You are on page 1of 15

MARCOS FERREIRA SILVA

LINHA DE PESQUISA: Cultura e Poder

SOB TRILHAS DE UMA NOVA FÉ: Dimensão Histórica e Sociocultural do


Pentecostalismo Assembleiano em Bacabal-MA.
(Das décadas de 1940 a 1980)

BACABAL-MA
2011
1 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho propõe analisar a implantação e a disseminação do


Protestantismo no Município de Bacabal-MA, cidade localizada a cerca de 250 km ao sul da
capital do Estado São Luís, com ênfase na propagação da Igreja Assembléia de Deus, por ser
esta a maior referência em termos de evangélicos no município e a primeira instituição
Protestante e especificamente Pentecostal¹a iniciar o trabalho de evangelização da população
bacabalense, ainda nas décadas de 1930. Espaço temporal muito próximo a chegado desta
nova fé a nível de Maranhão,a qual se deu nas décadas de 1920 , por Clímaco Bueno Aza, na
capital, São Luis.
Sendo que a Assembléia de Deus chegou ao Brasil por intermédio dos
missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do
Estado do Pará, em 19 de novembro de 1910, vindos dos EUA. Trazendo consigo a doutrina
do batismo no Espírito Santo, que tem como base, a glossolalia — o falar em línguas
estranhas — como a evidência inicial da manifestação para os adeptos do movimento.
Assim,em 18 de junho de 1911, os missionários estrangeiros, fundaram uma nova igreja e
adotaram o nome de Missão da Fé Apostólica e posteriormente Assembléia de Deus.
Eventualmente, no ano de 2011, ano da comemoração do Centenário das
Assembléias de Deus no Brasil, como também neste ano de 2012,onde se comemora os 75
anos da referida instituição em Bacabal-MA, pouco ainda se sabe acerca da emergência do
referido núcleo pentecostal assembleiano,não obstante,nem as literaturas especificas da
referida instituição como a obra de Emilio Conde: (Historia das Assembleias de Deus no
Brasil),no capitulo pertinente ao pentecostalismo no Maranhão,tem-se um destaque a referida
comunidade.Haja visto, que esta comunidade pentecostal apresenta inúmeras
peculiaridades,que a historiografia acerca do protestantismo tanto a nível nacional como
maranhense desconhece.
Desse modo, cabe ser enfocado que estes pentecostais fundaram um dos mais
importantes espaço do sagrado Pentecostal que é o Circulo de oração, com forte predomínio

¹ Pentecostalismo é um movimento de renovação de dentro do cristianismo, que coloca ênfase especial


em uma experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo.O termo Pentecostal
é derivado Pentecostes, um termo grego que descreve a festa judaica das semanas. Para os cristãos, este
evento comemora a descida do Espírito Santo sobre os seguidores de Jesus Cristo, conforme descrito no
Livro de Atos, Capítulo 2.
de lideranças femininas,hoje presente em todas as comunidades pentecostais do Brasil,o qual
fora oficializado pela Igreja Assembléia de Deus de Recife.
Todavia, muitos dos pastores pioneiros do pentecostalismo assembleiano no
Brasil e no Maranhão,tais como : João Jonas,missionário húngaro e primeiro pastor
pentecostal apresentado no Maranhão,como também Moises Garcia, segundo pastor ,tenente
Leocádio , Alcebiades Pereira de Vasconcelo,terceiro pastor, Ludgero Bispo,Agostinho
Gomes,foram elementos atuantes no apoio a nascente comunidade assembleiana pentecostal
de Bacabal.
Por sua vez, o referido núcleo fora formado a principio por mulheres, como Ana
Pereira e sua filhas Rosa Lima e Dona Gertrudes Gama, uma das primeiras professoras de
Bacabal,a qual utilizavam seu domicilio,tanto para o ensino como para os cultos,oriunda de
Engenho Central,atual cidade de Pindaré-Mirim-MA, fruto da pregação de Paulino
Flavio,pioneiro do pentecostalismo em São Luis.De fato,alguns destes primeiros membros são
lembrados nas nomenclaturas de algumas escolas e primordiais ruas de Bacabal,como
também a avenida onde se encontra o primeiro e o segundo templo pentecostal, passou a ser
denominada (Rua da Assembléia de Deus),por um projeto de lei criado pelo vereador Orlando
Alves de Alencar,irmão de Otoniel Alencar,um pioneiro do pentecostalismo maranhense, o
qual foi extremamente perseguido na região de Grajaú-MA,citado pelo Professor Lyndon de
Araujo Santos em sua obra (As outras faces sagrado: Protestantismo e Cultura na Primeira
Republica) como também outros pioneiros já mencionados.
Outro pioneiro do protestantismo local,o qual é lembrado dado a atribuição do seu
nome a um dos primordiais logradouros públicos de Bacabal,foi Virgilio Parma,esposo da
professora Rosa Lima,sendo o mesmo o primeiro farmacêutico da cidade.
Contudo,o Pentecostalismo Assembleiano em Bacabal,vem emergindo paralelo ao
próprio desenvolvimento do município,não obstante no período de chegada destes pioneiros,
Bacabal ainda não teria sido elevado a categoria de cidade,elevação esta ,que só será dada no
ano de 1938.
Por sua vez, a pesquisa encontra-se relacionada também à história religiosa de
minha família, vizinhos e amigos, que um dia abraçaram a fé pentecostal assembleiana no
município de Bacabal.
São lembranças e histórias que sempre estiveram muito presentes no meu
cotidiano, nascido em Bacabal, filho de migrantes cearenses, oriundo de uma família de
tradição pentecostal assembleiana, e assim, vivia ouvindo as histórias dos pioneiros do
referido credo, de suas falas, passei a conhecer o processo emergencial dos pentecostais
assembleianos em Bacabal,que num primeiro momento culminou em uma produção cientifica
monográfica intitulada (O Pentecostalismo em Bacabal: Representabilidade e Protagonismo
da Assembléia de Deus das décadas de 1930 a 1950) no ano de 2006.
E assim, optei por continuar nesta mesma linha de pesquisa,ampliando nosso
recorte temporal que vai desde a construção do primeiro templo protestante pentecostal da
cidade de Bacabal e o segundo do Maranhão,inicio das décadas de 1940, até o Pastorado de
Boaventura Pereira Sousa ,por ser este o líder que por mais tempo esteve a frente da referida
instituição, idealizador da construção,do segundo templo nas décadas de 1980.No período,
segundo maior templo pentecostal assembleiano do estado,o qual contou com uma
contribuição financeira considerável dos governadores: João Alberto e Edson Lobão,evento
que consolida uma forte relação clientelesca da Oligarquia Sarney,com a referida instituição
até tempos hodiernos.
Quando Sarney derrota a oligarquia de Vitorino Freire no Maranhão surgem três
novos grupos políticos em Bacabal: o “Poder dos Médicos’” liderado por Coelho Dias; outro
liderado por João Alberto e outro liderado por Bete Lago,irmão do ex-governador Jackson
Lago. O primeiro grupo, ligado a Sarney, comanda a prefeitura de 1969 a 1988.
Vice-governador desde 1986, João Alberto assume, com seu grupo, a prefeitura
em 1988, contando para isto com dois fatores decisivos: 1)Sua força política, com apoio de
Sarney na presidência da republica e de Cafeteira no Governo do Estado, deixa fora da
sucessão municipal o “Poder dos Médicos” e coopta setores do PMDB, de Bete Lago; 2) A
divisão em quatro candidaturas diferentes, da ‘Oposição Popular”.
Portanto, a partir desse período, é visível a intensificação das relações de poder da
oligarquia Sarney, sob a representação de João Alberto, com o campo religioso pentecostal
bacabalense, sendo este o único grupo que possui livre acesso no púlpito da referida
igreja,relação firmada no pastorado de Estevão Ângelo, presidente das Assembleias de Deus
no Maranhão das décadas de 1950 1990,amigo pessoal de Sarney,irmão de Boaventura,o qual
veio a falecer num acidente automobilístico rumo a Bacabal,quando iria celebrar o casamento
de seu referido irmão.
Sob este prisma,cabe também ser destacado que hoje o Pastor Presidente da
Assembléia de Deus em Bacabal,Francisco Soares Raposo Filho,vice-presidente da
(CEADEMA),Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Maranhão,é Major e Capelão
da Policia Militar do Maranhão,nomeação dada pela então Governadora do Estado, Roseana
Sarney,por indicação do vice-governador João Alberto, ato que só intensifica os laços entre o
Pentecostalismo Assembleiano em Bacabal e a oligarquia Sarney no
Maranhão.Acontecimentos extremamente sugestivos,para se analisar o imbricamento do
campo político e religioso não só em Bacabal, como também no Maranhão e no Brasil. Num
contexto onde é notório muitas lideranças evangélicas se destacando no cenário político
nacional.

2. PROBLEMATIZAÇÃO

Que aspectos motivaram a implantação e disseminação do Pentecostalismo


Assembleiano em Bacabal e de que modo as representações socioculturais dessa nova trilha
de acesso ao sagrado foram manifestas na sociedade bacabalense; e como vem sendo
evidenciada o imbricamento das relações de poder e o código disciplinar no campo religioso
pentecostal de Bacabal-MA?

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral


- Analisar o processo histórico e sociocultural de implantação e disseminação do
Pentecostalismo Assembleiano em Bacabal.

3.2 Objetivos específicos


- Descrever os mecanismos de difusão do credo utilizados pelos pentecostais e o
papel decisório dos mesmos como um atrativo a adesão religiosa ao Pentecostalismo
Assembleiano em Bacabal.
- Avaliar as rupturas em termos de usos e costume dos pentecostais assembleianos
em Bacabal.
- Analisar o discurso dos Pentecostais Assembleianos em Bacabal e as marcas da
memória oral e escrita daqueles que vivenciaram a experiência pentecostal.

- Identificar as relações de poder e demonstrar como o poder e exercido e


estabelecido no campo religioso pentecostal assembleiano bacabalense.
4. REFERENCIAL TEÓRICO

A ideia inicial de se analisar um tema voltado para e a religião e a cultura


especificamente protestante e as implícitas relações de poder, decorreu da leitura de alguns
teóricos que ousaram trabalhar a temática protestantismo a nível de Maranhão e Brasil,
mostrando a relevância histórica e sociocultural desta outra face de acesso ao sagrado. Refiro-
me a princípio a contribuição do Professor Lyndon Santos,na obra:As outras faces do
sagrado:Protestantismo e cultura na Primeira Republica, ao nos apontar a riqueza de tais
agentes históricos,demonstrando que a religião e especificamente sua ramificação protestante
é uma produção cultural que articula elementos ligados ao que é sagrado,sendo que este
sagrado não circula no tempo e no espaço desvinculado de sua historicidade.
Lyndon Santos nos proporciona uma significativa descrição sobre a relação da
religiosidade e cultura quando afirma que:

Na cultura brasileira,a religiosidade permanece como componente


fundamental de identidade de representacoes sociais.Interpretamos a cultura
como a dinâmica das experiências sociais acumuladas e em transformação,
agregadora de visões de mundo,comportamento,valores e praticas manifestas
de variadas formas...De certa forma,a religiosidade brasileira caminhou com
a mesma dinâmica transgredindo e reiventando tradições,reorganizando e
desordenando estruturas que lhe foram trazidas e impostas.Cultura e
religiosidade são esferas comuns inseparáveis,e se constituem em Objeto
para a historia (2006, p.17).

Contudo, a redescoberta do valor das categorias em destaque nos permite


mergulhar no imenso manancial da historia local e regional, revelando a força de expressão de
agentes históricos antes desconsiderados por algumas tendências historiograficas, como
também suas representações.
Assim, tentando validar os aspectos observados, e amparado na perspectiva da
Nova Historia Cultural,na busca de significados e representações e como são construídos no
cotidiano das praticas das pessoas ,lançamos mão de algumas considerações de Sandra
Pesavento ,descritas em: Historia e História Cultural quando a mesma enfoca que:

As representações construídas sobre o mundo não só se colocam no lugar


deste,mundo,como fazem,com que homens percebam a realidade e pautem a
sua existência.São matrizes geradoras de codutas e práticas sociais,dotadas
de força integradora e coesiva,bem como explicativas do real.Individuos e
grupos dão sentido ao Mundo por meio das representações que constroem
sobre a realidade.(2004, p.39)

Por conseguinte quanto ao estudo do pentecostalismo assembleiano,é cabível


considerar que o mesmo se move no tempo e no espaço,em meio a uma cultura plural e
hibrida,enfrentando forças,disputando campo e poder e a competição entre o profano e o
sagrado no âmbito de um universo religioso.
Neste contexto Bourdieu em sua obra: A economia das trocas simbólicas, com
suas noções de campo religioso leva-nos a refletir que:

[...] a religião , e em geral todo sistema simbólico,esta predisposto a cumprir


uma função de associação e de dissociação,ou melhor, de distinção,um
sistema de pratica e crença esta fadado a surgir como magia ou como
feitiçaria,no sentido de religião inferior,todas as vezes que ocupar uma
posição dominada na estrutura das relações de força simbólica,ou seja,no
sistema das relações entre os sistema de praticas e de crenças próprias a uma
formação social determinada(2005, p. 43)

Desse modo,o pentecostalismo ora analisado,representa uma destas elaborações


culturais,pois vem surgindo no cotidiano como,fenômeno histórico enraizado na realidade
economica e social dos indivíduos.Nesta perspectiva Aldo Vannucchi ,no seu trabalho sobre:
A Cultura Brasileira, externa a seguinte analise: Já que o capital econômico e cultural esta
desigualmente apropriado pelos setores hegemônicos,a população lança mão de tudo para
elaborar de forma especifica e persistente,suas condições de vida,materiais e espirituais
(2002,p.102).
Portanto, consideramos que o Pentecostalismo Assembleiano manifestação
religiosa em analise,de característica especificamente popular,inserida no viés do
protestantismo emocionalista, chegou ao Brasil representando uma dessas novas forças que
ganhou enorme espaço e adaptabilidade, reelaborando e absorvendo assim elementos da
cultura brasileira.
Com efeito, a expansão pentecostal no Brasil,segundo Freston, na obra:
Protestantes e Politica no Brasil: da Constituinte ao Impeachment (1993),pode ser pensada
através de três momentos,uma primeira onda compreende os anos 1910-1950,época que 80%
da população brasileira vivia no campo nestes anos a expansão se fez,sobretudo,a partir da
região Norte (através da denominação Assembleia de Deus) e Nordeste(Congregação Crista
no Brasil).
Na segunda, que compreende os anos de 1950-1970,o polo irradiador foi São
Paulo e coincide com a urbanização e a formação de uma sociedade de massas(por exemplo,
as denominações Igreja Quadrangular e Brasil para Cristo,Deus é Amor).A ultima começa no
final dos anos d 1970 e tem berço carioca,coincidindo com a modernização autoritária(entre
elas se destaca a Igreja Universal do Reino de Deus,fundada em 1977,e a igreja internacional
da Graça de Deus,fundada em 1980) podendo ser caracterizadas como neopentecostais dado a
ênfase da teologia da prosperidade.
Por sua vez, é necessário dialogar também com algumas obras que lançam luz
valiosa sobre o processo histórico de expansão do protestantismo no país como Émile-
G.Leonard,em O Protestantismo Brasileiro,onde estuda as igrejas protestante do Brasil,seus
cultos e crenças.inclusive os fieis dentro dos movimentos pentecostais,tidos como marginais
ou periféricos.Para Leonard os protestantes distinguem-se dos demais habitantes de uma
cidade pelas suas atitudes comportamentais e sociais,e estes acabam constituindo um corpo,
que pode ser eclesiástico como social.
Tentando ainda validar referencias sobre a implantação do Protestantismo no
Brasil, é conveniente dialogarmos com Boanerges Ribeiro, o qual apresenta dois estudos:
Protestantismo no Brasil Monarquico e Igreja Evangelica e Republica Brasileira(1889-1930).
Como também Richard Graham,em Grã-Bretanha e o Início da Modernização do Brasil, este
que também elenca uma valiosa contribuição ao estudo da implantação do Protestantismo no
Brasil.
Com relação ao Protestantismo Pentecostal Assembleiano no Maranhão, a
literatura é bem mais escassa, encontramos de forma primaria as descrições feita por Emilio
Conde,em História das Assembléias de Deus no Brasil,e a obra do Pastor Rayfran Batista da
Silva,Sintese histórica da Assembleia de Deus em São Luis: 85 anos de evangelização,ação
social e Pentecostes.Além da monografia de Pekelman Halo Pereira Silva,onde analisa ¨As
primeiras décadas do Pentecostalismo Assembleiano em São Luis¨ (1921 a 1957).
Buscando ainda subsidiar teoricamente o que vem sendo discorrido, se faz
necessário dialogar com os textos de Antonio Montenegro. História oral e memória – a
cultura popular revisitada, Michel Pollack, Memória e identidade social. Ecléa Bosi Memória
e sociedade: lembranças dos velhos, Janaína Amado e Marieta de Moraes Ferreira , Uso &
abusos da história oral. como fundamentos teóricos, pois possibilitam analisar as falas e seus
significados, suas representações e experiências de vida.Como também Michel Foucault,
Microfisica do poder e Vigiar e Punir,nos possibilitando perceber o poder disciplinar
imbricado no pentecostalismo assembleiano em Bacabal-MA.
Logo, O filósofo francês, Michel Foucault,nos trás de forma polêmica e inovadora
o nascimento de uma nova forma de poder coercitivo que fora o poder disciplinar que surgiu
no Ocidente no século XVIII. De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder nasce
a partir de uma nova concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano
predominante nos regimes absolutistas da Europa.
Segundo Foucault, o poder não emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de
relações de poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a
arquitetura ou mesmo a própria arte. O poder é concebido como uma rede, não nasce por si só,
mas de relações sociais.
Outro aspecto inovador da teoria de Foucault é observar este mesmo poder como
algo muitas vezes positivo, inerente a natureza humana, manifestado em pequenas coisas,
através de pequenos dispositivos.
Em seu livro “Vigiar e Punir”, que trata sobre o nascimento da prisão e outras
instituições disciplinares, o filósofo discorre de forma minuciosa e instigante sobre a questão
do poder disciplinar. Foucault explica que a partir dos séculos XVII e XVIII o poder foi
exercido através de dispositivos disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade se utilizou do
corpo, da vigilância e do adestramento para garantir a obediência e disciplinar os indivíduos.
A disciplina sobre o corpo tem por finalidade produzir indivíduos dóceis e submissos
a determinados sistemas, ao mesmo tempo, estes devem oferecer uma mão-de-obra de
qualidade que ajude o desenvolvimento econômico da sociedade. A disciplina tem seu aspecto
político ao produzir indivíduos submissos ao poder do Estado, garantindo o “equilíbrio” e a
“ordem”. O poder e a disciplina sobre o corpo possibilitam o funcionamento de instituições e
grupos sociais. Desta forma, Foucault nos mostra que o corpo passa a ser considerado um
objeto possível do controle disciplinar. A nova organização política e social, exige também
novas formas de disciplina. A experiência decorrente dos movimentos de revolução ocorridos
na Europa, demonstrou que o exercício do poder através da violência se tornou ineficaz.O
controle sobre o corpo e sobre o modo de vida dos indivíduos, de forma sutil, evitava
possíveis levantes e protestos, mostrando-se mais eficiente;aspectos estes que podem ser
facilmente identificado no campo Pentecostal assembleiano de Bacabal-MA.
Sobre o adestramento, Foucault o aponta como resultado do poder disciplinar.
Vejamos a finalidade do poder disciplinar nas palavras do próprio Foucault (1997):
O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de
se apropriar c de retirar, tem como função maior 'adestrar';
ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda
mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-
Ias; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las num
todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o
que lhe está submetido, separa,analisa, diferencia, leva
seus processos de decomposição até às singularidades
necessárias e suficientes[...]A disciplina 'fabrica'
indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma
os indivíduos ao mesmo tem como objetos e como
instrumento de seu exercício (p. 153)

Neste contexto de analise do protestantismo pentecostal assembleiano sob o poder


disciplinar descrito por Michael Foucault,é pertinente considerarmos que no caso do Brasil
houve um etnocentrismo na evangelização protestante. Os missionários protestantes que aqui
chegaram tinham a verdade única e total. Burlar ou ferir alguma questão do código disciplinar
é ir, na visão comum, contra o próprio Jesus Cristo e Deus. Certamente, nem um protestante,
quer fazer isso. Sem dúvida, a partir dessa análise, o código disciplinar ganha força e adestra
as pessoas a serem, não somente obedientes, mas defensoras das normas prescritas. Pois, o
que há no código é a verdade, logo todos devem seguir.Com isso, forma-se um exército de
vigilantes que atua mutuamente,em que todos "naturalmente "cuidam uns dos outros. Por
exemplo, os ministros que gozam de autoridade para disciplinar os membros.
Segundo Foucault (Idem.,), faz parte do jogo disciplinador, ele assevera: "a
disciplina recompensa unicamente pelo jogo das promoções que permitem hierarquias e
lugares; pune rebaixando e degradando. O próprio sistema vale como recompensa e punição"
(p. 162)
É oportuno, nesse sentido também, buscar apoio nos trabalhos de Mary Del Priore
em: Histórias do cotidiano ,que envolvem os temas do dia-a-dia, a convivência e, por último,
revelam as mais inusitadas facetas de gestos banais e que levam a refletir sobre os hábitos
sociais.
Já Michel de Certeau, com sua obra Invenção do cotidiano - artes de fazer, morar
e cozinhar, propicia a realização de análises sobre a representação, o comportamento desta
gente através do uso ou o consumo, possibilitando conhecer as experiências particulares, a
solidariedade e as lutas que organizam o espaço, na arte e maneira de caminhar e do fazer
cotidianamente.
Um outro domínio, o qual amplia a nossa possibilidade de analise é a micro-
historia. Segundo Vainfas em: Os protagonistas anônimos da história: micro-história, a
micro-história resulta das inquietações dos historiadores ao longo das décadas de 1970 e
1980, em face da discussão sobre a “crise dos paradigmas”. Na micro-história os recortes
privilegiados foram sempre minúsculos: a história de indivíduos, comunidades, pequenos
enredos construídos a partir de tramas aparentemente banais, envolvendo gente comum. Mas
o que mais interessa aqui é a proposta da micro-história para a utilização de indícios como
método da pesquisa historiográfica.
Ela abriu caminho para a pesquisa de micro-temas e, mais que isso, para a
pesquisa micro-analítica. Os micro-temas referem-se a estudos exaustivos de comunidades
periféricas ou de personagens comuns e a temas não estudados ou considerados irrelevantes.
Quem dá uma boa medida da especificidade da micro- história,diferenciando-a da história-
síntese e do estudo de caso é Roger Chartier na obra: A história cultural: Entre Práticas e
Representações.

5. METODOLOGIA

A concepção metodológica de desenvolvimento do presente trabalho obedecerá às


seguintes etapas: Como um primeiro passo, deveremos definir mais e aprofundar melhor o
enfoque teórico-metodológico e fazer ajuste mais preciso ao objeto.
Após estar claro o objeto da pesquisa e sua dinâmica no contexto histórico e
social, faz-se necessário buscar dados empíricos que comprovem sua interação, por meio dos
instrumentos técnicos que se apresentam como mais adequados entre entrevistas. Logo, a
pesquisa será desenvolvida no campo da investigação qualitativa, tomando como recurso
técnico entrevistas semiestruturadas, entrevistaremos aproximadamente dez idosos
pentecostais, a validade, extensão e qualidade dos testemunhos devem ser fornecidos por
critérios qualitativos.
Faremos uso da analise de conteúdo,por meio da técnica de enunciação.Na
definição de Minayo,¨ em termos operacionais a analise da enunciação segue o seguinte
roteiro: a) estabelecimento do corpus: delimitação do numero de entrevistas a serem
trabalhadas ;b) preparação do material: cada texto (entrevista) é uma unidade básica;c) as
etapas de analise : na analise de enunciação cada entrevista é submetida a tratamento como
uma totalidade organizada e singular¨(1993,p.107).
Depois da analise das entrevistas individualmente,relacionaremos horizontalmente
todas as informações obtidas na observação direta e anotadas no diário de campo com as
fontes escritas, imagéticas, orais e discursivas.
Também, faremos uso da analise do discurso concernente ao depoimento dos
entrevistados e a memoria escrita disponível, considerando segundo Eni Orlandi (1999) que
tais praticas lingüísticas, são construídas a partir de condições históricas e sociais especificas,
sempre materializando uma ideologia na fala.
Um outro aspecto deste trabalho será o de produzir a partir da pesquisa de campo
uma documentação originada da articulação entre memória e experiências narradas. Conforme
aponta Bosi (1994), na definição de memória coletiva formulada por Maurice Halbwachs, a
memória não corresponde a um lócus onde o passado pode ser resgatado em sua forma pura,
mas como lugar onde este é (re)feito, (re)construído, já que as experiências vividas pelos
sujeitos e grupos sociais entre o tempo do lembrado (passado) e o tempo do vivido (presente)
performam as lentes através das quais o passado é (re)lido.
Halbwach (1996,p.27) também sublinha o caráter coletivo inerente ao processo de
construção da memória individual: “nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são
lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos
envolvidos[...]. É porque na realidade nunca estamos sós.”
Por sua vez, também partiremos do pressuposto que não se pode considerar,
história oral como qualquer forma amadora de captação de entrevista, pois, como bem coloca
Meihy, a história oral é mais do que arquivo de gravação.

História Oral é, pois, mais do que uma conversa mediada pelo gravador.
Historia Oral deriva de um método complexo e arrola particularidades que
vão desde a organização de um projeto até o compromisso de publicação do
texto devolvido à comunidade imediata que o gerou e ao seu contexto mais
amplo.( MEIHY, 1994, p. 35.)

Finalmente deveremos trilhar por uma reflexão sistemática, a propor respostas aos
problemas levantados e eventualmente levantar novas questões.

6. FONTES DE PESQUISA

Do conjunto do discurso, oral e escrito como também imagético e musical,


levantaremos as questões da pesquisa, que partirão de uma concepção do tempo presente o
qual irá norteando o processo da investigação.
Buscaremos, também, apoio nos periódicos produzidos pelos pentecostais como a
Revista A Seara, jornais,como o Mensageiro da Paz,cuja coleção completa encontra-se
disponível na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,onde podemos encontrar informações
primordiais sobre os pentecostais a partir da década de 1940,como também no arquivo e
biblioteca particular do Pastor Boaventura. Nos documentos institucionais,atas (vertentes de
consultas que oferecem informações sobre seus membros,data de batismo,assuntos internos da
igreja,as punições ,seus pastores e seus períodos de regência)fotografias,canções,cartas de
recomendação, biografias,além de episódios já conhecidos e narrados pela historiografia
protestante.
Por outro lado, nesta caminhada não se pode perder de vista os textos
considerados fundadores da história do Maranhão. Autores que, de um ou de outro modo,
relatam as primeiras imagens da mesorregião centro e da micro-região Médio Mearim do
Estado, descrevendo o povoamento e o aparecimento, bem como os costumes dessa região e
as influencias politicas.
7. REFERÊNCIAS

AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Uso & abusos da história oral.
Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1998.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.

BOURDIEU,Pierre.A economia das Trocas Simbólicas. 6 ed.Perspectivas,2005.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.

______. A invenção do cotidiano: 2. morar, cozinhar. Petrópolis: Vozes, 1996.

CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Difel,
1985.

FOUCAULT, Michel. Microfisica do Poder. 11ª ed., Rio de Janeiro: Graal, 1997.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004.

GRAHAM,Richard.Grã-Bretanha e o inicio da Modernização no Brasil.São Paulo:


Brasiliense,1973.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1996.

LE GOFF, Jacques. “Memória”.In: História e Memória. Campinas: Ed. UNICAMP,


1994.

LEONARD,Emile-Giullaume.O Protestantismo Brasileiro: Estudo de Eclesiologia e Historia


Social.Rio de Janeiro-São Paulo: JUERP/ASTE,1981.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Definindo história oral e memória. Cadernos do CERU, n. 5,
série 2, 1994.

______. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 1996.


MONTENEGRO, Antonio Torres. História oral e memória – a cultura popular revisitada.
São Paulo: Contexto, 1994.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo – Rio de Janeiro:
Ed. Hucitec, 1999.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas:


Pontos, 1999.
PRIORE, Mary Del. . Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, 2001.

PESAVENTO,Sandra Jatahy.História & Históia Cultural.2 ed. Belo Horizonte:


Autentica,2004.

POLLACK, Michel. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
v. 5, n. 10, p. –200-212, 1992.

ROUSSO, Henry. “A memória não é mais o que era”. In: AMADO, Janaína & FERREIRA,
Marieta. (Coords.). Usos e abusos de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998.

RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil Monarquico 1822-1888: Aspectos Culturais


de aceitação do Protestantismo no Brasil.São Paulo: Pioneira,1973.

SANTOS, Lyndon de Araujo. As outras faces do sagrado: Protestantismo e cultura na


Primeira Cultura Brasileira. São Luis: EDUFMA, 2006.

VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da história: micro- história. Rio de


Janeiro: Campus, 2002.

VANNUCHCHI,Aldo. Cultura Brasileira: O que é,como se faz.3 ed.São Paulo: Edições


Loyola,1999.

You might also like