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A Obra

Sertão de Santana do Paranaíba, 1860. Pereira ( Martinho dos Santos Pereira ) vive na fazenda
com Inocência, sua filha de 18 anos. Seu pai exige-lhe obediência total, num regime antigo e
educada longe do mundo. Escolhe para ela o noivo, Manecão, um homem criado no sertão bruto,
de índole violenta.

Maria Conga é uma preta, escrava de Pereira. Tico é o guarda da moça Inocência, bastante fiel
apesar de ser mudo. Um dia, Pereira encontrou-se com um rapaz que percorria os caminhos do
sertão a medicar. Havia feitos estudos no colégio do Caraça e iniciado Farmácia em Ouro Preto.
Chamavam-no de "doutor", título que não menosprezava. Seu nome era Cirino Ferreira dos
Santos ( Dr. Cirino ).

Inocência estava doente de "uma febre braba" e o "doutor" curou-a . Os dois apaixonaram-se
mais tarde: eram demasiados os cuidados que o "doutor" tinha para com ela. Amavam-se às
escondidas e o laranjal era local de encontros proibidos. Pensavam que ninguém poderiam
desconfiar... mas Tico, o anãozinho mudo, estava atento... Nesse ínterim, Pereira andava é
desconfiado do Dr. Meyer, um caçador de borboletas, que por lá aparecera!

Desconfiava a tal ponto que o ilustre entomólogo passou a ser "persona non grata". Dr. Meyer
tinha por objetivo descobrir espécimes novos para museus europeus. Respeitava com muito
carinho e muita atenção a bonita Inocência. José Pinho (Juque), ajudante de Dr. Meyer, explicava
a função de seu patrão: procurar insetos. E isso durante quase dois anos...

Garcia, leproso, aparece na fazenda do Sr. Pereira. Quer falar com Dr. Cirino. O "médico" diz-lhe
que a doença e incurável e contagiosa.

Inocência foi maltratada pelo pai, quando este soube de seu amor com o doutor. Foi atirada
contra a parede. Resistiu e jurou não se casar com Manecão, o sertanejo violento. Mas o pai – Sr.
Pereira – achou que a filha estava de "mau olhado", por causa do Dr. Meyer.

E encontrou uma solução: ele ou Manecão mataria o intruso alemão. Dr. Meyer não deu ouvidos a
Pereira, zombado de sua ameaça. Tomou-se de vergonha: era ofensa demais. Tico, após
testemunhar o amor existente entre Inocência e Cirino, explicou ao Sr. Pereira tudo que se
passava...

Manecão começou a seguir os passos de Cirino. Até um dia interpelou-o . Tirou uma garrucha da
cintura e... Cirino caiu por terra, pedindo água e sussurrando o nome de Inocência. Agonizante,
exigia do mineiro Antônio Cesário que não deixasse Inocência casar-se com Manecão...

Dr. Guilherme Tembel Meyer, em 1863, apresentava aos entomólogos do mundo a sua mais
recente descoberta: uma borboleta até então desconhecida: "Papilio Innocentia:" em homenagem
à Inocência, a moça do sertão de Santana do Paranaíba, da Parte sul oriental do Mato Grosso.

Inocência, coitadinha...

Exatamente nesse dia dois anos faria que seu gentil corpo fora entregue à terra, no intenso sertão
de Santana do Parnaíba, para dormir o sono da eternidade...

CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS:

Martinho dos Santos Pereira (Pereira) – Homem de mais ou menos 45 anos, gordo, bem disposto,
cabelos brancos, rosto expressivo e franco. Pessoa honesta, hospitaleiro, severo e não trocava a
sua palavra nem pela vida.

Inocência – Cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e
incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado.
Enfim, uma jovem de beleza deslumbrante e incomparável.Simples, humilde, meiga, carinhosa,
indefesa e eternamente apaixonada.
Tico – O anão guardião de Inocência. Mudo, raquítico, esperto e fez por um momento, o papel de
fofoqueiro.

Maria Conga – Escrava de Pereira que cuidava dos afazeres domésticos. Escura, idosa e
malvestida. Usava na cabeça um pano branco de algodão.

Major Martinho de Melo Taques – Homem que merecia influência na vila de Santana do Parnaíba:
Juiz de paz e servia de juiz municipal. Participou da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul.
Era comerciante e gostava de contar casos, ou seja, "prosear".

Manecão – alto, forte, pançudo e usava bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que
matava, se fosse preciso, em defesa de sua honra.

Antônio Cesário – Padrinho de Inocência. Homem respeitado, de palavra,


honesto e justo. Fazendeiro do sertão.

Guilherme Tembel Meyer – alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado,
barbas compridas, escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa ídolo, esperto em sua
função e simples ao pronunciar as sua palavras. Admirador da natureza e da beleza de Inocência.

José Pinho (Juque) – Ajudante de Meyer. Era muito intrometido em conversas alheias. Pessoa boa
e de confiança de seu patrão.

Cirino Ferreira Campos – Tinha mais ou menos 25 anos, presença agradável, olhos negros e bem
rasgados, barbas e cabelos cortados quase à escovinha. Era tão inteligente quanto decidido.
"Doutor" Cirino era caridoso, bom doava a própria vida em defesa do amor.

COMPONENTES DA OBRA:

O romance relata a vida do povo do sertão brasileiro. O autor nos mostra de forma nem clara, a
simplicidade, o sofrimento e o jeito típico do sertanejo, através de seus personagens.

Sofrimento – A caminhada do sertanejo em busca de seus objetivos através de longas distâncias,


sendo que no percurso, existe a dificuldade do abrigo.
Simplicidade – É claramente observada através do comportamento e diálogos entre as
personagens típicas.
Contradições – Comprava-se entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa (Pereira
e Meyer).
Amor – Um amor tão puro e verdadeiro que por falta de condições de existência preferiu a morte,
ou pelo menos, foram levados a ela.
Honra – Pereira para manter a honra familiar, sacrificava sua própria filha, já que sua palavra
estava acima de tudo.
Beleza – É retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Escravidão – ë representada por Maria Conga e outros.

MOMENTO LITERÁRIO

Inocência pode ser considerada a obra prima do romance regionalista (Sertão do Mato Grosso) do
nosso Romantismo. Seu autor, Visconde de Taunay, soube unir ao seu conhecimento prático do
país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de observação da
natureza e da vida social do Sertão brasileiro.

A qualidade de Inocência resulta do equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de


verossimilhança – que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas –,
como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem regional e a adequação
dos valores românticos à realidade bruta do nosso Sertão.
Inocência é uma história de amor impossível, envolvendo Cirino, prático de Farmácia que se
autopromoveu médico, e Inocência, uma jovem do Sertão de Mato Grosso, filha de Pereira,
pequeno proprietário típico da mentalidade vigente entre os habitantes daquela região.

A realização amorosa entre os jovens é invisível porque Inocência fora prometida em casamento
pelo pai de Manecão, um rústico vaqueiro da região; e também porque Pereira exerce for
vigilância sobre a filha, pois, de acordo com seus valores, ele tem de garantir a integridade de
Inocência até o dia do casamento.

Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores
entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de
borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu.

A atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor
romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam destante das cidades.
Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance sertanejo, que até hoje
continua a fornecer matéria à nossa literatura.

MOMENTO HISTÓRICO

Na época em que o autor se inspirava para escrever Inocência, acontecia no país a aprovação da
Lei do Ventre Livre, onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria livre
da escravidão brasileira.

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