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Fernando Pessoa
O essencial em arte a forma como a ideia ou o sentimento
sentida;
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como um mau artista mas ter do mesmo modo o seu lugar na histria da
filosofia. Ningum fala de Xenfanes ou de (. . .) como poetas; so filsofos que
escreveram em verso, e ainda assim em verso que no positivamente mau,
mas que no chega a ser artstico (criticamente falando).
O caso porm, que o que em arte essencial o valor esttico da forma da
ideia; dado que a forma seja bela a poesia que a exprime ser to boa quanto a
ideia levantada e grande. Eis tudo. Um poeta no apenas um artista; no
trabalha sobre forma apenas, como o escultor, nem sobre forma e cor apenas,
como o pintor, nem sobre sons apenas, como o msico. sobre todas que
trabalha. E sobre ideias tambm.
De maneira que, de dois poetas igualmente grandes na forma de idear, ser
maior aquele cuja ideao maior for. Fora da igualdade em ideia ou forma de
ideia, no h critrio seguro para determinar qual a grandeza relativa de dois ou
mais poetas. Assim quem quisesse determinar sobre quais eram superiores, dos
sonetos de Shakespeare e dos de Antero de Quental, achar-se-ia em dificuldades.
A expresso ntima da ideia, a forma da ideao to superior em Shakespeare
quanto em Antero a ideia em si; na expresso exterior no se avantaja qualquer
deles sobre o outro (adaptao maravilhosa das imagens e do ritmo essncia
sendo igual em ambos). Assim, no descendo a mincias psicolgicas, para o
crtico podem considerar-se iguais como sonetistas os dois poetas em questo.
Antero no podia escrever: (cite characteristic Shakespearianism), conquanto
no seu gnero chegasse a (. . .). Mas S[hakespeare], se, dado que o quisesse fazer,
pretendesse dar a agonia (. . .) do soneto NOX de Antero, no era capaz, a no
ser que mudasse de psiquismo, de se elevar talvez nem sequer compreenso
de ideias como as que so poeticamente contidas em sonetos como (cite).
s. d.
Pessoa Indito. Fernando Pessoa. (Orientao, coordenao e prefcio de Teresa Rita Lopes).
Lisboa: Livros Horizonte, 1993: 246.
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