You are on page 1of 59
André Bazin Charlie Chaplin PPREFACIO DE FRANCOIS TRUFFAUT PosrAcio o& ERic ROHMER radu: ‘André Teles Jorge Zawan Editor Rode laneiro| Til gn Ch ep Tinto sora do Fane poten 200 pCa Cine Copyright© 201, Cahier du Cine Copyih Suton 2006 Iie he aug 14 Riese 8 se (2 2208-0887) 208-0800 ‘cri jr combr owemnhmcraie “Toto dicion msrai, Ards nie strate ean > over pte oii de dsr. 81078) ara de cape® Cale dain CIP Bit Caan te Sait Nal or aoe de Lo pice Chi Chan’ Anke Bes picid Fangs Trin dc Ec Rot nad, Ani ale Ra eo ge Za “Tentagtde Chai Chain TRANS Tinsts¢ 1. Chae, 1899-19772. Anes aie deine Ee Unido} Bsc ps destroy Dia, cop raies Sumario Prefécio or Froncols utfaut Introd a uma simbologia de Carlitos CO tempo fzjustiga a Tempos madornas Pastche e postigo,ou O nada por um bi “Apelo aos homens, por Charlie Chin (© mito de Monier Vrdoue Monsieur Ventoux, ow O mattiriode Casitas No, Verdou nto matou Charlie Chaplin! or Jean Renoir Grandeza de Luzes da ribata Se Carlitos nfo morer. Un rciem Neva York Posticlo Sobre Acondessa de Hong Kong, por ric Rohmer Filmogratia de Charlie Chaplin geo Prefacio por Francois Truffaut (Charlie Chaplin 60 cineasta maiscéebre do mundo,massuaobra ‘quae se tornou a mas misteriosado cinema, A medida queexpi- ravam os direitos de exploragio comercial de seu filmes, Chaplin proibiaadistrbuigio,escaldado, convém esclrecer, por imum veisreedigaespiratas,efsso desde o inicio desuacarrera. As novas _geragies de espectadores que chegavam 36 conheciam O garat, (cinco, Lazes da cidade, O grande ditader, Monsieur Verdows, Les ddaribltade ouvir [Em 1970, Chaplin decid repor em circulaso a quase tots Iidade de sua obra parecendo,portnto,oportunaa publicasio dos tetas de André Bazin sobre ele. Esta reunito permiil acompa- ‘nhas exatamente como se caminha sobre a bitala de wma via fex- +a, a tajetsria de dois pensamentos,o do cineasta eo do escrito. Bazin conheciaa obra de Chaplin como a palma desis mio,oque pode ser constatado ao se lerese lv, Mas possoacrescentaracle 4 maravilhosa recondacio de iiimeras sessbes de cineclubes em aque vi Bazin apresentar a operirios, seminarstas on estudantes Pastor de almar, Ovngebunde ow outros “tol” que ele conhecia de core quedescreviaantecipadamente semalteraro efeto-surpress; Bazin flava de Chaplin melhor que ninguém, sus dialtcaver~ tiginosasomava-se aa prazercom qu fia sto. ‘Ao contritio de Erie Rohmer ~ de quem adi sem seser~ vaso magnifico texto que aceitou eserever sobre A candessa de Hang Kong afr de atalizar este lero -, nunca me ego contra 0 & status especial concedida & Charlie Chaplin na histria do ci- ‘nema,nao somentea.escrita,mas também aque se alae que esta belece rept Durante os anos que precederam a invengio do cinema fi lado, pessoas no mundo inti, principalmente escritores int lectus, zombavam e desdenbavam do cinema, i qu iam ape- ns uma atracio de parque oa uma arte menor. Talersvam apenas ‘uma exces, Charlie Chaplin ~ ecompreendo que iso parecesse dios a todos aqueles que tinhum visto com atengio os filmes de Grifith,Steoheim e Keaton, Foi a polémica em torno do tema: findadonalembrangs Etouprssmn ancora cones Tomo made- rercomoundometarerlnguemergendeCartoyomehrtie rola Landed, Longe de the tirade, Temps mera aver, a0 conti, © Fame cm ie oto dune eset mas comandando oes das seat Sori. Aintree minsindetestnhacSvcada ga pair do extrac Ivesamente¢aimertibie oes desta que a ig, pious asa pegando fog. A mimica do desespera ea conograia ds dor achamaliua mais peritacxpesso, com observavaean-Lovis Barat na imobilidade Esainflesto da qualidade nos pensltimos filmes de Chaplin ‘em geal expicada pelo parstisma da ideoogi,Stbemos que ‘Chaplin tem pretensdes a ilsofa socal e nao eofenderoartsa judas eo simpsicas quanto obscureedoras Vernon clarameste aque Carlts plcial ou mesmo Em buts de our nada quem demonsrar paso que Tepes moderns,Ograndediadore Mon- sar Verdousteelas iidamente “inten e"teses" Pressing samo delas de bom grado, mas esta saber se ma importincia aque lhesatribuem. Na medida em que um tse qualquer da vida a personage, ela assume o lugar domito tend adesloc-o.A contologia cdo her destrua, Porm, gragasa Deus, cia dest ono se produetako quant se poeiacrerO mito resists pressonadoe consrangido pels ideas de Chapin, encontea no nio do mesmo Chaplin meio de esapare essugirem outra parte, tlvezatéarevelin do aur ‘Maso simbolismo do peronagem ¢ mais complisado,con- ‘im dedusi-lo no apenas dat lage do peronagem ed sitt~ ¢o,mas também do personagem com atese€ aro que um geo, um indo qualquer eimprevist no revelem gue Carlitos acaba por tratara propia ida como uma cos, como um objeto que eve into na epresntagio,O globo teste de O grande ‘aslo constiutva da personalidad tear Nuncasaberemosdefato seCalverotnhatalentoye ele proprio ainda menos que nds, O que prov a apoteose que reebe por parte dos amigos que se lembram del ‘emogio coleiva ben semelhanteaquela de que se beneficia Luzes Vio entra nissojustamente uma 2 avibttapelaviagem de Chaplin? O que aletal presonceito fivo- rivel?E se ado € a simpatia do publico, nfo sera o alcool? Essa interrogaco sobre si mesmo que est no cern do clown com ator, CCalvero a repudiaeimplora porela. Ao emvelhecer dizem aspirs- se dignidade.O histriiogumpouco menosqueumhomem,jique precisa dos outros para se realizar, que esti sempre A merc dees A sabedoria de Calveroenvelhecido consist, ao mesmo tempo,em atingiraserenidadeparaalém do sucesso edo fracasso,sem comisto enegaraarte.A vida,ele osabe eafrma,a vidaem todas simpli- ‘dade, €obem supremo,mas quem é marcado pela arte ao pode -maissenuncaraels."Nio goto do teatro” diz Calves, "ms tam= pouco suportoa visio do sangue que ceca em minkas vas.” (© tema do teatro eda vida apreendid em tod sua ambigii- dade combina-secom orem faustiano da veice.Foio cool que levou Calvero& perdigio, mas €idade que o impede de voltar a pr os pés, ainda que modestumente, sobre o ablado. Do mesmo modo, Luzes da ihalta no & exatarnente a histria da decadéncia| de um clown, as selagdes de Calvero e Therezando se redzem & rentincia da velhie dante da venrude, Bm primeito Iugas, por {que no € certo que’Thereza ame Calvero de verdade, Ali quem a convence da improbabilidade de seu sentimento, De ambos, em todo cis, é ele quem tem 0 corasio mais livre, o que éele sofe menos com a separagio; a velhice no € em absoluto uma impoténcia, ela encerea mas orga ef na vida que ajwentude de ‘Thereza,Calvero 0 anti-Fausto,o homem que sabe envelhecere renuneiar i Margarida que sua idade avancada seduciu, E, no centano, Las daribaltaé também s maisemocionante das tage dias da velhice,o que fie claro & lembranga daquelas imagens addmiriveis em que toda a lasidio do mundo passs pela miscara ‘extenuadacacenaem que ele desfaza maquiagem nocamarim, 0 do velho clown inguieto crrando pelas cous durante o bal Se compararmos agora Calvero a0 priprio Chaplin, como 0 ‘tema nos incta 2s ambiguidades da obra se mostram num se~ undo nivel. Poisafinal, Calero éaomesmo tempo Chapline seu ‘posto. Em primeiro lugar, so acontece pla identdade irefté- veldostostos.Nio€ umacaso que Chaplin atve aqui pela primeira ver de rosto nue nos conte istria de um clown que envlhece Porém, 20 mesmo tempo, a eaidade de Chaplin ¢ justo 0 oposto do Facasso de Calvero: tanto em sua arte como em sua vida, Cha~ plin€ um Calveoeuja glia fabulosando conheceu eclipse e que ‘se casou,aossessentaanos,com uma jovem de dezoito,snitopare- ida com Thereza, com quem teve cinco belosfilhos. Porém, a sabedoria critica de Calvero em suas desgragas no deve se 80 diferente da do se. Chaplin, cumulado de sucesso amor E citi nao verem Calveroasombra projerada de Chaplin o queo mais presigioso autorde todos os tempos poderia ter sido se 1 sucesso tivese abandonado (como ahandonou Keston, pot exemplo)ese Oona, menosseguradesi prpria tveseacreditado, como’Thereza, que eu amor nao passava de uma grande pied, PPorém, ao mesmo tempo, convém admitir que,em sua felicidad, Chaplin soube torr sbedoria que Ihe tera permit suportar asorte de Calvero;caso contri, onde Calero iraadquii-la? No entanto, também devemos pensar que essa perspectvafiz Chapin tremer, que ela obcec suas noites;se mo, porque teri feito Luses deviate? PoisLazerdariltréclaramente algo como umexorcsmo do destino de seu autor. Calvero & ao mesmo tempo.o med de Cha plin e sua vtdria sobre o medo. Dupla visa, em primeir lugar Prgue ofantasma do fracasso ali se encontra objetivad, enc. rnd justamente por aquelea see por ele assomibrados depos, por- {que oartista decadent do filme tem forga sufciente paa recupe- ‘ara serenidade:a de se jusifiear no sucesso de oto javem ser 0 5 i a 5 i chaie hata ue dard coninuidade su vemura. Quando acimera se afta {ke Cairo mort nas coxis ee unt, no plo, bilan que dangaadespeito desis ds omovmento parce semiramiraglo dasalmas:otenteavida conti. “Toeamos ag na oiginalidade fundamental de Lae da r= data se ad “confi” oa "erate do a”, om que algun 5 escandalzam.Estfatoroentanto hnnzotempo éxdiidona literal Nao estou fino apenas dos iris tein co propa explo et, mas de diversas obra omanescs para ts quis biograia do autor € mas ov menos trnspot.E, por Sinala bras mais impessoais em sempre do emis recatades Li Daca leben nos Cais de Cinema. propio de Lae da rialtaeta ase de Vitoria do pico de Corer it Sica“ Toda obra sempre uma atohingri,cxtjamosfalando de Géngjs Khan on do cemitro de Nora Orleans." Flabere “Madame Boarysove.°O fit sSepantaouexcndaizporgue setraade cinema, ees espanto em dus explicses Em rimeirs gar seat nvidade - ainda que aobrade um Stein, porexerplo.ounaFrangaadeum ean Vigosjam igulmente pepe confsato moral. verdad que arefe- rena mo cra to epi, Primo carter mais pessoal das confides de Chapin constuiamprogrss.sna prov damarridad desuaareCat- Titosno pasaade uma sits moral ummarhowoagregado desimbolos su exist toda merafcneraa doit Ji Mor- ser Verdows supa uma relagio dialétca entre mito seus- torsumaconscinca de arltosexteriorao pesonagem. Paraslém Asso, restava a Chaplin abandonar 2 mascara nos ilar cara a cara, rasto descoerto, Todo 0 mundo admite, de resto, que & Jmpossve, a0 assist a Luzes da vial, fuer abstragao do que salbemos de Carlitos e de Chaplin, masa principio, esse conheci= mento no em esséncia diferente daquele para 0 qual rende toda _acitca contemporinea a respite das obras-primas, uma vez que clase empenha em slimentar nossa admiras30 mostrando um co- snhecimento cada ver mais profundado da biograia de seusauto- 1s, Mo que ess biogratia satu objetivoem simesma,mas por- {que permite a descoberta de novasreferéncias que escarecem & cenriquecem o sentido da obra, No caso de Chaplin, o procesto€simplesmente 0 oposto. A prodigioss popularidade de seu autor ede sua obra anterior coloca espectador contemporineo numa situasio privilegiada de que a _gerasdo seguinte nose beneficiari. Muitosjovensde quinze avin~ teanos indo tem maisnosasreferéncias, sendoincapazesdecon- Frontar,em suas lembrangas,Calvero cua micologiachapliniana Isso quer diver que Luzes da vibalta 36 tem valor elativamente a Carlitos ea Chaplin, que sua sgnifcagio desaparecers com 0 ‘tempo? De forma alguma,assim como asobrasdecarterautobio- _tifico nioexigem um conhecimento aprofundado da histria Titec. A Balada docnfisadosde Villon ons Confer de Rous- scau podem ser lds sem mantis. Muitos romances ou pegas ‘fest esquesidosponque seuintereseresidiz apenas na indisri= ‘so ou na curiosidade, mas esta sua diferenga em relagios obras de valorem que o autor vinculow a condo humana sua ppeia Se rencontrissemor Jared rialte dai a cem anos eno tivéssemos mais vesigios ce Chaplin ede su obra, bastaria esse roto, a melancolia profunda desseolhar, paa sabermos que, do slém, uns homem nos fila desi mesmo, omando-nos como teste~ muha le sua propria vida, porque clatambemés nonsa,Queatela sinda no nos tena dado exemplo tio evidente de autobiografia ‘wansposta deve-se prinsipalmente a dois fatos. Os verdadeiros autores sio raos no cinema, a imensa maioria dos dretorescine- matogrificos, mesmo entre os mais geniais, ainda esti longe da liberdade criadora do esritor.O cineasta, mesmo quando ¢ set proprio rotcirsta, permanece sobretudo ¢ em primero lugar um *dirctr’ sto &,um meste-de-obnas que organiza elementos be tivos,Bssas condigdes de trabalho sto suficientes para justiicara cago aristicaerevelar um estilo, mas ainda no & essa dentifi- «aso total, essa aderéncabiokgica, que desobrimos freqiente- mente nas outas artes: de Van Gogh esa pintura, de Kafka ¢ ‘Claude Mauriac esereveu muito acetadamentesobre Chapin «que le se servia do cinema, enquanto os outros aziam serio, E que ele & 0 Artista na acepsio mais plena da palavra aquele que trade gual para igual oma Are, Se porventura se exprime pelo inema,ssonio em absoluto por uma wocagio particular paraessa forma de expresso, porque seu talento e seus dons se adaptem snthor cle qu literature, por exemplo, mas ponqueo cinema a nals fica ds artes para. a mensagem de que cle ¢ portador. (Os grandes artistas do final do século XVI eram, em primeizo lugar, pntorese arquitetos, poi pinta ea arqutetura eran artedeseu tempo. Masaquela apenas constituaaa melhor manciea deseratitaendodeserviraumaartedeterminada _gagas a essa auséncia de humildade, no diante da arte, mas das formas especializadaspelas quais ela se especifcaatuamente, que arte por exeléncia do Renascimento, sto €apintura, feta ‘hos progrestos. Da Vinci no era pinto assim como Michelan elo mio era escultoreram apenas artistas, Se Chaplin ~que com Pe, filosofa nas horas vagas © até desenha tum poco ~ fase um _misico mediocre, um filsofopifio e um pintor de domingo, isso ‘no teria importincia agua o esencial no € a iberdade abje- tiva daescolha de Chaplin pelo cinema, mas liberdade subjetva de suas relagies com a arte por exceléncia do século XX, cinema, (Com a resale, talver, de que até agora Chaplin nos deu o exem= plo de um iador que subordinow totalmente o nema ao que tinha a dizer sem se preocupar em se conformar com qualquer specificidade da técnica, 0 que alguns ainda he critcam ~ os que adei- temaconfiénciae tert, porguela pass pelo conesional atingusger, ona jugar indecent a continio publica, Arte do cpeticlo hiperboledencanasiopela monstrosapoximidade fsca da iagem,o cinema ¢ de ato prior aman obscena das artes. Requer por iv mesmo o msimo de pudor, a miscara eo disuse do estilo, do tema ou da maguiagem. Chaplin em Las da ibalta despjn-sptamtade dos dois primeirse totalmente do tect Eee home, So scugénioparsimporelevaracabocmprecndimento tio udicoso que tiara se sentido d prea populridade do mito chapinianoe que, portato, comportaa em suas pimicias © maximo de riso ef term de ongulhoeindectnsia.Temos na Franga uma caricarura sso com Sacha Guiry Claro quecte pre isriadoamor dopablce parafalrdesiprprioadezenasde mi thoes de homens com tant seriedadeeconvicgo;s6 le também para tirara miscara que fer amado,Contudo,o mais adieiel oss, & que Lae da bala sj, apart dessas referencias pesos, obra ho ardent e pura qu vemos; que a anscen- dncia da mensagens, longe de ica pes pla sua encarnagio, tena, a conti, lemento mis esprit desu orga A randeaa de Lace daria contnde-s ag coma pra ane deza do cine, sendo a manifesto mas esplandecente de soa ‘extn, qe: aabstrigopelzencanaso E provive quesomente aposgio nica de Chaplin 2 univer: salidade ea vialidade de seu mito (nao esquecamos que ee anda hoje € panithado pelo mundo comunist cident) para dae a i i i i hate chap snedida dialéticn do cinema, Sdrates do séeulo XX, Chaplin-Cal- vero bebe a cicuta em public, o Publica, masa sabedoria de sua morte nio rede plavra,residindo antes esobretudo no espe culo que faz dela, usando se fandir na ambiguidade carnal da imagem cinematogrifca:"Vejam e saibam!” Falarde indecéncia aqui tisévio; a contri, devernos nos raravlharque,pelagraa do cinema edo ni de Chaplin ver- dlade mais simples e mais profunda tenha um rosto, no mais odo ator (¢ que ator!), mas de um homem que todos nis amamos € conhecemos, um oste que nos fala pessoalment, cara a cara no segredo dos coragdes eda escuridio. Chaplin € nico cineasa que cobre quarenta anos da hists~ ria do cinema. O género no qual ele estreo e truafou, 0 cSmico burlesco,jé estava em decadéncia antes do surgimento do cinema falado, O som acabou com Harry Langdon e Buster Keaton, que no conseguiram de ito sobreviver an géneroem que haviam sido sgeninis, A vida de um Strobeim como dretornfoultrapassoucin- ‘oan. A durasio média do génio cinematogrifio situa-s,alis, ‘entre cinco e quinze anos, Os que se mantém mais tempo devern| lssoaum eapitito de deicadeza que resulta mas da intligéncia € dortalento que do genio. Chaplin sozinho soube, nfo digo se adapter evolugio do cinerna, mas continuar a sero cinema, Desde Temps moderna, lita de suas produsdes vind diretamente da evolugto do gé- nero primitivo de Mack Sennett, timo também de seus filmes virualmente mudlos, Chaplin na parou de avancar no desconhe= ido, de inventar o cinema em selasio as prprio. Peto de Luzes dd ribalta, todos o tos filmes, mesma os que mais admiramos, arecem: convenienteseconvencionaise,porum ldo, exprimem sestautor ce procedem deum estilo pessoal, por outro, sus origina- lidade ainda permanece parcial, conformando-se ainda assim a certs hibitos do cinema, deinindo-se por referénsia s conven Bes em cur, ainda que a cas se opondo. Luzes da rbalta nto se parece com nada ~ em primeir lugar sobretudo com nada que Chapin fe. Seria pouco dizer que esse homem de sessenta e quatro anos permanece na vanguarda do cinema, Com um nico golpe ele se colocaalfrente de todos, permanecendo mais quenuncao exemple ‘costimbola da iberdade de cragio na menoslive das artes. (Quoete qu leinéma?,.10,p.119-32) Liver da rialta& uma obra bers Se Carlitos nado morrer... us ion oad ‘ovigienaoeacalé ‘erence maisdesconcertanteque Manicur Vero clo qual bastava desven~ dar o seg, isto a verdadeira identidade do protagonist, Para isso hastava un relance. Depois himfr de Mid Hine de entific, tudo carinbava {Ore sm ‘Adina de Xp sozinho. Ao contririo, o que desde 0 inisio desarmacm Lazesdaribal- ta 0 costo lavado de Chaplin. Decesto Chaplin no estava aust de seus ultimos filmes, sua presenga Fagidia ou secreta ao lado de Carlitos desempenhava inclusive papel essencial na nav eficcia do mito, Do mesmo modo, desde o uso da pelicula pancromitica, a mascara de Catlitos ni aderia mais perfeita- ‘niente ao osto de Chaplin. Ou, caso se prefs, aderia excessiva~ sented forma que discerniamossoba maquiagem asimpercep~ tives gus a brags patéica da Fisionomia, ‘Mais que o som, talvez foo fin do cinema preto-e-branco puro que determinow a evolu de Calitos. A aparigao do cin- zento minavao prépro principio do mito, assim comoa técnica da pinturaa leo, ao ngendearoclaro-escuro, substitu aiconogra~ fia metaisca da Idade Média por uma arte descr psiol6~ _gcaAssim,apartrde L scrislda de Chaplin Em Ograndeditador, qualquer divida dissipou-se,eo grande dacidade, Catiosjisehaviatomado plano final nos fia assisir mutase perturbadora da mascara cm seu rosto, Monsieur Vedeus talver no fosse postive sem essa issociagio, Embora 0 personagem somente sja compreendido cm oferéncia a Carlitos, ao mito do qual ele €a imager negatva, ‘0, c880 se prefira, emborao papel de Verdous sia interpretado cessencialmente por Chapin, este ilkimo oferecia sua cumplicix dade operago, como para melhor desviar as suspeitas. Detodo modo, tinhamosaté aqui dois slides pontos de ref rnciaramiscara de Carlitos eorostodeChaplin.A psicologiaele- sentarj diz que os atoresenvelhecem na rardo inversa de sua «elebridade. A rigor,como diz Gloria Swanson em Crepisc der dese as esteelas no envelhecem Agumas rugs esbatidas pela maquiagem e uma mecha de eabelos brancos ainda nto compro metiamemn O grande ditador imagem que guardvamos das foto- sgrafias dem Chaplin de rintaou quarentaanos. Masailusionio ‘xu mais possve.O primeira filme inexpretado sem maquiagem pelogrunde ator Charles Spencer Chaplin também presisamente aquele em que no reconhecemos mas eu rosto. Em todo cas0,0 primeire que nos abrign a abandonar 0 ponto de referéncia dx ‘eterna marusidade de Chaplin, A obra mostrou grandeza einteligncia ao ter ousado se funda~ rmentar exatumente no gue a principio nea surpreendesa dade do atorBis,em todo caso, alguém que sabe envehecer(e sem presi- sarce aposentar!}, Mas ee provavelmente no tinha outea sida, 2 partir do momento em que tomava como tema a velhice,sendo abandonaro estilo de suas obras anteriores pelo realismo do dra~ ‘ma, A velhice certamente pode serum tema de comédieatémes- mode farss, mas rio sua pripriavelhie, Como Carlitos nio podia cemvelhecer incapaz,inclasive por maturcza de sequer manterqual- ‘quer elagao como problema da dade, convinha forgosamente que Chaplin tomas partido de sir do citculo da esilizagio, aban Adonasseo sistema dramtico a0 qual toda sua obra a excegio de Casamente ou hve? se refer eque oda comédia de personagens fixos sida da commedia dele Porém, ao abandonar a esilizaio pelo drama realist, Cha plin nto pia fazer com que este saisse do proprio ambito de gr vitago de seus mites. Do mesmo modo, a simples letura do ro~ teirobastara para nos ceposicionar quanto iso, Decertoaauto- Diografia ali apenas indieta,residindo s6:na presenga dos temas, « no, evidentemente, em seu desenvolvimento dramitico, Cha plin,em certo sentido, ¢o exato contro de Calvero,uma vez que ‘mundo no exqueceu seu nome e que ele & 0 marido de uma ‘mulher bem over que Ihe du tés fils, Mas como nao suspei= tar entretanto, que Chaplin exorcie, por meio da decadéncis de CCalvero,uin certo medo de sa propriavelhice? Eletemtudooque filtaa Calvero:agleri, a fortuna, oamoreasatde,excetoajuven tude...que tornazairemediivel oda mudanga de destino io vedeve esquecer que Monsieur Ferdousfoi um grande fa caso comersal (cezentose cingienta mil dlares de recta bruta ‘os Estados Unidos) eum triste fracas crtico. Se Chaplin resol- veusero garoto-propaganda de Lazesdarbalta,talvez tena sido por outrasrazdes também nas certamente porque o xito morale comercial dese filme torou-se agora questi vital paraele. Assim ese drama ~ poderiamos até dizer melodrama sea palavra no houvesse assum um sentido peforativo ~esti pelo ‘stlo & margem da obra cdmica de Chaplin. Mas, ao contirio de Catamento cr fuse?,a0 qual pesariamos entio compars-l, pat cipa assim mesmo de sua mitologia, Queiramos ou no, apenas endo aqapalaaest na senidaben passe quetedisingcente trig eestlomice, oreo Olu fie sect scence pla reo de umes, mais ou menos conscientemente, no podemos cvitar de comparar (Calveronavidae no palo Chaplinea Carlitos. Daidecorte por ‘ao, parece-me,aperturbago em que uma primera projegio do filme pode legitimamentenos mergulhar Reals, Luzesdavibalta recolhe uma parcels de nossa emosio na comparigio com obras

You might also like