INFORMATIVO Programa
Introdução teórica com debate
DIVERSIDADE PLANETÁRIA
CONGRESSO MUNDIAL SOBRE O FUTURO DA ALIMENTAÇÃO E DA AGRICULTURA
Neste ano Internacional da Biodiversidade e em que decorre o debate público sobre o futuro da PAC, achámos
pertinente apresentar um resumo do congresso "Planeta Diversidade", realizado em Bona, Alemanha, de 12 a 16 de
Maio de 2008, que reuniu representantes de movimentos de base, locais e regionais, e as instituições que trabalham
na tradição agrícola e alimentar, assim como na inovação e na reconciliação baseadas na diversidade cultural e bioló-
gica.
Este Congresso decorreu à margem da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade (mais conhecido
como o Protocolo de Cartagena) pela causa comum da defesa da diversidade contra as tendências destrutivas e amea-
çadoras na agricultura, desenvolvimento rural e produção de alimentos.
Alguns dos temas chave discutidos foram: a soberania alimentar, o acesso a alimentos, água e solo saudáveis para
as populações, os direitos dos consumidores e relações justas com produtores, as tradições alimentares e agrícolas e a
sua qualidade, produção alimentar e zonas livres de transgénicos, as mulheres e a agricultura, o livre intercâmbio de
sementes e o melhoramento participativo, o livre intercâmbio de conhecimentos e a diversidade, o fim das patentes
sobre a vida, agrocombustíveis versus segurança alimentar, a agro-ecologia e a inovação em agricultura biológica, as
hortas da esperança, os direitos e saberes indígenas, a diversidade cultural e espiritual, as sementes Terminator, árvo-
res geneticamente modificadas, biologia sintética e outras novas tecnologias que ameaçam a diversidade".
Acorreram ao apelo 679 pessoas de 93 países, representando muitas dezenas de Organizações não Governamen-
tais do ambiente, consumidores e agricultores, pessoas/activistas e cientistas. Estiveram presentes 6 representantes
portugueses: Irina Maia da GENET (uma das entidades organizadoras), José Amorim e Sabine Mengel, da Colher
para Semear, Nuno Belchior e Tânia Simões do Projecto 270 e Johan Diels do GAIA.
Do programa constou uma manifestação em frente do local onde estavam reunidos os representantes dos governos
dos países parceiros (mais de 190) nas negociações das Nações Unidas sobre a Convenção da Biodiversidade. As
negociações versavam a extinção de espécies, a engenharia genética, o controlo das sementes, áreas sobreprotegidas
e diversidade agrícola, questões de sobrevivência. As principais palavras de ordem dos mais de 6.000 manifestantes
eram: "Pelo direito humano a uma alimentação adequada, diversa e saudável – contra o mau uso da agricultura
para agro-combustíveis, e outras matérias-primas para especulação internacional", "Pelo direito dos consumidores
e agricultores a decidir – contra experiências genéticas com a nossa alimentação e o nosso ambiente", "Pela livre
troca de sementes e conhecimentos agrícolas – contra as patentes sobre a vida e biopirataria", " Pela preservação
da diversidade regional – contra as monoculturas da agro-indústria e o genocídio mundial dos pequenos agriculto-
res", "Pela diversidade biológica – regional, justa e livre de OGM!"
Seguiram-se discursos de representantes de organizações participantes. Entre outros: Vieira Gentil Couto, da Via
Campesina e MST – Movimento dos Trabalhadores sem Terra, do Brasil, Percy Schmeiser, o agricultor canadiano
que ganhou o processo contra a Monsanto, Vananda Shiva (Índia).
Seguiu-se o Festival da Biodiversidade, uma enorme exposição ao ar livre com stands de produtores agrícolas e
guardiãos de sementes, organizações, artesãos, empresas, restaurantes, música, animação, discursos, etc.
O congresso teve um intenso programa de conferências e workshops durante 3 dias, em várias línguas, principal-
mente inglês, alemão, francês e espanhol (na lista dos voluntários que ajudaram na organização constavam mais de
20 tradutores).
No site do evento http://www.planet-diversity.org/é possível tomar conhecimento dos resumos das conferências,
do curriculum dos palestrantes, assim como das sínteses ou conclusões dos workshops. O site continua em desenvol-
vimento onde os participantes, e não só, podem continuar o trabalho de rede e onde colocam uma imensa quantidade
de contactos e informação, textos, fotos, vídeos, notícias, o mapa mundial da rede, etc.
Em anexo juntamos a tradução do Manifesto aprovado pelo Congresso assim como das conclusões simbolicamen-
te expressas num poema de Pipo Lernoud, vice-presidente da IFOAM, Argentina.
Nós, povos do Planeta Diversidade, reunimo-nos para celebrar a riqueza e a diversidade biológica
e cultural, que é a nossa herança, e para afirmar o nosso compromisso a transmitir esta herança
intacta às gerações futuras.
n.º 20 - Junho de 2010 BOLETIM INFORMATIVO MPI Página 5
Finalmente, celebramos aqueles com quem não concordamos porque são eles que nos obrigam –
assim como os obrigamos a eles – a uma maior sabedoria.
Com grande respeito, abraçamos todos e reconhecemos que somos todos, cada um de entre nós, os
afortunados herdeiros e os responsáveis antecessores desta casa comum, o Planeta Diversidade.
Este manifesto foi subscrito pelos participantes de Planeta Diversidade, em Bona, Alemanha, em 16 de Maio de
2008. É baseado em muitos comentários e contribuições dos participantes e é entendido como um documento vivo.
Futuros comentários são bem vindos.
(adaptado do artigo de José Amorim (jose.eduardo.amorim@sapo.pt) e Sabine Mengel (samengel@gmx.net)
publicado em “O Gorgulho” n.º 10, Outono 2008 – Boletim da Colher para Semear – Rede Portuguesa de Variedades
Tradicionais.
Segundo a Greenpeace, 80% das florestas primárias (ou virgens) do planeta foram já degradadas ou destruídas.
Esta situação está a provocar sérios problemas, nomeadamente a extinção galopante de espécies (animais, árvores e
outras plantas), o empobrecimento de regiões vulneráveis, diminuição das chuvas, conflitos com os povos indígenas
e o aquecimento global da Terra.
Entre as causas para a destruição das últimas florestas do planeta estão: a criação de gado, através da conversão
para a produção de matérias-primas paras as rações (como a soja transgénica) e a conversão em pastagens; o comér-
cio de madeira exótica, sendo ilegal a grande maioria do seu abate; a construção de barragens, estradas e empreendi-
mentos turísticos; a exploração mineira; os incêndios e a introdução de espécies exóticas.
Cerca de 49% das florestas primárias existentes situam-se nos trópicos, são conhecidas por florestas tropicais ou
húmidas, e existem na América do Sul (Amazónia), no Sudoeste Asiático (Indonésia, Ilha do Bornéu) e em África
Central (Gabão, Congo, Camarões, Libéria, República Democrática do Congo).
Os países desenvolvidos são os principais clientes destas madeiras, tais como Estados Unidos da América, Europa
e Japão. Estimando-se que cerca de metade das importações de madeira tropical para a União Europeia seja ilegal.
As florestas da Amazónia representam 45% das florestas tropicais, quase metade das espécies conhecidas
(animais e plantas) vive na Amazónia. Em 1970, 99% da floresta amazónica permanecia intacta, actualmente possui
uma das mais elevadas taxas de destruição de floresta do Mundo, por exemplo em 2001 apenas 1% da área total des-
florestada foi autorizada. A Europa foi o maior importador de madeira amazónica entre Janeiro e Outubro de 2004,
representando 38,7% das exportações daquela região. A madeira sob a marca DLH é exportada para Portugal através
de uma empresa com sede na Dinamarca, cujos fornecedores estão envolvidos no abate ilegal, sendo dos comercian-
tes internacionais de madeira que mais beneficiam com a destruição da Amazónia.
A magnífica floresta tropical da África Central é a segunda maior floresta tropical do mundo e quase metade está
na República Democrática do Congo. Apesar de estar em vigor desde 2002 uma moratória a novas concessões
madeireiras, duas empresas portugueses obtiveram em 2003 autorizações avulsas de exploração de mais de 6 milhões
de hectares de floresta tropical, destinada à nossa indústria madeireira.
Portugal foi em 2002 um dos maiores importadores europeus de madeiras tropicais (toros, madeira serrada,
folheados e contraplacados), em 2004 foi o 5º maior importador mundial de madeira da Amazónia, ou seja, é respon-
sável por mais de um terço do total da área desflorestada na Amazónia brasileira.
Exemplos de espécies tropicais: Sapele, Iroki e Ekki, Jotoba, Ipê, Tatajuba, Pau-santo, Pau-rosa, Tacula, Sucupira,
Tola, Aformosia, Teca Africana, Assamela e o Pau-preto. Estas duas espécies, tal como o Pau-santo do Brasil, o seu
comércio está restringido pela CITES (Convenção sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora
selvagem ameaçadas de extinção) uma convenção internacional em vigor desde 1975 e subscrita por 157 países,
entre os quais Portugal.
1- Comer menos carne, este é sem dúvida o conselho que poderá ter maior impacto se queremos mesmo proteger
as florestas e está ao alcance de todos. Basta ter vontade!
2- No caso de optar por madeira exótica, exigir madeira certificada. A certificação da madeira é já uma realidade,
sendo o sistema de certificação “Forest Stewardship Council” (FSC) a única garantia de que a madeira é proveniente
de florestas bem geridas.
3- Não consumir o mogno, Pau-preto, Pau-santo e Teca Africana, por estarem ameaçadas de extinção.
4- Reduzir o consumo de madeira, reutilizando um móvel antigo (transformando-o e adaptando-o às suas novas
necessidades) em vez de comprar um novo, por exemplo.
5- Optar por outras madeiras, em substituição das madeiras exóticas. Em Portugal destacam-se pela sua qualidade
algumas espécies autóctones como: carvalho, cerejeira brava, freixo, pinheiro manso, pinheiro bravo e cipreste (há
autores que defendem que estas últimas 3 espécies foram introduzidas); ou espécies introduzidas naturalizadas como:
castanheiro (cuja madeira é o castanho), nogueira e plátano; ou ainda por madeiras europeias como: faia, pinho nór-
dico.
6- Apoiar organizações não governamentais de que defendem as florestas tropicais, tais como, Greenpeace e
WWF (Worldwide Life Found – Fundo Mundial para a Conservação da Natureza).
n.º 20 - Junho de 2010 BOLETIM INFORMATIVO MPI Página 7
BREVES
Infelizmente continua a ser mais barato impor- Balanço do LIMPAR Portugal
tar madeiras ilegais, é por isso urgente um merca-
do exigente e estímulo a novos plantios com O projecto LIMPAR PORTUGAL foi sem dúvida de
madeiras nobres, para que elas sejam uma alterna- grande sucesso, o que deixou os mentores do projecto natu-
tiva, isto é, que haja madeira suficiente. ralmente satisfeitos, pela mobilização de voluntários que
conseguiu, pelo lixo recolhido, pelo impacto que teve na
Bibliografia e websites:
comunicação social e consequentemente constituiu uma
1- “Madeiras nacionais nobres mas esquecidas”, revista Fórum
Ambiente n.º 29, Agosto 1996 boa forma de sensibilizar toda a gente para o problema dos
2- “50 Coisas simples que pode fazer para salvar o planeta, ”, resíduos, mesmo para os que não puderam ou não quiseram
The Earth Work Group, Círculo de Leitores, 1993, p.74 participar na recolha do lixo.
3- “Desflorestação mundial: O fim das florestas primárias?”,
ABC Ambiente n.º 22, Agosto/Setembro, 2000, p.16-17. Em todo o país foram identificados cerca de 13mil pon-
4- “Quercus e Greenpeace pedem fim da importação de madeira tos com lixo, entre florestas e terrenos urbanos, participa-
ilegal”, QUERCUS Ambiente, Maio/Junho, 2004, p.6 ram cerca de 100 mil voluntários e foram recolhidos 70 mil
5- “União Europeia deve banir comércio de madeira ilegal”,
Quercus Ambiente, Novembro/Dezembro 2004, p.29
toneladas de lixo e tudo isto em apenas um dia, o chamado
6- “Greenpeace e Quercus bloqueiam carregamento de madeira dia “L” (Limpar) que foi no dia 20 de Março. Por exemplo,
da Amazónia”, Quercus ambiente, Março/Abril 2005, p.6. só no concelho do Cadaval participaram 127 voluntários e
7- http://www.greenpeace.org
foram recolhidas 37 toneladas de lixo.
8- http://www.globalforestwatch.org
Foram recolhidos um pouco de tudo, pneus, embalagens
de plástico, sucatas, garrafas de vidro, sofás, electrodomés-
ticos.
Em declarações à Agência Lusa um dos mentores, Paulo
Portugal tem uma das pegadas hídricas
Torres, disse “Esperamos não ter de repetir, que as pessoas
mais elevadas entre 140 países
tenham compreendido a mensagem e que procurem desfa-
Lusa, PÚBLICO
zer-se do lixo de maneira conveniente”.
(Fonte: http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1428620)
Segundo um relatório “Planeta Vivo 2008” recen-
temente divulgado pela WWF, Portugal tem uma das
"pegadas hídricas" mais elevadas por habitante, ocu-
pando a sexta posição entre 140 países. Entre os seis Plataforma Transgénicos Fora
países que têm a mais elevada pegada hídrica estão promoveu debate
cinco da região Mediterrânica: Grécia, Itália, Espa- “Alimentação Hospitalar - Transgénicos e Saúde”
nha e Chipre, além de Portugal.
Esta situação é causada principalmente pelo Foi no dia 22 de Maio no Anfiteatro do Edifício Egas
um sector agrícola "pouco eficiente", Estima-se que Moniz da Faculdade de Medicina da Universidade de Lis-
cada português é responsável pela utilização de 2.264 boa e teve como oradores HELENA JERÓNIMO, sociólo-
metros cúbicos por ano. ga, professora auxiliar no Instituto Superior de Economia e
Mais de 80 por cento desse valor diz respeito ao Gestão da Universidade Técnica de Lisboa
consumo de bens agrícolas, e mais de metade corres- PATRÍCIA ALMEIDA NUNES, Dietista, Pós-graduada
ponde à importação de bens para consumo, principal- em Gestão de Serviços de Saúde e em Doenças Metabólicas
mente de Espanha - ou seja, 54 por cento da pegada e Comportamento Alimentar, doutoranda na Faculdade de
hídrica em Portugal é externa. Medicina da Universidade de Lisboa, JOSÉ LUÍS GAR-
A pegada hídrica de um país é, assim, o volume CIA, Doutor em sociologia, investigador do Instituto de
total de água usado globalmente para produzir os Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, professor na
bens e serviços consumidos pelos seus habitantes, licenciatura de Ciências da Saúde da Universidade de Lis-
tanto em território nacional como no estrangeiro, no boa, ISABEL DO CARMO, Médica, Doutora pela Faculda-
caso dos bens importados. de de Medicina de Lisboa, especialista em Endocrinologia e
É preciso sensibilização para se mudarem com- Nutrição, directora do serviço de endocrinologia do Hospi-
portamentos e hábitos de consumo. tal de Santa Maria e MARGARIDA SILVA, Bióloga, dou-
(Fonte: http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1424606) torada em biologia molecular, professora auxiliar da Uni-
versidade Católica.
Os profissionais de saúde eram o público-alvo, sendo
fundamental que esteja sensibilizados sobre os riscos na
nossa saúde do consumo de transgénicos.
espaço
Jovem Atento
A pensar nos sócios mais novos criámos este espaço para publicar os teus desenhos e textos sobre o tema ambiente. Ficamos a
aguardar os teus trabalhos. Começamos por publicar uns textos de Laura Azevedo Varges, residente no Vilar e que o escreveu
quando tinha apenas 11 anos de idade. Espero que gostes.