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BOLETIM

INFORMATIVO Programa
Introdução teórica com debate

OFICINA DE Excerto do filme “Uma verdade mais


que inconveniente”
SABORES: (Meat the Truth)
Confecção de pão de bolota, focáccia

A COZINHA de queijo e nozes, sopa Vichyssoise à


minha moda, tortilha de legumes, pata-
SUSTENTÁVEL niscas de lentilhas, croquetes de aveia,
salada com ervas e flores silvestres, alho
francês à Brás, seitan, bifinhos marina-
A Oficina dos Sabores: "A Cozinha Sustentável" terá dos, tarte de labaças, mousse saudável,
a participação especial de Isaura Silva, antropóloga de profissão bolo de maçã integral decorado com
mas uma apaixonada pela cozinha, que irá partilhar alguns dos seus flores cristalizadas
conhecimentos, tais como:
- combinação de alimentos (compatibilidades/incompatibilidades) Jantar convívio
- o equilíbrio ácido-básico na dieta, aprender a manter o nosso corpo
alcalino
- a importância de cuidar o nosso intestino (limpeza, jejuns, etc) como Quando?
base da saúde
- as diversas formas de preparar o nosso alimento e os seus efeitos (ao 27 de Junho - domingo
vapor, no forno, saltear)
- os hábitos relacionados ao acto de comer (atitude, estado anímico)
- é possível ter uma dieta equilibrada sem o consumo de alimentos de Onde?
origem animal? Sede da Associação Cultural,
Desportiva, Recreativa
Iremos ainda abordar a industrialização da produção de alimentos, de Melhoramentos do Pereiro
a contaminação dos alimentos, os alimentos transgénicos, os alimentos
silvestres, a dieta mediterrânica, a pesca, hábitos alimentares e produção (Vilar - Cadaval)
de resíduos e consumo de água e energia, desigualdades no acesso a ali-
mentos.
Inscrições pelo Tel 262 771 060 ou e-mail: mpicambiente@gmail.com Hora início?
15 h

Editorial Nesta edição:


É com agrado que registo o sucesso das últimas actividades da nossa associação. De Oficina Fabrico de Pão 2
facto, a adesão e interesse das pessoas que se inscreveram mostraram que foi uma aposta
ganha a organização das Oficinas de Formação de Fabrico Tradicional de Pão. 3
Comer com Gosto
A industrialização da produção de alimentos e a comercialização em grandes superfí-
cies foram distanciando-nos da verdadeira essência dos alimentos, pelo que urge recupe-
Diversidade Planetária 4
rar saberes ancestrais. Por outro lado, para sermos saudáveis precisamos antes de mais de
alimentos saudáveis e isso só é possível com uma produção (e comercialização) de proxi-
midade, para além de práticas agrícolas adequadas, como a produção em modo biológico. Madeira Livre de OGM 5
Nós temos um papel fulcral, na medida em que, enquanto houver clientes (o mesmo é
dizer consumidores, que somos todos nós) haverá cultivo de variedades agrícolas tradi- Proteger as Florestas 6
cionais, haverá moinhos e o pão voltará a ser nutritivo e saudável como o foi outrora. Ao
darmos o devido valor aos nossos produtos com qualidade estamos ainda a contribuir Breves 7
para a economia local e soberania alimentar de Portugal, isto é, a reduzir a nossa depen-
dência da importação de alimentos. Ou será que apenas quando as prateleiras dos super- Espaço Jovem Atento 8
mercados deixarem de estar sempre cheias com o que importamos, por um qualquer moti-
vo (e poderão ser muitos: crise dos combustíveis, dos transportes, quebra de produção
devido às alterações climáticas, etc) é que vamos dar o devido valor àquilo que se pode, e Ano 6, N.º 20
deve, produzir cá? Junho de 2010
A presidente da Direcção
Mª Alexandra Azevedo
http://mpica.info
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BALANÇO DAS OFICINAS DE FORMAÇÃO DE FABRICO TRADICIONAL DE PÃO

Conforme divulgado realizou-se


uma Oficina de Formação de Fabri-
co Tradicional de Pão no dia 18 de
Abril e dada receptividade que rece-
bemos decidiu-se repetir no dia 23
de Maio.
Devido ao mau tempo a primeira
oficina decorreu no moinho de Aviz
(Serra de Montejunto), reconstruído
e propriedade de Miguel Luís Nobre
(www.arteaovento.com.pt) na parte
da manhã e depois a parte da tarde
foi passada na azenha do moleiro
José Tavares Soares, mais conheci-
do por “Zé Moleiro”, enquanto que
a segunda oficina decorreu apenas no moinho de Aviz.
O programa teve inicio com uma introdução teórica com as intervenções de Alexandra Azevedo (MPI) e do agri-
cultor João Vieira (dirigente da Associação de Agricultores do
Distrito de Lisboa e da CNA – Confederação Nacional de
Agricultura), a preparação de massas, que reflectiu um pouco
nas transformações que têm ocorrido na agricultura nas últimas
décadas, primeiro a Revolução Verde (aumento da produção
com o recurso aos adubos químicos e pesticidas) a que sucede
a Revolução Biotecnológica (cultivo de transgénicos). A amea-
ça dos transgénicos para a agricultura e a saúde das popula-
ções, a lógica da competitividade imposta aos agricultores, sem
olhar ao prejuízo a outros níveis, como a perda de variedades
de espécies agrícolas (agrobiodiversidade), abandono da terra
pelos agricultores “não competitivos”, perda de conhecimentos
ancestrais, erosão do solo e contaminação química (pesticidas e
fertilizantes químicos) foram alguns dos aspectos realçados.
João Vieira mostrou ainda as suas sementes de variedades tra-
dicionais que todos os anos continua a semear para que não desapa-
reçam.
Seguiu-se a preparação das massas de pão em que usou a lêveda
natural e algumas variedades tradicionais, como a espelta e os trigos
Almansor, Barbela e Maçaroco.
Da ementa servida ao almoço destacamos coelho e grão guisados
com ervas aromáticas (especialidades do senhor Manuel Batista,
moleiro e padeiro), queijos frescos de cabra e, claro, o pão de múlti-
plas variedades, onde não faltou o pão de bolota de azinheira, pão de
bolota de carvalho, focáccia de queijo e nozes e focáccia de azeito-
nas. Os produtos biológicos produzidos local/regionalmente predo-
minaram nesta refeição que foi do agrado de todos.
À tarde, falou-se da moagem tradicional tendo o senhor “Zé
Moleiro” e o Miguel Luís Nobre falado da arte e de histórias de moi-
nhos, na primeira e segunda Oficina respectivamente. Terminando-
se com a cozedura em forno de lenha das massas preparadas antes do
almoço e a degustação do pão obtido.
Estas Oficinas foram na realidade viagens no tempo, nos sabores
e nas ideias!
n.º 20 - Junho de 2010 BOLETIM INFORMATIVO MPI Página 3

ARTIGO: COMER COM GOSTO


Publicamos um artigo escrito por Margarida Silva, bióloga, professora na Escola Superior de Biotecnologia –
Universidade Católica do Porto, que consideramos de grande importância pelos alertas que nos deixa sobre o que
comemos numa linguagem acessível a todas as pessoas.
“Deve haver poucas pessoas que não gostem de comer, e eu não sou uma delas. Gosto de experimentar receitas
das sobremesas mais exóticas, amassar pão à procura do mais genuíno sabor, ficar-me esquecida nas livrarias a apre-
ciar livros de cozinha recheados de resultados impossíveis de obter em casa. Mas não sou de olhar só para o resulta-
do: os meus ingredientes escolho-os com cuidado e atenção porque é a minha família, a saúde e boa disposição de
todos, que está em causa. E, neste capítulo, sou muito tradicional: procuro o melhor, sem compromisso. Por exemplo,
se olho para a lista de ingredientes de uma embalagem de comida e vejo números além dos nomes... é porque foi fei-
to no laboratório e não no campo. E o que sai do laboratório, pela minha lógica, não pode ser comida.
Mas mesmo eliminando o que inclui números ainda sobra muita coisa que não entra no meu carrinho de compras.
Por exemplo, não aprovo ingredientes que, há cem anos apenas, ninguém usaria na cozinha, mesmo se começarem
pela palavra Vitamina, ou jurarem que fazem bem aos intestinos. E depois ainda há aquelas comidas que se querem
fazer passar por outras - chamo-lhes os travestis. Margarina e bolachas com "sabor" a chocolate são bons exemplos,
mas os adoçantes que querem fazer de conta que são açúcar para poupar nas calorias são talvez daqueles a quem
mais cuidadosamente barro a porta de casa. Quando tenho dúvidas, aplico uns testes muito simples: pode ser produ-
zido numa quinta, ou pescado no mar? Percebo como passa do estado original para a embalagem final? Se a resposta
é não, é porque não é para mim. Isso leva-me a passar ao lado de quase todo o pão dos supermercados e padarias,
repleto que está de "melhorantes" e "enzimas", ou ainda da míriade de outros alimentos com espessantes, corantes,
estabilizantes ou demais maravilhas da tecnologia alimentar.
Claro, a maneira como a comida é processada também conta, não basta escrutinar os ingredientes. A radioactivi-
dade, por exemplo, pode ter muitos fins úteis, mas comida irradiada rima com comida doente... e que nos põe doen-
tes a nós. E a aplicação de radiação electromagnética (vulgo forno de microondas) garantidamente também não foi
pensada para nos trazer mais saúde. Quanto ao leite UHT, o tal que ainda está igual a si próprio mesmo após seis
meses de esquecimento no fundo do armário, bem, arranjem leite do dia pasteurizado, encham um copo de cada um e
façam o teste à família toda, a ver se não distinguem o que ainda sabe a leite daquele que do leite já só tem o aspecto.
Na busca da comida como "nos bons velhos tempos", gosto de reparar também nos ingredientes "invisíveis". Pre-
firo, tal como a restante população europeia, que as minhas hortaliças sejam sem pesticidas, o meu leite sem antibió-
ticos e a minha carne sem hormonas... mesmo se trouxerem o selo europeu de autorizado. Se for do campo e não de
aviário ou de aquacultura, melhor. E sendo colhido e comido na época, melhor ainda.
E que dizer da mais moderna de todas as invenções alimentares, os alimentos geneticamente modificados, ou
transgénicos? Já ouvi as sete maravilhas sobre eles: mais nutritivos, mais duradouros, mais limpos de pesticidas,
muito estudados e seguros, até a fome no mundo e a crise energética (através de biocombustíveis) eles se preparam
para resolver. Mas eu confesso: a primeira vez que comprei óleo de soja e depois verifiquei pelo rótulo que continha
soja geneticamente modificada senti um aperto abaixo do estômago que nunca me engana. Esta comida transgénica
pode ser apropriada para cobaias de laboratório, mas não é comida de gente. Mas claro, o problema é poder escolher.
Para já anda por aí soja e milho transgénico, mas já este ano a Comissão Europeia pretende aprovar arroz transgéni-
co. Arroz! O mais castiço dos cereais que comemos em Portugal!
Fui informar-me e fiquei a saber que os portugueses são os "chineses" da Europa: cada um de nós come em média
17 quilos de arroz por ano, enquanto os italianos, que estão em segundo lugar atrás de nós, não comem mais que uns
míseros sete quilos. Os dinamarqueses, coitados, não sabem o que é arroz doce e não vão além de quilo e meio por
ano. E agora, querem abrir a nossa porta ao arroz transgénico?! Isso é, para a gastronomia, o mesmo que deitar abai-
xo o Mosteiro dos Jerónimos seria para a nossa história e cultura!
Senhor Ministro da Agricultura: espero que goste de arroz de ervilhas, de arroz malandro, de arroz de forno e de
arroz de pato. Espero, em suma, que goste de arroz, porque ser português também é isso: durante a última grande
guerra devemos em grande parte ao arroz a nossa sobrevivência alimentar. Quando se sentar em Bruxelas e chegar a
vez de votar o arroz transgénico, Senhor Ministro, vote por nós.
Margarida Silva, bióloga
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DIVERSIDADE PLANETÁRIA
CONGRESSO MUNDIAL SOBRE O FUTURO DA ALIMENTAÇÃO E DA AGRICULTURA

Neste ano Internacional da Biodiversidade e em que decorre o debate público sobre o futuro da PAC, achámos
pertinente apresentar um resumo do congresso "Planeta Diversidade", realizado em Bona, Alemanha, de 12 a 16 de
Maio de 2008, que reuniu representantes de movimentos de base, locais e regionais, e as instituições que trabalham
na tradição agrícola e alimentar, assim como na inovação e na reconciliação baseadas na diversidade cultural e bioló-
gica.
Este Congresso decorreu à margem da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade (mais conhecido
como o Protocolo de Cartagena) pela causa comum da defesa da diversidade contra as tendências destrutivas e amea-
çadoras na agricultura, desenvolvimento rural e produção de alimentos.
Alguns dos temas chave discutidos foram: a soberania alimentar, o acesso a alimentos, água e solo saudáveis para
as populações, os direitos dos consumidores e relações justas com produtores, as tradições alimentares e agrícolas e a
sua qualidade, produção alimentar e zonas livres de transgénicos, as mulheres e a agricultura, o livre intercâmbio de
sementes e o melhoramento participativo, o livre intercâmbio de conhecimentos e a diversidade, o fim das patentes
sobre a vida, agrocombustíveis versus segurança alimentar, a agro-ecologia e a inovação em agricultura biológica, as
hortas da esperança, os direitos e saberes indígenas, a diversidade cultural e espiritual, as sementes Terminator, árvo-
res geneticamente modificadas, biologia sintética e outras novas tecnologias que ameaçam a diversidade".
Acorreram ao apelo 679 pessoas de 93 países, representando muitas dezenas de Organizações não Governamen-
tais do ambiente, consumidores e agricultores, pessoas/activistas e cientistas. Estiveram presentes 6 representantes
portugueses: Irina Maia da GENET (uma das entidades organizadoras), José Amorim e Sabine Mengel, da Colher
para Semear, Nuno Belchior e Tânia Simões do Projecto 270 e Johan Diels do GAIA.
Do programa constou uma manifestação em frente do local onde estavam reunidos os representantes dos governos
dos países parceiros (mais de 190) nas negociações das Nações Unidas sobre a Convenção da Biodiversidade. As
negociações versavam a extinção de espécies, a engenharia genética, o controlo das sementes, áreas sobreprotegidas
e diversidade agrícola, questões de sobrevivência. As principais palavras de ordem dos mais de 6.000 manifestantes
eram: "Pelo direito humano a uma alimentação adequada, diversa e saudável – contra o mau uso da agricultura
para agro-combustíveis, e outras matérias-primas para especulação internacional", "Pelo direito dos consumidores
e agricultores a decidir – contra experiências genéticas com a nossa alimentação e o nosso ambiente", "Pela livre
troca de sementes e conhecimentos agrícolas – contra as patentes sobre a vida e biopirataria", " Pela preservação
da diversidade regional – contra as monoculturas da agro-indústria e o genocídio mundial dos pequenos agriculto-
res", "Pela diversidade biológica – regional, justa e livre de OGM!"

Seguiram-se discursos de representantes de organizações participantes. Entre outros: Vieira Gentil Couto, da Via
Campesina e MST – Movimento dos Trabalhadores sem Terra, do Brasil, Percy Schmeiser, o agricultor canadiano
que ganhou o processo contra a Monsanto, Vananda Shiva (Índia).
Seguiu-se o Festival da Biodiversidade, uma enorme exposição ao ar livre com stands de produtores agrícolas e
guardiãos de sementes, organizações, artesãos, empresas, restaurantes, música, animação, discursos, etc.
O congresso teve um intenso programa de conferências e workshops durante 3 dias, em várias línguas, principal-
mente inglês, alemão, francês e espanhol (na lista dos voluntários que ajudaram na organização constavam mais de
20 tradutores).
No site do evento http://www.planet-diversity.org/é possível tomar conhecimento dos resumos das conferências,
do curriculum dos palestrantes, assim como das sínteses ou conclusões dos workshops. O site continua em desenvol-
vimento onde os participantes, e não só, podem continuar o trabalho de rede e onde colocam uma imensa quantidade
de contactos e informação, textos, fotos, vídeos, notícias, o mapa mundial da rede, etc.
Em anexo juntamos a tradução do Manifesto aprovado pelo Congresso assim como das conclusões simbolicamen-
te expressas num poema de Pipo Lernoud, vice-presidente da IFOAM, Argentina.

MANIFESTO DO PLANETA DIVERSIDADE

Nós, povos do Planeta Diversidade, reunimo-nos para celebrar a riqueza e a diversidade biológica
e cultural, que é a nossa herança, e para afirmar o nosso compromisso a transmitir esta herança
intacta às gerações futuras.
n.º 20 - Junho de 2010 BOLETIM INFORMATIVO MPI Página 5

Nós rejeitamos o desespero de um mundo focado no consumo, na concorrência e na extinção e


declaramos que não aceitamos a desconfiança, a violência e o medo como formas de nos relacionar-
mos entre nós e com outros seres.
Preferimos os mercados locais e regionais à globalização; a equidade e a reciprocidade à domina-
ção.
Consideramo-nos parte da natureza e não donos dela.
Aprovamos a sabedoria que une a precaução à procura de conhecimentos. Vemos que a precaução
é necessária para evitar causar dano a tudo o que amamos, que tem para nós valor, que nos possibili-
ta a vida e que procuramos entender; e sabemos que aqueles que arrogantemente rejeitam o princí-
pio de precaução colocam em perigo a base das nossas vidas.
Procuramos um mundo com alimentos bons, saudáveis, nutritivos, seguros e ao alcance de todos.
Reverentemente devotamos uma admiração sem limites à beleza e à interdependência de toda a
diversidade biológica.

No que toca à diversidade da nossa própria espécie, valorizamos e celebramos especialmente:


- os protectores das sementes e os que perpetuam os saberes tradicionais,
- os cultivadores de alimentos sãos e os artesãos e consumidores de "slow food",
- os pequenos agricultores, camponeses e trabalhadores rurais que nos alimentam e sustentam,
- os activistas que pedem contas, e exigem responsabilidade, transparência e participação pública,
- os artistas e os poetas que nos compelem a abrir os olhos e o coração,
- os pacifistas que nos apontam a direcção do respeito mútuo e da boa convivência,
- os cientistas que nos ensinam a agir em cooperação com a natureza e entre nós,
- os sábios que nos recordam o que devemos ao passado,
- e os profetas que nos avisam como nos julgará o futuro.

Finalmente, celebramos aqueles com quem não concordamos porque são eles que nos obrigam –
assim como os obrigamos a eles – a uma maior sabedoria.

Com grande respeito, abraçamos todos e reconhecemos que somos todos, cada um de entre nós, os
afortunados herdeiros e os responsáveis antecessores desta casa comum, o Planeta Diversidade.

Este manifesto foi subscrito pelos participantes de Planeta Diversidade, em Bona, Alemanha, em 16 de Maio de
2008. É baseado em muitos comentários e contribuições dos participantes e é entendido como um documento vivo.
Futuros comentários são bem vindos.
(adaptado do artigo de José Amorim (jose.eduardo.amorim@sapo.pt) e Sabine Mengel (samengel@gmx.net)
publicado em “O Gorgulho” n.º 10, Outono 2008 – Boletim da Colher para Semear – Rede Portuguesa de Variedades
Tradicionais.

MADEIRA É LEGALMENTE UMA ZONA LIVRE DE TRANSGÉNICOS!


Foi noticiado no jornal americano New York Times que a Comissão Europeia permitiu que passasse o prazo para contestar a
declaração de zona livre que a Região Autónoma da Madeira tinha emitido... e por isso a declaração torna-se legal e oficial, com
poderes para impedir cultivos transgénicos!! Houve países a fazer a mesma declaração, como Austria, Itália, França, mas a da
Madeira pela primeira não foi contestada pela Comissão Europeia!
Para impedir o cultivo de transgénicos nas Madeira, o governo Português disse à Comissão que seria impossível separar os
cultivos transgénicos das outras plantas e receiam que ponham em risco a saúde ambiental e ecológica da Madeira. A EFSA
(Agência Europeia de Segurança Alimentar) como sempre recomendou a Comissão Europeia ignorar as preocupações portugue-
sas, insistindo que não há novas evidências científicas dos riscos dos transgénicos.
Esta posição da Comissão Europeia é visto como um sinal de esperança para os países que querem ter a liberdade de impedir
o cultivo de transgénicos e os americanos, em especial a multinacional Monsanto, temem maiores restrições da Europa às impor-
tações trans-atlânticas, já que a maioria dos transgénicos são cultivados no continente americano.
E os Açores, agora, por que esperam?
(Fonte: http://www.nytimes.com/2010/05/10/business/energyenvironment/10green.html?src=busln, 9/5/2010)
Página 6 BOLETIM INFORMATIVO MPI n.º 20 - Junho de 2010

AMBIENTE E CIDADANIA - PROTEGER AS FLORESTAS TROPICAIS

Segundo a Greenpeace, 80% das florestas primárias (ou virgens) do planeta foram já degradadas ou destruídas.
Esta situação está a provocar sérios problemas, nomeadamente a extinção galopante de espécies (animais, árvores e
outras plantas), o empobrecimento de regiões vulneráveis, diminuição das chuvas, conflitos com os povos indígenas
e o aquecimento global da Terra.
Entre as causas para a destruição das últimas florestas do planeta estão: a criação de gado, através da conversão
para a produção de matérias-primas paras as rações (como a soja transgénica) e a conversão em pastagens; o comér-
cio de madeira exótica, sendo ilegal a grande maioria do seu abate; a construção de barragens, estradas e empreendi-
mentos turísticos; a exploração mineira; os incêndios e a introdução de espécies exóticas.
Cerca de 49% das florestas primárias existentes situam-se nos trópicos, são conhecidas por florestas tropicais ou
húmidas, e existem na América do Sul (Amazónia), no Sudoeste Asiático (Indonésia, Ilha do Bornéu) e em África
Central (Gabão, Congo, Camarões, Libéria, República Democrática do Congo).
Os países desenvolvidos são os principais clientes destas madeiras, tais como Estados Unidos da América, Europa
e Japão. Estimando-se que cerca de metade das importações de madeira tropical para a União Europeia seja ilegal.
As florestas da Amazónia representam 45% das florestas tropicais, quase metade das espécies conhecidas
(animais e plantas) vive na Amazónia. Em 1970, 99% da floresta amazónica permanecia intacta, actualmente possui
uma das mais elevadas taxas de destruição de floresta do Mundo, por exemplo em 2001 apenas 1% da área total des-
florestada foi autorizada. A Europa foi o maior importador de madeira amazónica entre Janeiro e Outubro de 2004,
representando 38,7% das exportações daquela região. A madeira sob a marca DLH é exportada para Portugal através
de uma empresa com sede na Dinamarca, cujos fornecedores estão envolvidos no abate ilegal, sendo dos comercian-
tes internacionais de madeira que mais beneficiam com a destruição da Amazónia.
A magnífica floresta tropical da África Central é a segunda maior floresta tropical do mundo e quase metade está
na República Democrática do Congo. Apesar de estar em vigor desde 2002 uma moratória a novas concessões
madeireiras, duas empresas portugueses obtiveram em 2003 autorizações avulsas de exploração de mais de 6 milhões
de hectares de floresta tropical, destinada à nossa indústria madeireira.
Portugal foi em 2002 um dos maiores importadores europeus de madeiras tropicais (toros, madeira serrada,
folheados e contraplacados), em 2004 foi o 5º maior importador mundial de madeira da Amazónia, ou seja, é respon-
sável por mais de um terço do total da área desflorestada na Amazónia brasileira.
Exemplos de espécies tropicais: Sapele, Iroki e Ekki, Jotoba, Ipê, Tatajuba, Pau-santo, Pau-rosa, Tacula, Sucupira,
Tola, Aformosia, Teca Africana, Assamela e o Pau-preto. Estas duas espécies, tal como o Pau-santo do Brasil, o seu
comércio está restringido pela CITES (Convenção sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora
selvagem ameaçadas de extinção) uma convenção internacional em vigor desde 1975 e subscrita por 157 países,
entre os quais Portugal.

O que podemos fazer?

1- Comer menos carne, este é sem dúvida o conselho que poderá ter maior impacto se queremos mesmo proteger
as florestas e está ao alcance de todos. Basta ter vontade!
2- No caso de optar por madeira exótica, exigir madeira certificada. A certificação da madeira é já uma realidade,
sendo o sistema de certificação “Forest Stewardship Council” (FSC) a única garantia de que a madeira é proveniente
de florestas bem geridas.
3- Não consumir o mogno, Pau-preto, Pau-santo e Teca Africana, por estarem ameaçadas de extinção.
4- Reduzir o consumo de madeira, reutilizando um móvel antigo (transformando-o e adaptando-o às suas novas
necessidades) em vez de comprar um novo, por exemplo.
5- Optar por outras madeiras, em substituição das madeiras exóticas. Em Portugal destacam-se pela sua qualidade
algumas espécies autóctones como: carvalho, cerejeira brava, freixo, pinheiro manso, pinheiro bravo e cipreste (há
autores que defendem que estas últimas 3 espécies foram introduzidas); ou espécies introduzidas naturalizadas como:
castanheiro (cuja madeira é o castanho), nogueira e plátano; ou ainda por madeiras europeias como: faia, pinho nór-
dico.
6- Apoiar organizações não governamentais de que defendem as florestas tropicais, tais como, Greenpeace e
WWF (Worldwide Life Found – Fundo Mundial para a Conservação da Natureza).
n.º 20 - Junho de 2010 BOLETIM INFORMATIVO MPI Página 7

BREVES
Infelizmente continua a ser mais barato impor- Balanço do LIMPAR Portugal
tar madeiras ilegais, é por isso urgente um merca-
do exigente e estímulo a novos plantios com O projecto LIMPAR PORTUGAL foi sem dúvida de
madeiras nobres, para que elas sejam uma alterna- grande sucesso, o que deixou os mentores do projecto natu-
tiva, isto é, que haja madeira suficiente. ralmente satisfeitos, pela mobilização de voluntários que
conseguiu, pelo lixo recolhido, pelo impacto que teve na
Bibliografia e websites:
comunicação social e consequentemente constituiu uma
1- “Madeiras nacionais nobres mas esquecidas”, revista Fórum
Ambiente n.º 29, Agosto 1996 boa forma de sensibilizar toda a gente para o problema dos
2- “50 Coisas simples que pode fazer para salvar o planeta, ”, resíduos, mesmo para os que não puderam ou não quiseram
The Earth Work Group, Círculo de Leitores, 1993, p.74 participar na recolha do lixo.
3- “Desflorestação mundial: O fim das florestas primárias?”,
ABC Ambiente n.º 22, Agosto/Setembro, 2000, p.16-17. Em todo o país foram identificados cerca de 13mil pon-
4- “Quercus e Greenpeace pedem fim da importação de madeira tos com lixo, entre florestas e terrenos urbanos, participa-
ilegal”, QUERCUS Ambiente, Maio/Junho, 2004, p.6 ram cerca de 100 mil voluntários e foram recolhidos 70 mil
5- “União Europeia deve banir comércio de madeira ilegal”,
Quercus Ambiente, Novembro/Dezembro 2004, p.29
toneladas de lixo e tudo isto em apenas um dia, o chamado
6- “Greenpeace e Quercus bloqueiam carregamento de madeira dia “L” (Limpar) que foi no dia 20 de Março. Por exemplo,
da Amazónia”, Quercus ambiente, Março/Abril 2005, p.6. só no concelho do Cadaval participaram 127 voluntários e
7- http://www.greenpeace.org
foram recolhidas 37 toneladas de lixo.
8- http://www.globalforestwatch.org
Foram recolhidos um pouco de tudo, pneus, embalagens
de plástico, sucatas, garrafas de vidro, sofás, electrodomés-
ticos.
Em declarações à Agência Lusa um dos mentores, Paulo
Portugal tem uma das pegadas hídricas
Torres, disse “Esperamos não ter de repetir, que as pessoas
mais elevadas entre 140 países
tenham compreendido a mensagem e que procurem desfa-
Lusa, PÚBLICO
zer-se do lixo de maneira conveniente”.
(Fonte: http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1428620)
Segundo um relatório “Planeta Vivo 2008” recen-
temente divulgado pela WWF, Portugal tem uma das
"pegadas hídricas" mais elevadas por habitante, ocu-
pando a sexta posição entre 140 países. Entre os seis Plataforma Transgénicos Fora
países que têm a mais elevada pegada hídrica estão promoveu debate
cinco da região Mediterrânica: Grécia, Itália, Espa- “Alimentação Hospitalar - Transgénicos e Saúde”
nha e Chipre, além de Portugal.
Esta situação é causada principalmente pelo Foi no dia 22 de Maio no Anfiteatro do Edifício Egas
um sector agrícola "pouco eficiente", Estima-se que Moniz da Faculdade de Medicina da Universidade de Lis-
cada português é responsável pela utilização de 2.264 boa e teve como oradores HELENA JERÓNIMO, sociólo-
metros cúbicos por ano. ga, professora auxiliar no Instituto Superior de Economia e
Mais de 80 por cento desse valor diz respeito ao Gestão da Universidade Técnica de Lisboa
consumo de bens agrícolas, e mais de metade corres- PATRÍCIA ALMEIDA NUNES, Dietista, Pós-graduada
ponde à importação de bens para consumo, principal- em Gestão de Serviços de Saúde e em Doenças Metabólicas
mente de Espanha - ou seja, 54 por cento da pegada e Comportamento Alimentar, doutoranda na Faculdade de
hídrica em Portugal é externa. Medicina da Universidade de Lisboa, JOSÉ LUÍS GAR-
A pegada hídrica de um país é, assim, o volume CIA, Doutor em sociologia, investigador do Instituto de
total de água usado globalmente para produzir os Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, professor na
bens e serviços consumidos pelos seus habitantes, licenciatura de Ciências da Saúde da Universidade de Lis-
tanto em território nacional como no estrangeiro, no boa, ISABEL DO CARMO, Médica, Doutora pela Faculda-
caso dos bens importados. de de Medicina de Lisboa, especialista em Endocrinologia e
É preciso sensibilização para se mudarem com- Nutrição, directora do serviço de endocrinologia do Hospi-
portamentos e hábitos de consumo. tal de Santa Maria e MARGARIDA SILVA, Bióloga, dou-
(Fonte: http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1424606) torada em biologia molecular, professora auxiliar da Uni-
versidade Católica.
Os profissionais de saúde eram o público-alvo, sendo
fundamental que esteja sensibilizados sobre os riscos na
nossa saúde do consumo de transgénicos.
espaço
Jovem Atento

A pensar nos sócios mais novos criámos este espaço para publicar os teus desenhos e textos sobre o tema ambiente. Ficamos a
aguardar os teus trabalhos. Começamos por publicar uns textos de Laura Azevedo Varges, residente no Vilar e que o escreveu
quando tinha apenas 11 anos de idade. Espero que gostes.

Para preservar o mundo, eu posso…


No rio:
Se te fizessem um desafio de beberes a água de um rio seria melhor esqueceres isso porque na maior
parte das vezes a água do rio é extremamente poluída. Isso tudo só porque os rios muitas vezes servem de
esgoto ou então algumas pessoas que não têm cuidado nenhum atiram toda a espécie de lixo para o rio.
A única maneira de se parar com isto é simplesmente o rio deixar de ser esgoto, ser depurado
(processo de limpeza da água) e as pessoas andarem informadas do assunto e deixarem de atirar lixo para o rio.
O que tu podes fazer é ir falando deste assunto a todos os teus familiares e amigos. Ficarão admirados
por saber que estás preocupado(a) com esse assunto e de certeza que te ouvirão.
No mar:
O mar também sofre dos mesmos problemas que os rios. Primeiro, a água imunda dos rios vai parar ao
mar, segundo, as pessoas até atiram mais lixo para o mar do que para os rios e terceiro, também há o perigo de
derrames de petroleiros que formam as chamadas marés negras.
É por estas e por outras que também não se deve andar a brincar à “bebida salgada”. A única maneira de
parar um pouco com isto é informar melhor as pessoas e os petroleiros devem ter mais cuidado com o que
fazem. Por fim, o que tu deves fazer é simplesmente ir falando deste assunto à tua família e amigos. Assim
ficas já com uma grande conversa prometida.
Em terra:
Por todo o lado onde tu passes é muito normal veres tudo cheio de lixo e de toda a espécie de porcaria.
Nada seria assim se muita gente não estivesse mal informada sobre este assunto.
Claro que sabes o simples gesto das pessoas que faz o chão estar sempre tão sujo. Também já deves
saber a única maneira de acabar com este pandemónio: informar as pessoas e fazer campanhas de sensibiliza-
ção para crianças e adultos.
As razões para as pessoas atirarem o lixo para o chão são as seguintes: muitas vezes comes qualquer
coisa e não dá jeito nenhum andar com o pacote na mão, quando não há caixotes do lixo por perto. Faz um
esforço, coloca o papel num bolso e à primeira oportunidade colocas o pacote no lixo. Conversa também sobre
isto.
Sobre o ar:
O ar é poluído das seguintes formas: utilização excessiva de veículos e outros produtos contaminantes,
simplesmente. Claro que se pensarmos melhor há mais razões para o ar estar poluído, mas esta é a principal.
As pessoas devem evitar utilizar todo o tipo de produtos contaminantes e devem passar esta mensagem
aos familiares amigos.
Como podes ver há muita coisa que tu podes conversar com os teus familiares e amigos. O mundo cada
vez fica mais poluído e em consequência podemos ver muitas coisas como por exemplo a fragilidade que se
começa a notar na camada de ozono. É por isso que é tão importante começar a tomar atitudes e eu conto com
toda a gente que lê este texto para colaborar no longo caminho de recuperação de que o mundo necessita.
Setembro, 2006

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