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ABREM Centro-Oeste
CADERNO
DE
RESUMOS
Apoio:
11 a 13 de agosto de 2010
Universidade Federal de Mato Grosso
PROGRAMAÇÃO GERAL A construção da verdade jurídica: a justiça do
processo inquisitorial (séc. XIV-XVIII)
Alécio Nunes Fernandes (UnB)
11 DE AGOSTO (QUARTA-FEIRA)
19:30
Conferência de Abertura:
09:00 - 11:30 "Diálogos dos Estudos Medievais no Brasil”
Credenciamento Dra. Maria do Amparo Maleval (UERJ)
14:00 – 17:30
I Sessão de Comunicações Coordenadas: 12 DE AGOSTO (QUINTA-FEIRA)
“Igreja e Historiografia”
O imperativo do medo: as práticas mágicas e a Da arte de ler de Hugo de São Vítor – Regras de
Inquisição leitura enquanto normas de vida
Débora Cristina do Santos Ferreira Dra. Maria Simone Marinho Nogueira (UEPB)
14:00 – 17:30 Entre cultura clássica e monaquismo medieval: o
II Sessão de Comunicações Coordenadas: lugar de João Cassiano
“Realeza Portuguesa Medieval” Profa. Dra. Rossana Pinheiro (UFAL)
Nas últimas três décadas, as diversas orientações da crítica D. Dinis e o Processo de Pacificação Temporal com o
feminista têm demonstrado o quão estereotipado fora a Poder Eclesiástico através da Concordata de 40
chamada “boa ciência”, considerada unilateralmente objetiva Artigos de 1289
e neutra, em contraste com a “má ciência”, por vezes,
subjetiva e confundida com o seu objeto de investigação. Esse Durante a Idade Média, como sabemos, o ocidente europeu
questionamento contribuiu para salientar que a esfera foi marcado por uma grande influência da Igreja, tanto no
científica não é e nunca fora um fenômeno ahistórico: ela é campo espiritual como no campo sócio-político. E em
também, por assim dizer, um fenômeno social marcado pelo Portugal essa situação não foi diferente, a Igreja também foi
tempo. De forma particular, porém, não de maneira bastante influente nas relações políticas, econômicas e sociais.
exclusiva, os Estudos de Gênero têm apontado que o campo Este trabalho tem como objetivo discutir o processo de
da ciência num só tempo, ou em momentos diferentes, sofre pacificação entre a coroa, a nobreza e o clero, na sociedade
intervenções “genderizadas”, étnicas, éticas, filosóficas, sócio- medieval portuguesa. Vamos discutir esse processo de
econômicas, sócio-culturais, políticas e, por tudo isso, pacificação no reinado de D. Dinis, pois este foi, de fato, o
históricas. Assim, nossa apresentação tem como meta central monarca que conseguiu amenizar as querelas que havia entre
traçar as linhas gerais sobre as temáticas pesquisadas pela essas ordens, estabelecendo assim um clima de paz no reino
português. D. Dinis governou Portugal de 1279 a 1325, e seu NOGUEIRA, Maria Simone Marinho
reinado foi caracterizado por dar prosseguimento à política Universidade Estadual da Paraíba
de consolidação e centralização do poder monárquico
iniciada por seu pai D. Afonso III. A pacificação do clero,
realizou por três concordatas, duas de 1289, uma de 11 e Da arte de ler de Hugo de São Vítor – Regras de
outra de 40 artigos, respectivamente, e uma terceira de 1309 leitura enquanto normas de vida
de 22 artigos. Vamos utilizar neste trabalho apenas a
concordata de 40 artigos, estabelecida entre a Coroa O século XII pode ser visto como um momento extremamente
portuguesa e a Santa Sé, entre os anos de 1288 a 1292. representativo de uma cultura intelectual que se desenvolve,
Metodologicamente, procederemos com uma análise da simultaneamente, em dois tipos de Escola: a “Escola
referida concordata, verificando quais os assuntos abordados Monástica”, que se guiava por um ideal de contemplação,
e a importância que a mesma teve para o processo de percorrido em silêncio e no afastamento das cidades; e a
pacificação. “Escola Catedral” que se fixou no centro das cidades, em
torno das catedrais, e que, apesar de não desmerecer o ideal
Palavras-chave: Idade Média; Portugal; Igreja. contemplativo, incluía nas suas reflexões os diversos tipos de
saberes (as artes liberais), consciente de que o estudo desses
era um caminho para a verdadeira sabedoria. Nesse segundo
tipo, destaca-se a Escola de São Vítor, instalada em Paris, que
teve como grande mestre, Hugo, autor de uma vasta obra, da
qual se sobressai o Didascálicon – Da arte de ler, um
NASCIMENTO, Renata Cristina S. verdadeiro currículo dos estudos medievais. Composto de
seis livros, divididos em duas partes, conforme escreve o
Universidade Federal de Goiás próprio Hugo no Prefácio: a primeira dá instruções ao leitor
sobre as artes e a segunda sobre os livros divinos, ambas
O Contexto Europeu e Sua Influência Sobre Portugal procuram prescrever aos leitores uma disciplina de vida. É
Durante o Governo de D. Fernando (1367- 1383): apoiando-se nessa ideia que o texto Vitorino apresenta a
As Guerras, a Peste e o Cisma. regra da humildade como pressuposto de todo saber. Neste
sentido, no presente trabalho, procura-se fazer uma reflexão
O objeto desta comunicação é analisar, com base nas fontes sobre algumas normas estabelecidas em Da arte de ler,
da época, os principais problemas enfrentados pelos objetivando mostrar que essas ultrapassam a ideia de uma
portugueses durante a crise do século XIV, problemas estes mera normatividade e se revestem, por sua vez, de uma
que se inserem num contexto mais amplo de guerras, verdadeira disciplina moral.
epidemias e do Cisma do Ocidente, responsável pela divisão
da Igreja Católica Romana sob a autoridade de dois papas. Palavras-chave: Leitura; Regras; Disciplina moral.
Neste artigo analisamos, rapidamente, as Cartas Forais Palavras-chave: Cidade; historiografia; Fustel de
outorgadas pelos monarcas portugueses da dinastia de Coulanges/Gustv Glotz
PINHEIRO, Rossana Alves Baptista RUST, Leandro Duarte
Universidade Federal de Alagoas Universidade Federal de Mato Grosso
Entre cultura clássica e monaquismo medieval: o Eternum Periculum Dampnationis: a ordem jurídica
lugar de João Cassiano papal e a eclesiologia cristã sob o pontificado de
Gregório VII (1073-1085)
O primeiro período da filosofia cristã, a Patrística, é
considerado aquele de diálogo entre a religião cristã em Muita tinta já foi derramada pelos historiadores para retocar
ascensão e a tradição filosófica clássica para a composição da os contornos do século XI como cenário de uma “Revolução”
filosofia cristã, concebida por seus construtores como “a” na trajetória histórica ocidental. Em grande medida, tratava-
verdadeira filosofia. Devemos levar em consideração, ainda, se do vasto empenho coletivo para demonstrar a pertinência
que os defensores do cristianismo, seja como religião, seja de uma premissa crucial para Ciências Humanas: a idéia de
como filosofia, consideravam o monaquismo o modo de vida que naquele século aspectos definidores da Modernidade
cristão mais perfeito e sublime devido à prática da ascese e do Ocidental emergiram na senda histórica. Este teria sido um
exame de consciência que lhe era característica. Neste período decisivo, em especial, para a progressiva criação de
sentido, cabia aos monges o papel de continuadores da organizações políticas mais coesas e regimes de governo mais
perspectiva filosófica antiga, que compreendia a união entre duradouros e coercitivos. Uma imensa parcela deste esforço
teoria e prática, bem como o desenvolvimento de técnicas de historiográfico encontrou no Papado medieval o protagonista
conhecimento de si e de controle dos pensamentos. Nossa destas transformações. É fácil se deparar com estudos cuja
contribuição para a mesa redonda Cultura clássica e ênfase recai justamente em atribuir à Sé Pontifícia governada
monasticismo medieval estará voltada para a reflexão do por Gregório VII e seus sucessores o posto de expoente de um
lugar de João Cassiano, um dos principais teóricos do contínuo e longevo processo de racionalização, centralização
monaquismo ocidental, como continuador e divulgador da e burocratização das relações de poder. Processo que teria se
perspectiva filosófica clássica a partir de sua defesa da união materializado na reformulação da ordem jurídica reinante
entre contemplação e prática. Todavia, sua preocupação com sobre a eclesiologia cristã; que teria sido, a partir de então,
a institucionalização monástica também resultou em uma irrevogavelmente dotada dos alicerces de um predomínio da
ruptura definitiva com o que fora pregado pela Patrística lei escrita e de um ordenamento normativo textual. É extensa
Grega e pelos estóicos, sobretudo naquilo que dizia respeito à a lista de especialistas cujas obras confluíram para a imagem
teoria do domínio e cuidado de si. de uma Igreja cristã caminhando a passos largos no século XI
para se tornar a “monarquia papal”: uma teia de poderes
Palavras-chave: João Cassiano; Monaquismo; Filosofia eclesiásticos dispostos em um arranjo institucional piramidal
Clássica. graças a uma vida religiosa crescentemente regida pelas
“normas canônicas”. O propósito desta comunicação consiste
em propor uma revisão crítica deste olhar costumeiro. Para
isso, destacamos especial atenção a uma instância jurídica de
grande relevância na institucionalização do poder papal e
que coloca em xeque alas inteiras da historiografia do direito
canônico: a personalização das ações decisórias no bojo da registro fundamental da estrutura mental a par do real e do
vida política do Papado medieval. simbólico, constituindo o registro da ilusão e da identificação.
Palavras-Chave: Papado Medieval; Direito Canônico; Palavras-chave: Legenda Áurea; Virgindade; Imaginário.
Eclesiologia.