José Roberto Martins e Emerson de Pádua Pereira como
incursos nas sanções do art. 155, §1º e §4º , IV, do Código Penal, por
terem, em 18 de dezembro de 1998, por volta das 20h00, subtraído 100 kg
(cem quilos) de peixe da criação de propriedade de Edilson Ribeiro de
Oliveira e João Batista de Pádua.

A sentença monocrática às f. 83 e seg. julgou procedente em parte a


denúncia e condenou Emerson de Pádua Pereira a 1 (um) ano e 4 (quatro)
meses de detenção e José Roberto Martins a 1 (um) ano e 6 (seis) meses de
detenção.

Ao réu Emerson foi concedida a substituição da pena corporal, o mesmo


não sendo deferido ao réu José Roberto por ser este reincidente em crime
doloso.

Inconformados, apelaram ambos, apresen-tando suas razões às f. 97 e seg.,


nas quais pugnam pela absolvição com base na tese do erro de tipo.

As contra-razões ministeriais às f. 99 e seg. são pelo improvimento do


apelo.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 108 e seg., opinou
pelo conhecimento e desprovimento dos recursos.

Em síntese, é o relatório.

Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de admissibilidade.

Trata a hipótese dos autos de erro de tipo e não de erro de proibição.

Enquanto no erro de tipo o agente desconhece que pratica uma conduta


típica, no erro de proibição o agente desconhece a antijuridicidade de sua
conduta.

Os acusados agiram em erro de tipo, pois desconheciam elemento essencial


do tipo objetivo do delito de furto, isto é, ser o bem coisa alheia.

Para que haja dolo, não basta uma mera possibilidade de conhecer, sendo
imprescindível que haja um efetivo conhecimento dos elementos objetivos
do tipo.

Ainda que soubessem que era "errado" pescar ali, como os advertiu
Hamilton Braz Martins, irmão do acusado José Roberto, isto não impede
que tenham agido em erro de tipo, pois isto provaria tão-somente que
agiram com culpabilidade.

Não se discute aqui o erro de proibição - se achavam que era "certo" ou


"errado" pescarem ali. O que se discute aqui é o erro de tipo: se sabiam ou
não serem os peixes coisas alheias.

Essa consciência do elemento normativo do tipo "alheia" é que não foi


provada.

Aliás, como não havia qualquer placa indicativa no local, não se podia
exigir dos acusados que adivinhassem que os peixes tinham "dono".

Saber que uma conduta é "errada" não é o mesmo que saber que a conduta
é crime, isso porque nem toda conduta antijurídica é típica.

Deixar de pagar o aluguel é antijurídico - "errado" - mas não é conduta


típica e, portanto, não é crime.

Não há sequer indícios de que os agentes tenham agido com animus


furandi, isto é, com o dolo de furto.

Se os acusados acreditavam que os peixes eram res nullius, não havia dolo
em sua conduta e, portanto, não há falar em crime, mas em mero ilícito
civil.

O mais provável é que julgavam tratar-se de mera violação de propriedade


privada.

Ausente o aspecto cognoscitivo do dolo, solução outra não resta, senão a


absolvição por atipicidade da conduta, uma vez que não há a previsão de
furto culposo.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso e absolvo os acusados das


imputações da denúncia.

Custas pelo Estado.

É como voto.
JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 335.931-5 - 23/4/2002
PRATÁPOLIS

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-
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EMENTA - Furto de veículo equipado com mecanismo de segurança.
Crime impossível.
Dispositivo antifurto, que impede o acionamento do motor, torna a
tentativa de furto do veículo, com o uso de chave mixa, crime impossível
por absoluta ineficácia do meio.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 351.291-


6 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): PAULO
EDUARDO RIBEIRO DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA
DEFESA E, DE OFÍCIO, ABSOLVER O APELANTE PELO DELITO
DO ART. 155 DO CÓDIGO PENAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 16 de abril de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital,


Paulo Eduardo Ribeiro de Souza como incurso nas sanções do art. 155, §
4º, III e art. 307 do CP, por ter, em 10 de dezembro de 1998, por volta das
20h00, tentado subtrair para si o aparelho de som do veículo de placa
GPW-9163.

A sentença monocrática às f. 113 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão e a 4 (quatro)
meses de detenção a ser cumprida em regime semi-aberto. A pena
pecuniária foi fixada em 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo.
A substituição da pena corporal não foi concedida.

Inconformada, recorreu a defesa, apresentando suas razões às f. 135 e seg.,


pugnando pela concessão do regime aberto e pela absolvição do crime de
falsidade ideológica.

As contra-razões ministeriais às f. 141 e seg., são pelo improvimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 164 e seg.,


manifestou-se pelo provimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos para sua


admissibilidade.

Quanto ao furto, entendo que, no presente caso, é crime impossível por


absoluta ineficácia do meio.

O veículo estava protegido por um sistema antifurto que tornaria


completamente impossível sua subtração com o uso da chave mixa.

Para que se possa cogitar em tentativa possível é necessário que haja a


potencialidade de consumação do delito, que no caso não ocorreu, pois o
sistema de proteção do veículo impossibilitaria qualquer tentativa de furto
com o uso da chave mixa.

A ineficácia absoluta do meio torna a tentativa não punível nos termos do


art. 17 do CP, razão pela qual absolvo o acusado da imputação de tentativa
de furto.

Em relação ao delito do art. 307 do CP, a absolvição também se impõe.

É que a autodefesa exclui a tipicidade da conduta, uma vez que o dolo


específico exigido para a configuração do crime é a intenção de obter
vantagem ou causar dano a outrem.

Ora, vantagem é lucro, ganho, proveito. No caso da autodefesa não há falar


em lucro, mas tão-somente em evitar-se um prejuízo, perda ou infortúnio.

Como não é possível a analogia em Direito Penal para se criar condutas


típicas, impossível é a condenação do réu nas iras do art. 307 CP, por
atipicidade da conduta uma vez que não estão presentes todos os elementos
subjetivos do injusto.

Destarte, dou provimento ao recurso da defesa e também absolvo-o das


imputações do art. 307 do CP.

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 351.291-6 - 16/4/2002
BELO HORIZONTE

-4-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-5-
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EMENTA - Homicídio - Trânsito - Culpa - Excesso de velocidade.
O excesso de velocidade na direção de veículo automotor é infração
administrativa para a qual é prevista pena de multa e, ainda que seja indício
de imprudência, não gera tal presunção. A culpa não se presume, pois é o
nexo subjetivo da conduta do agente com o resultado lesivo e não mero
conceito normativo que pode ser mensurado objetivamente por um
tacógrafo. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 350.640-


5 da Comarca de CONTAGEM, sendo Apelante (s): CRISTIANO
EUSTÁQUIO DE PAULA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR
PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º
Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2° Vogal).

Assistiu ao julgamento, pelo apelante, as Drªs. Beatriz Meireles Brandão e


Renata Christianne Araújo.

Belo Horizonte, 9 de abril de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
1º Vogal

JUÍZA MARIA CELESTE PORTO


2ª Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Contagem, Cristiano Eustáquio de Paula, como incurso nas sanções do
art. 121, §3º, por ter, em 19 de setembro de 1996, por volta das 22h20m,
atropelado a vítima Nilson Ferreira da Cruz, causando-lhe ferimentos que
foram causa de sua morte.

A sentença monocrática às f. 120 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 2 (dois) anos de detenção em regime aberto.

A pena corporal foi substituída por uma restritiva de direitos de prestação


de serviços à comunidade e por uma prestação pecuniária de 30 (trinta)
dias-multa com valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 139 e seg.,


nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do processo em razão da
insuficiência da defesa técnica. No mérito, requer a absolvição ou,
alternativamente, a minoração da reprimenda.

As contra-razões ministeriais às f. 156 e seg. são pela manutenção da


sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 164 e seg., opinou


pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade do processo:


Não há falar em nulidade no presente caso, pois a todo momento foi
observada a garantia do contraditório.

Se o apelante não desejou valer-se da suspensão condicional do processo é


porque preferiu enfrentar o processo criminal e provar sua inocência.

Pode até não ter sido a melhor escolha, mas certamente foi concedida ao
apelante tal oportunidade e o fato de ter sido mal orientado por seu
advogado não pode servir de argumento para a nulidade do processo no
presente ponto.

Rejeito, pois, a preliminar.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Senhor Presidente, estou de acordo com a rejeição da preliminar, uma vez


que se verificou, no curso do processo, a efetivação da defesa técnica
exigida pela legislação processual penal, como necessário ao exercício da
ampla defesa. O fato de haver sido o acusado aconselhado pelo causídico
que patrocinava sua demanda, à época em que foi proposta a suspensão
condicional do processo, de não aceitar tal benefício, não pode ter o
condão de anular todo o processado, conforme pleiteia a defesa em
preliminar.

Ademais, mesmo se do contrário entendêssemos, seria o caso de rejeição


da prefacial soerguida, em face de ser mais benéfica ao réu a solução
consagrada no mérito recursal. Portanto, acompanho o voto do eminente
Relator.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Também rejeito a preliminar.

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Mérito:

No mérito, procedem as muito bem fundamentadas razões recursais das


Dras. Beatriz Brandão e Renata Araújo que analisaram o caso com bastante
precisão.
De fato, o autor poderia até estar trafegando em velocidade superior à
permitida para a pista, mas tal fato é mera infração administrativa, para a
qual é prevista uma multa de trânsito.

Em Direito Penal não pode haver presunções absolutas, pois cada caso é
um caso. O excesso de velocidade, por si só, não é sinônimo de
imprudência ou imperícia.
Admitir-se tal interpretação seria consagrar a responsabilidade penal
objetiva, pois estar-se-ia abandonando o elemento subjetivo do tipo - culpa
- em prol de um critério meramente normativo.

O excesso de velocidade é um indício de imprudência, mas em cada caso,


se deve perquirir a real culpa do agente.

É natural que em uma ultrapassagem o motorista aumente a velocidade.

Ora, todas as provas dos autos são extremamente convincentes de que a


carreta que estava sendo ultrapassada pelo réu dificultou-lhe a visibilidade
da vítima que inadvertidamente tentou atravessar correndo a via.
Vale notar que havia uma passarela nas proximidades do local o que, por si
só, já demonstra ser a travessia perigosa a ponto de ter chamado a atenção
do poder público para a construção da obra.

Se a vítima não tomou o cuidado devido ao atravessar a via, a culpa do fato


não pode ser imputada ao apelante.

Se no local não havia semáforo com faixa de pedestre, mas uma passarela,
pelo princípio da confiança, é natural que o motorista julgue que os
pedestres atravessarão pela passarela e não se arriscando em uma via de
grande fluxo de veículos.

Por outro lado, é certo que, se o apelante não estivesse ultrapassando uma
carreta, conseguiria visualizar a vítima com antecedência e evitar o trágico
acidente.
Por todo exposto, dou provimento ao recurso da defesa e absolvo o
apelante das imputações da denúncia.
Custas pelo Estado.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Senhor Presidente, examinei com atenção a fundamentação contida no voto


proferido por Vossa Excelência e considero que se amolda perfeitamente
às provas colhidas na ação penal. A circunstância de estar o apelante
trafegando com excesso de velocidade não tem o condão de presumir de
forma absoluta a sua culpa pela ocorrência do homicídio. Restou
absolutamente provado que o réu, no momento em que ultrapassava a
carreta, teve sua visibilidade comprometida, não havendo possibilidade de
prever a repentina conduta da vítima e evitar o acidente.

Ademais, há poucos metros do sinistro, ficou registrado que havia uma


passarela de pedestres para travessia da via. O ofendido não tomou a
cautela que deveria. Não se trata, na hipótese, de compensação de culpas,
que pelo Direito Penal tradicional, é vedada, mas poderia ser admitida no
âmbito da denominada teoria da imputação objetiva. Mas, no caso, o único
culpado pelo evento foi a vítima, na medida em que, atravessando na via,
sem utilizar da passarela, como era seu dever, lançou-se à própria sorte
com sua audaciosa e não precavida conduta.
Nesse sentido, concordo plenamente com o voto de mérito do eminente
Juiz Relator e também absolvo o apelante das imputações contidas na
prefacial acusatória.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Sr. Presidente, também dou provimento ao recurso, acompanhando os


votos de Vossa Excelência, absolvendo o apelante das imputações contidas
na denúncia.

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 350.640-5 - 9/4/2002
CONTAGEM

-8-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»
-9-

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Ementa - Crime de trânsito. Homicídio culposo. Transporte de torcedores
após partida de futebol. Co-culpabilidade do Estado.
Não se pode exigir de motorista de ônibus que transporta torcedores em
algazarra após grande partida de futebol que se mantenha completamente
concentrado, pois o barulho provocado pelos passageiros, certamente, lhe
desvia em muito a atenção. Se há um culpado por acidente fatal, em tais
circunstâncias, certamente é a Prefeitura e as empresas de transporte
coletivo que não realizam o transporte dos torcedores, notoriamente
barulhentos, em ônibus dotados de divisória entre a cabine do motorista e o
espaço destinado aos passageiros de forma a impedir que o excesso de
barulho desvie a atenção do motorista. A absolvição, no caso, se impõe em
razão da inexigibilidade de conduta diversa pelo motorista.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 357.615-


0 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): JOSÉ TITO
DE OLIVEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º
Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2° Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 2 de abril de 2002.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital,


José Tito de Oliveira como incurso nas sanções do art. 302, parágrafo
único, IV c/c art. 303 ambos do CTB por ter, em 1º de março de 1998, por
volta das 0h15, dado causa a um acidente em ônibus com torcedores que
voltavam de uma partida de futebol e que acabou por vitimar fatalmente
Edney Morais Gomes.

A sentença monocrática às f. 173 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 3 (três) anos, 1(um) mês e 10 (dez) dias de detenção em
regime aberto e a 4 (quatro) meses e 20 (vinte) dias de suspensão para
dirigir veículo automotor.

A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos, sendo uma
de prestação de serviços à comunidade e outra de limitação de final de
semana.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 201 e seg.,


pugnando pela absolvição ou pela concessão do perdão judicial.

As contra-razões ministeriais às f. 212 e seg. são pelo improvimento do


recurso.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 226 e seg., opinou
pelo conhecimento e improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Assiste inteira razão à defesa.

Não é o réu que tem o ônus de provar que não agiu com culpa. Cabe à
acusação a prova de ter ele agido com imprudência, negligência ou
imperícia.
E isso, decididamente, não ficou demonstrado nos autos.

É notório que os torcedores, após a vitória de seus times, voltam para casa
comemorando nos ônibus e, muitas vezes, acabam excedendo os limites da
civilidade.
Não são raros os casos de danos aos coletivos causados por torcedores e
está provado pelos depoimentos testemunhais que, no caso dos autos, os
passageiros faziam uma verdadeira algazarra.

Querer imputar a culpa de uma fatalidade como esta tão-somente ao


motorista do ônibus é desprezar completamente o fato de que toda a
gritaria realizada pelos torcedores, certamente, desviou a atenção do
motorista o que acabou por causar tal infortúnio.
Por outro lado, há provas contundentes nos autos de que a vítima fatal
manteve a porta traseira aberta o que sem dúvida concorreu em muito para
a sua morte.

Se a porta do ônibus estivesse realmente fechada é pouco provável que o


acidente tivesse ocasionado vítimas fatais.

É notório, ainda, que são raros os motoristas que trafegam a 40 km/h no


local e horário do acidente.

Não se pode condenar o réu tão-somente por ter ele excedido a velocidade
de 40 km/h recomendadas para a via, pois tratar-se-ia de uma presunção de
culpabilidade completamente inadmissível em um Estado Democrático de
Direito.

O excesso de velocidade seria razão para uma multa de trânsito. Aqui, no


entanto, tratamos da responsabilidade penal pelo acidente.

Em Processo Penal não se admitem presunções para condenar o réu, pois


elas em muito se assemelham à hedionda responsabilidade penal objetiva.

Não há um indivíduo culpado pelo acidente, mas sim, uma série de fatores
conjugados que culminaram na morte do jovem Edney.

Se há culpa aqui, é da Prefeitura e das empresas de ônibus que realizam o


transporte de torcedores em péssimas condições, em ônibus muita vez
lotados e completamente inapropriados, pois não há qualquer divisão entre
a cabine do motorista e o espaço dos passageiros.

A direção de um veículo de transporte coletivo merece atenção acima da


média e exigir-se do profissional encarregado da condução do ônibus que
mantenha a concentração com torcedores histéricos gritando em seus
ouvidos é fator que certamente desencadeará novos acidentes como este.

Motorista de ônibus, por outro lado não é disciplinário, nem policial e,


portanto, não está entre suas funções manter o silêncio no ônibus.

Se há culpa no presente caso, é ela da BHtrans e das empresas de ônibus


que ainda não encontraram a melhor forma de realizarem o transporte
destes jovens que retornam do Mineirão.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para absolver o apelante das


imputações da denúncia (art. 386, inciso VI, do CPP).

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 357.615-0 - 2/4/2002
BELO HORIZONTE

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-7-
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EMENTA - Provas ilícitas. Violação de domicílio. "Frutos da árvore
envenenada". Nulidade.
Somente o flagrante próprio autoriza a penetração em domicílio sem o
consentimento do morador. A entrada de policiais na residência de
suspeito, logo após a prática do delito, para a colheita de provas, constitui
arbitrariedade vedada pela Constituição, que torna inválidas as provas
colhidas. Ilícitas ainda serão todas as demais provas originárias destas,
pois, do contrário, haveria um incentivo a futuras arbitrariedades a serem
cometidas por autoridades mal preparadas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 353.834-


9 da Comarca de IBIÁ, sendo Apelante (s): PAULO CÉSAR DA SILVA e
Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DE OFÍCIO, ANULAR O PROCESSO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 12 de março de 2002.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Ibiá, Paulo César da Silva como incurso nas sanções do art. 155, § 4º,
IV do CP, por ter, em 15 de fevereiro de 2001, por volta das 20h00,
subtraído, em concurso de agentes, R$320,00(trezentos e vinte reais) em
cédulas e R$45 (quarenta e cinco reais) em moedas do bar de propriedade
de José Wanderley Rodrigues.

A sentença monocrática às f. 106 e seg. julgou parcialmente procedente a


denúncia e condenou o réu nas reprimendas do art. 155, caput, do CP, a 2
(dois) anos de reclusão e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor
unitário fixado no mínimo legal.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 119 e seg.,


nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, pela redução do
quantum da pena.

As contra-razões ministeriais às f. 130 e seg., são pelo conhecimento e


desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 177 e seg., opinou


pelo conhecimento e não-provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Tenho preliminar de nulidade do processo que, de ofício, submeto à


apreciação da Câmara:

É que todas as provas obtidas tanto no inquérito quanto em juízo são, em


última análise, derivadas de uma violação de domicílio perpetrada pelas
autoridades policiais em companhia da vítima.

O acusado assim narrou os fatos no auto de prisão em flagrante às f. 7-8:

"Que ontem à noite a polícia esteve em seu barraco e não o encontrou, mas
eles pegaram as moedas;"
A testemunha Júlio Antônio Silva afirmou em juízo à f. 76:

"Que esteve na companhia da vítima e da PM na residência do primeiro


acusado, onde ali foi encontrada uma vasilha de plástico contendo grande
quantidade de moedas de R$0,25, não sabendo o valor total; que o acusado
não estava em casa; que na casa haviam (sic) duas crianças;"

No auto de prisão em flagrante a mesma testemunha afirmou:

"que no dia de ontem por volta das 22h, acompanhou José Wanderley
juntamente com a viatura da polícia militar até a residência de Paulo César,
onde encontraram debaixo do tanque de lavar roupas uma vasilha plástica
contendo grande quantidade de moedas de vinte e cinco centavos."

A Constituição Federal é expressa em seu art. 5º, XI:

"a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;"

No presente caso, a violação se deu durante a noite e não há nos autos


qualquer referência a mandado judicial.

Por outro lado, o flagrante só autoriza a entrada no domicílio quando o


delito estiver sendo praticado dentro do imóvel naquele momento.

Somente o flagrante próprio autoriza a penetração no domicílio, pois a


intentio legis é justamente evitar que o delito se consuma.

A simples produção de provas não justifica a entrada no que a Carta


Magna chama de "asilo inviolável do indivíduo".

Se no flagrante próprio, a polícia age em verdadeiro estado de necessidade


de terceiros ao invadir a residência, o mesmo não se pode dizer quando
penetra na casa tão-somente para produzir provas.

Estritamente se interpretam as disposições que restringem os direitos da


pessoa humana.

A referência da Constituição Federal a "flagrante delito", deve pois ser


limitada aos casos de flagrante próprio, pois, do contrário, estar-se-ia
admitindo que lei ordinária fixasse analogicamente conceito de natureza
constitucional.

No presente caso, portanto, o mandado judicial era imprescindível para a


colheita da prova.
Por outro lado, vê-se que as provas ilicitamente encontradas no domicílio
do acusado foram a origem de todas as demais provas dos autos.

Se hipoteticamente suprimíssemos as provas ilícitas da seqüência causal,


certamente, nenhuma prova restaria contra o réu.

Assim, aplica-se ao caso a doutrina norte-americana do fruits of the


poisonous tree, segundo a qual são nulas todas as provas subseqüentes
obtidas com fundamento em prova ilícita.

Isso porque a admissão de valor jurídico a tais provas seria um incentivo a


futuras violações dos direitos fundamentais da pessoa humana por
autoridades mal preparadas.

Assim, solução outra não vislumbro, no presente caso, senão a anulação de


todo o processo, por absoluta ilicitude de suas provas, incapazes de
sustentar sequer uma acusação criminal.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 353.834-9 - 12/3/2002
IBIÁ

-7-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-1-

Voltar
EMENTA - Princípio da insignificância. Natureza jurídica. Atipicidade da
conduta.
Pelo princípio da insignificância exclui-se a tipicidade da conduta, sendo
completamente prescindível a análise dos antecedentes do agente. Uma
conduta atípica não é crime tanto para o réu primário quanto para aquele
com extensa folha criminal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos Declaratórios na


Apelação Criminal Nº 333.116-0/01 da Comarca de RIO NOVO, sendo
Embargante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS e Embargado (a) (os) (as): PAULO CÉSAR DA SILVA,
ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada
do Estado de Minas Gerais, REJEITAR OS EMBARGOS.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º
Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).

Belo Horizonte, 18 de dezembro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


1º Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Trata-se de Embargos Declaratórios interpostos pela douta Procuradoria-


Geral de Justiça contra o acórdão às f. 194 e seg. que absolveu o réu Paulo
César da Silva com base no princípio da insignificância.

Alega a douta Procuradora de Justiça Elba Rondino que:

"do voto proferido restou omissa a questão da reincidência específica e dos


maus antecedentes criminais registrados pelo réu"

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A doutrina ensina que a aplicação do princípio da insignificância torna a


conduta atípica.

Não havendo significativa lesão ao bem jurídico penalmente tutelado, o


tipo perde seu fundamento, sua razão de ser.

O Direito Penal moderno, fundamentado nos princípios constitucionais,


nos leva à leitura das entrelinhas do art. 155 do CP:

"Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel (de valor


significante)"

Se o valor da res não é significante, não há a tipicidade da conduta, pois o


Direito Penal não se ocupa de lesões mínimas a bens jurídicos.

A este respeito, exemplar lição jurisprudencial:

"Princípio da insignificância e Direito Penal de intervenção mínima - A


tendência generalizada da política criminal moderna é reduzir ao máximo a
área de incidência do Direito Penal. O fato penalmente insignificante deve
ser excluído da tipicidade penal e receber tratamento adequado (como
ilícito civil, administrativo, fiscal, etc). O Estado só deve intervir até onde
seja necessário para a proteção do bem jurídico" (TRF - 1ª Região, 4ª
Turma - AC 93.01.12840-3/MG - Rel. Mário César Ribeiro).

Se a conduta é atípica, torna-se completamente desnecessário perquirir-se


sobre os antecedentes do réu.

A reincidência ou os maus antecedentes do réu não tornarão típica a


conduta.

Não vislumbro, pois, qualquer omissão no acórdão embargado que mereça


ser suprida, razão pela qual, rejeito os embargos.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Estou de pleno acordo com o voto proferido por V. Exª. e quero registrar
que o princípio da insignificância torna, como bem disse V. Exª., o fato
atípico, pois incide como excludente do elemento estrutural da tipicidade.

E nesse diapasão, faço minhas as palavras do Juiz de Direito de São Paulo


e membro da Associação Internacional de Direito Penal, Vinícius de
Toledo Piza Peluzo, nos seguintes termos:

"atuando dessa maneira, ou seja, considerando o fato atípico, não pode o


juiz utilizar-se de conteúdos específicos dos outros dois elementos
estruturais do conceito de crime (antijuridicidade e culpabilidade), pois não
estaria, portanto, obedecendo à ordenação sistemática, o caráter seqüencial
do sistema, à própria ordem estrutural do método analítico e do conceito, à
lógica da anteposição e da subordinação, subvertendo assim todo o esforço
garantístico da construção da teoria geral do delito, implicando na
insegurança jurídica. A consideração pelo juiz dos elementos do desvalor
da culpabilidade do agente, tais como a culpabilidade, a primariedade,
antecedentes, conduta social, personalidade, motivos do crime,
conseqüências, circunstâncias, etc., nos termos do art. 59 do CP, no
momento da análise da aplicação do princípio da insignificância, nada mais
é do que a subversão da ordenação sistemática e do caráter seqüencial da
teoria geral do delito, eis que o conteúdo da culpabilidade está sendo
valorado em momento e local inadequados, qual seja a tipicidade.

Portanto, pergunta-se como analisar o conteúdo da culpabilidade do agente


se a conduta sequer foi considerada típica?

Diante de todo o exposto, chega-se à fácil conclusão de que o princípio da


insignificância tem a natureza meramente objetiva, sendo erro
procedimental grave a análise de elementos subjetivos pertencentes à
culpabilidade do agente - especificamente a primariedade -, no momento
da valoração do referido princípio.
Portanto, determinado que o fato é penalmente irrelevante (atípico) pouco
importa para o deslinde da questão a personalidade do réu, inclusive
porque, no momento da tipicidade, o direito penal é um direito do fato e
não do autor, sendo assim indevida qualquer análise da personalidade do
acusado."

Com essas considerações e entendendo que o princípio da insignificância é


objetivo, prescindindo da análise de elementos subjetivos, referentes à
reincidência e aos maus antecedentes, coloco-me inteiramente de acordo
com o voto proferido pelo eminente Juiz Relator.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

De acordo.

afc
EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA APELAÇÃO CRIMINAL
Nº 333.116-0/01
RIO NOVO 18/12/2001
-7-
EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA APELAÇÃO CRIMINAL
Nº «embargos_num»
«comarca» «data»
-1-

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EMENTA - Princípio da Insignificância. Furto de 4 (quatro) barras de
chocolate.
A condenação a 8 (oito) meses de reclusão pelo furto de 4 (quatro) barras
de chocolate é excessiva levando-se em conta até a abominável Lei de
Talião na qual paga-se "olho por olho e dente por dente". Há uma nítida
desproporção em se punir a subtração de cada barra de chocolate com dois
meses da vida do réu. Para evitar situações jurídicas absurdas como estas,
aplica-se ao caso o princípio da insignificância.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 350.065-


2 da Comarca de SÃO JOÃO DEL-REI, sendo Apelante (s):
REGINALDO SANTOS DE PAULA e Apelado (a) (os) (as):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 18 de dezembro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de São João Del-Rei, Reginaldo Santos de Paula como incurso nas sanções
do art. 155 do CP, por ter, em 3 de fevereiro de 2000, por volta das 19h00,
subtraído para si quatro barras de chocolate branco, avaliadas em R$ 8,40
(oito reais e quarenta centavos).

A sentença monocrática às f. 64 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 8 (oito) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao
pagamento de 5 (cinco) dias-multa com valor unitário mínimo.

Em face da reincidência do acusado não lhe foi concedida a substituição da


pena corporal por restritiva de direitos.

Inconformado, apelou o réu às f. 70 e seg., pugnando pela absolvição em


face da deficiência probatória e, alternativamente, ao princípio da
insignificância penal.

As contra-razões ministeriais às f. 77 e seg., são pelo improvimento do


recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 90 e seg., opinou


pelo conhecimento e não provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Antes de analisar a condenação do réu a 8 (oito) meses de reclusão pelo


furto de 4 (quatro) barras de chocolate, impossível é deixar de tecer alguns
prolegômenos.

A res furtiva foi avaliada em R$8,40 (oito reais e quarenta centavos), ou


seja, mantendo-se a condenação o réu pagará por cada real furtado com um
mês de sua vida.

Não vou mencionar aqui o custo de um processo como este para os


sofridos cofres públicos de nosso país.

Prefiro ater-me aos efeitos da pena em si. Qual a finalidade de uma pena
como essa?
Tomando-se por base as Teorias das Penas não vejo em nenhuma delas
uma justificativa plausível para a manutenção da condenação.

Se a pena tem caráter retributivo e ainda vige a Lei de Talião na qual pune-
se "olho por olho e dente por dente", certamente há aqui um excesso, pois
um mês de vida não pode valer apenas a insignificante quantia de R$1,00
(um real).

Se a pena tem caráter de prevenção especial e visa a impedir que o


condenado volte a delinqüir, penso que lhe mandar ao cárcere por tão
insignificante furto só gerará no acusado revolta, mas nunca
ressocialização.

A este respeito Alessandro Baratta ensina que:

"O cárcere é contrário a todo moderno ideal educativo, porque este


promove a individualidade, o auto-respeito do indivíduo, alimentado pelo
respeito que o educador tem dele. As cerimônias de degradação no início
da detenção, com as quais o encarcerado é despojado até dos símbolos
exteriores da própria autonomia (vestuários e objetos pessoais), são o
oposto de tudo isso. A educação promove o sentimento de liberdade e de
espontaneidade do indivíduo: a vida no cárcere, como universo disciplinar,
tem um caráter repressivo e uniformizante."

O que poderia aprender o condenado no cárcere? A deixar de ser um


reincidente em pequenos furtos e passar a ladrão de bancos?

Resta-nos ainda a análise da prevenção geral como justificativa para esta


condenação.

Não vejo, no entanto, como prevenir pequenos furtos como estes com
canhões e, inegavelmente, o Direito Penal é aqui um canhão.

A aplicação da lei penal deve ser moderada, proporcional e limitar-se aos


casos em que não reste ao Estado outra forma de coibir o comportamento
social indesejável.

O certo é que penas como estas são socialmente inócuas e processos como
este só servem para assoberbar ainda mais a máquina estatal tão carente de
recursos.

A jurisprudência tem entendido que:


"Furto tentado. Bagatela. Rejeição da denúncia. Tentativa de subtração de
lata de leite condensado e de lanterna em supermercado. Fato penalmente
irrelevante pela insignificância do valor da res furtiva insuscetível de
lesionar o interesse protegido, aliado à ausência de perigosidade social da
conduta incriminada, não justifica o reconhecimento do crime nem a
imposição de pena" (JUTAERGS - 79/25).

Assim, a absolvição em casos como este não se traduz em impunidade,


mas sim numa interpretação teleológica da lei, que tem como fim último a
solução de conflitos e não a exacerbação destes.

Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para absolver o réu com
base no princípio da insignificância, julgando atípica sua conduta.

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 350.065-2 - 18/12/2001
SÃO JOÃO DEL-REI

-7-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-1-

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EMENTA - Nulidade. Direito ao silêncio não assegurado no interrogatório
policial.
O silêncio é garantia constitucional assegurada ao acusado e sua
efetividade não pode ser presumida, devendo constar expressamente no
termo de declarações do acusado. Nula é a sentença que se fundamenta
exclusivamente em delação do co-réu na polícia, produzida em
interrogatório no qual não lhe foi informado o direito constitucional ao
silêncio.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 338.501-


9 da Comarca de JUIZ DE FORA, sendo Apelante (s): WESLEY
MARQUES COIMBRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR, ANULAR A
SENTENÇA E DETERMINAR A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE
SOLTURA EM FAVOR DO APELANTE E DO CO-RÉU RICHARD
FERREIRA FERNANDES E ESTENDER OS EFEITOS DO JULGADO
AO CO-RÉU SALVADOR SAMUEL VITRAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 27 de novembro de 2001.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Juiz de Fora, Wesley Marques Coimbra como incurso nas sanções do
art. 155, § 4º, III e IV, do CP, por ter, em 17 de agosto de 1995, por volta
das 15h00, subtraído para si, na companhia de outros dois agentes, uma
motocicleta Yamaha, modelo DT 200, placa GTU 0516, da vítima Luiz
José Vieira.

A sentença monocrática às f. 200 e seg. condenou o apelante a 2 (dois)


anos e 10 (dez) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento
de 15 (quinze) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal.

O juiz monocrático deixou de conceder-lhe a substituição da pena corporal


por restritiva de direitos ao argumento de que os agentes "possuem
péssimos antecedentes e não são reincidentes específicos na prática de
crimes dessa natureza (sic)" (grifo nosso).

Inconformado, apelou Wesley às f. 217 e seg., argumentando em


preliminar que a garantia constitucional do "silêncio do acusado" não foi
assegurada nem ao apelante nem aos demais réus no inquérito, razão pela
qual a delação feita pelo réu Richard na polícia e posteriormente retratada
em juízo, jamais poderia ser tomada como fundamento da sentença
condenatória. No mérito, pede a absolvição por insuficiência de provas de
sua participação na empreitada criminosa.

As contra-razões ministeriais às f. 269 e seg., são pela rejeição da


preliminar e, no mérito, pelo provimento parcial do apelo tão-somente no
que diz respeito à dosimetria da pena.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do culto Dr.


Antônio de Pádova Marchi Júnior, opinou pelo rejeição da preliminar e, no
mérito, pelo provimento parcial do recurso para decotar da condenação o
aumento de pena derivado do concurso de pessoas.

Em síntese, é o relatório.
Conheço do recurso, presentes que estão os pressupostos para sua
admissibilidade.

Preliminar de nulidade da sentença.

Assiste razão à defesa.

A sentença monocrática baseou-se tão-somente nas declarações do co-réu


Richard Ferreira Fernandes prestadas à polícia (f. 49) e, posteriormente,
retratadas em juízo (f. 77).

No termo de declarações de Richard não há qualquer menção à expressa


informação pela autoridade competente ao acusado de seu direito
constitucional ao silêncio.

Ao contrário do apelante, que foi assistido em seu interrogatório no


inquérito (f. 35) por advogado, o co-réu Richard foi assistido tão-somente
por curador, o que por si só não é garantia de que tivesse ciência do seu
sagrado direito ao silêncio.

A garantia constitucional ao silêncio é expressa:

"Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado".

Uma garantia constitucional expressa e de tamanha relevância não pode ser


presumida.

Pode até ser que a autoridade competente tenha de fato informado ao


acusado sobre seus direitos esquecendo-se tão-somente de constar esta
informação no termo de declarações.

As garantias constitucionais em Direito Processual Penal, porém, não


podem ser presumidas. A formalidade aqui é necessária, principalmente
quando a sentença fundamenta-se numa prova como essa.

O prejuízo, por outro lado, é visível. Se tivesse o co-réu Richard


silenciado, certamente o destino dos autos seria outro. A simples leitura da
sentença monocrática evidencia tal fato, já que as referidas declarações
foram a principal, senão única, prova a fundamentar a condenação.

É possível até que, mesmo sabendo de seu direito ao silêncio, o co-réu


prestasse aquelas mesmas declarações na polícia.
Trata-se, no entanto, de mera probabilidade e o Direito Processual Penal
não se fundamenta em suposições, mas em certeza.

Uma declaração como esta só poderia fundamentar a condenação se


houvesse plena certeza da ciência do réu de seu direito ao silêncio.

Somente a assinatura do réu num termo em que constasse a expressa


menção à garantia constitucional ao silêncio poderia dar ao magistrado a
certeza de que o réu estava ciente de seus direitos.

No presente caso, ainda que não provada a omissão da autoridade em


informar ao réu sobre seu direito ao silêncio, esta deve ser presumida em
respeito ao princípio do in dubio pro reo.

A prova é pois ilícita e a nulidade da sentença argüida pelo operoso e culto


Defensor Público deve ser decretada.

Pelo exposto, acolho a preliminar da defesa e anulo a sentença para que


outra seja proferida, desconsiderando-se as declarações prestadas em juízo
em que não há expressa menção ao direito dos acusados ao silêncio.

Acolho preliminar da defesa e anulo a sentença. Expeça-se alvará de


soltura ao apelante e ao co-réu Richard Ferreira Fernandes, se por al não
estiverem presos ou recolha-se o mandado de prisão, se para tanto foi
expedido, estendendo-se os efeitos dessa decisão ao co-réu Salvador
Samuel Vitral.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 338.501-9 - 27/11/2001
JUIZ DE FORA
-7-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-8-

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EMENTA - Roubo. Princípio da insignificância. Desclassificação.
Constrangimento ilegal.
A tipicidade do delito de roubo está condicionada a lesões a bens jurídicos
distintos: o patrimônio e a liberdade individual. Não sendo a lesão
patrimonial significativa, aplica-se o Princípio da Insignificância tão-
somente em relação ao bem jurídico patrimônio, mantendo-se a
reprovabilidade da norma em relação à ofensa contra a liberdade
individual. A desclassificação do crime de roubo para constrangimento
ilegal com base no Princípio da Insignificância é, pois, corolário natural de
um Direito Penal Democrático no qual só se admite pena quando há
significativa lesão a bem jurídico penalmente tutelado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 329.981-


8 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): BRÁULIO
PINHEIRO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 27 de novembro de 2001.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital,


Bráulio Pinheiro como incurso nas sanções do art. 157 do CP, por ter, na
madrugada de 1º de agosto de 2000, subtraído mediante grave ameaça a
quantia de R$ 7,00 (sete reais) da vítima José Esteves dos Santos e R$
12,00 (doze) reais da vítima João Bosco José, ambos no exercício das
funções de trocador de ônibus.

A sentença monocrática, às f. 145 e seg., condenou o réu à pena de 4


(quatro) anos e 8 (oito) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao
pagamento de 56 (cinqüenta e seis) dias-multa com valor unitário fixado
no mínimo legal.

Inconformada, recorre a defesa, apresentando suas razões às f. 171 e seg.,


nas quais pugna pela desclassificação para o delito de furto simples.

As contra-razões ministeriais, às f. 176 e seg., são pelo conhecimento e


não-provimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 183 e seg., opinou


pelo improvimento do apelo.
Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e autoria do delito estão sobejamente demonstradas pela


prova dos autos.

O fato de o agente não estar armado, por si só, não descaracteriza a


existência da ameaça.

As vítimas João Bosco e José Esteves afirmaram que foram abordadas pelo
agente com o clássico "é um assalto", o que, por si só já caracteriza a grave
ameaça.

Não se pode exigir da vítima que peça ao agente uma demonstração da


efetividade da ameaça. O simples anúncio de assalto é, nos dias atuais,
mais do que suficiente para caracterizar a grave ameaça, prevista na lei.

Por outro lado, a condenação por crime de roubo, quando a lesão


patrimonial é insignificante, acaba, muita vez, se revelando, na aplicação
concreta da norma, não só inconstitucional, por ferir o princípio da
individualização das penas, mas também injusta.

Hegel via uma nítida semelhança entre as naturezas jurídicas da pena e da


legítima defesa. Ambas, segundo ele, são negações do delito. O delito, por
sua vez, é negação do direito. Conclui-se que, como a negação da negação
é afirmação, tanto a pena quanto a legítima defesa são afirmações do
direito.

Pena e legítima defesa são, pois, meios dos quais o ordenamento jurídico
se vale para a garantia da ordem social.

Não é de hoje que a doutrina ensina que a legítima defesa só se configura


quando os meios usados forem necessários e moderados.

Tomemos as sempre atuais lições do mestre FRAGOSO:

"Empregar moderadamente os meios necessários significa usar os meios


disponíveis, na medida em que são necessários para repelir a agressão. (...)
Embora em princípio não se cogite, na legítima defesa, da
proporcionalidade entre o bem agredido e o sacrifício, não pode ser
legítima a morte do agressor para salvar, por exemplo, bem material de
ínfima importância (o dono de um pomar que mata o menino que lhe furta
laranjas)" (In Lições de direito penal: parte geral. 8ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1985. p.193).

A condenação de um cidadão pela prática de crime de roubo quando a


lesão patrimonial à vítima é insignificante certamente é necessária ao
Estado para reprovar o delito.

Não podemos olvidar, no entanto, o requisito da moderação. Penso que


haja uma evidente desproporção entre a pena e a conduta que se deseja
reprovar.

Se pensarmos no Estado como um ente orgânico, chegaremos à conclusão


de que os efeitos colaterais do remédio social imposto (pena) certamente
são muito mais graves do que a própria doença (crime).

O magistrado não pode ser escravo da norma, devendo tomá-la como fiel
instrumento na busca da justiça. O limite de ambos, norma e magistrado, é
a Constituição Federal.

A releitura do art. 5º, XLVI, da Carta Magna convenceu-me da


inconstitucionalidade da condenação por roubo quando o valor do objeto
do crime é insignificante.

A exigência da individualização da pena traz implícita consigo a


necessidade de uma proporcionalidade entre a reprovação e a conduta que
se reprova.

Não se trata de uma tese moderna, ou mesmo inovadora. O Marquês de


Beccaria, já no século XVIII, dedicou um capítulo de seu opúsculo Dos
Delitos e das Penas à análise da proporção entre os delitos e as penas:

"Não somente é interesse de todos que não se cometam delitos, como


também que estes sejam mais raros proporcionalmente ao mal que causam
à sociedade. Portanto, mais fortes devem ser os obstáculos que afastam os
homens dos crimes, quando são contrários ao bem público e na medida dos
impulsos que os levam a delinqüir. Deve haver, pois, proporção entre os
delitos e as penas" (In Dos Delitos e das Penas. 2ª ed. rev. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 37).

A ofensa ao princípio constitucional da individualização da pena é evidente


se compararmos o caso dos autos com as seguintes situações hipotéticas:

1. Se um indivíduo aborda um motorista e o obriga mediante violência ou


grave ameaça a transportá-lo até determinado local o crime será de
constrangimento ilegal e será punido com uma pena de 3 (três) meses a 1
(um) ano, ou multa, nos termos do art. 146 do CP.

2. Se um indivíduo, também mediante violência ou grave ameaça obriga


um caixa de banco a passar-lhe todo o dinheiro ali depositado estará
cometendo roubo e será punido com uma reprimenda que varia de 4
(quatro) a 10 (dez) anos e multa, conforme o disposto no art. 157 do CP.

Certamente, o grau de reprovabilidade da conduta do réu, ora em análise,


assemelha-se muito mais à primeira hipótese do que à segunda e seria um
contra-senso apená-lo como no segundo exemplo.

A violência exercida tanto no caso dos autos, quanto nos exemplos citados
é exatamente a mesma. A única diferença que justifica uma maior
apenação no caso do segundo exemplo é a relevante ofensa ao patrimônio
da vítima, o que não ocorreu nem no primeiro exemplo, nem no caso ora
em análise.
A doutrina tradicionalmente classifica o roubo como crime complexo, por
ofender a dois bens jurídicos penalmente tutelados: o patrimônio e a
liberdade individual. Impossível então haver roubo se não houve ofensa ao
patrimônio da vítima.

Na interpretação das normas penais nunca se pode esquecer que todo tipo
penal para ser materialmente válido deve fundamentar-se na proteção de
um bem jurídico socialmente relevante.

O Direito Penal é remédio extremo, que a sociedade reconhece ter


conseqüências colaterais extremamente gravosas não só para o condenado,
mas também para ela própria sociedade.
Não é de hoje tal concepção. No Direito Romano já se afirmava que
minima non cura praeter.

A insignificância da afetação ao bem jurídico foi retomada, modernamente,


por vários autores, destacando-se dentre eles Claus Roxin que, em sua
célebre obra Política Criminal e Sistema Jurídico Penal publicada na
Alemanha em 1970, tomou-o como:

"auxílio de interpretação para restringir formulações literais que também


abranjam comportamentos suportáveis" (In Política Criminal e Sistema
Jurídico-Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p.47).

A palavra-chave para a correta compreensão do princípio da insignificância


é suportável. Não se trata de uma conduta elogiável, nem mesmo neutra,
mas que o Estado se vê obrigado a suportar em razão da evidente
desproporção entre a conseqüência legal prevista (pena) e o
comportamento indesejado.

Se assim é nos delitos que ofendem a um único bem jurídico, naturalmente


o mesmo raciocínio deverá ser empregado na análise dos crimes
complexos. O agente só deverá ser punido por ofensas relevantes a bens
jurídicos.

A desclassificação do delito de roubo para furto com base na


insignificância da violência ou da ameaça já vem sendo há muito tempo
aplicada pela jurisprudência.

"De modo geral a 'trombada' caracteriza o furto e não roubo, pois a


violência empregada não impede a resistência da vítima, limitando-se
apenas a dificultá-la" (TACRIM-SP - RT 571/358).

"A ameaça, para servir como elemento caracterizador do roubo há de ser


séria, efetiva, aquela capaz de intimidar, causar temor de um mal
sério" (TACRIM-SP - JUTACRIM 69/489).

Ora, se é possível a desclassificação do roubo para furto quando


insignificantes violência e ameaça, certamente é perfeitamente admissível
também a desclassificação do roubo para constrangimento ilegal quando a
lesão patrimonial for insignificante.

O caso é de desclassificação para o crime de constrangimento ilegal e não


para o delito de ameaça.

É que, se assim admitirmos, estaremos considerando que o crime de roubo


poderia ser tipificado com a seguinte redação:

"Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio


simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave, se não lhe for entregue coisa
alheia móvel."

Muito mais lógico seria admitirmos a seguinte tipificação alternativa para o


crime de roubo:

"Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de


lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a
deixar que lhe subtraia coisa alheia móvel."

Pela leitura de tais dispositivos, evidencia-se a sutil distinção entre os


crimes de ameaça e constrangimento ilegal.

O dolo do agente, no delito de constrangimento ilegal, é no sentido da


realização de uma conduta por parte da vítima, valendo-se para tanto, de
uma intimidação.

No crime de ameaça, o dolo do agente visa à própria intimidação, sendo


qualquer ocorrência de resultado material mera conseqüência subsidiária
não essencial ao agente.

Daí porque o delito subsidiário imediato dos crimes dos art. 157, 158, 213
e 214 do CP é o constrangimento ilegal e não a ameaça que, por sua vez, é
crime subsidiário imediato em relação a este (art. 146 do CP) e mediato em
relação àqueles.

A distinção está, pois, intrinsecamente relacionada à ocorrência do


resultado visado pelo agente, que é a própria conduta da vítima.

A opção do legislador foi claramente nesse sentido, tanto que o


constrangimento ilegal é crime material, prevendo a lei a ocorrência de um
resultado específico no mundo fenomênico (a conduta da vítima) para que
ocorra a tipicidade, enquanto a ameaça é crime formal, sendo irrelevante
para a tipificação do delito a ocorrência ou não do resultado fático.

A maior reprovabilidade do constrangimento está justamente na


instrumentalização da ameaça pelo agente como meio para a obtenção de
um resultado ilícito. Abrange, assim, o delito de ameaça, devendo ser
aplicado ao caso o princípio da especialidade.

No presente caso, certo é que o agente visou com sua ameaça à realização
de uma conduta por parte da vítima que a lei não a obrigava.

Também está claro que tal conduta da vítima não causou significativa
ofensa a seu patrimônio, razão pela qual forçoso é admitir-se que não
houve crime de roubo, já que este é um delito contra o patrimônio, não se
podendo configurar, pois, com a subtração de bens e valores tão
insignificantes.

Entendo que a melhor tipificação do delito no presente caso seria na


hipótese do art. 146 do CP, razão pela qual aplico a emendatio libelli, nos
termos do art. 383 do Digesto Processual Penal, para desclassificar a
condenação do agente para o crime de constrangimento ilegal, passando a
fixar-lhe a pena:

Ainda que não tenha, de fato, lesado o patrimônio da vítima, sem dúvida, é
bastante reprovável o comportamento de quem busca o lucro fácil à custa
do trabalho alheio. Sua culpabilidade é, pois bastante acentuada.

Não há elementos nos autos para avaliar sua conduta social e


personalidade. As conseqüências do crime não foram graves para a vítima.

A motivação do crime na busca de ganhos econômicos em prejuízo da


vítima que em nada contribuiu para a prática do delito também é
desfavorável ao réu.

Fixo a pena-base em 8 (oito) meses de detenção. Não há agravantes ou


atenuantes. Aumento a pena em 1/6 (um sexto) em razão da continuidade
delitiva, concretizando-a em 9 (nove) meses e 10 (dez) dias de detenção em
regime aberto.

Impossível a substituição da pena privativa de liberdade em razão da


vedação expressa do art. 44, I, do CP, uma vez que o crime foi praticado
com grave ameaça à pessoa.

Custas pro rata.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 329.981-8 - 27/11/2001
BELO HORIZONTE

-14-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-1-

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EMENTA - Art. 10 da Lei 9.437/97. Armas. Crime de perigo concreto.

O crime do art. 10 da Lei 9.437/97 é de perigo concreto e não de perigo


abstrato. A presunção absoluta do perigo, que caracteriza os delitos de
perigo abstrato, é completamente incompatível com o Estado Democrático
de Direito, pois não admite prova em contrário. O caso é, pois, de perigo
concreto, no qual, ocorre tão-somente uma inversão do ônus da prova.
Supõe-se em princípio que a conduta do agente gera um perigo de lesão a
bem jurídico protegido, mas admite-se prova em contrário, em respeito ao
princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos.

V.v.: PORTE DE ARMA - ART. 10 DA LEI 9.437/97 - REVÓLVER -


GUARDA -GAVETA DE ARMÁRIO - AUSÊNCIA DE RISCO À
INCOLUMIDADE PÚBLICA - IRRELEVÂNCIA - CONDENAÇÃO
MANTIDA

A conduta de manter sob guarda arma de fogo, sem autorização e em


desacordo com a legislação pertinente, ainda que em gaveta de armário,
sem que haja risco para a incolumidade pública constitui crime e como tal
deve ser apenada.

Condenação mantida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 349.626-


8 da Comarca de CORONEL FABRICIANO, sendo Apelante (s): ELI
RODRIGUES MARTINS DE LIMA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA
PÚBLICA,
ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada
do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO, VENCIDA A JUÍZA
SEGUNDA VOGAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º
Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal vencida).
Belo Horizonte, 6 de novembro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

JUÍZA MARIA CELESTE PORTO


2ª Vogal vencida

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Coronel Fabriciano, Eli Rodrigues Martins de Lima como incurso nas
sanções do art. 10 da Lei 9.437/97.

Narra a denúncia que, em 27 de dezembro de 2000, foram encontrados pela


polícia, em uma gaveta de armário do bar Oito Irmãos, um revólver e três
cartuchos calibre 38 de propriedade do réu.

A sentença monocrática às f. 56 e seg. julgou procedente a denúncia e


condenou o réu a 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção e ao pagamento
de 15 (quinze) dias-multa, com valor unitário fixado no mínimo legal. A
pena corporal foi substituída por duas restritivas de direito.

Inconformado, apelou o réu às f. 71 e seg., pedindo a absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 77 e seg. são pela ratificação da


sentença.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 85 e seg., opinou


pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos para sua


admissibilidade.

Em princípio, necessário se faz alguns prolegômenos sobre a natureza


jurídica do delito do art. 10 da Lei 9.437/97.

A doutrina classifica os diversos tipos de delitos em relação a seu resultado


fenomênico em: a) delitos materiais, em que há resultado material; b)
delitos formais, em que há resultado material, porém sua ocorrência é
irrelevante para a configuração do delito; c) delitos de mera conduta, em
que não há resultado material.

Assim, em relação à existência do resultado fenomênico, podemos


classificar o delito ora em estudo como crime de mera conduta, pois não
gera qualquer alteração concreta no mundo físico.

Uma segunda classificação doutrinária relevante é quanto ao resultado


jurídico do delito. Classifica a doutrina os crimes em: a) de resultado, em
que há uma ofensa efetiva a um bem jurídico penalmente tutelado; b) de
perigo, em que não há uma ofensa efetiva, mas tão-somente potencial, daí
por que dizer-se que há um perigo de lesão.

Os crimes de perigo abstrato, por sua vez, podem ser tanto de perigo
concreto como de perigo abstrato.

Em ambos há uma presunção jurídica do perigo de lesão ao bem jurídico.


Nos crimes de perigo abstrato esta presunção é iuris et de iure, isto é, não
admite prova em contrário. Nos crimes de perigo concreto esta presunção é
iuris tantum, isto é, admite prova em contrário.

Evidentemente que presunções jurídicas que não admitem prova em


contrário são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, pois
ofendem frontalmente o princípio do nullum crimen sine injuria e
aproximam-se de um direito penal de autor, fundado numa subjetividade
completamente incompatível com a Constituição Federal de 1988.

Note-se que há uma gradação entre a objetividade/subjetividade do delito


que se inicia no delito consumado (objetividade máxima), passa pela
tentativa e crime de perigo concreto e culmina no crime de perigo abstrato
(subjetividade máxima).

Esta "subjetivação" do Direito Penal deve ser sempre analisada com


extrema cautela, pois acaba por distanciar-nos de um desejável direito
penal de ato e nos aproximarmos de um nefando direito penal de autor.
Não se pode olvidar que todo delito tem como fim principal a proteção de
um bem jurídico.
Assim, o crime de perigo existe tão-somente enquanto instrumento de
proteção de um bem jurídico que, dada a sua importância, não se deseja
colocar sequer em perigo.
Não havendo perigo, não pode haver crime, pois caso contrário estar-se-ia
punindo sem uma ofensa a um bem jurídico, ou seja, arbitrariamente.

Por outro lado, necessária se faz a comprovação da existência do perigo,


ainda que o ônus da prova caiba ao réu, por uma presunção de
periculosidade legal.

O art. 10 da Lei 9.437/97 visa à proteção do bem jurídico vida e


integridade física da coletividade.

Por um lado, trata-se de delito de mera conduta, pois não exige resultado
fenômenico, por outro trata-se de delito de perigo concreto, pois exige
como resultado jurídico a exposição a perigo do bem jurídico vida e
integridade física da coletividade.

A conduta, portanto, só será típica se houver um perigo real ao bem


jurídico protegido. Este perigo é presumido pela lei, mas admite prova em
contrário, como não poderia ser diferente em um Estado Democrático de
Direito.

A este respeito, exemplar ensinamento jurisprudencial:

"A infração penal não é só conduta. Impõe-se ainda, o resultado no sentido


normativo do termo, ou seja, dano ou perigo ao bem jurídico tutelado. A
doutrina vem, reiterada, insistentemente, renegando os delitos de perigo
abstrato. Com efeito, não faz sentido punir pela simples conduta, se ela não
trouxer, pelo menos, probabilidade (não possibilidade) de risco ao objeto
jurídico" (STJ - Resp´ 34.322-0-RS, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro).

No caso dos presentes autos, ficou provado que não houve qualquer
exposição a perigo de lesão à vida ou à integridade física coletiva.

O agente não portava a arma que, na verdade, estava na gaveta de um


armário, sem expor quem quer que seja a perigo de lesão.

Desta forma, entendo que a conduta é atípica, pois ficou perfeitamente


demonstrada nos autos a inexistência do perigo concreto à integridade
coletiva, necessário para que haja a tipicidade delitiva.
Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para absolver o réu das
imputações da denúncia.

Custas ex vi legis.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

De acordo com o Relator.

A SRª JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Trata-se de apelação interposta por Eli Rodrigues Martins de Lima,


inconformado com a sentença que o condenou a 1 (um) ano e 2 (dois)
meses de detenção, e a 15 (quinze) dias-multa, arbitrados unitariamente no
mínimo legal, nas penas do art. 10 da Lei 9.437/97, porque em 27 de
dezembro de 2000, foram encontradas pela polícia, em uma gaveta de
armário do bar de sua propriedade, um revólver e três cartuchos que lhe
pertenciam.

A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos.

No voto que acaba de proferir, o eminente Relator, atendendo ao pleito


recursal, reformou a sentença vergastada absolvendo o apelante da
imputação, por entender que a conduta do mesmo é atípica porque
inexistente nos autos prova de existência do perigo concreto à integridade
coletiva.

Peço vênia ao ilustre Relator para divergir de seu entendimento, vez que
tenho como incabível a absolvição do apelante, em que pese o brilhante
esforço da douta defesa.

Em tema de crime das armas, o art. 10 da Lei nº 9.437/97 contém em seu


caput condutas múltiplas e por uma delas, ou seja, manter sob guarda arma
de fogo de uso permitido, sem autorização regulamentar, foi o apelante
denunciado e condenado.

Com efeito, sendo o porte ilegal de arma delito multifário, a conduta do


apelante de manter um revólver e cartuchos calibre 38, sem que possuísse
autorização para tal, ainda que não exponha a risco a incolumidade pública,
porque guardados em gaveta de armário, circunscreve-se na ação típica,
não se exigindo que o faça com a deliberada intenção de praticar o crime
previsto no art. 10 da Lei nº 9.437/97, que se consubstancia tanto com a
inexistência do registro, quanto com a falta de autorização específica válida
e concedida pela autoridade competente.

Embora a lei que instituiu o Sistema Nacional de Armas, ao fiscalizar o


porte ilegal, se apresente contrária à moderna tendência do Direito Penal,
porque eleva à condição de crime simples infração de perigo abstrato,
ensejadora tão-somente de pena de multa e não de reprimenda privativa da
liberdade, não poderia mesmo o magistrado deixar de considerar o novo
tratamento legal conferido ao comportamento criminalizado, devendo a
decisão judicial vincular-se à legislação vigente no País.

Assim sendo, rogando vênia ao ilustre Relator, entendo que a sentença


condenatória hostilizada está bem dosada e ostenta boa motivação, razão
pela qual, merece ser confirmada integralmente.

À luz do exposto, na esteira do parecer da douta Procuradoria-Geral de


Justiça, hei por bem NEGAR PROVIMENTO ao recurso.

Custas ex lege.

É como voto.

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 349.626-8 - 6/11/2001
CORONEL FABRICIANO

-10-
APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»
«comarca»

-3-

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EMENTA - Roubo impróprio. Não-configuração.
Tendo o furto já se consumado no momento em que o agente emprega
violência contra a pessoa a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa, a hipótese não é de roubo impróprio, mas sim de furto
seguido de lesão corporal.
Estado de necessidade. Inexigibilidade de conduta diversa. Réu que vive
em estado de penúria.
Não se pode exigir comportamento diverso de quem, vivendo em estado de
penúria, furta pequeno valor em dinheiro como forma de satisfazer suas
necessidades vitais constitucionalmente garantidas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 344.146-


5 da Comarca de LEOPOLDINA, sendo Apelante (s): 1ª) A JUSTIÇA
PÚBLICA e 2º) ANTÔNIO PINHEIRO CRISTINO DA SILVA e Apelado
(a) (os) (as): OS MESMOS,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU, PREJUDICADO O RECURSO
MINISTERIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 30 de outubro de 2001.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Leopoldina, Antônio Pinheiro Cristino da Silva, como incurso nas
sanções do art. 157, § 1º, do CP, por ter, em 12 de dezembro de 1998, por
volta das 22h50, subtraído uma carteira contendo a quantia de R$ 150,00
(cento e cinqüenta reais) da residência localizada na Rua Coronel Olivier
Fajardo, 270 - Leopoldina.

Consta ainda da exordial acusatória que, em seguida, a vítima Ângela


Maria Ramos Coutinho abordara o réu e este, a fim de assegurar o êxito do
crime, agrediu-a, produzindo-lhe as lesões descritas à f. 18, TA.

A sentença monocrática, constante às f. 95 e seg. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 4 (quatro) anos de reclusão em regime semi-
aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário fixado
no mínimo legal.

A substituição da pena prevista no art. 44 do CP não foi concedida, por ter


sido o crime praticado mediante violência.

Inconformados, recorreram o representante ministerial e o réu.

A defesa apresentou suas razões às f. 107 e seg., nas quais pede a


absolvição com fundamento na tese da excludente de antijuridicidade
(estado de necessidade) e, alternativamente, a desclassificação do delito
para sua forma privilegiada.

As razões do inconformismo ministerial foram apresentadas às f. 117 e


seg., em que requer a majoração da pena e a fixação do regime prisional
fechado para o réu.

As contra-razões ao recurso da defesa foram apresentadas pelo parquet às


f. 122 e seg. e são pelo não-conhecimento do recurso da defesa em face da
sua intempestividade e, no mérito, pela improcedência do recurso.

A defesa apresenta suas contra-razões ao recurso ministerial às f. 129 e


seg. nas quais pugna pelo improvimento do recurso ministerial.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 143 e seg., opinou


pelo improvimento do recurso da defesa e pelo provimento do recurso
ministerial.

Em síntese, é o relatório.

A preliminar de intempestividade do recurso da defesa levantada pelo


Ministério Público de primeira instância não procede.

Como bem lembrou a operosa defesa à f. 128 e o culto Procurador de


Justiça à f. 144, o prazo para apelar inicia-se a partir da última intimação,
feita ao acusado ou a seu Defensor.

Como bem frisou o douto Procurador de Justiça:

"Tendo o réu sido pessoalmente intimado da sentença em 29 de maio de


2001 (f. 138v.), o prazo para recorrer iniciou-se a partir da juntada do
mandado respectivo (que se deu nessa mesma data - f. 137v). Interposta a
apelação em 29 de janeiro de 2001 (f. 107), quatro meses ANTES da
referida intimação, forçoso concluir-se por sua tempestividade."

Rejeito, pois, a preliminar de intempestividade.

MÉRITO

No mérito, a hipótese dos autos, rogata venia, nem de longe assemelha-se a


roubo impróprio.

Está claro que o furto já havia se consumado e o agente já possuía a posse


tranqüila da res furtiva quando foi abordado pela vítima.

As declarações da vítima no auto de prisão em flagrante são claras neste


sentido:

"já retornando para sua casa deparou com um elemento estranho dando a
entender que estava vindo de sua casa; que, lá chegando não viu sua
carteira e assim suspeitou do elemento estranho que acabara de ver, saindo
assim atrás do mesmo; que próximo ao parque de exposição, disse-lhe a
vítima, que encontrou com referido elemento e pode ver que com ele
estava a carteira da citada vítima; que a vítima então se atracou com ele,
tendo referido elemento jogado a carteira fora e conseguido fugir" (f. 5,
TA).

Quando o agente foi abordado pela vítima, o furto já estava plenamente


consumado.

Após consumado o crime de furto, não pode vir ele a se transmudar em


roubo impróprio.

A este respeito leia-se o trato pretoriano:


"A expressão 'logo depois de subtraída a coisa', do § 1º do art. 157 do CP,
não significa logo depois de obter a posse invigiada da coisa, caso em que
o furto será consumado e não pode trasmudar-se em outro crime pelo
superveniente emprego da violência ou grave ameaça. A expressão
significa - isto sim - logo depois de apoderar-se da coisa e ter sua posse
precária, tão precária que o agente necessita usar de violência ou grave
ameaça para assegurá-la" (TACRSP - RT 618/314-5).

Assim, ao contrário do que poder-se-ia supor em uma primeira leitura, a


vítima Ângela Maria Ramos Coutinho, ao abordar o agente, não estava
agindo em legítima defesa de seu patrimônio, pois a agressão sofrida não
era mais atual, já que o furto estava consumado.

A atualidade ou iminência da agressão é requisito essencial à


caracterização da legítima defesa. Não se pode falar de uma defesa
legítima quando a agressão for pretérita, pois já consumada.

FRAGOSO ensina que para a caracterização da legítima defesa:

"A agressão deve ser atual ou iminente. É atual a que está se


desenvolvendo; é iminente a que está em via de efetivação imediata. Não é
atual a agressão que já terminou, com a consumação do ataque ao bem
jurídico, salvo se esta se protai (como nos crimes
permanentes)" (FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal:
parte geral. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985. p.192).

Por outro lado, a violência exercida pelo agente contra a vítima, esta sim,
se deu em razão de uma legítima defesa.

Ao atracar-se com o réu a vítima estava, em tese, cometendo o delito de


exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP) e o réu, nada mais
fez do que se defender legitimamente da agressão sofrida usando
moderadamente dos meios de que dispunha para afastar a agressão e
empreender fuga.

Trata-se, pois, de conduta lícita e por ela o agente não poderá ser punido.

Quanto ao furto praticado, as provas de materialidade e autoria são


insofismáveis e a combativa defesa sustenta a tese da excludente de
ilicitude do estado de necessidade.

Argumenta o culto defensor que o acusado agira por justificado desespero,


por faltar-lhe em sua casa algo básico à subsistência, sem que ele tivesse
como suprir as próprias necessidades.
A Procuradoria-Geral de Justiça argumenta que:

"O alegado estado de necessidade não passa de falácia já que, a par de não
comprovado nos autos, é desmentido pelas próprias declarações do
apelante em Juízo ao dizer que, à época do fato, trabalhava como 'bóia-
fria', o que lhe garantia a renda de trinta e seis reais por semana, quantia
que, apesar de pouca, basta para garantir a subsistência humana e, ainda, na
companhia de sua irmã que é aposentada e aufere cento e trinta reais
mensais (f. 29)."(grifos nossos)

Impossível concordar com esta afirmação do douto Procurador de Justiça


em um país onde a Carta Magna estabelece expressamente em seu art. 7º,
IV:

"São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
(...)
IV- salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de
atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;"

Entendo que o conceito de subsistência humana não pode se distanciar


daquilo que a Constituição denomina "necessidades vitais básicas" e não
vejo como R$36,00 (trinta e seis reais) semanais possam garantir a um ser
humano esta tão almejada subsistência.

Como então exigir-se um comportamento diverso de quem, vivendo em


penúria vê-se na possibilidade de aliviar o sofrimento pessoal e de sua
família?

A este respeito já se pronunciaram os Tribunais:

"O estado de necessidade não é conceito absoluto: deve ser reconhecido


desde que ao indivíduo era extraordinariamente difícil um procedimento
diverso do que teve" (TACRSP - RT 535/303-4)

Segundo a lição de JESCHECK o estado de necessidade pode ser


conceituado como:

"um estado de perigo atual, para legítimos interesses, que só pode ser
afastado mediante a lesão de interesses de outrem, também
legítimos." (apud PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro:
parte geral. 2ªed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 245)

O Estado se vê então diante de um conflito: proteger incondicionalmente o


bem jurídico patrimônio ou suportar a lesão a este bem jurídico como única
solução possível naquele momento para a preservação da garantia
constitucional às necessidades vitais básicas.

Penso que, no presente caso, não há como exigir-se um comportamento


diverso de quem furta como forma de suprir suas necessidades vitais.

Nunca é demais lembrar as lições de Nilo Batista:

"Podemos, assim, dizer que a missão do direito penal é a proteção de bens


jurídicos, através da cominação, aplicação e execução da pena. Numa
sociedade dividida em classes, o direito penal estará protegendo relações
sociais (ou "interesses", ou "estados sociais", ou "valores") escolhidos pela
classe dominante, ainda que aparentem certa universalidade, e contribuindo
para a reprodução dessas relações. Efeitos sociais não declarados da pena
também configuram, nessas sociedades, uma espécie de "missão secreta"
do direito penal." (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal
brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p.116)

Forçoso, pois, é reconhecer-se a excludente de antijuridicidade da conduta


pelo estado de necessidade no presente caso, sob pena de admitir-se tais
"efeitos sociais não declarados da pena", totalmente incompatíveis com o
Estado Democrático de Direito, em que a vida humana certamente deve ser
priorizada ainda que em detrimento de qualquer outro bem jurídico.

Por todo o exposto, dou provimento ao recurso da combativa e culta defesa


e absolvo o acusado das imputações que lhe foram feitas, reconhecendo o
estado de necessidade como causa excludente da ilicitude do fato.
Custas ex lege.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 344.146-5 - 30/10/2001
LEOPOLDINA

-12-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-13-

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EMENTA - Nulidade da sentença. Vício na fundamentação da fixação da
pena. Falta de individualização das penas.

Na condenação em concurso de agentes, não pode o juiz fixar a pena em


conjunto para todos os co-réus, pois assim fazendo estaria violando o
princípio constitucional da individualização das penas. O prejuízo é
evidente, pois tem o réu o direito de saber não só as razões de sua
condenação, mas também o porquê do quantum da pena fixada. Nulidade
decretada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 344.403-


5 da Comarca de IPATINGA, sendo Apelante (s): 1º) WALDEIR
ANDRADE DE OLIVEIRA e 2º) EDNALDO APARECIDO LIMA e
Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DE OFÍCIO, ANULAR A SENTENÇA.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Ipatinga, Waldeir Andrade de Oliveira e Ednaldo Aparecido Lima como
incurso nas sanções do art. 157, § 2º, I e II do CP.

Narra a preambular acusatória que, em 23 de dezembro de 1999, por volta


das 19h40, os réus, agindo em concurso de agentes e mediante violência
exercida com o emprego de arma de fogo, subtraíram pouco mais de R
$1.000,00 (um mil reais) em dinheiro e um aparelho de telefone da "Casa
de Carnes Costa".

A sentença monocrática constante às f. 106 e seg. julgou procedente a


denúncia e condenou ambos a 10 (dez) anos e 6 (seis) meses de reclusão e
ao pagamento de 45 (quarenta e cinco) dias-multa no valor unitário de 1/30
(um trinta avos) do salário mínimo.

Inconformados, recorreram ambos. Waldeir apresenta suas razões às f. 148


e seg., nas quais argumenta pela nulidade processual em face da não-
assistência de advogado na fase do inquérito e pela completa insuficiência
da defesa técnica. Ednaldo, às f. 201 e seg., pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f. 205 e seg. são pelo improvimento de


ambos os recursos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 216 e seg., opinou


pelo não-conhecimento do recurso de Waldeir por ser intempestivo e pelo
improvimento do recurso de Ednaldo Aparecido Lima.

Em síntese, é o relatório.

Tenho preliminar de ofício que submeto ab initio à apreciação da Câmara.

O M.M. Juiz a quo, ao justificar a fixação das penas-bases dos agentes, não
analisou isoladamente a culpabilidade de cada um dos co-réus, acarretando
inequívoco prejuízo às partes, que têm o direito constitucional de saberem
não só o porquê de sua condenação, mas também o porquê de sua apenação
não ter se limitado ao mínimo legal.

Trata-se de nulidade absoluta, impossível de ser sanada em segunda


instância, por flagrante desobediência ao princípio constitucional de
individualização das penas.

"A individualização da pena precisa ser fundamentada. O réu tem o direito


de saber por que foi condenado e conhecer os fatores que definiram a
sanção, qualitativa e quantitativamente" (TACRSP - RT 687/369).
A Constituição Federal consagrou o princípio da individualização das
penas em seu art. 5º, XLVI, não podendo, pois, o magistrado ao fixar a
pena fazê-lo de forma genérica para todos os co-réus.

É imprescindível a análise isolada da culpabilidade de cada agente, mesmo


porque, muitas das circunstâncias a serem levadas em conta são subjetivas
e variam completamente de acordo com o condenado.

Não se trata de mero formalismo, mas de um direito que cada réu tem de
uma aplicação personalizada de sua reprimenda, mesmo porque precisa
compreender as razões de sua condenação e, mais, o porquê da quantidade
de pena fixada.

Por outro lado, o magistrado monocrático afirma em sua fundamentação


que os réus não possuem bons antecedentes (f. 109) com base em meras
informações computadorizadas do Sistema de Informações Policiais,
documento que não contém sequer uma assinatura da autoridade
competente.

Impossível desfazer a presunção constitucional de inocência, direito


fundamental do ser humano, simplesmente com base em tais informações
policiais. Somente certidão passada por autoridade competente em que
conste condenação transitada em julgado é documento hábil para
comprovar maus antecedentes ou reincidência que jamais podem ser
presumidas em um Estado Democrático de Direito.

Diante de todo o exposto, solução outra não nos resta senão anular a
sentença por vício na fundamentação da fixação das penas, determinando o
retorno dos autos à comarca de origem para que outra seja proferida.

Custas "ex lege"

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 344.403-5 - 23/10/2001
IPATINGA

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-7-
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EMENTA - Furto. Coisa abandonada. Res nullius. Atipicidade da conduta.

O tipo penal de furto protege o bem jurídico patrimônio e, não havendo


afetação de tal bem jurídico, é impossível cogitar-se em tipicidade da
conduta. Assim, é atípica a conduta de quem subtrai bens que foram
enterrados com sal para que se deteriorassem mais rapidamente, uma vez
que está evidenciado não haver mais qualquer interesse na tutela
patrimonial daqueles bens. Irrelevante a existência de obstáculo físico para
se alcançar o bem abandonado, pois a intenção de quem se desfez da coisa
de mantê-la inacessível a outrem não tem o dom de tornar inapropriável a
res, pois, se assim fosse, haveria uma clara ofensa ao princípio da função
social da propriedade, consagrado constitucionalmente. Se ilícita a posse
da coisa, responderá o réu tão-somente nas sanções previstas pela sua
posse, nunca por furto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 328.096-


0 da Comarca de PIRANGA, sendo Apelante (s): 1º) EDSON ASSIS
ROSA e 2ºs) HÉLIO GONÇALVES MACIEL, HÉRCULES REZENDE
MILAGRES e MAURÍCIO REZENDE MILAGRES e Apelado (a) (os)
(as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AOS RECURSOS.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Piranga, Hélio Gonçalves Maciel, Edson Assis Rosa, Hércules Rezende
Milagres e Maurício Rezende Milagres como incursos nas sanções do art.
155 § 4º, I e IV do CP, por terem, na noite de 10 de março de 1999, por
volta das 23h00, subtraído para si as ferramentas, armas e demais objetos
descritos no auto de apreensão à f. 23, que haviam sido enterrados em um
buraco de, aproximadamente, 2 (dois) metros de diâmetro, por 2 (dois)
metros de profundidade, localizado no terreno do Ginásio Poliesportivo
Hélio de Araújo Dias.

Consta ainda da exordial acusatória que tais bens pertenciam ao Estado de


Minas Gerais, e por tratar-se de instrumentos de crimes foram enterrados
por determinação das autoridades locais para não se correr o risco de
caírem em mãos criminosas, diante da pouca segurança do fórum da
comarca.

A sentença monocrática às f. 238 e seg. julgou procedente os pedidos


articulados na denúncia e condenou os réus a 2 (dois) anos de reclusão e 10
(dez) dias-multa com valor fixado no mínimo legal. Aos quatro foi
concedido o benefício do sursis.

Inconformado, apelou Edson à f. 250, pugnando pela absolvição ao


argumento de que o fato é atípico, uma vez que a res estava abandonada.

Hélio Gonçalves Maciel, Hércules Rezende Milagres e Maurício Rezende


Milagres apelaram à f. 255 apresentando suas razões nos termos do art.
600, § 4º, do CPP à f. 268 também argumentando pela atipicidade da
conduta.

As contra-razões ministeriais ao primeiro apelo podem ser encontradas às


f. 258 e seg. e ao segundo recurso às f. 272 e seg., sendo ambas pelo
improvimento do recurso.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 278 e seg., opinou
pela improcedência dos apelos.

Em suma, é o relatório.

Estando presentes os pressupostos de admissibilidade dos recursos, deles


conheço.

O douto Promotor de Justiça da comarca assim descreve o fato:

"Trata-se de fato delituoso com grande repercussão na comarca de Piranga,


eis que os agentes nele envolvidos, desafiando a autoridade do Poder
Judiciário local, subtraíram armas, moto-serras (sic), foices, e vários outros
objetos, coisas estas utilizadas por terceiras pessoas para a prática de vários
crimes anteriores (todos com sentenças transitada em julgado), que foram
mandadas soterrar pela autoridade judiciária, exatamente para não se correr
o risco das mesmas caírem em mãos criminosas, diante da pouca segurança
do fórum local" (o destaque consta no original).

Tal descrição me faz lembrar das lições de Miguel Reale aos alunos de
Introdução à Ciência do Direito:

"Na Idade Média era freqüente o caso de se processar um animal, ou de se


apurar a responsabilidade das coisas, o que pareceria absurdo ou aberrante
a qualquer homem do povo, em nossos dias. Os processos de feiticeiras
muitas vezes envolviam as vassouras, às quais se atribuíam qualidades ou
aptidões que somente poderiam ser purificadas através de um julgamento
especial" (In Lições Preliminares de Direito 11ª ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 1984. p. 226-227.).

Impossível deixar de contrastar com a situação dos autos. Certamente,


estivéssemos na Idade Média a denúncia seria nas iras do art. 351 do CP,
com pena prevista de seis meses a dois anos de detenção, mas como
estamos no 3º milênio, respondem os réus pelo crime do art. 155, § 4º, I e
IV, como pena de dois a oito anos de reclusão.

Difícil é acreditar...

ZAFFARONI e PIERANGELI explicam o porquê das penas medievais a


coisas e animais:
"As sanções a coisas e animais têm por objeto fortalecer a ética social até o
limite de convencer a população de que ninguém, nem sequer as coisas e
os animais, nem tampouco os mortos, escapa à sanção penal, todos
respondendo à mesma lei penal que a tudo governa" (In Manual de Direito
Penal Brasileiro: parte geral. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1999. p. 187.).

Nem se diga que tais objetos não foram vítimas de qualquer tipo de pena.
Qual outro motivo justificaria o enterro de uma motosserra avaliada em R$
250,00 (duzentos e cinqüenta reais)?

Se se presumir que uma motosserra causa risco à população tão-somente


por ter sido instrumento de um crime e, por tal razão deva ser enterrada,
certamente não sobrarão facas de cozinha e automóveis nesta comarca.

Impressionou-me o ritual descrito pela testemunha Carlos de Araújo Silva:

"foram cavados aproximadamente um metro e meio a dois metros; a


largura do buraco foi de aproximadamente quatro metros quadrados; para
enterrar os objetos, foi utilizado areia, cimento e sal."

Incrível, havia até um relógio Orient dourado sem pulseira avaliado em R$


5,00 (cinco reais) lá enterrado...

É até justificável o sepultamento da espingarda e das munições, mas de


machados, foices, cutelos, canivetes, chuchos e, em especial, motosserras,
realmente é lamentável.

Esses últimos, pela mais simples presunção de boa-fé, são meras


ferramentas que, ainda que bastante velhas ou mesmo estragadas, poderiam
ser reaproveitadas por pessoas que não tivessem condições de adquirir
utensílios novos.
Rogata maxima venia, enterrá-las para não permitir seu uso sobre o singelo
argumento de que já foram utilizadas na prática de crimes e, por isso, são
perigosas é retornar ao Direito Penal Medieval.

As mais de trezentas laudas deste processo certamente poderiam ter sido


evitadas se as autoridades locais tivessem se dado ao trabalho de perguntar
aos "coveiros" se algum deles se interessaria em ficar com qualquer das
ferramentas, em especial com a motosserra.
Edson Assis Rosa afirmou à f. 79 que:

"o que mais interessou aos companheiros do depoente foi a motosserra".

Hélio Gonçalves Maciel declarou à f. 82 que:

"o depoente ajudou a cavar e procurar a motosserra; somente achou a


motosserra velha".

É bom frisar que todos os acusados são primários e é muito mais plausível
que se interessassem pelas ferramentas do que pelas armas e munições.

Ora, se não interessava mais ao Estado a posse de tais produtos, certamente


aos acusados havia profundo interesse, tanto é que foram ao local à noite e
"exumaram" as velhas ferramentas e a cobiçada motosserra.

Se alguma reprovação há que se cogitar aqui, certamente é quanto às


lamentáveis condições econômicas em que vive grande parte da população
brasileira que obriga muitas pessoas a procurarem nos bens abandonados -
conhecidos por lixo, por quem os abandona - algum utensílio capaz de ser
recuperado e aproveitado.

Evidentemente não pode a lei proibir que alguém se apodere do lixo alheio,
ainda que, por qualquer motivo, quem o abandonou não deseje que outrem
dele se apodere.

O Código Civil Brasileiro estabelece em seu art. 592:

"Quem se assenhorear de coisa abandonada, ou ainda não apropriada, pra


logo que lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por
lei.

Parágrafo único. Volvem a não ter dono as coisas móveis, quando o seu as
abandona, com intenção de renunciá-las."
A defesa está repleta de razão. Não vejo como querer tipificar tal conduta
como crime de furto.

Nunca é demais lembrar que a existência de todo e qualquer crime


fundamenta-se na proteção de um bem jurídico que a sociedade elege como
de fundamental importância.

O furto baseia-se na proteção do bem jurídico patrimônio e é óbvio que, se


alguém tem interesse na proteção deste patrimônio, não o enterrra e manda
salgá-lo.

A questão é patente. Se não houve qualquer prejuízo patrimonial,


impossível cogitar-se na existência de furto, pois não houve a necessária
afetação do bem jurídico patrimônio para a ocorrência da tipicidade da
conduta.

O fato não é típico, pois falta-lhe o elemento normativo. Os bens não eram
coisa alheia, mas sim, res nullius.

Completamente irrelevante estarem soterrados em local cercado de arames


e porteiras ou a utilização de concreto para a criação de obstáculo a
subtrações.

A objetividade dos fatos é que o Estado não tinha qualquer interesse


naquele patrimônio, tanto é que mandou salgá-lo para que se aniquilasse
mais rapidamente.
Veja-se o trato pretoriano:

"Para efeitos penais, constitui res derelicta o objeto abandonado pelo dono
e por ele expressamente afirmado sem valor, ainda que possa ser valioso
para terceiros e ainda que deixados, por comodidade, no próprio
imóvel" (TACRIMSP - JUTACRIM 82/253).

Por fim, vale lembrar sempre o texto da nossa Carta Magna que em seu art.
5º, XXIII, afirma que:

"a propriedade atenderá a sua função social"

Não havendo mais qualquer interesse patrimonial de alguém em relação a


determinada coisa e estando isso claro e sem sombra de dúvidas é
perfeitamente legítimo que outrem se apodere daquele bem.

Desnecessário se faz perquirir a intenção de quem abandona a coisa. Ainda


que desejasse impedir que outra pessoa se apossasse do bem abandonado,
tal vontade não tornaria intangível a coisa, pois seria incompatível com a
função social da propriedade que um bem, potencialmente útil, pudesse
permanecer abandonado e ao mesmo tempo impedido de uma nova
apropriação.
Evidentemente que tais argumentos não são válidos quando o objeto é
ilícito, como seria em tese, o caso de entorpecentes, ou mesmo de armas.
Assim, poderiam em tese os agentes serem condenados por porte ilegal de
armas, mas nunca por furto.

Por todo exposto, absolvo os quatro apelantes das imputações que lhes
foram feitas, determinando ainda a devolução dos bens a seus legítimos
achadores, excetuando-se as armas e munições, salvo se comprovarem a
devida habilitação legal.

Custas pelo Estado.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 328.096-0 - 23/10/2001
PIRANGA

-6-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»
-3-

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EMENTA - Crime contra velho. Agravante senilidade. Impossibilidade de
presunção.

Não havendo nos autos prova de que o agente se valeu da fragilidade da


vítima devido à sua idade avançada, não se pode reconhecer a agravante do
art. 61, II, "h", do CP, mormente se a vítima for menor de 70 anos, sob
pena de inadmissível responsabilidade penal objetiva, incompatível com o
Estado Democrático de Direito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 333.708-


8 da Comarca de TRÊS PONTAS, sendo Apelante (s): UEMERSON
VÍTOR PIRES e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator
VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Três Pontas, Uemerson Vitor Pires, como incurso nas sanções do art.
157, caput, do CP, por ter, em 23 de setembro de 1999, por volta de 0h30,
subtraído para si, mediante violência, um chapéu e a importância de R$
50,00 (cinqüenta reais) da vítima Joaquim Perciliano Corrêa.

A sentença monocrática constante às f. 77 e seg. julgou procedente a


denúncia e condenou o réu a 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses de reclusão
em regime semi-aberto.

Inconformado, apelou o réu apresentando suas razões à f. 85, nas quais


pede a absolvição pela inexistência da materialidade delitiva. Alega a
defesa que o réu é um jovem trabalhador e honesto e, havendo dúvidas
quanto à existência do roubo, deve prevalecer o princípio do in dubio pro
reo.

As contra-razões recursais às f. 90 e seg. são pela manutenção da sentença


guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se em parecer às f. 97 e


seg., opinando pelo não-provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Presentes os pressupostos para a admissibilidade do recurso, dele conheço.

A materialidade do delito, ao contrário do que quer fazer crer a defesa, está


plenamente demonstrada e provada inclusive pelo depoimento do réu em
seu interrogatório na polícia, constante à f. 13, TA, em que afirma:

"que, quando passavam pela Rua Minas Gerais, o declarante resolveu


roubar Joaquim; que, esclarece que jogou Joaquim no chão, subtraindo do
mesmo a quantia de R$ 47,00 que portava no bolso da calça."

É bem verdade que o réu negou tais afirmações em juízo, mas não provou
qualquer tipo de coação que justificasse o depoimento policial.

Assim, seu interrogatório no inquérito é prova plenamente capaz de validar


uma condenação, mormente porque amparada nas declarações da vítima,
que nos crimes patrimoniais reveste-se de especial importância.
Mantenho a condenação por seus próprios fundamentos.

Quanto à imposição da pena, o reconhecimento da agravante do art. 61, II,


"h", do CP deve ser decotado, pois não ficou demonstrado nos autos que a
vítima era, devido à sua idade, frágil e indefesa, circunstância que não pode
ser presumida, sob pena de inadmissível responsabilidade penal objetiva,
incompatível com o Estado Democrático de Direito.

A este respeito têm decidido nossos Tribunais:

"Consoante o sistema do Código Penal, há a presunção iuris et de iure de


que é velho aquele que atinge os 70 anos, sendo que, com relação aos de
idade inferior a essa, não há limite certo para a fixação de quando começa a
velhice, razão porque o saber se alguém, menor de 70 anos, é, ou não,
velho depende de circunstâncias de fato aferíveis caso por caso" (STJ -
RTJ 80/625).

"Presumem-se velhos, conforme preceitos do Código Penal, os maiores de


70 anos de idade. Abaixo desse limite, o reconhecimento da agravante da
ancianidade depende de cada caso concreto, atendidas as condições físicas
e a resistência da vítima" (TJSC - RT 474/372).

Não havendo nos autos qualquer prova de que o agente valeu-se da


fragilidade da vítima para praticar o crime, não há como prevalecer a
agravante.

Decoto, pois, a agravante da senilidade e fixo a pena do réu em 4 (quatro)


anos de reclusão a ser cumprida em regime aberto.

Impossível a substituição da pena por restritiva de direitos, uma vez que o


crime foi cometido com violência à pessoa.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 333.708-8 - 23/10/2001
TRÊS PONTAS

-3-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-7-

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EMENTA - Acidente de trânsito. Motorista profissional. Suspensão da
habilitação para dirigir. Inconstitucionalidade.

A suspensão da habilitação para dirigir não pode ser aplicada a motorista


profissional, pois, estar-se-ia negando ao condenado o direito à livre
escolha do trabalho, garantido no art. 5º, XIII, da Carta Magna.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 331.737-


1 da Comarca de MANHUAÇU, sendo Apelante (s): DERLY XAVIER
DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(1° Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 11 de setembro de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Manhuaçu, Derly Xavier de Souza como incurso nas sanções do art.
121, § 3º e 129, § 6º do CP, por ter, em 3 de fevereiro de 1995, por volta de
1h30, dado causa a um acidente com o ônibus que dirigia que resultou na
morte de Geiza Cristine Mercês, Antônia Rodrigues Araújo, Pedro Silva de
Oliveira e Luisa Ramalho da Silva e em lesões corporais a vários outros
passageiros.

A sentença monocrática às f. 571 e seg. foi anulada pelo acórdão à f. 620


por inobservância do critério trifásico de fixação da pena.

Nova sentença foi proferida às f. 634 e seg., condenando o réu a 4 (quatro)


anos e 5 (cinco) meses de detenção em regime semi-aberto.

A pena foi substituída por duas restritivas de direitos, sendo a primeira a


suspensão da habilitação para dirigir veículo pelo período da pena e a
segunda o pagamento de prestação pecuniária no valor de 2 (dois) salários
mínimos aos dependentes das vítimas.

Inconformado, recorreu o réu apresentando suas razões à f. 643, nas quais


requer a minoração da pena aplicada e a substituição da pena de suspensão
de sua habilitação por outra restritiva de direitos prevista na lei.

Contra-razões ministeriais às f. 648 e seg., nas quais requer o Ministério


Público de primeiro grau que seja conhecido o recurso e, no mérito, seja-
lhe negado provimento.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às f. 657 e seg., opinou
pelo parcial provimento do recurso, substituindo-se a suspensão da
habilitação para dirigir por outra restritiva de direitos.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso por estarem presentes os pressupostos objetivos e


subjetivos para sua admissibilidade.

Materialidade e autoria cristalinas, não foram objetos de recurso da defesa.

A culpa do réu também ficou plenamente demonstrada, não só pelo laudo


pericial, mas também pelas declarações das vítimas, que afirmaram o
excesso de velocidade.
O próprio réu em suas declarações em juízo (f. 509, TA) afirmou que
trafegava a 80 Km/h, sendo que a velocidade máxima adequada pelas
condições do movimento era de 60 Km/h, conforme o laudo à f. 41, TA.

Quanto à fixação da pena, procedeu com excesso de rigor o magistrado


monocrático.
É que a pena-base foi fixada no máximo legal previsto no art. 121, § 3º,
isto é, em 3 (três) anos.
Dentre as circunstâncias do art. 59 do CP somente a culpabilidade e as
conseqüências do crime são desfavoráveis ao réu, razão pela qual não se
justifica a fixação da pena no máximo legal.

A culpabilidade do réu foi excessiva, pois o fato de ser motorista


profissional, acarreta ao réu uma maior responsabilidade na condução dos
passageiros. Sua conduta é, pois profundamente reprovável, uma vez que
colocou em risco a vida de todos que viajavam no ônibus.

As conseqüências do crime também foram graves, resultando na morte de


quatro passageiros e em lesões corporais na maioria dos demais. A
passageira Raquel Amador do Porto teve seu pé direito amputado em
virtude do fato (f. 44, TA).

Fixo, pois a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.


Não há agravantes ou atenuantes a serem levadas em conta.

Aumento a pena em virtude do concurso formal (art. 70 do CP) em 1/3 (um


terço), em virtude do número de vítimas, totalizando em uma reprimenda
de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de detenção a ser cumprida em regime
aberto.

Substituo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos,


sendo a primeira de prestação pecuniária no valor de 2 (dois) salários-
mínimos aos dependentes das vítimas falecidas e às vítimas sobreviventes.
Fixo a segunda pena restritiva de direitos em prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas a serem definidas pelo juiz da
execução, sendo preferencialmente designada para hospital com
atendimento de pronto-socorro.

Frise-se por fim que, de fato, não haveria lógica em aplicar-se a suspensão
da habilitação para dirigir ao réu, pois se assim fosse feito estar-se-ia
negando a este o direito constitucionalmente garantido no art. 5º, XIII, da
Carta Magna ao trabalho:

"é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer."

Uma pena como essa seria não só inconstitucional, mas também


excludente, completamente incompatível, pois, com o Estado Democrático
de Direito.

Custas pro rata.


É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 331.737-1 - 11/9/2001
MANHUAÇU

-5-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-6-

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EMENTA - Indulto. Comutação. Natureza Jurídica.

Não havendo vedação expressa à concessão da comutação de pena aos


condenados por crimes hediondos, não pode o intérprete baseando-se tão
somente na doutrina, impor restrições que a interpretação literal da lei não
obriga, já que as normas penais devem ser sempre interpretadas
estritamente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 331.148-4 da


Comarca de UNAÍ, sendo Agravante (s): MARCOS ANTÔNIO
GABRIEL DA SILVA e Agravado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


(1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 14 de agosto de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:


Trata-se de agravo interposto por Marcos Antônio Gabriel da Silva contra
decisão do M.M. Juiz de Direito da Comarca de Unaí, que indeferiu seu
pedido de comutação de pena baseado no Decreto nº 3.226/99.

Sustenta o agravante às f. 46 e seg. não estar a comutação de pena incluída


na vedação do art. 7º do referido decreto, que impede tão-somente a
concessão do indulto aos condenados por crimes hediondos.

Contra-minuta ministerial às f. 48 e seg., na qual pugna o Promotor de


Justiça pelo conhecimento e desprovimento do agravo.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 58 e seg.,


opinou pelo improvimento do agravo.

Em suma, é o relatório.

Conheço do recurso, presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

É princípio básico de hermenêutica jurídica que as normas penais devem


ser interpretadas estritamente.

Tomemos os ensinamentos do mestre Carlos Maximiliano:

"Estritamente se interpretam as disposições que restringem a liberdade


humana, ou afetam a propriedade; conseqüentemente, com igual reserva se
aplicam os preceitos tendentes a agravar qualquer penalidade. O contrário
observa relativamente às normas escritas concernentes às causas que
justificam os fatos delituosos e dirimem ou atenuam a criminalidade:
devem ter aplicação extensiva desde que os motivos da lei vão além dos
termos da mesma; em tais circunstâncias, até a analogia é invocável" (In
Hermenêutica e aplicação do direito 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
p. 322-323)

Evidentemente que indulto não é sinônimo de comutação. Pela própria


origem etimológica das duas palavras está clara a diferença entre os
institutos:

A palavra indulto tem origem latina no verbo indulgere, que significava ser
complacente, ceder, permitir, conceder (FERREIRA, Antônio Gomes.
Dicionário de Latim-Português Porto Editora: Porto, s/d. p. 593).

Já o vocábulo comutação, também de origem latina, provém do verbo


commutare cuja idéia era de mudar completamente, alterar inteiramente,
trocar uma coisa por outra, modificar-se, transformar-se (Op. cit. p. 258).
Vê-se, pois, a clara distinção existente entre as naturezas jurídicas do
indulto e da comutação. O primeiro é um verdadeiro perdão estatal da
pena. O segundo, a substituição de uma pena mais grave por outra mais
benigna e não um perdão parcial como quer parte da doutrina.
Ora, é evidente, que o legislador pode optar por não conceder o indulto
para os condenados por crime hediondo, já que é benefício amplo, e ao
mesmo tempo permitir a comutação, que é um benefício mais restrito.

Não se pode cogitar, no entanto, de vedar a concessão da comutação com


base numa concepção doutrinária de que a comutação nada mais é do que
uma espécie de indulto.

Não se nega à doutrina o valor de fonte do Direito que efetivamente ela


tem, mas não se pode olvidar que a principal fonte do Direito Penal
Brasileiro ainda é a norma escrita.

Assim, não havendo qualquer óbice legal para a aplicação da comutação,


não pode o juiz, baseando-se em concepções doutrinárias, negar ao
condenado o benefício, pois, nunca é demais repetir, as normas penais se
interpretam estritamente e, não havendo vedação legal expressa, motivo
algum há para se negar a concessão da comutação.

Ressalte-se ainda que, no art. 3º do Decreto nº 3.226/99, há nítida


diferenciação entre indulto e comutação. Se comutação fosse espécie do
gênero indulto o decreto estaria sendo tautológico, o que é impossível de se
pensar baseando-se também no princípio elementar de hermenêutica
jurídica que afirma que a lei não possui palavras vãs.

Se no art. 7º do referido decreto há menção apenas ao indulto, certamente é


porque só a ele queria referir-se o legislador. Não pode o intérprete,
baseado tão-somente em ensinamentos doutrinários, impor restrições ao
réu que a interpretação literal da norma não tornasse obrigatória.
Por todo exposto, dou provimento ao agravo, determinando o retorno à
comarca de origem para que o juiz analise os demais pressupostos
necessários para a concessão da comutação, não sendo óbice para a sua
decisão o fato de ter sido o réu condenado por crime hediondo.
É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA


afc
AGRAVO Nº 331.148-4 - 14/8/2001
UNAÍ
-5-

AGRAVO Nº «agravo_num» - «data»


«comarca»
-6-

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EMENTA - Nulidade na fixação da pena. Garantia do duplo grau de
jurisdição. Princípio da instrumentalidade das formas. Princípio da
pessoalidade das penas. Antecipação do pronunciamento de mérito pelo
Tribunal. Possibilidade, se fixada a pena no mínimo legal.

A nulidade da sentença em face da errônea fixação da pena na primeira


instância, não deve ser pronunciada quando o Tribunal verifica desde logo
que a reprimenda deveria ter sido fixada no mínimo legal. Em tais casos,
em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, só resta ao
Tribunal antecipar seu pronunciamento de mérito, reduzindo a pena para o
mínimo legal, ficando prejudicada ao Ministério Público a garantia ao
duplo grau de jurisdição. Trata-se de um ônus processual a ser suportado
pelo Estado diante da ineficiência do órgão judiciário, não podendo, em
tais casos, exigir-se do réu que sofra um retardamento da prestação
jurisdicional causada por uma nulidade para a qual ele em nada contribuiu
e que não acarretou prejuízo algum na aferição da verdade real.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 325.495-


1 da Comarca de GUAXUPÉ, sendo Apelante (s): DANIEL DOS PASSOS
INÁCIO e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.
Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e
MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 14 de agosto de 2001.


JUIZ ERONY DA SILVA
Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Guaxupé, Daniel dos Passos Inácio como incurso nas sanções do art.
157, caput, do CP, por ter, em 14 de março de 2000, por volta das 21h30,
subtraído uma bicicleta de 18 marchas e um boné da vítima Elzio Militão.

A sentença monocrática às f. 68 e seg. julgou a denúncia procedente,


porém desclassificou o crime para aquele previsto no art. 155, caput, do CP
condenando o réu a 1 (um) ano, 2 (dois) meses e 15 (quinze) dias de
reclusão e ao pagamento de 15 (quinze) dias-multa, com valor unitário no
mínimo legal. Não lhe foi concedida a substituição de pena, por ser
reincidente específico em crime doloso.

Inconformada, recorre a defesa, apresentando suas razões às f. 78 e seg.


nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, a redução da pena
aplicada em face da menoridade relativa do sentenciado à época dos fatos.

Contra-razões ministeriais às f. 81 e seg., pelo conhecimento e manutenção


da sentença hostilizada por seus próprios e jurídicos fundamentos.
Parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça às f. 89 e seg., também pelo
conhecimento e desprovimento do apelo.

É o relatório no que interessa.

Presentes os pressupostos recursais objetivos e subjetivos, conheço do


apelo.

A materialidade e a autoria do delito estão comprovadas pelas declarações


da vítima que encontram total respaldo nos depoimentos testemunhais.

O valor probatório da palavra da vítima nos crimes patrimoniais é pacífico


na jurisprudência:

"A palavra da vítima, em crime de natureza patrimonial, avulta em


importância, máxime quando em tudo ajustada às demais evidências dos
autos" (TACRSP - RJDTACRIM 25/139).

A versão dada pelo réu de que teria levado a bicicleta para sua casa,
pretendendo, no entanto, devolvê-la no dia seguinte não é minimamente
crível, pois como ficou sobejamente comprovado pelos depoimentos
testemunhais, este havia se desentendido com a vítima momentos antes em
um bar.

Assim, a condenação era de rigor, razão pela qual a mantenho.


Quanto à fixação da pena, verifico, em tese, a presença de uma nulidade a
ser declarada, vez que o juiz levou em conta os maus antecedentes do réu
na fixação da pena-base, tendo também agravado a pena do réu em função
da reincidência, acarretando inadmissível bis in idem.

Nula seria também a sentença por não ter levado em conta a atenuante da
menoridade relativa do réu à época dos fatos, pois:

"A consideração da circunstância atenuante é indeclinável na


individualização da pena, sendo causa nulificante da sentença a sua
desconsideração" (STF - RT 610/419).

As constantes nulidades causadas pelos erros na fixação da pena em


primeira instância têm me preocupado profundamente. É que, em sua
grande maioria, acabam se tornando uma formalidade totalmente sem
sentido, obrigando o trabalhoso e demorado retorno dos autos à comarca de
origem, adiando a satisfação a ser dada à sociedade sobre o delito ocorrido
e, pior, o sofrimento do réu e de seus familiares que aguardam ansiosos o
pronunciamento definitivo do Judiciário.

Até hoje, tinha sempre decidido pela decretação da nulidade nestes casos,
visto que a presença do prejuízo para o réu é incontestável e a simples
alteração do quantum da pena pelo Tribunal feriria diretamente a garantia
ao duplo grau de jurisdição, ainda que fosse ela fixada no mínimo legal,
pois o Ministério Público ficaria impossibilitado de recorrer, caso não
concordasse com a nova pena, por ser esta a última instância ordinária.

Meditei profundamente sobre o assunto e cheguei à conclusão de que a


declaração de nulidades como esta, além de ser totalmente ineficiente do
ponto de vista prático, mesmo em teoria jamais poderia ser admitida.

A garantia ao duplo grau de jurisdição tem como fundamentos a


falibilidade humana do magistrado, o combate ao arbítrio e, também à
necessidade psicológica do vencido.

Não obstante nos órgãos de decisões colegiadas, como é o caso deste


Tribunal, a falibilidade humana e a arbitrariedade humana ficarem bastante
reduzidas já que passam pelo crivo de três magistrados, sem dúvida, elas
ainda persistem. Por outro lado, em relação ao Ministério Público não há
como se cogitar em necessidade psicológica de recorrer, já que Promotores
e Procuradores de Justiça podem até tê-la, mas a instituição em si, jamais a
terá.

Assim, se em casos como este ora em análise, a garantia ao duplo grau de


jurisdição encontra-se em conflito direto com o princípio da
instrumentalidade das formas, tenho por bem que a falibilidade da decisão
do Tribunal, bem como a possibilidade de uma decisão arbitrária desta
Corte deve ser considerada um "risco suportado" em contraposição a
inexorabilidade dos prejuízos que seriam causados se decretada a nulidade.

O Processo Penal não é um fim em si mesmo, mas um instrumento


utilizado pelo Estado para alcançar determinada finalidade, qual seja, a
verdade real de cada caso. Assim, estabelece o art. 566 do Digesto
Processual Penal que:

"não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído
na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa".

Uma interpretação teleológica da norma deixa claro que a intentio legis é


impedir uma análise deturpada que leve a uma equivocada condenação ou
absolvição. Não parece, definitivamente, cuidar aqui de uma incorreta
aplicação da pena.

Os Tribunais entendem, no entanto, que deve ser declarada a nulidade


quando a sentença não obedecer ao previsto no art. 387 do CPP.

Ouso afirmar que nem sempre esta é a solução processualmente mais


adequada. No caso ora em análise, verifica-se isto com clareza. Este feito
teve andamento relativamente célere até o presente momento, sendo que a
anulação da sentença para que outra fosse proferida em virtude tão-
somente de tal erro na fixação da pena-base, acarretaria claramente um
prejuízo substancial para o réu que teria a definição de sua situação jurídica
adiada por um erro para o qual em nada contribuiu.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XLV, garante que


"nenhuma pena passará da pessoa do condenado". Ora, se se declara a
nulidade da sentença no presente caso e se adia a solução deste caso por
mais alguns meses, certamente estar-se-ia causando um prejuízo processual
significativo ao réu para o qual, vale frisar, ele em nada contribuiu.

O professor Aroldo Plínio Gonçalves, catedrático da Faculdade de Direito


da Universidade Federal de Minas Gerais, ensina que:

"Nulidade é conseqüência jurídica prevista para o ato praticado em


desconformidade com a lei que o rege, que consiste na supressão dos
efeitos jurídicos que ele se destinava a produzir. Como conseqüência
jurídica, a nulidade se integra na categoria das sanções" (In Nulidades no
Processo, Rio de Janeiro: Aide Ed, 1993. p. 12).

"Na verdade, a nulidade, no processo, não pode ser considerada


rigorosamente como penalidade, mas é conveniente que se recorde que a
sanção, no sentido amplo do termo, também não tem sempre esse
caráter" (op. cit., p. 13).

Ora, se o Estado, através do juiz sentenciante deu causa à nulidade, não


pode o réu sofrer as conseqüências do erro estatal, caso contrário estar-se-
ia violando o princípio constitucional da pessoalidade da pena.

Assim, em casos tais, entendo ser perfeitamente possível ao Tribunal,


considerando que a pena-base deva ser fixada no mínimo legal, antecipar
seu pronunciamento de mérito e deixar de declarar a nulidade, ficando
prejudicada a garantia do duplo grau de jurisdição, neste aspecto, em
relação ao Ministério Público.

Se nulidade é sanção processual por desrespeito a uma forma legalmente


estabelecida, sentido não haveria desta "pena" ser suportada pelo réu, que
dentre todas as partes processuais, sem dúvida alguma, seria a que mais se
veria prejudicada.

A antecipação do pronunciamento de mérito pelo Tribunal tem, repita-se, o


inconveniente de impedir recurso da acusação, mas este é um ônus
processual a ser suportado pelo Estado em razão da própria ineficiência de
um de seus órgãos. O que não se pode admitir é que, em casos como este, o
réu suporte as nefastas conseqüências de uma nulidade para a qual em nada
contribuiu.

Vale ressaltar que ao próprio Estado não interessa a decretação de tal


nulidade, pois a mínima divergência em relação ao quantum da pena não
justificaria a postergação do feito que só serviria para contribuir ainda mais
para a superlotação do Poder Judiciário, o que, certamente, não interessa a
ninguém.

Assim, entendo que a nulidade existe, mas não é o caso de se declará-la em


homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, pois
antecipando meu julgamento de mérito, entendo que nenhuma das
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP distanciou-se daquelas próprias do
crime de furto, razão pela qual a pena-base deva ser fixada no mínimo
legal.

Assiste razão à defesa quanto à existência da atenuante em face da


menoridade relativa do réu. É que na data dos fatos, 14 de março de 2000,
restava ainda 1 (um) mês e meio para que o réu completasse 21 anos, pois
nasceu em 30 de maio de 1979.

Desnecessário se faz prova documental para seu reconhecimento, pois


tanto na qualificação do réu na denúncia, quanto no interrogatório judicial
à f. 38, em que lhe foi dado inclusive curador, há o reconhecimento de sua
menoridade.

Assim tem-se manifestado a jurisprudência:

"Tendo o réu, na qualificação, indicado sua idade, data e local de


nascimento, cabe à acusação formular objetiva contestação. Inexistindo
esta, dispensa-se a prova documental de menoridade para efeito de
reconhecimento da atenuante" (TACRSP - RJDTACRIM 2/118).

Por outro lado, a atenuante de ser o réu menor de 21 anos é preponderante


em relação à reincidência, conforme bem tem entendido a jurisprudência:

"A atenuante da menoridade prepondera sobre toda e qualquer agravante,


pois diz respeito à própria personalidade do acusado em formação" (TJSP -
JTJ 183/280).

Assim, concretizo a pena em seu mínimo legal, ou seja, 1 (um) ano de


reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, no
valor fixado em primeira instância.

Impossível a substituição da pena em face da reincidência específica


perfeitamente comprovada pela Certidão de Antecedentes Criminais
constante à f. 66. Também inaplicável o sursis por vedação prevista no art.
77, I do CP.
É como voto.
JUIZ ERONY DA SILVA
afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 325.495-1 - 14/8/2001
GUAXUPÉ

-11-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA - Custas processuais. Isenção. Réu pobre. Inaplicabilidade do
art. 804 do CPP.

A Constituição Federal de 1988 não recepcionou em sua plenitude o art.


804 do CPP. Assim, o réu que se declarou pobre e foi assistido por
Defensor Público é isento das custas processuais, em obediência ao art. 5º,
LXXIV da Carta Magna.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 332.643-


8 da Comarca de NOVO CRUZEIRO, sendo Apelante (s): VANDERLEI
PEREIRA DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR
PROVIMENTO PARCIAL.
Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele
participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos
demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 19 de junho de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Novo Cruzeiro, Vanderlei Pereira de Souza como incurso nas sanções
do art. 157 do CP por ter, em 19 de agosto de 2000, por volta das 7h00,
subtraído, mediante violência, a quantia de R$82,00 (oitenta e dois reais)
da vítima Antônio Gonçalves dos Santos.

A sentença monocrática, às f. 56 e segs., condenou o réu, nos termos da


denúncia a 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão e a 17 (dezessete)
dias-multa, valendo o dia-multa 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo
vigente na época do delito.

Inconformado, apelou o Defensor Público, apresentando suas razões às f.


64 e segs.. Preliminarmente, requer a decotação do pagamento das custas
processuais e da pena de 17 (dezessete) dias-multa. No mérito, pugna pela
absolvição por falta de prova, por entender que a confissão perante
autoridade policial não é o suficiente para suportar uma condenação.
Alternativamente requer que a pena seja fixada no mínimo legal.

O Ministério Público de primeiro grau, em suas contra-razões recursais às


f. 67 e segs., levantou preliminar de intempestividade da apelação. No
mérito, manifestou-se pelo improvimento.

A Procuradoria-Geral de Justiça em seu parecer às f. 83 e segs. opinou pelo


não-conhecimento do recurso, por ser este intempestivo, e, no mérito, pela
confirmação da sentença.

É o breve relatório.

Não procede a preliminar de intempestividade.

Apesar da intimação pessoal do réu ter se dado em 28 de novembro de


2000, conforme certidão à f. 60v., a intimação de seu defensor só se deu
em 11 de dezembro de 2000, pelo que se vê à f. 61v.

É bem verdade que o art. 392 do Digesto Processual Penal não prevê
expressamente a intimação do advogado nos casos em que o réu estiver
preso. Não se pode olvidar, no entanto, que o art. 5º, LV, garante a ampla
defesa do acusado e para que esta se efetive, evidentemente, é necessária a
intimação da defesa técnica.

Assim, o prazo para a interposição do recurso, no presente caso, deve ser


contado a partir da data da intimação do advogado, no caso Defensor
Público, o que lhe garante prazo em dobro para recorrer, isto é, 10 (dez)
dias.

Veja-se o trato pretoriano:


STF: "Necessidade de ser intimado da sentença condenatória o advogado
constituído, daí fluindo o prazo para a interposição do recurso, ainda que
seja indeclinável a intimação do réu, pessoalmente, se estiver preso,
conforme o art. 392, I, do CPP. Precedentes do STF" (RT 558/425).

TAPR: "A intimação válida da sentença condenatória só ocorre com a


formal e dupla cientificação ao réu e seu defensor" (RT 703/338).

Do exposto está claro que o recurso ora em análise é perfeitamente


tempestivo. Intimado em 11 de dezembro, o Defensor Público protocolizou
a apelação em 18 de dezembro, ou seja, com uma boa margem de
antecedência que lhe garante seus 10 dias para apelar.

Rejeito, pois, a preliminar de intempestividade do recurso.

Sendo ainda recurso próprio e interposto por parte legítima e interessada,


dele conheço.

A preliminar da defesa se confunde com o mérito, razão pela qual será


analisada oportunamente.

A materialidade e autoria estão sobejamente comprovadas. A alegação


fantasiosa do réu em seu interrogatório judicial às f. 35-36 de que teria
vendido uma bicicleta à vítima, sem ter recebido a correspondente
prestação pecuniária não se coaduna com as demais provas dos autos.

Pelo contrário, tudo está a indicar a tipicidade de sua conduta no art. 157
do CP. O próprio réu confessou o fato na fase policial, retratando-se em
juízo, ao argumento de ter sido vítima de torturas policiais. Porém, não há
sequer indícios nos autos que indiquem a veracidade da alegação de
constrangimento para que confessasse.

Ademais, o próprio pai do réu em suas declarações à polícia às f. 16-16v


afirmou que:

"Vanderlei sem mais nem menos avançou contra o Senhor; que Vanderlei
deu uma rasteira no indivíduo, arrancou a bolsa dele e correu para dentro
do mato."

A vítima, tanto na polícia (f. 14-14v.) quanto em juízo (f. 46) foi
plenamente coerente em suas declarações. Não há como não dar-lhe
credibilidade, pois nos crimes patrimoniais as declarações da vítima
revestem-se de especial importância.

A condenação deve, pois, ser mantida.

Quanto à fixação da pena, entendo, rogata venia, que procedeu com


excesso de rigor o magistrado monocrático.

O exame das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP deve ser realizado


tomando-se por base um comportamento padrão dos agentes da conduta
típica em questão. Se não há nos autos elementos capazes de comprovar
que o réu merece maior reprovação que o criminoso típico daquela espécie
de crime, não se pode puni-lo com maior rigor.

Assim, está claro que sua culpabilidade é grande, mas não se pode afirmar
que seja maior do que a da média dos agentes da conduta do art. 157 do
CP. Da mesma forma, os motivos do crime, a obtenção fácil de dinheiro, é
comum nos crimes da espécie. No mesmo raciocínio, não vejo como
qualquer outra circunstância do crime prevista no art. 59 do CP possa
ensejar um maior rigor na aplicação da pena-base, por não se afastarem do
comportamento do "criminoso médio" dos crimes da espécie, razão pela
qual reduzo-a para 4 (anos) de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

Quanto à agravante da reincidência prevista no art. 61 do CP, não há como


ser mantida. É que a certidão à f. 55v. não comprova o trânsito em julgado
da sentença condenatória, mas, pelo contrário, induz a crer que houve
apelação para o egrégio Tribunal de Justiça, já que os autos foram
remetidos àquele sodalício em 28 de junho de 2000. O princípio
constitucional da presunção de inocência, bem como o art. 63 do CP,
impedem, pois, a sua utilização sem que haja a comprovação do trânsito
em julgado.

Assim, a pena fica concretizada em 4 (anos) de reclusão e 10 (dez) dias-


multa. Deixo de aplicar a substituição da pena, por ter o crime sido
praticado com violência à pessoa.

Quanto às custas processuais, assiste razão à defesa.

A Constituição de 1988 é expressa, quanto à questão, em seu art. 5º,


LXXIV:

"o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos."
Ora, se o réu é pobre, conforme declarou no interrogatório às f. 35-36,
tendo inclusive lhe sido nomeado defensor público, razão não há para lhe
serem impostas custas processuais.

O argumento de que é na execução que a miserabilidade do réu deve ser


examinada a fim de se conceder a isenção não procede. É que o exame já
foi feito pelo juiz a quo tanto que lhe foi nomeado Defensor Público.
Impossível, pois em sede de execução realizar-se o mesmo exame por uma
segunda vez.
A interpretação do art. 804 do CPP deve, pois, ajustar-se à nova ordem
constitucional advinda com a Constituição de 1988, sendo absolutamente
inaplicável a réus pobres no sentido legal.

Veja-se as seguintes decisões neste sentido:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO - MATÉRIA CRIMINAL - Acórdão


que manteve a condenação do réu por crime de latrocínio, provendo,
entretanto, o recurso da defesa para isentar o condenado do pagamento das
custas processuais, com base no art. 5º, LXXIV, da Constituição, deixando
de aplicar o art. 804 do Código de Processo Penal. Alegação do MP, no
recurso extraordinário, de ofensa aos art. 97 e 5º, LXXIV, da Constituição.
O art. 5º, LXXIV, da Constituição, foi bem aplicado pelo acórdão, visto
tratar-se de réu pobre, a quem devida assistência judiciária, a teor do art.
1.060, arts. 2º, 3º, II, 4º e § 1º. Não há ver ofensa ao art. 97 da Lei Maior,
por não se fazer mister a declaração de inconstitucionalidade incidenter
tantum do art. 804 do Código de Processo Penal, como pretende o apelo
extremo, a fim de isentar o réu pobre, condenado, do pagamento de custas,
diante da norma do art. 5º, LXXIV, da Constituição. Recurso
extraordinário não conhecido" (STF - RE 207.963-4 - DF - 2ª T. - Rel.
Min. Néri da Silveira - DJU 18/6/1999 - p. 25).

APELAÇÃO CRIMINAL - ISENÇÃO DE PAGAMENTO DAS CUSTAS


- PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO - Tratando-se de pessoa
comprovadamente pobre, tanto que defendida pela assistência judiciária,
resulta clara a impossibilidade do réu de arcar com as despesas
processuais, pelo que deve ser contemplado com a respectiva isenção.
(TJMT - ACr 1.629/93 - Classe I - 14 - Cuiabá - 2ª C.Crim. - Rel. Des.
Leônidas Duarte Monteiro - J. 2/3/1994)

Pelo exposto, mantenho a condenação de primeira instância, reduzindo a


pena para 4 (quatro) anos de reclusão em regime fechado e ao pagamento
de 10 (dez) dias multa, com o valor já fixado em primeiro grau.

Sem custas, por ser o réu pobre no sentido legal.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 332.643-8 - 19/6/2001
NOVO CRUZEIRO

-9-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

-10-
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EMENTA - Roubo. Arma falsa. Inexistência de causa de aumento de pena.
Interpretação analógica. Impossibilidade.

A causa de aumento de pena do art. 157, § 2º, I, do CP, não pode ser
aplicada se o agente ameaçou a vítima com uma gaita, induzindo nesta o
falso temor de se tratar de um canivete. As normas penais são interpretadas
estritamente, não podendo o magistrado considerar arma qualquer
instrumento capaz de intimidar a vítima, por faltar ao caso circunstância de
ordem objetiva.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 325.346-


3 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): CRISTIAN
ALEXANDRE DO COUTO e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA
PÚBLICA,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele


participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos


demais componentes da Turma Julgadora.

Assistiu ao julgamento, pelo apelante, a Drª. Maira de Melo Teixeira.


Belo Horizonte, 5 de junho de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

VOTO

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca


de Belo Horizonte, Cristian Alexandre do Couto como incurso nas sanções
do art. 157, § 2º, I do CP, por ter no dia 8 de março de 1999, por volta das
2h30, na esquina da Rua da Bahia com Av. Augusto de Lima, nesta cidade,
subtraído para si coisa alheia móvel, mediante grave ameaça à vítima
Daniel Álvaro da Fonseca (f. 2-3).

Narra a preambular acusatória que o denunciado aproximou-se da vítima e,


simulando estar armado com um canivete, obrigou-a a entregar-lhe seu
relógio e todo o dinheiro que tinha.

O auto de prisão em flagrante, às f. 5 e seguintes, e as declarações do


ofendido, às f. 33-34, esclarecem que, na verdade, o crime foi praticado na
esquina das Ruas Rio de Janeiro e Tupis, sendo que o endereço constante
da denúncia refere-se ao local onde o acusado foi detido.

A r. sentença, às f. 136 e seguintes, julgou procedente a denúncia e


condenou o réu nas iras do art. 157, § 2º, I, c/c art. 61, I todos do CP, à
pena privativa de liberdade de 5 (cinco) anos e 8 (oito) meses de reclusão,
em regime fechado, e ao pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa.

Inconformado, apelou o réu, às f. 145 e seguintes, pleiteando sua


absolvição e, alternativamente, a decotação da causa especial de aumento
de pena por emprego de arma e a diminuição da pena com alteração do
regime inicial para seu cumprimento.

Alega o acusado em suas razões que não há testemunhas presenciais do


fato e que há que se aplicar ao caso o princípio do in dubio pro reo.

Aduz, ainda, que o condenado é primário, pois, dos processos desta Capital
(um por uso de maconha e outros dois por furto), somente existe a
condenação ora guerreada e, nos processos de Betim (por direção de
motocicleta sem habilitação) não houve condenação, mas sim um acordo
com o Ministério Público para pagamento de multa, que foi cumprido.

O Ministério Público, em suas contra-razões, às f. 168 e seguintes, pugna


pela manutenção da sentença.

Sustenta que estão comprovadas materialidade e autoria, que o apelante é


réu confesso e que a causa de aumento de pena deve ser mantida, por ser a
simulação da posse de uma arma uma violência patente.

No parecer ministerial, às f. 180 e seguintes, opinou o douto Procurador de


Justiça pelo conhecimento e desprovimento do recurso, por estarem
provadas a violência contra a pessoa e a presença da causa de aumento de
pena, pois o fato de o acusado ter simulado estar armado já foi suficiente
para intimidar a vítima.

É o relatório.

Por ser o apelante parte legítima e interessada e seu recurso próprio e


tempestivo, dele conheço.

Inicialmente, necessário se faz deixar claro que o simples erro da denúncia


quanto ao local exato onde se deram os fatos, no caso em exame, não gera
qualquer prejuízo. Assim, plenamente válida é a peça vestibular.

Quanto ao mérito, a materialidade e a autoria do delito estão sobejamente


demonstradas nos autos.

As declarações da vítima em inquérito (f. 33-34) e em juízo (f. 96) são


firmes e encontram respaldo nos demais elementos de prova constantes nos
autos.

A versão do acusado em seu interrogatório policial é totalmente


contraditória e, em juízo (f. 68), afirmou "que a vítima, ao ser abordada
pelo interrogando, negou ter sido autora do assalto mas, acabou lhe
entregando o relógio."

Tudo isso só vem reafirmar a convicção de autoria.

Contudo, não se pode aplicar ao caso a causa de aumento de pena prevista


no art. 157, § 2º, do CP. Isso porque uma simples gaita jamais poderá ser
considerada como arma, salvo por inadmissível interpretação analógica.

O referido dispositivo legal estabelece que a pena será aumentada:


"se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma".

Se a intentio legis fosse punir, não a circunstância objetiva de o agente usar


instrumento capaz de ferir a integridade física de outrem, mas o uso de
objeto capaz de causar intimidação na vítima, teria estabelecido isto
expressamente e o dispositivo seria:

"se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma ou outro meio


capaz de causar intimidação ou temor na vítima".

Rogata venia de entendimentos em contrário, não é o estabelecido pela


norma. Não é demais lembrar os sempre atuais ensinamentos do mestre
Carlos Maximiliano:

"Estritamente se interpretam as disposições que restringem a liberdade


humana, ou afetam a propriedade; conseqüentemente, com igual reserva se
aplicam os preceitos tendentes a agravar qualquer
penalidade" (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do
direito. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997).

Não pode o intérprete considerar analogicamente uma singela gaita arma,


simplesmente por faltar ao fato elemento de ordem objetiva. Se a vítima
acreditou tratar-se de arma e o agente usou-a com o fim intimidador, assim
como faria com uma arma real, isto é mera circunstância subjetiva.

Por outro lado, a defesa demonstrou nos autos pelos documentos (f. 152-
166) que anexou às suas razões recursais que, de fato, o réu é primário.

A confusa certidão, à f. 113, evidencia que o réu não possui qualquer


sentença condenatória transitada em julgado, mas deixa dúvidas quanto ao
fim do Processo nº 027.96.003.469-5 da Comarca de Betim.

A questão é sanada, no entanto, pela cópia da sentença do referido


processo, às f. 164 e seguintes, na qual está clara que a multa fora aplicada
por proposta do Ministério Público nos termos da Lei nº 9.099/95, não
tendo, pois, o efeito de gerar reincidência.

Assim, mantenho a pena-base fixada na sentença monocrática em 4


(quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa e, afastando a agravante da
reincidência e a causa de aumento de pena por emprego de arma, torno-a
definitiva, estabelecendo o regime aberto com inicial para seu
cumprimento.

É como voto.

JUIZ ERONY DA SILVA

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 325.346-3 - 5/6/2001
BELO HORIZONTE

-7-

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»

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EMENTA: Reformatio in pejus indireta. Prescrição retroativa.

O trânsito em julgado da sentença para a acusação tem o efeito de limitar


para sempre a pretensão punitiva estatal, não sendo a anulação da sentença,
em razão de provimento de recurso exclusivo da acusação, capaz de
desconstituir tal limite. Assim, é perfeitamente aplicável a prescrição
retroativa da ação com base na pena fixada na sentença nula.

Prescrição da pretensão punitiva do Estado. Recurso do Assistente da


acusação objetivando a declaração da condenação, ainda que impossível
seja a aplicação de pena.

O processo penal, entendido como instrumento de efetivação do Direito


Penal, não pode servir de palco a discussões morais, sociais ou reparatórias
da vítima, pois sua finalidade precípua é a condenação penal do agente.
Estando prescrita a pretensão punitiva estatal, não há mais qualquer
interesse processual-penal na discussão da causa, restando à vítima, tão
somente, a possibilidade de uma ação na esfera cível, para buscar a
reparação moral pelo dano sofrido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 324.370-


5 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): ANTÔNIO
CARLOS MARTINS - ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO e
Apelado (a) (os) (as): MARTINE GINETTE GARCIA RIBEIRO,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada


do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.
Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele
participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO
(Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal).

Produziu sustentação oral, pelo apelante, o Dr. Luís Carlos Parreiras


Abritta.
Belo Horizonte, 5 de junho de 2001.

JUIZ ERONY DA SILVA


Relator

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO


Revisor

JUÍZA MARIA CELESTE PORTO


Vogal

VOTOS

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Na Comarca de Belo Horizonte, Martine Ginette Garcia Ribeiro,


devidamente qualificada dantes, foi regularmente processada nas iras do
art. 168 § 1º, III, CPB, porque, conforme narra a denúncia, em 27 de março
de 1995, a senhora Eliani Ferretti Martins entregou, a pedido de seu
cônjuge Antônio Carlos Martins, a quantia de R$39.200,00 (trinta e nove
mil e duzentos reais) em dinheiro, à denunciada, à época gerente de um
banco estabelecido na Av. João Pinheiro, nº 214, local onde ocorreu a
entrega do numerário, a fim de que a denunciada depositasse aquele valor
na conta corrente do casal para posterior aplicação financeira em fundo de
commodities.

A denunciada explicou que em virtude da vigência de um "teto" de


depósitos faria a transação em quatro parcelas, três de R$11.000,00 (onze
mil reais) e uma final no valor de R$6.200,00 (seis mil e duzentos reais),
enviando a seguir o recibo a Antônio Carlos.

Conferindo o extrato bancário de março de 1995, Antônio Carlos percebeu


que os três depósitos de onze mil reais foram efetuados (dias 28, 29 e 30 de
março de 1995) tendo simplesmente "evaporado" os seis mil e duzentos
reais restantes.
Inquirida pela vítima sobre o destino da quantia faltante afirmou a
princípio que aplicara o dinheiro que, posteriormente, poderia ter cometido
um engano, depositando o valor em conta corrente de outro cliente.

Ainda segundo a narrativa da denúncia, realizou-se um demorado processo


de apuração de toda atividade financeira da agência, abrangendo os cinco
dias anteriores e os cinco dias posteriores a provável data do depósito,
sendo que ao final do levantamento não foi acusada nenhuma entrada no
valor de seis mil e duzentos reais em qualquer conta-corrente ou fundo de
investimentos.

No final de junho de 1995 a denunciada afastou-se voluntariamente do


banco onde trabalhava.

Ex vi sentença de f. 272-275 restou apenada em 1(um) ano, 4 (quatro)


meses de reclusão, regime inicial aberto, e 25 (vinte e cinco) dias-multa à
razão unitária mínima, sendo-lhe concedido o "sursis".

Inconformada, a tempo e modo recorre a sentenciada agitando preliminar


de nulidade a partir de f. 60, uma vez que realizada a audiência, antes de
vencido o prazo para constituição de novo procurador em substituição ao
anterior que havia renunciado ao mandato. No mérito a absolvição por
negativa de autoria e, alternativamente, perdão judicial.

O Ministério Público de primeiro e segundo graus aquiesceu com a


preliminar de nulidade.
Ex vi acórdão de f. 336-340 foi o processo anulado a partir de f. 60,
inclusive. Renovou-se validamente a instrução.

Consoante a sentença de f. 452, reconheceu a extinção da punibilidade pela


prescrição.

Inconformado, a tempo e modo recorre o Assistente do Ministério Público


(f. 454), acostando as suas razões de inconformismo às f. 456-461
requerendo o afastamento da prescrição e a devolução do processo ao
magistrado monocrático para que possa se manifestar quanto ao meritum
causae.

Contra-razões do Ministério Público são encontradas às f. 462-467


espancando as teses de seu assistente e pugnando pela integral manutenção
do decisum.

Contra-razões de defesa às f. 473-475 pela manutenção do decisum que


decretou a extinção da punibilidade.
Parecer da nobre Procuradoria de Justiça da lavra da culta Armênia de
Oliveira e Souza Rocha é encontrado às f. 483-485,TA, pelo conhecimento
e improvimento do recurso.

Em sustentação oral produzida na sessão passada, o Dr. Luís Carlos


Parreiras Abritta, advogado do assistente da acusação, reafirmou suas
razões recursais e pugnou ainda pela necessidade do pronunciamento de
mérito pelo juiz monocrático ainda que reconhecida seja a prescrição da
ação. Argumentou, naquela ocasião, que, embora não possa ser executada,
a sentença tem seu efeito moral e social, devendo, pois, o Estado se
pronunciar necessariamente, ainda que não tenha como executar a sanção
aplicada.

Em suma, é o relatório.

O recurso é próprio e tempestivo. A parte é legítima e tem interesse


processual-penal no provimento do presente recurso, limitado, porém,
como veremos adiante, à discussão da ocorrência ou não da prescrição
retroativa.

Conheço do recurso.

A vedação da reformatio in pejus indireta é questão já pacífica na


jurisprudência e baseia-se em um raciocínio bastante lógico.

Se, prolatada a sentença viciada, não recorreram o Ministério Público ou o


assistente da acusação, está claro que conformaram-se com a decisão. Há
uma evidente renúncia tácita de qualquer pretensão punitiva superior
àquela fixada na sentença.

O trânsito em julgado da sentença para a acusação tem o efeito de limitar


para sempre a pretensão punitiva estatal, sendo impossível à acusação, em
qualquer momento processual posterior, postular qualquer aumento de
pena, pois, ao conformar-se com a pena fixada, renunciou completamente o
plus potencial da pretensão punitiva.

A anulação da sentença em face de recurso exclusivo da defesa não é capaz


de desconstituir tal renúncia. Se assim fosse, certamente muitos defensores
veriam-se no difícil dilema entre recorrer pedindo a anulação da sentença,
ou silenciar-se, com medo de uma nova decisão mais gravosa ao réu.
Haveria, pois, claramente, uma ofensa ao sagrado princípio constitucional
da ampla defesa.

Este é o entendimento jurisprudencial pacífico:


"Se a sentença condenatória é anulada em virtude de recurso do réu, a nova
sentença não lhe pode impor pena superior àquela anteriormente
fixada" (STF - RT 607/416).

Assim, a prescrição retroativa, de fato, ocorreu, pois a sentença anulada (f.


272 e segs.) fixou a pena em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão e
transitou em julgado para a acusação. A partir de então, o prazo
prescricional passou a ser de 4 (quatro) anos, baseado na pena fixada em
concreto pela sentença condenatória.

A denúncia foi recebida à f. 40 em 12 de março de 1996 e a sentença que


declarou a prescrição à f. 452 foi prolatada em 2 de agosto de 2000.

Correta, pois, a decisão do M.M. juiz a quo, visto que a prescrição


retroativa, de fato, ocorreu.

Quanto à questão levantada da tribuna pelo nobre advogado de que o juiz


teria o dever de analisar o mérito da causa, ainda que já prescrita, melhor
sorte não assiste à acusação.

Falta ao assistente da acusação interesse processual-penal de agir. Tal


argumento, por si só, não justificaria sequer o conhecimento do recurso.

Fernando Capez ensina que o interesse de agir:

"Desdobra-se no trinômio necessidade e utilidade do uso das vias


jurisdicionais para a defesa do interesse material pretendido, e adequação à
causa, do procedimento e do provimento, de forma a possibilitar a atuação
da vontade concreta da lei segundo os parâmetros do devido processo
legal" (In Curso de Processo Penal. 5ª ed. rev., São Paulo: Saraiva, 2000.
p.98).

Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio


Scarance Fernandes, por outro lado, lecionam que:

"Com relação aos recursos, o interesse-adequação se confunde com o


cabimento."

"A necessidade de tutela jurisdicional indica a impossibilidade de se obter


a satisfação do direito material sem a intervenção do Estado-juiz: e isto se
aplica tanto ao exercício do direito de ação, como ao exercício do direito
de recorrer."

"A utilidade significa a possibilidade, por intermédio do direito de ação ou


do direito de recorrer, de se conseguir situação mais vantajosa, do ponto de
vista prático, do que a existente antes do exercício da ação ou, no caso de
recurso, da emergente da decisão recorrida." (In Recurso no Processo
Penal. 2ª ed. rev., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997. p.83)

A necessidade está, pois, diretamente relacionada à impossibilidade de se


obter o mesmo resultado sem se recorrer ao processo penal. A utilidade,
por outro lado, está ligada à possibilidade de se obter situação jurídico-
penal mais vantajosa para alguma das partes.

É importante frisar que tratamos aqui de Direito Processual Penal e, assim


sendo, a utilidade do processo está profundamente relacionada à aplicação
de pena e não a questões morais ou reparatórias.

Qual seria a utilidade de se declarar culpado um réu, se não resta ao Estado


sua pretensão punitiva?

Certamente nenhuma utilidade jurídico-penal.

É bem verdade que há um desejo moral do ofendido de ver reconhecida a


culpa do agente, mas tal anseio não pode ser objeto do processo penal, pois
este visa única e exclusivamente à aplicação de pena.

Retornamos aqui à questão da necessidade do processo penal. Para um


reconhecimento moral não haveria necessidade de uma ação penal, pois
uma ação civil de indenização por danos morais resolveria perfeitamente o
problema.

De fato, a condenação do réu no presente caso, mesmo com a pena


prescrita, facilitaria em muito a reparação cível pelo dano causado, mas o
processo penal não se presta a tal fim, por ser instrumento de efetividade
do Direito Penal, ultima ratio do Estado.
A fragmentariedade do Direito Penal afeta também seu direito adjetivo,
que não pode nem deve ser usado quando o Estado disponibilizar formas
alternativas para que o cidadão alcance determinado provimento
jurisdicional. O reconhecimento moral, ou mesmo reparatório, do crime em
tese praticado deve, diante da ocorrência da prescrição, ser buscado no
âmbito cível.

A única justificativa para um processo penal é a existência da pretensão


punitiva estatal. Não mais existindo tal pretensão, falece qualquer interesse
no processamento e julgamento da ação penal.

Se assim não fosse, seríamos obrigados a admitir que o Ministério Público


poderia oferecer denúncia válida por um crime já prescrito, para obter do
Estado um pronunciamento moral contra o réu, o que seria um grande
absurdo.

Não há, pois, utilidade no julgamento da causa, pois estando prescrito o


crime, não há mais como se impor pena ao agente, que é o único fim do
processo penal.

Por outro lado, não há qualquer necessidade da presente ação, pois, se o


desejo do réu é uma satisfação moral, que interponha então na esfera cível
uma ação indenizatória por dano moral.

Ressalte-se, por fim, que como lembram ZAFFARONI e PIERANGELI, a


prescrição da pretensão punitiva:
"Acarreta a perda, pelo Estado, da pretensão de obter uma decisão acerca
do crime que imputa a alguém. Por tal motivo, não implica
responsabilidade ou culpabilidade para o acusado, não reflete nos seus
antecedentes e nem marca futura reincidência" (In Manual de Direito Penal
Brasileiro: parte geral. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1999. p. 755)

Impossível, pois, seria a condenação do acusado, já que tal sentença


implicaria na afirmação pelo Estado da culpabilidade do agente, isto para
não falar dos efeitos estigmatizantes de uma condenação penal, o que não
se coaduna com a intentio legis da norma da prescrição.

Por outro lado, a declaração da absolvição do acusado seria até possível,


porém não é direito subjetivo do réu, cabendo ao juiz declará-la, se assim
julgar prudente. Trata-se de faculdade do sentenciante, não de obrigação,
pois não há mais qualquer interesse processual-penal na discussão da
culpabilidade do agente.

Além do mais, se o réu tivesse o direito subjetivo da declaração da sua


absolvição, quando prescrita a pena, a não-declaração da absolvição
equivaleria a uma condenação indireta, o que, obviamente, seria também
impossível.

Não há, pois, qualquer razão que obrigue o juiz a manifestar-se sobre a
autoria e materialidade do delito, quando prescrita a pretensão punitiva
estatal, podendo fazê-lo exclusivamente nos casos de absolvição se, e
somente se, julgar necessário.
Por todo o exposto, nego provimento ao recurso.

Custas pelo assistente da acusação.

É como voto.

O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

Sr. Presidente, queria registrar que, na sessão passada, ouvi com muita
atenção a sustentação oral brilhante, levada a efeito pelo Dr. Luís Carlos
Parreiras Abritta que, como sempre abrilhantou a tribuna desta sessão de
julgamento com o fulgor de sua inteligência, já reconhecida hoje nos meios
do Direito Penal, em nosso Estado.

A tese levantada pelo Dr. Luís Carlos Parreiras Abritta leva em conta,
muito, hoje, a chamada tendência da vitimologia no processo penal, só que,
até em discussão na sessão que tivemos do encontro dos juízes do Tribunal
de Alçada, na terça-feira passada, nós, juízes aqui do Tribunal, presentes
àquele encontro, colocamo-nos absolutamente contrários a essa inserção da
vitimologia dentro do Processo Penal. Nós entendemos que o Direito Penal
tem uma função que é a proteção de bens jurídicos selecionados pelo
legislador Penal. E o Processo Penal tem a função de levar a cabo uma
resposta ou de condenação, ou de absolvição. Nada mais do que isso, e
que, se o legislador quiser, ele introduz na legislação alguns dispositivos
que nos permitam atender esse aspecto da vítima. Por exemplo, introduziu
a prestação pecuniária, no art. 45, § 1º, que é um dispositivo que leva em
conta, evidentemente, a situação da vítima no processo penal, porque o
agente é condenado a pagar à vítima, ou a seus dependentes um valor que
pode ser de um a trezentos e sessenta salários mínimos.

Agora, em relação a essa questão, coloco-me inteiramente de acordo com o


Relator, é meu posicionamento. É que, tendo havido anulação da sentença
por, inclusive, recurso da defesa, ela só pode se dar em benefício do
acusado. Quer dizer, nunca a sentença pode ter uma pena acima daquela
com a qual o Ministério Público tinha concordado e, por isso,
evidentemente, se nós acolhêssemos a tese de Vossa Excelência, haveria
reformatio in pejus indireta, porque nós permitiríamos ao Juiz de Direito
que, dando uma nova sentença, revalorando as provas, pudesse, inclusive,
aumentar a pena. Se houve a prescrição retroativa porque o marco
interruptivo que é o da publicação da sentença condenatória recorrível, em
cartório, acabou e, sem pretensão punitiva não pode ter ação penal, é por
isso que estou completamente de acordo com o nobre Relator, cujo voto é
uma pérola a nível de Direito Penal e Processo Penal e recomenda sua
publicação.

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Pela ordem.

Quero dizer ao ilustre advogado que, no exame do mérito e como, aqui,


nós também temos entendido, aliás essa proposta foi feita pelo Professor
Alexandre, se eu vislumbrasse absolvição, partiria para a absolvição. A
matéria de absolvição é matéria de ordem pública, mas é que,
evidentemente, com a absolvição ele sairia daqui com uma carta de
alforria, dizendo que foi absolvido daquele fato, que foi imputado pelo
Ministério Público, mas não é o caso.

Estou dando essa explicação porque o meu voto aponta, também, nessa
direção.

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Sr. Presidente, Dr. Erony.

Quero subscrever as palavras do doutor Alexandre, com relação à alta


qualidade de seu voto e o estou acompanhando.

afc
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 324.370-5 - 5/6/2001
BELO HORIZONTE

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»


«comarca»
-16-

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